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domingo, 13 de fevereiro de 2022

Há quase 20 anos, 45 tanques Leclerc foram desdobrados na Ucrânia para um grande exercício

Um tanque de batalha francês Leclerc dispara sua arma principal durante o Exercício Furious Hawk em Ādaži, na Letônia, 2021.
Os tanques franceses são parte do Forward Presence Battlegroup aprimorado da OTAN na Estônia.

Do blog Mars Attaque, 7 de fevereiro de 2022.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de fevereiro de 2022.

Há pouco menos de 20 anos, o Exército francês, apoiado por vários recursos conjuntos, planejou um grupo tático de armas combinadas (groupement tactique interarmesGTIA) predominantemente blindado para um exercício na Ucrânia que ocorreria durante um período de 50 dias. Retorno, parcial, neste exercício, sem medida comum, em magnitude, por muitos anos. Ainda que "uma missão de peritos do Ministério das Forças Armadas", segundo Florence Parly, Ministra das Forças Armadas, tenha sido enviada há poucos dias à Romênia para estudar os parâmetros de um eventual desdobramento francês na sequência do anúncio feito pelo Presidente da República estar "pronto para reforçar a nossa presença no quadro das missões da NATO". Um reforço cujas modalidades ainda não foram especificadas ou mesmo validadas, e cuja geração de forças obviamente ainda está em andamento, antes de um possível desdobramento efetivo.

Foto da época.
Créditos: armour.kiev.ua.

De 8 de maio a 25 de junho de 2002, no campo de "Chiroky Lane" (ou "Cherokee Lane") em Mykolayiv (no sul da Ucrânia), foi realizado um "exercício blindado no exterior" (ou EBE), uma manobra de grande escala (exercícios anteriores foram organizados na Bulgária e na República Tcheca, em menor grau). Isso dizia respeito ao envio de um GTIA centrado em torno de 45 tanques Leclerc (ou seja, entre 20 e 25% da frota entregue ao Exército, um esforço significativo). 
O contexto da época foi marcado pelas entregas em curso dos últimos exemplares do Leclerc ao Exército (após o primeiro tanque de produção produzido em 1991, e 320 tanques que deveriam ser entregues no final de 2002, antes de um lote final para chegar à meta final de 406 tanques em 2005). Com a necessidade de ainda experimentar certas capacidades: calibragem da projeção de longo alcance de meios representativos de uma brigada blindada, treinamento sobre a capacidade de disparar durante a condução em espaços abertos, exercícios noturnos, disparo no limite do alcance, etc. Além de fornecer uma vitrine como parte da promoção de exportação deste sistema, e trabalhar (já) algumas habilidades que são particularmente úteis em um contexto conhecido como confronto de "alta intensidade". Problemáticas certamente muito atuais.

Foto ilustrativa tirada há alguns dias na Letônia, como parte da missão Lynx.
(Créditos: Exército francês)

O destacamento, centrado nos meios da 2ª Brigada Blindada (BB), era composto por uma companhia de infantaria motorizada (do Regimento de Marcha do Chade, principalmente em VABs blindados - serão mobilizados 42 VABs no total), um destacamento de engenharia (com 2 seções blindadas e 1 seção de apoio do 13º Regimento de Engenharia), 45 Leclercs e 8 VBLs (com tripulações do 6/12º Regimento de Cuirassiers e do 2º Regimento de Dragões), 
um estado-maior de nível brigada (da 2ª BB), elementos de apoio (serviço de combustível, esquadrão de manutenção regimental, elementos logísticos, etc.) e um grupo de artilharia com 8 sistemas autopropulsados AUF1de 155mm (do 1º Regimento de Artilharia Naval), e também veículos blindados sobre lagarta AMX 10 como veículos de observação de artilharia (AMX 10 VOA). Isto representa um efetivo constante ligeiramente superior a 1.000 efetivos (ou seja, substancialmente o volume de forças previsto, segundo algumas fontes, para este reforço da presença na Romênia), e um total de cerca de 450 veículos. Com uma rotação de 3 semanas para as tripulações de Leclerc, permitindo assim treinar o equivalente a 6 esquadrões.

Foto da época.
Créditos: armour.kiev.ua.

MAJ 3: se alguns transportadores de veículos blindados (PEB) ou TRM 700-100 (com reboque de 6 eixos, incluindo 3 direções, para 24 pneus, sem contar os 10 no trator) foram desdobrados para transportar tanques Leclerc com um esquadrão de transporte blindado (ETB), este último fará grande parte dos deslocamentos, entre o local de descarga e o campo de treinamento, por estrada, sobre suas lagartas (o que vai desgastá-las muito... ver abaixo).

Para este primeiro desdobramento do Exército na Ucrânia desde a Guerra da Criméia (que também receberá a visita dos Chefes de Estado-Maior dos exércitos francês e ucraniano, visita coberta pela mídia local em particular), o destacamento se juntou ao acampamento de Chiroky Lane, alugado para esta ocasião (US$ 300.000 para a duração do exercício).

A projeção a quase 3.000km da França exigiu o uso de vários trens, 3 barcos fretados (porta-contêineres tipo roll-on/roll-off da Compagnie Maritime Nantaise) e 2 aeronaves do tipo Airbus do esquadrão Esterel da Força Aérea francesa, em várias rotações de Roissy e para o aeroporto de Mikolaiv. O campo de treinamento foi considerado um dos maiores campos de tiro da Europa (420km²), sem equivalente na França com estas características. Tem de fato uma geografia particular, estando centrado em torno de um fuso de 8km de largura e 30km de comprimento, com muito pouca cobertura e movimentos de solo para se camuflar e se posicionar, e uma ruptura húmida no meio (cerca de dez metros de largura, que verá o travessia de alguns blindados leves VBL impulsionados por sua hélice, hoje impossível devido ao aumento de peso dos VBLs após sua modernização e, em particular, a adição de novas blindagens).

MAJ 4: no final de 2000 (entre outubro e dezembro), havia sido realizada outra EBE, desta vez na Bulgária, com um subgrupo (também fornecido pela 2ª BB), que incluía notadamente os AMX 30 B2 (do 2º Regimento de Dragões), AMX 10 P (do 16º Grupo de Caçadores), uma bateria de morteiros de 120mm do 1º RAMa, e elementos de engenharia (de novo do 13º RG).

Foto da época.
Créditos: armour.kiev.ua.

Os relatos feitos por alguns protagonistas da época registram alguns pontos marcantes deste exercício, que ocorreu em 2 períodos (de 7 a 26 de maio, depois de 27 de maio a 26 de junho, com a rendição no meio das tripulações de Leclerc). As condições eram particularmente espartanas, com alojamento em tenda modular, e o uso de chuveiros e cozinhas de campanha, tudo em terreno não estabilizado… No entanto, devido às condições meteorológicas locais, alternando entre um sol particularmente quente e alguns episódios de chuva, tanto súbitos como intensos, a espessa camada de poeira transformou-se em lama espessa (do solo local rico em húmus, ou "chernozem"), não sem consequências no cotidiano do acampamento, na praticabilidade das rotas e na mobilidade das máquinas.

No final, ao longo da duração do destacamento, os exercícios de tiro (ao nível dos subgrupos, com fases "memoráveis" de tombos em alta velocidade nas estepes ucranianas, sendo o Leclerc conhecido por ter uma certa facilidade em todo-o-terreno devido à sua boa relação peso/potência) durou apenas uma semana no total. Com tiros conjuntos de AUF1 e Leclerc. As sessões de tiro em movimento impressionarão os observadores ucranianos presentes, com taxas de sucesso acima de 90%. Fases significativas de treinamento também terão sido realizadas, em combate de armas combinadas, na construção de fortificações, postos de comando enterrados, relevos de veículos múltiplos, exercícios de contra-mobilidade (destruição, minas, valas antitanque, etc.) ou, inversamente, apoio à mobilidade (abertura de vias, reconhecimento de pontes, etc.). Tantas competências, por vezes, a redistribuir no aumento de poder atualmente realizado pelo Exército sobre as capacidades a serem dominadas no contexto de um chamado confronto de “alta intensidade”.

MAJ 4: Em Char Leclerc - De la guerre froide aux conflits de demain ("Tanque Leclerc - Da Guerra Fria aos Conflitos do Amanhã"), Marc Chassillan especifica os volumes do desafio logístico deste desdobramento de longa distância: 200 tendas, 900 camas de acampamento, 3 câmaras frigoríficas, 40 banheiros químicos, 150.000 garrafas de água, 28.000 rações de combate individuais aquecíveis (rations de combat individuels réchauffablesRICR), 650 metros cúbicos de diesel, 130 toneladas de munição...

Foto ilustrativa tirada há alguns dias na Letônia, como parte da missão Lynx.
(Créditos: Exército francês)

Já na época, várias questões foram notadas que ainda parecem ser relevantes. Por exemplo, sobre as capacidades limitadas de resolução de problemas, embora tenha sido demonstrado nesta ocasião que um Leclerc poderia sair de uma situação ruim com um veículo blindado de engenharia (Engin Blindé du Génie, EBG) e vice-versa… Que as versões blindadas derivadas do Leclerc para suporte e transporte de munições tiveram toda a sua relevância, enquanto este exercício coincidiu com as reflexões realizadas sobre o sistema MARS (Moyen Adapté de Remorquage et de Soutien / Meios Adaptados de Reboque e Suporte), estudado por um destacamento da 12ª Base de Apoio ao Equipamento (base de soutien du matériel, BSMAT) em Gien, para compensar a redução das encomendas de reparadores do tanque Leclerc (dépanneur du char Leclerc, DCL), reduzida de 30 para 20 (18 + 2 reparadores de nova geração), e as entregas na altura ainda muito reduzidas (cerca de 5 apenas exemplares).

Um protótipo, com barras de reboque, sendo inclusive testado para garantir certas manobras e movimentos na área de oficina do destacamento francês (alguns exemplos (8?), dessas máquinas transformadas de tanques da série T3, será então colocado à disposição para cada um dos regimentos de tanques pesados ​​no formato RC80). Por fim, serão levantadas questões sobre a comparação em termos de mobilidade entre os VABs da infantaria motorizada de acompanhamento e os tanques Leclerc, e o nível avançado dos tanques Leclerc em comparação com os já antigos EBGs e outros MPGs de engenharia (ainda não substituídos, apenas modernizados). Não sem criar inveja entre os Sapadores...

MAJ 4: Ainda em Char Leclerc - De la guerre froide aux conflits de demain, é indicado que a disponibilidade dos Leclercs terá sido superior a 80% durante a a duração do desdobramento, cada tanque tendo percorrido em média 500km e operaram 60 horas em média (ou seja, aproximadamente 50% do potencial teórico alocado por ano). Observadores em outros lugares notando as taxas dos tiros acima de 90% para as equipes de Leclerc.

Foto da época.
Créditos: armour.kiev.ua.

MAJ 1: Outros também se lembrarão das restrições logísticas de um desdobramento tão substancial, com custos que exigirão planejamento com muita antecedência - mais de um ano (e, que terão participado, sem dúvida, em não repetir um tal desdobramento em larga escala em breve...). Ou mais anedóticamente, a carga logística gerada por uma encomenda "fora do padrão" feita pelo comissariado do exército de "morangos tagada" para a cantina do destacamento, aumentando a conta (tudo considerado), em nome do bem-estar (um fator significativo para o moral das tropas!) dos participantes..., mas também complicando a manobra logística de desengajamento dado os estoques restantes a serem repatriados...

E outros soldados destacados lamentarão, com as poucas interações finalmente com os ucranianos, civis como soldados (suas unidades não participam neste momento dos exercícios realizados). Um soldado ucraniano, de uma unidade em guarnição no campo de treinamento, tendo no entanto conseguido observar o exercício, observará vários pontos: notar a altura dos veículos, muito surpreendente para eles em comparação com os veículos que conheciam (de origem soviética), os soluços do VAB em baixa velocidade (os regulares entenderão...), a ausência, na época, de um sistema de regulação da pressão dos pneus em veículos franceses, a eficácia dos níveis de apoio, com pessoal de manutenção considerado bem equipado (em particular para as operações mais pesadas, que exijam mudança de via ou desmontagem do grupo motopropulsor, com TRM - 10.000 e camiões-grua), para restabelecer máquinas amplamente utilizadas em condições difíceis, ou a motorização (maciça) do Leclerc e suas suspensões agradáveis ("um homem pulando com os dois pés na torre faz com que as suspensões sejam engatadas, as quais compensam o movimento"), permitindo um estilo de combate "dinâmico" feito de "hit and run" [bater e correr] ("como helicópteros de combate"), o desgaste rápido das lagartas da época e os freios a disco dos Leclerc, a espessura da blindagem na frente, os gases de escape direcionados de maneira surpreendente (e não muito discreta) para o alto, e a modernidade do habitáculo e as posições do artilheiro, chefe do carro e motorista (nada surpreendente em comparação com os tanques T-64 ainda em serviço no exército ucraniano, então sofrendo com a baixa disponibilidade, gerando muitas frustrações para o observador...). Um outro mundo.

MAJ 2: Na primavera de 2015, 15 tanques Leclerc serão enviados para a Polônia por 7 semanas, mais uma vez com tripulações do 12º Cuirassiers, com outros elementos de armas combinadas para formar um subgrupo tático de armas combinadas (cerca de 300 pessoas - incluindo elementos do 13º Regimento de Engenharia, ainda em manobra, e do 16º Batalhão de Caçadores). Um destacamento que se fixou no campo de treinamento de Drawsko Pomorskie, realizando vários exercícios, nomeadamente com elementos americanos, canadenses e também poloneses. Desdobramento realizado como parte de medidas de garantia em face das crescentes tensões mais a sudeste.

Filmagens do desdobramento na Ucrânia em 2002

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Paraquedistas do 17º Regimento de Engenheiros de Montauban testam o novo exoesqueleto francês

Exercício de travessia para os testadores do 17e RGP, em Montauban.
(Foto 
DDM - Pierre Challier)

Do La Dépêche, 13 de julho de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 21 de janeiro de 2022.

Uma ossatura de titânio e carbono articulada do pescoço aos pés, com hastes, rótulas e até vértebras... "Voilà, isso pesa 9kg mas deve economizar 25% do cansaço físico", sorri o Cabo-chefe Gaëtan ao colocar em seu exoesqueleto sobre sua treliça. Silhueta atlética agora enfeitada neste auxiliar que talvez, amanhã, seja a imagem do soldado do século XXI: "O objetivo é aumentar o desempenho em campo, principalmente no transporte de cargas pesadas em longas distâncias", resume o Major Francis que lidera a equipe de avaliação deste protótipo no 17º Regimento de Engenharia Paraquedista (17e Régiment du génie parachutiste, 17e RGP) de Montauban.

Os testadores do 17º RGP, em Montauban.
(DDM - Pierre Challier)

Gaëtan para os comandos, Alex para os sapadores e Melvyn para os mergulhadores, são três cabos-chefes atacando a primeira semana de testes a fim de testar o equipamento, cada um em sua especialidade. "Já vamos começar por ver se conseguimos ultrapassar os obstáculos enquanto estivermos equipados", especifica Melvyn dirigindo-se à rota da place d'armes.

Num chocalho inusitado, todos correm para o obstáculo, a "prancha irlandesa", a "girafa", a "parede de assalto" ou a trave e "passou!", apesar de uma flexibilidade e fricção aleatórias. "Mas fica quente rapidamente", aponta Alex. O que também traz à tona o assunto...

Porque o Afeganistão, Barkhane e o Sahel nos lembraram: hoje, um soldado em operação às vezes carrega mais de 50kg a 40°C na sombra, em terrenos extremamente hostis. Água, rações, armas, munições, proteções, capacete com óculos de visão noturna, meios de comunicação e computadores... equipado com o sistema FÉLIN – Fantassin à Équipement et Liaisons Intégrés / Infante com Equipamentos e Conexões Integrados – o combatente agora deve pensar também em suas baterias pesadas, para garantir energia elétrica… a fortiori se, amanhã, adicionarmos a ele um capacete RAFT, para "Realidade aumentada para o infante" que o tornará um soldado ainda mais conectado e coberto de sensores.

Os testadores do 17º RGP, em Montauban.
(DDM - Pierre Challier)

Os testadores do 17º RGP, em Montauban.
(DDM - Pierre Challier)

Neste contexto, "o exoesqueleto permite, portanto, transportar mais coisas, mais longe, sem fadiga e, em última análise, ter um soldado muito mais apto para o combate porque está menos cansado", concordam os estados-maiores, no papel, sem proibir, no entanto, o regresso… à mula, confia à parte um general de quatro estrelas. Chamado UPRISE, a Agência de Inovação de Defesa (AID) adquiriu este exoesqueleto dos canadenses de Mawashi.

"Na Guiana, na luta contra garimpeiros clandestinos, carrego 45kg com desnível de elevação em calor intenso. A primeira expectativa com esse novo tipo de equipamento será que não nos incomode e que possamos continuar praticando nossos gestos profissionais em operação", lembra Melvyn. "A roupa de proteção do sapador pesa 40kg, o capacete 15kg. Portanto, também veremos se é compatível", acrescenta Alex, Gaëtan se encarrega das missões de treinamento comando e todos realizam uma marcha de 15km no programa, com armas e uma mochila de 20kg mas também combate corpo-a-corpo no âmbito desta "campanha exploratória de simulação operacional" que partilham com o 1er RCP de Pamiers, sobre este exoesqueleto "passivo".

Os testadores do 17º RGP, em Montauban.
(DDM - Pierre Challier)

Os testadores do 17º RGP, em Montauban.
(DDM - Pierre Challier)

"Passiva"? Entenda que ele não funciona com motor e energia, mas “transferindo a carga para o solo” através de suas hastes e juntas esféricas, explica o Major Francis. Equipamento que, visualmente, é mais próteses ortopédicas do que futurismo biônico... Mas não impede o disparo em todas as posições, como os três testadores também experimentaram. "Às vezes é desconfortável, mas não interfere", concordam. Quanto a saltar de pára-quedas com ele? Será outra história.

Encontrar o equilíbrio

Entretanto, "além do ganho de resistência com redução da fadiga, o que buscamos é o valor tático que o exoesqueleto pode trazer para uma unidade aerotransportada, aumentando também o desempenho das capacidades do paraquedista em combate, tipicamente com infiltrações de nossos comandos no território inimigo a distâncias muito maiores", resume um oficial. O exoesqueleto, essencial para o soldado do futuro? Pelo menos um dos elementos que vai participar no conceito de "soldado aprimorado", na França, desde que saiba "encontrar o justo equilíbrio entre alta tecnologia e rusticidade", previne-se do lado da brigada paraquedista - 11e BP.

O conceito de soldado aprimorado não é novo. Consiste em usar várias substâncias e tecnologias para aumentar as habilidades físicas e cognitivas do combatente. Na França, a ministra dos Exércitos Florence Parly estabeleceu o marco da pesquisa, em dezembro passado, fechando oficialmente as portas para implantes neurológicos que já estão sendo testados em países menos observantes.

The Heckler & Koch XM8: uma retrospectiva


Por David Schillerbrian C. Sheetz, American Rifleman, 16 de janeiro de 2022.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 20 de janeiro de 2022.

O sistema XM8 surgiu do programa XM29 do Exército dos EUA.

Evolução


Eugene Stoner desenvolveu um fuzil operado a gás em 1955 na Armalite. As primeiras versões, conhecidas como AR-15, entraram no Exército e na Força Aérea dos EUA em 1962, bem a tempo da Guerra do Vietnã. Desde o início, o M16 foi afligido com problemas. Ao longo dos anos, o M16 sofreu inúmeras modificações e melhorias, que, no entanto, nunca conseguiram resolver completamente as deficiências básicas do sistema. Atualmente, a variante mais moderna, a carabina M4, é a quarta geração do projeto de Stoner. No entanto, alguns o consideram ainda muito sensível à sujeira e muito atormentado por interferências, o que, entre outras coisas, se deve ao projeto do carregador. Além disso, a carabina M4 é considerada por alguns muito instável para os muitos acessórios que os GIs e as Forças Especiais gostam de encaixar em suas armas.

O projeto original de pesquisa e desenvolvimento para a próxima geração de armas de infantaria dos EUA, chamado de Arma de Combate Individual Objetiva (Objective Individual Combat WeaponOICW), visualizou um novo tipo de arma combinada, que acoplou uma arma de assalto com tiro seletivo (ou seja, operação totalmente automática e semiautomática) com um lança-granadas 20x28mm semiautomático, com mira a laser e por computador. A Heckler & Koch e a Alliant Techsystems, parceiras no projeto multimilionário, terminaram um modelo de pré-produção, o XM29, em 1999, que então passou por testes de tropas. O “XM” designa um modelo experimental. Mesmo os materiais mais modernos não podiam contornar a física: com cerca de 17,6 libras (7,8kg) de peso de combate, a arma de cano duplo era muito pesada e desconfortável. Tecnologicamente, os desenvolvedores encontraram um obstáculo que, na época, o estado da arte da tecnologia de computadores, baterias e materiais e a ciência ainda não haviam superado.

Transformação e Progresso


O Arsenal Picatinny de Nova Jersey, sede do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia de Armamento (Armament Research, Development & Engineering CenterARDEC), serve como centro de todos esses novos desenvolvimentos. O escritório de desenvolvimento e aquisição é monitorado por uma nova hierarquia, chamada “Team Soldier”, criada em junho de 2002 em Fort Belvoir, Virgínia. Esta é apenas uma parte da nova reorganização abrangente e radical na política de defesa com a qual o governo Bush iria transformar as Forças Armadas dos EUA para as demandas do século XXI. No quadro da nova gestão orientada para os resultados e para a prática, o “Gerente de Projetos de Armas dos Soldados” é responsável pela categoria de produto de armas de equipa e individuais.

Como substituto provisório do OICW, foi considerada a possibilidade de separar os dois sistemas novamente. O lança-granadas do XM29, ampliado para 25mm, deveria ser desenvolvido como um sistema autônomo. Da mesma forma, o componente KE (energia cinética) de 5,56x45mm tornou-se a base de um novo fuzil de assalto. No verão de 2002, a H&K preparou algumas propostas para o novo desenvolvimento do M16/M4, bem como ideias para o desenvolvimento do componente KE. Naquela data, as deficiências das armas americanas durante a campanha afegã já haviam sido analisadas. Todos no establishment de Defesa dos EUA também perceberam que um novo vento estava soprando no Pentágono. Exigiam-se resultados rápidos — não estudos longos e demorados, procedimentos de seleção e comissões. Assim, a Alliant Techsystems (ATK) e a H&K competiram abertamente com outros fabricantes de armas portáteis e venceram a competição. Oficialmente, os dois parceiros receberam o contrato de desenvolvimento de US$ 5 milhões em outubro de 2002; no entanto, a decisão já havia sido tomada um mês antes. O prazo para o projeto é curto porque o Exército dos EUA desejava a produção das novas armas para o segundo semestre do ano fiscal de 2005.

Fim das Vacas Sagradas


Naturalmente, o Exército tinha uma longa lista de desejos para o novo sistema de armas: deveria existir em diferentes variações para a esquadra-de-tiro, de uma arma de combate aproximado a uma metralhadora leve e uma arma de mira telescópica. Era desejado um bloco de construção modular que pudesse, dependendo dos requisitos de cada operação de combate e de cada ambiente operacional, ser reconstruído para munição de 5,56x45 mm, 7,62x39 mm ou 5,45x39 mm e também para o novo cartucho de propósito especial de 6,8 mm (Special Purpose Cartridge, SPC).

Por outro lado, os compradores militares estavam surpreendentemente dispostos a abandonar as diretrizes até agora invioláveis. O perfil frontal desajeitado da carabina M4 - com seus trilhos Picatinny angulares, lanterna e sua unidade de infravermelho na extremidade do cano - agora foram relegados ao passado. Mesmo os trilhos Picatinny universais atuais poderiam ser abandonados. Os projetistas da H&K desenvolveram um perfil futurista e aerodinâmico que atendeu a todos os requisitos do gerente de projeto do Exército. O corpo e a coronha retrátil são compostos de materiais sintéticos que podem ser reforçados com fibra de vidro ou carbono e são coloridos em preto ou em tom de lama semelhante a junco.


Peças de poliuretano macias e semelhantes a borracha foram moldadas na extremidade dianteira e também na coronha, onde o atirador tem contato mais próximo com o corpo. Este fuzil foi desenvolvido de dentro para fora, em um período de tempo recorde para protótipos prontos para atirar e testar no verão de 2003.

As funções dos trilhos Picatinny agora são assumidas pelos Pontos de Fixação Picatinny (Picatinny Attachment PointsPCAP) embutidos, que se encaixam em uma forma de parafuso giratório em forma de prisma. Este sistema de conexão com patente pendente centra-se e pode ser localizado nas posições de três, seis e nove horas na extremidade dianteira e também sob o pedestal da mira óptica atrás da alça de transporte. Uma vez instalado e zerado, o acessório manterá seu alinhamento, mesmo desmontado. O ponteiro de mira IR e o iluminador IR formam uma unidade integral com o osciloscópio.

A peça central do XM8 - a culatra e a haste do tucho de gás - pode parecer familiar para qualquer pessoa que tenha manuseado o G36 ou SL-8 da H&K. O ferrolho giratório se assemelha ao projeto de Stoner, no entanto, ele vem apenas com seis olhais de trancamento em vez dos sete do AR-15/M16. Como a haste do tucho tem um desenho sólido e fechado, o sistema requer menos limpeza do que o impacto direto do AR-15/M16, onde o gás, incluindo resíduos de pó, é retirado do cano e encaminhado de volta à culatra.


A confiabilidade funcional deste sistema de carregamento automático surpreendeu os americanos quando viajaram para Oberndorf em outubro de 2003 para o primeiro teste de tiro dos protótipos: 
Um dos fuzis disparou mais de 15.000 tiros consecutivos sem limpeza e sem interferência, o que o Coronel Michael Smith, diretor administrativo do Gerente de Projetos de Armas dos Soldados, julgou “verdadeiramente notável”. Na revista das Forças Armadas dos EUA, Rich Audette, gerente de projeto interino, relembrou a demonstração em Oberndorf: “Eu estava envolvido no desenvolvimento do M16A2 e do M4, e nunca vi algo sair da caixa tão bem como esta arma de fogo!”

Em outubro de 2003, os primeiros 30 foram enviados para Aberdeen, Maryland, para testes adicionais no Campo de Testes do Exército. Cento e setenta armas de fogo adicionais chegaram em meados de dezembro, vindas de Oberndorf para testes com as tropas americanas.

Variantes


Esta família modular foi construída e testada pela primeira vez em 5,56x45mm, mas também pode ser facilmente adaptada para o novo SPC Remington 6,8x43mm. A configuração padrão do XM8 é a versão carabina, com cano de 121⁄2" (31cm) e, com coronha totalmente estendida, comprimento total de 33,3". Atualmente, o peso descarregado da arma de fogo é de 7,8 quilos, embora esteja programado para passar por um programa de redução de peso.

Uma versão mais longa com um cano de 20" (50cm) e um bipé opcional é concebida como um fuzil com luneta para atiradores designados ou snipers. A mesmo arma também funcionaria como um tipo de metralhadora leve para suporte de fogo, quando equipado com o bipé H&K e o carregador de tambor de 100 tiros. Na demonstração, os testadores da H&K dispararam quatro desses carregadores continuamente em rajadas curtas em um período de cinco minutos sem problemas. O projeto supera a meta dos militares de mais de 210 tiros de fogo contínuo sem nenhum cookoff (explosão prematura dentro da câmara).

Por fim, há uma variante curta, com uma coronha telescópica do tipo trilho chamada Special Compact que serve como uma arma de defesa pessoal aproximada (Personal Defense WeaponPDW) para tripulantes de veículos ou pilotos de helicóptero. Mesmo que esta arma compacta tenha apenas um cano de 9", ele ainda produz uma velocidade inicial de 2425 fps.

6,8x43mm SPC: mais gordo é mais chique


Não é segredo de estado que elementos das Forças Armadas dos EUA não estão muito satisfeitos com as capacidades balísticas terminais do 5,56x45mm. 
Particularmente das Forças Especiais vem a demanda por um cartucho mais poderoso, para o qual as existentes de 5,56mm possam ser adaptadas sem muito mais trabalho e despesas adicionais. Operadores do Quinto Grupo de Forças Especiais se reuniram com Chris Murray e Remington e criaram, ao longo de dois anos, através de vários testes práticos (nos quais participaram as equipes da SWAT de várias grandes agências policiais dos EUA) o cartucho de propósito especial de 6,8mm, que Remington anunciou no início de 2004.

O cartucho foi introduzido no mercado civil com, entre outros, o cartucho de 115 grains (grãos, 0,0648 de grama). Pontas ocas de tronco-cônico Sierra MatchKing e balas de ponta de polímero. Com um cano de 161⁄2" de comprimento (semelhante à carabina M4), a bala tem uma velocidade inicial de 2650 a 2690 fps. A energia excederia a do atual cartucho militar .223 Remington, o M855 62 grãos. M855, em mais de 50 por cento na boca do cano e, a 492 jardas (449m), em 80 por cento. O novo cartucho deve apresentar trajetória e precisão semelhantes ao .223 Remington.

O estojo .30 Remington, que é um pouco mais grosso que o estojo do 5,56mm, mas é exatamente cilíndrica, serve de base para o novo cartucho. O tamanho da bala foi determinado incrementalmente. Foram tentados os 6 e 6,5mm, e houve também uma série de testes de 7mm, mas a trajetória não foi plana o suficiente. A variação de 6,8 mm (.270) finalmente provou ser o melhor compromisso e alcançou o desempenho necessário.

As forças armadas americanas parecem agora estar quase onde John Garand estava na década de 1920 no Arsenal de Springfield, quando projetou seu fuzil de calibre .276 com uma bala de 125 grãos. Os britânicos também experimentaram, depois de 1945, um .280 que exibia capacidades balísticas semelhantes.

DESCRIÇÃO
Tipo: Fuzil automático.
Miras: Mira Óptica de ponto vermelho (red dot); abertas padrão, e trilho PCAP para montagem de miras reflexivas e lunetas.
Peso: 2,65kg (com carregador vazio e versão básica).
Sistema de operação: Tomada de gases e ferrolho rotativo.
Calibre: 5,56x45mm (.223 Remington).
Capacidade: 30 tiros (básico), 100 tiros (carregador Beta para apoio de fogo).
Comprimento Total: 84cm (versão básica).
Comprimento do Cano: Variável de acordo com a versão entre 9 polegadas,12,5 (versão básica) e 20 polegadas (versão de apoio de fogo e de tiro de precisão).
Velocidade na Boca do Cano: 920m/s (versão básica).
Cadencia de tiro: 750 tiros por minuto.

FIM


             

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

A Evolução do Sniper Policial Americano


Por Mark V. Lonsdale, STTU, 25 de junho de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 20 de janeiro de 2022.

Os snipers policiais modernos podem não perceber o quão se avançou com o catálogo atual de fuzis, lunetas e acessórios de alta qualidade. No início da década de 1980, o típico fuzil sniper da polícia era muitas vezes uma espingarda de caça ferrolhada que fora recuperado da sala de propriedade. Durante os programas de sniper da Unidade de Treinamento Tático Especializada (Specialized Tactical Training Unit, STTU) e as partidas de luz verde, os policiais apareceriam não apenas com .308 Winchester, mas também .223 Remington, .243 Win., 30-06, e até mesmo os estranhos 22-250. As lunetas eram geralmente Redfields, Weavers e Leupolds de nível de caça na faixa de magnificação de 3-9x. Os únicos snipers policiais a terem modelos M40A1 personalizados foram os snipers do FBI, enquanto as equipes de atiradores contra-sniper do Serviço Secreto americano tinham fuzis personalizados Remington Magnum 7mm.

Acima: Uma das primeiras classe de snipers STTU no final dos anos 1980. A essa altura, muitos snipers policiais haviam atualizado para fuzis Varmint de cano mais pesado e estabilizado as ações.
Abaixo: SWAT do Condado de Washoe – década de 1990.

Com o tempo e um pouco de treinamento, as agências começaram a investir em fuzis Remington 700 Varmint de cano mais pesado, ao mesmo tempo em que entendiam a importância de dar ajustar a estabilização das ações e flutuar os canos. Os snipers também se afastaram da munição excedente militar barata e das munições de caça para a munição Federal Match. Antes da atual Gold Medal Match, a munição federal vinha em uma caixa vermelha, mas ambas ainda usavam a bala SMK Sierra 168 grãos. Esta não era a bala ideal para perfurar o vidro, mas era a munição .308 Win mais precisa naquele época.

McMillan M40A1 com luneta Unertl 10x.

Robar SR60D .308 Win construído em uma coronha McMillan Baker Special com uma luneta Leupold Ultra (Mark 4) 10X. (1987)

No final da década de 1980, o sniper teve acesso a fuzis personalizados construídos por McMillan e Robar. Gale McMillan foi o projetista e construtor da coronha sniper do USMC M40A1, o qual iniciou uma tendência de afastamento das coronhas de madeira e das coronhas de fibra de vidro.

De meados ao final da década de 1980 também viu a introdução das lunetas sniper Leupold Ultra com torres de alvo externas. Neste momento, eles foram fixados em magnificação 10x ou 16x, mas mais tarde seriam renomeados como Mark 4 - um retículo Mil-dot. Os atiradores de elite da SWAT também viram as limitações de uma luneta fixa de magnificação de 10x para operações urbanas onde as distâncias eram de 50 a 75 jardas (45-68m), então pediram uma ampliação menor. O resultado foi o robusto e confiável 3,5-10x40mm Mark 4, completo com garantia vitalícia.

Fuzil tático moderno construído sobre uma ação Remington 700 com um cano Bartlein Palma pesado em uma coronha McMillan A3-5. A luneta é uma Leupold Mark 8 3.5-25x56mm.

Sniper Counter Sniper foi escrito em 1986 para preencher a necessidade de um texto básico sobre treinamento e emprego de atiradores de elite. Também foi utilizado por unidades de treinamento de operações especiais como um manual de sniper urbano.

FOTO: Operadores de apoio aéreo aproximado dos EUA

Operadores TacAir (TACP) com um rádio AN/PRC-117F e GPS, 2019.
(US Air Force)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 20 de janeiro de 2022.

Os especialistas do Grupo de Controle Aéreo Tático (Tactical Air Control Party, TACP) fornecem vigilância de forças amigas usando um sistema de posicionamento global PSN-13 e um rádio portátil multi-banda AN/PRC-117F.

Parte da força de Guerra Especial da Força Aérea (Air Force Special Warfare), o TACP é uma pequena equipe de militares que fornecem coordenação entre aeronaves e forças terrestres ao fornecer apoio aéreo aproximado. A Força Aérea americana abriu uma escola de treinamento dedicada apenas em outubro de 2019, localizada em Medina Annex na Base Conjunta San Antonio-Lackland, no Texas. Essa escola visa “sincronizar, padronizar e agilizar o treinamento” dos TACP.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Carros de Combate no Golfo Pérsico: Panorama e Perspectivas

Desfile de carros de combate M1A1M Abrams iraquianos na celebração do Dia do Exército em 6 de janeiro de 2011.

Do site Blablachars, 4 de setembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 9 de dezembro de 2021.

Os reveses do exército saudita no Iêmen levaram alguns a acreditarem que o tanque não tem mais lugar em conflitos assimétricos de intensidade variável. Depois de ter pintado um quadro do estado dos Veículos de Combate de Infantaria na região, o Blablachars agora se interessou pelos tanques de batalha presentes nos exércitos da região. Para isso, depois de evocar as ameaças que esses países podem enfrentar, apresentaremos os parques em serviço antes de formularmos algumas linhas de reflexão sobre o futuro desses parques.

1) Uma vizinhança ameaçadora, mas não só isso!

Combatente do ISIS tira uma selfie com um M1A1M Abrams iraquiano em chamas em Ramadi, junho de 2014.

Região inconstante e às vezes confusa, o Oriente Médio ainda é o palco de dois grandes conflitos aos quais se acrescenta a frente líbia sem dizê-lo. O jogo de alianças forjadas entre os diversos países da região torna a situação complexa e poderia justificar a manutenção de grandes exércitos, apesar da falta de eficácia de alguns. A primeira ameaça em muitos anos é, claro, o Irã e sua influência na região no que é comumente chamado de "eixo xiita", começando em Teerã e unindo os rebeldes Houthi do Iêmen, as capitais iraquianas e sírias dirigidas por líderes xiitas e, finalmente, o sul do Líbano com o Hezbollah implantado no sul do país dos Cedros.

Em termos de potência blindada e tanques de batalha, este eixo agrupa essencialmente tanques de origem russa ou mesmo soviética, desde os T-54/55 usados ​​no Iêmen até os T-90S comprados pelo Iraque ou usados ​​pelo exército sírio; sem esquecer as adaptações iranianas da qual a última variação, o Karrar, deve começar a equipar as forças terrestres. Embora seja complicado estabelecer um inventário preciso dos tanques em serviço, podemos estimar que os três países que constituem o eixo xiita têm entre 3.000 e 5.000 tanques, a rebelião Houthi utilizando por sua vez alguns tanques retirados de estoques governamentais. O Hezbollah poderia ter uma centena de carros de combate localizados na Síria e certamente usados ​​ao lado daqueles do exército sírio. Nesse inventário, o Irã possui um arsenal variado e numeroso e, com o apoio de países estrangeiros, está realizando inúmeras operações locais de modernização e desenvolvimento. Além de suas capacidades blindadas, o eixo xiita possui numerosas armas anti-carro, de natureza muito variada e em quantidade significativa.


Se levarmos em conta apenas os mísseis, excluindo foguetes e outras munições anti-carro, existem vários milhares de postos de tiro para dispositivos tão variados como o Sagger, o Konkurs, o Tow, o Kornet, sem esquecer alguns postos de tiro Milan. Com exceção deste último, todos os mísseis anti-carro de origem estrangeira foram copiados e adaptados pelos vários países. Vários desses dispositivos foram vistos em ação no Iêmen e na Síria, onde representam a maior ameaça aos tanques em serviço.

Além desta ameaça histórica representada pelo Irã e seus aliados, os países da região podem se ver confrontados com conflitos de oposição a grupos armados que podem ameaçar a estabilidade do país e da região. A Guerra do Dhofar, que ocorreu de 1964 a 1976 na região sul do Sultanato de Omã, ceifou várias centenas de vidas, opondo rebeldes apoiados pela China, Egito e Rússia contra fracas tropas omanitas apoiadas pelo Reino Unido, Jordânia e Irã. O episódio do Setembro Negro na Jordânia entre 1970 e 1971 também ilustra esse tipo de ameaça com operações militares cada vez mais intensas entre grupos rebeldes armados e apoiados por potências externas e pelas forças armadas do país em questão. Mais recentemente, a guerra na Síria que começou em 2011 na esteira da Primavera Árabe para se tornar uma guerra total nos lembra a importância de termos meios capazes de prevenir a eclosão deste tipo de conflito e de responder às operações armadas realizadas por facções, na maioria das vezes fortemente armadas.

2. Parques variados em idade e qualidade

Carros Challenger II omanitas e britânicos durante o Exercício Saif Sareea 3.

Diante dessas ameaças e para garantir sua segurança, os exércitos locais há muitos anos adquirem tanques pesados. A região é caracterizada pela posse dos tanques mais emblemáticos das últimas décadas e todos eles já estiveram em operação pelos exércitos locais ou de seus países de origem. Além disso, deve-se destacar que até a chegada do T-90 ao Iraque, os tanques da região eram todos de origem ocidental, originários do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e França.

O Challenger 2 está em serviço no Sultanato de Omã desde o final dos anos 90. O Sultanato tem 38 unidades adquiridas em dois lotes, encomendados em 1993 para 18 deles e em 1997 para os próximos 20. Para este contrato, o carro britânico foi tropicalizado com a instalação de um sistema de ar-condicionado, filtros de motor reforçados e elementos de proteção que permitem ao tanque lutar em um ambiente desértico. As entregas foram concluídas em 2001. Esses tanques estão em serviço com um dos dois regimentos blindados da brigada blindada (o outro regimento está equipado com os M60); cada regimento tem três esquadrões de tanques. Rumores recentes relataram a presença no Sultanato de Omã para testes de pelo menos um exemplar do tanque Altay turco ao mesmo tempo que o K2 sul-coreano. Não sabemos se esta hipotética presença estaria ligada a uma avaliação efetuada pelo Sultanato de Omã para a substituição dos seus Challenger, ou à realização de uma campanha-teste em ambiente desértico organizada pelos fabricantes das máquinas.

M1A2S Abrams saudita destruído por guerrilheiros houthis.

O segundo tanque em serviço na região pode ser considerado o verdadeiro best-seller da região, com mais de 2.000 tanques em serviço em cinco países da região. A Arábia Saudita tem 373 da primeira versão padrão M1A1 equipada com o canhão M256 120mm ao qual deve ser adicionado 133 M1A2S obtidos à partir do M1A1. Os tanques sauditas foram gradualmente trazidos para o padrão M1A2S que se beneficia de proteção aprimorada pelo novo arranjo de placas de urânio empobrecido. Entre os outros equipamentos integrados neste tanque, há uma mira independente do comandante (Commander Independent Thermal Viewer ou CITV) estabilizada igual à do atirador. A cúpula do piloto se beneficia de uma visão melhorada graças à instalação de um meio de visão térmica.

A cúpula do piloto se beneficia de uma visão melhorada graças à instalação de um meio de visão térmica. Finalmente, o tanque recebe um sistema de navegação inercial e um sistema de compartilhamento de informações. Os sauditas engajaram seu M1 no Iêmen com resultados e imagens muito confusos de um tanque isolado, imóvel e parecendo esperar passivamente pelo golpe fatal. Não sabemos o número exato de tanques perdidos nessas operações, mas um comunicado de imprensa datado de agosto de 2016 da Agência de Cooperação e Segurança de Defesa responsável pelas vendas de armas americanas ou Foreign Military Sales (Vendas Militares Estrangeiras) informa um pedido de 153 estruturas de carros M1A1/A2 para conversão em 133 M1A2S. A este pedido somam-se 20 exemplares adicionais destinados a compensar as perdas sofridas em combate.

Soldados das Forças Terrestres do Kuwait atiram com tanques M1A2 Abrams e BMP-3 em 22 de janeiro de 2018.

O Kuwait tem 248 exemplares do tanque padrão americano M1A2, sem, no entanto, se beneficiar da blindagem de urânio empobrecido. Em 2018, o Kuwait solicitou a modernização de 218 unidades para um padrão específico denominado M1A2-K e se beneficiando do rádio SINCGARS (Single Channel Ground and Airborne Radio Systems), um novo sistema de resfriamento, uma Estação de Arma Operada Remotamente Comum (Common Remotely Operated Weapon Station, CROWS II) também montada o M1A2SEPV3. Um sistema de visão infravermelho FLIR (Forward Looking Infra-Red) de segunda geração também está planejado, bem como um sistema de diagnóstico integrado, uma nova mira para atiradores e outras melhorias também fazem parte do pacote saudita que foi confiado para configurar na General Dynamics.

O Iraque usa 140 tanques no padrão M1A1; em 2018, Bagdá alugou outras vinte unidades do exército americano para o treinamento de tripulações. Em dezembro de 2014, 190 tanques adicionais foram adquiridos pelo Iraque, que os agrupou em quatro regimentos pertencentes à 9ª Divisão Blindada. Esses tanques estavam engajados em operações contra o Estado Islâmico, conforme mostrado em um vídeo filmado em 2016 pela tripulação do M1.

Vídeo da tripulação iraquiana


O número exato desses combates é desconhecido, mas pelo menos nove tanques foram capturados por combatentes do Estado Islâmico antes de serem recuperados alguns meses depois. Esse episódio irritou muito os americanos, que suspenderam todas as operações de apoio e todas as operações de modernização planejadas, encerrando um longo período de apoio americano ao país materializado pelo fornecimento de mais de vinte e dois bilhões de dólares em equipamentos às forças iraquianas desde 2005.

Um pequeno país com imensas ambições, o Qatar tem os tanques mais recentes da região com a entrega a partir de 2015 de 62 Leopards 2A7+. Esta enésima e talvez definitiva evolução do best-seller alemão foi apresentada em 2010 no Salão Eurosatory e enfatiza a sua capacidade de engajamento em operações assimétricas ou mesmo de baixa intensidade. Os tanques do Qatar nunca estiveram em combate no seio do exército local, alguns Leopards 2 foram desdobrados no Afeganistão, Kosovo e Síria, onde sofreram alguns contratempos, escurecendo sua reputação como um tanque indestrutível. A aquisição destes tanques fazia parte de um plano de modernização das forças armadas em que os Leopards 2A7+ substituíram o AMX-30. Um boato recente relatou uma encomenda de 100 tanques Altay da Turquia, esta informação não foi confirmada até o momento pelo dois países em causa.

Leopard 2A7+ qatari.

Recém-chegado ao Golfo Pérsico, o T-90S fez um avanço espetacular na região graças ao pedido iraquiano de 73 unidades, a última das quais foi entregue em 2018. Essas máquinas são dotadas com equipamentos de série nas versões de exportação do tanque. Não se sabe se os T-90 iraquianos experimentaram o combate, visto que chegaram recentemente ao país. Esses tanques estão posicionados dentro de dois regimentos da 35ª Brigada Blindada Iraquiana pertencente à 9ª Divisão Blindada, esta grande unidade estacionada ao norte de Bagdá sendo uma das principais unidades dos elementos de reação rápida das Forças de Segurança do Iraque.

Mais do que as características do carro de combate, é obviamente a singularidade da encomenda iraquiana que chamou a atenção dos observadores. Entre esses estavam muitos que acreditavam que o primeiro sucesso do tanque russo na região atrairia outros. Foi no Egito que o T-90MS encontrou outro cliente com um pedido de 500 unidades que seriam montadas localmente como o M1 Abrams, tornando este país o único país a montar tanques russos e americanos.

T-90 iraquiano.

T-90 iraquianos recém-chegados em abril de 2018.

Por fim, a todos os senhores, toda honra, o último tanque da região mencionado é o Leclerc, a serviço da arma blindada dos Emirados Árabes Unidos. O contrato assinado em 1993 previa a entrega a partir de 1994 de 388 tanques de guerra e 46 tanques de reparo. Os tanques implantados nos vários batalhões que compõem as brigadas das Forças Terrestres foram usados ​​em operações no Iêmen.

Nesta ocasião, os Emirados Árabes Unidos aderiram ao relativamente pequeno clube de países capazes de suportar uma projeção blindada por um longo período e à distância de seu território. Ao contrário de seu homólogo americano, o Leclerc registrou um recorde muito satisfatório nesta operação com um tanque atingido, mas não destruído por um míssil antitanque Konkurs ou Kornet. A compactação do tanque e sua mobilidade contribuíram muito para seu sucesso neste teatro, em teoria não muito favorável ao engajamento de veículos blindados especialmente pesados. As tripulações lideraram os 80 veículos desdobrados em um ambiente exigente, sobrecarregando as capacidades de apoio do exército emirático, mas também provando que um tanque, por mais avançado que seja, pode lutar em ambientes difíceis e em terrenos pouco favoráveis.

Leclerc emirático.

Esta rápida visão geral dos principais tanques em serviço na região do Golfo Pérsico destaca algumas das características dessas frotas.
  • Uma homogeneidade de origem bastante grande, quatro em cada cinco tanques vêm de países da OTAN. Nenhum tanque asiático, em particular chinês, foi adquirido até agora por um dos países mencionados.
  • Uma homogeneidade de tipo, todos os tanques mencionados são tanques de batalha pesados ​​armados com canhões de 120mm ou mais e equipados com blindagem substancial.
  • Uma disparidade nos engajamentos operacionais desses tanques dentro dos exércitos locais, com a Arábia Saudita e os Emirados tendo desdobrado tanques fora de suas fronteiras, o Iraque dentro das operações internas, enquanto o Kuwait e o Qatar nunca usaram seus tanques em condições operacionais.
  • A idade desses tanques permite que sejam classificados em várias categorias com, por um lado, tanques de segunda geração modernizados, como o Leopard 2, o M1 e o Challenger 2, e, por outro lado, tanques de terceira geração, como o Leclerc e o T -90. Separação que encontramos na composição das tripulações reduzidas a três homens pelo uso de um carregamento automático no Leclerc e no T-90 e de quatro homens no Leopard 2, no M1 e no Challenger 2. Esta noção de tamanho da tripulação é importante para os países que lutam para recrutar pessoal para as suas forças armadas.
  • Em termos de peso, o prêmio vai para o M1A2 com 68,7 toneladas, seguido do M1A1 com 67,6 toneladas, precedendo o Leopard 2A7+ por um quintal curto com 67,5 toneladas seguido do Challenger 2 com 62,5 toneladas. Os dois tanques de terceira geração são os únicos a não ultrapassarem a marca das 60 toneladas, com o Leclerc pesando 56,3 toneladas e o T-90 estimado em cerca de 50 toneladas.
Em termos de desempenho, encontramos uma distribuição idêntica com tanques capazes de disparar em movimento, como o M1 ou Leopard 2, e tanques capazes de disparar em movimento, como o Leclerc. O caso do Challenger 2 é um pouco atípico com um carregamento manual em vários elementos e um tubo estriado (o único do nosso painel) conferindo uma melhor precisão em troca de uma velocidade inicial menor.

Este inventário de frotas de tanques de batalha na região mostra que os países usuários agora devem questionar o futuro desses dispositivos dentro de suas forças terrestres, o que requer modernização.

3) Qual o futuro do tanque de guerra na região?


Os países cujos tanques apresentamos resumidamente têm características geográficas variadas em termos de tamanho e localização, mas todos têm em comum o fato de estarem localizados no coração de um espaço desértico ou semidesértico. Além disso, esses países construíram grandes aglomerações e centros urbanos atravessados ​​por vastas avenidas de linhas geométricas. Essas cidades, que muitas vezes se estendem ao longo de uma costa plana, abrigam edifícios altos que, atingindo 828 metros, o Burj Khalifa culmina em várias centenas de metros e oferecem impressionantes possibilidades de observação.

Estrada no deserto emirático.

O Burj Khalifa.

Finalmente, nos últimos anos, os países da região desenvolveram uma rede rodoviária cada vez mais densa, geralmente de muito boa qualidade e capaz de acomodar máquinas de grande porte dadas as dimensões das faixas de tráfego, alguns destes eixos permitem a movimentação rápida de um país para outro, independentemente das formalidades relacionadas com a passagem de fronteira. Nesse contexto, parece ilusório afirmar ser possível conduzir uma operação terrestre ofensiva ou defensiva sem recorrer a um componente blindado mecanizado.
  • O deserto com seus vastos espaços e suas amplas possibilidades de observação é uma área privilegiada para o combate blindado. Capazes de se moverem de forma rápida e autônoma graças aos auxílios à navegação (por via inercial ou via satélite), os tanques podem conduzir ações brutais dia e noite sobre um inimigo em movimento ou em processo de concentração. A utilização de veículos de combate para missões de controle e vigilância nesses espaços permite salvar o potencial humano e confiá-lo a outras missões. Essa aptidão para vigilância é agora reforçada pela variedade e desempenho dos sensores de bordo, bem como pela capacidade dos tanques modernos de transmitirem informações.
  • As cidades modernas da região não têm mais nada em comum com os mechtas e outros bleds considerados impenetráveis ​​a qualquer veículo. Hoje desenhadas em avenidas imponentes, as cidades da região oferecem um campo de ação privilegiado para unidades blindadas mecanizadas que atuam em sistemas de armas combinadas. Ofensiva ou defensiva, assimétrica ou convencional, uma ação em área urbana desta região requer a mecanização das tropas engajadas beneficiando-se da proteção oferecida pela blindagem dos veículos, o poder de fogo, as capacidades de observação das torres modernas e a mobilidade das lagartas para superar obstáculos e progredir. O debate sobre a localização máxima das armas de bordo é quase inútil aqui, dada a altura dos prédios e a baixa probabilidade de ver um combatente subir as dezenas de andares a pé para ocupar uma posição de pouco interesse, devido à sua altura. As demais características técnicas do tanque mencionadas acima são, por outro lado, bens essenciais para quem possui tais máquinas.


  • Os eixos rodoviários oferecem possibilidades interessantes para o uso de tanques. Cruzando os países, essas estradas permitem realizar movimentos estratégicos de grande escala. Embarcados em transportadores porta-tanques, os veículos blindados podem percorrer facilmente a distância que os separa de uma zona de reagrupamento ou de uma zona de embarque em caso duma projeção. O uso desses eixos também pode ser previsto para movimentos táticos entre diferentes pontos ou zonas do terreno. Podemos pensar que esta rede viária seria um fator favorável para a roda e sua “lendária” mobilidade estratégica, isto rapidamente esqueceria que uma vez fora desses eixos de conexão, as máquinas em questão terão que combater e se moverem em um ambiente desértico. Observe-se que a maioria dos tanques modernos são capazes de garantir a segurança de um comboio em movimento, graças à sua capacidade de observação em movimento de 360° e à longa distância, graças a miras independentes geralmente disponíveis no posto do chefe do carro (Viseur Chef do Leclerc, Commander Independant Thermal Viewer do M1 Abrams). A esta capacidade soma-se a possibilidade de efetuar disparos precisos à grande distância sobre objetivos que ameacem a segurança do comboio.
  • Finalmente e independentemente destes fatores geográficos, o tanque com suas qualidades de proteção, poder de fogo, mobilidade e comunicação continua sendo um elemento essencial das forças terrestres. Instrumento poderoso, ele é capaz de enfrentar múltiplas ameaças em ambientes difíceis. Para os países da região, é a ferramenta capaz de derrotar uma ameaça blindada mecanizada, mas também de se engajar em operações de menor intensidade diante de um inimigo com poucos ou nenhum blindado. É claro que suas aptidões são multiplicadas pela cooperação real de armas combinadas, sem a qual o tanque é apenas um elemento isolado e condenado. Isso exige dos exércitos usuários um real investimento no treinamento e treinamento de tripulações cada vez mais eficientes com a chegada de uma nova geração de simuladores, a bordo e cada vez mais eficientes. Essas ferramentas de treinamento devem ser incluídas nos programas de atualização para tanques em serviço para permitir sua integração em torres modernizadas.
4) Alguns caminhos para o desenvolvimento

Tripulação de um M1A1M Abrams iraquiano.

Depois de ter evocado (demonstrado?) a pertinência para os países da região terem tanques de guerra e no que diz respeito aos parques acima descritos, é interessante evocar as possíveis soluções de evolução destas máquinas para os próximos anos.
  • Para a maioria dos países da região, a substituição das frotas por novos tanques não parece ser o meio preferido pelos países da região para a conservação de uma capacidade blindada. Dispondo de recursos financeiros, apesar da recente crise de saúde, os países da região poderiam considerar tal operação.
  • A modernização dos tanques em serviço parece, portanto, a hipótese mais factível nas atuais circunstâncias, mas que deve ser modulada de acordo com os países e tanques em questão.
  • O Qatar deve simplesmente acelerar o processo de aquisição de Veículos de Combate de Infantaria capazes de acompanhar os recém-adquiridos Leopards e para os quais nenhuma modernização imediata parece necessária ou possível, dado o peso da máquina; a incorporação de qualquer equipamento adicional teria consequências significativas na mobilidade do tanque. O VCI sobre rodas, conforme o desejo de Doha, terá de permitir aos qataris adquirirem uma capacidade real de combate blindado mecanizado, que hoje sofre com a ausência de infantaria blindada.
  • O Kuwait deu início a uma modernização "adaptada" de seus M1A1 que no momento parecem satisfazê-lo, o exército americano dispondo de várias bases no país parece oferecer ao emirado uma proteção muito superior à dos 248 M1 servidos por tripulações cujo desempenho permanece um tanto desconhecido. Em 2017, o Kuwait demonstrou grande interesse pelo T-90MS, citando a possível assinatura de um contrato de compra entre o emirado e a Rússia. Em 2019, os militares do Kuwait anunciaram que esta aquisição foi adiada, mas não cancelada.

O primeiro M1A2K Abrams entregue ao Exército do Kuwait.

  • Para o Sultanato de Omã, a hipótese de uma modernização de seu Challenger 2 é cada vez menos provável. Que solução é oferecida ao Sultanato para manter um componente blindado? Para manter tal capacidade, vários caminhos foram mencionados, incluindo a possível aquisição de 70 Leopards 2 ou tanques Altay turcos. O sultanato já encomendou 172 veículos de combate de infantaria Pars III da Turquia fabricados pela FNSS. Adepto da diplomacia medida e ansioso por manter distância das grandes alianças, o Sultanato poderia fazer uma escolha mais "exótica", favorecendo um tanque moderno servido por uma tripulação de três homens, uma característica importante para um país com pouca mão de obra. A presença não verificada do tanque Altay e do K2 sul-coreano no país nos últimos meses pode confirmar a hipótese de uma avaliação dessas duas máquinas com vistas a uma futura aquisição. Otokar, fabricante do tanque turco ainda aguarda uma motorização que lhe permita lançar a industrialização da segunda fatia do Altay.
  • A Arábia Saudita poderia, por sua vez, considerar a modernização de seus M1A1, operação que já foi iniciada com a conversão de um certo número de seus tanques para o padrão M1A2S. Vários equipamentos adicionais poderiam ser integrados em uma versão modernizada do tanque, começando com um reforço da proteção com a adição de blindagem de ripas e pelo menos um sistema de proteção soft kill ativo acoplado a um detector de alerta a laser. O reforço do sistema de combate a incêndios também deve ser considerado, bem como a sua automatização. Obviamente, o objetivo é melhorar a capacidade de sobrevivência do tanque, que vimos pegar fogo várias vezes, após ser atingido por um projétil antitanque. Essa modernização deve ser acompanhada por uma retomada total do treinamento individual e coletivo das tripulações sauditas. A contribuição da tecnologia não será capaz de compensar as deficiências observadas no Iêmen em termos de know-how tático e técnico.
  • Os Emirados Árabes Unidos com o Leclerc têm um tanque com duas vantagens, nomeadamente uma margem de evolução significativa e um engajamento operacional de sucesso. A primeira dessas vantagens permite pensar em soluções inovadoras sem comprometer a mobilidade e a compactação do tanque. Na área de proteção, a adição de um sistema de proteção ativo soft e hard kill constituiria uma grande melhoria, completando os kits de blindagem adicionais. O poder de fogo poderia ser aumentado com a adoção de novas miras capazes de detectar e rastrear um objetivo e o disparo de munições novas e mais eficientes. A integração do tanque em seu ambiente poderia ser melhorada com a implementação de um novo sistema de comando e gerenciamento de informações. Nesta área, o estabelecimento de uma ligação Bluetooth com os elementos de infantaria localizados no ambiente do tanque. O monitoramento do ambiente do tanque pode ser feito por meio de uma rede de câmeras que cobre 360º ao redor do tanque e cujas imagens podem ser aprimoradas com o uso de realidade aumentada. Ao contrário dos tanques de projeto mais antigo, o Leclerc pode integrar essas evoluções para se tornar ainda mais eficiente, qualquer que seja a intensidade e a natureza das operações. Este é o significado da reforma realizada pelo exército como parte do programa Scorpion.
5) Uma modernização de curto-circuito.

Leclerc emirático.

Entre os países mencionados nestas linhas, alguns conseguiram desenvolver versões locais de tanques frequentemente antigos em serviço em seus exércitos. Podemos citar, é claro, o Irã, mas também o Iraque com uma versão local do T-55, sem esquecer o Egito e a modernização do M60. Paralelamente a essas tentativas, vimos o nascimento nos últimos anos nos países do Golfo de empresas locais de defesa. Podemos citar a Emirates Defense Technology, criada em 1996 em Abu Dhabi, ou ainda a Emirates Defense Industries Company. Ao contrário das duas entidades emiráticas, a empresa qatari Barzan Holding carece de qualquer capacidade industrial ou de engenharia, limitando-se a sua ação à celebração de parcerias estratégicas com grupos industriais no estrangeiro. Esses acordos servem como estrutura para o fornecimento de equipamentos para as Forças Armadas do Qatar.

Por último cronologicamente, a SAMI ou Saudi Arabia Military Industry (Indústria Militar da Arábia Saudita) foi criada em 2017 como parte do Plano Visão 2030, lançado pelo Príncipe Herdeiro Mohamed Bin Salmane, com o objetivo de dotar o país de uma indústria de defesa nacional. Desde a sua criação, a SAMI tem vindo a firmar inúmeras parcerias com vista à criação de capacidades locais para o desenvolvimento, fabrico e montagem de viaturas de combate. Essas empresas, que representam o futuro da indústria de defesa local, buscam adquirir novas competências para dominar todas as etapas de desenvolvimento e fabricação de veículos blindados. Alguns desses países já possuem empresas que desenvolveram e fabricaram diversos veículos, como a Nimr nos Emirados Árabes Unidos, cujo alcance vem crescendo ao longo dos anos, ou a Emirates Defense Technology que se dedica ao projeto do veículo blindado Enigma.

Na Arábia Saudita, além da SAMI e suas inúmeras parcerias, podemos citar a Al Tadrea que criou há alguns meses com a Oshkosh a empresa OTM (Oshkosh Al Tadrea Manufacturing) para produzir no reino veículos táticos aproveitando a expertise do fabricante americano do JLTV. No Qatar, a ambição da Barzan Holdings é semelhante com o desenvolvimento de atividades de P&D, investimentos estratégicos e compras direcionadas para desenvolver o setor de defesa industrial local.

Soldados sauditas no Iêmen.

Estes grupos e empresas representam a vontade política dos dirigentes e possuem verdadeiras capacidades tecnológicas que lhes podem permitir desempenhar um papel ativo na atualização e modernização dos equipamentos em serviço nos seus exércitos. Por meio de acordos com os fabricantes originais das máquinas, essas empresas poderiam ser encarregadas de atividades de modernização de veículos de combate. A recente crise sanitária que afetou também as economias dos Estados da região poderia incentivá-los a privilegiar um caminho local para a realização de certas operações de modernização, opção economicamente mais interessante do que o faturamento total de todas as operações de modernização pelo fabricante original. Os futuros contratos de armamentos com esses países colocarão mais ênfase nas indústrias locais e em suas capacidades.

Ao final deste panorama, fica claro que o tanque mantém toda a sua importância nas forças armadas dos países da região. Alguns acreditavam ver nas decepções dos tanques sauditas engajados no Iêmen, o símbolo do desajustamento do tanque a conflitos assimétricos de intensidade variável, ao passo que se deveriam ver apenas as deficiências de tripulações desmotivadas e mal-treinadas. No entanto, os tanques em serviço devem ser modernizados para permanecerem eficazes diante das ameaças no ambiente específicos dos países. As nascentes indústrias de defesa local podem ser envolvidas a partir de agora na realização de operações de atualização/modernização antes de desempenharem um papel mais importante no desenvolvimento e fabricação de seus futuros veículos de combate.

Bibliografia recomendada:

TANKS:
100 Years of Evolution.
Richard Ogorkiewicz.