quarta-feira, 1 de julho de 2020

Os Royal Marines Commandos estão recebendo um uniforme novo

Os Reais Fuzileiros Navais terão um novo uniforme como parte do desenvolvimento Future Commando Force.

Por Xavier Vavasseur, Naval News, 27 de junho de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 1º de julho de 2020.

Os Reais Fuzileiros Navais Comandos (Royal Marines Commandos) devem obter um uniforme novo sob o programa de transformação e re-imagem mais significativo lançado desde a Segunda Guerra Mundial.

Comunicado de imprensa da Marinha Real.


Os comandos de elite da Marinha Real estão realizando um ousado projeto de modernização - conhecido como o programa Future Commando Force (Força Comando do Futuro) - que revisará a maneira como os mundialmente famosos Boinas Verdes operam em todo o mundo.

Como parte dessa reestruturação, os fuzileiros navais reais terão um novo uniforme, adequado para uma nova era de guerra, que está de acordo com as tradições marítimas do corpo e também homenageia seus ancestrais comandos.

O uniforme adquirido através da OTAN - o qual foi adquirido da empresa americana Crye Precision - é mais leve, tem maior resistência ao rasgo, secagem mais rápida e mais respirável do que o típico kit 50/50 algodão/nylon.

Ele também possui uma mudança sutil no desenho da camuflagem - em vez do padrão anterior de vários terrenos - o uniforme agora usa o padrão MultiCam da Crye Precision.

O flash com escrita vermelha e fundo azul marinho será usado mais uma vez, à medida que os comandos evoluírem para realizarem mais incursões partindo do mar, desdobrados persistentemente para combater as ameaças do campo de batalha moderno.

Pela primeira vez, o White Ensign (o Pavilhão de Saint-George, a bandeira da Marinha Real) aparece em uma manga, como uma indicação clara da integração dos fuzileiros navais com a Marinha Real.


O icônico brevê com a Adaga Fairbairn-Sykes da 3ª Brigada Comando dos Reais Fuzileiros Navais (3 Commando Brigade Royal Marines) foi redesenhado e baseia-se no primeiro padrão da lendária faca de combate fabricada em 1940.

"Os Reais Fuzileiros Navais (Royal Marines, RM) são parte integrante da Marinha Real e uma força de elite extremamente versátil, capaz de operar desde montanhas e do Ártico desolado até selvas e litorais. O Royal Marines’ Commando Uniform 2020 (Uniforme Comando dos Reais Fuzileiros Navais 2020) reflete nossa distinção e as capacidades únicas que trazemos para a defesa, além da ânsia da Marinha Real de investir em nosso desenvolvimento para a Future Commando Force. Os benefícios práticos desse uniforme não devem ser subestimados. Foi especificamente selecionado para servir comandos à medida que realizam operações em todo o mundo nos ambientes mais extremos. Os fuzileiros já estão recebendo a nova camisa e calça de combate, camisa e calça de campanha, uma jaqueta e cinto de utilidades e começarão a usar o novo uniforme a partir deste outono."

- Tenente-Coronel Ben Reynolds RM, que liderou a aquisição e o desenho do novo uniforme.

O novo uniforme - que remonta à lendária herança dos comandos enquanto moderniza seus equipamentos - faz parte de uma investida transformacional mais ampla que mudará a maneira como os reais fuzileiros navais operam.

Sob o programa Future Commando Force, mais reais fuzileiros navais operarão a partir do mar, utilizando tecnologia nova e inovadora como tropas de alta prontidão, desdobradas de forma avançada e prontas para reagir, seja na guerra, em missões específicas de combate, tais como incursões comando ou fornecendo assistência humanitária.

O ministro das Forças Armadas, James Heappey, disse: “Os reais fuzileiros navais exigem um uniforme no qual possam confiar nos ambientes mais hostis do mundo. Este kit robusto, respirável e leve garantirá que nossos comandos continuem em boa forma e capazes de lidar com toda a gama de ameaças que dependemos deles para enfrentar.

“É justo que no 80º aniversário da primeira incursão comando da Segunda Guerra Mundial, este uniforme tenha agora a insígnia tradicional dos Reais Fuzileiros Navais Comandos. Um vínculo pungente com sua história à medida que a força comando embarca em um programa de modernização que os manterá em seu lugar como a melhor força anfíbia do mundo."

O Royal Marines’ Commando Uniform 2020 foi adquirido em pouco mais de um ano, utilizando a Agência de Suporte e Compras da OTAN, demonstrando o apetite da Marinha Real em investir nos Reais Fuzileiros Navais.

Bibliografia recomendada:

Royal Marine Commando 1950-82:
From Korea to the Falklands.
Will Fowler.

Fairbairn-Sykes Commando Dagger.
Leroy Thompson.

Leitura recomendada:

GALERIA: Os novos Leopard 2PL poloneses


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 1º de julho de 2020.

A empresa polonesa Polska Grupa Zbrojeniowa (PGZ SA) anunciou, em 29 de maio deste ano, o término do processo de construção dos dois primeiros tanques de batalha principais (MBT) Leopard 2PL, atualizados para o Exército Polonês, com o primeiro lote de Leopards 2PL saiu da fábrica Zakłady Mechaniczne "Bumar-Łabędy" S.A. em Gliwice. 

Os carros de combate terão novos sistemas de proteção contra fogos e explosão, sistemas de estabilização hidráulica de canhões e torres, e um canhão melhorada de alma lisa Rh-120 L44; além de módulos de blindagem adicionais montados na torre dos blindados. Eles são equipados com a câmera de imagem térmica optoeletrônica KLW-1 Asteria III. Os MBT serão entregues à 10ª Brigada de Cavalaria Blindada, instalada em Świętoszów.


Em 2002, a Alemanha doou para a Polônia um total de 128 tanques Leopard 2A4 dos estoques do Exército Alemão. Em 2013, o Ministério da Defesa alemão assinou um contrato com a Polônia para vender outros 14 tanques Leopard 2A4, mais 105 tanques Leopard 2A5 mais novos e veículos blindados de recuperação Bergepanzer 2 dos seus estoques militares. Em 2015, o Ministério da Defesa da Polônia selecionou a Rheinmetall da Alemanha como a licitante favorita para atualizar os Leopard 2A4 mais antigos. Uma versão atualizada foi desenvolvida pela Rheinmetall em cooperação com várias empresas polonesas sendo chamado de Leopard 2PL. 

A atualização do Leopard 2PL é amplamente semelhante ao MBT Revolution da Rheinmetall, um pacote de atualização modular para os Leopard 2A4.


O Leopard 2PL polonês melhorou a proteção da blindagem com um kit de Blindagem Composta de Proteção Avançada Modular (Advanced Modular Armor Protection, AMAP), desenvolvido pela empresa IBD Deusebroth da Alemanha, o qual foi instalado na torre - também presente no MBT Revolution - e que utiliza novos materiais nano-cerâmicos e modernas ligas de titânio e aço.

Essa blindagem fornece um nível mais alto de proteção contra uma ampla gama de ameaças. A torre blindada do Leopard 2PL oferece proteção mais alta que aquela do Leopard 2A5, todavia não pode corresponder ao nível de proteção do Leopard 2A7. O kit de blindagem é modular, portanto, os módulos de blindagem danificados podem ser substituídos em condições de campanha.


O tanque Leopard 2PL mantém o canhão de alma lisa L44 de 120mm do seu antecessor, mas com a modificação pela Rheinmetall para ser compatível com as munições de alta pressão recém-desenvolvidas, como as munições programáveis de explosão no ar DM11 alto-explosivas e as munições perfurantes de alta potência DM53 e DM63. As munições programáveis permitem atingir alvos atrás da cobertura e dentro dos edifícios. Essas munições DM11 multiuso também podem ser usadas contra tropas inimigas, veículos blindados e helicópteros que voam baixo.

O canhão também pode disparar qualquer outra munição padrão OTAN de carros de combate de 120mm. Um total de 42 munições são estocadas dentro do blindado.

Bibliografia recomendada:

TANKS:
100 Years of Evolution.
Richard Ogorkiewicz.

Leitura recomendada:





Capacetes Azuis Marroquinos: valores e compromissos


Por Abderrahmane Mekkaoui, Theatrum Belli, 17 de dezembro de 2014.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 1º de julho de 2020.

A política da manutenção da paz

No âmbito de acordos ou alianças bilaterais ou multilaterais, o Reino do Marrocos frequentemente convocou seu exército para instaurar a segurança e a estabilidade ou manter a paz, como o envio de seus contingentes ao Egito em 1967, nas colinas de Golã, em 1973, durante conflitos no Oriente Médio em 1977, ou mesmo no Zaire (República Democrática do Congo) para a proteção do regime de Mobutu, então ameaçado em plena guerra fria pelas forças angolanas e cubanas.


Na Península Arábica, o Marrocos instalou 2.000 soldados e policiais desde 1986 nos Emirados Árabes Unidos para estabelecer a paz na região, e 1.500 soldados na Arábia Saudita durante a Primeira Guerra do Kuwait (Guerra do Golfo, 1991) sob acordos bilaterais.

O Marrocos está hoje participando de operações de manutenção da paz em várias zonas de conflito ao redor do mundo: Congo*, Costa do Marfim, Bósnia e Herzegovina, Haiti, Síria e na República Centro-Africana.

*A medalha da Missão das Nações Unidas para a Estabilização na República Democrática do Congo (MONUSCO) foi concedida em março de 2014 às forças de paz marroquinas destacadas em Dungu (província oriental da RDC) por sua abnegação e devoção.

O comandante da MONUSCO, General-de-Divisão Elias Rodrigues Martins Filho, condecorando 300 militares do contingente marroquino em Kananga, 8 de junho de 2019.

Sistema de comando político e militar das forças de manutenção da paz

Pacificadores marroquinos servindo com a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (UN Multidimensional Integrated Stabilization Mission in the Central African Republic, MINUSCA) em Bangui, sendo desdobrados em Bambari, 15 de junho de 2014.

O Marrocos se inscreveu desde a sua independência em vários acordos internacionais a favor da paz. Este compromisso com a paz é parte integrante da constituição marroquina.

Politicamente, o Marrocos é considerado uma monarquia constitucionalmente social e democrática cujo Rei do Marrocos é o "Chefe Supremo das Forças Armadas Reais e Chefe do Estado-Maior".


No nível militar, as forças armadas reais, criadas em 1956, após o final do protetorado francês, representam a força de ataque que experimentou um desenvolvimento acelerado graças às grandes reformas do rei Mohamed VI, que estabeleceu o objetivo de modernização, desenvolvimento e a renovação de todas as forças armadas reais. Foi um grande projeto de mudança de estruturas, táticas e mentalidades a montante e a jusante, que as FAR experimentaram. O rei Mohamed VI também tinha uma intenção particular de melhorar a situação social de soldados, praças graduados e oficiais marroquinos.

O compromisso internacional do Reino do Marrocos para a manutenção da paz no mundo


O Marrocos sempre respondeu a pedidos internacionais de manutenção da paz em todo o mundo. A África é o continente onde o Marrocos tem sido mais ativo; citemos, por exemplo, a missão da ONU na República do Congo (ONUC) entre 1960 e 1964, e a missão na Somália (UNISOM 1) entre 1992 e 1993, durante a qual os batalhões marroquinos (cerca de 1.000 soldados e 60 policiais) assumiu a responsabilidade de monitorar o cessar-fogo, garantir o fluxo da ajuda e garantir a proteção dos funcionários e instituições das Nações Unidas.

Por outro lado, o Marrocos participou da constituição da UNITAF em 1990, integrando nela 1.430 soldados. Em março de 1993, vários soldados marroquinos e paquistaneses morreram durante a segunda missão da ONU na Somália (UNISOM 2), dando assim suas vidas a um país árabe-muçulmano.

Funeral do Soldado de 1ª Classe Saad Zghari, morte na República Centro Africana em 31 de maio de 2019. Ele foi condecorado postumamente com a Medalha Dag Hammarskjöld, a mais alta condecoração da ONU, no dia 1º de junho de 2020.

Na República Democrática do Congo novamente e desde 1999, 750 soldados, 4 oficiais e 4 policiais participaram da missão da ONU "MONUC". O Marrocos também criou um hospital moderno e equipado, composto por 51 médicos militares.

No que diz respeito à Costa do Marfim, o Marrocos participou da missão da ONU "ONUC", decidida pelo Conselho de Segurança em 2004 para a manutenção da paz e da estabilidade. A participação dos contingentes marroquinos foi muito apreciada. Para esse fim, eles foram homenageados duas vezes pelas Nações Unidas e receberam o medalhão de manutenção da paz durante esta missão. Segundo vários relatórios da ONU, as forças de paz marroquinas são descritas como dotadas de coragem, dedicação e altruísmo durante sua missão, enquanto cooperam com forças locais e estrangeiras.

O Marrocos participou de outras missões organizadas pela ONU, como a missão "UNAVEM I" em Angola, entre 1989 e 1999, durante a qual o Marrocos enviou 15 soldados e 11 policiais para monitorar e coordenar as ações dos vários atores no terreno de operações.

Técnica marroquina armada com uma MG3 na República Centro-Africana, 2014.

Na Ásia, a missão "UNTAC" no Camboja, entre 1992 e 1993, mobilizou 100 policiais civis marroquinos.

Na América Central, no Haiti, o Marrocos participou com a Espanha na operação de manutenção da paz.

Mais recentemente, na África Central, as forças marroquinas, coordenando a proteção da capital Bangui com as forças francesas, foram bem recebidas pelas comunidades cristã e muçulmana.

Um soldado marroquino aguardando o comboio para Bambari, na República Centro-Africana, em 14 de junho de 2014.

Outras iniciativas marroquinas demonstram o nível de compromisso e a implicação do Marrocos no sucesso das operações e missões de manutenção da paz, como sua participação na estabilidade da situação na Bósnia, através da missão "SFOR" da OTAN. Tanto que, no Kosovo, o Marrocos construiu um hospital civil para aliviar o sofrimento da população do país.

Na escala árabe, as forças de paz marroquinas estão presentes na guerra civil síria e seguem de perto os eventos políticos e militares.

Em resumo, devemos prestar homenagem aos valores humanos e habilidades profissionais das forças de paz marroquinas que provaram através de sua participação ativa e bem-sucedida em todas as missões que lhes foram atribuídas pelas Nações Unidas na Ásia, Europa ou África.

Por fim, deve-se notar que o Reino do Marrocos possui um batalhão treinado em técnicas de intervenção rápida e que pode participar a qualquer momento de qualquer operação humanitária definida ou outra para a manutenção da paz.

Abderrahmane Mekkaoui é especialista em assuntos estratégicos e militares, e é professor da Universidade de Casablanca, no Marrocos.

Bibliografia recomendada:





Leitura recomendada:

Manutenção da paz da ONU feita pela China no Mali: estratégias e riscos14 de março de 2020.

GALERIA: Caça-Tanques Japoneses em ação


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 1º de julho de 2020.

Veículos de Combate de Manobra Tipo 16 (16式機動戦闘車, Hitoroku-shiki kidou-sentou-sha) do 10º Regimento de Desdobramento Rápido em manobras. O 10º RDP, baseado em Takikawa, é parte da 11º Brigada das Forças Terrestres de Auto-Defesa do Japão.

O organograma deste regimento consiste em:
  • 1 companhia de comando e serviço,
  • 3 companhias de blindados de transporte Tipo 96, 
  • 1 uma companhia de morteiros pesados F1 120mm,
  • 1 uma companhia de caça-tanques Tipo 16.
A principal vantagem do Tipo 96 é a sua capacidade de ser aerotransportável.

“O Brasil não tem planejamento em infraestrutura de transporte”, afirma professor da FDC


Por Rosalvo Streit, Agência CNT de Notícias, 2 de julho de 2014.

Rodovias e ferrovias em estado precário, mal conservadas. Aeroportos com pequena capacidade para transporte de cargas, além de terminais portuários ineficientes e operando com excesso de burocracia. Segundo o coordenador do Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, este é, infelizmente, o atual cenário dos setores de infraestrutura e transporte no país, atualmente.

Em entrevista à Agência CNT de Notícias, Resende comenta os principais problemas que dificultam o desenvolvimento do transporte no Brasil. Apresenta dados e mostra como o governo brasileiro investe pouco na área e peca pela falta de planejamento dos projetos. A situação, destaca, é contrária aos procedimentos adotados em potências como a China.

Quais os principais problemas que o Brasil enfrenta na área de infraestrutura?

Começando pelas rodovias, há um problema que é a alta dependência deste modal. O Brasil tem quase 1 milhão e 700 mil km de rodovias, envolvendo as esferas federal, municipal e estadual, e menos de 14% são asfaltadas. A administração está nas mãos do poder público, que faz poucos investimentos. A maioria das cargas é transportada pelo modal rodoviário, o que provoca um grande desgaste nas estradas e reduz a qualidade delas.

Em relação às ferrovias, a questão fundamental é a baixa densidade ferroviária ou a ausência de corredores ferroviários. Existe um vazio ferroviário no Brasil, principalmente nas fronteiras agrícolas do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A participação das ferrovias em nossa matriz de transporte deveria ser, no mínimo, de 38%. Outra questão é o fato de a maioria dos trilhos transportarem minério de ferro. É preciso transportar cargas com maior valor agregado.


E como está a situação dos portos e aeroportos?

Nos portos, encontramos um nível de ineficiência muito grande. O porto brasileiro é ineficiente, quando comparado com referências mundiais, como Cingapura e Roterdã, na Holanda, por exemplo. Nossos portos são ineficientes por falta de investimentos históricos. Além da falta de modernização, existe a influência política, que é muito grande, e a questão da burocracia. Esses três elementos se associam à concentração portuária, ou seja, poucos portos com muito volume movimentado, como Santos (SP) e Paranaguá (PR).

Nos aeroportos, o transporte de cargas é quase inexistente. Ele representa menos de 1% da matriz de transporte do Brasil, com grande concentração nos terminais de Guarulhos (SP) e Viracopos (SP). Temos uma baixíssima qualidade nos serviços. De um modo geral, os quatro modais precisam de muito investimento.

O Brasil está investindo menos que o esperado em infraestrutura?

Países emergentes e desenvolvidos chegam a investir até 8% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em logística de transportes. O Brasil jamais passou dos 2%, mesmo nos períodos de pico. A média dos últimos 30 anos é de apenas 0,8% do PIB. Isso coloca o Brasil na última posição entre os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Se fôssemos considerar os investimentos necessários para os próximos dez anos, o Brasil deveria investir, segundo os nossos levantamentos, US$ 80 bilhões por ano, durante dez anos. Mas se pegarmos a média da última década, o valor total não chega a US$ 200 bilhões. Significa que o Brasil investiu menos de 25% que o necessário.


Isso quer dizer que os investimentos não estão acompanhando o crescimento da economia...

Não, não estão. O resultado dessa falta de investimentos é a queda de competitividade. O Brasil é um país cada vez menos competitivo, tanto no cenário global, como no nacional. Isso significa que o brasileiro está pagando mais caro pelo que consome.

A China, por exemplo, investe um percentual maior do PIB em infraestrutura, existe mais planejamento...

O Brasil não tem planejamento em infraestrutura de transporte e, na China, existe um conceito que poderia ser adotado aqui – a elaboração do projeto executivo antes da licitação. Essa mudança resolveria uma das nossas grandes mazelas ligadas à corrupção. O Brasil é o país dos aditivos, ninguém quer saber o detalhamento do projeto. Os brasileiros entram às cegas na concorrência ou licitação e, depois, quando vão desenvolver o projeto executivo, enfrentam dificuldades e precisam ficar aditivando os orçamentos.

Essa é uma prática brasileira que precisa acabar. Na China, os projetos não são executados antes que se conheçam as suas dificuldades ou variáveis técnicas.

A Iniciativa do Cinturão e Rota da China


Existe algum outro exemplo que mostre como os chineses são mais eficientes nesse sentido?

Podemos traçar uma comparação com as ferrovias. Os chineses, do pré-projeto ao início da operação de um sistema sobre trilhos, gastam 60% do tempo planejando e 40% realizando a obra. No Brasil, apenas 20% do prazo é dedicado ao planejamento e os 80% restantes são para a execução do projeto. Os brasileiros não planejam, vivem de surpresa. Os chineses evitam enfrentar estes problemas no decorrer do empreendimento.

O Programa de Investimentos em Logística (PIL) do governo federal é um avanço para melhorar o setor de infraestrutura no país?

Sim. Antigamente, existia um pensamento no Brasil de que o orçamento público seria suficiente para arcar com as demandas de infraestrutura e logística do país. Isso foi um erro histórico. O Plano de Logística traz o investidor privado para o papel de ator principal nesse novo movimento. A gente só espera que o governo não decepcione os investidores, quebrando contratos ou mudando regras a todo o tempo. O governo precisa entender que o investidor estrangeiro joga com regras sólidas de mercado, sinais de instabilidade não vão trazer investimentos privados para o país.

Bibliografia recomendada:

Introdução à Logística:
Fundamentos, práticas e integração.
Marco Aurélio Dias.

Leitura recomendada:





COMENTÁRIO: Pseudopotência


Pelo General Luiz Eduardo Rocha Paiva, DefesaNet, 11 de Julho de 2010.

Entre outros males, estar desarmado significa ser desprezível.”
- Maquiavel, O Príncipe.

O desfecho da iniciativa diplomática brasileira no Oriente Médio demonstrou os limites do poder de um país cuja ação na cena internacional só é relevante nos temas da área econômica. Essa limitação revela uma fraqueza que será ainda mais evidente quando entrarem em choque interesses nacionais e os dos países que efetivamente conduzem os destinos do mundo, em função da projeção desses últimos, seja em nosso entorno estratégico, seja diretamente sobre o nosso patrimônio.

Tropas dos Emirados Árabes Unidos.

Somos uma potência com pés de barro, cuja expressão mundial depende principalmente da exportação de commodities com baixo valor agregado, da prestação de serviços por algumas empresas e instituições e do atrativo mercado interno. Relevância econômica, mas não militar. Há um desequilíbrio interno fruto da indigência bélica; da debilidade nas áreas de educação, indústrias de valor estratégico, ciência, tecnologia e inovação; da crise de valores morais; e da falta de civismo. Desse quadro, emergem graves vulnerabilidades para enfrentar os conflitos que se avizinham.

O mundo ficou pequeno e a América do Sul (AS) é um dos principais palcos de projeção da China, a ser seguida da Índia e da Rússia. O Brasil terá sua liderança regional ameaçada não só por esses novos competidores, pois os EUA intensificarão a presença na AS, a fim de não perder espaços estratégicos para poderosos rivais arrivistas. A China passa a ser diretamente interessada na exploração dos recursos da AS – agrícolas, minerais, hídricos, e outros – incluindo, logicamente, os da Amazônia. Será menos arriscado China, Rússia e Índia unirem-se aos EUA e UE para impor limites à soberania na Amazônia e em outras regiões, visando condições vantajosas no aproveitamento de seus recursos, do que entrarem em conflito entre si. Atrás da projeção político-econômica virá a militar, inicialmente pela cooperação, evoluindo para dissuasão e, possivelmente, para o emprego direto quando os interesses se tornarem importantes ou vitais. O Brasil e os vizinhos são os atores mais fracos e é desse lado que a corda arrebenta. A história é uma sábia mestra e a da China no século XIX, fatiada em sua soberania e patrimônio e vilipendiada pelas potências da época, mostra o que pode acontecer aqui, pois a China era, então, a nova fronteira como hoje é a AS. Os “impérios” de ontem são as mesmas potências de hoje, com algumas novas presenças como a da Índia.

José Plácido de Castro.
(Foto de Percy Fawcett, 1907)

A perda do Acre pela Bolívia em 1903 é um alerta ao Brasil por sua política irresponsável na Amazônia, pois as semelhanças entre o evento do passado e o presente amazônico são preocupantes, particularmente no tocante às terras indígenas (TI). A Bolívia no Acre, por dificuldade, e o Brasil na Amazônia, por omissão, exemplificam vazios de poder pela fraca presença do Estado e de população nacional em regiões ricas e cobiçadas. O Acre, vazio de bolivianos, era povoado por seringalistas e seringueiros brasileiros, respectivamente líderes e liderados, sem nenhuma ligação afetiva com a Bolívia. No Brasil, ONGs internacionais lideram os indígenas e procuram conscientizá-los de serem povos e nações não brasileiras, no que contam com o apoio da comunidade mundial. Portanto, enquanto no século XIX uma crescente população brasileira estava segregada na Bolívia, hoje o mesmo acontece com a crescente população indígena do Brasil, ambas sob lideranças sem nenhum compromisso com os países hospedeiros e sim com atores externos. Ao delegarem autoridade e responsabilidades a ONGs ligadas a nações e atores alienígenas, os governos brasileiros autolimitaram sua soberania como fez a Bolívia ao arrendar o Acre ao Bolivian Syndicate. Décadas de erros estratégicos enfraqueceram a soberania boliviana no Acre, direito não consumado, pois aqueles brasileiros revoltaram-se e o separaram da Bolívia, que aceitou vendê-lo ao Brasil.

Estágio Internacional de Operações na Selva (EIOS) do CIGS, 12 de setembro-14 de outubro de 2016.

A Amazônia brasileira nos pertence por direito, mas só a ocupação e integração farão a posse efetiva. Em poucas décadas, haverá grandes populações indígenas desnacionalizadas e segregadas, ocupando imensas terras e dispostas a requerer autonomia com base na Declaração de Direitos dos Povos Indígenas, aprovada na ONU com apoio do Brasil. Se não atendidas, evocarão a Resolução que instituiu, em 2005, a Responsabilidade de Proteger, nome novo do antigo Dever de Ingerência. Hoje, há uma forte pressão para transformar TIs em territórios administrados por índios, inclusive com polícia indígena, iniciativa que reúne atores externos e internos, estes uma quinta coluna cuja atuação atende a objetivos alienígenas. Um sem-número de TIs, com maior autonomia que os estados da Federação, comprometerão a governabilidade e a integridade territorial num país que, muitos não percebem, ainda está em formação, pois não foi totalmente integrado.

Não é que a história se repita, mas situações semelhantes em momentos distintos costumam ter desfechos parecidos, para o bem ou para o mal, se as decisões estratégicas adotadas forem similares. Do militar e do diplomata espera-se percepção estratégica capaz de identificar possíveis ameaças, embora longínquas no tempo, antes que se tornem prováveis, pois aí será tarde demais. Cabe a eles, também, a coragem de assessorar o Estado com franqueza, defendendo o interesse nacional mesmo com o risco de afrontar políticas imediatistas de governos de ocasião, que comprometam interesses vitais da Nação. Política exterior é diplomacia e defesa, e nenhuma das duas se improvisa.

O 18th (Royal Irish) Regiment of Foot derrotando soldados chineses vestidos de tigre nos fortes de Amoy, 26 de agosto de 1841, na Primeira Guerra do Ópio.

No início dos anos 1990, quem alertou para a ameaça à soberania, quando a criação da reserva ianomâmi iniciou o processo de balcanização da Amazônia, foi considerado um visionário. Governos sem visão prospectiva e aptidão para avaliar riscos desprezaram a ameaça e fizeram o jogo das grandes potências, aceitando imposições que vêm criando paulatinamente, por meio de uma exitosa estratégia de ações sucessivas, as condições objetivas para a perda de soberania. Por importantes que sejam outras ameaças internacionais, esta é a mais grave. O resultado será desonroso para o país se sua liderança continuar adotando decisões utópico-internacionalistas-entreguistas, calcadas num discurso politicamente correto, mas moralmente covarde, pois não confessa que se troca soberania por interesses imediatistas ou ideológicos apátridas, camuflados sob bandeiras como a defesa dos direitos de minorias e a preservação do meio ambiente.

Alemães inspecionando um tanque pesado francês Char B1 bis abandonado na estrada, 1940.

Assim, não se trata apenas de fraqueza militar, mas também da ausência de lideranças competentes e de estadistas que tracem políticas e estratégias capazes de limitar ou neutralizar vulnerabilidades. Ao contrário, vêm tomando decisões desastrosas, cujo resultado será a contestação e limitação de nossa soberania na Amazônia, pela via indireta, que dispensará ou reduzirá significativamente a necessidade de emprego do poder militar. Eis o resultado de não ocupar, não povoar, não desenvolver, não defender e não preservar a Amazônia, bem como de segregar ao invés de integrar o indígena aos seus irmãos brasileiros.


É lamentável a sociedade esclarecida, seus representantes e lideranças, em setores decisórios do Estado e em muitas de suas instituições, aceitarem passivamente ou reagirem timidamente à mutilação do país, avalizada por sucessivos governos. Convém ressaltar que esse cenário foi construído, desde o início dos anos 1990, a partir da ascensão ao poder da esquerda, cujos discursos demagógicos e ilusórios de defesa dos bens materiais da Nação, do meio ambiente e dos direitos humanos, de revisão da história e de mudança de valores escondem o propósito real de viabilizar a estratégia gramcista de tomada do poder, pela desagregação da sociedade nacional e o esfacelamento do Estado. É uma esquerda pseudonacionalista – internacionalista de fato – e pseudopatriota – populista de fato, que despreza a história, os feitos, as tradições e os verdadeiros heróis nacionais. Não ama a Nação, mas sim sua ideologia, e não tem uma Pátria, mas sim um partido.


Para merecer e manter um patrimônio imensamente rico como o brasileiro, onde se inclui a nossa Amazônia, é preciso não um pseudonacionalismo de bravatas, demagógico e xenófobo, mas um patriotismo real e sincero, respaldado numa vontade nacional firme, altiva e corajosa para assumir os riscos dos conflitos que virão e, ainda, lideranças legítimas, confiáveis e efetivamente comprometidas com a Nação. Sem tais atributos, países, ainda que sejam fortes e ricos, não passam de pseudopotências.

General-de-Brigada Luiz Eduardo Rocha Paiva é professor emérito e ex-comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), e membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHMTB). 

Bibliografia recomendada:




Leitura recomendada: