segunda-feira, 13 de setembro de 2021

EXCLUSIVO: Acordo que permite mercenários russos no Mali foi fechado

Malinenses seguram uma fotografia com uma imagem do Coronel Assimi Goita, líder da junta militar do Mali, e a bandeira da Rússia durante uma manifestação pró-Forças Armadas Malinenses (FAMA) em Bamako, no Mali, 28 de maio de 2021.
(REUTERS / Amadou Keita / Arquivo de foto )

Por John Irish e David Lewis, Reuters, 13 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de setembro de 2021.

Sumário
  • Acordo permitindo mercenários russos no Mali - fontes próximas
  • Paris quer evitar que o acordo seja assinado, dizem fontes
  • Pelo menos 1.000 mercenários podem estar envolvidos - duas fontes

PARIS, 13 de setembro (Reuters) - Está fechado um acordo que permitirá que mercenários russos entrem no Mali, estendendo a influência russa sobre os assuntos de segurança na África Ocidental e provocando a oposição da França, ex-potência colonial, disseram sete fontes diplomáticas e de segurança.

Paris deu início a uma campanha diplomática para impedir que a junta militar do Mali promulgasse o acordo, que permitiria que contratados militares privados russos, o Grupo Wagner, operassem na ex-colônia francesa, disseram as fontes.

Uma fonte europeia que rastreia a África Ocidental e uma fonte de segurança na região disse que pelo menos 1.000 mercenários podem estar envolvidos. Duas outras fontes acreditam que o número é menor, mas não forneceram números.

Quatro fontes disseram que o Grupo Wagner receberá cerca de 6 bilhões de francos CFA (US$ 10,8 milhões; US$ 1 = 0,8455 euros) por mês por seus serviços. Uma fonte de segurança que trabalha na região disse que os mercenários treinariam militares malinenses e forneceriam proteção para altos oficiais.

Insígnia não-oficial de caveira do Grupo Wagner.

A Reuters não pôde confirmar independentemente quantos mercenários poderiam estar envolvidos, quanto seriam compensados ou estabelecer o objetivo exato de qualquer acordo envolvendo mercenários russos para a junta militar do Mali.

A Reuters não conseguiu entrar em contato com o Grupo Wagner para comentar. O empresário russo Yevgeny Prigozhin, cujos meios de comunicação, incluindo a Reuters, estão ligados ao Grupo Wagner, nega qualquer conexão com a empresa. Seu serviço de imprensa também diz em seu site de rede social Vkontakte que Prigozhin não tem nada a ver com nenhuma companhia militar privada, não tem interesses comerciais na África e não está envolvido em nenhuma atividade lá.

Seu serviço de imprensa não respondeu imediatamente a um pedido da Reuters para comentar esta história.

Ameaça potencial ao esforço de contra-terrorismo

Mercenários Wagner na Síria.
Notar a insígnia de caveira no braço do homem de pé.

A ofensiva diplomática da França, disseram as fontes diplomáticas, inclui a ajuda de parceiros, incluindo os Estados Unidos, para persuadir a junta do Mali a não levar adiante o acordo, e o envio de diplomatas de alto escalão a Moscou e Mali para conversações.

A França teme que a chegada de mercenários russos prejudique sua operação contra-terrorista de uma década contra a al-Qaeda e os insurgentes ligados ao Estado Islâmico na região do Sahel, na África Ocidental, em um momento em que busca diminuir sua missão Barkhane de 5.000 homens para reformulá-la com mais parceiros europeus, disseram as fontes diplomáticas.

O Ministério das Relações Exteriores da França também não respondeu, mas uma fonte diplomática francesa criticou as intervenções do Grupo Wagner em outros países.

"Uma intervenção deste ator seria, portanto, incompatível com os esforços realizados pelos parceiros sahelianos e internacionais do Mali envolvidos na Coalizão pelo Sahel para a segurança e o desenvolvimento da região", disse a fonte.

Um porta-voz do líder da junta do Mali, que assumiu o poder por meio de um golpe militar em agosto de 2020, disse não ter informações sobre o acordo. "São rumores. As autoridades não comentam rumores", disse o porta-voz, Baba Cisse, que não quis comentar mais.

Um retrato do mercenário russo Maxim Kolganov, morto em combate na Síria, é retratado em um túmulo em sua cidade natal de Togliatti, Rússia, 29 de setembro de 2016.
(REUTERS / Maria Tsvetkova)

O porta-voz do ministério da defesa do Mali disse: "A opinião pública no Mali é a favor de mais cooperação com a Rússia, dada a situação de segurança em curso. Mas nenhuma decisão (sobre a natureza dessa cooperação) foi tomada."

Os ministérios da defesa e do exterior da Rússia não responderam aos pedidos de comentários, nem o Kremlin ou a presidência francesa.

A presença dos mercenários colocaria em risco o financiamento do Mali pelos parceiros internacionais e missões de treinamento aliadas que ajudaram a reconstruir o exército do Mali, disseram quatro fontes diplomáticas e de segurança.

Rivalidade na África

Mercenários Wagner na República Centro-Africana, janeiro de 2021.

Ter mercenários russos no Mali fortaleceria a pressão da Rússia por prestígio e influência globais e seria parte de uma campanha mais ampla para sacudir a dinâmica de poder de longa data na África, disseram as fontes diplomáticas.

Mais de uma dúzia de pessoas com laços com o Grupo Wagner disseram anteriormente à Reuters que o grupo realizou missões de combate clandestinas em nome do Kremlin na Ucrânia, Líbia e Síria. As autoridades russas negam que os contratados da Wagner cumpram suas ordens.

A junta militar do Mali disse que supervisionará uma transição para a democracia que levará às eleições em fevereiro de 2022.

Como as relações com a França pioraram, a junta militar do Mali aumentou os contatos com a Rússia, incluindo o ministro da Defesa, Sadio Camara, visitando Moscou e supervisionando os exercícios com tanques em 4 de setembro.

Uma fonte importante do Ministério da Defesa do Mali disse que a visita foi no "quadro de cooperação e assistência militar" e não deu mais detalhes. O Ministério da Defesa da Rússia disse que o vice-ministro da Defesa, Alexander Fomin, se encontrou com Camara durante um fórum militar internacional e "discutiu projetos de cooperação de defesa em detalhes, bem como questões de segurança regional relacionadas à África Ocidental". Nenhum detalhe adicional foi divulgado.

O principal diplomata africano do Ministério das Relações Exteriores da França, Christophe Bigot, foi enviado a Moscou para conversações em 8 de setembro com Mikhail Bogdanov, representante de Putin no Oriente Médio e na África. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia confirmou a visita.

Bibliografia recomendada:

Bush Wars:
Africa 1960-2010.

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