Soldados pró-Guaidó da Guarda Nacional com lenços azuis no braço.
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 17 de fevereiro de 2022.
Em 30 de abril de 2019, durante a crise presidencial venezuelana - com os gigantescos protestos de rua da população -, um grupo de várias dezenas de militares e civis se uniu a Juan Guaidó em seu apelo por um levante contra Nicolás Maduro como parte do que ele chamou de Operación Libertad ("Operação Liberdade"). Como é típico na Venezuela, os soldados apresentaram armamento variado e com a presença de artigos raros - desta vez o AR57.
Nesse mesmo 30 de abril de 2019, Leopoldo López – mantido em prisão domiciliar pelo governo Maduro – foi libertado por ordem de Guaidó. Os dois homens, ladeados por membros das forças armadas venezuelanas perto da Base Aérea de La Carlota, em Caracas, anunciaram um levante, afirmando que esta era a fase final da Operação Liberdade. Guaidó disse:
"Povo venezuelano, é necessário que saiamos juntos à rua, para apoiar as forças democráticas e recuperar nossa liberdade. Organizados e juntos, mobilizar as principais unidades militares. Povo de Caracas, todos para La Carlota".
Soldados leais ao líder da oposição venezuelana e autoproclamado presidente interino Juan Guaidó tomam posição em frente à base de La Carlota em Caracas, em 29 de abril de 2019.
Os rebelados colocaram lenços azuis nos braços para se identificarem como apoiadores de Juan Guaidó e Leopoldo López. Os soldados tomaram posições nas ruas de Caracas, mas ainda assim o número de aderentes foi ínfimo. A maior parte dos militares da FANB permaneceram leais a Nicolás Maduro e ao regime. O governo de Maduro afirmou que a crise fora um "golpe-de-estado liderado pelos Estados Unidos para derrubá-lo e controlar as reservas de petróleo do país".
Amotinados da Guarda Nacional com braçadeiras azuis, simbolizando o apoio a Guaidó.
Na noite de 30 de abril, Maduro dirigiu-se à nação do Palácio de Miraflores, acompanhado por altos funcionários de seu governo e das Forças Armadas. Maduro afirmou que ocorreu uma tentativa de "golpe de estado" e parabenizou os apoiadores que "lideraram a derrota do pequeno grupo que tentou encher a Venezuela de violência". Segundo Maduro, os acontecimentos do dia foram causados pelos "esforços obsessivos da direita venezuelana, da oligarquia colombiana e do império dos EUA".
Maduro não foi visto durante o dia, mas apareceu com seu ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, na transmissão televisiva daquela noite, e anunciou que substituiria o chefe do Serviço Bolivariano de Inteligência (SEBIN), Manuel Cristopher Figuera, que apoiou publicamente Guaidó. Maduro também expulsou 54 militares das forças armadas. Quatro apoiadores do regime foram feridos enquanto os rebelados sofreram 4 mortos, 230 feridos e 205 presos.
Pelo menos 25 militares que se opuseram a Maduro pediram asilo na embaixada brasileira em Caracas. O presidente Jair Bolsonaro tuitou que o Brasil acompanhava de perto a situação na Venezuela, reafirmando seu apoio à "transição democrática" e que "o Brasil está do lado do povo venezuelano, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos".
O Brasil acompanha com bastante atenção a situação na Venezuela e reafirma o seu apoio na transição democrática que se processa no país vizinho. O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos.
O AR57 (também conhecido como AR Five Seven) é um fuzil de assalto americano desenvolvido no final dos anos 2000 pela AR57 LLC. Seu conjunto inclui um receptor na parte superior que se encaixa na maioria das armações inferiores da plataforma AR-15 e dois carregadores. A arma de fogo resultante é semelhante ao AR-15, mas com calibrada em 5,7x28mm FN.
Os lábios de alimentação do carregador P90.
O fuzil pode ser alimentado por carregadores FN P90, com um sistema de alimentação montado horizontalmente. O carregador de tipo cofre destacável é montado paralelamente ao cano do armamento, encaixando-se no topo da armação da arma, e contém 50 cartuchos de munição que ficam em duas fileiras voltadas para a esquerda, deslocadas 90° do eixo da câmara. À medida que os cartuchos são empurrados para trás pela pressão da mola e chegam à extremidade traseira do carregador, eles são alimentados como uma única linha em uma rampa de alimentação em espiral e girados 90 graus, alinhando-os com a câmara. O corpo do carregador é composto de polímero e é translúcido para permitir que o atirador veja a quantidade de munição restante a qualquer momento.
O receptor inclui uma empunhadura frontal no guarda-mão e um sistema de trilho para montagem de mira óptica. O poço do carregador na armação é reaproveitado como uma janela de ejeção para estojos, e um carregador oco pode ser adquirido para conter os estojos disparados.
O AR57 em uma caixa de feira transbordando com cintas de munição para a MAG ali do lado.
O presidente Jair Bolsonaro sendo recebido por uma guarda de honra em Doha, no Qatar, em 17 de novembro de 2021.
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 17 de novembro de 2021.
Hoje, 17 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com o xeique Tamim Bin Hamad, o Emir do Qatar. Vindo de uma turnê primeiro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e depois passando pela cidade de Manama, no Bahrein, o presidente brasileiro foi recebido em Doha por uma guarda de honra da polícia qatari com uniformes brancos em Doha, a capital do emirado.
Nós, Brasileiros, agradecemos Sua Alteza pela gentileza, carinho e consideração. Os laços entre nossas nações certamente crescerão a cada dia. Brasil e Catar cada vez mais unidos! 🇧🇷🤝🇶🇦 https://t.co/Ty32fswNiH
O encontro foi comentado pelo emir na sua conta oficial no Twitter com os dizeres:
"Hoje, discuti com Sua Excelência o Presidente Jair Bolsonaro aspectos do fortalecimento das relações de cooperação bilateral entre Qatar e Brasil para alcançar as aspirações de nossos dois povos amigos nos campos da defesa, economia, cultura e esportes, e também discutimos os mais importantes temas de interesse comum. Desejo a Sua Excelência e à delegação que o acompanha uma boa estadia em Doha."
De acordo com o governo brasileiro, a ideia da viagem ao Oriente Médio é fortalecer as relações do Brasil com países da região do Golfo Pérsico, grandes produtores de petróleo que possuem fundos soberanos de investimentos.
Roteiro da viagem. (Fonte: Globo-Política)
No sábado (13), Bolsonaro chegou a Dubai e visitou a Expo 2020, uma exposição mundial realizada periodicamente há mais de um século; cada edição ocorrendo numa cidade diferente. Bolsonaro visitou o pavilhão do Brasil na feira e se encontrou com o emir de Dubai e primeiro-ministro dos Emirados Árabes, Mohammed bin Rashid Al Maktoum. Nesta terça (16), ele inaugurou a embaixada do Brasil no Bahrein.
Encontro do presidente Bolsonaro com o xeique Mohammed bin Rashid em Dubai, 14 de novembro.
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 12 de dezembro de 2020.
O canal de análises militares Binkov's Battlegrounds, apresentado pela marionete Camarada Binkov, publicou ontem (11/12/2020) um vídeo de análise sobre uma hipotética invasão brasileira à Guiana Francesa, com a reação da França e com o possível desenrolar da guerra com os meios militares de cada um.
A análise segue o procedimento de jogos de guerra, com a distinção dos "players" (jogadores, os combatentes), os objetivos e os meios; estes são o número de tropas no local, número disponível de tropas a serem movidas para o teatro, meios de transporte e equipamentos. Os equipamentos variam em qualidade mas são adotados como em condições de operação. Armas nucleares francesas e aliados para ambos foram excluídos.
Resumidamente, ambos os lados teriam dificuldades em mover tropas para o teatro de operações (TO) e os combates seriam de pequenas unidades na selva, com intervenções de artilharia e aviação. O Brasil iniciou a invasão com um assalto paraquedista de forças especiais e paraquedistas tomando o aeroporto de Caiena, se beneficiando de superioridade local. Essa força inicial seria reforçada por fuzileiros navais e tropas do exército aerotransportadas para a região. A marinha francesa moveria uma força-tarefa anfíbia para o Caribe, onde possui ilhas, e tomaria as águas ao redor, sendo incomodada por sortidas de submarinos brasileiros.
Legionários da 2ª companhia do 3e REI com o míssil AAe Mistral durante o lançamento do foguete Ariane 5 em Kourou, na Guiana Francesa, em 17 de novembro de 2016.
Os franceses lançariam paraquedistas na Guiana e estes seriam reforçados por desembarques anfíbios de fuzileiros apenas marginalmente mais equipados que os paraquedistas. Uma discussão interessante foi o uso de carros de combate na selva pelos dois lados, assim como artilharia auto-propulsada (o que Binkov nota, o Brasil estaria em vantagem). Uma coisa que Binkov não notou foi o uso de carros de combate sobre rodas, o que é comum nos dois exércitos.
A aviação francesa teria superioridade aérea no mar e sobre o TO, mas não conseguiriam manter um guarda-chuva anti-aéreo o tempo todo e as forças francesas seriam incomodadas por bombardeiros à hélice fazendo sortidas ocasionais. A marinha brasileira seria obliterada e a sua força aérea reduzida à metade, mas o território permaneceria nas mãos brasileiras.
O veredicto foi a França tomando todas as ilhas brasileiras no saliente nordestino mas perdendo a Guiana para o Brasil. Esse resultado é muito otimista e assume que os brasileiros não teriam problemas de suprimentos, mas é provável que os militares brasileiros teriam dificuldade em negociar suas próprias linhas internas, demorando para trazer reforços e suprimentos (comida, munição, peças de reposição, etc) para o campo de batalha. Já a França, trazendo material pelo mar com depósitos posicionados na Martinica teria um acesso mais fácil. Seria interessante que o Camarada Binkov fizesse um segundo vídeo tratando das considerações logísticas de ambos os combatentes.
Vídeo:
A França como adversária do Brasil
Essa idéia veio com a publicação do Livro Branco da Defesa de 2020 que apontou a França como a principal ameaça ao Brasil na região. Essa decisão ecoou no mundo todo, trazendo surpresa à França, que sempre viu o Brasil como aliado. O anúncio não foi tomado como uma agressão vinda do Brasil e não teve maiores repercussões exceto uma "guerra de memes" na internet.
A última vez que o Brasil teve problemas diplomáticos reais com a França foi na "Guerra da Lagosta", uma ocasião onde as duas marinhas se encararam e uma marinha brasileira quase incapaz de fazer a navegação de cabotagem do Rio de Janeiro para o nordeste conseguiu defender os interesses nacionais pelo blefe. A última vez onde forças brasileiras de fato chegaram "às vias de fato" com os franceses foi na intrusão francesa no Amapá, em 1895. Tropas francesas comandadas pelo Capitão Lunier invadiram território brasileiro, sendo repelidos pelo general honorário do exército brasileiro Francisco Xavier da Veiga Cabral. Após a defesa do Amapá, Veiga Cabral se tornou um dos maiores heróis da história do estado. Na época, uma frase foi dita que acabou marcando o sentimento do povo do Amapá em relação a Veiga Cabral:
“Se é grande o Cabral que nos descobriu, maior é o Cabral que nos defendeu!”
Um enfrentamento de maior relevância ocorreu na invasão da Guiana Francesa em 1809, no âmbito das Guerras Napoleônicas. Nessa ocasião, a Brigada Real da Marinha desembarcou nas praias da Caiena, capital da então colônia francesa, sendo seguida por regulares da colônia brasileira e tropas portuguesas e britânicas, ocupando a Guiana Francesa até 1817.
Desembarque em Caiena, 1809. Óleo sobre tela de Álvaro Martins. Essa operação é considerada o batismo de fogo dos Fuzileiros Navais do Brasil.
As forças luso-brasileiras na operação contaram 550 fuzileiros navais (fuzileiros-marinheiros da Brigada Real da Marinha) e 2.700 regulares do exército colonial, e parte da guarnição de marinheiros e fuzileiros navais britânicos do HMS Confiance, enfrentando a pequena guarnição francesa de 450 regulares e 800 milicianos.
Depois das Guerras Napoleônicas, o Brasil e a França têm uma história de estreita amizade, desde o reconhecimento do Brasil por Paris logo cedo até três missões militares de instrução francesas no Brasil (duas na Força Pública de São Paulo e uma no Exército Brasileiro). Aliados nas duas guerras mundiais, a França novamente mandou equipes de instrução durante o regime militar, até mesmo o Brasil recebendo o General de Gaulle durante o governo Castello Branco.
Os dois países também vêm de uma longa história de compras militares e exercícios conjuntos (especialmente entre as duas marinhas). Culturalmente, a França vê o Brasil como o país sul-americano mais interessante e trata com surpresa os turistas brasileiros na França. O Brasil, sempre muito ligado à cultura francesa, vê a França como um país de sofisticação e progresso.
Uma fonte de estudo interessante é o livro do General Aurélio de Lyra Tavares sobre as relações dos dois países até a década de 1970.
Bibliografia recomendada:
Brasil França: Ao longo de 5 séculos. General A. de Lyra Tavares.