Por Stephen Losey, Air Force Times, 18 de agosto de 2020.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de agosto de 2020.
A general de duas estrelas* que no ano passado foi demitida da chefia do escritório do Pentágono que supervisiona alguns dos programas mais secretos dos militares, repreendeu e depreciou publicamente seus subordinados, descobriu o Escritório do Inspetor Geral da Força Aérea.
*Nota do Tradutor: Trata-se do posto de Major-Brigadeiro na Força Aérea Brasileira.
A Major-General Dawn Dunlop também certa vez agarrou a mão de um subordinado sem consentimento e repreendeu-o por uma "questão pequena", disse o investigador do IG em um relatório de janeiro de 2020, obtido pelo Air Force Times por meio do Freedom of Information Act (Lei da Liberdade de Informação). Seu comportamento desrespeitoso e depreciativo - confirmado por cerca de 85 por cento das testemunhas entrevistadas - continuou mesmo depois que várias pessoas tentaram oferecê-la feedback, disse o relatório.
Dunlop foi destituída de sua posição como diretora do Escritório de Controle de Programas Especiais de Acesso, ou SAPCO, em 31 de maio de 2019, por Ellen Lord, a principal autoridade de aquisição do Pentágono, em meio a relatos de que ela havia criado um ambiente de trabalho tóxico. Dunlop agora atua como diretora de requisitos de capacidade operacional da Força Aérea.
Dunlop é uma piloto de caça inovadora que foi a primeira mulher a se tornar piloto de caça, pilotar um F-22 e comandar uma ala de teste. Ela é uma das pilotos de caça de mais alta patente da Força Aérea. Mas algumas semanas depois de assumir o escritório da SAPCO em agosto de 2018, testemunhas disseram que Dunlop começou a tratar os subordinados lá de forma desrespeitosa, de acordo com o relatório do IG. O tratamento depreciativo ocorria aproximadamente uma vez por semana, mas às vezes diariamente, disse o relatório.
Dunlop comumente rebaixava seus subordinados quando eles não correspondiam às suas expectativas, era uma seção de insultos não-profissional e regularmente insinuava que eles eram estúpidos, disseram testemunhas. Vários deles usaram termos como “ditatorial” e “ultrapassando o abusivo” para caracterizar seu estilo de liderança e a descreveram como tratando os subordinados como um “pai repreendendo uma criança”.
“Esse é o ambiente em que estávamos, nada nunca estava certo”, disse uma testemunha não-identificada.
Testemunhas também descreveram que Dunlop é uma oficial extraordinariamente talentosa e realizada que tinha boas intenções e queria que a Força Aérea tivesse sucesso. Ela acreditava que o SAPCO era uma organização quebrada que ela deveria vir e consertar.
Mas seu estilo de liderança fez com que várias testemunhas dissessem que perderam o respeito por ela e questionassem como ela havia alcançado o posto de major-general. Em uma declaração fornecida ao Air Force Times, o advogado de Dunlop, Gary Myers, sugeriu que os esforços de Dunlop para reformar o SAPCO levaram à reclamação do IG contra ela.
“Ao longo de sua carreira, a Major-General Dunlop trouxe um claro senso de integridade, excelência e um forte desejo de servir aos aeronautas e à nação”, disse Myers. “Ela sempre esteve disposta a trabalhar com outras pessoas, para assumir mudanças difíceis onde necessário, para entregar resultados em apoio a esses valores”.
Depois de ter sido designada para liderar o SAPCO, “ela se esforçou para identificar e realizar ações para melhor alinhar o empreendimento do SAPCO com as prioridades da Secretaria de Defesa e as necessidades da comunidade SAP”, continuou Myers. “Sua implementação desses esforços resultou em uma reclamação do inspetor-geral em maio de 2019. As alegações do IG e o relatório de investigação não refletem quem ela é como pessoa, seus valores ou seu serviço dedicado de mais de 30 anos”.
Myers disse que Dunlop está grato pelo fato da Força Aérea ter considerado sua resposta ao lado do relatório do IG ao decidir permitir que ela continuasse servindo. Dunlop “obteve uma visão e perspectiva inestimáveis com esta experiência e ao ler os sentimentos de outras pessoas claramente expressos no relatório do IG”, disse Myers. O relatório lista vários incidentes em que Dunlop repreendeu publicamente os subordinados, incluindo chamar o trabalho de alguém de "merda" no meio de uma reunião e denegrir publicamente a qualidade de escrita das pessoas.
Seu comportamento esmagou o moral no SAPCO, disse o relatório. Várias pessoas começaram a ter problemas no trabalho, incluindo “ter medo”, perder o sono, demitir-se ou pensar seriamente em se demitir e não querer falar nas reuniões de equipe. Algumas pessoas tremeram fisicamente de medo quando tiveram que lidar com Dunlop, disse uma testemunha. As pessoas também se retiraram das reuniões semanais de um grupo de trabalho de altos funcionários dos Programas de Acesso Especial para evitar provocar sua ira.
Dunlop presidiu o Grupo de Trabalho Sênior do SAP, que incluiu diretores dos SAPCOs dos outros serviços. Mas uma testemunha não identificada disse que, devido à forma como Dunlop agiu nas reuniões, os membros começaram a falar menos por medo de provocar uma confrontação com ela. A testemunha chamou Dunlop de "lutador premiado" que adorava "estar no meio do ringue e... trocar socos".
Outros membros começaram a enviar seus subordinados ou deixaram de vir inteiramente. Várias testemunhas disseram que tentaram falar com Dunlop sobre a forma como ela agia nas reuniões e o clima no escritório do SAPCO, mas não a acharam receptiva ao feedback. "Ela não mudou seu comportamento", eles disseram.
O estilo de liderança de confronto de Dunlop atingiu o ponto de ebulição em 4 de janeiro de 2019, quando ela agarrou a mão de uma subordinada chocada, sem sua permissão, para chamar sua atenção durante uma disputa sobre seu calendário e um visitante que entrava para tomar um café.
A subordinada disse aos investigadores que Dunlop “simplesmente enlouqueceu” quando descobriu que um visitante, com quem Dunlop tinha um encontro marcado para o café, iria primeiro passar pelo seu escritório. Dunlop repreendeu a subordinada por não ter contado a ela que o visitante estava chegando e disse que temia que o visitante visse as paredes nuas em seu escritório e cabides tortos e papéis em sua mesa.
A subordinada disse aos investigadores que olhou para a programação de Dunlop para chamar sua atenção para uma mudança e Dunlop agarrou sua mão e a apertou "como uma criança para chamar minha atenção". A altercação foi testemunhada por várias pessoas, que disseram aos investigadores que Dunlop levantou a voz e disse à subordinada: “Olhe para mim, olhe para mim, por favor”.
A subordinada disse que enquanto ela estava chocada, Dunlop não agarrou sua mão com força. E testemunhas disseram que Dunlop não parecia ter a intenção de ferir ou assustar a subordinada, embora tenham ficado surpresos. Um funcionário do SAPCO ligou para a Agência de Proteção da Força do Pentágono para relatar o incidente na semana seguinte.
Dunlop disse aos investigadores que foi pega de surpresa, que a visita estava para acontecer e, quando a subordinada continuou a olhar o calendário, ela parecia "perdida em pensamentos". Dunlop negou ter apertado a mão da subordinada e disse que ela a tocou por cinco segundos no máximo. Ela negou que estava com raiva e descreveu isso como um “toque muito breve”, “leve”, que ela não considerou desrespeitoso.
Várias testemunhas disseram que foi “completamente inapropriado” e “impróprio” para um oficial-general como Dunlop colocar a mão em um subordinado daquele jeito. “Se fosse um general do sexo masculino, a sua carreira poderia acabar naquele dia... se ele tivesse agarrado uma senhora de 115 libras (52kg) daquela forma”, disse uma testemunha.
O IG concluiu que o confronto de Dunlop com sua subordinada, sobre uma questão pequena, "comprometeu sua posição como oficial" e fez sua subordinada se encolher em estado de choque. Seu comportamento foi indecoroso e violou as regras que impedem a conduta imprópria para um oficial.
O investigador do IG contatou o Escritório de Investigações Especiais sobre este incidente para ver se uma investigação criminal em potencial agressão era justificada, mas o OSI decidiu não prosseguir com o assunto.
Em maio de 2019, Dunlop provocou outra oficial superior a sair desabaladamente de uma reunião em lágrimas. Dunlop ficou irritada porque três oficiais da Força Aérea compareceram a uma reunião para preparar slides para informar líderes militares superiores, mas Dunlop achou que era necessário apenas um apresentador da Força Aérea.
Dunlop continuou provocando uma oficial superiora não-identificada repetidamente e em um grau desconfortável, embora tenha sido dito para ela deixar o assunto de lado. A oficial superior chorou de raiva e disse a Dunlop que eles eram seus pares, e Dunlop não deveria falar com ela dessa forma novamente, disse o relatório.
Mas Dunlop continuou empurrando a questão de uma forma “zombeteira”, como uma testemunha descreveu, até que a oficial superiora se levantou e saiu furiosa. Testemunhas disseram que foi especialmente estranho, porque majores estavam na sala e estavam tendo a impressão de que essa era uma conduta aceitável de um general.
Em um relatório separado do IG, datado de novembro de 2019, Said fundamentou uma alegação de que Dunlop indevidamente fez seus subordinados prestarem serviços pessoais para ela enquanto servia como comandante de Alerta e Controle Antecipado Aerotransportado da OTAN na Base Aérea da OTAN de Geilenkirchen, na Alemanha, de 2016 a 2018.
Os subordinados ajudaram Dunlop trocando os pneus de verão por pneus de inverno, e vice-versa, em seu veículo pessoal quatro ou cinco vezes, bem como trocando o óleo e fazendo arranjos pessoais de hospedagem. Quando Dunlop estava se transferindo de volta para os Estados Unidos em agosto de 2018, um subordinado ajudou Dunlop a enviar seu carro de volta, dirigindo-o até que queimasse combustível suficiente para se qualificar para o transporte, e também vendeu seus pneus de inverno para ela.
Dunlop disse aos investigadores que não considerou oferecer pagamento ao subordinado por seu trabalho, anunciando e vendendo os pneus de inverno após o expediente, porque os pneus eram um requisito exclusive para ficar estacionado em Geilenkirchen. O relatório do IG concluiu que ter subordinados fazendo essas tarefas pessoais para ela era uma violação dos regulamentos de ética do Departamento de Defesa e parte de um “padrão de uso indevido de pessoal” durante seu comando na Alemanha.
Em sua declaração, Myers disse que Dunlop lamenta ter aceitado esses serviços de seus subordinados, e disse que foram violações não-intencionais. A necessidade de trocar e depois vender pneus de inverno eram “requisitos exclusivos daquele ambiente”, disse Myers.
“Ela está empenhada em incorporar essas lições aprendidas à medida que avança em sua posição atual”, disse Myers.
Stephen Losey cobre questões de liderança e pessoal como repórter sênior do Air Force Times. Ele vem de uma família da Força Aérea e seus relatórios investigativos foram premiados pela Society of Professional Journalists. Ele viajou ao Oriente Médio para cobrir as operações da Força Aérea contra o Estado Islâmico.
Bibliografia recomendada:
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Os Centuriões: 10 passagens que farão você refletir sobre guerra e liderança, 13 de abril de 2020.
As forças armadas desenvolvem líderes narcisistas?, 13 de abril de 2020.
Forças aéreas asiáticas recrutam mulheres pilotos de caça, 19 de fevereiro de 2020.
Caráter x Competência: A Equação da Confiança, 25 de fevereiro de 2020.
Ser um líder rebelde: desobediência disciplinada no exército, 18 de fevereiro de 2020.
Na maioria das vezes em que mulheres assumem cargos de liderança, tornam o ambiente de trabalho a volta delas tóxico. Muitas já são vaidosas, quando sobem de posição, o poder sobe a cabeça e se envaidecem mais ainda.
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