Por Martin K.A. Morgan, Shooting Illustrated, 26 de dezembro de 2017.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 5 de julho de 2020.
Walter Audisio foi a figura principal do movimento de resistência italiano em Milão e operou sob o nome de guerra "Coronel Valerio" pelo bem do anonimato. Em 28 de abril de 1945, ele deixou Milão com outro partisan comunista e dirigiu para o norte, em direção ao lago Como. No dia anterior, uma coluna de veículos alemães havia sido interceptada perto da vila de Dongo, que incluía, entre outros líderes fascistas de alto escalão, ninguém menos que o próprio “Il Duce”: Benito Mussolini. Juntamente com sua amante Claretta "Clara" Petacci, Mussolini havia fugido de Milão em 25 de abril, na tentativa de escapar pela fronteira para a Suíça, mas essa tentativa falhou quando os guerrilheiros prenderam o casal no dia 27.
Walter Audisio. |
As notícias das prisões chegaram rapidamente ao Comando Geral de todas as unidades partisans e uma ordem de execução foi prontamente emitida. É por isso que Walter Audisio viajou para Dongo naquela tarde de sábado. Depois de chegar à vila, Petacci e Mussolini foram coletados e depois levados para o sul até a Villa Belmonte, na vila de Giulino de Mezzegra. Eles foram forçados a ficar diante dos portões da frente da casa, enquanto Audisio preparava uma submetralhadora esotérica francesa, emprestada de outro guerrilheiro. Às 16:10h, ele apertou o gatilho e terminou duas vidas, uma das quais foi reconhecida como a principal responsável pelo desastre que caracterizou a experiência italiana na Segunda Guerra Mundial.
A submetralhadora francesa obscura que Walter Audisio usou para acabar com a vida de Clara Petacci e Benito Mussolini foi a Pistolet Mitrailleur Manufacture d'Armes de Saint-Étienne modèle 38, geralmente chamada de submetralhadora MAS-38. Criada no final da década de 1930, numa época em que as forças armadas francesas estavam se esforçando para se modernizar, a MAS-38 completou o pacote de armas de fogo militares que também incluía a Pistolet automatique modèle 1935A, o fuzil ferrolhado MAS Modèle 36, e o Fusil-mitrailleur Modèle 1924 M29. Ela parecia e manuseava ao contrário da maioria de seus contemporâneos, na medida em que um pronunciado diédro dominava sua anatomia geral e pesava menos de 8 libras (3,45kg), carregada. Um comprimento total de 24,5 polegadas (63,5cm) produzia uma compacidade que os operadores apreciavam.
O MAS-38 foi projetado para alimentar o cartucho Longue de 7,65x20mm a partir de um carregador destacável de 32 tiros bifilar, tipo cofre, semelhante ao carregador usado pelas submetralhadoras Thompson e Beretta. Embora produzisse velocidades iniciais ligeiramente mais altas, o 7,65 Longue se comparou aproximadamente ao cartucho de .32 ACP (7,65x17mm) de John Browning, e os franceses o escolheram especificamente porque seu impulso de recuo leve tornaria a submetralhadora mais controlável do que uma que dispara um cartucho de calibre maior gerando recuo mais pesado.
As alças e massas de mira estão deslocadas para a esquerda; a alça de mira tem duas aberturas, uma para trabalhos em proximidade e uma (otimista) à distância. |
Ao contrário dos projetos contemporâneos das submetralhadoras Thompson e Beretta, a MAS-38 só podia disparar no modo automático com uma cadência de tiro de 600 disparos por minuto, um recurso que simplificou significativamente seu projeto de recuo (blowback). Uma tampa de proteção com dobradiça para o carregador protegia a ação mecânica contra a intrusão de sujeira, assim como a alavanca de manejo/tampa não-recíproca do ferrolho. O projeto também apresentava duas aberturas de alça de mira dobráveis definidas para 100 e 200 metros, além de um registro de segurança que poderia ser acionada quando o gatilho fosse pressionado para frente.
Apesar de todas as qualidades não-convencionais e diminutivas da sua aparência, a MAS-38 foi na verdade um projeto militar bem-sucedido, embora não servisse apenas à República Francesa. A arma entrou em produção em 1939, quando as nuvens de guerra começaram a se acumular sobre a Europa. Então, quando a Alemanha invadiu em 1940, a MAS-38 lutou até o Armistício de Compiègne em 22 de junho e o subsequente estabelecimento do governo de Vichy de Philippe Pétain. Além dos exemplares capturados com a queda da França, a MAS-38 permaneceu em produção em Saint-Étienne durante a Segunda Guerra Mundial, e os alemães a padronizaram sob a designação MP722(f). De fato, foi uma MP722(f) capturada que Walter Audisio usou para matar Mussolini na Villa Belmonte, no lago Como, perto do final de abril de 1945.
MAS-38 usada por Walter Audisio para executar Mussolini exposta no Museu Histórico Nacional da Albânia. |
Mas a história da MAS-38 não terminou com a conclusão da Segunda Guerra Mundial. Embora a submetralhadora MAT-49 de 9mm tenha começado a substituí-la durante a década de 1950, a MAS-38 continuou a servir na Indochina, armando as tropas francesas e o Viet Minh. A pequena arma distintiva também teve um papel de apoio durante a guerra de sete anos na Argélia. As forças militares dos EUA até ocasionalmente a encontraram armando o Viet Cong na década de 1960.
Na década de 1970, no entanto, a submetralhadora MAS-38 havia atingido o fim de sua vida útil e começou a desaparecer na obscuridade. Hoje vive apenas em museus e em algumas coleções particulares, portanto não é uma peça particularmente comum. Embora não pareça muito e possa não ser tão familiar, esta submetralhadora francesa pequenininha derrubou um dos ditadores mais opressivos do século XX.
Benito Mussolini. |
Bibliografia recomendada:
Les pistolets-mitrailleurs français, Jean Huon. |
Leitura recomendada:
Como vídeos sobre armas de fogo antigas se tornaram um canal de sucesso no YouTube, 10 de março de 2020.
GALERIA: Visita de Hitler a Mussolini na Itália, 1938, 9 de setembro de 2020.
FOTO: Mussolini passa os Alpini em revista, 27 de março de 2020.
A metralhadora leve Chauchat: não é realmente uma das piores armas de todos os tempos, 11 de fevereiro de 2020.
Gun Review: Uma análise aprofundada de um Sturmgewehr alemão, 18 de fevereiro de 2020.
O Fuzil FN 49 - Uma Breve Visão Geral, 30 de março de 2020.
GALERIA: FN49 do contrato egípcio, 9 de maio de 2020.
Comandos Navais franceses com fuzis CETME, 23 de janeiro de 2020.
Garands a Serviço do Rei, 18 de abril de 2020.
Mausers FN e a luta por Israel, 23 de abril de 2020.
Tentativas da Argentina de um fuzil indígena, 21 de abril de 2020.