domingo, 30 de agosto de 2020

Quando a China se instala na América Latina

Por Nashidil RouiaïDario Ingiusto, Areion24, 15 de janeiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 30 de agosto de 2020.

A China tornou-se em poucos anos um importante parceiro econômico e financeiro dos países da América Latina e do Caribe. Vários estados da região adotaram, portanto, o principal programa da República Popular no comércio e infraestrutura mundial, a “Nova Rota da Seda”.

Há muito tempo considerada o quintal dos Estados Unidos, a América Latina e o Caribe gradualmente se voltaram para a China. No espaço de uma década, a China se tornou seu segundo maior parceiro comercial, com o volume de comércio de mercadorias aumentando de US$ 12 bilhões para US$ 307,4 bilhões entre 2000 e 2018.

Cartografia de Dario Ingiusto.

A República Popular também é o principal credor dos países latino-americanos. O valor de seus empréstimos superou o do financiamento do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Entre 2008 e 2018, mais de US$ 153 bilhões foram emprestados por Pequim, grande parte para o Brasil e a Venezuela. A China deseja garantir os recursos estratégicos úteis para as suas necessidades internas, em primeiro lugar hidrocarbonetos, recursos minerais e produção de alimentos. Assim, 88% dos empréstimos referem-se a projetos de energia e infraestrutura.

Essa estratégia permite que as empresas chinesas entrem em novos mercados. Várias barragens e usinas hidrelétricas foram construídas por empresas chinesas na floresta amazônica e na Patagônia. E enquanto milhares de quilômetros de ferrovias estão em construção no Brasil, Peru e Venezuela, chineses e argentinos negociaram em março de 2019 a construção de uma instalação nuclear de 8 bilhões de dólares em Atucha, na província de Buenos Áreas. Espera-se que esses grandes projetos continuem: quinze países da região foram integrados à iniciativa da “Nova Rota da Seda”, e a Jamaica e o Peru ratificaram protocolos de intenção em abril de 2019. Embora eles sejam bem recebidos por atores econômicos regionais, esses projetos são alvo de críticas de populações locais e associações ambientalistas.

A presença chinesa também envolve tecnologia. Desde 2017, a Bolívia lançou um sistema de resposta a desastres naturais desenvolvido por uma empresa chinesa e financiado por um empréstimo de Pequim. Enquanto o Equador adotou a vigilância de espaços públicos desenvolvida pela China, a Venezuela usa tecnologia chinesa por meio de um documento de identidade emitido em janeiro de 2017. Esse “caderno da pátria” tornou-se necessário para se beneficiar da ajuda social concedida pelas autoridades, mas ativistas de direitos humanos denunciam seu uso para fins de vigilância ou para invadir a vida privada. Do ponto de vista cultural, a República Popular está suprindo sua falta de influência com o estabelecimento de Institutos Confúcio, inclusive em parceria com universidades locais. Em agosto de 2019, eram 43, incluindo 10 no Brasil. Além de aumentar seu poder sobre uma região onde os Estados Unidos têm uma influência histórica, Pequim também está assumindo uma liderança decisiva sobre Taiwan, já que os últimos aliados globais de Taipei estão principalmente na América Latina.

Bibliografia recomendada:

China versus Ocidente:
O deslocamento do poder global no século XXI.

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