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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

FOTO: Capacete pickelhaube prateado boliviano

Capacete pickelhaube prateado boliviano.
(Coleção de 
Diethelm König)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 16 de fevereiro de 2023.

O Pickelhaube foi introduzido na Bolívia por causa da missão militar alemã que chegou naquele país em 1911. O Exército boliviano adotou o capacete pontiagudo per se com o Regulamento de Uniformes de 10 de maio de 1912.

O Pickelhaube foi usado também pela Academia Militar à partir de 1912, sendo usado até hoje pelo agora renomeado Colégio Militar “Coronel Gualberto Villaroel” e pela Academia de Polícia da Bolívia (Academia Nacional de Policías, ANAPOL). Da mesma forma, muitas bandas marciais do ensino médio usam esse capacete em suas apresentações.

Guarda Presidencial boliviana durante uma cerimônia na capital La Paz, década de 1930.
Eles estão equipados com os capacetes Pickelhauben, de tradição prussiana, em estilo cuirassier imperial alemão. A Guarda Presidencial era recrutada no "Regimento Colorados 1º de Infanteria".

Os capacetes Pickelhauben da Guarda Presidencial eram patreados em estilo couraceiro imperial alemão. No livro The Chaco War 1932–35: South America’s greatest modern conflict, de Alejandro de Quesada e Phillip Jowett sobre a Guerra do Chaco, a Guarda Presidencial foi ilustrada em uma lâmina do artista Ramiro Bujeiro (o mesmo que ilustrou o livro da FEB) baseada na foto acima. Nessa época, o Exército Boliviano tinha forte influência prussiana e era comandado pelo general alemão Hans Kundt.

Lâmina do Ramiro Bujeiro mostrando um soldado da cavalaria
usando um Pickelhaube prateado.

Descrição da lâmina:

E2: Soldado de cavalaria, Regimiento Avaroa 1° de Caballeria, uniforme de serviço

A característica mais marcante do uniforme usado por este soldado índio do planalto do Altiplano é um capacete Pickelhaube de aço polido, modelo cuirassier alemão imperial, com um distintivo de condor com uma coroa de prata, e os relevos das escamas da jugular de latão fixados por cocar nas cores nacionais. Sua túnica de lã, em tom cinza-de-campanha alemão, tem gola alta; bolsos de chapa no peito, com abas recortadas abotoadas em latão e pregas em caixa; bolsos internos no quadril com aba reta lisa; braguilha a esconder os botões frontais e punhos de cano virados para trás.

As alças lisas são canalizadas na cor verde-maçã da cavalaria, e um numeral regimental de latão “1” é fixado a remendos de colarinho recortados da mesma tonalidade. Ele usa perneiras e botas marrons, mas cintura e cintos de couro branco, o primeiro com uma placa de latão com as armas nacionais em um círculo elevado. Sua arma é o habitual fuzil Mauser Gewehr 98.

As demais cores das utilizadas pelo Exército boliviano eram: estado-maior – escarlate; infantaria – vermelho; artilharia – preto; engenharia – violeta avermelhado; corpo aéreo – azul escuro; corpo de intendência – castanho claro; e corpo médico – violeta acinzentado pálido.

Bibliografia recomendada:

Les Casques Militaires des États d'Amérique Latine:
XIXème au XXème Siècles,
Yves Plasseraud.

Leitura recomendada:

domingo, 31 de outubro de 2021

FOTO: Carga de baioneta dos bombeiros

O Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro simulando uma carga de baioneta para a câmera, nos anos de 1910. O Corpo atuava também como força auxiliar do Exército.

Por Filipe do A. MonteiroWarfare Blog, 31 de outubro de 2021.

Os paramilitares usam capacetes alemães de couro Pickelhaube sem espigão e estão armados com fuzis Mauser. Uma metralhadora francesa Hotchkiss 1914 é visível no lado direito da imagem - ao lado de um corneteiro!

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

FOTO: Guarda Real sueca com Pickelhaube em Estocolmo

Guarda Real sueca com o capacete Pickelhaube em Estocolmo.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 27 de outubro de 2021.

Os Guardas Reais (sueco: Högvakten) são os guardas de honra da cavalaria e da infantaria do Rei, encarregados de proteger a Família Real Sueca. A Guarda Real é normalmente dividida em duas partes, a guarda principal estacionada no Palácio de Estocolmo e um destacamento menor no Palácio Drottningholm. As unidades da Guarda Real protegem continuamente a família real sueca em Estocolmo desde 1523. Atualmente relegados exclusivamente a serviços de guarda e cerimonial, entre 50 e 60 soldados servem na Guarda Real sueca, aproximadamente 35 no Palácio Real de Estocolmo e 25 no Palácio Drottningholm.

O dever de formar uma "Guarda Real" é alternado por todas as forças armadas regulares e de reserva, incluindo a Guarda Nacional. No entanto, esses destacamentos servem apenas por cerca de 5 a 7 dias em cada rotação, portanto, na maior parte do ano, a função é realizada pelo regimento de Guarda-Costas de Estocolmo, que consiste em quatro batalhões, um infantaria leve, dois de segurança e um batalhão de guardas. Traçando sua história através da Brigada da Casa Real e dos Guarda-Costas Svea e dos Dragões Guarda-Costas de volta aos Guardas Reais originais, isso é o que constitui as reivindicações do regimento de ser uma das mais antigas unidades militares e formações em operação contínua.

Glória Prussiana tocada pela banda da Guarda Real sueca


Entre abril e agosto, os esquadrões montados em uniformes de gala azul claro e capacetes pickelhaube prateados e as companhias em uniformes de gala azul escuro com capacetes pickelhaube pretos, ambos dos Guarda-Costas, podem ser vistos nos desfiles de Estocolmo e nos arredores do Palácio Real. Acompanhados da banda montada, eles saem do quartel da Cavalaria K1 em Gärdet e chegam ao Palácio por volta do meio-dia (13h aos domingos e feriados) para a cerimônia de troca da guarda. Esses eventos atraem um grande número de turistas a cada verão. Nas montarias regulares da guarda, o contingente da guarda real regular é composto pelo pessoal do Batalhão de Guardas do Rei, dos Guarda-Costas.

O estilo de marcha prussiano ainda é mantido, colocando os suecos ao lado dos chilenos na manutenção das tradições dos grandes desfiles de Berlim e Nuremberg de 1870 a 1945; acompanhando o capacete Pickelhaube vem o famoso passo Stechschritt, literalmente "passo perfurante" mas traduzido como "passo de ganso".

Tradição prussiana no Chile e na Suécia


O passo de ganso é um passo de marcha especial realizado em paradas militares formais e outras cerimônias. Enquanto marcham em formação de desfile, as tropas balançam as pernas em uníssono, mantendo cada perna rigidamente esticada.

O passo originou-se na ordem unida do exército prussiano em meados do século XVIII e era chamado de Stechschritt ou Stechmarsch. Os conselheiros militares alemães espalharam a tradição por meio de missões militares ao redor do mundo. Essa influência se estendeu especialmente para a Rússia no século XIX, o que levou os soviéticos a espalharem o passo do ganso pelo mundo no século XX - notavelmente na China comunista e em Cuba.

Leitura recomendada:

FOTO: A Bela de Estocolmo
18 de julho de 2021.

FOTO: Tocando a baioneta28 de fevereiro de 2020.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A Venezuela acusou a Colômbia de intrusão em seu espaço aéreo com um drone Hermes


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 22 de setembro de 2021.

Hoje, 22 de setembro, as forças armadas da Venezuela (oficialmente Fuerza Armada Nacional Bolivariana, FANB) afirmaram que ontem (21/09) um drone Hermes da Colômbia violou o espaço aéreo venezuelano na província de Zula. 



Comunicado oficial da Força Armada Nacional Bolivariana

A Força Armada Nacional Bolivariana denuncia a flagrante violação do espaço aéreo venezuelano por uma aeronave remotamente tripulada (drone), tipo Hermes, pertencente à Força Aérea Colombiana, fato ocorrido ontem, segunda-feira, 20 de setembro, às 16:48 horário legal da Venezuela.

A referida aeronave foi detectada pelos sistemas de exploração do nosso Comando Integral de Defesa Aeroespacial, sobrevoando o território do município de Jesús María Semprúm, estado de Zulia, na Região de Informação de Vôo Maiquetía (FIR) nas coordenadas 09º04'50″N - 72º53'52″O, 64 milhas náuticas a noroeste do aeroporto “Francisco García de Hevia” localizado em La Fría, estado de Táchira, a 8 mil pés de altitude, velocidade de 90 nós e rumo 318, vindo da FIR de Bogotá sem a devida autorização de sobrevôo ou apresentar o plano correspondente para entrar na República Bolivariana da Venezuela.

Este acontecimento constitui uma gritante ameaça à segurança do país por se tratar de um sistema militar utilizado para missões de reconhecimento aéreo, que com toda certeza não foi involuntário ou acidental, já que coincide com a presença na Colômbia do Almirante Crayg Faller, chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, em sua segunda visita este ano ao território neo-granadino, supostamente para discutir assuntos de "cooperação em questões de segurança".

Sem dúvida, estamos dando claros indícios de um estratagema do império norte-americano e do governo colombiano, seu indigno e incondicional aliado na região, para construir alguns de seus conhecidos falsos positivos ou qualquer tipo de incidente que permita continuar gerando instabilidade , e de maneira particular, torpedear o processo de diálogo que está ocorrendo atualmente no México, em busca de soluções para os problemas do país, da paz e da unidade de todo o povo venezuelano.

Não cairemos nas repetidas e grosseiras provocações de uma oligarquia criminosa e do decadente império que a patrocina, que se tornaram um anacronismo sem a mínima credibilidade no contexto das nações. Mas em estrito cumprimento das diretrizes estratégicas ensinadas pelo cidadão Nicolás Maduro Moros, Presidente Constitucional da República Bolivariana da Venezuela, nosso Comandante-em-Chefe, permaneceremos vigilantes, monitorando constantemente todo o espaço geográfico venezuelano, a fim de garantir sua integridade , bem como nossa liberdade, soberania e independência.

Chávez vive... a Pátria continua!

Independência e Pátria Socialista... Vamos viver e vencer!

Independência ou nada!

Sempre leais... Nunca traidores!

Nasce o Sol da Venezuela no Essequibo!

Caracas, 21 de setembro de 2021

VLADIMIR PADRINO LÓPEZ

General-em-Chefe

Comando Sul dos Estados Unidos (United States Southern Command, US SOUTHCOM) referido pelo comunicado venezuelano é o comando americano responsável pela América Latina. Seu quartel-general está localizado em Doral, na Flórida. O governo venezuelano frequentemente usa o fantasma do "imperialismo estadunidense" como ferramenta de união popular ao redor do regime. A Colômbia, além de um adversário tradicional de Caracas, é também o maior aliado americano no continente sul-americano, o que mata dois coelhos com uma cajadada só. Um dos exemplos dessa amizade é justamente que o governo colombiano condecorou o Comando Sul dos EUA com a Ordem de San Carlos, uma alta comenda por serviço excepcional à Colômbia.

 Almirante Crayg Faller e o distintivo do Comando Sul dos Estados Unidos.

Com uma tal amizade aberta, o governo bolivariano pode simplesmente ocupar a mídia nacional (controlada pelo governo) com ataques aos colombianos, alegando que o governo de Bogotá está iniciando uma agressão imperialista retrógrada contra o progresso da revolução socialista bolivariana da Venezuela. Dessa forma, o governo bolivariano justifica a escassez de bens, o fracasso econômico do país, a violência e criminalidade etc.

O diálogo no México mencionado pelo comunicado é uma sessão de reuniões na Cidade do México incluindo a oposição venezuelana. Em agosto, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, libertou Freddy Guevara, um líder da oposição que estava preso há mais de um mês, para que ele possa atuar como um negociador nas negociações políticas programadas para começar em setembro desse ano na capital mexicana. Um importante aliado de Juan Guaido, Guevara foi libertado na noite de domingo da sede da unidade de inteligência policial conhecida como Sebin em Caracas. Ele deve representar Guaido quando delegados do governo e da oposição se reunirem na Cidade do México.

Freddy Guevara fala durante uma sessão da Assembleia Nacional em Caracas, em 19 de novembro de 2020.

Os militares colombianos, por sua vez, lançaram uma nota dizendo que estavam operando na área, mas que seu drone operava dentro do espaço aéreo colombiano. Esse último incidente na fronteira entre os dois países aumenta a suspeita de que há uma base das FARC em Zula, e tanto a operação quanto a acusação venezuelana podem indicar que realmente há uma base narco-guerrilheira ali. Assim como no comunicado venezuelano, os colombianos também providenciaram as coordenadas da ação, dado que a região selvática é de difícil navegação de outra forma.

Comunicado da Força Aérea Colombiana.

Comunicado Nº 007

Em referência à declaração hoje emitida pelo Ministro da Defesa da Venezuela, a Força Aérea Colombiana está autorizada a informar ao público que, no exercício legítimo de suas funções, na segunda-feira, 20 de setembro de 2021, às 16:48 horas, realizou missão de reconhecimento aéreo com aeronave não-tripulada, sobrevoando o espaço aéreo colombiano na área do município de Tibú, Norte de Santander.

De fato, as coordenadas 09º04'50”N - 72º53'52”O referidas no comunicado venezuelano, correspondem ao território colombiano.

Autor

Imprensa da Força Aérea Colombiana

O recente incidente vem na rabeira de mais um outro escândalo venezuelano, com uma lista de oficiais da inteligência naval da Armada Bolivariana sendo vazada na internet dez dias atrás (12/09). Foram 262 arquivos pessoais da marinha e, conforme foi noticiado, era pessoal de contra-inteligência visando a Colômbia - o que novamente levou às acusações de costume. 

Em 17 de agosto desse ano, Jorge Nobrega, um empresário americano foi acusado de violações de sanções e lavagem de dinheiro por ajudar em reparos de aeronaves militares da Venezuela, de acordo com uma queixa apresentada ao Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Sul da Flórida. Nobrega, presidente-executivo da Achabal Technologies Inc, com sede em Miami, foi então preso e compareceu ao tribunal de Miami na semana seguinte. O regime adquiriu um vasto arsenal comprado da Rússia e da China, e vem tendo problemas em manter a frota funcionando. O Irã vem fornecendo petróleo, mas a China está tomando caminhos contrários aos interesses da indústria petrolífera da Venezuela.

Recentemente, o governo da Espanha repotencializou a frota de carros de combate AMX-30B2, de procedência francesa, apesar das sanções impostas a Caracas. Os tanques desfilaram na celebração da Batalha de Carabobo em 5 de julho desse ano.

Um caça à jato Sukhoi Su-30MKV, de fabricação russa da Força Aérea da Venezuela, voa sobre uma bandeira venezuelana amarrada a lançadores de mísseis, durante o exercício militar "Escudo Soberano 2015" em San Carlos del Meta, no estado de Apure, em 15 de abril de 2015.

A morte de um mito: O General en jefe Jacinto Perez Arcay

O General-em-chefe Jacinto Perez Arcay sendo cumprimentado pelo presidente Nicolás Maduro.

Entre os vários tropeços do regime, há também a ação do mero acaso: nesta segunda-feira, dia 20 de setembro de 2021, faleceu o General en jefe Jacinto Perez Arcay, um conselheiro de longa data do presidente Maduro. Este último repetiu o grito de Che Guevara na sua mensagem de despedida ao Gal. Perez Arcay - ¡Hasta la Victoria Siempre!

Com 86 anos, o velho general era o militar da ativa com maior antiguidade na FANB, e sua convalescência foi um evento nacional na Venezuela. Outros generais famosos também morreram de COVID-19, como o General Pacepa, famoso por seus escritos sobre a espionagem soviética e romena, e o General Lam Quang Thi, famoso por seus escritos sobre a Guerra da Indochina e sobre o Exército da República do Vietnã (Vietnã do Sul).

No sistema venezuelano, os oficiais-generais do exército são General en jefe (G/J, 4 estrelas), Mayor general (M/G, 3 estrelas), General de division (G/D, 2 estrelas) e General de brigada (G/B, 1 estrela). O General-em-Chefe Jacinto Perez Arcay foi velado em uma procissão fúnebre, carregado por cadetes em uniformes tradicionais, incluindo o famoso Pickelhaube prussiano.



A morte do general é um verdadeiro caso de luto nacional, pois a militarização da Venezuela segue o típico padrão de engajamento total dos governos socialistas. O Gal. Jacinto Perez Arcay era basicamente onipresente nas várias manifestações públicas cívico-militares e era visto como um símbolo nacional e revolucionário. Em 2016, ele foi entrevistado pela jornalista Érika Ortega Sanoja para o jornal Actualidad RT.

Na entrevista, o velho general defende o socialismo cristão e menciona as figuras históricas venezuelanas Simón Bolívar e General Marcos Pérez Jiménez, além de elogiar o ex-ditador Coronel Hugo Chavez - de quem o General Arcay também foi mentor: “Amei Hugo Chávez como um filho e sinto que, em termos geopolíticos, sou o primeiro responsável por sua vida e sua morte” (5:32).


Arcay se formou na Academia Militar em 1956, com especialização na arma de artilharia. Formou-se em história e geografia pela Universidade Católica Andrés Bello. Ele participou do levante do Coronel Enrique Hugo Trejo em 1º de janeiro de 1958 contra o presidente-ditador General Pérez Jiménez. Ficou conhecido por dar aulas ao ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na Academia Militar, onde lhe incutiu os pensamentos de Ezequiel Zamora e Simón Bolívar. Arcay foi reconvocado ao serviço ativo em 2007.

Em 15 de fevereiro de 2012, foi promovido por Chávez de General de Divisão do Exército a Major-General da FANB. Ele foi considerado um assessor de Chávez em questões históricas, políticas e militares. Em 2016 foi premiado com a distinção "El Gran Cordón de Caracas", e foi Chefe do Estado-Maior Geral do Comandante-em-Chefe da FANB, o mais alto general venezuelano, designado como tal pelo Presidente Nicolás Maduro em 11 de julho de 2019.

Exemplar do livro "La Guerra Federal" com dedicatória do G/J Arcay a José Sant Roz, autor do livro "Bolívar y Santander - dos visiones contrapuestas".

O General Jacinto Perez Arcay escreveu os livros El Fuego Sagrado, Bolívar hoy (O Fogo Sagrado, Bolívar hoje, 1974), La Guerra Federal: Consecuencias (A Guerra Federal: Consequências, 1974) e Hugo Chávez, alma de la revolución en Cristo y en Bolívar (Hugo Chávez, alma da revolução em Cristo e em Bolívar, 2013).

Funeral na Academia Militar.

Os ritos fúnebres foram televisionados para todo o país em sua integralidade pelos canais estatais venezuelanos, ocorridos na Academia Militar em meio aos cadetes e ao presidente Maduro.


A perda de um tal símbolo revolucionário, ainda mais mediante tamanhos óbices e fracassos da revolução bolivariana, acabaria por levar o governo de Caracas a tentar mostrar firmeza e começar a criar pretextos para demonstrações de força. A ideia de uma Venezuela progressista, permanecendo unida sob o cerco "imperialista ianque", já é uma situação normal na rotina política da república bolivariana. A desastrada aventura de forças especiais americanas e mercenários em agosto do ano passado já deram voz à propaganda (além de legitimidade aos olhos da população comum). Agora, diante de negociações no México com a presença da oposição e sob pesado escrutínio internacional, a tendência é uma vocalização cada vez mais alta da Venezuela.

Milicianos bolivarianos com o fuzil FAL.
O grande número de paramilitares é uma forma de engajar a população na luta ideológica.

Leitura recomendada:


sábado, 24 de outubro de 2020

PERFIL: General Hans Kundt, conselheiro militar alemão na Bolívia

O Tenente-General Hans Kundt.
Ele foi o Comandante-em-Chefe e Ministro da Guerra das forças bolivianas na Guerra do Chaco contra o Paraguai de 1932 a 1935.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 24 de outubro de 2020.

O Tenente-General Hans Kundt foi a principal figura militar da Bolívia durante as duas décadas anteriores à Guerra do ChacoInfelizmente para os bolivianos, ele não foi capaz de utilizar corretamente a superioridade da Bolívia em armamentos, tanques e aviação, preferindo táticas fúteis de ataques frontais contra posições bem defendidas. Após o desastre no Cerco de Campo Vía (1933), ele foi substituído pelo General Enrique Peñaranda.

Carreira inicial no Exército Imperial Alemão

Hans Anton Wilhelm Friedrich Kundt nasceu em 28 de fevereiro de 1869, em Neustrelitz, no Grão-Ducado de Mecklenburg-Strelitz, na então Confederação Alemã do Norte. Vindo de uma família de oficiais militares, Hans Kundt ingressou no 4º Regimento de Infantaria da Turíngia Nº 72 (4. Thüringische Infanterie-Regiment Nr. 72) do Exército Prussiano em 7 de março de 1888. Lá, ele foi nomeado Portepeefähnrich (cadete aspirante a oficial) em 15 de outubro de 1888 e promovido a segundo-tenente em 21 de setembro de 1889. De 1º de outubro de 1893 a 15 de setembro de 1896, ele serviu como ajudante no comando distrital de Naumburg (Saale).

Kundt então estudou na Academia de Guerra (Kriegsakademie) por três anos e, entretanto, foi promovido a Primeiro-Tenente (Premierleutnant) em 20 de maio de 1897, sendo transferido para o Regimento de Infantaria "Vogel von Falckenstein" (7º Westfaliano) Nº 56 - Infanterie-Regiment "Vogel von Falckenstein“ (7. Westfälisches) Nr. 56Depois de ter concluído com sucesso a academia militar, foi designado para o Großen Generalstab (oficialmente Grão-Estado-Maior, o Estado-Maior Geral do Exercito Imperial) por um ano. Esse comando foi então prorrogado por mais um ano, até que finalmente agregou em 22 de março de 1902 com sua promoção a capitão do Estado-Maior do Exército (Hauptmann dem Generalstab der Armee) e foi transferido para servir ao Estado-Maior do XVII Corpo de Exército (Generalstab des XVII. Armee-Korps), com sede em Dantzig.

Seu irmão Jasper Kundt (1872-1940) foi um major-general (Generalmajor) do exército alemão; sua irmã Marie Kundt ocupou o cargo de diretora da Academia de Arte Fotográfica de Lette.

Missão Militar Alemã na Bolívia

Guarda Presidencial boliviana durante uma cerimônia na capital La Paz.
Eles estão equipados com os capacetes Pickelhauben, de tradição prussiana, em estilo cuirassier imperial alemão. A Guarda Presidencial era recrutada no "Regimento Colorados 1º de Infanteria".


Hans Kundt foi enviado à Bolívia em 1908, durante o primeiro governo do presidente Ismael Montes Gamboa, como chefe da missão militar de treinamento alemã; com o posto de major. O efetivo da missão alemã era de 5 oficiais e 13 gruaduados.

Kundt teve um excelente relacionamento com o governo e o Exército bolivianos, adquirindo reputação de grande administrador e instrutor de tropas. Em 1911, durante o governo do presidente Eliodoro Villazón Montaño, Kundt iniciou a reorganização do Exército boliviano segundo o modelo prussiano.

Primeira Guerra Mundial

Retrato com dedicatória do então Oberstleutnant Hans Kundt em 1915.

Em 1914, ele retornou à Alemanha e  tornou-se tenente-coronel (Oberstleutnant) em 19 de agosto de 1914 no comando do Regimento de Infantaria da Reserva Nº 254 (Reserve-Infanterie-Regiments Nr. 254) da Landwehr na Frente Oriental; combatendo na Polônia e na Galícia contra o Exército Imperial Russo. Ele foi chefe do Estado-Maior do X Exército do Corpo de Reserva entre 30 de junho e 29 de novembro de 1915.

O Coronel Kundt também comandou o 1º Regimento de Granadeiros da Guarda "Kaiser Alexander" (Kaiser Alexander Garde-Grenadier-Regiment Nr. 1) de 3 de janeiro de 1917 a 1º de março de 1918. Promovido a coronel (Oberst) em 2 de abril do mesmo ano, em 3 de janeiro de 1918 assume o comando da 42ª Brigada de Infantaria (42. Infanterie-Brigade)., mantendo-o até 8 de setembro de 1918.

Após a assinatura do armistício, reassumiu o comando do 1º Regimento de Granadeiros da Guarda "Kaiser Alexander" de 20 de janeiro de 1919 até sua dissolução. Ele então passou, em 1º de janeiro de 1920, ao comando do distrito militar de Glogau, na Baixa Silésia, que logo se tornaria Glogóvia, território da Polônia recém-independente.

Em 30 abril do mesmo ano foi realocado para a reserva com o posto de major-general (Generalmajor).

De volta à Bolívia

Em 1921, ele retornou à Bolívia como civil, mas foi imediatamente nomeado Chefe do Estado-Maior do Exército com o posto de Tenente General. Nesta posição, ele deu continuidade à reorganização iniciada em 1911 e se tornou muito popular porque - ao contrário da maior parte do corpo de oficiais bolivianos - cuidava do bem-estar de cada soldado. Em 1923 foi nomeado Ministro da Guerra, iniciando um programa de modernização dos materiais fornecidos ao exército. Esse programa foi executado durante a década de 1920 e estudou-se o plano operacional para a ocupação definitiva do Chaco, área em litígio com o Paraguai.

Ernst Röhm com o uniforme boliviano.

Em 1928, ele alcançou Ernst Röhm, futuro criador do Batalhão de Assalto (Sturmabteilung, SA) do partido nazista, e que então trabalhava como instrutor militar na patente de tenente-coronel na Bolívia.

Hans e sua esposa Gertrude, 1925.

Em meados da década de 1930, Kundt tentou influenciar os oficiais do exército a favorecerem a reeleição do presidente Hernando Siles Reyes e, portanto, quando este foi deposto em um golpe-de-estado, Kundt foi forçado a se exilar: mudou-se então para o Chile e tornou-se instrutor do exército local, também prussiano, estudando o teatro operacional da Patagônia em caso de conflito com a Argentina.

Guerra do Chaco

Em 15 de junho de 1932, tropas bolivianas atacaram o estratégico posto avançado paraguaio de Carlo Antonio Lopez, localizado próximo a uma das principais fontes de água na região do Chaco: um soldado paraguaio foi morto e cinco foram feitos prisioneiros.

A reação paraguaia foi extremamente rápida e levou à reocupação da posição perdida, mas foi o início de uma guerra aberta entre os dois países. No final do ano, a liderança boliviana convocou com urgência Kundt, que chegou do Chile via Lima de trem, sendo acolhido por uma multidão jubilosa; em 5 de dezembro foi nomeado Chefe do Estado-Maior do Exército no lugar do General Filiberto Osorio.

General Kundt, vestindo uniforme boliviano e rodeado de praças, no seu posto de comando no Chaco, 14 de setembro de 1933.

No entanto, apesar da superioridade numérica e da disponibilidade de armamentos modernos, o exército boliviano não conseguiu prevalecer, sendo incapaz de usar sua superioridade a seu favor devido a táticas inadequadas. O uso de ataques frontais contra posições bem defendidas (típicas da Primeira Guerra Mundial), a falta de coordenação entre exército e força aérea, as graves deficiências logísticas e o deficiente serviço de reconhecimento levaram os bolivianos a sofrer inúmeras derrotas, com perdas graves de homens e meios.

A estratégia boliviana baseava-se na indubitável superioridade de recursos econômicos e populacionais (3 para 1) que possuía sobre o Paraguai. Para o estado-maior boliviano, a ocupação do Chaco e o acesso ao rio Paraguai eram mais um problema diplomático do que militar.

"O Tenente-Coronel Ángel Rodríguez acreditava que só havia água suficiente para enviar 5.000 homens, e que apenas unidades do tamanho de uma companhia poderiam manobrar pelos arbustos, enquanto Kundt permanecia firmemente convencido de que 3.000 homens seriam suficientes para tomar Assunção."

- James Dunkerley, Orígenes del poder militar: Bolivia 1879-1935, pg. 207, 1987.

Soldados bolivianos se movendo pelo terreno inclemente do Chaco.

Não se levou em conta a história daquele pequeno país localizado ao sul e a importância que dava à posse do Chaco Boreal. Em 1928, o presidente Daniel Salamanca, para quem o Paraguai era "a mais miserável das repúblicas da América do Sul", disse:

"A Bolívia tem uma história de desastres internacionais que devemos contrapesar com uma guerra vitoriosa [...]. Assim como os homens que pecaram devem ser submetidos à prova de fogo para salvar suas almas [...] países como o nosso, que cometeram erros de política interna e externa, devemos e precisamos nos submeter à prova de fogo, que não pode ser qualquer outra coisa que não o conflito com o Paraguai [...] o único país que podemos atacar com garantias de vitória."

Jorge Antezana Villagrán, La Guerra del Chaco: análisis y crítica sobre la conducción militar, pg. 12-13, 1982.

Comando-em-Chefe das forças bolivianas

Kundt à cavalo durante um exercício na Bolívia.

Devido ao fracasso das operações militares bolivianas nos primeiros três meses de combate, e da popularidade que tinha na Bolívia pela tarefa de estruturação do Exército que havia realizado, o presidente Daniel Salamanca ofereceu-lhe o cargo de Comandante-em-Chefe. Salamanca também achava que com essa medida poderia controlar os rebeldes oficiais do alto comando boliviano e ter um "bode expiatório" no suposto caso de que as coisas não corressem bem. Kundt tinha então 63 anos.

"O Exército Boliviano era obra de Hans Kundt, era o Exército que desfilava em formações perfeitas nos dias de lembrança cívica, era o Exército que realizou manobras no Altiplano, causando inquietude nos governos do Chile e do Peru, e era também o Exército que nunca foi preparado para uma campanha em clima tropical e terreno arborizado."

- Querejazu Calvo, Historia de la Guerra del Chaco, pg. 55, 1990.

Limitado por sua concepção estratégica de ocupar o território do Chaco até chegar ao rio Paraguai e acreditando que poderia levar adiante uma guerra "econômica" sem mobilizar todos os recursos militares que lhe teriam dado uma superioridade avassaladora sobre o Paraguai, Kundt tentou desalojar o Exército Paraguaio de todos os pontos intermediários a esse objetivo estratégico por meio de ataques frontais.

As características do teatro de operações do Chaco, o custo em homens que reduziam suas forças e a ação da camarilha de oficiais bolivianos que sabotavam suas ações de diferentes maneiras, determinaram que depois de 9 meses de ataques Kundt não conseguira destruir o inimigo conforme seu objetivo inicial.

Kundt e oficiais bolivianos,
estes ainda com o uniforme de influência francesa.


Depois das pesadas derrotas nas batalhas de Nanawa e Alihuata, onde Kundt ordenou sangrentos ataques frontais de infantaria a posições fortificadas, o prussiano liderou os bolivianos no desastre da Batalha de Campo Via.

Ocorrida entre 3 e 11 de setembro, o Exército Boliviano lastimou a perda de mais de 9.000 soldados (2.600 mortos e 7.500 feitos prisioneiros), 8.000 fuzis, 536 metralhadoras, 25 morteiros e 20 peças de artilharia, o presidente Daniel Salamanca Urey o destituiu do comando e o substituiu pelo General Enrique Peñaranda del Castillo.

Charge paraguaia representando Hans Kundt e o presidente Salamanca sendo repelidos pelo General Estigarribia, à frente do presidente Eusebio Ayala.
A legenda diz: 

"O Ajudante de Kundt: Um momento, Excelência; o prudente general previu esta emergência..."


Em 16 de novembro de 1934, ocorreu a rendição das 1ª e 2ª Divisões de Reserva bolivianas em El Carmen. A consequência imediata foi a retirada de 18.000 homens do exército boliviano do forte Ballivián, localizado ao sul, em direção a Villamontes.

Em 27 de novembro, o presidente Salamanca tentou substituir Peñaranda pelo General Lanza, mas Peñaranda, apoiado pelo Coronel Germán Bush (ex-comandante-em-chefe do Exército Boliviano), cercou a vila onde Salamanca estava localizado e o obrigou a reconfirmá-lo no posto.

Em 30 de novembro de 1934, após a derrota de El Carmen, Salamanca demitiu definitivamente Peñaranda e mais uma vez deu o comando supremo do exército a Kundt; este procedeu à remoção do General Peñaranda del Castillo, e então tentou revitalizar as tropas agora perto do colapso total.

O exército paraguaio surpreendentemente se infiltrou em uma divisão entre duas divisões bolivianas, viajando 70km pelo deserto com o objetivo de capturar os poços do forte Yrendagüé localizado na retaguarda boliviana e deixar três divisões inimigas sem água, no meio do deserto.

Tanque Vickers Mark E. de 6 toneladas boliviano capturado pelos paraguaios. Blindados foram adquiridos por insistência de Kundt mas, apesar de aquisições caras, foram utilizados mal e provaram-se inúteis no terreno do Chaco.

Após a derrota de Yrendagué (5 a 8 de dezembro de 1934), as tropas bolivianas abandonaram definitivamente o Chaco e com a deposição do presidente Salamanca, substituído pelo vice-presidente José Luis Tejada Sorzano, Hans Kundt foi novamente demitido do comando e praticamente colocado em prisão domiciliar em sua casa. Em abril de 1935 o exército paraguaio entrou em território boliviano e, no mês de junho seguinte, foi assinado o tratado de paz que atribuía definitivamente a maior parte do território do Chaco ao Paraguai.

Depois de deixar a Bolívia permanentemente no primeiro trimestre de 1936, Kundt se estabeleceu por um curto período na Alemanha e depois mudou-se para Minusio, na Suíça. Ele morreu em Lugano, em 30 de agosto de 1939; apenas dois dias antes da invasão nazista à Polônia.

Publicações

- Prescripciones para el tiro con cartuchos de guerra, para los cuerpos armados con fusil y carabina, que regirán desde la fecha, Intendencia de Guerra, La Paz, 1923.

- Campaña del Chaco, el general Hans Kundt, comandante en jefe del Ejército en Bolivia, com Raúl Tovar Villa, Editorial Don Bosco, La Paz, 1961.

Avaliação como comandante

Quadro do General Hans Kundt.

Embora demonstrasse excelentes qualidades como administrador e instrutor e se preocupasse com o bem-estar das tropas sob seu comando, ele não se mostrou um bom comandante no campo de batalha. Durante a Primeira Guerra Mundial, Kundt demonstrou uma compreensão medíocre sobre táticas, preferindo ataques frontais na maioria das situações. Apesar do seu conhecimento dos problemas de estado-maior, ele não era um bom estrategista. Kundt também mostrou pouco tato diplomático, intrometendo-se na política interna boliviana e tendo de se exilar no Chile após apostar "no cavalo errado".

Na Guerra do Chaco, ele permaneceu ligado às táticas de massa da Primeira Guerra Mundial, preferindo os ataques frontais sem sentido e sangrentos contra posições inimigas bem protegidas em oposição à guerra de movimento, e em vez de penetrar rapidamente no Chaco com as tropas divididas em colunas móveis, optou por uma ocupação ampla, mas dispersa, do território conquistado.

Kundt também não foi capaz de reagir com flexibilidade às manobras do Exército Paraguaio; este cercou unidade por unidade do exército boliviano e os esmagou.

Embora tenha traçado planos operacionais para a ocupação do Chaco desde os anos 1920, Kundt nunca visitou ou conheceu o território disputado; além disso, ele era micro-gerenciador e sempre relutou em depender de seus subordinados bolivianos, preferindo supervisionar diretamente todas as operações militares em andamento, concentrando o poder de decisão em torno de si.

General Hans Kundt sentado em meio a oficiais bolivianos.

Kundt também era arrogante e, segundo o plano inicial, a guerra deveria se transformar em um avanço triunfal e incontestável das tropas bolivianas em toda a região, por serem superiores em número e meios ao Exército Paraguaio.

Este, treinado e aconselhado por uma missão francesa, liderado pelo brilhante General José Félix Estigarribia, soube utilizar o terreno para manobrar contra o adversário (maior e mais poderoso), além de fornecer uma cadeia logística mais eficiente. Kundt, em contrapartida, teve que recusar reforços várias vezes por não poder alimentá-los, e a vasta maioria das mortes por desidratação durante a guerra foram de soldados bolivianos.

Uma vez iniciada a guerra, a Bolívia não realizou uma mobilização total, pois Kundt considerou que bastava realizar uma guerra barateira e que não alteraria o cotidiano da população. Por essas razões, nenhuma tentativa foi feita para melhorar o abastecimento até a distante frente do Chaco, construindo uma linha ferroviária para Muñoz e a ponte essencial sobre o rio Pilcomayo. As tropas foram transportadas por caminhão e trem até Villazón, de lá por caminhão até Tarija e daí a pé até Villamontes, principal base do Chaco. De lá, os soldados deveriam marchar até 400km em meio à poeira, lama e calor sufocante do Chaco Boreal; boa parte dos soldados bolivianos eram índios do altiplano andino, com um clima totalmente diferente.

O meio de transporte básico era o caminhão, sempre em falta. Para cobrir as seis etapas do trecho Villazón-Muñoz foram necessários 480 caminhões. Como eram concentrados em unidades de abastecimento e principalmente de água, os soldados tiveram que se mobilizar principalmente a pé durante toda a guerra. Os veículos foram limitados por sua vez pelas estradas ruins, todas de terra e as quais as chuvas tornavam intransitáveis.

A ferrovia de 146km do rio Paraguai ao coração do Chaco foi vital para o Exército Paraguaio, especialmente durante a batalha do Boquerón.

Ao final da guerra, Kundt mudou de opinião, e os bolivianos de jogos de guerra deixaram de ser "os melhores soldados do mundo depois dos alemães" para serem claramente insuficientes para uma guerra real. Kundt também insistiu na compra de blindados Vickers e tankettes, mesmo contra a opinião da comissão técnica boliviana que avisou corretamente que seriam inúteis no Chaco.

O alemão era conhecido pela preocupação com o bem-estar de seus soldados, característica rara na tradição militar boliviana, mas desprezava os oficiais e generais bolivianos. O General Kundt nunca teve, nem antes e nem durante a guerra, o apoio incondicional dos oficiais sob seu comando. Eles viam na sua presença a prova patente de sua própria incapacidade e Kundt, a quem lhe sobravam exemplos, não perdia a oportunidade de ressaltá-la. Por isso, com seis meses comandando o Exército Boliviano, ele já pensava em renunciar ao cargo.

Robert Brockmann, autor boliviano que escreveu o livro El general y sus presidentes – Hans Kundt. Ernst Röhm y siete presidentes de Bolivia, 1911-1939 (dezembro de 2007), assim resumiu o general prussiano:

"Em grande medida, Hans Kundt foi o bode expiatório dos erros, ineficácia e desobediência de seus subordinados bolivianos. Kundt foi traído por seus subordinados, especialmente seu mais próximo, David Toro. Isso, porém, não o isenta de seus próprios grandes erros, como ter enviado onda após onda de soldados bolivianos à morte em ataques frontais contra a fortaleza de Nanawa, ou não ter reconhecido a magnitude da ofensiva paraguaia em outubro-dezembro de 1933, que levou ao desastre de Alihuatá-Campo Vía."

Bibliografia recomendada:

The Chaco War 1932-1935:
Fighting in Green Hell,
Antonio Luis Sapienza e José Luis Martínez Peláez.

The Chaco War 1932-35:
South America's greatest modern conflict,
Alejando de Quesada com Phillip Jowett e Ramiro Bujeiro.

El general e sus presidentes,
Robert Brockmann.

Leitura recomendada: