Para o exército francês de 1927, é perigoso opor ao apelo (assim como à manobra) à força assim como a considerar que um rompimento local pode permitir o colapso do dispositivo adverso: “Se uma unidade se eleva de uma forma que é muito sensível em relação à sua vizinha, ela cria um flanco descoberto e é rapidamente parada em sua progressão.” Infelizmente para esses teóricos, em 1940, na frente de Sedan, os alemães, por sua vez, demonstrarão que corps francs (infiltradores) ou unidades de engenheiros de assalto (como a do tenente Wackernagel) são capazes de se infiltrar e quebrar uma linha de resistência.
O Major Bouchacourt descreve então dois exemplos do primeira conflito mundial na região de Verdun (Mort Homme) e no Somme (aldeia de Sallisel) a fim de detalhar as disposições defensivas da infantaria para deter um ataque inimigo assim tão poderoso contra ela. Ele considera com certa parcialidade que o colapso das linhas alemãs em 1918 é apenas um contra-exemplo, esquecendo as evoluções tático-operativas implementadas pelos Aliados na época (tanques, combate inter-armas, emprego da aviação).
Para isso, ele se baseia nos textos regulamentares e em suas próprias análises ou lições dos dois combates evocados com uma defesa da posição dita de resistência.
Quando ele expõe as forças envolvidas, notamos, mais uma vez, a superioridade numérica francesa sobre uma primeira posição, 8 batalhões de infantaria, em segundo escalão, 3 batalhões e em reserva, 1 batalhão. Essas unidades valor batalhão estão a 500 metros da frente (vide o diagrama abaixo).
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Aqui, à título de exemplo da ocupação, o dispositivo esquemático de um batalhão. |
Trata-se de um dispositivo contínuo, não-"furado" em ninhos de resistência com, em particular, trincheiras duplicadas para se prevenir contra tiros indiretos alemães. Quanto aos apoios da divisão, são muito importantes com 4 grupos de artilharia há 2km da frente e isto, para enfrentar o ataque de 3 divisões inimigas. O combate é portanto violento porque a doutrina quer que cada brecha seja fechada pelas reservas para impedir todas as infiltrações. Em Verdun, as perdas sofridas em um dia pela 42ª divisão, cuja ação defensiva é analisada, foram de 1.600 homens fora de combate e 30.000 tiros de canhão foram disparados enquanto que em Sallisel, os alemães disparam 15 obuses 210 mm por minuto. Os tiros de barragem dos canhões de 75 mm são mortíferos para as tropas alemãs, os contra-ataques franceses são limitados a um nível local empregando granadas com o único propósito de restaurar a continuidade da defesa.
Da mesma forma, quando se detecta a possível ofensiva do inimigo, o autor recomenda um ataque preventivo repentino e maciço, bem como bombardeios de inquietação, a fim de fragilizar os preparativos do outro beligerante. Durante a batalha, os defensores devem manter uma linha contínua, organizar-se em conduta, retomar sua profundidade enquanto reconstituem as reservas e preservam as comunicações e o abastecimento. Eles também devem "aproveitar o momento fugidio entre o disparo do fogo de artilharia e a chegada da infantaria inimiga onde é possível lançar seus fogos", que são aqueles fogos diretos dos fuzis-metralhadores, aqueles das metralhadoras de flanco e, finalmente, as barragens de artilharia contra um inimigo exposto e privado de seus apoios durante o contato.
Enfim, o Major Bouchacourt considera que o processo do "freio" (diria-se frenagem hoje em dia) em sucessivos pontos de resistência deve ser proscrito, enquanto é imperativo desenvolver a organização do terreno (arame-farpado principalmente). a camuflagem, os abrigos e as trincheiras.
Essas certezas extraídas de duas batalhas particulares propõem um pensamento um tanto fechado que parece anunciar os fracassos da campanha de 1940:
“É principalmente pelo fogo que a defesa pára um ataque.”
“Conforme os meios materiais de ataque se desenvolverão, quando os tanques, por exemplo, e os aviões, entrarão ainda mais na batalha como auxiliares da infantaria,...”
“Nós nunca estaremos pessoalmente convencidos de que na próxima guerra não veremos trincheiras novamente. Para que o fogo, na defesa, possa ser lançado quando chegar a hora, será necessário que aqueles que devem fazê-lo não sejam mortos.”
Para concluir, este livro, escrito oito anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, oferece informações valiosas sobre os princípios táticos da guerra, mas também parece cegar os oficiais que extraem casos particulares generalidades perigosas para o futuro.
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Frédéric Jordan. |
Formado em Saint-Cyr e brevetado da Escola de Guerra, o Tenente-Coronel Frédéric JORDAN serviu em escolas de formação, no estado-maior como em vários teatros de operações e territórios ultramarinos, na ex-Iugoslávia, no Gabão, Djibuti, Guiana, Afeganistão e no cinturão Sahelo-Saariano. Apaixonado pela história militar, dirige um blog especializado desde 2011, “L’écho du champ de bataille” (O eco do campo de batalha) e participou de várias publicações como a revista "Guerres et Batailles” (Guerras e Batalhas) ou os Cadernos do CESAT (Collège d'Enseignement Supérieur de l'Armée de Terre/ Colégio de Educação Superior do Exército). Ele é o autor do livro “L’armée française au Tchad et au Niger, à Madama sur les traces de Leclerc” (O exército francês no Chade e no Níger, em Madama nos passos de Leclerc) pela Éditions Nuvis, que descreve a operação que ele comandou no Chade e no Níger no âmbito da Operação Barkhane, colocando em perspectiva o seu engajamento com a presença militar francesa nesta região desde o século XIX.