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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Vadim Elistratov: Dirigindo o T-34

Entrevista com Vadim Elistratov, Tank Archives, 8 de fevereiro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de fevereiro de 2021.

Vadim Elistratov é um renomado restaurador de veículos blindados e possui ampla experiência na condução de tanques que ele e seu grupo restauram. Em uma entrevista recente à TacticMedia, ele relata a experiência de dirigir um tanque T-34.

Dirigindo o T-34

domingo, 13 de setembro de 2020

ENTREVISTA: O 1° Grupo de Aviação de Caça nos céus da Itália

O dia 22 de abril de 1945 foi o dia com o maior número de missões de combate do 1º GAvCa, 44 missões de guerra destruindo mais de 100 alvos em um único dia, sendo celebrado até hoje no Brasil como o Dia da Aviação de Caça. (Arte de Gino Marcomini)

"O Brasil Brilhou!"

Eis o que afirma o major John W. Buyers, piloto que esteve com o primeiro grupo de caças brasileiros na Itália em 1944-45.

Major John William Buyers, 08 de janeiro de 1920 – 23 de abril de 2016.
(Foto de Lucas Pires)

John Buyers tem nome de norte-americano, mas nasceu em Juiz de Fora (MG) e morou até os 19 anos no Brasil. No entanto, teve formação militar nos EUA. Nacionalidade? Dupla: brasileira e americana. O Major Buyers, como é chamado hoje, foi um dos muitos pilotos de caça que estiveram na Segunda Guerra Mundial. Foi enviado para a Itália com os pilotos brasileiros. Na verdade, quando na Aeronáutica americana, em 1942, veio ao Brasil trazer aviões e acabou incorporado às forças armadas nacionais. Em contato com o pessoal brasileiro, fez amizades e, por falar português, seguiu junto para Aguadulce, Panamá, onde os pilotos tupiniquins foram treinados e, posteriormente, enviados à Itália. Como ele mesmo se definiu, era um "quebra-galho", mas, mesmo assim, fez missões aéreas e ajudou nas operações do esquadrão "Senta a Púa!", sobre o qual escreveu o livro "A História do 1º Grupo de Caça 1943/1945", lançado [em 2004]. Na entrevista [à revista] Conhecer Fantástico, o major fala sobre a experiência junto aos brasileiros e conta histórias vividas na Itália pelos pilotos da FAB.

Conhecer Fantástico: Como começou sua atuação junto ao Brasil na guerra?

John Buyers: Quando terminei o treinamento em aviação nos EUA, pediram sete voluntários que falassem espanhol. Meu nome já estava na lista, pois eles não sabiam a diferença do português para o espanhol. Pensávamos que iríamos para as Filipinas, mas acabamos no Rio de Janeiro.

O Senta Púa na Itália.

CF: Com qual intuito?

JB: A missão era transportar aviões para o Brasil A FAB tinha pouco mais de um ano, uns 200 pilotos e 200 oficiais administrativos e o país não tinha dinheiro para comprá-los. Mas os EUA precisavam enviar aeronaves para a Europa e a África e o caminho era pelo Nordeste brasileiro. Pelo Norte, não dava: com seis a sete meses por ano de mau tempo, perdiam-se muitos aviões. Então, fizeram um acordo com o Brasil, que permitiu que fossem construídas bases na região para os norte-americanos poderem operar. Essas bases foram estabelecidas no Amapá, em Belém, São Paulo Luiz, Fortaleza, Natal, no Recife, em Maceió e na Bahia, 25 no total. Era um movimento colossal nas bases. Em Natal, por exemplo, passavam até 300 aviões por dia indo para a África.

CF: Vieram e ficaram?

JB: Viemos num total de 10 aviões, com um piloto e um mecânico ou especialista em rádio. Ficamos no Recife, eu e mais dois pilotos, além dos mecânicos, porque os aviões mais avançados estavam todos lá. Foi quando resolveram organizar o primeiro grupo de caça, sob orientação dos norte-americanos, que substituíram os franceses quando estes voltaram para a Europa com o início da guerra.

CF: Como surgiu a idéia ou a necessidade de pilotos brasileiros irem à guerra?

JB: Os EUA queriam, naturalmente, que o Brasil se envolvesse na guerra porque buscavam implantar o sistema militar que lhes correspondesse, o que facilitaria numa futura guerra. Era essa a atitude norte-americana, mas Vargas não queria entrar no conflito. Foi forçado porque os alemães e italianos começaram a afundar navios brasileiros. O alemão considerou uma afronta o fato de o Brasil ter feito um contrato com o norte-americano de deixar os aviões passarem pelo país.

Militar brasileiro posando ao lado do famoso emblema "Senta a púa!".

CF: E dentro da sua convivência ali no Nordeste, o que o senhor via se a população brasileira estava esperando pela guerra?

JB: O Brasil não queria entrar na guerra. O Getúlio tinha uma opinião, ele dizia assim: "Em briga de cachorro grande, cachorro pequeno não entra". E considerava o país não-apto a entrar numa guerra. O que queria era tirar vantagem, ou seja, vender o que os países em conflito precisavam, como cristal de rocha que o Brasil exportou, e era muito necessário para a fabricação dos rádios.

CF: Qual foi o caminho dos pilotos brasileiros até a Europa em condições de combate? O senhor esteve com eles?

JB: Em primeiro lugar, fomos para o Panamá, para a base aérea de Aguadulce, onde havia uma escola de treinamento de pilotos de caça, que formava de 40 a 50 pilotos por mês. Lá, fizemos m treinamento em conjunto e foi aí que os pilotos brasileiros aprenderam o sistema norte-americano de vôo, treinamento intensivo de vôo rasante, bombardeio, carga, tiro ao alvo etc. O grupo avançado, composto por 10 ou 15 pessoas, acabou indo para Orlando fazer um treinamento para pilotos de caça, aprendendo as táticas utilizadas na Europa, na África e na Ásia.

O então Capitão John W. Buyers, da USAAF, era o oficial de ligação entre o 1° Grupo de Caça da FAB e os americanos.

CF: Chegando à Itália, os brasileiros estavam de fato preparados para a guerra?

JB: Foi uma surpresa para os norte-americanos que os pilotos brasileiros estavam não somente muito bem treinados, como também tinham tido treinamento e experiência aqui no Brasil sem a estrutura de aviação com que o norte-americano contava. Não se tinha mapas, rádios, nada. Costumo dizer que aprendi a pilotar na América do Norte, mas aprendi a voar no Brasil. O norte-americano que estava em combate pilotava, mas não sabia voar, e o brasileiro chegou sabendo pilotar e voar.

CF: Então, é verdade que os pilotos brasileiros eram muito bons tecnicamente?

JB: Vou dar um bom exemplo. Os brasileiros tiveram de se virar sozinhos, mas, como estavam bem-treinados e eram bons mesmo, organizaram-se e começaram a fazer missões, e os norte-americanos: "pô,  chegaram aqui hoje e já estão fazendo isso, destruindo aquilo, atirando naquilo...". Eles achavam que estávamos mentindo e, então, mandaram instalar uma máquina fotográfica especial nos nossos aviões. Quando o piloto brasileiro jogasse as bombas, ele tinha de passar por cima e fotografar o alvo para comprovar o que estava dizendo. Depois de uma semana, mandaram retirar as máquinas. Eles viram que era verdade.

CF: O senhor foi para a Europa basicamente, digamos, liderando o esquadrão brasileiro nessa ligação com as demais tropas aliadas?

JB: Minha função era quebrar galho. Se houvesse algo que estava atrapalhando, eu tinha que providenciar que aquilo fosse eliminado. Minha instrução era intermediar, pois ninguém queria norte-americano se metendo e criando caso com brasileiro. Quando chegamos, fui me apresentar ao comandante para informá-lo de que eu também era um oficial. Ele me olhou e disse: "Olha, eu só tenho tido problemas aqui e não pedi esse pessoal. Não quero mais problema por aqui". Level um choque e respondi: "O senhor não conhece os brasileiros, mas vou dizer uma coisa: um dia o senhor vai ter orgulho de os ter tido sob seu comando". Ele disse apenas "I hope so" (Espero que sim).

CF: Quando chegaram à Itália? Como foi o contato com o terreno de guerra?

JB: Chegamos em outubro de 1944 e o exército brasileiro já estava lá. Foi um choque para nós. Éramos jovens, cheios de idéias e não tínhamos a mínima noção do que era uma guerra. Quando chegamos num porto todo arrebentado, o navio não podia passar porque os alemães tinham afundado outras embarcações na passagem e colocado minas dentro. Tiveram de explodir as bombas para o navio passar, com apenas um metro de cada lado livre.

Limpeza de armamento em um P-47 Thunderbolt na Itália.

CF: E a guerra em si, o que se pode fizer da atuação dos pilotos brasileiros?

JB: Não há dúvidas de que o Brasil brilhou. Os norte-americanos desconheciam os brasileiros, mas não houve nenhum atropelo. No começo, naturalmente, estranharam, mas, quando perceberam que os brasileiros eram eficazes, empurraram para eles o que puderam. Uma vez, o grupo de caça brasileiro descobriu que uma tropa norte-americana já havia rompido as linhas do domínio alemão e estava a mais de 60 milhas dali. Os norte-americanos do exército não sabiam e estavam lá com os tanques atacando os próprios companheiros porque, por uma questão de posição, as montanhas interferiram nas comunicações de rádio e não foi possível avisar. O quartel general norte-americano não sabia que eles já tinham avançado e estavam mandando fogo. Foram os brasileiros que descobriram e avisaram.

CF: Os brasileiros salvaram os norte-americanos de um erro crasso, então?

JB: Foi um acontecimento fantástico. O coronel norte-americano que, logo de início, disse que não queria ter problemas com os brasileiros, me telefonou pedindo pra ir falar com ele e me disse: "Olha, jovem, estou satisfeitíssimo com os pilotos de caça brasileiros. É o melhor grupo que eu tenho, tanto que recomendei a Presidential Unit Citation para eles". Eu caí pra trás, não tem condecoração na força aérea norte-americana mais elevada do que essa, pois representa o presidente da república falando. Na época, foi negado porque era somente para a tropa americana, mas, 40 anos depois, em 1986, um comandante em Cabo Canaveral, amigo de meu irmão, a pedido meu, voltou a fazer a recomendação. O ex-presidente Ronald Regan assinou e o Brasil recebeu. Só duas unidades estrangeiras ganharam: uma inglesa* e a brasileira.

A PUC é representada simplesmente por uma barreta, sem medalha.

*Nota do Warfare: Os Esquadrões Nº 2 e 13, da Força Aérea Real Australiana foram condecorados com a Distinguished Unit Citation pelo seu serviço na área do Timor, de maio a outubro e de agosto a setembro de 1942, respectivamente. Apesar de ter sido concedida em outubro de 1942, a citação não foi oficialmente apresentada aos Esquadrões até maio de 1990. A Menção de Unidade Distinta (Distinguished Unit Citation) foi redesignada após a Segunda Guerra Mundial como Menção de Unidade Presidencial (United States Presidential Unit Citation, PUC).

CF: E como eram as missões realizadas pelos pilotos? E os alvos?

JB: Os norte-americanos decidiam e comandavam as missões, que eram distribuídas para o comandante do nosso regimento, o 350, que redistribuía entre os quatro grupos de caça que comandava - três norte-americanos e um brasileiro. Eram alvos estratégicos. Atuávamos para estrangular, mas não tínhamos nenhuma noção naquele tempo. Os inimigos só tinham um meio de trazer munição e suprimentos: por comboios. Então, íamos todos os dias atacar para impedir a chegada deles. Em determinado ponto, os alemães, em de vez de terem 200 ou 300 comboios chegando com munição, só tinham sete ou oito. Acabaram se rendendo.

CF: E combate aéreo, chegou a acontecer?

JB: Nós não tivemos, mas estou descobrindo agora com a história do 350 que o comandante norte-americano sabia que os alemães estavam atacando somente os aviões P-25, que bombardeavam as fábricas. Os P-25 eram muito mais perigosos para os alemães do que os caças. Então, eles estavam concentrando a defesa a esse tipo de ataque. Deram a nós a oportunidade de entrar em combate aéreo dando escoltas, mas os alemães nunca atacaram os brasileiros.

CF: Os brasileiros tinham algum jeito de lidar com a guerra, eram mais bem-humorados, tinham mais medo?

JB: Eles eram realmente bons. Jogavam bomba como todo mundo, mas usavam táticas diferentes às vezes. Em alvos de oportunidade, por exemplo, voavam um pouco mais baixo, a 100 pés. Quando se está mais baixo, é possível ver coisas camufladas que, de cima, não se enxerga. Esse era um dos nossos segredos.

CF: Depois da guerra, o senhor voltou ao Brasil?

JB: O comando norte-americano me ofereceu um grupo de caça no Pacífico, mas eu não quis. Já tinha tido minha experiência e queria vir para o Brasil. Pedi, então, pra ver se conseguia vir para o comando do Rio de Janeiro e voltei com os brasileiros de navio.

- Revista Conhecer Fantástico, pg. 42-43, 2004.

O emblema "Senta a púa!" exposto no National Museum of the U.S. Air Force (Museu Nacional da Força Aérea dos EUA) localizado na Base da Força Aérea de Wright-Patterson, em Dayton, Ohio.

Post-Script: Recomendação da Presidential Unit Citation (PUC) brasileira

A recomendação do Coronel Ariel Nielsen, comandante do 350th Fighter Group (350º Grupo de Caça), unidade a qual os brasileiros estavam subordinados durante a campanha na Itália. Ele escreveu em sua recomendação:

“Nas perdas que sofreram nessa ocasião, como também em muitos ataques anteriores, tiveram seu número de pilotos reduzidos à metade em relação às unidades da Força Aérea dos Estados Unidos. Porém, um número igual de surtidas, operando incansavelmente e além do normal no cumprimento do dever. A manutenção dos seus aviões foi altamente eficiente, a despeito das avarias sofridas pela antiaérea e o desgaste despendido na recuperação dos aviões. Este grupo entrou em combate na época em que a oposição antiaérea aos caças-bombardeiros estava em seu auge. Suas perdas têm sido constantes e pesadas e não têm recebido o mínimo de pilotos de recompletamento estabelecido. Como o número de pilotos cada vez diminuía mais, cada um deles teve que voar mais de uma missão diária, expondo-se com maior frequência. Em muitas ocasiões, como Comandante do 350th Fighter Group, eu fui obrigado a mantê-los no chão quando insistiam em continuar voando, porque eu acreditava que eles já haviam ultrapassado os limites de sua resistência física.”

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Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

Experiências de Combate da Infantaria Brasileira na Itália24 de abril de 2020.

A Companhia de Fuzileiros na campanha da Itália27 de março de 2020.

VÍDEO: Batalha de Fornovo: a Rendição 148ª Divisão Alemã para a Força Expedicionária Brasileira12 de maio de 2020.

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O primeiro salto da América do Sul13 de janeiro de 2020.

Os Processos Políticos nos Partidos Militares do Brasil, 21 de janeiro de 2020.

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GALERIA: Manobras com o Sherman no Brasil, 195730 de janeiro de 2020.

GALERIA: Paraquedistas brasileiros em 195729 de janeiro de 2020.

GALERIA: O legado militar do Rio de Janeiro - O Forte de Copacabana3 de maio de 2020.

domingo, 7 de junho de 2020

A História de um Veterano: Um oficial russo e sopa de picles

Coronel Knanon Zaretsky em uniforme. (Pete Mecca)

Por Pete Mecca, Warbirds News, 27 de junho de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 7 de junho de 2020.

O Armagedom é mencionado no livro do Apocalipse como uma referência à batalha final entre as forças do bem e do mal. Estudiosos religiosos do cristianismo à fé bahá'í especularam que as forças armadas rivais se reunirão perto do Monte Megido, uma área dominada pelos modernos kibutzen israelenses de Megido, vizinhos do rio Kishon. Localizado no norte de Israel, esse "campo de batalha final" fica perto da fronteira com a Síria e a poucos passos de Damasco.

Os teóricos espirituais predominantes acreditam que o Armagedom será "o" conflito final entre as duas maiores potências do mundo, o urso russo e a águia americana. Até o momento em que este artigo foi escrito, jatos russos e aviões americanos estão jogando um jogo perigoso de gato e rato nos céus da Síria devastada pela guerra. Uma ordem acidental de “derrubar” ou mal interpretada poderia facilmente levar o mundo a um confronto nuclear. A Rússia e os Estados Unidos, que antes eram aliados na Segunda Guerra Mundial e agora são adversários políticos, estão envolvidos em conflitos armados potenciais e prováveis, uma luta que nenhum dos lados deseja ainda e da qual não pode recuar.

Com a rendição da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, os campos de matança da Europa haviam cobrado um preço terrível: as perdas americanas de aproximadamente 400.000 pesavam contra entre 10 a 20 milhões de mortos de guerra soviéticos. O Coronel Knanon Zaretsky foi um dos sortudos; ele sobreviveu à luta implacável, quando o urso e a águia lutaram pelo mesmo objetivo. E esta é a história dele, com a assistência do intérprete russo Yuriy Gluzman.

Hoje, o ex-coronel soviético Knanon Zaretsky é o fundador do Museu Russo de Camaradagem, na instalação MedSide Healthcare em Sandy Springs. (Pete Meca)

Em 1993, a Academia Russa de Ciências sugeriu que o número correto de mortos soviéticos na Segunda Guerra Mundial pairava em torno de 26,6 milhões. Outros estudiosos especularam que o número real de mortos, tanto militares quanto civis, seja mais realista, com 40 milhões. No dia da nossa entrevista, estudantes de estudos russos da Universidade do Norte da Geórgia estavam visitando o Museu Russo da Camaradagem em Sandy Springs. Sua instrutora de idioma, Tatiana Maslova, é uma russa nativa que também fala inglês, russo e francês impecavelmente. A estudante Tanya Dakake é da Letônia e fala russo, letão e inglês. Outra estudante, Anastasia Skutar, filha de um oficial de inteligência, nasceu e cresceu na Ucrânia. Ela fala fluentemente ucraniano, russo, inglês perfeito e "um pouco" de alemão. Ela é formada em direito pela Ucrânia e logo se formará em contabilidade pela UNG.

O Coronel Zaretsky conversou brevemente com os alunos antes de nossa entrevista. Ele é o fundador do Museu Russo da Camaradagem na unidade de saúde MedSide em Sandy Springs. Falador e perspicaz, o coronel testemunhou o pior do homem, mas mantém otimismo indestrutível para a humanidade. Zaretsky nasceu em Bobruisk, Bielorrússia, em 1924. Aluno da nona série no início da Segunda Guerra Mundial, ele testemunhou sua cidade natal perder mais de um terço da população. Felizmente, a família Zaretsky se mudou para o Cazaquistão. O coronel lembrou: “Estudei tratores, a mecânica de muitas coisas, mas acabei estudando na academia de guerra, e então fui enviado à escola de oficiais para comunicações. Estudei muito e me formei primeiro da classe. Eles disseram que eu era quase genial; eu concordo com isso," ele disse rindo. "Por causa dos meus estudos bem-sucedidos, fui mandado para Moscou, em vez de ir para a frente de batalha." (O intérprete lutou com a tradução, mas aparentemente o Coronel Zaretsky se tornou um dos principais "inovadores" ou "inventores" de Moscou). O Coronel continuou: "Estávamos sempre atualizando as coisas, aprimorando isso e aquilo, sempre em um esforço para melhorar o antigo ou inventar o novo para ajudar na guerra".

Aos 18 anos, o romantismo da guerra era difícil de resistir. Zaretsky lembrou: "Pedi uma postagem de combate, queria participar da guerra, mas não esperava uma escola paraquedista. Foi muito perigoso, mas também muito emocionante. Nossa plataforma de salto foi um Tupolev TB-3. ” (Nota: os pára-quedistas americanos "saltavam" de aviões; os russos "deslizavam" de aviões. No entanto, o Tupolev TB-3 era de fato uma plataforma. Os paraquedistas russos “escorregavam” ou “deslizavam” pelas asas, às vezes aguentando o vôo inteiro segurando um cabo preso à parte superior da asa). O Coronel Zaretsky discutiu outra falha: “Nossos pára-quedas eram mal-feitos. Geralmente um em cada 10 pára-quedas falhava, causando muitas mortes. Finalmente recebemos pára-quedas americanos e ficamos empolgados em recebê-los.” Quando perguntado por quê, Zaretsky respondeu: "Eles abriam!"

Paraquedistas russos "deslizando" de um Tupolev TB-3. (Pete Meca)

Refletindo sobre a guerra aos 18 anos: “Era perigoso, mas romântico de certa forma. Eu tinha 18 anos, sem medo, lutando pela Mãe Rússia. Na verdade eu andei até o combate na primeira vez, eu não precisei saltar de pára-quedas. Como comandante de uma unidade de comunicações, tinha cerca de 30 soldados sob meu comando. Nossa primeira missão de combate foi à noite. Chegamos a uma cidade pequena, estava pegando fogo, tudo queimando, mas não entramos em pânico, estávamos todos calmos. Nosso trabalho era fornecer comunicações, e foi o que fizemos." Parando por um momento, o Coronel Zaretsky disse: "...eu poderia lhe contar mil histórias."

Com baixas em tão horrível escala, o coronel perdeu muitos dos seus homens para os invasores alemães. Sua unidade viu ação na Tchecoslováquia, Áustria, Hungria e Alemanha. Ele lembrou um incidente na Alemanha: “Estávamos em uma pequena cidade alemã quando uma mulher se aproximou de mim, assustada e chorando. "Você é oficial", disse ela. "Um de seus homens roubou meu relógio." Minha resposta foi: "E daí?" Ela explicou que não era apenas um relógio, mas tinha sido um presente com significado especial. Eu acreditei nela. Perguntei aos meus homens: 'Quem pegou o relógio?' Mas não houve resposta, então avisei os homens, "Devolva o relógio ou, se eu descobrir mais tarde quem fez isso, será fuzilado." Um soldado deu um passo à frente e devolveu o relógio. Mais tarde ele me perguntou: "Você realmente teria me fuzilado por um relógio?" E eu disse a ele: 'Nós não somos como alemães, lutamos por uma razão diferente'."


Durante uma visita à Alemanha com sua esposa em 1996, o coronel passeava com seu cachorro uma manhã quando conheceu um cavalheiro alemão que também passeava com um cachorro. Relembrando a conversa, o coronel disse: “Conversamos sobre a guerra. Por que e como isso aconteceu? O homem queria aprender sobre mim e o povo russo. Na manhã seguinte, ele estava me esperando, querendo entender mais. Ele não conseguia entender por que ele e eu já fomos inimigos."

Em outro incidente, o coronel e sua esposa perceberam que estavam perdidos a caminho do aeroporto. Eles pediram instruções a uma mulher alemã. "Ficamos surpresos por ela ser tão prestativa e agradável", disse Zaretsky. “A mulher estava verdadeiramente preocupada. Não podíamos acreditar." (O intérprete, Yuriy, explicou o motivo pelo qual o coronel e sua esposa ficaram tão chocados com a cortesia da mulher. Yuriy disse: “Veja, na Rússia, se você pedir orientações às pessoas, as pessoas olham para você como 'você é estúpido ou algo assim? Vá achar um mapa'. É muito difícil para os americanos entenderem. Atitude muito diferente na Rússia.”)

O Coronel Zaretsky vive nos Estados Unidos desde maio de 1990. Ele possui três diplomas, um concedido pelos estudos do comunismo, enquanto estava sob o reinado de Josef Stálin. Ele lembrou: “Sob Stálin, você não podia dizer o que pensava. Muito perigoso falar a verdade. O comunismo é impossível. Marx e Lênin, eles diziam que as pessoas comuns deveriam governar. Isso está errado. Elas não estão prontas para governar um país. Você precisa de pessoas inteligentes para administrar um país, para tomar as decisões apropriadas. Você não pode ter pessoas de classe baixa administrando um país. Stálin tiraria as pessoas instruídas de cargos importantes e as substituiria por analfabetas. Um homem poderia ser um trabalhador braçal um dia, um gerente no dia seguinte, sem escolaridade ou treinamento. O governo não funciona dessa maneira.

“Carl Marx disse que um país deve ser governado por pessoas comuns. Como isso é possível? Você precisa de treinamento; você precisa de educação. Eu nunca concordei com o comunismo. Comunismo não é utopia. O ideal comunista de como governar um país é falho, o país não sobreviverá.”


Quando perguntado se o povo russo estava melhor depois da queda da Rússia soviética, o Coronel Zaretsky respondeu: “Mesmo após a morte de Stálin, a economia russa começou a melhorar. E depois que o comunismo fracassou, o povo podia viajar, deixar o país. A economia estava muito melhor.”

Quando perguntado por que ele se mudou para os Estados Unidos da América, Zaretsky respondeu: "Meus filhos estão aqui", disse ele, sorrindo.

E ele gosta dos EUA? "Os EUA estão certos", disse ele. “Construíram uma nação da maneira certa. Se você realmente quer algo nos EUA, precisa estudar, trabalhar, mas pode fazê-lo. Liberdade, é bom.

Seus comentários finais. “Outra guerra mundial não é boa agora, ninguém vence; todo mundo morre. Nossa missão é garantir que a guerra não aconteça. Precisamos de conversações pacíficas para evitar a guerra. A paz é melhor que a guerra.

“Após a queda do comunismo, os livros de história russos agora ensinam que Stálin e Hitler queriam governar o mundo juntos. Stálin se considerava mais esperto que Hitler, mas Hitler era mais esperto que Stálin. O pensamento militar de Stálin estava retido na Primeira Guerra Mundial, grandes exércitos, sem novos tanques, sem equipamentos modernos. A política falha, as pessoas morrem.”

No final da entrevista, o coronel Zaretsky disse: “Vamos almoçar agora. Peço desculpas, meu inglês não é tão bom". Eu respondi: “Também devo me desculpar, coronel... o meu russo também não é".

Os russos serviram almoço, começando com sopa de picles. Mas isso é outra história.

O Coronel Zaretsky com visitantes no Museu Russo da Camaradagem. (Bill Hendrick)

O Museu Russo de Camaradagem está aberto todos os dias, exceto aos sábados. Ele está localizado em Sandy Springs, MedSide Healthcare Building, 1120 Hope Road. O Dr. Victor Vaysman, CEO da MedSide Healthcare, sua linda esposa Yuiya Korabelnikova e sua equipe zelosa planejam expandir o museu para incorporar mais informações sobre veteranos americanos e exibir mais artefatos americanos da Segunda Guerra Mundial. Para saber como você pode ser útil ou agendar um passeio, ligue para 404-633-7433.

Talvez Valdimir Putin e Donald Trump devam se encontrar perto de Megido, sentar e compartilhar uma tigela de sopa de picles enquanto discutem política. Estou convencido de que uma tigela de sopa de picles é uma opção muito mais saudável do que o Armagedom.

Bibliografia recomendada:

Soviet Airborne Forces 1930-1991.
David Campbell.

A History Soviet Airborne Forces.
David M. Glantz.

Inside the Blue Berets:
A Combat History of Soviet & Russian Airborne Forces, 1930-1995.
Steven J. Zaloga.

The Soviet Airborne Experience.
Ten-Cel David Glantz.

Leitura recomendada:



GALERIA: Bawouans em combate no Laos28 de março de 2020.

O primeiro salto da América do Sul13 de janeiro de 2020.




segunda-feira, 6 de abril de 2020

Aaron Cohen: Soldado, Ator, Escritor, Espião

Aaron Cohen. 

Por Gerri Miller, Jewish Journal, 11 de setembro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 6 de abril de 2020.

Aaron Cohen viveu muitas vidas em seus 43 anos. Nascido em Montreal, ele se voluntariou para o exército israelense aos 18 anos e serviu por três anos em uma unidade de contraterrorismo de elite das Forças Especiais, sobre a qual escreveu em suas memórias "Brotherhood of Warriors" (Irmandade de Guerreiros, 2008). Então, usando seu treinamento das Forças de Defesa de Israel (FDI), ele abriu sua própria empresa, fornecendo segurança pessoal para celebridades e VIPs.


Agora, com questões de segurança mais importantes do que nunca, ele treina e aconselha agências policiais enquanto segue uma carreira em Hollywood. Sua última missão: interpretar um capitão da polícia em "Rambo: Last Blood" (Rambo: Até o Fim, 2019), ao lado de Sylvester Stallone. Cohen conversou com o Journal sobre sua jornada das missões secretas israelenses aos bastidores de Hollywood.


Jewish Journal: Como você veio para servir nas FDI?

Aaron Cohen: Depois que meus pais se divorciaram, minha mãe se casou com Abby Mann, roteirista de Oscar de Judgement at Nuremberg (Julgamento em Nuremberg, 1961), e nos mudamos para Los Angeles. Ele era um sionista e acreditava muito no estado judeu. Ele incentivou a idéia de eu ir para Israel e servir nas FDI. Então eu comecei a ler sobre Israel. Eu frequentei uma escola militar em uma parte do ensino médio e, quando me formei, eu realmente não sabia o que fazer. Eu não tinha planos para a faculdade. Fui para Israel e me ofereci no Kibutz HaZore'a, onde passei quatro meses aprendendo hebraico. Eu me apaixonei por Israel e entrei para as FDI porque pensei que seria uma grande oportunidade para aprender sobre Israel e fazer algo aventureiro. Após um período de treinamento de 18 meses, entrei para a unidade Duvdevan, na qual o programa “Fauda” (2015) é baseado. Os soldados se disfarçam de árabes com o objetivo de se infiltrar em bairros terroristas e enviar terroristas de volta a Israel para julgamento e interrogatório. Eu também aprendi árabe. Eu estive em mais de 200 missões.

Aaron Cohen no exército.

JJ: Você também trabalhou em operações secretas com o Mossad, certo?

AC: Não reconheço publicamente nenhuma conexão com o serviço de inteligência estrangeira de Israel, mas direi que trabalhei em estreita colaboração com a comunidade de operações especiais em Israel enquanto estava na unidade, e é tudo o que posso dizer sobre isso.


JJ: Você voltou para Israel? 

AC: Algumas vezes. Sou sionista e judeu que realmente acredita na importância do Estado de Israel. Eu sou filho de Israel. Eu nunca tirarei Israel do meu sangue. Eu quero levar minha futura esposa para lá. Eu acabei de ficar noivo.

Treinamento disfarçado em Israel.
A túnica chama-se "galabia" e o 
cachecol xadrez "keffiyeh". O AK47 é chamado em Israel de "Kalatch".

JJ: Como foi sua educação judaica? 

AC: Eu venho de uma família com uma forte identidade judaica, mas não muito observadora. Meus avós são judeus russos do lado de minha mãe e meu pai é russo e romeno. Eles eram caminhoneiros e colecionadores de metais - judeus durões que emigraram para o Canadá pouco antes da [Segunda Guerra Mundial]. Existem alguns sobreviventes do holocausto do lado de meu pai.

Já como instrutor no terceiro ano de serviço.

JJ: Após as FDI, qual era seu plano? 

AC: Eu não sabia. Tive alguma depressão e provavelmente um pouco de PTSD e passei o próximo ano e meio descomprimindo. Então comecei a trabalhar como guarda-costas para Brad Pitt e os Schwarzeneggers. Pouco antes do 11 de setembro de 2001, abri minha própria empresa de segurança, contratando mais de 200 homens da minha unidade ao longo dos anos e devolvendo aos israelenses que queriam uma oportunidade aqui. Eu trabalhei com outras celebridades, fornecendo segurança residencial para a [modelo] Kate Moss, [ator] Jackie Chan e serviços de proteção para Pink, Katy Perry e outros músicos em turnê. Eu vendi a empresa há cinco anos. Foi uma corrida de 15 anos e me levou ao meu primeiro filme.


Em 2011, o [diretor] Steven Soderbergh estava trabalhando em “Haywire” (A Toda Prova, 2011) e me ligou. Ele disse: "Estou trabalhando em um filme com Channing Tatum, Gina Carano e Michael Fassbender, e estou procurando um consultor porque é um tipo de filme de operações especiais. Você estaria interessado?" Me pediram para treinar os atores com todas as armas de fogo e Krav Maga lutando por cerca de três meses antes do filme e ajudei a projetar a ação para torná-la real. Steven me deu um diálogo; eu tive algumas cenas no filme. Foi isso. Eu fiquei vidrado. Lembrei-me do quanto eu adorava atuar no ensino médio.


Depois disso, eu fiz “211” (211: O grande assalto, 2018), um drama policial com Nic Cage para a Netflix. Eu interpretei seu tenente. E fiz um curta-metragem chamado “Overwatch” (2014) como um exercício para construir meu rolo de filme. Um dia talvez ele se torne um recurso.


JJ: Como você se envolveu com "Rambo: Last Blood"?" 

AC: Os produtores de "211" ligaram e disseram que tinham uma ótima cena com Sly* para mim. Filmamos na Bulgária por cerca de um mês. Eu também fiz alguns aconselhamentos sobre o filme. Houve muitos efeitos especiais; era uma cena de chuva. Foi uma seqüência muito cara. Há um pouco de reviravolta que não posso revelar, mas me diverti muito fazendo isso.

*Nota do Tradutor: Sly é o apelido de Silvester Stallone.

Aaron Cohen e o General Danny Yatom, ex-sub-comandante do Sayeret Matkal, ex-comandante do Comando Central e ex-chefe do Mossad. "Quando eu servi, altos oficiais de inteligência estavam em todo lugar; eles gostavam de ter jovens guerreiros ao seu redor."

JJ: O que vem a seguir para você? 

AC: Há outro projeto para a Netflix baseado na vida da estrela pop mexicana Luis Miguel - há um papel nele para um [agente] do Mossad. Vou passar os próximos dois anos focando na transição para atuar em período integral. Enquanto isso, [com] a minha empresa Cherries - Duvdevan é cereja em hebraico - eu manufaturo produtos para aplicação da lei e reuni uma série de treinamento sobre contra-terror digital acessível. Tenho agências de todo o mundo baixando o conteúdo.

Aaron Cohen posando com membros da sua unidade, Sayeret Duvdevan, disfarçados de árabes palestinos. Todos na foto foram trabalhar para a sua companhia militar privada IMS Security Consultants.

JJ: Como especialista, que conselho você daria às sinagogas para se protegerem melhor contra ataques? 

AC: Contrate segurança armada ou monte uma equipe de segurança voluntária e treine-a no combate ao terrorismo baseado no comportamento e na resposta do atirador ativo. Pare de brincar com segurança desarmada. Este sistema falhará e os membros de sua congregação serão mortos. Quero ver sinagogas seguras, e isso significa uma resposta agressiva.

Posando diante da bandeira israelense no quartel em Miktan Adam.
A carabina M4 era a grande novidade na época.

Leitura recomendada:





Micro Tavor VS M4/M16, 5 de março de 2020.


GALERIA: A Uzi iraniana, 3 de março de 2020.

domingo, 8 de março de 2020

PERFIL: Tenente Charline Redin, autora do livro "Afghanistan: regards d'aviateurs"


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de março de 2020.

A autora do livro Afghanistan: regards d'aviateurs, Tenente Charline Redin é jornalista da revista "Air Actualités" sob contrato com a força aérea francesa, efetuou dois desdobramentos no Afeganistão, em maio e dezembro de 2009, e um terceiro em 2010, passando por Cabul, Bagram e Kandahar, para entrevistar pessoal militar da aeronáutica francesa.

Afeganistão: olhares de aviadores.

Ela escreveu um "um diário de missão, que visa ser educacional". O livro é bem servido de mapas, frisos e glossário que acompanham o texto.

A Tenente Charline Redin durante uma conferência em frente à reserva de cidadãos do ar. (Foto de D.Delion/ Armée de l'Air).

O livro, que contém extratos de diários militares, é dividido em quatro seções. Um é dedicado aos que vêem o Afeganistão do céu, outro aos que o vêem no chão, "comandos aéreos e fuzileiros"; uma terceira parte é dedicada ao pessoal de mecânica, suporte e inteligência.

Entrevistando um comandante afegão.

A Tenente Redin concedeu uma entrevista à força aérea francesa em 9 de dezembro de 2011, quando o livro foi publicado, aqui reproduzida em português.

Tenente Redin, quem é você?

Sou jornalista militar. Entrei para a Força Aérea em 2008 e gradualmente descobri como funcionava e o que fazia. Sou apaixonada pelo meu trabalho e gosto de enfrentar a realidade no terreno, principalmente em locais onde a operação é intensa tanto quanto humana. É importante para mim colocar palavras em emoções, conhecer personagens e contar suas vidas que marcam a história, mesmo que pelo espaço de apenas algumas semanas.

"Afeganistão: olhares de aviadores" está tão cheio dessa emoção que você está procurando?

De fato. Queria humildemente homenagear todos esses homens e mulheres que estão lutando do outro lado do mundo, separados dos entes queridos, e sobre os quais não falamos o suficiente ou falamos mal. Eu queria lhes dar uma voz do meu jeito. Durante minhas três viagens ao Afeganistão, gradualmente descobri a extensão do envolvimento francês e os riscos que os aviadores assumiam em suas missões diárias. Era óbvio para mim que eles foram ouvidos e entendidos.


Como você trabalhou para criar este livro de 240 páginas?

Este é um projeto que amadureceu desde a primavera de 2010. No início, eram apenas pensamentos na minha cabeça, depois idéias rabiscadas em pedaços de papel para não esquecer. Então, quando realmente começou a tomar forma, a se tornar uma meta oficialmente apoiada pela instituição, ela me habitou completamente. Não podemos levar esse tipo de projeto de ânimo leve. É sobre desejo e criatividade, é claro, mas é um trabalho que também requer organização, estrutura e consistência. Pensei nisso no escritório, no metrô, à noite, durante meus outros relatórios. As idéias me vieram de tudo o que vi, li, vivi. E então, um dia, sentei-me e coloquei tudo no papel para construir os capítulos, sua sequência, recortar as sequências para abranger todos os ofícios e os atores desse complexo teatro do qual não podemos sair ilesos.

Uma mensagem adicional para transmitir?

Se é uma homenagem aos aviadores franceses, este livro também é uma maneira de mostrar a beleza torturada de um país marcado por guerras sucessivas e, acima de tudo, destacar o valor, muitas vezes esquecido, de muitos afegãos de gerações diferentes. A disposição deles de acabar com a adversidade de onde quer que ela venha e avançar é impressionante e merece ser conhecida e reconhecida.


Entrevista coletada pela Capitã Virginie Gradella, Armée de l'Air.