segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Grupo Wagner: mercenários russos ainda chafurdando na África


Por Steve Balestrieri, SOFREP, 19 de abril de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de setembro 2021.

O Grupo Wagner da Rússia está passando por momentos cada vez mais difíceis na África. Cerca de um ano atrás, Moscou estava se gabando de chegar primeiro que o Ocidente e a China na obtenção de contratos militares privados, subestimando as ofertas de vários países ocidentais ao divulgar seu "Modelo Sírio" de sucesso. Como resultado, eles acabaram conseguindo mais de 20 contratos militares privados na África. Mas toda essa euforia está secando.

Entraram no Moçambique cheios de confiança: Em agosto de 2019, o presidente moçambicano Filipe Nyusi encontrou-se com o presidente Putin e chegou a um acordo para que os russos apoiassem os militares moçambicanos. Este acordo deu à Rússia numerosas concessões do rico gás no país.

Insígnia não-oficial de caveira do Grupo Wagner.

O Grupo Wagner foi desdobrado logo depois, em outubro de 2019, com 200 contratados. Aterrou no Aeroporto de Nacala, em Moçambique, para ajudar na luta em curso do governo contra o Estado Islâmico na região norte da região rica em gás natural de Cabo Delgado.

O Grupo Wagner é uma companhia militar privada de propriedade de Yevgeny Prigozhin, um oligarca russo com laços muito próximos ao presidente Vladimir Putin. Ele é conhecido como o "chef de Putin", pois também possui uma vasta empresa de restaurantes. Com o objetivo de Putin de expandir a influência da Rússia na África, as forças proxy (de procuração) do Grupo Wagner estão operando no Sudão, na República Centro-Africana e em Moçambique. Eles também têm uma grande presença na Líbia e na Síria.

O Grupo Wagner é essencialmente um braço da política estatal russa: eles nunca foram empregados em nenhum lugar sem a aprovação do Kremlin. E embora não sejam oficialmente reconhecidos como tal, eles são, na verdade, forças terceirizadas do governo de Putin. “Não faço distinção entre os soldados russos e o Grupo Wagner - a maneira como eles cooperam”, disse Jasmine Opperman, especialista sul-africana em terrorismo, ao Voice of America em uma entrevista.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chega a Durban, na África do Sul, em uma viagem oficial em 2013.

Como escrevemos no outono passado na SOFREP, embora existam várias empresas de proteção africanas - com uma vasta experiência nesta área do continente - disponíveis para aluguel, o governo moçambicano optou, no entanto, pelo Grupo Wagner, devido à sua óbvia influência política e à seu preço muito mais barato do que o de outras empresas. Enquanto uma empresa da África com 50-60 soldados qualificados com vasta experiência na área custaria ao governo entre US$ 15.000 e US$ 25.000 por mês para cada mercenário, o Grupo Wagner enviou 200 mercenários por entre US$ 1.800 e US$ 4.700 por mês cada.

Mas a velha advertência: “Você recebe o que paga” é uma descrição adequada do que aconteceu até agora na região.

Os superconfiantes contractors russos, apoiados por helicópteros Hind e transportados por helicópteros Mi-17 Hip, avançaram para o interior ao longo da fronteira entre Moçambique e Tanzânia. As forças aéreas e terrestres deveriam operar em estreita cooperação com o exército moçambicano (Forças Armadas de Defesa de Moçambique, FADM). No entanto, o ISIS não hesitou. Conforme relatado pelo Southern Times após a chegada dos russos, o ISIS rapidamente reforçou suas unidades em Moçambique, trazendo “voluntários” de outros países da África Oriental, especialmente da Somália. Isso logo levou a uma série intensificada de ataques da guerrilha.

Opperman chamou a situação de “tempestade perfeita” e disse sobre os esforços do Grupo Wagner na região: “Os russos não entendem a cultura local, não confiam nos soldados e têm que lutar em condições horríveis contra um inimigo que está ganhando mais e mais impulso. Eles estão totalmente fora do seu elemento.” Eles não estão acostumados a operarem em um ambiente de selva e sabem (ou se importam) pouco sobre os costumes e tradições locais.

Assim, os russos estão caindo no mesmo problema que tiveram durante a era soviética: tensões entre eles e as forças das nações anfitriãs. Os mercenários russos acusaram os soldados moçambicanos de não terem disciplina, enquanto as tropas da nação anfitriã sentem que estão sendo intimidadas pelos russos. E não existe um "Robin Sage" [personagem fictício americano] para os russos aprenderem como ganhar a confiança da força de uma nação anfitriã.

E agora, depois de sofrerem uma série de derrotas e mais de uma dúzia de mortes, o Grupo Wagner recuou suas tropas de volta para sua base principal em Nacala, cerca de 250 milhas ao sul.

Mercenários Wagner na República Centro-Africana, janeiro de 2021.

Eles enfrentam o mesmo problema na República Centro-Africana (RCA). Existem centenas de mercenários do Grupo Wagner operando na RCA, incorporados a uma infinidade de forças diferentes, mas eles estão perdendo todo o relacionamento com os locais devido ao tratamento brutal que dispensam a eles.

O Norte da África também não é mais gentil com eles.

Os russos têm cerca de 1.000 mercenários Wagner na Líbia. Eles sofreram 35 mortos em setembro, quando os turcos os atingiram com um drone, pois não tinham como se defender de ataques aéreos - a exemplo do que aconteceu com as tropas Wagner na Síria quando atacaram uma base dos EUA. Em janeiro, Putin e o presidente turco Erdogan chegaram a um acordo e, em seguida, surgiram relatórios de que as tropas russas Wagner foram retiradas da linha de frente em Trípoli.

A Líbia está em constante guerra civil desde a remoção do ditador Muammar al-Gadhafi, liderada pelos EUA, em 2011. Os Estados Unidos, a ONU e a maior parte da comunidade internacional reconhecem o Governo de Acordo Nacional (GNA), com sede na capital líbia Trípoli, como o governo legítimo. Mas a metade oriental do país é liderada por Khalifa Hafter, que é apoiado pela Rússia, Egito e Emirados Árabes Unidos (EAU). Hafter e suas tropas estão tentando capturar Trípoli.

As coisas não estão indo bem para os russos ou o Grupo Wagner na África. E quando você está mostrando uma fraqueza percebida, especialmente neste mundo de contratos militares privados, outros tentarão usar isso a seu favor.

Entra Erik Prince.

Prince, o fundador da empresa de segurança privada Blackwater, tem procurado nos últimos meses fornecer serviços militares o Grupo Wagner em pelo menos dois pontos de acesso africanos, de acordo com relatórios do The Intercept.

Prince supostamente se encontrou no início deste ano com um funcionário do Grupo Wagner e se ofereceu para apoiar as operações do Grupo Wagner na Líbia e em Moçambique. O advogado de Prince negou que ele tenha se encontrado com alguém do Grupo Wagner.

Erik Prince, fundador da Blackwater.

De acordo com o mesmo relatório, Prince também procura fornecer uma força para aumentar as operações do Grupo Wagner no Moçambique. Prince enviou uma proposta à empresa russa oferecendo-se para fornecer forças terrestres e vigilância baseada na aviação, algo que lhes falta no momento. No entanto, o Grupo Wagner/Rússia rejeitou sua proposta.

Os russos não querem admitir que precisam de ajuda, nem aceitá-la de um americano com laços tão estreitos com a Casa Branca de Trump - Prince é irmão da secretária de Educação Betsy DeVos.

Diga o que quiser sobre Prince, mas ele nunca se esquivou de fazer propostas não-solicitadas para suas ideias. Foi assim que ele acabou conhecendo o presidente Trump. Enquanto, neste caso, os russos/Wagner rapidamente rejeitaram sua proposta, isso não muda o fato de que outros podem ver que a "parada da vitória" russa, para obter contratos mercenários na África, foi um pouco prematura.

Eles estão tendo uma vida difícil no continente e, embora continuem a jogar dinheiro e mercenários na briga, estão nadando em águas desconhecidas e isso é visível.

Steve Balestrieri atuou como graduado, sargento e Warrant Officer (sem equivalente no Brasil) das forças especiais antes que ferimentos forçassem sua reforma precoce.

Bibliografia recomendada:

The "Wagner Group":
Africa's Chaos in an Economic Boom.
Intel Africa.

Bush Wars:
Africa 1960-2010.

Leitura recomendada:








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