quarta-feira, 2 de junho de 2021

China Fornece Armas ao Exército de Arakan em Mianmar

Soldado do Exército de Arakan, 2018.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 2 de junho de 2021.

A China fornece armas ao Exército de Arakan, grupo armado voltado para enfraquecer a Índia e Mianmar.

A China está fornecendo fundos e armamento sofisticado a grupos armados em Mianmar, em especial ao Exército de Arakan, para ter influência sobre Mianmar e Índia, relatou o LiCAS News (Latest Catholic News in Asia / Últimas Notícias Católicas na Ásia). A junta militar na capital de Mianmar, Naypyitaw, tentando minimizar as ameaças enquanto tenta suprimir os protestos ao redor do país, retirou o Exército de Arakan da sua lista de terroristas, mas com poucos efeitos práticos; a força étnica continua sua campanha de golpes de mão e pressão econômica.

Uma fonte militar com experiência no Sudeste Asiático confirmou que a China está fornecendo aproximadamente 95 por cento do financiamento do Exército de Arakan. Ele revelou ainda que o Exército de Arakan tem cerca de 50 mísseis terra-ar MANPADS (Man-Portable Air Defense Systems / Sistemas Portáteis de Defesa Aérea).


"Uma lição prática de diplomacia-terrorismo é a influência sobre Mianmar e Índia que a China ganhou ao armar o Exército de Arakan, operando no corredor do Nordeste da Índia sobre os estados de Mianmar de Chin e Rakhine até o Oceano Índico" (LiCAS News).

De acordo com uma fonte, a estratégia da China é empurrar sua influência bem ao sul de sua própria fronteira. "Esta estratégia de apoiar o Exército de Arakan permitiu aos chineses expandirem sua área de influência em direção ao oeste de Mianmar, ou seja, a fronteira entre Índia e Mianmar".

"A China está jogando um jogo multidimensional no Sul da Ásia. A China quer enfraquecer a Índia. A Índia está em guerra com o Paquistão e não quer fazer um novo inimigo em Mianmar", disse um acadêmico australiano.

O MA-1 é um clone feito em Mianmar do fuzil de assalto Galil israelense, embora com algumas modificações locais.

“A China não quer que a influência da Índia aumente em Mianmar”, disse uma fonte indiana. "Eles querem um monopólio." O apoio da China ao Exército de Arakan contra a construção da Índia em Mianmar foi aparentemente bastante eficaz. O contrato rodoviário de US$ 220 milhões foi concedido à empreiteira com sede em Delhi, C&C Constructions, em junho de 2017. O governo de Mianmar atrasou as autorizações necessárias até janeiro de 2018. Assim que a construção estava em andamento, o Exército de Arakan sequestrou equipes, incluindo cidadãos indianos, bombeiros, um membro do parlamento de Mianmar e sabotou um veículo e materiais de construção.

De acordo com um artigo do Eastern Link de Subir Bhaumik, de 25 de abril de 2021, a entrega de armas mais recentemente descoberta da China foi uma "remessa contendo 500 fuzis de assalto, 30 metralhadoras universais, 70.000 cartuchos de munição e um enorme estoque de granadas... trazidas por mar e descarregada na praia de Monakhali, não muito longe da junção costeira de Mianmar e Bangladesh, na terceira semana de fevereiro." De acordo com o artigo, uma fonte Rakhine próxima ao Exército de Arakan afirmou que a remessa incluía MANPADS chineses FN-6.

Um diplomata da região disse que "sete grupos diferentes (incluindo o Exército de Arakan) em Mianmar receberam armas e apoio chinês". Ele disse que "o objetivo chinês sempre foi manter o Ocidente longe de Mianmar, mantendo Mianmar (um) Estado fraco e fechado com um histórico humanitário pobre". O Exército de Arakan é o maior grupo insurgente no estado de Rakhine, em Mianmar, e é o braço armado do partido político Liga Unida de Arakan (ULA).


Em 23 de março de 2020, o governo de Mianmar designou o Exército de Arakan e a ULA como organizações terroristas por "incitarem o medo" e perturbarem a estabilidade do país ao atacar alvos civis e governamentais. Em 2019, o grupo teria atacado quatro delegacias de polícia, causando 20 mortes entre policiais. Alguns policiais morreram devido aos ferimentos. A China não condenou o ataque, mas deu uma declaração muito branda dizendo: "A China apóia todas as partes em Mianmar para promover a reconciliação e negociações de paz e se opõe veementemente a qualquer forma de ataques violentos".

A China não fornece armas de graça, mas ganha dinheiro incitando a violência em Mianmar. O Exército de Arakan paga às organizações de frente da China no Sudeste Asiático pelas armas, com os contrabandistas de armas da Tailândia também servindo de frente para os chineses, de acordo com fontes. De acordo com Bhaumik, um ex-repórter da BBC em Mianmar, o sentimento anti-Tatmadaw no estado de Rakhine foi galvanizado e rapidamente expandido com o influxo de dinheiro e armas chineses. O Tatmadaw teve um dia da independência solitário em 25 de março do corrente ano, com os exércitos étnicos se recusando a comparecerem ao desfile.

Os protestos urbanos continuam desde fevereiro, apesar da repressão brutal da junta militar.

A China é descarada ao usar seu apoio a grupos de milícias étnicas para ameaçar o governo. Ao abordar as preocupações locais sobre uma mina de cobre apoiada pela China, de acordo com o jornalista sueco Bertil Lintner, um ministro do governo de Mianmar temeu que Pequim pudesse retaliar qualquer problema com a mina apoiando a violência étnica que prejudicaria a economia de Mianmar.

“A designação deste grupo como um grupo terrorista foi encerrada em 11 de março de 2021”, disse o jornal estatal birmanês Mirror Daily, citando o fim dos ataques e a visão dos militares de construírem uma “paz eterna em todo o país”.

Soldados do Tatmadaw, o exército de Mianmar, fotografados do lado de fora do Banco Central de Mianmar enquanto pessoas se reuniam para protestar contra o golpe militar, em Yangon, em 15 de fevereiro de 2021.

A decisão foi tomada em um momento em que o exército lutava para conter os protestos diários contra o golpe de 1º de fevereiro, durante o qual deteve a líder eleita Aung San Suu Kyi e altos membros do governo civil. Ao removerem a designação de “terrorista” do Exército de Arakan, os militares tentam eliminar outro obstáculo potencial aos seus esforços para manterem o poder e reprimirem os protestos contínuos nas cidades.

“O Tatmadaw tem muitos inimigos, eles não querem operar em muitas frentes ao mesmo tempo e a frente mais urgente neste momento é contra a maioria étnica birmanesa nos principais centros urbanos”, disse Herve Lemahieu, um especialista em Mianmar do Lowy Institute da Austrália à agência de notícias AFP.

O Exército de Arakan está lutando por maior autonomia no estado de Rakhine ocidental e, nos últimos dois anos, tornou-se uma das forças mais formidáveis no desafio ao exército de Mianmar, também conhecido como Tatmadaw, que vem travando várias guerras étnicas há cerca de 70 anos.

Bibliografia recomendada:

Guerra Irregular: Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história.

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