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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

GALERIA: Snipers da Divisão Taman em Moscou


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 6 de fevereiro de 2022.

Treinamento de atiradores de elite da Divisão de Fuzileiros Motorizados Taman, do Distrito Militar Ocidental, julho de 2021. O exercício ocorreu no campo de treinamento de Alabino, na região de Moscou, o mesmo setor onde ocorre o Biatlo de Tanques nos Jogos do Exército.

Os atiradores de elite usaram fuzis semiautomáticos SVD Dragunov, e os fuzis pesados .50 KSVK Degtyarev. O Dragunov tem uma longa e tradicional história, sendo produzido nos anos 1960 na época da União Soviética. Já o KSVK é um fuzil novo, introduzido como parte do programa Ratnik (Guerreiro) do Exército Russo. Seu nome é Fuzil Sniper de Grande Calibre Kovrov (Крупнокалиберная Снайперская Винтовка Ковровская / Krupnokalibernaya Snayperskaya Vintovka Kovrovskaya), formando o acrônimo KSVK e sendo conhecido também como "Fuzil Sniper Degtyarev".

O KSVK foi desenvolvido no final da década de 1990 pela fábrica Degtyarev, com sede em Kovrov, na Rússia; ele é baseado no fuzil experimental SVN-98 de 12,7mm. O KSV é um fuzil de repetição ferrolhado e na configuração bullpup, que é um desenho confortável para o tiro de franco-atirador. O cano é equipado com um dispositivo que atua como um freio de boca e um abafador de som. Além das lunetas, o KSVK possui miras de ferro laminado como reserva, tal qual o Dragunov. Suas variantes são os modelos:
  • SVN-98 (СВН-98),
  • KSVK (КСВК),
  • ASVK (АСВК, fuzil sniper de grande calibre do exército Kovrov) - adotado pelo Ministério da Defesa da Federação Russa sob a designação 6S8 "KORD" complexo sniper (6С8 «Корд») em junho de 2013 e usado pelo Exército Árabe Sírio durante a Guerra Civil Síria.
  • SBT12M1 - um projeto vietnamita baseado no KSVK russo com várias modificações para se adequar às condições locais. Está equipado com a mira óptica N12 também de produção vietnamita com ampliação de 10x. Fabricado nas fábricas Z111 e Z199.
  • ASVK-M Kord-M: versão atualizada.
Na Rússia, o KSVK é atualmente usado por unidades dos Distritos Militares do Sul, Leste e Oeste e da Frota do Norte. A versão melhorada ASVK-M Kord-M entrou em serviço em junho de 2018. As forças separatistas russas no leste da Ucrânia também o utilizam, e o mesmo na Síria, pelas forças leais ao governo sírio de Bashar al-Assad.





















Bibliografia recomendada:

Out of Nowhere:
A History of the Military Sniper.
Martin Pegler.

Leitura recomendada:

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

FOTO: T-34 versus Metrô

T-34 entalado em uma entrada de metrô em Budapeste, 1956.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 2 de fevereiro de 2022.

O T-34, mesmo na sua versão modernizada de 85mm, sofria de visibilidade ruim por conta das suas viseiras estreitas para o motorista. Na imagem acima, um T-34/85 se entalou numa entrada de metrô em Budapeste, durante o Levante Húngaro de 1956. O motorista não viu a escadaria. O mesmo ocorreu com o seu colega de 1945 na foto de baixo: um T-34/85 tombado na escadaria da estação de metrô Alexanderplatz, em Berlim.

T-34/85 na escadaria do metrô Alexanderplatz em Berlim, 1945.

Bibliografia recomendada:

BATTLEGROUND:
The Greatest Tank Duels in History.
Steven J. Zaloga.

Leitura recomendada:

Vadim Elistratov: Dirigindo o T-34, 8 de fevereiro de 2021.


terça-feira, 11 de janeiro de 2022

FOTO: Pacificadores russos no Cazaquistão

Soldados russos patrulhando a cidade cazaque de Alma-Ata, 11 de janeiro de 2022..

Soldados russos, parte da missão de paz da CTSO, patrulham uma rua no Cazaquistão. O soldado de frente tem uma Saiga-12 com carregadores de AK-74.

Leitura recomendada:

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

FOTO: T-72B russo destruído na Chechênia

Tanque russo T-72B Obr.89 destruído com blindagem de ripas na torre em Grozny, 1995-96.

Tanque russo T-72B Obr.89 destruído com blindagem de ripas na torre, na cidade chechena de Grozny, capital da Chechênia, 1995-1996. O veículo foi um dos muitos carros de combate principais e blindados de transporte russos que seriam destruídas às dezenas durante a desventura de Moscou na Chechênia.

Leitura recomendada:

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

GALERIA: Exercício de cães e renas no Ártico

Soldados da unidade de reconhecimento de uma das brigadas de infantaria mecanizada do Ártico utilizando cães e trenós na área de Murmansky, 1º de fevereiro de 2016.
(Lev Fedosseyev)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 30 de dezembro de 2021.

Batedores da unidade de reconhecimento da 80ª Brigada de Infantaria Mecanizada do Ártico, em Alakurtti no Oblast de Murmansk e pertencente à Frota do Norte (FN), conduzem exercícios militares e demonstram a forma correta de andar de trenó puxado por cães - da raça Husky, de olhos azuis e pêlo acinzentado - e com renas, conforme os povos nativos da região. Os batedores de reconhecimento (Razvedchiki / Razvedika) são uma parte importante do sistema militar russo, tendo o mesmo padrão de treinamento das Spetsnaz. Os militares foram fotografados por Lev Fedosseyev em 1º de fevereiro de 2016.

“Os cães de trenó são selecionados quando ainda são muito jovens. Você pode dizer se um cachorrinho husky será um bom cão de trenó logo em um mês e meio”, disse o Sargento Sergei Timonin, chefe do canil da 80ª Brigada.

Insígnia da 80ª Brigada de Infantaria Motorizada.

Os militares russos realizaram seu primeiro exercício de treinamento usando renas e trenós puxados por cães para realizar patrulhas nas duras condições do Ártico. O exercício foi realizado como resultado dum programa especial para preparar os huskies para servir nas forças armadas. O exercício foi gravado e intitulado "No Extremo Norte, os batedores da FN aprendem a usar renas e trenós puxados por cães".

Vídeo do exercício


As aulas foram ministradas em uma fazenda de pastoreio de renas perto da aldeia de Lovozero, na região de Murmansk. Os militares aprenderam a administrar equipes de cães e renas e desenvolveram os elementos táticos para conduzir operações de incursão no ambiente invernal da região. Criadores de renas e condutores contaram aos batedores sobre as peculiaridades para se manter e treinar os animais.

Durante o exercício, os soldados também aprenderam a erguer as moradias tradicionais dos povos nômades do norte chamados chumy, que são tendas de couro cru, para se manterem aquecidos. De acordo com Vadim Serga, chefe do serviço de imprensa da Frota do Norte, pastores de renas experientes podem montar um acampamento de abrigos chumy em apenas 10 ou 15 minutos. Os batedores enfrentaram tempo inclemente, com temperaturas atingindo -30ºC, mas mesmo assim os soldados e cães de trenó da brigada cumpriram sua missão, sendo auxiliados por indígenas locais.







Durante a Segunda Guerra Mundial - chamada de "Grande Guerra Patriótica" na Rússia - renas foram empregadas na região de Kola, no Ártico. Esta renas foram usadas para transportar carga militar, evacuar os feridos, enviar batedores para as linhas inimigas e até mesmo para destruir aeronaves e eliminar suas tripulações.

Através do transporte por renas, mais de 10 mil feridos foram retirados da linha de frente, cerca de 17 mil toneladas de munições e outras cargas militares foram movimentadas para a linha de frente, 160 aeronaves foram evacuadas da tundra, após terem feito pousos de emergência devido a avarias, e cerca de 8 mil militares e guerrilheiros foram transportados para cumprirem missões especiais atrás das linhas inimigas. Entre as operações bem-sucedidas de sabotagem usando o transporte de renas está o ataque ao campo de aviação de Petsamo em 1942.

Durante a guerra, várias brigadas de transporte e batalhões de esqui de renas foram formados, nos quais pastores de renas dentre os habitantes indígenas do Extremo Norte - Sami, Nenets, Komi - serviram com suas renas. Mais de 10 mil renas foram mobilizadas no total. Em Naryan-Mar, na rua Pobeda, foi inaugurado um monumento ao feito dos participantes dos batalhões de transporte de renas durante a Grande Guerra Patriótica.









“Se o filhote quiser ficar ao ar livre a maior parte do tempo, se tiver energia e não puder ficar parado em casa, deve ser enviado para um centro de treinamento de cães.”
- Sargento Sergei Timonin, chefe do canil da 80ª Brigada de Infantaria Motorizada.

Bibliografia recomendada:

Spetsnaz:
Russia's Special Forces.
Mark Galeotti e Johnny Shumate.

Leitura recomendada:

domingo, 12 de dezembro de 2021

FOTO: Soldados angolanos, soviéticos e cubanos em Cuito Cuanavale

Soldados angolanos, soviéticos e cubanos posam para uma fotografia perto de Cuito Cuanavale, em abril de 1988.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 12 de dezembro de 2021.

Ocorrida entre 14 de agosto de 1987 e 23 de março de 1988, a Batalha de Cuito Cuanavale foi a maior batalha ocorrida na África desde a Segunda Guerra Mundial.

A função dos conselheiros soviéticos era treinar e aconselhar as forças comunistas do MPLA, do treinamento básico, utilização dos equipamentos até o planejamento das operações. Eles estão vestindo o padrão de camuflagem cubano, usado pelos 50 mil cubanos em Angola e pelos soldados angolanos.

Bibliografia recomendada:

Bush Wars 1960-2010.

Leitura recomendada:



segunda-feira, 15 de novembro de 2021

A Geórgia e suas duas guerras no Afeganistão


Por Giorgi Lomsadze, Eurasianet, 9 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 15 de novembro de 2021.

Com o fim da guerra liderada pelos EUA, os georgianos estão relembrando suas décadas de serviço militar na Ásia Central sob duas superpotências.

"O Afeganistão é a razão pela qual toco piano."

"Comecei a aprender em meados da década de 1980 e, de acordo com uma teoria popular na época, uma carreira musical de sucesso poderia isentar alguém do serviço militar - ou pelo menos conseguir que alguém fosse designado para uma banda militar. Então, meus pais matricularam a mim e meu irmão na escola de música em uma idade muito jovem, na esperança de nos poupar do destino dos homens georgianos que estavam lutando e morrendo na guerra da União Soviética no Afeganistão."

O Afeganistão acabaria se tornando para a União Soviética o que o Vietnã foi para os Estados Unidos: uma pilha de corpos, PTSD, vidas de jovens dilaceradas e, uma vez que o império em ruínas não conseguia mais esconder a verdade sobre a guerra, uma inspiração para livros e filmes.

Avtandil Shubikashvili em Bagram na década de 1980.
(Foto de cortesia)

No final, toda uma geração de russos, georgianos, cazaques e outros ex-cidadãos soviéticos seria simplesmente chamada de Afghantsi, ou os afegãos, um eufemismo para alguém envolvido na guerra.

Poucos desses homens sabiam que seriam enviados para uma zona de guerra quando fossem recrutados, geralmente quando tinham 18 anos.

“Fizemos uma grande festa na minha aldeia quando fui chamado para o serviço. Meus pais não tinham ideia de que eu realmente estava indo para a guerra, nem eu”, lembra Pridon Kapanadze, de 60 anos, que em 1981 foi enviado de sua pequena cidade natal, Akhaltsikhe, na Geórgia, até Jalalabad.

“Só percebi isso quando eles me enviaram para treinar no Vale Fergana, no Uzbequistão”, me disse outro veterano, Avtandil Shubikashvili. Após dois meses de treinamento, que ele descreve como “um inferno em vida”, ele foi transportado de avião para o campo de aviação de Bagram, onde pousou sob uma rajada de fogo.

Foi lá, 64 quilômetros ao norte de Cabul, onde ficou baseado por dois anos, servindo no 345º Regimento Aerotransportado, comandado pelo futuro ministro da Defesa da URSS, Pavel Grachev. “Na maior parte do tempo estávamos sujos, sem banho, cheios de piolhos, todo mundo tinha doença amarela [hepatite A] e éramos constantemente alvejados”, disse Shubikashvili.

“Não podíamos nem contar às nossas famílias o que realmente estava acontecendo ali. Só podíamos escrever cartas com saudações. Eles inspecionaram cada carta e cada foto que enviamos para casa”, disse Shubikashvili enquanto me mostrava as fotos que haviam sido aprovadas pelos censores militares. “Quando alguém morria, eles mandavam o corpo para casa em um caixão de zinco lacrado com uma nota dizendo que a morte foi causada por um acidente.”

Shubikashvili (à direita) com amigos.

Quando o amigo mais próximo de Shubikashvili, Yuriy Mogilchenko, foi morto, Grachev pediu-lhe que acompanhasse os restos mortais de Mogilchenko até sua cidade natal, Voronezh, na Rússia.

“A viagem me ofereceria uma pausa na guerra, mas era [já] 21 de dezembro e eu simplesmente não conseguiria entregar o cadáver de Yuriy para seus pais na véspera de Ano Novo”, disse Shubikashvili. “Estremeci quando me imaginei entrando em seu apartamento, onde sua família estava reunida em torno de uma mesa de Ano Novo, e dizendo a eles que trouxe seu filho morto. Então eu recusei. ‘A menos que seja uma ordem, não posso fazê-lo’, disse eu.”

Muitos georgianos, particularmente cidadãos relutantes da União Soviética, sentiram que não tinham cachorro algum naquela luta, na tentativa de Moscou de fazer um ponto geopolítico em um deserto distante. A chegada do primeiro caixão de zinco em Tbilisi e as histórias de um corpo mutilado dentro apenas exacerbaram a percepção de que os georgianos estavam novamente se tornando vítimas do hábito da Rússia de entrar valsando seu exército em um país estrangeiro. Pais aterrorizados começaram a ir longe - trouxeram subornos e certificados de saúde falsos para os centros de recrutamento, mexeram com as conexões familiares, imploraram - para manter seus filhos fora do serviço militar. Ou pelo menos fora do Afeganistão.

Nos meus dias de aula de música, lembro-me de uma conversa entre minha mãe e meu professor de música, falando em uma mistura de georgiano e russo que era a única maneira adequada para a intelectualidade de Tbilisi falar na época: “Quando meu filho foi chamado para o serviço , Fui direto para o comissariado militar”, disse a professora. “Eu disse a eles que me enforcaria bem na porta se mandassem meu filho para aquele matadouro”.

No final das contas 128 georgianos morreram no Afeganistão, de acordo com dados do Ministério da Defesa da Geórgia, e muitos deles vieram de famílias rurais sem pais que poderiam subornar ou usarem conexões para tirarem seus filhos do Afeganistão. Da União Soviética como um todo, oficialmente quase 15.000 morreram e mais de 53.000 ficaram feridos.

Filho de um fazendeiro, Kapanadze nem falava russo quando chegou a Jalalabad. “Quando um oficial perguntou em russo quem concordaria em trabalhar como sapador, eu me ofereci - pensei que sapador significava um cozinheiro”, disse ele. “Fiquei surpreso quando o oficial veio até mim, colocou a mão no meu ombro e disse que eu era um herói. Antes que eu percebesse, estava tateando por minas no deserto”, continuou Kapanadze com um sorriso.

“Uma vez eu até tive que instalar uma bomba no corpo de um insurgente morto. Sabíamos que os dushmani ["fantasma", um termo soviético para os mujahedeen afegãos] sempre voltavam para buscar os corpos de seus mortos, então eles provavelmente explodiram quando tocaram naquele corpo.”

Kapanadze e Shubikashvili hoje.
(Giorgi Lomsadze)

Quando Kapanadze retornou à Geórgia no final de seu serviço, dois anos depois - ele teve que encontrar seu próprio caminho para casa, já que o avião militar o deixou no Uzbequistão e ninguém se deu ao trabalho de lhe dar uma passagem de avião para Tbilisi - ele estava portando tantas medalhas e prêmios que a polícia o prendeu supondo que fosse um ladrão. “Perdi o ônibus para minha aldeia e tive que implorar para que pessoas aleatórias me comprassem uma passagem”, disse ele. “Quando eles finalmente perceberam que eu era um verdadeiro herói de guerra condecorado, o chefe de polícia me levou até minha aldeia em seu próprio carro.”

Diz a lenda urbana que o exército soviético confiava principalmente nos povos do Cáucaso, como georgianos e armênios, já que eles supostamente podiam se passar por habitantes do Oriente Médio. Kapanadze diz que isso era apenas parcialmente verdade. “A maioria das tropas era russa, mas havia de fato muitos georgianos em meu regimento”, disse ele. “Os caucasianos e os centro-asiáticos costumavam ser invocados durante as operações diurnas porque, como sulistas, podíamos lidar melhor com o calor do que os russos, que costumavam desmaiar de insolação e desidratação”.

Adeus à Slavyanka


"A reação por causa do Afeganistão estava começando a abalar a União Soviética em seu núcleo, enquanto eu estava aprendendo a tocar músicas militares russas em preparação para meu futuro papel naquela banda militar. Minha música favorita era Adeus à Slavyanka, uma marcha da época da Primeira Guerra Mundial que se transformou em uma trilha sonora da Segunda Guerra Mundial e tinha um bom potencial como trilha sonora da última guerra. Meu professor batia o ritmo da música em staccatos picantes no piano enquanto eu carregava a melodia no clarinete e a superpotência estava se desintegrando ao nosso redor."

Quando cheguei à idade de recrutamento, eu morava em um país diferente. Quando entrei na universidade no final dos anos 1990, o corpo do império foi desmembrado com segurança, carbonizado com rancores étnicos e coloniais. A Geórgia estava forjando laços com os Estados Unidos rapidamente e se desfazendo da influência russa ainda mais rápido. Eu estava coçando minha cabeça em uma sala de aula dilapidada, tentando localizar a extremidade comercial de um fuzil automático desmontado em uma aula de treinamento militar na minha universidade.

Ministrado por um veterano de guerra nonagenário que passou grande parte de seu tempo como professor retrucando às provocações de meus colegas de classe, a classe, de outra forma inútil, nos ofereceu - um grupo de crianças mimadas de famílias de professores - uma maneira de pular o serviço militar obrigatório no que agora eram as forças armadas independentes da Geórgia. No exame final em um campo de tiro, não consegui acertar uma única bala em um alvo quase comicamente grande, mas isso não me impediu de concluir o curso com a patente de segundo tenente.

O Afeganistão foi amplamente esquecido nessa fase, apagado das memórias dos georgianos por guerras civis e separatistas mais recentes perto de casa. Mas isso estava prestes a mudar.

O semestre do outono tinha apenas começado quando eu voltei da escola um dia e encontrei minha avó chorando na frente de uma TV com a CNN transmitindo imagens de um arranha-céu em chamas em Nova York. “Um avião acidentalmente bateu em um prédio nos Estados Unidos”, ela me disse; ela não conseguia entender direito as transmissões em inglês. “Por que eles estão construindo esses edifícios enormes? Todas essas pessoas, pobrezinhas...”

Os EUA invadiram o Afeganistão naquele ano para iniciar o que ficou conhecido como a "guerra eterna". A Geórgia aderiu em 2004, principalmente para provar o seu valor como potencial membro da OTAN, mas também para aumentar as suas próprias capacidades de defesa. Desta vez, servir no Afeganistão foi uma escolha feita pelo governo da Geórgia, e o serviço militar não era mais obrigatório - portanto, foi uma missão que muitos soldados georgianos receberam bem.

Davit Bendiashvili, um homem da minha idade da cidade costeira de Batumi, foi treinar nos EUA antes de ser enviado para Helmand. Ele fala com entusiasmo sobre aquele treinamento, que não foi nada parecido com a experiência que Shubikashvili descreveu 30 anos antes - correr pelas montanhas por um dia inteiro sem comer ou beber sob o sol escaldante do Vale Fergana.

“Foi difícil no Afeganistão, mas estou feliz por ter participado. Ensinou-me muito a nível profissional e também pessoal”, disse Bendiashvili, que agora vive em Lisboa, onde trabalha como marinheiro mercante.

“Toda vez que saíamos da base, onde vivíamos em tendas cercadas por uma parede de sacos de areia, nós estávamos orgulhosos de dirigir por aí um veículo blindado com bandeiras georgianas,” Bendiashvili lembrou durante uma chamada de vídeo pelo Facebook. “Quando nós encontrávamos anciãos das aldeias locais, alguns nos perguntou se nós éramos cruzados [a bandeira nacional da Geórgia com cinco cruzes vermelhas-e-brancas tem algumas semelhanças com uma bandeira cruzada]. Eles falavam das Cruzadas como se tivessem acontecido ontem.”

Soldados georgianos destacando-se para o Afeganistão em 2013 por meio da base aérea de Manas no Quirguistão.
(David Trilling)

Ele também encontrou anciãos das aldeias em sua área de operações curiosos sobre a geopolítica movediça da Geórgia. “’Vocês não nos invadiram em conjunto com os russos antigamente? Então agora você está lutando contra os russos?’ - nós recebíamos muito essas perguntas“, disse ele.

Outras coisas não mudaram. “Aprendi que, se você for convidado para uma casa afegã, nada poderá acontecer com você enquanto estiver lá. O convidado é sagrado para eles, em grande parte da mesma forma que é para nós, georgianos”, disse Bendiashvili.

Eu tinha ouvido a mesma explicação, quase palavra por palavra, tanto de Kapanadze quanto de Shubikashvili.

Apesar de ter sido pego em tiroteios várias vezes, Bendiashvili disse que não mudaria nada na experiência. “É que quando meu contrato militar expirou em 2012 - eu estava em Cabul então - decidi que estava farto e era hora de seguir em frente. Passei 18 meses no Afeganistão e 13 anos no exército, e acho que servi bem ao meu país.”

A Geórgia retirou suas forças em junho; um total de 32 soldados morreram nesta guerra. As tropas georgianas treinadas pela OTAN e com experiência no Afeganistão e no Iraque são agora consideradas tropas de elite. Muitos deles subiram na hierarquia das forças armadas georgianas ou voltaram ao Afeganistão para trabalhos lucrativos com empresas de segurança privada. Vários ficaram presos até mesmo brevemente em Cabul durante a caótica retirada americana em agosto.

Os veteranos da guerra soviética, entretanto, raramente são lembrados. Em reconhecimento aos serviços prestados a um país há muito desaparecido, o Estado georgiano agora paga a eles uma pensão mensal insignificante de 22 lari (7 dólares) e oferece viagens gratuitas no transporte público. Eles sempre se reúnem em 15 de fevereiro, o dia em que a União Soviética retirou suas forças do Afeganistão em 1989.

Existem agora dois memoriais na Geórgia em homenagem aos soldados que morreram em duas guerras diferentes no Afeganistão.

Recentemente, localizei o antigo memorial de guerra soviético nos arredores de Tbilisi, escondido em um pequeno parque. A laje maciça de bronze em forma de chama com uma figura humana em tamanho natural está um pouco enferrujada devido à longa exposição aos elementos. Olhando para ela, encontrei presa na minha cabeça a melodia agridoce de Slavyanka, aquela canção errante de guerra.

Giorgi Lomsadze é jornalista residente em Tbilisi e autor do Tamada Tales.