quarta-feira, 28 de abril de 2021

DOCUMENTÁRIO: Geopolítica do Sudeste Asiático


Análise geopolítica do grupo Caspian Report


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 28 de abril de 2021.

O território do sudeste asiático é composto principalmente pela região continental da ex-Indochina, contendo o Vietnã, Laos, Camboja, o reino da Tailândia e a Birmânia. Estes países formaram corações densos em áreas irrigadas por rios e deltas, formando cidades em terreno agrário fértil, o que permitiu o florescimento de civilizações populosas.

Porém, o terreno torna a região distinta do resto do continente asiático, com uma topografia e vegetação inóspitas para a habitação humana. A paisagem impenetrável não permite que cartógrafos delineiem fronteiras na selva, o que traz problemas para o controle de fronteiras, com a contestação de fronteiras entre países sendo uma causa de tensões.

Curso fluvial passando pelo Laos, Tailândia e Camboja.

A natureza acidentada do terreno acaba formando bolsões de coletividades humanas espalhados pelas fronteiras dos território, e separados dos corações populacionais, formando vários grupos étnicos e sociais que não necessariamente respondem às autoridades dos grandes centros. Esses bolsões não-governados criam forças separatistas e espaços de atividades ilegais. Essas áreas sem governo, com multiculturalismo, formam uma barreira geopolítica à unidade nacional e abrem a porta dos fundos à intervenção estrangeira, criando uma tradição de exploração por potências externas - atualmente, Pequim.

O rios do subcontinente afluem da China, e Pequim usa o controle ou bloqueio (como represamento) do Mekong para forçar a mão desses países, que dependem da irrigação. Essa forma de diplomacia acaba sempre colocando a China em uma posição de força diante dos demais.

Rios afluindo da China no subcontinente.

Esses problemas geográficos atrapalham o desenvolvimento da área continental, impedindo a integração física dos territórios. Todos esses países precisam destinar um mínimo de 5% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) para projetos de infraestrutura, com o objetivo de atingir a integração territorial. A Tailândia, sendo abençoada com terras baixas perto da costa na bacio do rio Chao Phraya, pôde formar um "heartland" próspero e etnicamente homogêneo que formou um poderoso reino unificado na região. Sua capital, Bangcoc, é uma das capitais mais centralizadas da região. O terreno com montanhas e rios também ajudou a impedir invasões da Birmânia e do Vietnã. A Tailândia também jamais foi colonizada, um ponto de enorme orgulho para o povo tailandês até hoje.

PIB per capita dos países do subcontinente.

A Indonésia, um país formado por múltiplas ilhas (mais de 17.000 ilhas), é a encarnação dos potenciais e deficiências do sudestes asiático. O país está no nexus do comércio global, com a 4ª maior população do mundo e uma abundância de recursos naturais (além de uma grande capacidade de produção). Jacarta, no entanto, é enorme e tem um problema geográfico de integração basicamente insolúvel: a distância total dos territórios indonésios é igual àquela entre Paris, na França, até Cabul, no Afeganistão.

O arquipélago malaio.

O tipo de terreno e distâncias marítimas força os países da região a possuírem marinhas fortes, o que nenhum deles é capaz de manter. Os investimentos de infraestrutura disputam recursos com os investimentos militares; e a falta de integração territorial força os investimentos militares a se dividirem entre as marinhas e os exércitos, pois grandes forças terrestres são necessárias para subjugar as minorias sob controle do Estado governante. Essas fraquezas mantém os países da região em eterna situação de intervenção e vassalagem estrangeiras; sendo a China o novo entrante.

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