sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

O jovem Góes Monteiro em Catanduvas

Seção de metralhadoras Hotchkiss do capitão Clementino Vieira, tropas legalistas, frente à Coluna Miguel Costa em Catanduvas, no Paraná, 1924.

Extrato do livro "O General Góes depõe...", transcrição por Filipe do A. Monteiro em 9 de julho de 2020; a linguagem da época foi mantida:

"Afinal, as tropas do destacamento Mariante se internaram na densa floresta, abrindo picadas a facão. A alimentação era das piores, e os soldados baianos, por exemplo, comiam rapadura com farinha. Ao amanhecer do dia seguinte, as tropas destinadas a fazer o esfôrço principal tinham alcançado a estrada de Foz do Iguaçu, interceptando as comunicações entre os defensores de Catanduva e o núcleo rebelde de Salto, comandado por Miguel Costa. Na frente do destacamento Almada, depois do primeiro arranco sôbre Catanduva, as tropas legais se detivera e chegaram a recuar, o que causou grande desapontamento ao General Azeredo Coutinho. Fez êste, então, um apêlo ao Coronel Mariante para impulsionar suas tropas no sentido de remover o “impasse”. Atendendo-o, o Coronel Mariante ordenou que eu fôsse, pessoalmente, dirigir o ataque das quatro principais unidades encarregadas de assaltar a posição de Catanduva pelas costas. Segui imediatamente com uma pequena escolta, através de uma picada de 18 quilômetros, atravessando mato muito espesso, e, ao chegar à estrada, sem perda de tempo, tomei as providências que a situação exigia, incumbindo um dos batalhões de atacar Catanduva pela retaguarda, enquanto outro enfrentaria as fôrças de Miguel Costas, diante de Salto, e um terceiro faria a cobertura dêsses ataques, vigiando as principais picadas dentro da floresta. Um quarto batalhão estava marchando ainda dentro de uma das picadas e iria ficar como reserva. Não havia comunicações telefônicas, substituidas por ligações de estafetas. E assim findou o terceiro dia das operações, sem que eu tivesse qualquer notícia do resultado dos ataques. Caiu a noite e eu alojei-me junto às tropas de reserva, dentro de um pequeno bosque, onde, com surprêsa, começaram a descer balas de fuzil, de metralhadora e alguns tiros de canhão. Tôda a tropa se abrigou nas trincheiras de proteção, porém eu estava redigindo um comunicado para remeter, na manhã do dia seguinte, ao Coronel Mariante, e não quís abrigar-me. Lembro-me que tive de interromper o que estava escrevendo para intercalar uma frase jactanciosa, mais ou menos nos seguintes têrmos: “Neste momento, estão atirando sôbre o meu pôsto de comando; todos no buraco, menos eu...” Mal acabava de escrever êsse quixotismo, dois  soldados negros, corpulentos, de fôrça hercúlea, me agarraram e me conduziram para dentro de uma trincheira. Não opús qualquer resistência e alí fiquei no meio dos soldados, refletindo mais uma vez sôbre a fragilidade das coisas humanas..."

Góes Monteiro e Lourival CoutinhoO General Góes Depõem..., 1955, pg. 20-21.

General Góes Monteiro.
(FGV)


Bibliografia recomendada:

Soldados da Pátria:
História do Exército Brasileiro 1889-1937.
Frank McCann, 2007
.

A Evolução Militar do Brasil.
J. B. Magalhães, 1957.

Soldados Salvadores.
Henry Hunt Keith, 1967.

Leitura recomendada:

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