terça-feira, 18 de agosto de 2020

Os Boinas Verdes do Lodge Act

Lauri Allan Törni/Larry Alan Thorne (28 de maio de 1919 – 18 de outubro de 1965), o soldado de três exércitos.

Por Jack Murphy, SOFREP, 9 de abril de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 18 de agosto de 2020.

No episódio 284 do Big Picture, "The Lodge Act Soldier" foi exibido em 1954 para informar ao público americano que eles agora estão presos em uma luta política, econômica e psicológica com a ameaça comunista, uma guerra do tipo que as forças armadas americanas nunca tinham sido confrontadas antes. Para esse fim, e para garantir a vitória nesta “Guerra Fria”, o narrador diz ao espectador que “o senador Henry Cabot Lodge patrocinou o Programa de Alistados Estrangeiros de 1950, agora geralmente chamado de 'Lodge Act' (Lei/Ato de Lodge). De acordo com as disposições desta legislação , refugiados políticos de qualquer país atrás da Cortina de Ferro tiveram a oportunidade de se alistar no Exército dos Estados Unidos por um período de cinco anos.”

From OSS to Green Berets: The Birth of Special Forces.
Aaron Bank, Col. USA (Ret.).

O filme continua apresentando o Sargento Ritter, da Ucrânia, e o Cabo Kalkevich da Polônia. O Coronel Aaron Banks também escreveu sobre a “Lodge Bill” em seu livro “From OSS to Green Berets: The Birth of Special Forces”. A ideia por trás do Lodge Act era criar uma espécie de legião estrangeira americana, a unidade definitiva de Guerra Não-Convencional (Unconventional Warfare, UW) composta de homens que desertaram da URSS e de seus estados satélites.

Henry Cabot Lodge Jr. (Revista LIFE)

Com seu conhecimento profundo das nações inimigas e capacidades de línguas estrangeiras, eles poderiam ser treinados em táticas de infantaria e Ranger (Comando) antes de ter suas habilidades aprimoradas com instrução em sabotagem e outras formas de guerra não-convencional. Esse era o tipo de coisa que o Coronel Banks conhecia em primeira mão, é claro, por causa de sua experiência na Segunda Guerra Mundial com as equipes Jedburgh.

O Coronel Volckmann, o Coronel Banks e o General McClure estavam ocupados estabelecendo a Divisão de Operações Especiais e criando uma capacidade permanente de Guerra Não-Convencional (UW) dentro do Exército dos Estados Unidos enquanto ainda estávamos em uma guerra de tiros na Coréia. No entanto, eles tinham como objetivo desenvolver a UW para outro propósito: lutar contra a URSS na Europa. No entanto, isso ainda era a infância das Forças Especiais - na época, o único treinamento UW era um "curso de guerra de guerrilha [que] foi criado após uma série de conferências em 1949 entre o Exército e a CIA que levaram à escolha do Fort Benning como local para um curso de treinamento desejado pela CIA”(Paddock 120).


A ideia de criar unidades estrangeiras dentro das Forças Armadas dos Estados Unidos foi estudada pela Divisão de Operações Especiais, com a ideia de constituir Companhias Rangers, cada uma delas composta por uma nacionalidade diferente. Esses pelotões poderiam ser usados como forças agressoras em treinamento e para ensinar táticas de guerrilha aos soldados americanos. Esta ideia foi posteriormente descartada em favor do uso de soldados do Lodge Act como soldados de combate e sabotadores na Europa no caso da Guerra Fria esquentar.

Foram estabelecidos padrões de seleção e estabelecida uma meta de 800 para pessoas que se voluntariassem para o treinamento paraquedista e que também possuíssem especialidades relacionadas à condução da guerra de guerrilha. A missão desses estrangeiros seria organizar bandos guerrilheiros na Europa Oriental após o início da guerra e atacar as linhas de comunicação soviéticas, com o objetivo de atrasar, ou "retardar", o avanço soviético na Europa Ocidental. Planos estavam sendo desenvolvidos para treinar esse pessoal em incrementos de 100, em um ciclo que incluía treinamento básico de combate, conclusão do curso Ranger em Fort Benning e, em seguida, instrução adicional especializada em guerra de guerrilha, sabotagem, comunicações clandestinas e assuntos relacionados” (Pollack 124).

US Army Special Warfare: Its Origins.
Alfred H. Paddock Jr.

Um detalhe técnico interessante era que os soldados do Lodge Act não podiam realmente jurar lealdade aos Estados Unidos porque não eram cidadãos, então foi levada em consideração a ideia de que eles poderiam jurar lealdade à sua nova unidade do Exército como os membros da Legião Estrangeira Francesa faziam. Seria interessante descobrir como isso realmente funcionou. No episódio do Big Picture, há uma re-encenação dramática de um juramento de soldados do Lodge Act, que os mostra jurando lealdade aos Estados Unidos da América.

Patrocinado pelo senador Henry Cabot Lodge Jr., o Lodge Act tinha como objetivo recrutar milhares de estrangeiros de nações comunistas para o Exército Americano. A iniciativa falhou e só trouxe 211 homens de países do Leste Europeu em uniformes do US Army em 1952. Alguns soldados do Lodge Act foram até trazidos a bordo como Boinas Verdes.

O soldado de três exércitos


Talvez o Boina Verde do Lodge Act mais conhecido tenha sido Larry Thorne, anteriormente descrito por Mike Perry aqui no SOFREP. Larry serviu na elite nazista, a SS em seu país natal, a Finlândia, enquanto lutava contra a invasão russa após a Guerra de Inverno. Existe uma história um tanto suspeita de como Larry fez seu caminho para a América e finalmente para o Exército dos EUA. De uma forma ou de outra, ele acabou sendo escolhido e notado por seus talentos. Larry completou seu treinamento das Forças Especiais e foi designado para o 10º SFG em 1958 na Alemanha. Este autor acredita que o papel dos soldados das Forças Especiais em Bad Tölz, na Alemanha, não pode ser superestimado nas operações secretas e clandestinas do pós-guerra.

Soldier Under Three Flags: The Exploits of Special Forces Captain Larry A. Thorne.
H. A. Gill, III.

Larry Thorne também participou da localização de uma aeronave C-130 americana abatida no Irã em 1962. Ele então serviu nas Forças Especiais no Vietnã. O helicóptero em que ele estava caiu no Laos em 1965 e Larry foi listado como MIA (desaparecido) até que seus restos mortais fossem identificados em 1999. Seus restos mortais foram repatriados para os Estados Unidos e Larry foi finalmente sepultado no cemitério Nacional de Arlington em 2003.

Outro Boina Verde do Lodge Act foi Henryk “Frenchy” Szarek, um polonês que sobreviveu às brutalidades dos nazistas e dos soviéticos em seu país natal antes de escapar. Ele falava meia dúzia de línguas e serviu em quase o mesmo número de exércitos durante sua carreira militar. Depois de servir na Legião Estrangeira Francesa, com saltos de paraquedas de combate no Vietnã como sargento da seção de morteiros, Szarek foi medicamente dispensado da Legião devido aos ferimentos de combate que recebeu na Indochina. Mais tarde, ele ouviu falar do Lodge Act e decidiu dar uma chance ao Exército dos EUA. Era natural que ele encontrasse seu caminho para as fileiras da primeira geração de soldados das Forças Especiais.

Henryk “Frenchy” Szarek.

Quando foi feito o chamado para voluntários para atribuição no 10º Grupo de Forças Especiais (Aerotransportado) na Alemanha, ele se ofereceu mais uma vez. Foi em Bad Tölz que suas habilidades e experiência foram usadas com maior efeito. Em desdobramento avançado na Alemanha, perto da Cortina de Ferro, o 10º SFG (A) treinou duro, preparando-se para uma possível invasão soviética da Europa. Frenchy foi um jogador-chave, por exemplo, durante os Exercícios de Treinamento de Campanha da Guerra Não-Convencional do Grupo, tais como a Caminhada de Outono III na França, trabalhando com os moradores locais, ajudando a estabelecer e operar redes de fuga e evasão para a recuperação de tripulações e pessoal abatidos se a Guerra Fria esquentasse. Essas habilidades não passaram desapercebidas e ele acabou sendo transferido de uma Equipe de Campanha operacional para o Quartel-General do Grupo e Quartel-General da Companhia, onde seis idiomas europeus poderiam ser usados com grande efeito pelo Comandante e pelo estado-maior”, escreveu o ex-soldado das Forças Especiais Bob Seals. Szarek viveu uma vida impressionante, para dizer o mínimo. Ele faleceu em 2011.

Para este autor, muitas questões permanecem sobre os Boinas Verdes do Lodge Act. De que outras missões secretas eles participaram? Quem eram os outros homens das Forças Especiais do Lodge Act? Como a missão dos homens das Forças Especiais em Bad Tölz seguiam o 21 SAS e sua missão da Guerra Fria na Alemanha? Esta era da Guerra Fria pós-Segunda Guerra Mundial foi uma época de consolidações políticas, à medida que as superpotências, seus aliados e seus representantes tentavam proteger suas respectivas frentes, bem como seus flancos. Isso, é claro, envolvia espionagem, bem como guerra não-convencional. Todos esses anos depois, ainda há mais perguntas do que respostas.

Fontes bibliográficas:
  • US Army Special Warfare: Its Origins, de Alfred H. Paddock;
  • Lodge Act Soldier: Henryk “Frenchy” Szarek, de Bob Seals;
  • Shadows of a Forgotten Past, de Paul French;
  • Larry Thorne: Three Wars Under Three Flags, de Mike Perry.
Bibliografia recomendada:

Os Boinas Verdes: Episódios da Guerra no Vietnã.
Robin Moore.

A história secreta das Forças Especiais.
Éric Denécé.

Spec Ops: Case Studies in Special Operations Warfare: Theory and Practice.
William H. McRaven.

Leitura recomendada:




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