Carros M4 Sherman do 501e RCC nos subúrbios de Estrasburgo, 23 de novembro de 1944. |
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de abril de 2021.
Na manhã de 23 de novembro de 1944, os tanques do 501º RCC (Régiment de Chars de Combat/ Regimento de Carros de Combate) precipitaram-se no nevoeiro. Às 9h, as tropas chegaram aos subúrbios ao norte e ao cinturão oeste dos fortes da cidade, mas as valas antitanques cavadas pela população retardaram o avanço dos tanques da 2ª Divisão Blindada (2e Division Blindée, 2e DB do General Leclerc) que não possuía infantaria no momento. O mau tempo transformara os campos em um atoleiro onde os tanques não podiam manobrar.
O juramente de Leclerc feito em Kufra de ver a bandeira tricolor francesa tremulando na Catedral de Estrasburgo estava cumprido. A 2e DB hasteou a tricolor francesa livre sobre a catedral de Estrasburgo às 14:30h.
A reportagem do ECPAD apresenta os veículos blindados da 1ª e 4ª companhias do 501e RCC equipados com os M3A3 Stuart (canhão de 37,2mm) e Sherman M4A3 (canhão de 76 e 75mm). O repórter, identificado apenas como Raphel, concentra-se em dois tanques, o M3A3 Stuart "Valmy" da 1ª seção da 4ª companhia, e o Sherman M4A3 “Medenine II” da 2ª seção da 1ª companhia do 501e RCC. Os dois tanques estão carregados de infantaria, cada infante extremamente necessário na situação.
No nevoeiro da manhã, o Sherman M4A3 "Medenine II" e o Stuart M3A3 "Valmy" do 501e RCC na estrada para Starsbourg. |
A lateral do M4A3 Sherman "Medenine II" mostrando a divisa da 2ª Divisão Blindada do General Leclerc. |
A memória coletiva alemã da batalha é um pouco mais sombria. No livro A Batalha das Ardenas: A cartada final de Hitler (Ardennes 1944: Hitler's Last Gamble), sir Antony Beevor afirma que a Batalha de Estrasburgo foi um dos "episódios mais inglórios" da história militar alemã, com um colapso da defesa da Wehrmacht que foi prematuro e ignominioso. Foi acelerado pelo pânico da liderança nazista, já que muitos oficiais fugiram antes do ataque dos Aliados. Isso levou a uma desmoralização geral das forças terrestres do Heer, Waffen-SS e Luftwaffe, bem como a um colapso da disciplina. Ele afirma:
"Os SS saquearam Estrasburgo antes de se retirarem. De acordo com um general que defendia a cidade, os soldados ordenados a 'lutarem até a última bala' tendiam a jogar fora a maior parte de sua munição antes da batalha, para que pudessem alegar que haviam acabado. O Generalmajor Vaterrodt, o comandante (Heer), estava desdenhoso sobre o comportamento de oficiais superiores e oficiais do Partido Nazista. 'Estou surpreso que Himmler não tenha enforcado ninguém em Estrasburgo', disse ele a outros oficiais depois de ter sido capturado. 'Todo mundo fugiu, Kreisleiter, Ortsgruppenleiter, as autoridades municipais, o prefeito e o vice-prefeito, todos eles fugiram, funcionários do governo - todos fugiram....'"
O Magistrado Chefe, nascido na Alsácia, também fugiu para a Alemanha a pé com uma mochila - já que havia assinado muitas sentenças de morte e colaborado com o sistema de ocupação alemão e era um homem marcado.
O blindado leve Stuart M3A3 "Valmy" da 1ª seção da 4ª companhia na estrada para Estrasburgo. |
O Tenente Nanterre, comandante da 4ª companhia, apresenta o galhardete do 501e RCC da 2ª Divisão Blindada à frente do Stuart M3A3 "Valmy". |
O "Valmy" e o “Medenine II” na estrada coberta pelo nevoeiro. |
O Sherman M4A3 "Medenine II" do 501e RCC da 2ª Divisão Blindada nos subúrbios de Estrasburgo durante a luta pela libertação da cidade. |
O "Medenine II" em meio à arquitetura medieval de Estrasburgo. |
A rápida libertação de Estrasburgo pela 2ª Divisão Blindada do General Leclerc produziu uma torrente de alegria na nação francesa recém-libertada e foi uma vitória extremamente simbólica para o povo francês e os Aliados ocidentais em geral. Leclerc era muito respeitado e apreciado por seus contemporâneos americanos, ao contrário de alguns outros comandantes franceses. A libertação da cidade e a tricolor erguida sobre a catedral foram considerados o último grande objetivo da Libertação da França.
Operação Nordwind
Em janeiro de 1945, os alemães lançaram a Operação Nordwind (Vento do Norte) e declararam pela rádio de Berlim que a suástica estaria tremulando novamente na Catedral de Estrasburgo em alguns dias. O General Eisenhower pretendia recuar e abandonar a cidade, mas de Gaulle e os demais oficiais do Exército Francês o convenceram que era possível manter a cidade; o povo estraburguês estava sendo ameaçado de invasão alemã, fugindo na direção oposta, pela quarta vez em duas gerações. Além disso, centenas de milhares de alsacianos seriam submetidos a represálias alemãs. Como uma mulher estraburguesa, identificada como Madame Siegfried, disse em uma entrevista:
"Ter desfrutado de seis semanas de liberdade após três anos de tensão permanente, medo permanente, e acreditar mais uma vez que eles [os alemães] voltariam; estava além das minhas forças. Foi um pânico, um medo verdadeiro como eu nunca soube desde então. Nem os bombardeios, nem qualquer outra coisa, mas ouvir que eles podem voltar! "
Foi então decidido que o 1º Exército Francês defenderia a cidade custasse o que custasse. O General Jean de Lattre de Tassigny declarou à população civil que Estrasburgo "libertada por franceses, será defendida por franceses".
As unidades francesas do 1º Exército lutariam obstinadamente sob o peso de cinco divisões alemãs e não cederiam - mesmo ao ponto de unidades serem virtualmente aniquiladas, como o Batalhão do Taiti (Bataillon du Pacifique), um veterano de Bir Hakeim. Os franceses mantiveram sua posição e o avanço alemão foi interrompido em uma luta desesperada a cerca de 40 quilômetros a oeste de Estrasburgo e a Operação Nordwind se tornou outro desastre para os alemães, com o Heer e Waffen-SS terminando a batalha com preciosas divisões sangradas e batidas. Estrasburgo estava salva e duas semanas depois o Bolsão de Colmar foi liquidado; a guerra entraria então na Alemanha.
Bibliografia recomendada:
PERFIL: Jean Gabin, astro de cinema e fuzileiro naval da 2e Division Blindée, 15 de novembro de 2020.
Lições da campanha do Marechal Leclerc no Saara 1940-43,14 de fevereiro de 2021.
Por que o Leclerc continuará sendo um dos melhores tanques do mundo, 6 de abril de 2021.
Análise alemã sobre o carros de combate aliados, 8 de agosto de 2020.
Avaliações do Sherman pelos soviéticos, 26 de dezembro de 2020.
GALERIA: Caçadores da África reequipados, 29 de março de 2021.
GALERIA: Manobras com o Sherman no Brasil, 1957, 30 de janeiro de 2020.
GALERIA: Operação de limpeza com blindados em Tu Vu, 25 de abril de 2020.
FOTO: Em direção a Berlim, 1945, 26 de janeiro de 2020.
FOTO: Shermans soviéticos do 6º de Guardas, 31 de janeiro de 2020.
FOTO: Um Sherman em San Martino, 14 de agosto de 2020.
FOTO: Sherman japonês, 6 de outubro de 2020.
FOTO: Coluna americana avançando na Alemanha, 16 de dezembro de 2020.
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