domingo, 30 de agosto de 2020

O SOCOM mostra discrepâncias na aquisição de equipamentos após auditoria

Os pára-resgatistas da Força Aérea dos EUA, designados para o 83º Esquadrão de Resgate Expedicionário, se preparam para embarcar em um CH-47F Chinook do Exército dos EUA durante uma missão de treinamento no Afeganistão em 15 de março de 2018.

Por Jared Keller, Task & Purpose, 18 de agosto de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 29 de agosto de 2020.

O SOCOM não documentou consistentemente se mais de US$ 800 milhões em equipamentos atendiam às principais métricas de desempenho ou não.

O Comando de Operações Especiais dos EUA (Special Operations Command, SOCOM) ao longo de dois anos não conseguiu rastrear adequadamente se centenas de milhões de dólares em equipamentos especializados atendiam totalmente às principais métricas de desempenho para as operações especiais para as quais foram enviados, de acordo com uma nova auditoria do inspetor geral do Departamento de Defesa (Department of DefenseDoD).

Uma equipe de forças especiais americanas sai de uma aeronave CV-22 Osprey da Força Aérea dos EUA em 26 de fevereiro de 2018.

A auditoria do Escritório do Inspetor Geral do DoD, divulgada publicamente na sexta-feira, examinou se o equipamento de Operações Especiais-Peculiar (Special Operations-PeculiarSO-P) foi completamente avaliado para atender aos requisitos da missão antes de entrar em serviço para as forças de operações especiais do ano fiscal de 2017 ao ano fiscal 2019. O equipamento SO-P refere-se especificamente à tecnologia sofisticada exclusiva das unidades do SOCOM e abrange uma gama de equipamentos de comunicação e vigilância para veículos e aeronaves especializados.

A auditoria cobriu 10 dos programas mais caros do SOCOM, totalizando mais de US$ 1,4 bilhão e incluiu: o Modificação do Pacote de Ataque de Precisão do AC-130J Ghost Rider (AC-130J Ghost Rider Precision Strike Package ModificationUS$ 659,1 milhões); a Rede de Área Local Tática: Dispositivo de Computação de Campanha vestível (Tactical Local Area Network: Field Computing Device, US$ 136,8 milhões); Munição Deslizante Pequena (Small Glide Munition, US$ 53,1 milhões); e Veículos Comerciais Fora do Padrão (Non-Standard Commercial Vehicle, US$ 145,5 milhões); entre outros.

Uma equipe de snipers na Competição de Snipers do Comando de Operações Especiais do Exército dos EUA manobra sobre um obstáculo em Fort Bragg, Carolina do Norte, 19 de março de 2019.

Desses 10 programas SO-P, apenas quatro, avaliados em cerca de US $ 494,1 milhões, foram completamente validados pelo pessoal do SOCOM por meio de testes e avaliação, ou pelo menos preenchidos com suas principais deficiências de desempenho registradas pela equipe do SOCOM para ajustes futuros.

Mas para os seis programas SO-P restantes que culminaram na colocação em serviço de equipamentos novos - avaliados em impressionantes US$ 815,8 milhões - o pessoal do SOCOM "não verificou" se o equipamento havia passado nos testes e avaliações exigidos antes de entrar em serviço para forças de operações especiais, ou seja, o equipamento foi colocado em serviço "sem verificar se o equipamento atende às necessidades do usuário", de acordo com a auditoria.

De acordo com um porta-voz do SOCOM, o equipamento detalhado no relatório do DoD OIG funciona muito bem e é atualmente empregado pelas forças de operações especiais dos EUA em campanha - o comando apenas se esqueceu de documentar de forma consistente os resultados dos testes de equipamento e avaliação para futura revisão pelo cão-de-guarda do Pentágono.

“Todos os programas auditados que estão listados no relatório tiveram requisitos aprovados que confirmam a necessidade de cada sistema para nossas forças operacionais. Validamos que todos os sistemas eram operacionalmente eficazes e adequados por meio do OT&E antes de entrar em serviço”, disse o Tenente Comandante Tim Hawkins, porta-voz do SOCOM, à Task & Purpose. "O que não fizemos foi documentar adequadamente os resultados do cumprimento de alguns dos parâmetros-chave de desempenho individuais. É por isso que o SOCOM concordou com essa descoberta e está tomando medidas para documentar e arquivar mais detalhadamente os resultados dos parâmetros-chave de desempenho para resolver as descobertas da auditoria".

Mestres-de-salto do 320º Esquadrão de Táticas Especiais da Força Aérea dos EUA se preparam para operações de salto em alta altitude e alta abertura (HAHO) em 11 de julho de 2017, sobre a Área de Treinamento da Baía de Shoalwater em Queensland, Austrália durante o exercício Talisman Saber 2017.

Você pensaria que o comando responsável por treinar e equipar as forças de elite das forças armadas americanas poderia prestar mais atenção ao rastreamento da eficácia do seu equipamento caro, mas o relatório do DoD OIG detalha exatamente o quão desleixado o processo de documentação de teste e avaliação para alguns equipamentos realmente é. Considere este pequeno trecho do programa de Comunicações Táticas de Próxima Geração:

"O gerente do programa do USSOCOM para o programa de Comunicações Táticas de Próxima Geração forneceu a documentação T&E para o KPP que consistia em e-mails entre um usuário e o contratante do equipamento em que o usuário declarou que o equipamento "funcionou muito bem". A comunicação por e-mail não forneceu informações ou evidências suficientes de que o KPP foi testado ou passou no T&E; portanto, o USSOCOM não pôde verificar se o KPP foi testado e atende aos requisitos do KPP delineados no documento de capacidade."

Esta não é a primeira vez que o SOCOM tem problemas com o DoD OIG sobre o gerenciamento de seus programas SO-P. Em 2018, uma auditoria separada descobriu que o SOCOM comprou pelo menos US$ 26,3 milhões em equipamentos extras, desde rádios portáteis a óculos de visão noturna.

"Por exemplo, o USSOCOM não identificou que o Comando de Operações Especiais do Exército dos EUA tinha 17.571 rádios portáteis de acordo com seus registros de propriedade, mas foi alocado apenas 13.351 nos documentos de capacidade, para um excesso de 4.220 rádios", relatou o DoD OIG na época. “O USSOCOM não identificou o excesso de equipamento SO-P porque os dados de permissão e alocação autorizados na [Tabela do USSOCOM de Distribuição de Equipamentos e Concessões] não eram precisos ou completos e não podiam ser reconciliados com o estoque.

Treinamento conjunto com os comandos afegãos.

Após anos de má gestão, parece que o SOCOM está finalmente pagando um preço. Conforme observa a National Defense Magazine, a solicitação de orçamento do presidente Donald Trump para o ano fiscal de 2021 incluiu apenas US$ 2,3 bilhões para aquisições para o SOCOM, redução de 12% em relação a 2020 e uma queda de 26% em relação a 2019.

“O orçamento do ano fiscal de 2021 para investimentos [das Forças de Operações Especiais] adquire, moderniza e/ou modifica SOF-peculiar de aviação, mobilidade e plataformas marítimas, armas, munições e equipamentos de comunicação”, disse o DoD em sua visão geral do orçamento, de acordo com o National Defense. “O orçamento do ano fiscal de 2021 sustenta o crescimento e a prontidão das SOF e aumenta a letalidade por meio da modernização e recapitalização, e do investimento em novas tecnologias”.

Parte dessa redução do orçamento é provavelmente devido à reorientação do Pentágono da contra-insurgência e contraterrorismo no Oriente Médio e Norte da África - áreas onde o SOCOM tem servido regularmente como ponta-de-lança - para a chamada "competição de grandes potências" contra adversários mais tradicionais como a Rússia e a China.

Mas, como um especialista corretamente apontou para a National Defense, a redução também significa um foco mais severo sobre como o SOCOM adquire e avalia material e equipamentos novos - e, potencialmente, mais atenção em como o comando falha em avaliar suas necessidades em meio a um cenário de missão que muda lentamente.

“Agora vamos ter que ter muito mais escrutínio para que a compra de equipamentos e o uso de equipamentos que obtivemos tenham que ser úteis em ambas as lutas”, disse o analista da Heritage Foundation e ex-operador das Forças Especiais Steven Bucci ao National Defense. “Essa é a única maneira do SOCOM manter a capacidade de que precisa para fazer as duas [missões]."

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