segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A geopolítica do Brasil entre potência e influência


Por Bruno Racouchot, Communication et Influence, 22 de julho de 2016.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de novembro de 2019.

Duas semanas antes da abertura dos Jogos Olímpicos, a ser realizada no Rio de Janeiro, o Brasil está jogando muito bem por sua imagem internacionalmente. Ele não apenas está enfrentando uma grande crise política e econômica dentro de suas fronteiras, agravada por um crime excepcional (10% dos homicídios cometidos no mundo estão no Brasil, tornando este país o mais violento do mundo), mas ele terá que assumir no exterior o seu papel de poder no cenário internacional. Um desafio que parece mais delicado do que nunca, dada a atualidade terrorista e o desmantelamento de uma célula salafista que preparava um ataque contra a delegação francesa nas Olimpíadas. Para entender como o Brasil pretende aparecer na esfera das relações internacionais, é útil ler a entrevista que o professor Yves Gervaise concedeu recentemente às notas CLES (Comprendre les enjeux stratégiques/Entendendo questões estratégicas) da Escola de Administração de Grenoble (Grenoble École de Management). Autor de um tratado sólido e claro, Géopolitique du Brésil (Geopolítica do Brasil, PUF, 2012), excelente conhecedor deste país que conhece desde 1967, onde lecionou e onde vive em parte, Yves Gervaise não pratica a linguagem irônica.


Assim, quando surge a questão de saber se o Brasil pode se tornar uma grande potência, Yves Gervaise responde:

"Não basta ter herdado um território imenso, dotado de riquezas naturais incomuns, ou mesmo ter sido capaz de construir uma indústria de bom nível... Não, antes de tudo, precisamos primeiro ter a vontade de ser poderoso. No entanto, poucos pensadores brasileiros consideraram seriamente um autêntico projeto geopolítico para seu país. A esse respeito, deve-se mencionar Geopolítica do Brasil, escrito pelo general Golbery do Couto e Silva, que continua sendo um trabalho de referência sobre o assunto. Mas, embora seja verdade que, em várias ocasiões, os governos brasileiros tenham tido o desejo de desempenhar um papel importante no cenário internacional, na realidade eles nunca foram realmente bem-sucedidos. Assim, com Lula, por exemplo, vimos emergir o surgimento de uma força de vontade, fortalecendo o potencial militar do país (por exemplo, consolidando a cooperação com a França no campo dos armamentos) ou envidar esforços diplomáticos para recuperar fortes laços com a África. Sem sucesso real deve-se bem constatar."


Resta a busca por um soft power (poder brando) que possa se projetar fora da imagem idealizada de um país de praias, samba, futebol, música e filles merveilleuses (garotas maravilhosas). Na verdade, diz Yves Gervaise,

"O Brasil possui um modelo social e cultural específico, enraizado em sua história e não tenho certeza de que seja reproduzível em outros lugares. Apesar do lema do país, Ordem e progresso - inspirado pelo pensador francês Auguste Comte, as relações são pouco - se é que são - fundadas no racionalismo, e sim no compartilhamento de emoções, em uma linguagem afetiva e corporal. O Brasil é uma sociedade que reage ao instinto e ao sentimento. Esses dados são imprescindíveis para integrar a compreensão da especificidade da sociedade brasileira e das relações sociais arquitetônicas. Conexões pessoais são essenciais. A imagem e, principalmente, a televisão desempenham um papel muito importante, especialmente com as famosas telenovelas, séries televisivas que focam, através do artifício sentimental, a atenção de um país onde 95% dos lares têm TV. O Brasil vive uma história relativamente recente em escala mundial, com uma cultura que vem principalmente de outros lugares, já que cruzaram e misturaram três correntes de assentamento: índia, europeia e africana. Além disso, não vamos esquecer que estamos aqui no Novo Mundo. Porque o brasileiro pertence de fato ao mundo americano, que é um mundo novo. Isso é visto cada vez mais hoje na vida cotidiana, com a perda da influência européia - especialmente a francesa - no Brasil, e a preponderância do soft power americano."


A análise de Yves Gervaise é tão precisa quanto realista. Ela se junta a Christophe-Alexandre Paillard, autor de um estudo intitulado Brésil, comprendre la crise (Brasil, entendendo a crise), publicado no Diploweb, que mencionamos em um post anterior. Como diz Yves Gervaise,

"o brasileiro é um povo alegre, dinâmico e empreendedor, que nos mostra o caminho para fluidificar humanamente as relações sociais. Essas pessoas vivem em um território rico em riquezas, onde tudo é possível. Mas, ao mesmo tempo, é um país muito difícil, onde todos os golpes são permitidos, onde é necessário poder contar com relações confiáveis, o que resulta em um uso relativamente difícil. Por trás da fachada sedutora, é na verdade um país tão perigoso quanto imprevisível. O compositor e cantor Antônio Carlos Jobim, conhecido como Tom Jobim, resumiu perfeitamente ao dizer: "O Brasil não é para principiantes""... 

Mesmo e principalmente na geopolítica, corrigir as distorções entre realidade e aparência para exercer influência continua sendo um dos principais objetivos do soft power. O exemplo brasileiro prova isso claramente. E a esse respeito, os Jogos Olímpicos serão um revelador da capacidade do Brasil de controlar ou não sua imagem no cenário internacional.

Bruno Racouchot é Diretor do Communication & Influence.

Bibliografia recomendada:

A cabeça do brasileiro,
Alberto Carlos Almeida.

Brésil:
Corrution, Trafic, Violence, Criminalité,
Vers la fin du auchemar?
Nicolas Dolo e Bruno Racouchot.

Leitura recomendada:

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