Operador francês do GCP usando um shemagh, além de uma boina tradicional afegã (pakol/pakul), no Afeganistão. (Louis-Frédéric Dunal)
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de março de 2021.
O lenço tradicional do Oriente Médio, conhecido no Ocidente como "Shemagh", tornou-se um símbolo de status e combatividade por causa da guerra ao terror no Afeganistão, sendo usado inicialmente por operadores especiais e depois como peça de vestuário nas demais unidades - incluindo até mesmo forças paramilitares.
Operador italiano do 9º Regimento de Assalto Paraquedista "Col Moschin" usando shemagh no Afeganistão.
Das operações às representações. Da moda ao vestuário.
O lenço tem muitos nomes, o mais comum Keffiyeh, além de variações regionais e nacionais como Shall, Musar e Dastmaal Yazdi. O lenço tornou-se uma peça de moda, usada por militares e civis, modelos e entusiastas de atividades "táticas" como jogadores de airsoft e atiradores de estande; aparecendo em todos os tipos de mídia como filmes, séries, jogos eletrônicos, passarelas de desfiles de moda e campanhas publicitárias (civis e militares).
A história do Shemag/Keffiyeh:
Bibliografia recomendada:
Special Operations Forces in Afghanistan. Leigh Neville e Ramiro Bujeiro.
Special Operations Forces in Iraq. Leigh Neville e Richard Hook.
Entrevista com Vadim Elistratov,Tank Archives, 8 de fevereiro de 2021.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de fevereiro de 2021.
Vadim Elistratov é um renomado restaurador de veículos blindados e possui ampla experiência na condução de tanques que ele e seu grupo restauram. Em uma entrevista recente à TacticMedia, ele relata a experiência de dirigir um tanque T-34.
Visão dramatizada de um combate corpo-a-corpo entre franceses e alemães em uma trincheira.
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de dezembro de 2002.
Stefan Westmann, um cabo da 29ª Divisão de Infantaria Alemã na Primeira Guerra Mundial, descreve o ato de matar um soldado francês (também um cabo) com uma baioneta. Ele está se lembrando dos eventos de um ataque em 1915 por sua unidade, o Infanterie Regiment Nr. 113, contra as posições francesas ao sul do Canal d’Aire em La Bassée, França. Filmado em 1963.
Stephen Kurt Westmann, um berlinense nascido em 1893 e que morreu em 1964, escreveu suas memórias com o título "Surgeon with the Kaiser’s Army" (Cirurgião com o Exército do Kaiser), que foram reimpressas em 2015.
Transcrição:
"Um dia, recebemos ordens para assaltar uma posição francesa. Entramos, e meus camaradas caíram à direita e à esquerda de mim. Mas então fui confrontado por um cabo francês. Ele com a baioneta em punho e eu com a minha baioneta em punho. Por um momento, senti o medo da morte. E em uma fração de segundo percebi que ele estava atrás da minha vida exatamente como eu estava atrás da dele. Eu fui mais rápido do que ele. Aparei seu fuzil fora do caminho e trespassei minha baioneta em seu peito. Ele caiu, colocou a mão no lugar onde eu o havia atingido, e então estoquei novamente. O sangue saiu da sua boca e ele morreu.
Eu me senti fisicamente doente. Quase vomitei. Meus joelhos tremiam e eu estava, francamente, com vergonha de mim mesmo. Meus camaradas - eu era cabo naquela época - não se incomodaram absolutamente com o que acontecera. Um deles se gabou de ter matado um poilu [apelido do soldado francês] com a coronha do seu fuzil. Outro estrangulou um capitão, um capitão francês. Um terceiro havia atingido alguém na cabeça com sua pá. E eles eram homens comuns como eu. Um deles era condutor de bonde, outro um viajante comercial, dois eram estudantes, os demais eram trabalhadores agrícolas. Pessoas comuns que nunca pensariam em fazer mal a ninguém. Como é que eles eram tão cruéis?
Lembrei então que nos diziam que o bom soldado mata sem pensar no adversário como ser humano. No momento em que ele vê nele um semelhante, ele não é mais um bom soldado. Mas eu tinha, na minha frente, o... homem morto, o soldado francês morto... e como eu gostaria que ele tivesse levantado a mão. Eu teria apertado a mão dele e seríamos melhores amigos, porque ele não era nada, como eu, mais que um pobre menino que teve que lutar, que teve que avançar com as armas mais cruéis contra um homem que não tinha nada contra ele pessoalmente, que apenas vestia o uniforme de outra nação, que falava outra língua, mas um homem que tinha pai e mãe, e talvez uma família, e assim eu senti.
Acordei de noite às vezes, encharcado de suor, porque via os olhos do meu adversário caído, do inimigo, e eu tentava me convencer, o que teria acontecido comigo se eu não tivesse sido mais rápido que ele? O que teria acontecido comigo se eu não tivesse enfiado minha baioneta primeiro em sua barriga?
O que era isso que nós, soldados, nos apunhalávamos, estrangulávamos uns aos outros, nos atacávamos como cães loucos? O que era isso que nós, que não tínhamos nada contra eles pessoalmente, lutávamos com eles até o fim e a morte? Éramos pessoas civilizadas, afinal. Mas eu senti que a cultura da qual tanto nos gabávamos é apenas um verniz muito fino o qual soltou-se no momento em que entramos em contato com coisas cruéis como a guerra real.
Atirar um no outro à distância, lançar bombas, é algo impessoal. Mas ver o branco nos olhos um do outro e depois correr com uma baioneta contra um homem, era contra a minha concepção e contra o meu sentimento interior.
Mais alguma coisa?"
O entrevistador responde "Isso foi lindo" e diz "corta" para o câmera.
Bibliografia recomendada:
Surgeon with the Kaiser's Army. Stephan Kurt Westmann.
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 12 de dezembro de 2020.
O canal de análises militares Binkov's Battlegrounds, apresentado pela marionete Camarada Binkov, publicou ontem (11/12/2020) um vídeo de análise sobre uma hipotética invasão brasileira à Guiana Francesa, com a reação da França e com o possível desenrolar da guerra com os meios militares de cada um.
A análise segue o procedimento de jogos de guerra, com a distinção dos "players" (jogadores, os combatentes), os objetivos e os meios; estes são o número de tropas no local, número disponível de tropas a serem movidas para o teatro, meios de transporte e equipamentos. Os equipamentos variam em qualidade mas são adotados como em condições de operação. Armas nucleares francesas e aliados para ambos foram excluídos.
Resumidamente, ambos os lados teriam dificuldades em mover tropas para o teatro de operações (TO) e os combates seriam de pequenas unidades na selva, com intervenções de artilharia e aviação. O Brasil iniciou a invasão com um assalto paraquedista de forças especiais e paraquedistas tomando o aeroporto de Caiena, se beneficiando de superioridade local. Essa força inicial seria reforçada por fuzileiros navais e tropas do exército aerotransportadas para a região. A marinha francesa moveria uma força-tarefa anfíbia para o Caribe, onde possui ilhas, e tomaria as águas ao redor, sendo incomodada por sortidas de submarinos brasileiros.
Legionários da 2ª companhia do 3e REI com o míssil AAe Mistral durante o lançamento do foguete Ariane 5 em Kourou, na Guiana Francesa, em 17 de novembro de 2016.
Os franceses lançariam paraquedistas na Guiana e estes seriam reforçados por desembarques anfíbios de fuzileiros apenas marginalmente mais equipados que os paraquedistas. Uma discussão interessante foi o uso de carros de combate na selva pelos dois lados, assim como artilharia auto-propulsada (o que Binkov nota, o Brasil estaria em vantagem). Uma coisa que Binkov não notou foi o uso de carros de combate sobre rodas, o que é comum nos dois exércitos.
A aviação francesa teria superioridade aérea no mar e sobre o TO, mas não conseguiriam manter um guarda-chuva anti-aéreo o tempo todo e as forças francesas seriam incomodadas por bombardeiros à hélice fazendo sortidas ocasionais. A marinha brasileira seria obliterada e a sua força aérea reduzida à metade, mas o território permaneceria nas mãos brasileiras.
O veredicto foi a França tomando todas as ilhas brasileiras no saliente nordestino mas perdendo a Guiana para o Brasil. Esse resultado é muito otimista e assume que os brasileiros não teriam problemas de suprimentos, mas é provável que os militares brasileiros teriam dificuldade em negociar suas próprias linhas internas, demorando para trazer reforços e suprimentos (comida, munição, peças de reposição, etc) para o campo de batalha. Já a França, trazendo material pelo mar com depósitos posicionados na Martinica teria um acesso mais fácil. Seria interessante que o Camarada Binkov fizesse um segundo vídeo tratando das considerações logísticas de ambos os combatentes.
Vídeo:
A França como adversária do Brasil
Essa idéia veio com a publicação do Livro Branco da Defesa de 2020 que apontou a França como a principal ameaça ao Brasil na região. Essa decisão ecoou no mundo todo, trazendo surpresa à França, que sempre viu o Brasil como aliado. O anúncio não foi tomado como uma agressão vinda do Brasil e não teve maiores repercussões exceto uma "guerra de memes" na internet.
A última vez que o Brasil teve problemas diplomáticos reais com a França foi na "Guerra da Lagosta", uma ocasião onde as duas marinhas se encararam e uma marinha brasileira quase incapaz de fazer a navegação de cabotagem do Rio de Janeiro para o nordeste conseguiu defender os interesses nacionais pelo blefe. A última vez onde forças brasileiras de fato chegaram "às vias de fato" com os franceses foi na intrusão francesa no Amapá, em 1895. Tropas francesas comandadas pelo Capitão Lunier invadiram território brasileiro, sendo repelidos pelo general honorário do exército brasileiro Francisco Xavier da Veiga Cabral. Após a defesa do Amapá, Veiga Cabral se tornou um dos maiores heróis da história do estado. Na época, uma frase foi dita que acabou marcando o sentimento do povo do Amapá em relação a Veiga Cabral:
“Se é grande o Cabral que nos descobriu, maior é o Cabral que nos defendeu!”
Um enfrentamento de maior relevância ocorreu na invasão da Guiana Francesa em 1809, no âmbito das Guerras Napoleônicas. Nessa ocasião, a Brigada Real da Marinha desembarcou nas praias da Caiena, capital da então colônia francesa, sendo seguida por regulares da colônia brasileira e tropas portuguesas e britânicas, ocupando a Guiana Francesa até 1817.
Desembarque em Caiena, 1809. Óleo sobre tela de Álvaro Martins. Essa operação é considerada o batismo de fogo dos Fuzileiros Navais do Brasil.
As forças luso-brasileiras na operação contaram 550 fuzileiros navais (fuzileiros-marinheiros da Brigada Real da Marinha) e 2.700 regulares do exército colonial, e parte da guarnição de marinheiros e fuzileiros navais britânicos do HMS Confiance, enfrentando a pequena guarnição francesa de 450 regulares e 800 milicianos.
Depois das Guerras Napoleônicas, o Brasil e a França têm uma história de estreita amizade, desde o reconhecimento do Brasil por Paris logo cedo até três missões militares de instrução francesas no Brasil (duas na Força Pública de São Paulo e uma no Exército Brasileiro). Aliados nas duas guerras mundiais, a França novamente mandou equipes de instrução durante o regime militar, até mesmo o Brasil recebendo o General de Gaulle durante o governo Castello Branco.
Os dois países também vêm de uma longa história de compras militares e exercícios conjuntos (especialmente entre as duas marinhas). Culturalmente, a França vê o Brasil como o país sul-americano mais interessante e trata com surpresa os turistas brasileiros na França. O Brasil, sempre muito ligado à cultura francesa, vê a França como um país de sofisticação e progresso.
Uma fonte de estudo interessante é o livro do General Aurélio de Lyra Tavares sobre as relações dos dois países até a década de 1970.
Bibliografia recomendada:
Brasil França: Ao longo de 5 séculos. General A. de Lyra Tavares.
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 5 de dezembro de 2020.
Os sérvios receberam o carro de combate T-72B1MS Águia Branca de acordo com o novo plano russo de padronizar seus aliados com modelos T-72; além de ser o modelo padrão no Biatlo dos Tanques. Outros países que receberam essa atualização foram a Venezuela, Nicarágua, Síria e o Laos (que recebeu o mesmo modelo Águia Branca), assim como os cripto-russos no Donetsk.
O T-72B1MS "Águia Branca"(Ob'yekt 184-1MS) é o T-72B1 modernizado pela empresa Oboronprom (agora parte da Rostec), apresentado pela primeira vez no International Forum Engineering Technologies 2012, pintado de branco, daí o apelido não-oficial de "Águia Branca". As propriedades mecânicas do tanque são as mesmas do T-72B1 normal, com o mesmo motor, canhão, blindagem e pacote Kontakt-1 (K-1) ERA. No entanto, a eletrônica é fortemente atualizada, incluindo uma câmera frontal e traseira para o motorista, display digital do motorista, sistema de navegação GPS/GLONASS, visão panorâmica térmica de terceira geração "Olho de Águia" para o comandante do tanque montado no lado esquerdo traseiro da torre, mira térmica do artilheiro PN-72U Sosna-U, sistema de rastreamento de alvo, sistema de gerenciamento de chassis e metralhadora AA 12,7mm controlada remotamente.
O Águia Branca está atualmente em serviço nas forças armadas do Laos, Uruguai, Nicarágua, e agora na Sérvia.
T-72B1MS "Águia Branca" no International Forum Engineering Technologies 2012, 29 de junho de 2012.
Bibliografia recomendada:
T-72 Main Battle Tank 1974-93, Steven J. zaloga e Peter Laurier.
Tripulação do helicóptero HH-60 Black Hawk do Exército Americano do 1-228º Regimento de Aviação, Força Tarefa Conjunta-Bravo (1-228th Aviation Regiment, Joint Task Force-Bravo), salva uma menina e duas famílias hondurenhas perdidas em uma ilha após uma enchente, 23 de novembro de 2020.