Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 7 de abril de 2021.
A Alemanha Nazista derrotada foi ocupada pelos quatro vencedores principais, com quatro zonas de ocupação: soviética, americana, britânica e francesa. A zona de ocupação francesa continha recursos como arquivos de fotos da Wehrmacht, material nuclear para a planejada bomba atômica alemã (material este que foi cedido aos americanos para o bombardeio à Nagasaki) e, mais relevante para o vídeo, a fábrica da Mauser em Oberndorf - capturada quase intacta pelo 9e Régiment de Chasseurs d'Afrique em 20 de abril de 1945.
Zonas de ocupação de 1948 a 1949. |
Zonas de ocupação em Berlim. Ao lado, o distintivo das forças francesas em Berlim. |
A fábrica da Mauser também tinha novos protótipos, como os do Sturmgewehr 45(M) (StG-45(M), o "M" sendo de Mauser) de estampagem, mas esses foram evacuados pelos alemães para a Áustria, onde foram capturados pelos aliados. Essa epopéia gerou, entre outros, o protótipo CEAM Modèle 50/B, e os fuzis CETME e HK G3 (além do sistema de trancamento por roletes do SIG 510).
O enorme complexo da Mauser continha pilhas e pilhas de armas acabadas e de peças, tanto da Luger P08 quanto de pistolas Walther P38 e fuzis Mauser Kar 98k, mas, principalmente, o ferramental para a produção dessas armas. Os franceses então produziram 48 mil fuzis Kar 98k, 35 mil pistolas P38 e 3.500 pistolas Luger P08 para uso das forças francesas (modelos de Luger também foram fabricados para o comércio privado). Inicialmente com águias nazistas na lateral da corrediça - por serem peças pré-existentes - as novas fabricações continham uma estrela.
Os estoques de peças da Mauser continham pouquíssimos carregadores, então os franceses fabricaram 10 mil novos carregadores no arsenal de Levallois, uma média de 3 carregadores por pistola, com um suprimento de dois carregadores por pistola (1 em reserva). Para facilitar o emprego do armamento, 5 mil manuais franceses da Luger foram impressos entre 1950 e 1951.
A Luger francesa tinha placas de empunhadura de alumínio fundido e era acabada com uma cor cinza-azulada, apelidada de "cinza fantasma", tal qual nas P38 francesas. |
Essas pistolas Luger viram uso extensivo nas guerras da Indochina e Argélia, saindo de serviço de primeira linha em 1953 em favor das pistolas MAC Modèle 1950. As Luger foram então transferidas para a Gendarmerie Nationale, para o novo Exército Austríaco e para estoques de reserva do Exército Francês até os anos 1970.
Essa produção supria um exército em necessidade de recriação, tanto na França quanto na ocupação da Alemanha e na reocupação da então Indochina Francesa. Uma França se reerguendo e se reafirmando como uma potência mundial ainda utilizou essa produção para empregar e reter especialistas de armamento franceses e alemães. Em 1948, os soviéticos protestaram a produção francesa alegando que a produção de armas na Alemanha violava os acordos aliados do tempo de guerra, sendo explicitamente proibido. Ora, os soviéticos tomaram as fábricas e levaram todo o ferramental para a União Soviética e continuaram produzindo por décadas com as máquinas e especialistas "voluntários" alemães. Mas ainda assim os franceses já haviam cessado a produção na Alemanha há tempos, e então os franceses retiraram tudo de utilizável da fábrica e destruíram o prédio no final de 1948.
Rádio-operador do 1er BEP em combate na Rota Colonial 6, no Tonquim, em 1952. Ele tem uma Luger no coldre. |
Bibliografia recomendada:
Mausers FN e a luta por Israel, 23 de abril de 2020.
Gun Review: Uma análise aprofundada de um Sturmgewehr alemão, 18 de fevereiro de 2020.
Comandos Navais franceses com fuzis CETME, 23 de janeiro de 2020.
Como vídeos sobre armas de fogo antigas se tornaram um canal de sucesso no YouTube, 10 de março de 2020.
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O Chauchat na Iugoslávia, 26 de outubro de 2020.
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