sábado, 1 de fevereiro de 2020

FOTO: Gambiarra síria

Novo jeito de mantar lagartas.

FOTO: Tipo 59-II-A na repressão da Praça da Paz Celestial

Tipo 59-II-A da 1ª Divisão de Carros de Combate chinesa, 1989.

A 1ª Divisão de Carros de Combate do Exército de Libertação Popular chinês pertencia ao 38º Grupo de Exércitos sob o comando do Major-General Xu Qinxian, que se recusou a suprimir as manifestações de estudantes. Ele foi mandado para a corte marcial, sentenciado a 5 anos de prisão e expulso do partido comunista chinês.

GALERIA: Comandos femininas na Guarda Presidencial Palestina


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 1º de Fevereiro de 2020.

Em 2014, a Autoridade Nacional Palestina governada por Mahmoud Abbas decidiu incorporar 22 mulheres comandos na Guarda Presidencial Palestina, uma força de elite da Polícia Nacional Palestina composta então de 2.600 homens (depois expandida para cerca de 3 mil). 

Sua inclusão é o resultado de mudanças graduais na Cisjordânia nos últimos anos. Algumas barreiras de gênero caíram, com algumas mulheres assumindo cargos como prefeitas, juízes e ministras do Gabinete Governamental ou iniciando seus próprios negócios. Ao mesmo tempo, o desemprego está aumentando e as famílias estão mais abertas para as mulheres entrarem em empregos não tradicionais, se isso significar outro salário.

As mulheres representam apenas 3% dos 30.000 membros da polícia palestina e de outras agências de segurança na Cisjordânia, mas anunciaram na época que havia um esforço para recrutar mais mulheres, segundo o Brigadeiro Rashideh Mughrabi, então responsável pelas questões de gênero nas Forças de Segurança Nacional palestinas.

Emblema da Guarda Presidencial Palestina.

As recrutas dessa primeira turma da Guarda Presidencial foram escolhidas na turma de formandos da Universidade da Independência do ano de 2013, uma academia de polícia com duração de quatro anos em Jericó.

A graduada Kurum Saad, respondendo a um repórter do Haaretz na época, disse que o apelo foi imediato. Como policial feminina, seu papel tradicional teria sido na administração, mas ela queria aventura. "Eu não queria sentar em um escritório", disse a jovem de 23 anos. "Desde pequena, adorava o tiro e praticar esportes."

Seis mulheres, incluindo Saad, desceram de rapel a torre de seis andares em pares na apresentação da criação da unidade, no domingo dia 6 de abril de 2014. Saad disse destacar-se no tiro ao alvo, mas que há meses tinha medo de altura; superando esse medo durante o treinamento na Jordânia com os comandos locais. Na apresentação, ela rapidamente desceu, sorrindo enquanto tocava o chão.

Saad e os outros membros de seu grupo vestiram botas de combate pretas, uniformes de camuflagem e vestiram lenços pretos como máscaras para mostrar aos jornalistas o que elas aprenderam em seu treinamento especial. Várias mulheres, incluindo não-nadadoras, foram convidadas a saltar em uma piscina como uma demonstração de coragem. Elas mergulharam em uniforme completo, incluindo botas; uma teve de ser retirada por um salva-vidas.

Saad disse que gosta de seu papel de abrir portas para outras mulheres. Seu pai tem orgulho dela e sua irmã mais nova está ansiosa para se juntar aos guardas, disse ela.


Todas, exceto duas mulheres, incluindo Saad, usavam lenços pretos, refletindo uma tendência crescente entre as mulheres palestinas de cobrirem os cabelos por causa da tradição, observância religiosa muçulmana ou pressão social.

Elas responderam a anúncios anunciando que os guardas queriam recrutas mulheres, mas enfrentaram um processo de seleção difícil, com apenas algumas dúzias das mais altas e mais fisicamente aptas sendo escolhidas.

Um dos grandes atrativos paras as novas guardas era a atração de viagens e aventuras. Pouco depois da sua formação, elas preencheram os pedidos de visto europeu para uma sessão de treinamento na Itália. Enquanto isso, treinadores italianos e franceses vieram para o Centro de Treinamento Geral, em Jericó, para ensiná-las direção defensiva e ofensiva, e mais habilidades de proteção pessoal.

A Guarda Presidencial tem por função principal de proteção pessoal, inclusive de dignitários visitantes, mas também é treinada para missões contra-terroristas. As guardas são recrutadas apenas na Cisjordânia. Na Faixa de Gaza, que não está sob o controle de Abbas e é governada pelo grupo militante islâmico Hamas, cerca de 400 mulheres servem nas forças de segurança, que contam com 16 mil homens. Elas passam por algum treinamento, inclusive em artes marciais, mas trabalham principalmente em trabalhos administrativos, inclusive como policiais de controle de fronteiras e uma unidade anti-drogas.

Reportagem sobre as comandos em 2015


A Batalha de Gaza

Durante o ano de 2007, o Fatah e o Hamas, dois dos principais partidos políticos da Palestina, entraram em confronto pelo controle de Gaza. O Fatah com as Forças de Segurança Palestinas enfrentando as forças paramilitares do Hamas, a "Força Executiva", no norte de Gaza. 

Durante a Batalha de Gaza, no dia 10 de junho de 2007, militantes do Hamas apreenderam vários membros do Fatah e jogaram um deles, Mohammed Sweirki, um oficial da Guarda Presidencial Palestina, do alto do edifício mais alto de Gaza - um prédio de 15 andares. Em retaliação, militantes do Fatah atacaram e mataram o imã da Grande Mesquita de Gaza, Mohammed al-Rifati. Pouco antes da meia-noite, um militante do Hamas foi jogado de um prédio de 12 andares.

Em 11 de junho, as residências de Mahmoud Abbas, líder do Fatah e presidente da Autoridade Nacional Palestina, e do então primeiro-ministro Ismail Haniya, do Hamas, foram atingidas por armas de fogo e morteiros. 


As hostilidades continuaram até 15 de junho, com 120 militantes mortos em ambos os lados, 2 funcionários da ONU e 39 civis.

Com a dissolução do governo de unidade liderado pelo Hamas, o território controlado pela Autoridade Palestina foi de fato dividido em duas entidades: o governo da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, e a Cisjordânia, governada pela Autoridade Nacional Palestina de Abbas.

Instrutores Estrangeiros

A inclusão de mulheres na Guarda Presidencial e a contratação de instrutores estrangeiros da Itália fez parte do esforço da Autoridade Nacional Palestina de fortalecer suas forças de segurança. Desde 19 de março de 2014, há uma missão de treinamento dos Carabinieri italianos junto à Polícia Nacional Palestina, se comunicando em inglês.

Instrutores carabinieri.


Galeria das mulheres comandos



















Bibliografia recomendada:

Arabs at War:
Military Effectiveness, 1948-1991.
Kenneth M. Pollack.

Leitura recomendada:



FOTO: Snipers irlandeses em manobras

Atirador e observador do Ranger Wing (Ala Ranger) irlandês em manobras.

COMENTÁRIO: Putin como Líder Supremo da Rússia


Por Éder Fonseca, 1º de fevereiro de 2020.

Ao final de seu atual mandato, em 2024, Vladimir Putin terá somado vinte e quatro anos no comando da Rússia, só perdendo para Josef Stálin em quantidade de tempo no liderança deste país.

Hoje, sua popularidade é superior a 50% do eleitorado russo, e isso não segundo alguma pesquisa de confiabilidade duvidosa, mas de pesquisadores ocidentais ligados ao mercado financeiro (Bloomberg).

É muita coisa, sobretudo considerando os 20 anos do mandatário em serviço. Em qualquer país ocidental, por melhor que fosse o seu desempenho, tal resiliência seria inimaginável.


O que explica esse fenômeno aparentemente estranho é o ethos nacional russo, que é o de um império secular personificado na figura de um líder forte, capaz de manter aquela colcha de retalhos étnica coesa.

Os russos sempre estarão à procura de um Czar, e nem a revolução bolchevique foi capaz de quebrar essa lógica, porque quebrar tal lógica equivaleria a destruir sua 'raison d'être'*. O Czar é a Rússia e a Rússia é o Czar, não importando se este é descendente de uma linhagem nobre, um líder soviético ou um presidente constitucional.

*Nota do Warfare: Razão de ser, o seu propósito mais importante.


A mentalidade liberal-democrata atualmente hegemônica no ocidente é incapaz de realizar tais aspectos constitutivos de uma Nação. É uma ideologia internacionalista por natureza, que tende ao desdém da cosmovisão dos povos, sua religião predominante, sua composição étnica, etc.

Tal desdém encontra-se personificado na atuação das entidades supra-nacionais, mormente a ONU, sempre partindo do princípio de que a 'democracia liberal' é o melhor modelo de governo, aplicável a todos os povos em quaisquer circunstâncias. Um valor absoluto, incriticável.

Se há algo no mundo que merece ser chamado de imperialismo hoje, é isso. E as consequências dessa abordagem são em muitos casos desastrosas, basta ver no que resultou a tal 'Primavera Árabe'.

Fuzileiros navais russos na Criméia, ponto alto da popularidade de Putin.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

FOTO: Monstros da floresta

Soldados suecos em camuflagem florestal M90.

FOTO: Shermans soviéticos do 6º de Guardas

Um par de carros de combate Sherman M4A2(76) e uma peça de assalto SU-100 do 6º Exército de Tanques de Guardas, em Viena, março de 1945.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 31 de janeiro de 2020.

O 6º Exército de Tanques de Guardas (6-ya Gvardeyskaya Tankovaya Armiya, chamado 6º de Guardas) foi uma unidade de elite soviética formada após a invasão do Eixo, e era uma unidade de elite (como denota o título Guardas) equipada com material soviético, britânico e americano: T-34, Matilda e M4 Sherman. Seu comandante foi o Tenente-General do Corpo de Tanques (depois Coronel-General) Andrei Kravchenko, um especialista em guerra blindada, veterano de Moscou e Stalingrado, e duas vezes Herói da União Soviética.

Inicialmente comandando o 5º Corpo Mecanizado e o 5º Corpo de Tanques de Guardas, o 6º Exército de Tanques teve a sua primeira grande operação na supressão do Bolsão de Korsun-Cherkassy, na região do Dnieper e Cárpatos, em janeiro e fevereiro de 1944. Foi então engajado na Ofensiva de Iassy-Kishinev em agosto de 1944, conquistando o título de Guardas em setembro de 1944.

Sob este novo título, o 6º de Guardas foi engajado na Batalha de Debrechen, como parte da 2ª Frente Ucraniana sob o comando do Marechal Rodion Yakovlevich Malinovsky, que, de 6 a 29 de outubro de 1944, se opôs ao 6º Exército Alemão (2ª formação) comandado pelo General Maximilian Fretter-Pico e ao 3º Exército Húngaro do General József Heszlényi (condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro em 28 de outubro de 1944); formados no Grupo de Exércitos Sul da Hungria Oriental, chamado Armeegruppe Fretter-Pico. O General Maximilian era o irmão mais velho do General Otto Fretter-Pico, que se rendeu à Força Expedicionária Brasileira na Itália.

M4 Sherman do 6º de Guardas na Áustria.

Após encarniçados combates, Budapeste caiu sob cerco em 29 de dezembro de 1944, resistindo até 13 de fevereiro de 1945. O 6ª de Guardas foi então empenhada na Operação Despertar de Primavera (Unternehmen Frühlingserwachen) no Lago Balaton, manobrando em abril de 1945 e isolando Viena do resto do Reich. Uma de suas unidades subordinadas, o 2º Corpo Mecanizado de Guardas, terminou suas operações em Benešov, na Tchecoslováquia, em 9 de maio de 1945.

O 6º de Guardas foi então transportado para o Distrito Militar Transbaikal, na fronteira com a China, para tomar parte na Operação de Ofensiva Estratégica da Manchúria. O agora Coronel-General Andrei Kravchenko comandou o seu 6º Exército de Tanques de Guardas como a ponta-de-lança da Frente Transbaikal contra o Exército Japonês de Kwantung em 9 de agosto de 1945.

O 6º Exército de Tanques de Guardas consistia no 5º Corpo de Tanques de Guardas e nos 7º e 9º Corpos Mecanizado de Guardas, apoiados por muitas formações menores, ao todo, num total de 1.019 tanques e canhões autopropulsados. Para esta operação, o exército de tanques foi reestruturado de modo que a infantaria, artilharia e componentes blindados estivessem muito mais equilibrados do que tinham sido durante a guerra contra os alemães. Este foi o primeiro exemplo do que provou ser a organização militar mecanizada soviética padrão durante a Guerra Fria.


Participando da Operação Khingano-Mukden, o 6º de Guardas teve a missão de avançar impressionantes 800km.

Passando 15 anos na Mongólia, o 6º de Guardas foi transferido para o Distrito Militar de Kiev, o mais importante distrito militar soviético, onde permaneceu como unidade de elite até o fim da União Soviética em 1991; quando foi transferido para o exército ucraniano. O agora 6º Corpo de Exércitos ucraniano serviu de 1993 até 2013, quando foi dissolvido e seus elementos colocados sob o atual Comando de Operações Sul.

Bibliografia recomendada:

Soviet Lend-Lease Tanks of World War II,
Steven J. Zaloga.

Os Fuzileiros Navais na Revolução de 1924

Manobra do Batalhão Naval, 1928.

Pelo Tenente FN Artilheiro (AT) Manoel Caetano da Silva, 1961.

Transcrição Filipe do A. Monteiro, 14 de outubro de 2015.

A linguagem da época foi mantida.

A revolução de 1924 no Estado de São Paulo, foi um acontecimento de muita gravidade, que preocupou sèriamente a Nação, e levou o Brasil a temer pela sorte do grande Estado. O que mais depôs contra os paulistas naquela eventualidade, e que contribuiu para que a revolução fôsse debelada mais depressa, foi a notícia que se espalhou por todo o País, que, o que eles queriam, era separarem-se do Brasil.

São Paulo, que todos dizem e reconhecem ser uma nação, pela pujança do seu progresso admirável e pelo idealismo e valor dos seus filhos, desejaria ser, realmente, independente? Não cremos que fôsse êsse o pensamento que norteava as idéias do seu povo, e que levava-o à luta. Os paulistas não eram ingênuos, sabiam da impossibilidade de realizarem tão incomum quão impatriótico propósito, e mesmo que alimentassem essa aspiração para a sua terra, o Brasil não permitiria que a levassem a efeito.

Artilharia do Batalhão Naval durante manobras na então longínqua Barra da Tijuca, 1928.

Artilharia do Batalhão Naval durante manobras na então longínqua Barra da Tijuca, 1928.

Artilharia do Batalhão Naval durante manobras na então longínqua Barra da Tijuca, 1928.

A Fôrça Pública de São Paulo, numerosa, bem treinada e bem armada, que Ruy Barbosa dissera, ao vê-la em manobras, ser um exército, encarnava a esperança de vitória daquele povo que recorria às armas não por suas ambições de grandeza, mas buscava nas trincheiras soluções para problemas de ordem social, econômico e político, que, conforme admitiam os seus líderes, o govêrno da República descurava ou não tinha pressa em resolvê-los.

Foi uma luta fratricida que durou poucos dias. A Fôrça Pública, coadjuvada por fracos elementos militares, bateu-se valentemente com fôrças regulares que tinham a apoiá-las o resto da Nação.

A derrota chegou depressa e era inevitável, porque São Paulo não lutava por nenhum ideal conspícuo que merecesse a ajuda dos seus irmãos. A Fôrça Pública batia-se por uma causa que significava agredir o Brasil e não defender São Paulo que não estava sendo acometido por nenhum inimigo.

Um contingente de fuzileiros navais, pequeno mas capaz, seguiu para São Paulo a fim de ajudar as fôrças legalistas na sua ação contra os revoltosos em armas. Era uma fôrça mista, que compreendia as armas de artilharia e infantaria, e não ultrapassava uma companhia.

O Encouraçado Minas Gerais transportou os fuzileiros até o pôrto de Santos onde desembarcaram incorporados a grande número de marinheiros do navio. Era Comandante da Fôrça da Marinha o Capitão-de-Fragata Anatoqles, Imediato do Minas Gerais.

Os fuzileiros seguiram de trem para o teatro da luta onde iriam demonstrar as superiores qualidades militares que foram apanágios dos seus antepassados, e fariam dêles os modernos representantes de uma estirpe de bravos que se confirmaria e haveria de multiplicar-se através dos tempos.

Renault FT-17 e tanquistas da Companhia de Carros de Assalto do Exército Brasileiro em uma avenida paulista durante os combates, 1924.

- (Não poderemos narrar convenientemente o que foi aquela epopéia porque não dispomos de elementos suficientes. Alguns fuzileiros dos que tomaram parte na mesma, junto aos quais buscamos informes, pouco nos adiantaram. Alegaram êles que já haviam se esquecido de quase tudo. Não tiveram a preocupação de tomar notas porque jamais pensariam que os seus apontamentos poderiam ser publicados).

Os Oficiais da Armada que auxiliaram o Comandante Anatoqles na direção da Fôrça da Marinha, são hoje, todos, altos dignatários da Armada. Foram êles: (salvo êrro ou omissão) Capitão-Tenente Nelson Noronha de Carvalho, Comandante da artilharia dos fuzileiros, e Sub-Chefe Tenente Suzano. Já no fim da campanha o Capitão Noronha foi substituído pelo Capitão-Tenente Helvécio Coelho Rodrigues. Porta-Bandeira da Fôrça da Marinha, Tenente Paraguaçu. Comandante do contingente de marinheiros, Tenente Lauro de Araújo.

Rebelde paulista com fuzil-metralhador Madsen no bairro do Cambuci, 1924.

Partindo de Santos, o comboio chegou a São Bernardo à noite, onde fez uma pequena parada. Desta estação continuou viagem para o Ipiranga alcançando esta cidade pela madrugada. Os fuzileiros desembarcaram a sua artilharia. Patrulhas avançadas de reconhecimento constituídas de marinheiros entraram em ação, e tomaram contato com o inimigo. Seguiu-se um tiroteio terrível no qual diversos marinheiros foram feridos. Depois dêste choque inicial, encetou a Fôrça da Marinha uma marcha penosa em demanda do centro da capital paulista. Os canhões dos fuzileiros dificultavam a marcha, porque rodavam em terreno desconhecido, à noite, e eram importunados pelos revoltosos. Ao ralar do dia, haviam atingido um ponto perto dos Campos Elíseos; dirigiram-se para lá e ocuparam um prédio próximo ao palácio do govêrno. No referido prédio estabeleceram o Q.G. da Fôrça da Marinha. O Capitão Nascimento dispôs a artilharia ao sopé de um morro que havia nas proximidades e abriu fogo contra objetivos considerados importantes, como entroncamentos e estações ferroviárias, quartéis e pontos de concentração de revoltosos. Um pouco distante do local onde estava colocada a artilharia dos fuzileiros, havia um quartel que parecia abandonado; dêste quartel abriram fogo com metralhadoras pesadas contra os fuzileiros; êles viraram as bôcas dos seus canhões para lá, e em poucos minutos silenciaram as metralhadoras e arrasaram o quartel. Alguns fuzileiros saíram feridos da refrega.

Os canhões de campanha dos fuzileiros, os formidáveis 75 m/m Armstrong, em 1924 eram dos melhores que existiam. Os shrapnell, granadas que usavam carregadas com balins, eram próprias para serem atiradas contra pessoal, e o efeito era devastador.

General Isidoro Dias Lopes,
comandante dos rebelados, 1924.

Depois da luta que se travou nas proximidades do palácio do govêrno, o Capitão Noronha foi substituído no comando da artilharia dos fuzileiros pelo Capitão Helvécio Coelho.

Os canhões dos fuzileiros atiraram muito, atiraram talvez demais, tanto que alguns deles dêles ficaram pràticamente imprestáveis.

Durante todo o desenrolar das operações militares, os fuzileiros ao lado dos marinheiros demonstraram espírito de luta, coragem e desprendimento. Morreram marinheiros e fuzileiros.

Os Oficiais da Armada, que comandaram a Fôrça da Marinha o fizeram com precisão admirável e acêrto absoluto.

Nos combates que travaram com os revolucionários, foram feridos gravemente os soldados José Benício Alves, Heliodoro José dos Santos e José Bezerra Sobrinho, que obtiveram promoção a Cabo. O primeiro é hoje Vice-Almirante (CFN) da R. Rm., o segundo morreu como 1º Tenente da R. Rm. e o terceiro deu baixa. Todos pertenciam à Sexta Companhia, de Artilharia.

Dois soldados morreram; dois outros desapareceram sem que jamais se soubesse que fim tiveram e um dêstes era corneteiro, tinha o apelido de "Porão".

- Tenente Fuzileiro Naval AT Manoel Caetano da SilvaHistórias de Fuzileiros Navais Brasileiros, 1961, pg. 87-89.

Histórias de Fuzileiros Navais Brasileiros.
Ten (FN) AT Manoel Caetano da Silva, 1961.

Imagem do antigo CR na contra-capa do livro.

O jovem Góes Monteiro em Catanduvas

Seção de metralhadoras Hotchkiss do capitão Clementino Vieira, tropas legalistas, frente à Coluna Miguel Costa em Catanduvas, no Paraná, 1924.

Extrato do livro "O General Góes depõe...", transcrição por Filipe do A. Monteiro em 9 de julho de 2020; a linguagem da época foi mantida:

"Afinal, as tropas do destacamento Mariante se internaram na densa floresta, abrindo picadas a facão. A alimentação era das piores, e os soldados baianos, por exemplo, comiam rapadura com farinha. Ao amanhecer do dia seguinte, as tropas destinadas a fazer o esfôrço principal tinham alcançado a estrada de Foz do Iguaçu, interceptando as comunicações entre os defensores de Catanduva e o núcleo rebelde de Salto, comandado por Miguel Costa. Na frente do destacamento Almada, depois do primeiro arranco sôbre Catanduva, as tropas legais se detivera e chegaram a recuar, o que causou grande desapontamento ao General Azeredo Coutinho. Fez êste, então, um apêlo ao Coronel Mariante para impulsionar suas tropas no sentido de remover o “impasse”. Atendendo-o, o Coronel Mariante ordenou que eu fôsse, pessoalmente, dirigir o ataque das quatro principais unidades encarregadas de assaltar a posição de Catanduva pelas costas. Segui imediatamente com uma pequena escolta, através de uma picada de 18 quilômetros, atravessando mato muito espesso, e, ao chegar à estrada, sem perda de tempo, tomei as providências que a situação exigia, incumbindo um dos batalhões de atacar Catanduva pela retaguarda, enquanto outro enfrentaria as fôrças de Miguel Costas, diante de Salto, e um terceiro faria a cobertura dêsses ataques, vigiando as principais picadas dentro da floresta. Um quarto batalhão estava marchando ainda dentro de uma das picadas e iria ficar como reserva. Não havia comunicações telefônicas, substituidas por ligações de estafetas. E assim findou o terceiro dia das operações, sem que eu tivesse qualquer notícia do resultado dos ataques. Caiu a noite e eu alojei-me junto às tropas de reserva, dentro de um pequeno bosque, onde, com surprêsa, começaram a descer balas de fuzil, de metralhadora e alguns tiros de canhão. Tôda a tropa se abrigou nas trincheiras de proteção, porém eu estava redigindo um comunicado para remeter, na manhã do dia seguinte, ao Coronel Mariante, e não quís abrigar-me. Lembro-me que tive de interromper o que estava escrevendo para intercalar uma frase jactanciosa, mais ou menos nos seguintes têrmos: “Neste momento, estão atirando sôbre o meu pôsto de comando; todos no buraco, menos eu...” Mal acabava de escrever êsse quixotismo, dois  soldados negros, corpulentos, de fôrça hercúlea, me agarraram e me conduziram para dentro de uma trincheira. Não opús qualquer resistência e alí fiquei no meio dos soldados, refletindo mais uma vez sôbre a fragilidade das coisas humanas..."

Góes Monteiro e Lourival CoutinhoO General Góes Depõem..., 1955, pg. 20-21.

General Góes Monteiro.
(FGV)


Bibliografia recomendada:

Soldados da Pátria:
História do Exército Brasileiro 1889-1937.
Frank McCann, 2007
.

A Evolução Militar do Brasil.
J. B. Magalhães, 1957.

Soldados Salvadores.
Henry Hunt Keith, 1967.

Leitura recomendada: