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Fuzileiros navais americanos posando com um retrato do ditador Saddam Hussein, 2003. |
Pelo Tenente-Coronel Michel Goya, La Voie de l'Épée, 23 décembre 2011.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de agosto de 2020.
A Operação Haboob ("Tempestade de Areia" em árabe) é o nome do engajamento das forças francesas no sul do Iraque de 2003 a 2009 como parte da coalizão liderada pelos Estados Unidos. A operação é obviamente imaginária e o nome é inventado. Porém, se acreditarmos, entre outros, nos documentos revelados pelo Wikileaks, com outro Presidente da República que não Jacques Chirac e até o atual poder, esta operação poderia ter ocorrido. Portanto, não é totalmente inútil torná-la ucrônica.*
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Soldados franceses do 3e RIMa diante de um retrato do ditador Saddam Hussein doze anos antes, em 1991. |
*Nota do Tradutor: Ucronia, história de eventos fictícios a partir de um ponto de partida histórico; "counter-factual".
É provável que o volume do contingente francês engajado fosse bastante próximo ao do britânico, sem dúvida um pouco menor por causa de nossos meios um pouco mais limitados e de nossos compromissos em outros lugares. Como os outros contingentes aliados, uma vez derrubado o regime de Saddam Hussein, teríamos nos estabelecido no Sul, mas provavelmente não em Basra reservada aos britânicos, aliados privilegiados e ex-ocupantes da cidade. Tendo em conta o nosso volume de forças e a qualidade dos nossos quadros, poderíamos ter pego a chefia da divisão multinacional Centro-Sul no lugar dos polacos, entre Bagdá e as zonas petrolíferas. Além do núcleo duro do estado-maior da divisão, que teria levado em consideração cerca de vinte contingentes com regras de engajamento mais complexas e restritivas entre si, também teríamos fornecido dois ou três grupos de armas combinadas* para proteger os lugares sagrados de Najaf e Karbala, e os eixos logísticos na região do Kuwait.
*NT: Um Groupement Tactique Interarmes (GTIA) é uma força de armas combinadas de valor regimento que incorpora elementos de infantaria, cavalaria, artilharia e engenharia em uma força de combate auto-suficiente, para objetivos táticos definidos. O GTIA é geralmente uma unidade temporária, formada para cumprir uma missão - ou várias missões - durante um período fixo.Cada uma das unidades de combate de um GTIA (companhia ou esquadrão) provavelmente constituirá um subconjunto de armas combinadas denominado SGTIA (sous-groupement tactique interarmes/ subgrupo tático de armas combinadas). Um exemplo de uma configuração possível seria uma companhia de infantaria reforçada por um pelotão de carros de combate, mais elementos de engenharia.
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Derrubada de uma estátua do ditador Saddam Hussein em Badgá, 2003. |
Dado o fraco apoio da opinião pública francesa a esta operação, ela teria sido "encoberta" pelo apelo a todas as virtudes da ação humanitária. As forças teriam recebido instruções estritas de prudência, bem como de meios "tão justos" e especialmente não "agressivos". Como os outros, teríamos, portanto, tomado toda a força da revolta Mahdista de 2004. Lembre-se de que, na época, os contingentes aliados não lutaram e apelaram aos americanos para reduzirem as forças do exército Mahdi. Admitindo que fôssemos mais combativos, o que creio, teríamos nos envolvido, sozinhos ou mais provavelmente ao lado dos americanos, por vários meses de luta (a crise durou de abril a outubro de 2004). Teríamos perdido entre 100 e 200 mortos e feridos nessas batalhas.
Posteriormente, teríamos, como os britânicos em Basra, sem dúvida testemunhado impotentemente a tomada das províncias xiitas pelas várias milícias e, na segunda linha, a guerra civil de 2006. Com a aproximação das eleições presidenciais francesas de 2007 , as forças teriam sido solicitadas a deixar as bases o mínimo possível e a se manterem discretas. Uma parte delas seria até repatriada, para fins eleitorais. As últimas unidades francesas teriam deixado o país discretamente em 2008, aproveitando o sucesso inesperado do Surge (Surto) americano.
Em resumo, comparando com outros aliados, principalmente os britânicos, teríamos cerca de 150 soldados mortos e 1.000 feridos, além de custos humanos indiretos (suicídios, distúrbios psicológicos graves, não-renovação de contratos, etc.) da mesma ordem, ou seja, o equivalente a dois regimentos completos perdidos. Financeiramente, ao acumular custos militares e civis, esta operação teria custado ao Estado entre 5 e 10 milhões de euros, já para não falar dos custos indiretos (pensões de feridos, recondicionamento de equipamentos, etc) dificilmente calculáveis, mas provavelmente superiores.
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Elementos do GTIA de Kapisa no Vale do Alasei, em 2009. Em primeiro plano um AMX-10RC e ao fundo alguns VAB. |
Por esse preço, o número de armas de destruição em massa nas mãos dos malfeitores não teria diminuído no mundo, nem o número de terroristas. A França teria contribuído para a eliminação de uma tirania, o que está longe de ser desprezível, e para o estabelecimento de uma democracia imperfeita, corrupta e muito frágil. Sua imagem com os americanos teria sido preservada, mas talvez não no resto do mundo.
Mas é claro que tudo isso não passa de imaginação.
Bibliografia recomendada:
Leitura recomendada:
Dez milhões de dólares por miliciano: A crise do modelo ocidental de guerra limitada de alta tecnologia, 23 de julho de 2020.
O Elemento Humano: Quando engenhocas se tornam estratégia, 25 de agosto de 2019.
O Batalhão Francês da ONU na Coréia - Lições Aprendidas, 15 de julho de 2020.
Essa "modinha" de que Clausewitz-é-irrelevante não é uma blasfêmia. É simplesmente errada, 5 de janeiro de 2020.
A Arte da Guerra em Tropas Estelares - 1 Os americanos e a Primeira Guerra Interestelar, 17 de fevereiro de 2020.
A Arte da Guerra em Tropas Estelares - 2 O exército do retro-futurismo, 17 de fevereiro de 2020.
A Arte da Guerra em Tropas Estelares - 3 Para a glória da Infantaria Móvel, 17 de fevereiro de 2020.
A Arte da Guerra em Tropas Estelares - 4 Derrotar civilizações extraterrestres, 17 de fevereiro de 2020.
Operação Molotov: Por que a OTAN simplesmente entrou em colapso no verão de 2024, 21 de maio de 2020.
COMENTÁRIO: 36 anos depois, a Guerra Irã-Iraque ainda é relevante, 24 de maio de 2020.
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