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sábado, 12 de fevereiro de 2022

Socialismo árabe e prisioneiros egípcios na Guerra dos Seis Dias

Prisioneiros egípcios sendo levados de caminhão para um campo de PG, passando por um comboio de soldados israelenses em direção ao front, 1967.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 12 de fevereiro de 2022.

Um caminhão cheio de soldados egípcios capturados cruza um comboio de tropas israelenses perto de El Arish, Egito, durante a Guerra dos Seis Dias, em 8 de junho de 1967.

Os israelenses tomaram El Arish e estão indo em direção ao deserto do Sinai. Eles estão armados com fuzis FAL do modelo Romat, um deles com uma granada de fuzil BT/AT 52 visível, e submetralhadoras Uzi; armamentos típicos do exército israelense do período. Os árabes eram armados com fuzis AK-47 e outros materiais soviéticos, além de outros armamentos portáteis de procedência variada.

O AK e o FAL.
Adversários na Guerra dos Seis Dias, 1967.

O presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, ameaçou repetidamente a existência do Estado de Israel durante anos e costurou uma aliança opondo o mundo árabe ao país hebreu. Os egípcios e seus aliados árabes se mobilizaram ao redor de Israel, seguindo uma ideologia de pan-arabismo e socialismo árabe, além de uma aproximação com a União Soviética que armou pesadamente a coligação árabe. Nasser chegou mesmo a fechar o Estreito de Tirã, uma via marítima essencial a Israel - um causus belli em si mesmo. O Egito sozinho contava 240 mil soldados opondo os 50 mil regulares e 214 mil reservistas israelenses que teriam de lutar em três frentes diferentes, enquanto os egípcios lutariam apenas no Sinai. A Síria, Jordânia e Iraque somavam mais 304 mil homens a esse número, com 20 mil sauditas também à disposição. Os árabes possuíam 2.504 tanques contra os 800 tanques israelenses. Os israelenses tinham entre 250-300 aviões de combate contra os 957 aviões árabes. Dos 264.000 homens da Força de Defesa de Israel mobilizados, 100.000 foram desdobrados em ação. Os árabes dispunham de 567.000 dos quais 240.000 desdobrados. Ainda assim, Nasser e seus seguidores foram surpreendidos pelo ataque surpresa israelense que os colocou de joelhos.

As baixas árabes foram enormes. Do lado do Egito, até cerca de 15.000 soldados egípcios foram listados como mortos ou desaparecidos, com um adicional de 4.338 soldados egípcios capturados.

Yael Dayan, a filha do General Moshe Dayan e oficial do exército acompanhando o estado-maior divisional de Ariel Sharon no Sinai, do ponto de partida da ofensiva em Shivta e pelo caminho através península desértica. Os israelenses acharam depósitos e bases abarrotadas de víveres e equipamentos, com escritórios luxuosos para oficiais, lotados de comidas caras e champagne. Do lado desse luxo havia os pobres soldados egípcios, mal-alimentados e mal-vestidos. Yael descreveu o triste cenário em Nakhl como o "Vale da Morte do Exército egípcio", contando 150 tanques destruídos entre Temed e Nakhl, além de vasto material avariado ou abandonado (canhões, tratores, caminhões etc) e grande quantidade de corpos com fedor nauseabundo cozinhando sob o sol do deserto.  Yael menciona como a cena era depressiva, e como seu colega Dov, outro oficial israelense, contou-lhe que quase chorara pelo destino daqueles soldados egípcios, sob um comando tão incompetente.

"Que destino desgraçado o dêles, tendo de depender de líderes e oficiais miseráveis como aquêles. Em 1948, tiveram os paxás e seus filhos incompetentes por oficiais; em 1956, no Sinai, a gente tinha de desculpá-los até certo ponto - ainda não estavam educados e preparados, a revolução socialista não tivera tempo de acabar com a distância entre oficial e soldado. Mas agora, dezesseis anos depois da revolução, com oficiais treinados na Rússia, com técnicos russos no Egito, onde se encontrava seu espírito de socialismo? Como se explica que tivéssemos só um ou dois oficiais entre os nossos prisioneiros, e tão grande número de soldados? Como se explica que não capturamos nem vemos pelo menos um carro de comando? Onde estavam todos aqueles oficiais sorridentes nas suas reluzentes fardas, com cabelos crespos emplastrados de brilhantina, parecendo tão confiantes quando apareciam no Cairo ou nas páginas dos jornais? Os pobres camponeses foram abandonados à sua sorte, ficaram à mercê das nossas tropas, o inimigo. Como pôde êle, Nasser, que julgávamos um líder honesto de sua nação brincar com a vida do seu povo, blefar, à custa de milhares e milhares de obedientes filhos do Egito? Como teve coragem de brincar de alta política, utilizando-os cinicamente em penhor do seu jôgo? Êle não tinha condições de bancar Napoleão, de fechar o Estreito de Tirã, de nos ameaçar com uma centena de tanques no Sinai. Para quê? Que foi que conseguiu? tinha problemas urgentes que resolver. Não dispunha de meios para matar a fome da população, e gastou milhões em armamentos. Seu povo era analfabeto. Por que cargas d'água foi começar tudo isto, se êle próprio teve de admitir que ainda não se achava preparado?"

- Yael Dayan, Diário de um soldadopg. 135-136, 1967 (trad. 1970).






Prisioneiros egípcios capturados nas cercanias de El-Arish.

Bibliografia recomendada:

Arabs at War:
Military Effectiveness, 1948-1991.
Kenneth M. Pollack.

Leitura recomendada:

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

ENTREVISTA: Mercenários Wagner na Síria

Por John Sparks, Sky News, 10 de agosto de 2016.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de fevereiro de 2022.

Revelado: os "mercenários secretos" da Rússia na Síria.

John Sparks, correspondente em Moscou da Sky News, fala com homens que afirmam que foram treinados e voaram em aviões militares russos para ajudar as tropas leais a Bashar al-Assad.

Se a Rússia é uma nação em guerra, o Kremlin sempre teve o cuidado de enquadrar sua campanha na Síria como uma operação aérea. Além de um número limitado de "instrutores e conselheiros militares", as autoridades russas afirmaram repetidamente que não precisam colocar "botas no chão".

Um dos ex-mercenários que afirma ter sido treinado e enviado para lutar na Síria.

A narrativa russa de conflito de baixo custo foi seriamente desafiada, no entanto, por um grupo de jovens russos que afirmam que o envolvimento de seu país na Síria é muito mais extenso - e mais caro - do que qualquer um no governo do presidente Putin está preparado para admitir. Esses indivíduos disseram à Sky News que foram recrutados por uma empresa militar privada altamente secreta chamada "Wagner" e levados para a Síria a bordo de aviões de transporte militares russos.

Exclusivo: Soldados Secretos da Rússia lutando na Síria

Pelo equivalente a £ 3.000 por mês (R$ 21.421,20), eles dizem que foram jogados em batalhas e tiroteios com facções rebeldes - incluindo o Estado Islâmico. Dois do grupo, Alexander e Dmitry, disseram à Sky News que se sentiam sortudos por estarem vivos.

"É 50-50", disse Alexander (nome fictício). "A maioria das pessoas que vão lá pelo dinheiro acaba morta. Aqueles que lutam por ideais, para lutar contra os americanos, forças especiais americanas, alguma ideologia - eles têm uma chance melhor de sobrevivência."

"Aproximadamente 500 a 600 pessoas morreram lá", afirmou Dmitry. "Ninguém nunca vai descobrir sobre eles... essa é a coisa mais assustadora. Ninguém nunca vai saber."

Mercenários russos supostamente lutaram no leste da Ucrânia.

O primeiro-ministro do país, Dmitry Medvedev, alertou em fevereiro que o envio de tropas terrestres por potências estrangeiras poderia resultar em uma "guerra mundial". Ele parece ter excluído o uso de mercenários russos desse cálculo, no entanto - embora os analistas não estejam surpresos.

O envio de contratados militares é consistente com a visão russa da "guerra híbrida", de acordo com o analista militar Pavel Felgenhauer. Ele disse: "Obviamente (Wagner) existe. Esses tipos de 'voluntários' aparecem em diferentes zonas de guerra, onde o governo russo quer que eles apareçam. Então, primeiro na Crimeia, depois no Donbass, agora na Síria. Mas eles não foram legalizados até agora."

As empresas militares privadas são proibidas pela constituição russa - mas isso não é algo que parece incomodar o homem que dirige a operação.

A única imagem conhecida do líder sombrio do Grupo Wagner, Nikolai Utkin.
(Foto: Fontanka)

Um ex-soldado das forças especiais, ele é conhecido por seus homens como Nikolai Utkin. A única foto conhecida do senhor Utkin foi publicada no início deste ano pelo jornal Fontanka, de São Petersburgo. O jornal o descrevia como um aficionado da estética e ideologia do Terceiro Reich nazista alemão. Seu nome-de-guerra, Wagner, é considerado uma homenagem ao compositor favorito de Hitler.

A empresa recrutou centenas de homens online, publicando anúncios temporários em salas de bate-papo com temas militares em um popular site russo.

Os homens dizem que foram levados da Rússia para a Síria em aviões militares russos.

A Sky News obteve um registro de uma conversa entre um recruta e um agente Wagner. Lê-se:

Recruta: Ouvi dizer que Wagner está procurando caras. Eu estava no exército em ..... divisão.

Wagner: Em que tipo de forma física você está?

Recruta: Eu posso correr 10km. Eu posso fazer 20 barras.

Wagner: Você consegue fazer 3km em 13 minutos?

Recruta: Com certeza! No exército eu fazia 11km em 40 minutos.

Wagner: Você tem algum problema com a lei, dívidas?

Recruta: Eu tenho um problema com dinheiro. Quero comprar um apartamento.

Wagner: Você tem passaporte válido para viajar?

Recruta: Sim, claro.

Wagner: Ok, venha para Molkino. Você tem uma grande chance de ser selecionado.

Molkino é uma pequena vila no sul da Rússia que abriga uma base de forças especiais do Ministério da Defesa. Parte da base foi entregue ao Grupo Wagner para seleção e treinamento de recrutas.

Alexander, que realizou várias missões na Síria, disse estar ciente de homens de todas as habilidades sendo aceitos para treinamento - mesmo aqueles que nunca dispararam uma arma. Ele disse que o treinamento - que geralmente dura de um a dois meses - foi intenso.

Ele acrescentou: "Se a pessoa não foi do exército, ele é treinado desde o nível zero. Eles são ensinados a ser soldados de infantaria - a bucha de canhão usual. Se a pessoa serviu na artilharia, reconhecimento, brigadas de assalto - suas habilidades são polidas... eles ensinam você a dirigir e usar absolutamente todo o equipamento que eles têm."

Dmitry disse que os recrutas receberam um kit "padrão da OTAN" para praticar.

Alguns dos homens com quem a Sky News falou dizem que participaram da batalha por Palmira.

Ambos os homens logo se viram destacados para a principal base russa na costa síria. Alexander disse que ele foi acompanhado por mais de 500 homens.

"Havia 564 soldados comigo e fomos colocados na base", acrescentou. "Tínhamos duas companhias de reconhecimento, uma companhia de defesa anti-aérea, dois grupos de assalto e tropas de infantaria, além de artilharia pesada, tanques e assim por diante."

Dmitry disse que se juntou a 900 outros - mas teve dúvidas na chegada. Ele trabalhou anteriormente como secretário de escritório e tinha pouca experiência militar. "Chegamos à noite no aeroporto", disse ele. "Como se chama? Hmay? Hymeem? Hhmemeen? (Khmeimim). Então fomos colocados em caminhões. Para ser honesto, eu estava com medo. Não tenho uma constituição forte e não era muito bom nos exercícios".

Os combatentes Wagner acusaram seus comandantes de enviá-los em "missões suicidas" destinadas a "suavizar" a oposição antes que as tropas do Exército sírio fossem enviadas. Alexandre relembrou a batalha pela cidade de Palmira, realizada no início deste ano (2016). Ele disse:

"Durante o assalto a Palmira, fomos usados como bucha de canhão. Pode-se dizer isso. O reconhecimento avançou primeiro para que pudessem observar e relatar. Eu conhecia três naquele grupo - dois morreram antes de chegarem à cidade. Da minha companhia de assalto, 18 morreram. Depois de nós, aquelas galinhas covardes do exército de Assad seguiram e terminaram o serviço, mas nós fizemos a maior parte do trabalho."

O número oficial de russos mortos na Síria é de 19. No entanto, os combatentes Wagner disseram à Sky News que acreditavam que centenas de seus colegas de trabalho foram mortos.

Eles acusam as autoridades de encobri-las.

"Quem vai te contar sobre isso? Às vezes os corpos são cremados, mas os jornais dizem 'eles estão desaparecidos'. Às vezes os documentos dizem que o soldado foi morto em Donbass (leste da Ucrânia). Às vezes eles dizem 'acidente de carro' e assim por diante", afirmou Alexandre.

Fotos capturadas por combatentes do Estado Islâmico parecem mostrar mercenários russos na Ucrânia.

Dmitry afirmou que centenas de homens foram deixados na Síria. "Às vezes eles estão enterrados, às vezes não", disse ele. "Às vezes eles apenas cavam um buraco. Depende de como os comandantes se sentem em relação à pessoa".

Ele está de volta a Moscou agora, mas diz que a experiência ainda o persegue. Quando ele assinou com o Grupo Wagner, Dmitry entregou seus documentos de identificação pessoal - uma parte essencial da vida na Rússia. Ao retornar, ele voltou à base de treinamento para recuperar seus documentos, mas foi preso pela polícia. Um oficial lhe disse, inequivocamente, que o Grupo Wagner "não existe".

Dmitry disse à Sky News que há outros 50 homens - sobreviventes do Grupo Wagner - agora andando pelas ruas de Moscou, traumatizados e sem documentos.

"Ninguém me conhece", disse ele. "Eles simplesmente me jogaram fora".

Bibliografia recomendada:

"Wagner Group":
Africa's Chaos is an Economic Boom.

Leitura recomendada:



FOTO: Soldados iraquianos celebrando no Irã

Soldados iraquianos celebrando a invasão do Irã em 25 de setembro de 1980.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de fevereiro de 2022.

Em 22 de setembro de 1980, o Exército Iraquiano baathista invadiu o Irã surpreendendo o regime iraniano do Aiatolá Kohmeini. Inicialmente, os iraquianos avançaram em todas as frentes, tomando vários quilômetros de território e colocando sob cerco várias cidades iranianas como Abadan e Khorramshahr. Nesse período, eles tinham razões para comemorar o que parecia uma campanha curta e bem sucedida.  O cerco de Khorramshahr tornar-se-ia a maior batalha urbana da Guerra Irã-Iraque, travada em duas fases, amplamente conhecida por sua brutalidade e condições violentas, Khorramshahr passou a ser referida pelos iranianos como Khuninshahr ("Cidade de Sangue"). A batalha durou 34 dias e viu um imenso investimento das forças iraquianas, muito além do que os planos de guerra do Iraque previam. A cidade caiu nas mãos dos iraquianos em 10 de novembro de 1980.

Das seis divisões iraquianas que invadiram por terra, quatro foram enviadas ao Cuzestão, localizado perto do extremo sul da fronteira, para isolar o Shatt al-Arab do resto do Irã e estabelecer uma zona de segurança territorial. As outras duas divisões invadiram a parte norte e central da fronteira para evitar um contra-ataque iraniano. Duas das quatro divisões iraquianas, uma mecanizada e outra blindada, operaram perto do extremo sul e iniciaram um cerco às cidades portuárias estrategicamente importantes de Abadan e Khorramshahr.

As duas divisões blindadas garantiram o território delimitado pelas cidades de Khorramshahr, Ahvaz, Susangerd e Musian. Na frente central, os iraquianos ocuparam Mehran, avançaram em direção ao sopé das montanhas Zagros e conseguiram bloquear a tradicional rota de invasão Teerã-Bagdá, garantindo território à frente de Qasr-e Shirin, no Irã. Na frente norte, os iraquianos tentaram estabelecer uma forte posição defensiva em frente a Suleimaniya para proteger o complexo petrolífero iraquiano de Kirkuk.


Bibliografia recomendada:

Arabs at War:
Military Effectiveness, 1948-1991.
Kenneth M. Pollack.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

FOTO: Obuseiro autopropulsado em Áden

Tropas iemenitas com um obuseiro autopropulsado M8 em Áden, 1961.

Por  Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de fevereiro de 2022.

Tropas iemenitas com o obuseiro autopropulsado M8 de fabricação americana. Sua designação oficial era 75 mm Howitzer Motor Carriage M8, e fora desenvolvido no chassi do tanque leve M5 Stuart, armado com um canhão M116 de 75mm e uma carroceria M7. A metralhadora é a M2 Browning .50 na torre dá proteção aproximada e até antiaérea.

O soldado na esquerda carrega o fuzil Hakim, uma versão egípcia do Ag m/42 sueco. O Hakim é um fuzil semiautomático com um sistema de ferrolho basculante com padrão Tokarev semelhante àqueles do FN49 belga, SKS soviético e do MAS-49 francês. 

De cima para baixo: fuzil Ag m/42B, fuzil Hakim e carabina Rasheed.

O Egito introduziu um sistema operado a gás ajustável, enquanto o Ag m/42 não era ajustável. O sistema Hakim é ajustável por meio de uma ferramenta especial e é um tipo de impacto simples e direto pelo qual o fluxo de gás impacta diretamente na face frontal do conjunto do ferrolho, impulsionando-o para trás, o que destrava e move o ferrolho conforme ele recua. A alimentação é feita de um carregador de cofre destacável que contém 10 cartuchos, embora o fuzil esteja equipado com um dispositivo de abertura de ferrolho e possa ser recarregado usando clipes de pente com o carregador no lugar. As miras são do tipo aberto, com entalhe em U ajustável em alcance na alça de mira, com a massa de mira protegida.

Enquanto o Ag m/42 disparava o cartucho 6,5×55mm, o Egito calibrou sua versão em 8x57mm Mauser pois possuía grandes estoques dessa munição, grande parte deixada para trás da Segunda Guerra Mundial. O Hakim possuía uma baioneta tipo faca destacável, enquanto a carabina Rasheed, sua versão mais curta, usava uma baioneta fixa dobrável.

sábado, 22 de janeiro de 2022

FOTO: Bashar al-Assad cumprimenta soldados sírios

O presidente sírio, Bashar al-Assad, estende a mão para cumprimentar de um soldado do Exército Árabe Sírio em Ghouta Oriental, Síria, em 18 de março de 2018.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 22 de janeiro de 2022.

Bashar al-Assad, líder da República Árabe Síria governada pelo Partido Socialista Árabe Baath, permanece popular. Em 27 de maio de 2021, Assad venceu uma eleição nas áreas controladas pelo governo de Damasco com com 95,1% dos votos; lhe garantindo um quarto mandato.

O Presidente do Parlamento sírio, Hammoud Sabbagha, anunciou que participaram da votação 14,2 milhões de pessoas, das 18,1 milhões teoricamente convocadas para votar, ou seja, uma taxa de participação de 76,64%. Em Damasco, milhares de apoiadores de Bashar Al-Assad se reuniram na Praça Umayyad, agitando bandeiras sírias e retratos do presidente, entoando slogans à sua glória e dançando.


Na cidade portuária de Tartus (oeste), em meio a bandeiras e retratos, alguns dançavam batendo em tambores, segundo imagens veiculadas pela televisão síria. Milhares de pessoas também se reuniram na cidade costeira de Latakia e na Praça Umayyad em Damasco. Em Soueida, cidade no sul do país, uma multidão também se aglomerou em frente ao prédio da governadoria, enquanto em Aleppo foi armada uma plataforma.

A Rússia, principal aliada de Assad, descreveu a reeleição como uma "vitória convincente" e "um passo importante para fortalecer a estabilidade" do país.

Canção "Vamos elegê-lo, Bashar!"


Leitura recomendada:



terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A Balada de Abu Hajaar

"Qual o seu problema, Abu Hajaar?"

Por Stijn Mitzer e Joost Oliemans, Oryx, 28 de abril de 2016.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 11 de janeiro de 2022.

Um vídeo obtido por Jake Hanrahan e enviado pela VICE News em 27 de abril de 2016 mostra imagens espetaculares feitas pela câmera frontal de um combatente do Estado Islâmico enquanto ele e seus companheiros lutam para chegar às posições Peshmerga perto de Naweran, sob fogo inimigo pesado. O ataque, ocorrido ao norte de Mossul, mostra claramente o pânico e o caos que ocorrem no campo de batalha, uma imagem completamente diferente daquela apresentada nos vídeos de propaganda publicados pelo departamento de mídia do Estado Islâmico, que mostra quase exclusivamente pessoas bem treinadas e combatentes motivados do Estado Islâmico derrotando seus oponentes sem nenhum medo ou preocupação com sua própria segurança.

Reportagem


A filmagem oferece um raro vislumbre dos ataques que as forças Peshmerga vêm enfrentando desde a queda de Mossul para o EI, mas agora da perspectiva do Estado Islâmico. No entanto, este vídeo não oferece toda a história e, como esse ataque foi extremamente bem documentado tanto pelo Estado Islâmico quanto pelos Peshmerga, tentaremos analisar as filmagens e imagens divulgadas por ambas as partes e pintar uma imagem mais clara desse ataque. conduzido pelo Estado Islâmico.

Embora a VICE News tenha sido informada erroneamente de que a filmagem foi feita em março de 2016, a ofensiva descrita na verdade ocorreu vários meses antes, em 16 de dezembro de 2015 para ser mais preciso. Mas antes de entrar em detalhes sobre a batalha em si, é importante entender o histórico de ofensivas semelhantes do Estado Islâmico envolvendo o uso de veículos blindados de combate (armoured fighting vehiclesAFV) que ocorrem em torno de Mossul. Sendo a maior cidade capturada pelo Estado Islâmico, Mossul serviu como capital de Ninawa Wilayat (sede do governo de Nínive).

"Bom trabalho, mas você também nos torrou."

Quando foi tomada pelo Estado Islâmico, Mossul estava superlotada de armas e veículos destinados ao uso do Exército e da Polícia iraquianos, que deixaram a maior parte de seus equipamentos para trás antes de fugirem da cidade. Enquanto grandes partes desse enorme arsenal foram rapidamente distribuídas pelas várias frentes nas quais o Estado Islâmico estava lutando, incluindo a Síria, alguns dos AFV que ficaram para trás formariam mais tarde o núcleo das primeiras formações blindadas do Estado Islâmico. Antes do estabelecimento dessas formações, o uso de AFV pelo Estado Islâmico no Iraque era desorganizado, e os tanques capturados eram frequentemente destruídos em vez de operados simplesmente porque não eram considerados úteis nos ataques relâmpagos realizados pelo Estado Islâmico no Iraque. Por exemplo, embora o Estado Islâmico capturasse vários tanques M1 Abrams dos EUA intactos, todos eles foram deliberadamente demolidos em vez de usados.

Enquanto essas formações blindadas estavam sendo montadas, muitos dos veículos capturados foram enviados para oficinas em Mossul para conversão em plataformas de armas adaptadas às necessidades do Estado Islâmico. Vários desses veículos já haviam sido avistados antes da ofensiva, incluindo duas engenhocas baseadas no veículo blindado de recuperação BTS-5B (ARV), um veículo inútil para o Estado Islâmico. Os veículos usados nos ataques de dezembro às posições Peshmerga provavelmente vieram das mesmas oficinas, e sua blindagem DIY certamente tem o mesmo tom de improvisação visto nos AFV anteriores do Estado Islâmico.


Embora os detalhes permaneçam obscuros, acredita-se que pelo menos três formações blindadas tenham sido montadas em Mossul, compreendendo a "Brigada Blindada Al-Farouq", que pode ser dividida em 1º, 2º, 3º e possivelmente mais batalhões, o "Batalhão Escudo", que tem a maioria de seus veículos pintados de preto, e o "Batalhão Tempestade". Além desses três, uma quarta formação chamada "Batalhão Suicida" também opera uma série de veículos com blindagem adicionada como dispositivos explosivos improvisados veiculados (vehicle-borne improvised explosive devicesVBIED). Mas, ao contrário dos ataques regulares dos VBIED tão frequentemente usados pelo Estado Islâmico, o "Batalhão Suicida" geralmente acompanha qualquer uma das três formações blindadas quando são enviadas para o campo de batalha. Os VBIED do "Batalhão Suicida" devem abrir caminho para as seguintes formações blindadas e podem ser vistos como a versão de apoio aéreo do Estado Islâmico. Durante este ataque, tanto o "Batalhão de Assalto" quanto o "Batalhão Suicida" participaram.

Cada batalhão tem seu próprio selo. Por exemplo, o selo visto abaixo é usado pela 3ª Brigada Blindada al-Farouq. Lê-se: ولاية نينوى - الجند (?) لواء الفاروق المدرع الثالث - "Wilayat Ninawa - Soldados (?) - Brigada Blindada al-Farouq - 3ª"A segunda parte da Shahada: محمد رسول الله - "Maomé é o profeta de Alá" é vista à direita. Isso às vezes pode ser visto em veículos operados pelo Estado Islâmico e acredita-se que seja aplicado apenas para fins decorativos. Embora o selo seja geralmente aplicado em veículos na forma de um adesivo, às vezes é simplesmente pintado em veículos, como neste M1114 blindado (anteriormente) operado pelo "Batalhão de Assalto".


Embora o Estado Islâmico tenha provado ser mais do que capaz de lidar com blindados na Síria, seu uso de veículos blindados de combate no Iraque deixa muito a desejar. No centro dessa falha em colocar adequadamente os AFV em campo estão as formações blindadas baseadas em Mossul, que aparentemente se sentem tão confortáveis sabendo que cada perda pode simplesmente ser substituída por apenas outro veículo originalmente capturado em Mossul quando a cidade foi invadida, que continua enviando seus AFV contra posições Peshmerga bem fortificadas com pouco efeito. O primeiro exemplo registrado de um ataque em grande escala ocorreu em janeiro de 2015 perto de Shekhan, quando vários AFV M1114, Badger ILAV, um M1117 ASV e DIY assumiram uma posição fortificada Peshmerga antes de serem destruídos. Essa perda não impediu o Estado Islâmico de tentar novamente, pois continuaria a enviar formações blindadas para a linha de frente, resultando no mesmo resultado todas as vezes. Como o Peshmerga mantém o terreno elevado e teve quase dois anos para fortalecer suas posições, é improvável que até mesmo ataques bem coordenados tenham sucesso aqui, especialmente depois que o Peshmerga recebeu mísseis guiados anti-carro (anti-tank guided missiles, ATGM) MILAN entregues pela Alemanha.

Isso nos leva ao ataque retratado no vídeo divulgado pela VICE News, um da série que acabou resultando em grandes perdas para o Estado Islâmico (que sozinho teria incluído a morte de setenta combatentes) e literalmente nenhum ganho obtido. [1] Embora a ofensiva tenha resultado em fracasso, o Estado Islâmico publicou as fotos tiradas antes e durante a ofensiva. Ironicamente, essas imagens foram carregadas apenas depois que o canal de TV Kurdistan24 já havia mostrado as consequências da ofensiva fracassada, incluindo os restos ainda em chamas dos veículos do Estado Islâmico envolvidos. O relatório fotográfico divulgado pelo Estado Islâmico um dia depois mostraria exatamente esses mesmos veículos ainda em bom estado, poucas horas antes do ataque. Pondo de lado o momento ruim, a reportagem fotográfica nos dá uma ótima visão do desenvolvimento do ataque e até revela alguns dos nomes dos combatentes envolvidos.

[1] ''Curdos iraquianos repelem grande ofensiva do ISIS'' link.

A filmagem divulgada pela VICE News começa às 0:46, quando o cinegrafista (Abu Ridhwan) grava as palavras finais de um homem-bomba do "Batalhão Suicida" antes de tentar explodir seu veículo. Ele está acompanhado por dois combatentes mais jovens, que não foram vistos durante o ataque e provavelmente não participaram. Embora a presença de uma câmera insinue que este vídeo seria divulgado pelo departamento de mídia da Wilayat Ninawa se o ataque tivesse sido bem-sucedido, a presença de duas crianças ao lado do homem-bomba deixou uma impressão bastante estranha e provavelmente não teria feito o corte final.


A próxima cena, a partir dos 1:11, mostra o homem-bomba em seu VBIED antes de acelerar para seu alvo. Em uma bizarra despedida de seus camaradas que não se costuma ver na propaganda do Estado Islâmico, ele diz suas últimas palavras a Abu Ridhwan e manda lembranças para sua mãe. Escondido sob a lona plástica está a carga de explosivos. Seu veículo blindado recebeu a série "502", que é uma prática comum com os VBIED do "Batalhão Suicida".

"Não fiquem tristes por mim."

"Envie meus cumprimentos à minha boa mãe."

Acredita-se que o "Batalhão Suicida" utilizou um total de quatro VBIED durante esta ofensiva, outros dois dos quais podem ser vistos abaixo. A monstruosidade à esquerda está claramente marcada como um veículo do "Batalhão Suicida", carregando a série "1000". Este caminhão é muito bem blindado, com painéis grossos instalados na parte frontal e lateral do veículo para proteger suas rodas. Sua carga mortal, também coberta por uma lona plástica, pode ser vista na parte traseira do veículo, que foi "camuflada" pela adição de vários galhos de árvores. O VBIED pintado de preto à direita recebeu blindagem de ripas na frente do veículo, além de blindagem revestida em outros lugares. Quatro faróis foram montados um tanto desajeitadamente na primeira fila da armadura de ripas. De fato, apesar de atacar em plena luz do dia, quase todos os veículos podem ser vistos com faróis, provavelmente porque o movimento para a zona operacional acontece à noite. Uma escavadeira blindada pode ser vista atrás dos dois VBIED, que também apareceriam no ataque.


Em seguida, aos 1:31, é a partida do M1114 blindado de Abu Ridhwan, que foi convertido para manter uma cabine blindada sobre seu corpo original. Esta cabine é grande o suficiente para acomodar três ocupantes, suas armas e munições e uma metralhadora montada em pino. Dois desses veículos convertidos participariam do ataque. Embora o outro veículo possua uma metralhadora pesada chinesa W85 de 12,7mm, o veículo de Abu Ridhwan não está equipado com uma metralhadora pesada, e tem que se virar com uma MG3 alemã de 7,62mm, operada por Abu Hajaar, vista à direita na imagem abaixo. O M1114 de Abu Ridhwan é tripulado por um total de cinco pessoas, incluindo: Khattab (motorista), Abu Hajaar (atirador da MG3), Abu Abdullah (atirador do RPG), Abu Ridhwan (comandante, recarregador e atirador RPK "al-Quds" de 7,62 mm) e Walid (atirador do AKM) ocupando o banco da frente.

Como um painel blindado bloqueia nossa visão dos bancos dianteiros, os rostos de Khattab e Walid não são vistos ao longo do vídeo. Dos três combatentes do Estado Islâmico que ocupam a cabine blindada, apenas Abu Ridhwan parece ter algum tipo de experiência de combate. O desempenho de Abu Hajaar e Abu Abdullah é bastante inexpressivo e, em certo sentido, quase cômico.

- Reze por nós.
- Que Deus (Alá) te aceite.

A nova cabine do M1114 foi bem protegida por sua blindagem de ripas e revestimento de metal adicional combinado com a blindagem original do veículo. Para permitir que a tripulação de cabine de três pessoas se sente durante a viagem para o campo de batalha, a cabine foi coberta com espuma e cintos de segurança foram instalados.



O outro M1114 quase idêntico ao de Abu Ridhwan, mas armado com uma W85 chinesa de 12,7mm. Este veículo não está armado com blindagem de ripa, no entanto, e depende de sua armadura original e do revestimento de metal adicional um tanto peculiar. Um painel de acesso foi esculpido no revestimento de metal na frente do veículo, cuja finalidade é desconhecida.


Às 1:43, a câmera GoPro de Abu Ridhwan registra alguns dos foguetes não-guiados que seriam disparados antes do ataque. A quantidade impressionante de 45 foguetes não-guiados de projeto nativo modelado após o onipresente foguete chinês de 107mm (embora com precisão e poder de destruição menos impressionantes) suplementado por pelo menos um único morteiro de 120mm seria usado para atingir posições Peshmerga.

"Deus é grande, Deus é grande, Deus é grande."


Os 1:52 começam com a marcha do Batalhão de Assalto para a zona de combate. É provável que todos os quatro VBIED já tenham chegado a seus alvos a essa altura, dos quais pelo menos dois foram destruídos antes de atingirem seus alvos. O veículo de Abu Ridhwan está circulado na segunda imagem abaixo.

"Cuidado para não atirar em nossos irmãos [outros combatentes do Estado Islâmico]."


Além dos dois M1114 convertidos, o "Batalhão de Assalto" usou vários outros veículos convertidos nesta batalha, incluindo outro M1114, um US M1117 ASV, um escavadeira blindado equipado com uma cúpula de metralhadora pesada, um gigante blindado com uma cabine blindada e uma cúpula de metralhadora pesada e várias técnicas com várias quantidades de blindagem DIY equipadas com uma variedade de armas diferentes.




O batalhão inicialmente começa a receber fogo às 2:00, quando um tiro de RPG ricocheteia no chão na frente do outro M1114 blindado. Apenas alguns segundos depois, Abu Ridhwan, de forma otimista, começa a enfrentar os Peshmerga entrincheirados com sua metralhadora leve al-Quds de 7,62mm de longe. 
Depois de esvaziar seu primeiro carregador (e tem dificuldade para encontrar um novo), Abu Hajaar começa a atacar o inimigo com sua MG3 de 7,62 mm. É aí que começam a surgir os primeiros problemas para a tripulação. Como os RPGs são projetados para serem operados com a mão direita, Abu Abdullah está do lado direito da cabine blindada, com Abu Hajaar à esquerda e Abu Ridhwan na parte de trás. Embora a MG3 de Abu Hajaar esvazia seus estojos de munição até o fundo, Abu Abdullah reclama de ter sido atingido por essas cápsulas quentes voando pela cabine. Ele tenta avisar Abu Hajaar desse efeito, que só pode ser interrompido se ele parar de disparar a MG3 ou o virar de lado, após o qual ele não pode mais mirar.

"Onde está o meu carregador?"

"Não, não, Abu Hajaar."

À medida que o veículo está se aproximando das posições Peshermerga, Abu Ridhwan e Abu Hajaar começam a se posicionar no lado esquerdo. A MG3 de Abu Hajaar está apoiada em um fino pedaço de metal da frente da cabine, que devido ao bloqueio do bipé desdobrado dá pouco suporte à MG3. Sem surpresa, dado o mau suporte da arma e o mau manuseio de Abu Hajaar, sua MG3 cai do parapeito e começa a disparar no revestimento logo abaixo, fazendo com que as balas voem pela cabine. Abu Ridhwan e Abu Abdullah então começam a gritar "Abu Hajaar" novamente, que continua atirando enquanto isso.


"Incline-se."

É também quando recebemos o primeiro vislumbre do RPG-7 de Abu Abdullah, para o qual ele usou granadas anti-carro PG-7V de 85mm e granadas de fragmentação OG-7V de 40mm para uso contra pessoal. De fato, todos os ocupantes estão extremamente bem armados e equipados, carregando vários carregadores e recargas cada um. Além disso, muitos alimentos e água são armazenados no veículo.


A próxima sequência aos 2:30 mostra o gigante blindado e o outro M1114 blindado que quase foi atingido apenas um minuto antes. Um atirador de RPG fica na cabine blindada do caminhão para mirar seu próximo tiro.


É também quando Abu Abdullah acaba de disparar seu primeiro OG-7V e pede uma recarga, mas esquece de mencionar se ele quer um AP ou uma munição de fragmentação em seguida e então começa a olhar para as posições inimigas novamente. Abu Ridhwan pega aleatoriamente uma munição e a entrega a Abu Abdullah, que não percebe que uma munição está sendo entregue a ele, levando a mais frustração de Abu Ridhwan.

"Um foguete, um foguete."

"Os foguetes para [atirar contra] pessoas ou veículos blindados?"

"Tome, Abu Abdullah."

Abu Abdullah então comete o erro crucial de pedir a Abu Hajaar para cobri-lo enquanto recarrega, o que sem surpresa leva a outro fluxo de cápsulas quentes atingindo Abu Abdullah, que então explode de raiva com Abu Hajaar por não prestar atenção.

"Cubra-me, Abu Hajaar."

"Abu Hajaar!"

"Cuidado!"

"Os estojos das balas estão nos atingindo!"

Sentindo o perigo iminente de Abu Abdullah disparando uma granada de RPG, Abu Ridhwan o avisa para tomar cuidado, seguido por uma instrução para mudar sua posição para não permitir que a contra-explosão voe para o pequeno compartimento. Embora ele mude de posição, o ajuste não é suficiente e a contra-explosão subsequente danifica a câmera de Abu Ridhwan.

"Tome cuidado, Abu Abdullah."

"Segure firme."


"Bom trabalho, mas você também nos torrou."

A próxima sequência mostra um dos outros M1114 blindados tendo sido atingido, desativado e incendiado, Abu Hajaar continua atirando em direção às posições inimigas e consegue atirar na cabine pela segunda vez.


"Qual é o seu problema, Abu Hajaar?"

Um Zavasta M70 especialmente modificado é então usado para disparar granadas de fuzil em direção às posições Peshermerga à medida que a tripulação se aproxima de sua posição entrincheirada. As duas primeiras granadas de fuzil são consideradas muito apertadas por Abu Abdullah, resultado de seu desenho grosseiro de bricolagem, e enquanto a terceira se encaixa mais facilmente, o fusível lento não acende. No final, Abu Ridhwan tenta acendê-lo novamente, mas parece duvidoso que a granada de fuzil tenha funcionado corretamente.


"Em nome de Deus."

No tema do dia 16 de dezembro claramente não sendo o dia de Abu Hajaar, ele quase é atingido pela granada de fuzil de Abu Ridhwan quando ele a dispara em direção aos Peshmerga.

"O que você está fazendo, Abu Hajaar?"


Abu Ridhwan e Abu Abdullah têm dificuldade em concordar sobre qual munição de RPG usar, com Abu Abdullah insistindo que precisa de uma munição de fragmentação. Abu Ridhwan então lhe dá uma munição AC, que ele tenta lançar com a tampa de segurança ainda colocada. Enquanto isso, o veículo parou de dirigir (possivelmente porque Khattab, o motorista, foi baleado), tornando-se um alvo fácil para as forças Peshmerga.

"Abu Ridhwan, eu preciso de um foguete para [atirar contra] pessoas."

"Retire a tampa de segurança do foguete."

De fato, antes de ter a chance de disparar seu RPG, o veículo é atingido por (presumivelmente) um outro RPG, e se o motorista ainda estava vivo até este ponto, momentos depois ele certamente não está. Ao escapar do veículo pela retaguarda, uma quarta pessoa pode ser vista deitada no chão, provavelmente Walid, que estava sentado ao lado de Khattab. Abu Ridhwan continua atirando nos Peshmerga com sua metralhadora leve al-Quds, escondendo-se atrás do agora desativado M1114.


"Me dê meu saco, onde está meu saco?"

"Khattab [o motorista] morreu."


Segue-se uma retirada desorganizada. Enquanto Abu Abdullah e Abu Hajaar atravessam os campos abertos rolando de lado pela terra para manterem um perfil baixo, Abu Ridhwan corre e é baleado depois de parar por um momento. Os quatro combatentes restantes tentam devolver o fogo por um tempo, e Abu Abdullah é visto correndo de volta para o M1114 enquanto atirava aleatoriamente em um último esforço suicida para fazer algo da situação. Abu Ridhwan e Abu Hajaar continuam recuando (desta vez adotando a rolagem lateral empregada por seus companheiros combatentes), mas são mortos mesmo assim.

"Fui atingido."


A filmagem feita pelo Kurdistan24 mostra as consequências do ataque, incluindo grande parte dos blindados destruídos depois de terem sido rebocados para mais perto das posições Peshmerga por uma escavadeira blindada. O primeiro é um dos VBIED, que foi desativado antes de poder detonar sua carga mortal.


Mais interessante, porém, é o veículo estacionado atrás deste VBIED, já que este M1114 blindado era de fato o veículo de Abu Hajaar.





Também visto novamente é a escavadeira blindado, que aparentemente ficou presa na vala que teria impedido os veículos do Estado Islâmico de chegarem às posições Peshmerga em primeiro lugar. A cabine blindada da escavadeira parece ter sido atingida, após o que o veículo ficou inoperante ou simplesmente abandonado por seus operadores.



Embora não tenha sido visto durante o ataque em si, os restos de um Veículo Blindado de Segurança (Armoured Security VehicleASV) M1117 americano também podem ser vistos. Este veículo, armado com um único lança-granadas Mk.19 de 40mm e metralhadora pesada M2 Browning de 12,7mm, foi completamente destruído pelo fogo Peshmerga ou talvez por um ataque aéreo, rasgando a couraça e deixando pouco mais que uma carcaça para trás. Os restos de outro veículo não-identificado podem ser vistos pouco depois.




Outro gigante baseado num caminhão usado durante o ataque (visível no vídeo da VICE aos 2:31) pode ser visto abaixo, carregando o número de série "201" e o selo do "Batalhão de Assalto". Observe as escadas montadas na lateral do veículo, provavelmente lá para escalar as trincheiras ou escalar posições Peshmerga fortificadas.





No final, o ataque pinta uma imagem clara do resultado que qualquer ofensiva mal planejada contra um adversário entrincheirado alcançará. Nenhuma quantidade de monstruosidades DIY ou VBIED compensará essa desvantagem estratégica, e o tropeço e a cambalhota dos inexperientes combatentes do Estado Islâmico antes de sua morte inevitável deve ser um sinal claro de que essas táticas pouco farão.