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quarta-feira, 9 de março de 2022

Armamento pesado do Vietcongue

Uma metralhadora leve ZB vz. 26 de fabricação tcheca (7,92x57mm) em uma posição antiaérea vietcongue.
Muitas foram fornecidos a partir de estoques chineses.
(Imagem: acervo do autor)

Por Tom Laemlein, The Armory Life16 de novembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 9 de março de 2022.

Os vietcongues (Viet Cong, VC) eram muitas coisas: um grupo político comunista e uma frente revolucionária, um grupo terrorista e o exército de uma guerra de guerrilha. Em última análise, em operações de combate, os vietcongues eram uma força de infantaria leve.

Eles foram projetados para se mover rapidamente e com grande discrição, emergindo das montanhas e selvas para emboscar seus oponentes sul-vietnamitas. Eles foram equipados com uma variedade de armas portáteis. Além disso, o VC tornou-se bastante hábil em usar armadilhas contra seus oponentes. No início da década de 1960, o VC foi muito bem-sucedido, empurrando as forças do governo sul-vietnamita para trás e confinando-as a um punhado de áreas urbanas e bases isoladas.

Um resquício colonial francês: uma metralhadora Reibel MAC mle 31 capturada dos vietcongues na Península de Ca Mau durante 1964.
(Imagem: coleção do autor)

Durante 1964, os vietcongues aumentaram constantemente seus números para mais de 100.000 homens em campanha, e seus sucessos no campo de batalha continuaram. Naquela época, havia apenas 23.000 militares americanos no Vietnã. Durante 1965, esse número cresceria para mais de 184.000, e os americanos se juntariam a mais de 20.000 soldados da Coréia do Sul.

Na frente está uma RP-46 soviético alimentado por cinto (ou Tipo 58 chinês), enquanto as metralhadoras leves RPD ocupam o fundo.
Elas foram capturadas pelas forças americanas em Nui Dat. (Imagem: NARA)

A situação de combate mudou drasticamente para o VC durante 1965, pois seus oponentes se tornaram muito mais agressivos e equipados com o que há de mais moderno em armamento.

Uma metralhadora chinesa Tipo 53 calibrada em 7,62x54mmR.
Ela foi capturada e exibida pelo USMC em março de 1966. (Imagem: NARA)

O think tank da RAND Corporation entrevistou centenas de prisioneiros vietcongues entre 1964 e 1969. Suas descobertas revelaram a crescente necessidade do VC por armas mais pesadas, particularmente para combater o poder aéreo americano e veículos blindados.

"Entrevistados expostos a ataques de bombardeiros e helicópteros mencionaram que tinham medo de helicópteros armados, embora tenham dito que essas máquinas eram altamente vulneráveis ao fogo de solo. Dizia-se que seu ataque era muito eficaz, muitas vezes mais eficaz do que o de caças-bombardeiros, porque eles podem se aproximar de seu alvo, pairar e disparar verticalmente em trincheiras e tocas vietcongues. Os foguetes de helicóptero, por outro lado, eram considerados pouco eficazes."

Ajustando-se para lutar contra os EUA

Uma entrada de outubro de 1968 de um diário VC capturado declarou:

"A luta contra os americanos hoje em dia é muito diferente da luta contra os franceses... as durezas e dificuldades da atual guerra anti-EUA são muito maiores, e a ferocidade muito mais selvagem. Nossas tropas não tiveram que dormir em trincheiras subterrâneas na luta anti-francesa e os franceses não possuíam meios de matança tão bárbaros quanto os B52 dos EUA."

Esses soldados examinam um RPG-7 danificado que foi capturado do VC durante a Ofensiva do Tet em fevereiro de 1968. (Imagem: NARA)

À medida que os Estados Unidos despejavam mais recursos militares no Vietnã, o poder da tecnologia militar americana começou a afetar os vietcongues. Os bombardeios da USAF e os helicópteros de combate do Exército dos EUA começaram a interromper as linhas de suprimento do VC e metralharam as concentrações de tropas VC. No solo, unidades blindadas do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA intimidaram o VC com tanques de batalha principais M48 e os novos veículos blindados M113. Embora houvesse oportunidades limitadas para operações blindadas no Vietnã, quando tanques e APCs foram empregados, eles tiveram um efeito dramático sobre os vietcongues. Um relatório RAND de 1965 revelou:

Blindados, particularmente o M113, foi citada por muitos entrevistados como tendo uma grande influência no resultado do combate e nas perdas sofridas pelas unidades vietcongues, especialmente aquelas não equipadas com armas anti-blindados. Vários casos foram citados em que unidades vietcongues entraram em pânico e sofreram pesadas perdas quando atacadas por tanques ou M113. As entrevistas relatam, no entanto, um aumento constante na disponibilidade de armas antitanque de origem chinesa.

O RPG-2 deu aos vietcongues uma potente arma antitanque. A munição HEAT do RPG-2 pode penetrar até 18cm de blindagem. (Imagem: NARA)

A nova arma antitanque foi o RPG-2 projetado pelos soviéticos (e sua variante chinesa, o B40). Este era um simples lançador de granadas propelido por foguete, disparando uma munição de 82mm carga oca (Alto Poder Explosivo Anti-Tanque / High Explosive Anti-Tank, HEAT) que poderia penetrar até sete polegadas de placa de blindagem. O RPG-2 era leve (4,67kg carregado) e deu ao VC alguma capacidade de resistência contra os blindados americanos, com um alcance efetivo de cerca de 150 metros. Foi particularmente eficaz contra a blindagem de liga de alumínio (máximo de 44mm) no veículo blindado M113.

O RPG-7, mais potente, disparou uma ampla gama de munições, incluindo uma alta carga explosiva. Este exemplar foi capturado do VC em julho de 1967. (Imagem: NARA)

Em 1968, o VC começou a receber o RPG-7, muito melhorado, dobrando o alcance efetivo e quase triplicando a penetração da blindagem. Mais importante para o VC, o RPG-7 oferecia uma munição alto explosiva/fragmentação, dando-lhes artilharia portátil eficaz.

O Helicóptero

"Os VC da força principal e, em menor grau, a infantaria VC da força local são treinadas para empregar suas armas contra aeronaves aliadas, particularmente helicópteros. A qualidade da formação é boa e tudo indica que está a melhorar. Metralhadoras e fuzis automáticos são enfatizados, mas também são dadas instruções sobre o uso de fuzis, RPG… na função antiaérea. O NVA/VC enfatiza que qualquer arma pode abater uma aeronave se devidamente empregada."
Relatório de lições aprendidas do Exército dos EUA de 1969.

Matador de Helicópteros: o lado letal de uma metralhadora pesada DShK de 12,7mm, capturada dos vietcongues em março de 1966. (Imagem: NARA)

Durante as décadas de 1950 e 1960, os militares americanos ficaram um pouco preocupados com as tecnologias "mais altas e mais rápidas" da era nuclear e da corrida espacial. Mas a guerra no Sudeste Asiático estava enraizada na mecânica prática mortal de uma guerra de infantaria. Havia pouco que os vietcongues pudessem fazer para combater os jatos americanos que voavam alto, então eles aprenderam maneiras de evitar a observação aérea americana. Os helicópteros americanos, no entanto, eram uma história bem diferente e representavam uma ameaça séria e imediata.

Um metralhadora chinesa Tipo 53 capturada e exibida com uma mira AAe. A SG-43/Tipo 53 deu ao VC uma arma mais poderosa para usar contra helicópteros americanos. (Imagem: NARA)

O VC descobriu que muitas de suas armas de infantaria poderiam ser usadas contra helicópteros a curta distância. Na falta de artilharia antiaérea dedicada, eles adotaram uma tática soviética da Segunda Guerra Mundial de tiro de voleio com armas portáteis de infantaria em aeronaves de ataque voando baixo. À medida que mais fuzis SKS e AK-47 se tornaram disponíveis para os vietcongues, essa tática se tornou mais eficaz.

Armas novas e mais pesadas começaram a chegar às mãos dos vietcongues em 1966. Uma metralhadora particularmente eficaz foi a metralhadora pesada DShK 12,7mm (12,7x108mm). Esta é uma arma projetada pelos soviéticos, pesando quase 34kg apenas para a arma. Não é igual à metralhadora americana Browning M2 .50 (e a munição não é intercambiável), mas mesmo assim, a DShK foi um divisor de águas ao ajudar o VC a defender posições importantes de ataques de helicópteros americanos. Disparando a 600 tiros por minuto, com um alcance efetivo de 2.000 jardas, a DShK (ou Tipo 54 chinesa) foi responsável por derrubar muitos helicópteros dos EUA e ARVN durante a guerra.

A metralhadora pesada DShK de 12,7x108mm deu às unidades vietcongues uma arma eficaz contra helicópteros americanos. (Imagem: NARA)

Um relatório do Exército dos EUA de 1969 observou a crescente eficácia das defesas antiaéreas vietcongues: “A organização do NVA/VC de defesa aérea passiva e ativa, treinamento com equipamentos e táticas são eficazes. Todas as indicações são de que eles estão melhorando.”

Metralhadoras de GC

Os vietcongues aceitaram alegremente quaisquer metralhadoras leves ou fuzis-metralhadores em seu arsenal. Sua combinação de peso leve e alto poder de fogo foi a combinação certa para as táticas de ataque e fuga do VC. As primeiras armas automáticas de grupo de combate disponíveis para o VC pareciam mais peças de um museu de história militar. Apesar da idade de algumas dessas armas e dos problemas logísticos que apresentavam, o VC mostrou que ainda eram bastante mortais em um campo de batalha moderno.

A descoberta de um grande esconderijo de armas VC rendeu MG34 alemãs, FM 24/29 francesas e pelo menos uma metralhadora M60 americana. (Imagem: acervo do autor)

MG34 alemã: Várias centenas de MG34 foram fornecidos aos vietcongues de estoques comunistas chineses, bem como através da União Soviética, que forneceu MG34 capturadas dos alemães na Segunda Guerra Mundial, bem como armas fabricadas na Tchecoslováquia no período imediato do pós-guerra. A MG34 (7,92x57mm) era uma arma muito bem feita, oferecendo uma alta cadência de tiro (900 tpm). Estes eram frequentemente alimentados por uma cinta ligada de 250 tiros, ou com o conjunto de cintas de 50 tiros semelhante a um tambor.

Milhares de metralhadoras como esta MG34 alemã foram capturadas pelos soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial e depois fornecidas às nações satélites comunistas. (Imagem: acervo do autor)

FM 24/29 francês: O FM 24/29 foi um resquício da guerra vietnamita com os franceses. Muitos foram capturados das forças coloniais francesas e continuaram em serviço do Viet Minh ao Viet Cong. Calibrado no 7,5x54mm francês, o FM 24/29 foi alimentado por um carregador de cofre montado na parte superior de 25 tiros. Uma arma manuseável (apenas 9,1kg) para as tropas vietnamitas de porte ligeiro, o FM 24/29 serviu no Sudeste Asiático do final da década de 1940 até o final da década de 1970.

Uma metralhadora leve francesa FM 24/29 capturada das forças VC durante 1966. Muitos desses fuzis-metralhadores foram capturados dos franceses durante a primeira Guerra da Indochina. (Imagem: NARA)

Vz. ZB26 tcheca: A vz. 26 foi um projeto de metralhadora leve seminal de meados da década de 1920, levando os britânicos a desenvolver a metralhadora Bren. Os tchecos também tiveram muito sucesso na venda da vz. 26 (calibrada em 7,92x57mm) no mercado internacional, principalmente na China. Mesmo depois de um longo serviço com os chineses, muitas vz. 26 foram fornecidas aos norte-vietnamitas, e uma boa quantidade dessas excelentes metralhadoras leves (9,5kg) foi passada para os vietcongues.

DP soviética: Os vietcongues receberam quantidades de todas as variantes das metralhadoras DP soviéticas, desde a DP-27 inicial (com um carregador de frigideira de 47 tiros) até a RP-46 alimentada por cinta, todos calibrados em 7,62x54mmR.

Um soldado australiano exibe uma metralhadora leve RPD capturada do VC durante 1968. (Imagem: NARA)

À medida que a União Soviética e a China comunista começaram a fornecer mais armas para o NVA e aos vietcongues, metralhadoras comunistas mais recentes começaram a aparecer em unidades de combate VC.

Metralhadora média SG-43/SGM Goryunov: A SG-43 era um projeto intermediário que alavancava um cano refrigerado a ar particularmente denso. Calibrada em 7,62x54mmR, a SG-43 (13,8kg) era normalmente conectada a um suporte com rodas (41kg). Embora fosse uma arma confiável, o grande peso restringia muito as operações ofensivas do VC.

Um fuzil-metralhador RPD de fabricação soviética ou Tipo 56 chinês calibrado em 7,62x39mm. O RPD era a metralhadora leve padrão dos vietcongues em 1968. (Imagem: coleção do autor)

O RPD (ou Tipo 56 chinês): Como o RPD foi substituído no serviço soviético no início dos anos 1960, essas armas foram passadas para várias nações satélites comunistas. Calibrado em 7,62x39mm e alimentado por uma cinta segmentada de 100 tiros contidos em um tambor, o RPD tornou-se a metralhadora de GC padrão dos vietcongues em 1968. Fornecia uma base de fogo estável com uma cadência cíclica econômica de 650 tiros por minuto.

Foguetes do VC

À medida que a presença militar americana continuou a crescer no Vietnã do Sul, as bases americanas (particularmente as bases aéreas) tornaram-se alvos altamente lucrativos para ataques vietcongues. Esses ataques foram originalmente executados com morteiros pesados (81 e 82mm), e os morteiros mais móveis de 60mm. Com o passar do tempo, o VC começou a empregar um número maior de canhões sem recuo de 57mm e 75mm e, embora essas armas fossem mais precisas, sua assinatura de disparo muitas vezes trazia uma retribuição rápida e mortal. O avanço final em armas pesadas ofensivas do VC foi representado em um grupo de foguetes de artilharia não-guiados.

O foguete M-14 140mm de fabricação soviética era uma arma de fragmentação altamente explosiva contendo 3,6kg de TNT. Era uma arma simples. (Imagem: NARA)

Os foguetes tornaram-se uma arma simples e facilmente transportável para os vietcongues. Eles estavam disponíveis em três tamanhos: 107mm, 122mm e 140mm, e podiam ser disparados de lançadores de tubos simples ou até mesmo montes de terra. Para combater a observação aérea americana da assinatura de lançamento dos foguetes, as tropas de foguetes VC mantiveram a disciplina de disparar não mais do que cinco tiros de qualquer lançador de tripé/tubo, ou duas salvas das rampas de terra antes de desmontarem seus equipamentos e desaparecerem no selva.

Leitura recomendada:

Viet Cong Fighter.
Gordon L. Rottman e Howard Gerrard.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Forças da ONU uruguaias reforçarão a segurança na República Democrática do Congo


Pelo Chefe Bisong EtahobenHuman Angle, 10 de fevereiro de 2022.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 10 de fevereiro de 2022.

A MONUSCO anunciou o envio de Capacetes Azuis uruguaios para Djugu, onde o local de deslocados de Plaine Savo foi atacado na semana passada pela CODECO.

A Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO) anunciou o envio de Capacetes Azuis uruguaios para Djugu, onde o local de deslocados de Plaine Savo, atacado na semana passada pelos rebeldes da Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (CODECO), resultando nas mortes de 62 pessoas está localizado.

“A MONUSCO reforçou sua presença na zona de Plaine Savo após o ataque assassino de 1º de fevereiro contra o campo de deslocados pela CODECO”, divulgou a agência da ONU em seu relatório diário de quarta-feira, 9 de fevereiro. local de deslocados de Plaine Savo na noite de 1º de fevereiro, o reforço de uma empresa mecanizada de Capacetes Azuis uruguaios foi mobilizado para a proteção de civis”.


A publicação revelou ainda que 18 civis feridos foram evacuados por uma unidade de aviação de Bangladesh de Bayoo para o hospital civil de Bunia. Ela assinalou que as ações em setores dentro das zonas sensíveis dissuadiram e atenuaram a ameaça de violência em toda a zona de operação, garantindo a proteção e segurança dos civis.

“A presença dos Capacetes Azuis garantiu a proteção e estabilidade local com patrulhas robustas, engajamento contra os grupos armados e o apoio regular às forças de segurança por parte da população local. A Força da ONU continuará todo o seu esforço para apoiar e promover a estabilidade e a paz na República Democrática do Congo”, acrescentou o relatório.

A MONUSCO confirmou o lançamento de uma operação em Uzi, cerca de 15 km ao sul de Djugu, em 6 de fevereiro, “onde a presença da milícia CODECO foi sinalizada em preparação para possíveis novos ataques contra locais para pessoas deslocadas”.

A operação permitiu afugentar a milícia da zona. O local atacado pelos rebeldes do CODECO está situado na localidade de Bule, no território de Djugu, cerca de 75 km ao norte de Bunia. Entre os mortos no ataque estavam 10 crianças e todas as vítimas foram enterradas em uma vala comum no local do ataque.

chefe Bisong Etahoben é um jornalista investigativo camaronês e governante tradicional. Ele escreve para a mídia internacional e participou de várias investigações transnacionais. Etahoben ganhou o primeiro Prêmio de Jornalista Investigativo em Camarões em 1992. Ele atua como membro de vários órgãos profissionais de jornalismo investigativo internacional, incluindo o Fórum para Repórteres Investigativos Africanos (FAIR). Ele é o editor francófono e da África Central da HumAngle.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

FOTO: Tigre Negro Sargento-Chefe Tran Dinh Vy

Sargento-chefe Tran Dinh Vy com a boina preta dos Tigres Negros e medalhas, incluindo a Cruz de Guerra com palma, 1950.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de fevereiro de 2022.

O sargento-chefe Tran Dinh Vy foi o assistente do famoso Ajudante-chefe Roger Vandenberghe, comandante do lendário Comando 24 que operou no Tonquim, conhecidos como Tigres Noirs.

Os Tigres Negros pertenciam aos Comandos do Vietnã do Norte. Inicialmente 8 comandos, o número se expandiu para 45 comandos organizados no Vietnã do Norte para travarem a guerra usando os métodos dos guerrilheiros. Assim como os demais comandos, o Comando 24 era uma formação especializada em táticas de pequenas unidades e pseudo-operações, se vestindo com o típico pijama negro usado pelo Viet Minh (VM) e os seus capacetes tropicais, com o objetivo de operarem profundamente atrás das áreas dominadas pelo VM.

A insígnia da boina tem um tigre, o animal apex da selva vietnamita, e o lema:

“Tha Chet Hon La Chiu Nhuc”

(Plutôt la mort que la honte)

(Antes a morte que a desonra)

Insígnia da boina dos tigres negros.

Em uma ocasião, Vandenbergh posou como um prisioneiro francês capturado por seus comandos posando de Viet Minh e a unidade atacou e destruiu um posto de comando (PC) do VM após um deslocamento de quilômetros por território controlado pelos comunistas. Outra das ações célebres foi a infiltração em Ninh-Binh para resgatar o corpo do Tenente Bernard de Lattre, filho do General Jean de Lattre de Tassigny, o comandante-em-chefe de todas as forças francesas na Indochina.

Vandenberghe foi morto em 1952, assassinado pelo Subtenente Nguien Tinh Khoï; o ex-comandante da unidade de assalto do Regimento 36 da Brigada 308 do VM, capturado na Batalha do Rio Day em 1951 e transformado em auxiliar do Comando 24.

O Sargento-chefe Tran Dinh Vy fez o curso de comando paraquedista em Pau, na França, em 1954. Mais tarde, foi oficial do Exército Sul-Vietnamita (ARVN) e depois da queda de Saigon em 1975, ele conseguiu escapar para a França, se alistando na Legião Estrangeira e terminando o seu serviço com a patente de coronel. Ele continuou sendo o guardião da memória do Comando 24.

Suas condecorações incluíram:
  • a Légion d'honneur (Legião de Honra),
  • a Médaille militaire
  • 20 citações francesas, americanas e vietnamitas.

O Sargento-chefe Tran Dinh Vy ao lado do Ajudante-chefe Vandenbergh com seus comandos Tigres Negros, vestidos com pijama negro e capacete tropical do Viet Minh, 1950.

Bibliografia recomendada:

Commandos Nord-Vietnam 1951-1954.
Jean-Pierre Pissardy.


Leitura recomendada:

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

LIVRO: Borboletas e Lobisomens


Por Euler de França Belém, Jornal Opção, 14 de julho de 2018.

Livro revela que 7 guerrilheiros do Araguaia negociaram com militares e sobreviveram. Edinho, Duda, Piauí, Rosinha, Josias e Tuca saíram vivos da Guerrilha do Araguaia. Goiano foi infiltrado no PC do B e guerrilheira teve caso com sargento do Exército.


O jornalista Hugo Studart, mestre e doutor em História pela UnB, reabre, com seu mais recente livro, a história da Guerrilha do Araguaia, sugerindo que nem mesmo o PC do B valorizou os camponeses que participaram da batalha, e exibe a cadeia de comando militar que devastou a organização comunista.

A Guerrilha do Araguaia passou por um processo de “reforma agrária” e não é mais propriedade privada exclusiva do Partido Comunista do Brasil. Durante anos, o PC do B se comportou como dono da história da batalha, enquanto os militares fingiam que nada tinham a ver com os fatos acontecidos no Sul do Pará e Norte de Goiás (Tocantins), entre 1972 e 1974. Aos poucos, pesquisadores acadêmicos e jornalistas não vinculados à organização de esquerda começaram a apresentar estudos rigorosos e objetivos — e não relatórios partidarizados — a respeito do confronto. Os melhores livros são de responsabilidade de jornalistas, como Eumano Silva, Taís Morais, Elio Gaspari, Luiz Maklouf de Carvalho, Leonencio Nossa e Hugo Studart, que, na prática, são historiadores. Studart defendeu dissertação de mestrado na Universidade de Brasília, que resultou no livro “A Lei da Selva — Estratégias, Imaginário e Discurso dos Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia” (Geração Editorial, 383 páginas, de 2006). Agora, lança em livro sua tese de doutorado “Borboletas e Lobiso­mens — Vidas, Sonhos e Mortes dos Guerrilheiros do Araguaia” (Francisco Alves, 660 páginas).


No livro, que vai além da tese de doutorado, há o imbricamento do historiador rigoroso com a perspicácia do jornalista investigativo e a fluência do escritor que, sim, Studart é. Seus dois livros são cruciais àqueles que querem entender a Guerrilha do Araguaia de maneira mais ampla e matizada. Não há a preocupação de criar vilões e tampouco mocinhos, e sim a de apresentar um quadro nuançado do que aconteceu na região do Araguaia. O pesquisador contempla as visões dos contendores, guerrilheiros e militares, e apresenta sua interpretação — equilibrada e objetiva. De certa maneira, “reabre” a história da guerrilha. O capítulo 19, “Sonata para Carmen”, apresenta uma história que, por vezes, não agrada à esquerda — que tende a apresentar uma guerrilha que, de tão heroica, deixa a impressão de que saiu “vencedora” e defendia a democracia. O pesquisador descobriu, e relata os casos de maneira abrangente — sem julgamentos morais toscos ou ideologizados —, que ao menos sete guerrilheiros, dados como mortos, inclusive por suas famílias e militares, estão vivos. Fizeram acordos e ganharam novas identidades.

Pouco antes de entrar para o PC do B e para a guerrilha, o estudante de farmácia e bioquímica Hélio Luiz Navarro de Magalhães, da Univer­sidade Federal do Rio de Janeiro, compôs uma música e a tocou no piano para sua mãe, Carmen Navarro Rivas. Depois, desapareceu e sua mãe nunca mais o viu. Há alguns anos, um repórter do Jornal Opção publicou uma reportagem — entre as fontes estava um guerrilheiro do Araguaia, Micheas Gomes de Almeida, o Zezinho do Araguaia —, na qual se informava que Hélio Navarro, o Edinho, havia sido visto no Mato Grosso, onde teria chegado a trabalhar com garimpo. Dias após a publicação da matéria, uma mulher, S. L., ligou na redação e ameaçou: “A mãe do Hélio Navarro, a sra. Carmen Navarro, ficou chateada com o texto publicado e pode processar o jornal”. Curiosamente, a família não moveu ação judicial contra o jornal.

Hiato de poder

Luíza Augusta Garlipe, a Tuca; Hélio Luiz Navarro de Magalhães, o Edinho; Maria Célia Corrêa, a Rosinha; Luiz Renê Silveira, o Duda; Antônio de Pádua Costa, o Piauí, e Tobias Pereira Júnior, o Josias, foram capturados pelo Exército e poupados pelos oficiais do Exército.

No livro, Studart apresenta evidências, com fartura de informações, de que Hélio Navarro e pelo menos mais seis (mais quatro são mencionados) guerrilheiros sobreviveram depois de capturados — o que era raro, sobretudo no fim dos combates. Havia uma ordem do ministro do Exército do governo de Emílio Médici, Orlando Geisel — “Não sai ninguém da área” —, que, numa tradução realista, significa: “Matem todos”. O ministro, antes de conversar com o presidente da República, discutiu o assunto com Milton Tavares, chefe do Centro de Informações do Exército (CIE), e o tenente-coronel Carlos Sérgio Torres, do CIE. De fato, militares começaram a matar guerrilheiros capturados e que não representavam nenhum perigo para eles e para a sociedade. Entretanto, a partir de certo momento, na transição do governo de Médici para o governo do presidente Ernesto Geisel, um “ditobrando” que às vezes era “ditoduro”, houve uma mudança.

Hélio Navarro era filho de Hélio Gerson Menezes de Magalhães, capitão-de-mar-e-guerra da Marinha, e sobrinho do almirante Gualter Meneses de Magalhães, anticomunista visceral e chefe do estado-maior da Armada. Por isso, o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) pedia informações ao Exército sobre o guerrilheiro, pois o queria vivo. O tenente-coronel Leo Frederico Cinelli, do CIE, havia sido amigo de Carmen Navarro na juventude e era a ponte entre o Exército e Marinha.

Cinelli “assumiu a missão de tentar” entregar Hélio Navarro aos pais. Em fevereiro de 1974, o militante do PC do B, depois de ferido de raspão, é preso. Ele estava com Luiz Renê Silveira, o Duda, e gritou: “Não quero morrer, chama meu pai, que é oficial da Marinha”. “Desde o início, Edinho e Duda mostraram-se dispostos a colaborar”, anota Studart. Antônio de Pádua Costa, o Piauí, resistiu, mas cedeu. Duda “guiou patrulhas militares na caça aos companheiros” e Piauí serviu de guia.

Correu entre os militares que o “filho do almirante” (na verdade, Gualter era tio do esquerdista) havia sido capturado e a informação foi levada à cúpula do Exército em Brasília. O guerrilheiro chegou a citar Cinelli, que, avisado pelo major Leônidas Soriano Caldas, o dr. Ribamar, contatou o Cenimar. “O almirante Fernando Rocha Paranhos, chefe do Cenimar, designou o comandante Lameira, à época capitão-de-corveta, para a missão de resgatar o filho do colega.” Como a esquerda tinha o hábito de justiçar “desertores” e “traidores” da causa, oficiais do Exército e da Marinha temiam pela vida de Hélio Navarro.

Uma Equipe Zebra com dois guerrilheiros capturados no Araguaia.
Os "zebras" eram militares e mateiros atuando descaracterizados em missões de contra-guerrilha.

Em fevereiro de 1974, militares prenderam a “esquelética” Maria Célia Corrêa, a Rosinha, que havia sido namorada dos guerrilheiros João Carlos Wis­nesky, o Paulo, e Divino Ferreira de Souza, o Nunes (goiano). Grávida de Nunes, submeteu-se a um aborto, sob pressão do comandante guerrilheiro Zé Carlos (André Grabois). Fa­min­ta, delirava. Oficiais concluíram que não oferecia qualquer “perigo” e decidiram deixá-la viva. O pesquisador repara que havia o precedente de Marcos José de Lima, o Ari Armeiro, que, preso em setembro de 1972, passou a servir aos militares, chegou a ser infiltrado na guerrilha e sobreviveu. Edinho pediu aos militares que poupassem a vida de Duda e Piauí. A enfermeira Luíza Augusta Garlipe, a Tuca, formada pela USP, foi presa com a famosa guerrilheira e geóloga Dina (Dinalva Conceição Oli­vei­ra Teixeira). Como não era “perigosa”, foi poupada. Tobias Pereira Júnior, o Josias, também escapou.

Studard afirma que, com o novo governo, o de Geisel, houve, num certo momento, um “hiato de poder”. O general Confúcio de Paula Avelino, novo chefe do CIE, “decidiu discutir a pertinência de uma operação para poupar a vida de alguns guerrilheiros”. O tenente-coronel Cinelli concordava com seu superior e o tenente-coronel Carlos Sérgio Torres era refratário à ideia.

Os mortos-vivos

Dinalva Conceição Oliveira, a Dina; Dinaelza Soares Santana Coqueiro, a Maria Diná; e Lúcia Maria de Souza, a Sônia, do PC do B, eram guerrilheiras de grande coragem. Elas combateram duramente as forças do Exército.


A ideia de trocar a identidade dos guerrilheiros “arrependidos” foi do tenente-coronel Flávio Demarco, o Tio Caco, coordenador-geral da Operação Marajoara. Os “arrependidos” seriam considerados, para os registros oficiais, como “mortos”. Eram os “mortos-vivos”.

A “operação mortos-vivos”, classificada como “secreta”, foi planejada e organizada em Brasília pelo major Ronaldo Lira, do CIE, sob coordenação do tenente-coronel Cyro Etchegoyen. Ele recebeu o apoio do comandante Lameira, do Cenimar. “No Araguaia, a execução ficou a cargo do major Leônidas Soriano Caldas.” O sargento José Reis, o Régis, era seu assistente direto. O capitão Sebastião Rodrigues de Moura, que passou à história como Major Curió, não foi avisado da operação. Porque defendia a execução dos prisioneiros.

Para disfarçar a operação, inclusive ludibriando militares de certa relevância hierárquica, o sargento Régis simulou que os guerrilheiros Edi­nho, Duda e Piauí haviam sido executados. Na verdade, foram transferidos para Brasília. O sargento Remo simulou a execução de Rosinha. Tobias Pereira Júnior foi retirado de automóvel do cenário da guerrilha.

Aos 24 anos, Hélio Navarro, o mais protegido, foi o primeiro a ser levado para Brasília. Seguiram-no Duda, de 22 anos, Piauí, de 30 anos, Rosinha, de 29 anos, Josias, de 24 anos, e Luiza Augusta Garlippe. Na capital, foram levados para a Polícia Federal — o general Antônio Bandeira era seu diretor — mas ficaram sob a responsabilidade do CIE.

Sob proteção do almirante Gualter, Hélio Navarro conseguiu emprego no hipermercado Carrefour, em São Paulo. Tobias Pereira “recomeçou a vida no Mato Grosso”. Sua família, sintomaticamente, não pediu indenização ao governo federal e não fala com historiadores e jornalistas.

Luiz Renê, Antônio de Pádua e Rosinha ganharam empregos em Brasília, arranjados pelo coronel Jarbas Passarinho, que era ministro da Educação. O objetivo era “lavar” a nova identidade, forjar currículos. Tanto que, depois, os três deixaram o Ministério da Educação. (Studart não conta, pois não é objeto de sua pesquisa, mas Passarinho conseguiu empregos para ex-esquerdistas goianos que se apresentaram como “arrependidos”. Dois moram em Brasília e um em Goiânia. Um deles se aposentou pela Universidade Federal de Goiás.)

Em 1980, Hélio Navarro foi visto por Elza Monerat, no Rio de Janeiro. Ele casou-se e tem dois filhos. “Com o falecimento de seu pai, em 1999, Hélio Luiz se apresentou à Receita Federal em 8 de agosto de 2001, com sua verdadeira identidade, a fim de regularizar o CPF e liberar inventário.” Em seguida, desapareceu. Não há registro de que tenha procurado a mãe e sua irmã, Aglaé. Certa vez, Carmen Navarro enviou uma carta, por intermédio de um militar, e o ex-guerrilheiro a leu e chorou muito. Mas não há registro de que tenha feito algum contato. Luiz Renê também não procurou sua família.

Paixão na guerrilha

O livro de Studart sugere que a Guerrilha do Araguaia, vista como movimento unicamente do PC do B — com a participação majoritária de pessoas que frequentaram universidades —, deve ser reavaliada. Trata-se de um movimento mais popular do que parece, que contou com ação de vários camponeses, que participaram direta, como guerrilheiros, e indiretamente, como base de apoio. Vários camponeses foram torturados e mortos. “34 camponeses restaram mortos ou desaparecidos durante os conflitos. Há outros 43 camponeses que deram apoio à guerrilha.” Setenta e sete camponeses participaram da luta ao lado dos militantes do PC do B — além de “outros 142 chefes de família apontados como simpatizantes”. O pesquisador “coloca-os” na história — uma história “ignorada” inclusive pelos comunistas —, apresentando seus nomes. Os militares que dirigiram o combate aos militantes da esquerda são mencionados por nomes completos, além dos codinomes. São arrolados, entre os outros, o coronel Gilberto Airton Zenkner, o tenente-coronel Carlos Sérgio Torres, o major Leônidas Soriano Caldas, o capitão Roberto Amorim Gonçalves, o major Lício Augusto Ribeiro Maciel (que aparece em vários livros), o major Roberto Sampaio Loureiro, o major Thauma­tur­go, o major Diprimio, o major Othon do Rêgo Monteiro Filho (Otto), o major Nilton de Albu­querque Cerqueira (o Faixa Branca), o major Celso Seixas Marques Ferreira (dr. Brito), o tenente-coronel Leo Frederico Cinelli, o tenente-coronel Wilson Brandi Romão (dr. Zico), o tenente-coronel Flávio Demarco, o tenente-coronel Hydino Sardenberg Filho e o major José Brant Teixeira. Desmitifica-se o Major Curió, que, apesar da fama (disseminada por jornais e pelo militar), não era um personagem central e cuja autonomia era menor do que se costuma pensar.

Adepto da foquismo — focos guerrilheiros instalados notadamente no campo —, o PC do B acreditava que, a partir das matas, do campo, se poderia cercar as cidades e derrotar a ditadura. Paradoxal­mente, os militares usaram a cidade, com sua fartura de homens, armas e aviões, para cercar o campo e destruir a guerrilha. O maoísmo do partido era mais produto de uma fé, fanática, do que de uma análise criteriosa e realista da correlação de forças. Só com muita boa vontade é possível admitir que a maioria dos estudantes que foram lutar no Araguaia era de fato guerrilheira. Eles eram jovens criados em cidades, é provável que muitos nunca tinham visitado uma fazenda e tiveram dificuldade de se adaptar à vida na mata — a maior parte jamais se adaptou e, no geral, vivia doente. Alguns, quando puderam, escaparam.

Há um segredo de polichinelo: em 1974, um dos líderes da guerrilha, Ângelo Arroyo, escapou do Araguaia — tendo Micheas Gomes de Almeida como guia —, ao lado de um terceiro homem. Zezinho do Araguaia não revela o nome; garante que não se lembra. Há a suspeita de que tenha sido João Amazonas. Mas o “guia” afirma que era um homem mais alto.

Ao contrário de outros livros, que são sisudos, o de Studart aventura-se, por vezes, por assuntos da vida privada. Dina, a borboleta (era difícil pegá-la, diziam os camponeses), era casada com Antônio Carlos Mon­teiro Teixeira, mas era apaixonada por Pedro Gil. Para a camarada Lúcia, que sugeria que não era possível amar na floresta, ela disse: “Você tem de entender que a mata é nossa casa, nossa vida. Precisamos ser felizes aqui”. Alguns guerrilheiros, como Francisco Chaves e Áurea Eliza Pereira Valadão, tinham interesse nas artes dos terecozeiros. Áurea chegou “a se consultar com um espião-terecozeiro”. Era um agente disfarçado. Certa feita, ao ser traído por uma viúva, de quem era amante, Osvaldão Orlando Costa expropriou seu castanhal. O camponês Raimundo Severino, o Raimundinho da Pedrinha, não deixou por menos: “Osvaldo trocou o chifre pelo castanhal”.

No livro “Autópsia do Medo — Vida e Morte do Delegado Sérgio Paranhos Fleury” (Globo, 650 páginas), de Percival de Souza, há a revelação de que uma irmã do jornalista Raimundo Rodrigues, ex-editor da Veja e do jornal Movimento, havia sido amante do delegado que torturou dezenas de militantes da esquerda. Studart revela outra história parecida. Criméia Alice de Almeida, guerrilheira do Araguaia, teve um relacionamento afetivo com o sargento Joaquim Artur Lopes de Souza, o Ivan — o militar que matou Dina.

Há a terrível história de Maria Lúcia Petit, que, ferida gravemente, teria sido enterrada viva. Rosalindo Cruz Souza, o Mundico, foi justiçado pelos guerrilheiros — teria sido assassinado por Dina. A tese mais aceita é que mantinha relacionamento com Áurea Valadão, que era casada com Arildo Valadão, e o adultério, talvez sobretudo o feminino, não era aceito. Studart apresenta outra informação: ele queria sair da guerrilha — e isto era considerado um crime pelo qual se pagava com a vida.

As mulheres guerrilheiras, como Dinalva Conceição Oliveira Teixeira, a Dina, Dinaelza Soares Santana Coqueiro, a Maria Diná, Helenira Rezende de Souza Nazareth, a Fátima Preta, e Lúcia Maria de Souza, a Sônia (feriu o major Lício Augusto Ribeiro e o major Curió e disse: “Guerrilheiro não tem nome, tem causa”), demonstraram uma coragem impressionante — que chegou a assustar oficiais e soldados.

Um cabo do Exército infiltrado no PC do B, durante a guerrilha, continuou como militante até morrer. Joaquim Arthur, o Ivan, infiltrou-se no Destacamento B, o de Osvaldão Orlando Costa. Em 1972, revela Studart, o general Antônio Bandeira infiltrou no Araguaia um antigo militante da VAR-Palmares. “Ele era de Goiânia” e tinha “entre 35 e quarenta anos”, era “mulato, magro, trabalhador”. Atuou no destacamento de Osvaldão.

O livro de Studart abre, para quem quiser, as portas para novas pesquisas. É um manancial de ganchos para aqueles que planejam escrever dissertações de mestrado, teses de doutorado ou mesmo reportagens. O que se comentou aqui não representa 10% da obra, que, ao ampliar horizontes, é fundamental para a compreensão da Guerrilha do Araguaia. A obra é incontornável para pesquisadores e leitores comuns.

domingo, 7 de novembro de 2021

FOTO: Operadores do Comando Georges na Argélia

O Coronel Marcel Bigeard com homens do famoso Comando Georges na Argélia.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 7 de novembro de 2021.

O mais famoso comandante paraquedistas francês, Marcel Bigeard, posa ao lado dos comandos argelinos do Comando Georges, o mais famoso dos commandos de chasse (comando de caça, uma força contra-guerrilha da Guerra da Argélia).

O Comando Georges foi formado pelo Tenente Georges Grillot em 1959, durante a Guerra da Argélia; sendo composto principalmente por ex-membros da Frente de Libertação Nacional (FLN) e do Exército de Libertação Nacional (ALN) reunidos na França. O mais famoso e um dos mais eficientes comandos de caça, o Comando Georges foi dissolvido em abril de 1962 com o fim da guerra após a assinatura dos Acordos de Évian.

Os comandos de caça tinham por missão detectar e rastrear as katibas da ALN usando táticas de guerrilha análogas às forças irregulares da FLN. Katibas podem ser batalhões ou companhias, e na Guerra da Argélia eram a unidade da ALN (em valor companhia, com cerca de 30 homens) subordinadas a wilayas (comandos regionais) e que operavam em ações de guerrilha contra os militares  e de terrorismo contra a população civil. Cada wilaya era sucessivamente subdividido em mintaqas, depois em nahias, depois em kasmas e depois em douarsO objetivo principal dos comandos de caça era impedir a penetração da FLN nas vilas, e o adversário do Comando Georges, em particular, eram os bandos armados da Mintaka 56 (subdivisão de uma Wilaya).

Fanion (guião) e écusson (distintivo) do Commando Georges.
Seus lemas eram "Chasser la misère" (caçar/afugentar a miséria) e "Croire et oser" (crer e ousar).

O Tenente Georges Grillot era assistido pelos Tenentes Armand Bénésis de Rotrou e Youssef Ben Brahim. O comando é organizado de acordo com as mesmas estruturas do ALN. Quando foi criado em 1959, incluía quatro katibas, cada uma composta por três sticks (esquadrões autônomos) de 10 homens. Em 1961, sua força chegou a 240 homens, organizados em 11 sticks, cada um compreendendo dois grupos de combate de 11 harkis (argelinos leais) com uma metralhadora AA52. Os membros do comando eram todos "franceses de origem norte-africana" (Français de souche nord-africaineFSNA).

Em 10 meses, o Coronel Bigeard, graças à ação do comando, eliminou 80% da OPA (Organização Político-Administrativa) da FLN e obteve resultados excepcionais em combate. No dia 27 de agosto de 1959, a visita do General de Gaulle a Saida confirmou esse sucesso, que declarou a Youssef Ben Brahim:

"Terminada a pacificação, uma nova era se abrirá para a Argélia".

O comando colocou fora de ação cerca de 1.000 rebeldes, cerca de 30 oficiais, incluindo 7 líderes sucessivos da zona VI nos setores de Saida, Ain Sefra, Frenda, Sebdou, Géryville e Inkermann (Ouarsenis). O comando foi premiado com 26 medalhas militares e 398 citações.

Após o cessar-fogo, tendo as autoridades recusado o seu repatriamento na França metropolitana, cerca de 60 a 70 dos membros do comando são assassinados durante as represálias bárbaras da FLN. Outros desapareceram nos campos do ALN e um pequeno número foi repatriado para a França graças à intervenção da Cruz Vermelha. O Tenente Youssef Ben Brahim, nascido em 1927, repatriado para a Dordonha, foi assassinado em 27 de julho de 1968 por um de seus ex-fiéis que o acusou de um caso com sua esposa.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

FOTO: Guardando o Campo de Batalha

Nguyen Thi Hien, 19 anos, chefe do grupo de combate da milícia em Yen Vucno Vietnã do Norte, 1966.
(Colorizada)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de setembro de 2021.

Nguyen Thi Hien era chefe do grupo de combate da milícia em Yen Vuc, na província de Thanh Hoa, no Vietnã do Norte. Ela sobreviveu a mais de 800 ataques aéreos e foi enterrada viva quatro vezes em ataques de bombardeiros B-52 americanos.

Esta foto, chamada Di Truc Chien (Guardando o Campo de Batalha), foi uma das fotos mais famosas da Guerra do Vietnã, tirada pelo fotógrafo Mai Nam.

Foto original em preto e branco.

O fotógrafo Mai Nam, nascido como Nguyen Huu Thong, em 1931 na província de Bac Ninh, no Tonquim. Ele se juntou à revolução contra os franceses aos 14 anos de idade. Em 1949, trabalhou como membro do sindicato de jovens na Base Revolucionária do Viet Bac, onde escolheu pela primeira vez uma câmera. Em seguida, trabalhou como jornalista no jornal Tien Phong (Vanguarda). Durante a fase americana da guerra, Mai Nam trabalhou como jornalista de guerra para o jornal e capturou muitos confrontos ferozes no campo de batalha, incluindo na província central de Quang Tri. Suas fotos famosas, incluindo Di Truc Chien (Guardando o Campo de Batalha) e Du Kich (Guerrilhas) foram tiradas nessa época.

Durante a década de 1960, ele foi designado para tirar fotos do presidente Ho Chi Minh; criando uma coleção de quase 200 fotos do presidente.


Mai Nam recebeu o prêmio de Membro Honorário da Associação de Artista Fotográfico do Vietnã e Artista Especial da Associação de Artista Fotográfico do Vietnã. Sua coleção de três fotos com soldados vietnamitas durante a "Guerra Americana" (como é conhecida no Vietnã), a saber Canh Giac (Alerta Máximo), Chay Dau Cho Thoat (Sem Escapatória) e Di Truc Chien (Guardando o Campo de Batalha), recebeu o Prêmio Estadual de Literatura e Artes em 2007 .

O veterano fotógrafo e jornalista Mai Nam morreu aos 85 anos em janeiro de 2016.

Bibliografia recomendada:

Rolling Thunder in a Gentle Land.
The Vietnam War Revisited.
Andrew Wiest.

Leitura recomendada: