Por Mike Yeo, Defense News, 5 de junho de 2020.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 9 de junho de 2020.
MELBOURNE, Austrália - A China poderia perder quase todos os seus mísseis balísticos e de cruzeiro se assinasse um novo tratado estratégico de controle de armas, de acordo com uma nova avaliação de segurança regional.
A análise, intitulada "O Fim do Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermediário: Implicações para a Ásia", é um dos capítulos da avaliação anual de segurança regional da Ásia-Pacífico publicada pelo think tank* do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (International Institute for Strategic Studies, IISS). O relatório da IISS foi lançado em 5 de junho e abordou tópicos de segurança regional, como relações sino-americanas, Coréia do Norte e política japonesa.
*Nota do Tradutor: Um "think tank" é um corpo de especialistas suprindo conselhos e idéias sobre problemas específicos, como política ou economia, assim como estratégia.
A China pode perder 95% do seu estoque de mísseis balísticos e de cruzeiro se assinar um tratado semelhante ao Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermediário (Intermediate-Range Nuclear Forces, INF) dos anos 80, de acordo com os co-autores do capítulo Douglas Barrie, um membro sênior focado no poder aéreo militar; Michael Elleman, diretor do Programa de Não-Proliferação e Política Nuclear; e Meia Nouwens, pesquisador focado na política de defesa chinesa e modernização militar.
O tratado, assinado entre os Estados Unidos e a União Soviética em 1987, proibiu todos os sistemas de mísseis balísticos e de cruzeiro lançados do solo com alcance entre 500 e 5.500 quilômetros (310 a 3.420 milhas). Os EUA retiraram-se do Tratado INF em agosto de 2019, citando violações russas do acordo com o desenvolvimento e a colocação em serviço do míssil 9M279, embora a Rússia negue que o míssil violou as restrições de alcance.
No entanto, o relatório do IISS sugeriu que a retirada dos EUA foi feita com o olho no arsenal de mísseis da China, que cresceu para o que se acredita ser o maior estoque mundial de mísseis balísticos de curto e médio alcance. Os números do IISS estimam que a China possui mais de 2.200 mísseis que estão sujeitos às restrições do Tratado INF.
Esses mísseis de curto e médio alcance são ativos importantes para exercer pressão sobre Taiwan, o qual a China vê como uma província rebelde e prometeu reunir com o continente, à força se necessário, embora continue a descrever sua colocação em serviço de mísseis balísticos e de cruzeiro disparados do solo como sendo apenas para fins defensivos.
Dado que esses mísseis fornecem à China o que Barrie descreveu como uma "vantagem comparativa" na região, é improvável que o país assine de bom grado um potencial tratado de controle de armas como o Tratado INF.
Os EUA, por sua vez, já começaram a testar mísseis anteriormente proibidos pelo tratado, e houve sugestões de que o país possa desdobrar tais mísseis na região da Ásia-Pacífico para solucionar um desequilíbrio de tais armas entre si e seus rivais sem confiar apenas em mísseis de cruzeiro lançados por via aérea e marítima. (Esses mísseis de cruzeiro existiam sob o Tratado INF, pois não violavam o pacto.)
O relatório alertou que há um risco duplo de desdobrar tais armas para a Ásia-Pacífico. A principal delas é: exacerbar as preocupações chinesas de que os mísseis serão posicionados contra ela, aumentando o potencial de uma resposta da China que possa levar a um "ciclo de ação-reação do desenvolvimento e desdobramento de armas" e à contínua instabilidade regional.
Os EUA também enfrentam o dilema de basear qualquer sistema de desrespeito potencial ao INF, com aliados e parceiros regionais improváveis de acessarem a localização desses mísseis em seu território, em parte por causa das represálias diplomáticas e econômicas que Pequim poderia infligir a eles. E há precedentes aqui: a China visou a economia da Coréia do Sul em resposta e expressou seu desagrado com a instalação de um sistema de defesa antimísseis dos EUA em solo sul-coreano em 2017.
Quanto ao território norte-americano de Guam, baseando mísseis ali limitariam sua utilidade devido às distâncias envolvidas.
O relatório do IISS também levantou questões sobre se os movimentos dos EUA para desenvolver e desdobrar armas anteriormente proibidas pelo Tratado INF levarão a China à mesa de negociações de controle de armas. No entanto, o think tank admitiu que não usar essas armas também provavelmente não convencerá a China, observando que Pequim demonstrou pouco apetite por participar de qualquer forma de controle estratégico e regional de armas.
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