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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

FOTO: Monumento ao Soldado Colombiano

"Ao Soldado Colombiano,
o maior dos heróis, valente diante das adversidades e humilde na vitória.
Honra - Disciplina - Coragem
1819"

Monumento na Escola de Soldados Profissionais do Exército Nacional (Escuela de Soldados Profesionales del Ejército Nacional, ESPRO), Centro Nacional de Treinamento (Centro Nacional de EntrenamientoCENAE) no Forte de Tolemaida, na Colômbia.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A Venezuela acusou a Colômbia de intrusão em seu espaço aéreo com um drone Hermes


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 22 de setembro de 2021.

Hoje, 22 de setembro, as forças armadas da Venezuela (oficialmente Fuerza Armada Nacional Bolivariana, FANB) afirmaram que ontem (21/09) um drone Hermes da Colômbia violou o espaço aéreo venezuelano na província de Zula. 



Comunicado oficial da Força Armada Nacional Bolivariana

A Força Armada Nacional Bolivariana denuncia a flagrante violação do espaço aéreo venezuelano por uma aeronave remotamente tripulada (drone), tipo Hermes, pertencente à Força Aérea Colombiana, fato ocorrido ontem, segunda-feira, 20 de setembro, às 16:48 horário legal da Venezuela.

A referida aeronave foi detectada pelos sistemas de exploração do nosso Comando Integral de Defesa Aeroespacial, sobrevoando o território do município de Jesús María Semprúm, estado de Zulia, na Região de Informação de Vôo Maiquetía (FIR) nas coordenadas 09º04'50″N - 72º53'52″O, 64 milhas náuticas a noroeste do aeroporto “Francisco García de Hevia” localizado em La Fría, estado de Táchira, a 8 mil pés de altitude, velocidade de 90 nós e rumo 318, vindo da FIR de Bogotá sem a devida autorização de sobrevôo ou apresentar o plano correspondente para entrar na República Bolivariana da Venezuela.

Este acontecimento constitui uma gritante ameaça à segurança do país por se tratar de um sistema militar utilizado para missões de reconhecimento aéreo, que com toda certeza não foi involuntário ou acidental, já que coincide com a presença na Colômbia do Almirante Crayg Faller, chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, em sua segunda visita este ano ao território neo-granadino, supostamente para discutir assuntos de "cooperação em questões de segurança".

Sem dúvida, estamos dando claros indícios de um estratagema do império norte-americano e do governo colombiano, seu indigno e incondicional aliado na região, para construir alguns de seus conhecidos falsos positivos ou qualquer tipo de incidente que permita continuar gerando instabilidade , e de maneira particular, torpedear o processo de diálogo que está ocorrendo atualmente no México, em busca de soluções para os problemas do país, da paz e da unidade de todo o povo venezuelano.

Não cairemos nas repetidas e grosseiras provocações de uma oligarquia criminosa e do decadente império que a patrocina, que se tornaram um anacronismo sem a mínima credibilidade no contexto das nações. Mas em estrito cumprimento das diretrizes estratégicas ensinadas pelo cidadão Nicolás Maduro Moros, Presidente Constitucional da República Bolivariana da Venezuela, nosso Comandante-em-Chefe, permaneceremos vigilantes, monitorando constantemente todo o espaço geográfico venezuelano, a fim de garantir sua integridade , bem como nossa liberdade, soberania e independência.

Chávez vive... a Pátria continua!

Independência e Pátria Socialista... Vamos viver e vencer!

Independência ou nada!

Sempre leais... Nunca traidores!

Nasce o Sol da Venezuela no Essequibo!

Caracas, 21 de setembro de 2021

VLADIMIR PADRINO LÓPEZ

General-em-Chefe

Comando Sul dos Estados Unidos (United States Southern Command, US SOUTHCOM) referido pelo comunicado venezuelano é o comando americano responsável pela América Latina. Seu quartel-general está localizado em Doral, na Flórida. O governo venezuelano frequentemente usa o fantasma do "imperialismo estadunidense" como ferramenta de união popular ao redor do regime. A Colômbia, além de um adversário tradicional de Caracas, é também o maior aliado americano no continente sul-americano, o que mata dois coelhos com uma cajadada só. Um dos exemplos dessa amizade é justamente que o governo colombiano condecorou o Comando Sul dos EUA com a Ordem de San Carlos, uma alta comenda por serviço excepcional à Colômbia.

 Almirante Crayg Faller e o distintivo do Comando Sul dos Estados Unidos.

Com uma tal amizade aberta, o governo bolivariano pode simplesmente ocupar a mídia nacional (controlada pelo governo) com ataques aos colombianos, alegando que o governo de Bogotá está iniciando uma agressão imperialista retrógrada contra o progresso da revolução socialista bolivariana da Venezuela. Dessa forma, o governo bolivariano justifica a escassez de bens, o fracasso econômico do país, a violência e criminalidade etc.

O diálogo no México mencionado pelo comunicado é uma sessão de reuniões na Cidade do México incluindo a oposição venezuelana. Em agosto, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, libertou Freddy Guevara, um líder da oposição que estava preso há mais de um mês, para que ele possa atuar como um negociador nas negociações políticas programadas para começar em setembro desse ano na capital mexicana. Um importante aliado de Juan Guaido, Guevara foi libertado na noite de domingo da sede da unidade de inteligência policial conhecida como Sebin em Caracas. Ele deve representar Guaido quando delegados do governo e da oposição se reunirem na Cidade do México.

Freddy Guevara fala durante uma sessão da Assembleia Nacional em Caracas, em 19 de novembro de 2020.

Os militares colombianos, por sua vez, lançaram uma nota dizendo que estavam operando na área, mas que seu drone operava dentro do espaço aéreo colombiano. Esse último incidente na fronteira entre os dois países aumenta a suspeita de que há uma base das FARC em Zula, e tanto a operação quanto a acusação venezuelana podem indicar que realmente há uma base narco-guerrilheira ali. Assim como no comunicado venezuelano, os colombianos também providenciaram as coordenadas da ação, dado que a região selvática é de difícil navegação de outra forma.

Comunicado da Força Aérea Colombiana.

Comunicado Nº 007

Em referência à declaração hoje emitida pelo Ministro da Defesa da Venezuela, a Força Aérea Colombiana está autorizada a informar ao público que, no exercício legítimo de suas funções, na segunda-feira, 20 de setembro de 2021, às 16:48 horas, realizou missão de reconhecimento aéreo com aeronave não-tripulada, sobrevoando o espaço aéreo colombiano na área do município de Tibú, Norte de Santander.

De fato, as coordenadas 09º04'50”N - 72º53'52”O referidas no comunicado venezuelano, correspondem ao território colombiano.

Autor

Imprensa da Força Aérea Colombiana

O recente incidente vem na rabeira de mais um outro escândalo venezuelano, com uma lista de oficiais da inteligência naval da Armada Bolivariana sendo vazada na internet dez dias atrás (12/09). Foram 262 arquivos pessoais da marinha e, conforme foi noticiado, era pessoal de contra-inteligência visando a Colômbia - o que novamente levou às acusações de costume. 

Em 17 de agosto desse ano, Jorge Nobrega, um empresário americano foi acusado de violações de sanções e lavagem de dinheiro por ajudar em reparos de aeronaves militares da Venezuela, de acordo com uma queixa apresentada ao Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Sul da Flórida. Nobrega, presidente-executivo da Achabal Technologies Inc, com sede em Miami, foi então preso e compareceu ao tribunal de Miami na semana seguinte. O regime adquiriu um vasto arsenal comprado da Rússia e da China, e vem tendo problemas em manter a frota funcionando. O Irã vem fornecendo petróleo, mas a China está tomando caminhos contrários aos interesses da indústria petrolífera da Venezuela.

Recentemente, o governo da Espanha repotencializou a frota de carros de combate AMX-30B2, de procedência francesa, apesar das sanções impostas a Caracas. Os tanques desfilaram na celebração da Batalha de Carabobo em 5 de julho desse ano.

Um caça à jato Sukhoi Su-30MKV, de fabricação russa da Força Aérea da Venezuela, voa sobre uma bandeira venezuelana amarrada a lançadores de mísseis, durante o exercício militar "Escudo Soberano 2015" em San Carlos del Meta, no estado de Apure, em 15 de abril de 2015.

A morte de um mito: O General en jefe Jacinto Perez Arcay

O General-em-chefe Jacinto Perez Arcay sendo cumprimentado pelo presidente Nicolás Maduro.

Entre os vários tropeços do regime, há também a ação do mero acaso: nesta segunda-feira, dia 20 de setembro de 2021, faleceu o General en jefe Jacinto Perez Arcay, um conselheiro de longa data do presidente Maduro. Este último repetiu o grito de Che Guevara na sua mensagem de despedida ao Gal. Perez Arcay - ¡Hasta la Victoria Siempre!

Com 86 anos, o velho general era o militar da ativa com maior antiguidade na FANB, e sua convalescência foi um evento nacional na Venezuela. Outros generais famosos também morreram de COVID-19, como o General Pacepa, famoso por seus escritos sobre a espionagem soviética e romena, e o General Lam Quang Thi, famoso por seus escritos sobre a Guerra da Indochina e sobre o Exército da República do Vietnã (Vietnã do Sul).

No sistema venezuelano, os oficiais-generais do exército são General en jefe (G/J, 4 estrelas), Mayor general (M/G, 3 estrelas), General de division (G/D, 2 estrelas) e General de brigada (G/B, 1 estrela). O General-em-Chefe Jacinto Perez Arcay foi velado em uma procissão fúnebre, carregado por cadetes em uniformes tradicionais, incluindo o famoso Pickelhaube prussiano.



A morte do general é um verdadeiro caso de luto nacional, pois a militarização da Venezuela segue o típico padrão de engajamento total dos governos socialistas. O Gal. Jacinto Perez Arcay era basicamente onipresente nas várias manifestações públicas cívico-militares e era visto como um símbolo nacional e revolucionário. Em 2016, ele foi entrevistado pela jornalista Érika Ortega Sanoja para o jornal Actualidad RT.

Na entrevista, o velho general defende o socialismo cristão e menciona as figuras históricas venezuelanas Simón Bolívar e General Marcos Pérez Jiménez, além de elogiar o ex-ditador Coronel Hugo Chavez - de quem o General Arcay também foi mentor: “Amei Hugo Chávez como um filho e sinto que, em termos geopolíticos, sou o primeiro responsável por sua vida e sua morte” (5:32).


Arcay se formou na Academia Militar em 1956, com especialização na arma de artilharia. Formou-se em história e geografia pela Universidade Católica Andrés Bello. Ele participou do levante do Coronel Enrique Hugo Trejo em 1º de janeiro de 1958 contra o presidente-ditador General Pérez Jiménez. Ficou conhecido por dar aulas ao ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na Academia Militar, onde lhe incutiu os pensamentos de Ezequiel Zamora e Simón Bolívar. Arcay foi reconvocado ao serviço ativo em 2007.

Em 15 de fevereiro de 2012, foi promovido por Chávez de General de Divisão do Exército a Major-General da FANB. Ele foi considerado um assessor de Chávez em questões históricas, políticas e militares. Em 2016 foi premiado com a distinção "El Gran Cordón de Caracas", e foi Chefe do Estado-Maior Geral do Comandante-em-Chefe da FANB, o mais alto general venezuelano, designado como tal pelo Presidente Nicolás Maduro em 11 de julho de 2019.

Exemplar do livro "La Guerra Federal" com dedicatória do G/J Arcay a José Sant Roz, autor do livro "Bolívar y Santander - dos visiones contrapuestas".

O General Jacinto Perez Arcay escreveu os livros El Fuego Sagrado, Bolívar hoy (O Fogo Sagrado, Bolívar hoje, 1974), La Guerra Federal: Consecuencias (A Guerra Federal: Consequências, 1974) e Hugo Chávez, alma de la revolución en Cristo y en Bolívar (Hugo Chávez, alma da revolução em Cristo e em Bolívar, 2013).

Funeral na Academia Militar.

Os ritos fúnebres foram televisionados para todo o país em sua integralidade pelos canais estatais venezuelanos, ocorridos na Academia Militar em meio aos cadetes e ao presidente Maduro.


A perda de um tal símbolo revolucionário, ainda mais mediante tamanhos óbices e fracassos da revolução bolivariana, acabaria por levar o governo de Caracas a tentar mostrar firmeza e começar a criar pretextos para demonstrações de força. A ideia de uma Venezuela progressista, permanecendo unida sob o cerco "imperialista ianque", já é uma situação normal na rotina política da república bolivariana. A desastrada aventura de forças especiais americanas e mercenários em agosto do ano passado já deram voz à propaganda (além de legitimidade aos olhos da população comum). Agora, diante de negociações no México com a presença da oposição e sob pesado escrutínio internacional, a tendência é uma vocalização cada vez mais alta da Venezuela.

Milicianos bolivarianos com o fuzil FAL.
O grande número de paramilitares é uma forma de engajar a população na luta ideológica.

Leitura recomendada:


sábado, 10 de julho de 2021

O PM provisório do Haiti confirma pedido de tropas dos EUA para o país


Por Joshua Goodman, Astrid Suárez, Evens Sanon e Dánica Coto, Associated Press, 10 de julho de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 10 de julho de 2021.

PORT-AU-PRINCE, Haiti (AP) - O governo interino do Haiti disse na sexta-feira que pediu aos EUA que enviassem tropas para proteger a infraestrutura principal, enquanto tenta estabilizar o país e preparar o caminho para as eleições após o assassinato do presidente Jovenel Moïse.

“Definitivamente precisamos de ajuda e pedimos ajuda aos nossos parceiros internacionais”, disse o primeiro-ministro interino Claude Joseph à Associated Press em uma entrevista, recusando-se a fornecer mais detalhes. “Acreditamos que nossos parceiros podem ajudar a polícia nacional a resolver a situação.”

Joseph disse que ficou consternado com os oponentes que tentaram se aproveitar do assassinato de Moïse para tomar o poder político - uma referência indireta a um grupo de legisladores que declararam sua lealdade e reconheceram Joseph Lambert, chefe do desmantelado Senado do Haiti, como presidente provisório e Ariel Henry, a quem Moïse designou como primeiro-ministro um dia antes de ser morto, como primeiro-ministro.

“Não estou interessado em uma luta pelo poder”, disse Joseph na breve entrevista por telefone, sem mencionar o nome de Lambert. “Só há uma maneira das pessoas se tornarem presidentes no Haiti. E isso é por meio de eleições.”

ARQUIVO - Nesta foto de arquivo de 7 de fevereiro de 2020, o presidente haitiano Jovenel Moïse chega para uma entrevista em sua casa em Pétion-Ville, um subúrbio de Port-au-Prince, Haiti. Moïse foi assassinado em um ataque a sua residência privada na manhã de quarta-feira, 7 de julho de 2021, e a primeira-dama Martine Moïse foi baleada no ataque noturno e hospitalizada, de acordo com um comunicado do primeiro-ministro interino do país. (Foto AP / Dieu Nalio Chery, Arquivo)

Joseph falou poucas horas depois que o chefe da polícia da Colômbia disse que os colombianos implicados no assassinato de Moïse foram recrutados por quatro empresas e viajaram para o país caribenho em dois grupos via República Dominicana. Enquanto isso, os EUA disseram que enviariam altos funcionários do FBI e da Segurança Interna para ajudar na investigação.

O chefe da Polícia Nacional do Haiti, Léon Charles, disse que 17 suspeitos foram detidos no assassinato descarado de Moïse, que surpreendeu uma nação que já sofrendo com a pobreza, da violência generalizada e da instabilidade política.

À medida que a investigação avançava, o assassinato assumia o ar de uma complicada conspiração internacional. Além dos colombianos, entre os detidos pela polícia estavam dois haitianos americanos, descritos como tradutores dos agressores. Alguns dos suspeitos foram presos em uma operação na embaixada de Taiwan, onde eles teriam buscado refúgio.

Em entrevista coletiva na capital da Colômbia, Bogotá, o General Jorge Luis Vargas Valencia disse que quatro empresas estiveram envolvidas no “recrutamento e reunião dessas pessoas” implicadas no assassinato, embora não tenha identificado as empresas porque seus nomes ainda estavam sendo verificados.

O Comandante das Forças Armadas da Colômbia, General Luis Fernando Navarro, ao centro, o Diretor da Polícia Nacional, General Jorge Luis Vargas, à direita, e o Comandante do Exército, General Eduardo Zapateriro, dão entrevista coletiva sobre a suposta participação de ex-militares colombianos no assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse , em Bogotá, Colômbia, sexta-feira, 9 de julho de 2021. (Foto AP / Ivan Valencia)

Dois dos suspeitos viajaram para o Haiti via Panamá e República Dominicana, disse Vargas, enquanto um segundo grupo de 11 pessoas chegou ao Haiti em 4 de julho vindo da República Dominicana.

Em Washington, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que altos funcionários do FBI e do Departamento de Segurança Interna serão enviados ao Haiti "assim que possível para avaliar a situação e como podemos ajudar".


“Os Estados Unidos continuam engajados e em estreitas consultas com nossos parceiros haitianos e internacionais para apoiar o povo haitiano após o assassinato do presidente”, disse Psaki.

Após a solicitação do Haiti por tropas americanas, um alto funcionário do governo reiterou os comentários anteriores de Psaki de que o governo está enviando funcionários para avaliar como isso pode ser mais útil, mas acrescentou que não há planos para fornecer assistência militar no momento.

Os EUA enviaram tropas ao Haiti após o último assassinato presidencial no país, o assassinato do presidente Vilbrun Guillaume Sam em 1915 nas mãos de uma multidão enfurecida que havia invadido a embaixada francesa onde ele se refugiou.

No Haiti, o chefe da Polícia Nacional, Léon Charles, disse que outros oito suspeitos ainda estavam foragidos e sendo procurados.

Suspeitos do assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, são jogados no chão após serem detidos, na Direção-Geral da Polícia em Port-au-Prince, Haiti, quinta-feira, 8 de julho de 2021. Um juiz haitiano envolvido na investigação do assassinato disse que o presidente Moïse foi baleado uma dúzia de vezes e seu escritório e quarto foram saqueados. (Foto AP / Jean Marc Hervé Abélard)

O juiz investigativo Clément Noël disse ao jornal francês Le Nouvelliste que os haitianos-americanos presos, James Solages e Joseph Vincent, disseram que os agressores planejavam inicialmente prender Moïse, não matá-lo. Noël disse que Solages e Vincent estavam atuando como tradutores para os agressores.

O mesmo jornal citou o promotor de Port-au-Prince Bed-Ford Claude dizendo que ordenou que uma unidade de investigação da Força Policial Nacional interrogasse todos os agentes de segurança próximos a Moïse. Entre eles estão o coordenador de segurança de Moïse, Jean Laguel Civil, e Dimitri Hérard, chefe da Unidade de Segurança Geral do Palácio Nacional.

“Se você é o responsável pela segurança do presidente, por onde você esteve? O que você fez para evitar esse destino para o presidente?” Claude disse.

O ataque, ocorrido na casa de Moïse antes do amanhecer de quarta-feira, também feriu gravemente sua esposa, que foi levada de avião para tratamento em Miami.

Soldados chegam para troca da guarda na fronteira com o Haiti em Jimani, na República Dominicana, sexta-feira, 9 de julho de 2021. O presidente dominicano Luís Abinader ordenou o fechamento da fronteira na quarta-feira depois que o governo do Haiti informou que pistoleiros assassinaram o presidente haitiano Jovenel Moïse. (Foto AP / Matias Delacroix)

Joseph assumiu a liderança com o apoio da polícia e dos militares e declarou um "estado de sítio" de duas semanas. Port-au-Prince já está em estado de alerta em meio ao crescente poder das gangues que deslocaram mais de 14.700 pessoas só no mês passado enquanto incendiavam e saqueavam casas em uma luta por território.

O assassinato paralisou a normalmente movimentada capital, mas Joseph exortou o público a voltar ao trabalho.

Vargas prometeu a cooperação total da Colômbia, e as autoridades identificaram 13 dos 15 colombianos implicados no ataque como militares aposentados, 11 capturados e dois mortos. Eles variam em patente de tenente-coronel a soldado.

O comandante das Forças Armadas da Colômbia, General Luis Fernando Navarro, disse que eles deixaram a instituição entre 2018 e 2020.

“No mundo do crime existe o conceito de homicídio de aluguel e foi o que aconteceu: eles contrataram alguns membros da reserva (do exército) para esse fim e têm que responder criminalmente pelos atos que cometeram”, disse o general reformado do Exército Colombiano Jaime Ruiz Barrera.

Altos militares das forças de segurança da Colômbia viajarão ao Haiti para ajudar na investigação.

Soldados colombianos treinados pelos americanos são fortemente recrutados por empresas de segurança privada em zonas de conflito global por causa de sua experiência em uma guerra de décadas contra rebeldes esquerdistas e poderosos cartéis de drogas.

Dois suspeitos do assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, são transferidos para serem exibidos à imprensa na Direção Geral da Polícia em Port-au-Prince, Haiti, quinta-feira, 8 de julho de 2021. Moïse foi assassinado em um ataque a sua residência privada na quarta-feira. (Foto AP / Joseph Odelyn)

A esposa de um ex-soldado colombiano sob custódia disse que ele foi recrutado por uma empresa de segurança para viajar à República Dominicana no mês passado.

A mulher, que se identificou apenas como “Yuli”, disse à Rádio W da Colômbia que seu marido, Francisco Uribe, foi contratado por US$ 2.700 por mês por uma empresa chamada CTU para viajar à República Dominicana, onde foi informado que forneceria proteção a algumas famílias poderosas. Ela diz que falou com ele pela última vez às 22h, quarta-feira - quase um dia após o assassinato de Moïse - e disse que estava de guarda em uma casa onde ele e outros estavam hospedados.

“No dia seguinte, ele me escreveu uma mensagem que parecia uma despedida”, disse a mulher. “Eles estavam correndo, eles foram atacados. ... Esse foi o último contato que tive.”

A mulher disse que sabia pouco sobre as atividades do marido e nem sabia que ele havia viajado para o Haiti.

Suspeitos do assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, são exibidos à mídia na Direção Geral da Polícia em Port-au-Prince, Haiti, quinta-feira, 8 de julho de 2021. Moïse foi assassinado em um ataque a sua residência privada na manhã de quarta-feira. (Foto AP / Joseph Odelyn)

Uribe está sendo investigado por seu suposto papel em execuções extrajudiciais cometidas pelo Exército Colombiano treinado pelos EUA há mais de uma década. Os registros do tribunal colombiano mostram que ele e outro soldado foram acusados de matar um civil em 2008, que mais tarde eles tentaram apresentar como um criminoso morto em combate.

A CTU em questão pode ser a CTU Security em Miami-Dade. A empresa possui dois endereços listados em seu website. Um era um armazém fechado sem nenhuma placa indicando a quem pertencia. O outro é um escritório simples com o nome de uma empresa diferente, onde a recepcionista diz que o proprietário da CTU vem uma vez por semana para coletar a refeição e realizar reuniões ocasionais.

Solages, 35, descreveu-se como um "agente diplomático certificado", um defensor das crianças e político em ascensão em um site agora removido para uma instituição de caridade que ele começou em 2019 no sul da Flórida para ajudar um residente de sua cidade natal, Jacmel, na costa sul do Haiti.

Solages também disse que trabalhou como guarda-costas na Embaixada do Canadá no Haiti, e em sua página do Facebook, que também foi retirada após a notícia de sua prisão, ele exibiu fotos de veículos militares blindados e uma foto de si mesmo em frente a uma bandeira americana.

A polícia revistou o distrito de Morne Calvaire de Pétion-Ville em busca de suspeitos que permanecem foragidos pelo assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse em Port-au-Prince, Haiti, sexta-feira, 9 de julho de 2021. Moïse foi assassinado em 7 de julho após homens armados serem atacados sua residência privada e feriu gravemente sua esposa, a primeira-dama Martine Moïse. (Foto AP / Joseph Odelyn)

O Departamento de Relações Exteriores do Canadá divulgou um comunicado que não se referia a Solages pelo nome, mas disse que um dos homens detidos por seu suposto papel no assassinato havia sido "temporariamente empregado como guarda-costas de reserva" em sua embaixada por um contratante privado.

Chamadas para a caridade e associados de Solages ficaram sem resposta. No entanto, um parente no sul da Flórida disse que Solages não tem nenhum treinamento militar e não acredita que ele esteja envolvido no assassinato.

“Sinto que meu filho matou meu irmão porque amo meu presidente e amo James Solages”, disse Schubert Dorisme, cuja esposa é tia de Solages, ao WPLG em Miami.

A polícia guarda suspeitos do assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise, detidos na Direção Geral da Polícia em Port-au-Prince, Haiti, quinta-feira, 8 de julho de 2021. Moïse foi assassinado em um ataque a sua residência privada na manhã de quarta-feira. (Foto AP / Jean Marc Hervé Abélard)

A embaixada de Taiwan em Port-au-Prince disse que a polícia prendeu 11 pessoas que tentaram invadir o complexo na manhã de quinta-feira. Não deu detalhes de suas identidades ou uma razão para a invasão, mas em um comunicado referiu-se aos homens como “mercenários” e condenou veementemente o “assassinato cruel e bárbaro” de Moïse.

“Quanto aos suspeitos estarem envolvidos no assassinato do presidente do Haiti, isso precisará ser investigado pela polícia haitiana”, disse o porta-voz das Relações Exteriores, Joanne Ou, à Associated Press em Taipei.

A polícia foi alertada pela segurança da embaixada enquanto diplomatas taiwaneses trabalhavam em casa. O Haiti é um dos poucos países com relações diplomáticas com Taiwan.

Suárez reportou de Bucaramanga, Colômbia. Goodman reportou de Miami. O cinegrafista da AP Pierre-Richard Luxama em Port-au-Prince e Johnson Lai em Taipei, Taiwan, contribuíram.


Bibliografia recomendada:

Violência e Pacificação no Caribe.
Coronel Fernando Velôzo Gomes Pedrosa.

A república negra:
Histórias de um repórter sobre as tropas brasileiras no Haiti.
Luis Kawaguti.

Leitura recomendada:



sexta-feira, 11 de setembro de 2020

GALERIA: Operação anti-mineração das forças especiais colombianas

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 11 de setembro de 2020.

Em 11 de maio de 2015, a Colômbia enviou 600 soldados das forças especiais para um ataque maciço, com helicópteros Black Hawk, a minas ilegais da floresta amazônica. A mineração ilegal fornece às narco-guerrilhas ganhos de até US$ 76 milhões (acima de 402 milhões de reais) por ano e danifica gravemente os ecossistemas em áreas protegidas.

A operação foi uma resposta aos rebeldes marxistas quando estes publicaram um vídeo brandindo a perna decepada de um soldado que foi mutilado por uma mina terrestre. As forças especiais varreram uma área de mais de 700 quilômetros quadrados de selva, prendendo dezenas de pessoas.


Enquanto o governo colombiano lançava um ataque maciço à atividade ilegal de mineração que financiava grupos rebeldes no país - 600 soldados da força especial apoiados por helicópteros Black Hawk e barcos infláveis atacaram de súbito uma mina de ouro ilegal. A operação, uma repressão aos grupos guerrilheiros de esquerda, prendeu 59 pessoas, incluindo 12 membros do maior grupo rebelde do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

O Ministério da Defesa disse que a atividade de mineração na região da floresta tropical gera mais de mais de 6 milhões de dólares por mês para os rebeldes, e que a operação militar foi o maior golpe contra o comércio ilegal em uma década. Os rebeldes operavam minas em cinco províncias orientais subdesenvolvidas, onde metais como tungstênio, ouro e coltan são extraídos. As atividades de mineração ocorrem principalmente em áreas de preservação ambiental como charnecas, rios e florestas - e são conhecidas por causar poluição aos ecossistemas, perda de habitats de animais e deslocamento de comunidades nativas. As minas visadas durante a incursão, denominada Operação Anostomus, estavam localizadas nas selvas dos departamentos de Guainia e Vichada, na Reserva Natural Puinawai.

A Reserva Natural Puinawai, onde ocorreu a operação. (Daily Mail)

O então presidente colombiano, Juan Manuel Santos (2010-2018), ordenou a repressão depois de expressar repulsa aos relatos de que o Exército de Libertação Nacional (ELN), outra facção rebelde marxista-leninista, instalou uma mina anti-pessoal em um parque infantil no noroeste da Colômbia, explodindo as duas pernas de um soldado. Falando durante uma visita ao México, Santos disse que colocar minas terrestres "já é um ato selvagem", mas "mostrar uma perna como um troféu ao lado de um colégio, é um ato bárbaro que beira à loucura". Santos então ordenou às forças armadas “que intensifiquem (a ofensiva) contra o ELN” e “redobrem os esforços contra esta organização criminosa”.



Embora o governo tenha mantido negociações de paz com as FARC desde 2012, ele ainda não havia iniciado nenhum diálogo com o ELN. Apesar de sua postura firme, Santos reiterou sua disposição de iniciar negociações de paz com o grupo, dizendo que o "ELN é parte desta guerra, parte deste conflito, e seria ideal para nós chegarmos a um acordo com os dois grupos (rebeldes)", disse ele ao canal mexicano Televisa.

Em 4 de setembro de 2017, o ELN e o atual presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, anunciaram uma trégua que começaria em 1º de outubro e duraria pelo menos até 12 de janeiro de 2018.





Em 17 de janeiro de 2019, o ELN explodiu um carro-bomba na Academia Nacional de Polícia General Santander em Bogotá, Colômbia. O caminhão detonou e matou 21 pessoas, incluindo o perpetrador, e feriu outras 68. Foi o ataque mais mortal à capital colombiana desde o atentado ao Clube El Nogal em 2003 e o primeiro ataque à capital desde o atentado ao Centro Andino em 2017. O ELN aceitou a responsabilidade pelo ataque e o justificou como uma resposta aos bombardeios feitos pelo governo colombiano durante o cessar-fogo unilateral. Como resultado do bombardeio, o presidente Iván Duque Márquez anunciou no dia seguinte, 18 de janeiro, que o diálogo de paz entre o Governo da Colômbia e o ELN estava oficialmente suspenso.

A força atual do ELN gira em torno de 2.500 guerrilheiros.



Vídeo recomendado:

Bibliografia recomendada:

Da Guerra à Pacificação: A escolha colombiana.
Ricardo Vélez Rodriguez.

Counterinsurgency in Modern Warfare.
Daniel Marston e Carter Malkasian.

Leitura recomendada:

Estupro, esterilização forçada e abortos fracassados: as escravas sexuais dos guerrilheiros das FARC na Colômbia5 de junho de 2020.

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VÍDEO: "Dispensamos opinião de estrangeiros sobre a Amazônia" - General Heleno3 de setembro de 2020.

Legionários e gendarmes destruíram um grande acampamento de garimpeiros ilegais na Guiana7 de abril de 2020.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Estupro, esterilização forçada e abortos fracassados: as escravas sexuais dos guerrilheiros das FARC na Colômbia

O tribunal de crimes de guerra da Colômbia deve ouvir testemunhos sobre o recrutamento ilegal de jovens pelas FARC. (AFP)

Por Mathew Charles, The Telegraph, 4 de janeiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 5 de junho de 2020.

Na Colômbia, eles a chamam de guerra invisível. Mas para as crianças e adolescentes para quem o playground se tornou um campo de batalha, a violência era inconfundível.

Em um conflito civil sangrento que durou mais de 50 anos, quase 17.000 crianças soldados foram roubadas de sua juventude, inocência e, em muitos casos, de suas vidas. E eles não eram apenas bucha de canhão.

Meninas jovens, e às vezes meninos, foram recrutadas para se tornarem escravas sexuais*. "Era como se eu fosse um brinquedo novo", diz Yamile Noscué, que foi sequestrada de sua casa por guerrilheiros de esquerda quando tinha apenas 15 anos em 2005. "Eu basicamente me tornei a prostituta de camuflado deles", diz ela.

*Nota do Tradutor: Essa prática também era comum nas guerrilhas esquerdistas brasileiras. A halterofilista Marília Coutinho foi estuprada pelos colegas militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) aos 15 anos por "solidariedade revolucionária"; um trauma que a levou ao halterofilismo. 

Poucas horas depois de chegar a um campo pertencente às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (as FARC) em Tolima, no centro da Colômbia, Yamile foi submetida a estupro e agressão sexual. Seria uma provação que duraria dois anos.

“Depois que o comandante toca uma garota, qualquer outra pessoa também pode, e quando quiser. Os estupros são constantes.

Yamile Noscue, ex-combatente das FARC e sobrevivente de aborto forçado.

O caso de Yamile agora está sendo investigado pelo tribunal de crimes de guerra da Colômbia. O tribunal, criado como parte do acordo de paz de 2016 entre o governo colombiano e os rebeldes das FARC, começará a ouvir testemunhos sobre o recrutamento ilegal de jovens em janeiro, e ex-comandantes superiores da guerrilha enfrentarão perguntas sobre o suposto abuso sexual que ocorreu dentro das fileiras da insurgência.

Yamile, que agora tem 29 anos, tentou relatar seu pesadelo às superiores, mas foi ignorada por elas. Ser usada para o sexo seria sua contribuição para a revolução, ela foi informada.

“Por causa do estupro, acabei grávida. Eu nem sabia quem era o pai. Poderia ter sido qualquer um de dezenas de homens”, diz Yamile. Aos 16 anos, e com seis meses de gravidez, ela foi forçada a abortar. Seus olhos expõem a dor que sua voz tenta esconder.

“Eles me seguraram e me deram pílulas. Eu estava enjoada e estava sangrando. Foi tão doloroso”, ela diz. Yamile pertence a uma crescente facção vocal de mulheres ex-combatentes testemunhando uma litania de abuso sexual, e falar tem um custo.

Um relatório de 2016 disse que havia pelo menos 214 casos de meninas 'sujeitas a estupro, esterilização forçada, aborto forçado e outras formas de violência sexual' nas mãos dos guerrilheiros das FARC. (AFP)

Ela foi seguida e ameaçada várias vezes por homens mascarados, que dizem para ela calar a boca e virar a página.

Em 2016, um relatório do promotor público colombiano disse que havia pelo menos 214 casos de meninas “sujeitas a estupro, esterilização forçada, aborto forçado e outras formas de violência sexual” nas mãos dos guerrilheiros das FARC.

O mesmo relatório estimou que poderia haver até mil abortos por ano realizados pelos insurgentes.

“Camila” - que estava com muito medo de dar seu nome verdadeiro - foi tirada de casa pelos guerrilheiros quando tinha apenas 14 anos. Quando engravidou um ano depois, recebeu uma injeção antes de ser operada contra sua vontade. “Eu lembro de acordar e estava sangrando muito”, lembra Camila.

Ela agora tem insuficiência renal crônica como resultado do aborto que sofreu. A organização, Women's Link Worldwide, enviou um relatório sobre a violência reprodutiva das FARC ao tribunal de crimes de guerra em outubro [de 2019].

Victoria Sandino, ex-comandante da guerrilha e agora senadora das FARC.

“Os abortos foram conduzidos em condições insalubres e não-higiênicas. Às vezes eles usavam drogas ou métodos não-ortodoxos para interromper a gravidez, outras vezes usavam cirurgia ”, diz Mariana Ardila, uma das advogadas da ONG.

As vítimas de violência sexual dentro das FARC dizem que o aborto forçado era uma política da guerrilha para garantir a rebelião e impedir que seus campos fossem soterrados por crianças.

Isso foi negado por Victoria Sandino, que já foi comandante guerrilheira e agora senadora das FARC, o qual se tornou um partido político*.

*NT: Por recomendação do ex-presidente do Brasil, Luís Inácio "Lula" da Silva, em 28 de abril de 2009.

"Se era uma política ou regra, eu não sabia disso e certamente não a inventei", disse ela ao Telegraph. “É claro que isso é algo que precisa ser investigado, mas é absurdo que as mulheres tenham sido recrutadas apenas para sexo. Além disso, no contexto da guerra, entendeu-se que a gravidez era simplesmente impossível. O que era obrigatório era contracepção."

O líder das FARC, Rodrigo Londoño - ou 'Timochenko' - pediu desculpas recentemente pelo sofrimento sofrido pelos jovens - mas não reconheceu o abuso que ocorreu nas fileiras da guerrilha.

A Sra. Sandino reconheceu que os abortos aconteceram dentro da insurgência. "Foi uma escolha que tivemos como mulheres", disse ela. "Assim como a escolha que tivemos para deixar a insurgência e criar uma família, se é isso que queríamos fazer, e muitas mulheres fizeram".

Não é assim, de acordo com Yamile. “Tive amigas que foram executadas, mortas a tiros por um pelotão de fuzilamento porque queriam ficar com o bebê. Não havia escolha - ela disse. "Você abortava a gravidez ou era fuzilada."

A história de Héctor Albeidis Arboleda, conhecido como "O Enfermeiro" ou "O Médico", também põe em dúvida a liberdade que as mulheres poderiam ter para deixar os rebeldes.

Em março de 2017, ele foi extraditado da Espanha para a Colômbia. Ele é acusado de realizar mais de 500 abortos forçados em mulheres militantes e atualmente está detido em uma instalação de alta segurança enquanto aguarda julgamento.

"Se algo fosse forçado, teria sido a decisão de comandantes individuais", disse Sandino.

Aquelas que sofreram aborto forçado não foram reconhecidas como vítimas pelo Estado colombiano, porque são consideradas ex-insurgentes e não sobreviventes de agressão sexual e violência reprodutiva.

Quase 17.000 crianças soldados foram roubadas de sua juventude no sangrento conflito civil que durou mais de 50 anos. (AFP)

Mas em uma decisão na semana passada, o Tribunal Constitucional do país anulou essa política, garantindo reparações para mulheres como Yamile e Camila.

"O Estado deve garantir atenção especializada a mulheres, meninas, adolescentes e adultos mais velhos que sobrevivam à violência sexual perpetrada por atores armados, o que implica a obrigação de atender essas vítimas de maneira imediata, abrangente e especializada", afirmou a decisão.

Em um evento recente em Medellín, realizado para comemorar os 2,3 milhões de jovens vítimas do conflito na Colômbia, o líder das FARC, Rodrigo Londoño ou "Timochenko", não reconheceu o abuso ocorrido nas fileiras dos guerrilheiros, mas reconheceu desculpar-se pelo sofrimento sofrido por gerações de crianças e adolescentes no país.

"Causamos dor e sofrimento, e muitas crianças morreram, mas essa nunca foi a nossa intenção", disse ele. "E por isso lamentamos."

Mas para Yamile, o pedido de desculpas não foi suficiente. "Eles devem pagar pelo que fizeram", diz ela. "Só espero que eles recebam o castigo que merecem."

Post Scriptum: Abortos forçados e estupros na Guerrilha do Araguaia

A guerrilha FOGUERA, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), de linha chinesa-maoísta e instalada no Araguaia, também cometeu os mesmos crimes com decisões do comando da guerrilha, ordenaram o estupro coletivo de guerrilheiras para "aliviar a tensão" dos colegas, assim como ordenaram o aborto forçado de guerrilheiras que engravidaram.


Em 1971, Pedro Albuquerque Neto desertou com sua namorada grávida, Tereza Cristina, porque o comando militar da guerrilha decretou o aborto forçado da criança. Eles dois foram presos pelos militares. Isto foi decretado pela esquerda como a "traição" que entregou a guerrilha aos militares. 

Essa versão foi revista em prol de outra, onde a verdadeira "culpada" foi a guerrilheira Lúcia Regina, que desertou da guerrilha por conta de uma curetagem mal-feita durante o aborto forçado. A curetagem uterina é um procedimento médico executado para retirar material placentário ou endometrial da cavidade uterina por um instrumento denominado cureta. Este método é necessário quando existem complicações pós-aborto e tem como função principal limpar os restos do mesmo.

Uma Equipe Zebra com dois guerrilheiros capturados no Araguaia.
Os "zebras" eram militares e mateiros atuando descaracterizados em missões de contra-guerrilha.

Conforme narra o historiador Hugo Studart no livro "A Lei da Selva" (2006), páginas 91 a 94:

'Nessas mais de três décadas, as suspeitas recaem principalmente sobre dois ex-guerrilheiros, Pedro Albuquerque Neto e Lúcia Regina de Souza Martins. Eles desertaram em 1971, antes da chegada dos militares. Em seu relatório, o comandante Ângelo Arroyo aponta na direção de Pedro sua "verdade":

"O Exército soube da nossa posição através de denúncia do traidor Pedro Albuquerque que, meses atrás, havia fugido, com sua mulher [Tereza Cristina, grávida], do Destacamento C. O casal tinha concordado plenamente com as tarefas que iam realizar e com as condições difíceis que iam enfrentar. No entanto, logo depois de sua chegada ao Destacamento C, a mulher de Pedro Albuquerque começou a dizer que não tinha condições para permanecer na tarefa e acabou convencendo o marido a fugir. (...) Em março de 72, sabe-se que Pedro Albuquerque havia sido preso no Ceará e, em seguida, começou a pesquisa policial na zona."

De saída, vemos, o PC do B condenou Pedro como traidor. Ele desertou com a mulher em agosto de 1971. A partir do início dos anos 1980, o partido mudaria de posição; inocentou Pedro e passou a apontar outra guerrilheira, Lúcia Regina, como a "verdadeira" traidora. A principal suspeita a recair sobre Regina era o fato de ter desertado a fim de retornar para a casa dos pais em São Paulo, em dezembro de 1971, pouco antes da chegada dos militares à região.A suspeita se acentuou ao circular dentro do partido a informação de que o pai de Lúcia seria oficial aposentado do Exército. Principal acusadora: Elza Monerat, dirigente da guerrilha.

Em 2002, depois de 30 anos de silêncio, Lúcia Regina concedeu entrevista a quatro estudantes de Jornalismo. Sua "verdade" era outra. Negou que tenha entregado a guerrilha aos militares ao desertar. Na "verdade", conta ela, seu interrogatório só teria acontecido em 1975, depois de exterminada a guerrilha; aí, sim, contou o que sabia. E por que Regina desertou? Porque, conforme explicou aos estudantes, os comandantes a obrigaram a praticar aborto, já que, naquela situação, as regras da guerrilha não permitiam gravidez. Ela contraiu forte infecção. Corria perigo de vida e a dirigente Elza Monerat levou-a até um hospital em Anápolis (GO). Assim que Elza se retirou, Regina fugiu para a casa dos pais em São Paulo. Recusou-se a voltar para a guerrilha e nunca mais falou com membro algum da direção do PC do B.'

O caso foi reconfirmado por Studart durante uma entrevista sobre o livro seguinte, Borboletas e Lobisomens (2018), onde é registrado que o livro "[r]evela ainda o caso de uma outra guerrilheira: em plena selva e no meio das ações, ela engravidou e foi obrigada pela guerrilha a abortar. Para completar, há relatos que mostram guerrilheiras sendo obrigadas a fazer sexo com até cinco “companheiros”, para aliviar a tensão da turma."

Discuro do Coronel Lício Maciel


Vale lembrar que, conforme relatado pelo Coronel Lício Maciel aos 11:14 do vídeo:

"Pedro Albuquerque, ele fugiu porque os bandidos exigiram que ele fizesse um aborto em sua mulher, que estava grávida. Eles não se conformaram com a ordem, principalmente porque outra guerrilheira grávida tinha sido mandada para São Paulo para ter o filho nas mordomias daquela cidade. Ela era casada com o filho do chefe militar da guerrilha, Maurício Grabois."