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sábado, 14 de março de 2020

M14: O fuzil de infantaria principal de vida mais curta da América


Por Tim HarmsenMilitary Arms Channel, 12 de março de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 14 de março de 2020.

Publiquei recentemente um vídeo comparando o fuzil de serviço M14 dos EUA com o FN FAL. Nesse vídeo, discuti por que prefiro o FAL em vez do M14 e por que acredito que o FAL deveria ter sido o fuzil de serviço do nosso país em 1959.

(O Warfare Blog já tratou sobre esse assunto aquiaqui, aqui e aqui.)

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos chegaram lentamente à conclusão de que o M1 Garand estava obsoleto. É verdade que, durante a guerra, o M1 Garand estava realmente à frente de seu tempo, mas a tecnologia pode mudar muito rapidamente e o que antes era de vanguarda pode rapidamente se tornar obsoleto.


Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados viram o desenvolvimento de fuzis como o StG-44 alemão e outras armas de fogo, que os despertaram para o fato de que seus fuzis de infantaria precisavam evoluir e rápido. Os estados da recém-formada OTAN entraram em discussões sobre a padronização de armas e calibres por razões logísticas óbvias. Hoje veríamos isso como uma coisa óbvia, mas durante a Segunda Guerra Mundial houve uma mistura diversificada de armas e calibres em uso comum por nações aliadas, o que tornou a logística complicada na melhor das hipóteses. A OTAN procurou resolver esse problema.

Para encurtar a história, nossos aliados propuseram que os estados da OTAN concordassem com um único fuzil de infantaria e calibre. Os Estados Unidos insistiram na adoção de um calibre que imitava de perto o desempenho do 30-06 usado no M1 Garand. Os britânicos não ficaram muito entusiasmados com esse pedido firme, pois estavam desenvolvendo um calibre .280 para acompanhar seu fuzil bullpup EM2, mas seguiram o plano, assim como outros estados da OTAN.


O EM2 (visto acima) foi submetido à consideração, assim como o fuzil FN FAL (T48) e, é claro, o T44 dos EUA (M14). Desnecessário dizer, houve muita briga envolvendo o fuzil a ser selecionado para uso comum. Aparentemente, para encontrar algum ponto em comum, os Estados Unidos disseram a seus aliados que adotaríamos o mesmo fuzil que nossos aliados caso eles concordassem em adotar o cartucho T65 (agora conhecido como 7,62x51mm OTAN).

Todos concordaram.

Exemplo de pente-guia no modelo C1A1 canadense, com a alimentação seguindo o padrão antigo dos carregadores fixos, que serviam como depósito.
(Imagem de vídeo do Forgotten Weapons)

Em 1955, os Estados Unidos contrataram a Harrington&Richardson para fabricar 500 fuzis FAL (T48) para testes. Estes fuzis tinham uma aparência distinta e foram convertidos do sistema métrico para o sistema Imperial (padrão em polegadas) e calibrado no cartucho T65 7,62x51mm. O T48 tinha uma série de recursos interessantes, como uma tampa aberta e pente-guia para o carregador e um guarda-mato de inverno dobrável.

Acima, um fuzileiro naval americano testa o T48 durante os testes.

No final, os Estados Unidos decidiram adotar o T44 (M14) e T65 (7,62x51mm) e ignorar a promessa que fizemos aos nossos aliados. Os aliados passaram a adotar o FAL de uma forma ou de outra, com o Canadá sendo o primeiro a adotar o FAL como o C1A1. A Alemanha ficou de fora porque a FN se recusou a conceder à HK uma licença para fabricar o FAL na Alemanha*. Eu acho que eles ainda estavam salgados sobre toda aquela coisa de Segunda Guerra Mundial**. Até a Grã-Bretanha, que queria desesperadamente adotar um projeto bullpup, optou pelo FAL como o SL1 L1A1, mantendo assim sua promessa de padronização.

*Nota do Tradutor: A Alemanha adotou o FAL em 1956, quando um lote de fuzis FAL do "modelo canadense", com a coronha e empunhadura de madeira, e quebra-chama em dente de garfo, foi encomendado para a Bundesgrenzschutz (Guarda de Fronteira Federal) alemã no final de 1955, ou início de 1956. A Bundeswehr (Força de Defesa Federal), criada em 12 de novembro de 1955, que era armada com fuzis M1 Garand e carabinas M1, encomendou 100 mil fuzis FAL da Bélgica em novembro de 1956; com a designação G1 (de Gewehr, fuzil).
O G1 alemão possuía modificações à pedido, sendo o primeiro a utilizar a mira 3mm mais baixa. Este fuzil foi produzido pela FN belga de abril de 1957 a maio de 1958; a Alemanha, apesar de satisfeita com o FAL, acabou decidindo pela adoção do CETME e do G3 pela recusa dos belgas em permitirem a produção sob licença. Muitos fuzis G1 alemães foram repassados para a Turquia, outros chegando nas mãos dos rodesianos.

Soldado do Bundesgrenzschutz com o FAL "canadense".
Pode-se notar a coronha de madeira.

**NT: A Bélgica foi ocupada pelos alemães de 28 de maio 1940 a 4 de fevereiro de 1945 (e de 1914 a 1918, também de forma brutal), sofrendo com perseguições e desmandos do regime nazista de Berlim, especialmente racionamento de comida gerador de fome generalizada e a perseguição contra judeus e resistentes. Sob a ocupação alemã, a Fabrique Nationale (FN) foi tomada pela Deutsche Waffen- und Munitionsfabriken (DWM), seus diretores foram presos e as linhas de montagem foram operadas por trabalhadores escravos, depois que apenas 10% dos operários belgas apareceram quando ordenados pelo ocupante. Quando pressionados pelos aliados em 1944, os alemães recuaram depenando a fábrica da FN de todo material que pudessem carregar de volta para a Alemanha, destruindo o resto. A FN tentou se levantar no final de 1944, reparando armas aliadas e produzindo peças de reposição simples e baratas, tais como lagartas de tanques. Para piorar a situação, os alemães tentaram destruir a fábrica com mísseis V1, conseguindo dois impactos diretos. Essas memórias eram ainda muito frescas em 1956.

É interessante notar que nossos aliados da OTAN foram essencialmente forçados a adotar um calibre de de potência total 7,62x51mm que eles não queriam enquanto os EUA deram as costas ao FAL e adotaram o que se tornaria o fuzil de infantaria principal de vida mais curta da história dos EUA. Ops!

Um soldado do exército americano disparando o protótipo inicial T44 (M14) em condições de inverno.

O que fez do M14 um fuzil de infantaria tão ruim? Este relatório de 1968 sobre o M14 é um bom ponto de partida.

O M14 foi atormentado por problemas de fabricação. Os canos estavam fora de especificação, as hastes opcionais não estavam alinhadas adequadamente com as guias, as coronhas não eram adequados, a cromagem da alma do cano estava freqüentemente muito espessa ou inconsistente, e a precisão era abismal. Pior, quanto mais você disparasse o M14, pior seria a precisão, e não estamos sequer falando da munição. As coronhas de madeira também tiveram uma tendência desagradável a inchar nas selvas do Vietnã, causando problemas significativos de precisão.

Enquanto o FN FAL conquistou ampla aceitação pela maioria do mundo livre, com cerca de 90 países adotando-o*, os EUA ficaram presos com um limão problemático que logo descartaria em favor de uma arma totalmente nova, mais alinhada com o conceito de "fuzil de assalto" empregado pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Seis anos após a adoção do M14, o M16 começaria a substituí-lo no serviço militar. O FAL, por outro lado, continuar em serviço militar com um bom número de nossos aliados até os anos 80 e além.

*NT: Foram mais de 90 países, com 15 países o fabricando sob licença. Atualmente, o Brasil, os Estados Unidos e a Índia o produzem em ciclo completo.


Outra história engraçada, se o completo fracasso de um fuzil de infantaria pode ser considerado "engraçado", é que o Exército gastou milhões de dólares e gastou quase duas décadas tentando aperfeiçoar o M14 para ser usado como um fuzil sniper, o M21. O programa M21 também foi um fracasso completo. O Exército finalmente desistiu e adotou um fuzil ferrolhado baseado no Modelo 700 chamado M24, algo que o Corpo de Fuzileiros Navais vinha usando há décadas como o M40.

Hoje, o M14 continua em serviço militar por necessidade. Os Estados Unidos lutam no Oriente Médio há 20 anos e a munição 5,56x45mm mostrou-se inadequada à distância, de modo que os estoques antigos de M14 foram espanados e recolocados em serviço. Muitos foram refinados com estruturas sintéticas ou colocados em um pesado chassi "EBR", em um esforço para transformá-lo em algo que não é - um DMR moderno ou um fuzil sniper*.


*NT: EBR significa Enhanced Battle Rifle (Fuzil de Batalha Melhorado), DMR significa Designated Marksman Rifle (Fuzil de Atirador de Elite Designado) que é uma função de atirador de elite especializada entre os 300m da infantaria e os 800m dos atiradores de longa distância; geralmente com fuzis semi-automáticos e designados para uma fração, como pelotão ou grupo de combate. Os americanos agora decidiram por um fuzil multi-calibres.

O programa SCAR surgiu para encontrar uma solução mais moderna e eficaz para o uso de antigos fuzis de desfile para combater no Oriente Médio. O M110 foi outra alternativa usada pelos Estados Unidos para substituir o obsoleto M14 em campo. Apesar de todos esses esforços e programas, ainda é comum encontrar o M14 sendo usado por forças americanas por necessidade.

Um fuzileiro naval americano disparando o fuzil M110.

Enquanto o M14 ainda desfruta de um culto de seguidores dentre os atiradores civis americanos, a realidade é que o fuzil foi facilmente um dos piores fuzis militares modernos já utilizados por uma grande potência militar no século XX. Você provavelmente não encontrará escassez de postagens em fóruns de discussão e na seção de comentários dos vídeos do YouTube por pessoas que alegam que o M14 é a arma mais precisa e confiável já criada pelo homem, mas as pessoas que realmente os disparam bastante sabem a verdade.

Vou encerrar com algumas citações do Tenente-Coronel Chandler, do USMC, que estava encarregado de vários programas de pontaria e sniping no Corpo de Fuzileiros Navais.

"Lembre-se de que o Exército dos EUA lutou por mais de vinte anos para transformar o M14 em uma arma do tipo sniper. O Exército finalmente abandonou todas as tentativas de salvar o fuzil M14. O uso continuado do M14 como outra coisa que não seja um fuzil de desfile é melhor descrito como um DESASTRE. O M14 é antigo e nunca foi mais do que um M1 Garand modificado."

"Enquanto discutimos os custos de trazer fuzis M14 com luneta para a linha de frente em grandes quantidades, permita-me outra digressão. O M14 é uma droga para se manter em sintonia, e um M14 desafinado, não importa quem fez a precisão, é tão preciso quanto uma pedra arremessada. A menos que o M14 seja continuamente ninado como um bebê, ele não manterá a precisão. Imagine as dificuldades e brutalidades que um M14 com luneta sofrerá como uma arma de Atirador Designado em combate. Nenhum M14 já construído permanecerá zerado com precisão e com tiro em agrupagem próxima, sob condições de campanha."

- Ten-Coronel Chandler, USMC.


Vídeos recomendados:



Bibliografia recomendada:

The FN FAL Battle Rifle.
Bob Cashner.

The M14 Battle Rifle.
Leroy Thompson.

Leitura recomendada:



terça-feira, 10 de março de 2020

Como vídeos sobre armas de fogo antigas se tornaram um canal de sucesso no YouTube

Ian McCollum, do canal Forgotten Weapons, posa com uma metralhadora francesa Hotchkiss da Primeira Guerra Mundial.

Por Peter Suciu, Forbes, 10 de março de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 10 de março de 2020.

Com mais de um milhão e meio de assinantes, o Forgotten Weapons se tornou um dos canais mais populares relacionados a armas de fogo no YouTube, e parte do sucesso é que seu criador tem sido amplamente apolítico quando se trata de questões relacionadas a armas. Para Ian McCollum, em vez de promover uma agenda, ele é um influenciador de mídia social que tem tudo a ver com compartilhar a história das armas portáteis - um vídeo de cada vez.

McCollum não esperava que ele fizesse uma carreira produzindo vídeos históricos sobre armas de fogo, mas, como muitos outros que encontraram um nicho específico no YouTube, era uma questão de estar lá bem na hora certa.


"Honestamente, eu nunca pensei nisso", ele admitiu. "Quando comecei a postar vídeos, não era porque queria criar uma audiência. Comecei com um blog - então sou rápido em admitir que sou um homem velho na Internet que se lembra de uma época em que os blogs eram uma coisa grande para esses pequenos tópicos. Eu estava escrevendo artigos de texto e tentando explicar como as estranhas ações de armas de fogo funcionam, então achei mais fácil filmar e mostrar às pessoas".


O problema era que, mesmo na era da Web 2.0, não era fácil publicar vídeos e havia o problema da largura de banda.

"Quando você tinha que pagar pelo tráfego que chegava ao seu site, ter vídeos poderia me levar à falência, mas o YouTube parecia ser a solução", acrescentou McCollum. "Eu poderia incorporá-los em um site Wordpress e publicá-los com o que escrevi."


Com isso, em 2011, o ForgottenWeapons.com lançou um canal no YouTube e, um ano depois, a resposta foi tal que o YouTube ofereceu a McCollum a chance de participar do programa de parceria.

Depois de alguns anos, havia mais vídeos, menos postagens no blog. Foi também quando se tornou um trabalho real.

"Eu não esperava que fosse minha carreira", disse ele com sinceridade. "Eu queria que fosse um show em tempo integral, então, quando aconteceu, foi uma transição incrível e fantástica".

Lidando com um tópico polêmico

Enquanto centenas - talvez até milhares - de pessoas agora ganham a vida postando vídeos no YouTube, o tópico do Forgotten Weapons não é sem problemas. As plataformas de mídia social têm regras estritas sobre como as armas de fogo são apresentadas - as armas não podem ser comercializadas, por exemplo.


"O YouTube é bastante opaco em relação aos regulamentos e há uma enorme margem de manobra em relação às regras que eles publicam", explicou McCollum. "No entanto, quando há um problema, o YouTube não facilita falar com alguém do YouTube. Se você é desmonetizado, ele não diz o porquê".

McCollum não é o único a sugerir que plataformas como o YouTube mantêm as regras especificamente vagas - não para punir os criadores, mas principalmente como uma maneira de impedir que os criadores de conteúdo não burlem as regras. Se as regras forem mais cinzentas que o preto e branco, o YouTube poderá solucionar os problemas conforma considerar adequado em uma base caso a caso*.


Nota do Tradutor: Essa justificativa chega a ser lúdicra, dado que a página parceira, a InRangeTV publicou 10 vídeos no site Pornhub, em 2018, em protesto contra a caça às bruxas desenfreada do Youtube contra páginas táticas e de armamentos que estavam sendo desmonetizadas, bloqueadas e até mesmo tendo vídeos apagados sem qualquer justificativa.

Enquanto ele tenta não cruzar a linha, esse entusiasta de armas de fogo de longa data que também se ramificou em outros meios, incluindo livros - mais recentemente publicando Chassepot to FAMAS: French Military Rifles, 1866-2016 (Do Chassepot ao FAMAS: Fuzis Militares Franceses, 1866-2016) - não é sobre ser um evangelista da indústria de armas de fogo ou mesmo da Segunda Emenda. Em vez disso, como ele explica, trata-se de compartilhar conhecimento.


Pode ser por isso que seus vídeos atraem um público que limita o debate aos objetos que estão sendo discutidos e não à política em torno deles.

"Um grande segmento do meu público está muito feliz por eu não estar falando de política", explicou McCollum. "Como resultado, grande parte do público - com base nos comentários que li - são aqueles que não se encaixam no modelo típico de proprietários de armas".


Ele acrescentou que viu comentários em que as pessoas admitem simplesmente ficar fascinadas com a história, enquanto alguns dizem que se tornaram proprietários de armas por causa da história que ele compartilha.

É notável que apenas 45% de sua audiência esteja nos Estados Unidos, portanto, embora possa haver um debate em andamento na América sobre armas, os vídeos sobre a história das armas de fogo claramente estão transcendendo fronteiras.


Desafios técnicos abundam

Além da preocupação em ser político, qualquer pessoa que postar vídeos relacionados a armas de fogo hoje provavelmente entenderá o outro desafio significativo que advém do fato das armas serem barulhentas, enquanto a segurança é sempre uma preocupação. Como uma operação individual, McCollum superou os desafios, evitando largamente os campos de tiro lotados e indo para o deserto aberto do Arizona, onde há muitos lugares para se atirar legalmente longe das pessoas.

Aqui é onde é necessário gerenciar as expectativas do público, algo que este historiador de armas de fogo abordou desde o início.



"Eu treinei meu público para não esperar níveis de documentário", ele é rápido em notar. "Se eu disparar de verdade terei alguém me ajudando segurando uma câmera. Evitando as filmagens públicas, posso ficar longe dos sons e de outras distrações."

Ao contrário de muitos vídeos relacionados ao tiro que estão no YouTube, também é importante observar que o Forgotten Weapons não é realmente sobre atirar. Ainda é sobre a história das armas de fogo e outras armas que até mesmo muitos entusiastas e colecionadores de armas de fogo talvez não conheçam.


"Atirar é apenas uma boa maneira de apimentar os vídeos", disse McCollum. "Dito isso, uma parte substancial dos meus vídeos não envolve tiros. Eu disparo as armas para contar parte da história, e há aspectos do projeto das armas de fogo que você só pode apreciar com o disparo de uma arma. Isso tem paralelo com o automobilismo."

Nas sequências de filmagem, o Forgotten Weapons emprega uma câmera de alta velocidade que pode demonstrar coisas que os usuários podem achar surpreendentes. Isso pode incluir a maneira como muitos canos de armas oscilam - algo que você provavelmente não verá, exceto em um vídeo de alta velocidade.

"Honestamente, a barra para uma boa produção hoje é muito baixa", acrescentou McCollum. "Essa é uma das coisas que eu amo sobre o estado da Internet*. Ela se livrou do gatekeeper (guardião do portão, pessoa que decide o que é certo ou errado) para projetos como esse. Se eu quisesse fazer isso há 20 anos, seria impossível. Fazer isso envolveria encontrar uma rede e convencer um produtor que eu era a pessoa certa para fazer esse show".

*NT: Não é mencionado no texto, mas Ian também é o campeão indisputável de "memes táticos" sobre armas na internet. Com o apelido de "Gun Jesus" (Jesus das Armas), estes memes são uma visão onipresente em qualquer fórum sobre o assunto.




É claro que existem muitos vídeos relacionados a armas no YouTube que não são tão refinados e alguns que até apresentam informações ruins, para não mencionar conteúdo perturbadoramente irresponsável. Mas McCollum disse que cabe ao público determinar o que é bem-sucedido e o que não é. Para ele, as coisas boas prosperarão e as ruins serão filtradas.

Onde McCollum é o mais crítico é no manuseio do áudio - algo que ele desejaria poder fazer um serviço melhor. No entanto, ele usa uma câmera digital de sete anos com microfones sem fio, mas ele admite que o vídeo poderia ser tão facilmente gravado em um iPhone hoje.

"Não sou engenheiro de áudio e prefiro produzir mais conteúdo de boa qualidade do que tentar melhorar o áudio", sugeriu. "Simplificando, o perfeito não é necessário no YouTube."





Depois, há a questão do que faz alguém querer assistir a um vídeo de outras pessoas disparando armas. No caso das armas esquecidas, os vídeos são populares por causa da história, não porque são pessoas na linha de tiro.

"As pessoas gostam de ter experiências indiretas do que não podem fazer, e obviamente esse é um assunto fascinante", disse McCollum. "Não gosto de ativismo, e não quero converter pessoas ou de fazê-las mudar de idéia. Detesto ver a história deixada para trás. Quero apresentar isso como uma história importante".

Leitura recomendada:


A submetralhadora MAS-385 de julho de 2020.


Garands a Serviço do Rei18 de abril de 2020.

Mausers FN e a luta por Israel23 de abril de 2020.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

FOTO: Forças de Defesa do Caribe Oriental em Granada


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 21 de fevereiro de 2020.

Militares da Força de Defesa do Caribe Oriental (Eastern Caribbean Defense Force, ECDF), armados com fuzis FN FAL, empilham armas capturadas aos granadinos durante a Operação Urgent Fury, 1983.

A pilha contém fuzis AK-47 e SKS soviéticos, além de outras peças de equipamento mais sofisticado, como um rádio portátil.


Granada de morteiro 82mm soviético.

Bibliografia recomendada:

Urgent Fury:
The Battle for Grenada.
The Truth Behind the Largest U.S. Military Operation Since Vietnam.
Major Mark Adkin.

Leitura recomendada:

FOTO: Soldados caribenhos, 21 de abril de 2020.


Um breve comentário sobre o FN FAL21 de fevereiro de 2020.


Um breve comentário sobre o FN FAL

1972: Soldados britânicos armados em patrulha na Rua Lisboa, Belfast, durante o cessar-fogo incondicional do IRA Oficial.
(Foto de Evening Standard/ Getty Images)

Por Jon Guttman, Military Times, 14 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 21 de fevereiro de 2020.

[O blog já tratou sobre o FAL aquiaqui, aquiaqui e aqui.]

Depois que 1945 inaugurou a Guerra Fria com a União Soviética e seus aliados, a Organização do Tratado do Atlântico Norte buscou um fuzil e um projétil padronizados para as muitas nações sob sua aliança.

Um grande obstáculo à universalidade que a OTAN desejava era um ramo teimoso de desenvolvimento de armas portáteis dos EUA, sob o Coronel René Studler, que estava determinado a tornar essa arma universal uma arma americana. Baseando seu conceito em uma munição .30-06 com um estojo de cartucho de 51mm de comprimento no lugar do cartucho de 63mm do M1 Garand, Studler colocou o Arsenal de Springfield em Massachusetts para trabalhar em uma arma "perfeita" para isso.

EM-2 Janson britânico.

Ao mesmo tempo, os britânicos estavam trabalhando no EM-2 "Bullpup", um fuzil compacto cujo mecanismo da culatra e carregador estavam contidos na coronha e não na frente dela - condenados na época, mas destinados a criar uma geração posterior de armas portáteis britânicas.

Também trabalhando em um novo fuzil semi-automático* a Fabrique Nationale de Herstal (FN) da Bélgica em Liège, liderada por Dieudonné Joseph Saive, ex-assistente de projeto do fundador da FN, o falecido John Moses Browning.

*Nota do Tradutor: O novo fuzil era, na verdade, automático. A sua versão métrica, adotada pela maior parte dos mais de 90 países que utilizaram o FAL, possui registro de segurança com fogo automático, semi-automático e de repetição. Apenas a versão imperial do FAL, "britânica", que é semi-automática.

O protótipo da FN ofereceu um bom mecanismo de ferrolho basculante, operado a gás, com um carregador destacável de 20 tiros. Durante testes em Fort Benning, na Geórgia, o competidor da FN causou a melhor impressão entre os oficiais do Exército dos EUA - exceto no Coronel Studler, ainda ligado ao seu projeto de estimação.

Coronel Rene Studler, o "vilão" da história.

Studler conseguiu obter sua munição de 7,62x51mm* adotada como cartucho oficial da OTAN em 1954, mas os belgas, protegendo suas apostas, recalibraram seu FN FAL** (Fusil Automático Léger ou Fuzil Automático Leve) e o viram ser adotado por todos os países da OTAN, exceto um: os Estados Unidos***.

*NT: Os belgas projetaram o FAL para usar a munição intermediária 7,92x33mm, a mesma do fuzil de assalto StG-44, e depois a munição britânica .280 também intermediária. O Coronel Studler, desejoso de ser promovido ao generalato, forçou o seu cartucho de estimação T65 (7,62x51mm) nos testes de padronização da OTAN. Os britânicos resumiram a situação simplesmente como "We got Studlered" ("Fomos Studlerados").

**NT: Os americanos prometeram aos belgas que, se eles votassem à favor da munição americana 7,62x51mm, as enormes forças americanas seriam padronizadas com o novo fuzil belga FN FAL. Os belgas votaram à favor e, depois de aprovada a nova munição padrão, os americanos adotaram o M14.

FN FAL T48 no Museu de West Point, nos EUA.

***NT: Em 1953, o Exército dos EUA realizou testes entre os protótipos T48 (FAL) e T44 (M14). O desempenho do FAL foi satisfatório e o Conselho de Infantaria tomou duas decisões: a adoção de um primeiro lote do protótipo belga e o fim do desenvolvimento do protótipo americano. O Corpo de Material Bélico americano (US Ordnance Corps) não aceitou a recomendação de um fuzil estrangeiro e, nos Testes de Inverno Ártico de dezembro de 1953, ordenaram que o fuzil belga fosse comparado sempre desfavoravelmente ao modelo americano. Os T48 foram encaixotados e enviados diretamente ao Alasca, enquanto os T44 foram desviados para o Arsenal de Springfield para ajustes de várias semanas, com testes e mais testes na câmara fria do arsenal, realizando modificações para adaptação ao frio. Com uma avaliação marcada, o T44 foi declarado o "vencedor" dos Testes de Inverno Ártico e adotado.


Mesmo após sua aposentadoria em 1953*, Studler desencadeou uma cadeia de eventos que levaram a arma que ele patrocinou à adoção pelo Exército dos EUA como M14. O único outro país a encomendar o M14, no entanto, foi o governo nacionalista chinês em Taiwan*, enquanto cerca de 90 exércitos ao redor do mundo adotariam o FN FAL.

*NT: Studler foi para a reserva retendo o posto de coronel.

**NT: A adoção do M14 não foi uma decisão voluntária de Taiwan, mas dos próprios Estados Unidos, pois as forças taiwanesas dependiam inteiramente dos EUA para o seu aprovisionamento.

Isso incluiu a Commonwealth britânica, cujos SLR L1A1 ("self-loading rifles", "fuzis auto-carregáveis") diferiam dos FN FAL métricos no seu uso de munição .303.*

*NT: O FAL/SLR britânico jamais foi calibrado em .303, o FM Bren que foi recalibrado em 7,62mm e viu serviço nesse calibre nas Falklands em 1982.

Selous Scouts armados de FAL em mais uma patrulha "in the bush".

Entre os primeiros usuários do FN*, os canadenses ficaram impressionados com sua simplicidade e com a rapidez com que podiam aprender pontaria e a ter confiança na arma, em comparação com o tão amado fuzil Lee-Enfield No.4 Mark I que foi substituído.

*NT: O Canadá adotou o FAL em 1954, sendo o primeiro país a adotá-lo, antes mesmo da Bélgica.

Fuzil-metralhador C1A2 canadense.

Além da variante semi-automática C1A1 de padrão em polegadas, os canadenses adotaram o FALO de cano pesado (fusil automatique lourd ou fuzil automático pesado) como sua arma automática de grupo de combate (GC) sob a designação de C2A1. Os fabricantes britânicos também estavam produzindo fuzis L1A1 sob licença desde 1957, embora eles preferissem manter o fuzil-metralhador Bren ao invés do FALO de cano pesado como sua metralhadora de GC.

A partir de 1985, os britânicos substituíram o L1A1 pelo SA80, um fuzil "bullpup" derivado do muito-à-frente-de-seu-tempo EM-2.

Variações no FN FAL apareceram em todo o mundo e ele estava fortemente envolvido nas guerras de emboscada nos matagais da segunda metade do século XX, desde a Emergência Malásia até a revolta Mau Mau no Quênia, da Guerra da Rodésia aos conflitos entre a Índia o Paquistão, e numerosos conflitos no Oriente Médio, onde a areia provou ser o principal calcanhar de Aquiles para o FN FAL, até que medidas foram tomadas para proteger seu mecanismo de interferências externas.


Além disso, praticamente todos os soldados que usaram o FN se lembram com carinho por sua durabilidade e confiabilidade. Seu alcance efetivo de 600 metros pode ser estendido para 800 metros em mãos especializadas, mas nunca foi tão estável em uma plataforma de tiro de longo alcance em comparação com o M14. Nem o FN nem o M14 conseguiram manter a controlabilidade ao disparar em automático por causa da munição 7,62x51mm e muitos fabricantes licenciados do FN FAL dispensaram totalmente a opção automática.

O Vietnã viu sua parcela de fuzis L1A1 em combate quando as tropas da Austrália e da Nova Zelândia serviram lá, principalmente na Batalha de Long Tan, em 18 de agosto de 1966, na qual o 6º Batalhão, Regimento Real da Austrália, derrotou um regimento Viet Cong e pelo menos um batalhão de apoio norte-vietnamita*.

Memorial Australiano da Guerra do Vietnã, Roma Street Parkland em Brisbane, Queensland. O soldado australiano está armado com o SLR (FAL australiano) e o seu colega vietnamita com um M16.

*NT: Tratam-se do Batalhão Móvel Provincial D445 "Ba Ria" do Viet Cong e o 275º Regimento regular norte-vietnamita. O relatório oficial pós-ação do exército australiano chamou o FAL de "a arma excepcional da ação". Recentemente um filme sobre a batalha foi produzido, Danger Close: The Battle of Long Tan (2019).

Ilustração da carga dos Scots Guards no Monte Tumbledown, 1982.
(Cranston Fine Arts)

As baionetas padrão com o FN FAL podem ter parecido anacrônicas, mas durante a Guerra das Falklands, o efeito psicológico do aço frio se reafirmou na noite de 13 a 14 de junho de 1982, quando um impasse no Monte de Tumbledown foi interrompido por uma manobra de flanco e uma carga de baioneta pelo 2º Batalhão de Guardas Escoceses (2nd Battalion, Scots Guards) para desbaratar o Bataillón de Infanteria de Marina 5 (5º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais).

Soldado argentino, provavelmente do 4º Regimento de Infantaria "Monte Caseros", morto à baioneta pelos Royal Marines no Monte Harriet, nas Falklands, 1982.

Pode-se notar que a única diferença entre armas de infantaria nessa ocasião foi que os britânicos estavam armados com fuzis SLR L1A1 de polegadas, enquanto os argentinos estavam equipados com fuzis FN FAL de padrão métrico.

Rio de Janeiro, Brasil: Um soldado do Exército Brasileiro do 26º Batalhão de Infantaria da Brigada Paraquedista aponta sua arma no telhado plano de uma casa na favela da Rocinha, em 14 de março de 2006, durante uma operação militar para encontrar 10 fuzis FAL 7,62mm e uma pistola de 9mm roubados de um quartel do exército no Rio de Janeiro.
(Foto de Antonio Scorza/AFP)

Embora aposentado nos exércitos da OTAN nos anos 80, o FN FAL, em todas as suas variações e encarnações, permanece uma memória agradável entre os veteranos que o carregaram. Nos exércitos do Terceiro Mundo, principalmente na América do Sul e Central, ele permanece em serviço de primeira linha - e continua sendo uma arma eficaz e confiável.

NT: Título original "Como o FN FAL enfrentou o AK-47".

Bibliografia recomendada:

The FN FAL Battle Rifle.
Bob Cashner.