domingo, 9 de maio de 2021

O longo caminho para a DP-27

Lord Tachanka com a metralhadora DP-27, Rainbow Six: Siege.
(Arte de @pumpkinnine)

Por Andrey Ulanov, Forgotten Weapons, 9 de maio de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 9 de maio de 2021.

As forças armadas russas se familiarizaram com metralhadoras leves em 1904, à beira da Guerra Russo-Japonesa. Depois de testar algumas metralhadoras Madsen, o Exército decidiu fazer uma compra. No entanto, a maior parte do lote encomendado não chegou a tempo para a guerra, então, de acordo com algumas fontes, Madsens foram usadas pela primeira vez durante as rebeliões de 1905, tanto pelas tropas do governo quanto pelos rebeldes.

Daqui para frente, o exército russo concentrou seus esforços em metralhadoras pesadas devido à capacidade limitada da indústria russa de produção de armas. Na época, havia apenas uma fábrica capaz de fabricar equipamentos militares de alta tecnologia (e no início do século XX, metralhadoras eram definitivamente consideradas de alta tecnologia), localizada em Tula, a potência armamentista da Rússia desde 1595.


Como a Grande Guerra tornou a necessidade de uma metralhadora leve muito clara, o Império decidiu construir uma nova fábrica em Kovrov usando a ajuda do sindicato dinamarquês (tais como equipamentos e engenheiros). Infelizmente, a turbulência revolucionária de 1917 não permitiu que a fábrica fosse concluída quando os dinamarqueses fugiram do país, levando a maior parte do equipamento com eles, de modo que a Madsen nunca se tornou a metralhadora russa ou soviética.

O recém-formado Exército Vermelho Soviético inicialmente tentou seguir o caminho alemão criando a Maxim-Tokarev, uma versão leve da metralhadora Maxim, semelhante às metralhadoras leves alemãs da Primeira Guerra Mundial. No entanto, os primeiros lotes atraíram muitas críticas dos tropas. Apesar de alguns deles poderem ser atribuídos às dificuldades iniciais de produção, normais no desenvolvimento de uma nova arma, o Exército Vermelho considerou que a Maxim-Tokarev tinha “pouco potencial”. Era pesada (não é uma boa característica para uma metralhadora leve) e complexa. Todas as melhorias posteriores levaram à perda de semelhança com a Maxim original e, conseqüentemente, tornaram a produção ainda mais complexa. A situação exigia o desenho de uma nova metralhadora leve do zero.

Metralhadora leve Maxim-Tokarev.

Na época, os soviéticos tinham um ótimo relacionamento com a República de Weimar e consideravam as metralhadoras leves alemãs muito promissoras. Dez amostras foram adquiridas, incluindo alguns modelos montados em tanques. Embora não possamos saber exatamente, essas eram provavelmente as versões experimentais da MG-13.

No entanto, em pouco tempo o comando do Exército Vermelho tinha uma nova opção doméstica. O Degtyarev DP-27 foi projetado por Vasily Degtyarev, um discípulo do General Vladimir Fedorov do famoso fuzil “Fedorov Avtomat”. Depois de criar vários protótipos, os projetistas se estabeleceram no esquema testado e confiável de recuo livre por gás (blowback, recuo simples).

Metralhadora leve Fedorov experimental.

A escolha do sistema de alimentação não foi tão simples. O formato e o anel do cartucho padrão russo 7,62x54R o tornava inadequado para alimentação em carregador de cofre ou em cinta. Os cartuchos do fuzil .303 britânico e do velho Lebel francês 8x50R tinham o mesmo problema. Fedorov tentou convencer a liderança a adotar o cartucho japonês 6.5x50mmSR Arisaka, mas sem sucesso. No final, o Comando decidiu ficar com o bom e velho 7,62x54R. Projetar um carregador tipo cofre confiável para isso parecia quase impossível, e as cintas de munição de tecido tiveram sua própria cota de problemas no frio e na chuva da Rússia (os soviéticos não seriam capazes de produzir cintas de metal até a Segunda Guerra Mundial). Então, Degtyarev optou por um carregador de tambor, que não apenas podia alimentar cartuchos 7,62x54R de maneira confiável, mas também continha 47 cartuchos, muito mais cartuchos do que os carregadores de cofre padrão de 20 ou 30 cartuchos de metralhadoras leves concorrentes.

Por outro lado, o sistema de alimentação de tambor também apresentava muitas falhas. Os testadores do Exército observaram um “peso morto” excessivo (muito metal por cartucho). Os tambores também eram complexos e caros de fabricar. Em combate, compartilhar munição entre soldados e recarregar sob fogo também estava longe de ser simples. Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, o Exército Vermelho trabalhou arduamente para projetar uma alternativa confiável para a alimentação da DP-27, testando uma variedade de abordagens, desde a instalação de alimentadores de cinta modulares e carregadores tipo cofre montados por cima até a cópia de sistemas japoneses de alimentação por clipe a partir de modelos capturados durante as batalhas de Khalkhin Gol em 1939.

DP-27 experimental com carregador tipo cofre por cima.

Em algum momento, o modelo de Goryunov-Voronkov-Goryunov (sim, dois Goryunovs diferentes) foi desenvolvido. Era uma metralhadora leve alimentada por cinta e estava pronta para teste mesmo antes da guerra, mas nunca entrou em produção e seu desenho mais tarde contribuiu para o SG-43, a metralhadora pesada de maior sucesso da Rússia na Segunda Guerra Mundial.

Goryunov-Voronkov-Goryunov.

Depois de 22 de junho de 1941, um fluxo constante de reclamações de soldados sobre a DP começou na linha de frente. A maioria delas considerava as questões relacionadas ao tambor, mas algumas eram novas. Os militares reclamaram do acúmulo de carbono no sistema de gás e nas molas de recuo, que muitas vezes falhavam devido ao superaquecimento, pois eram montadas diretamente sob o cano resfriado a ar. Em 1942, a URSS realizou uma competição para uma nova metralhadora leve. A metralhadora RPS de Simonov venceu e um pequeno lote foi produzido, mas nunca entrou em produção em massa. Em 1943, a metralhadora leve de Kalashnikov foi testada no campo de tiro, mas falhou em alimentar de forma confiável o 7,62x54R de um carregador de cofre de alta capacidade montado embaixo. Definitivamente, um momento de "eu avisei" para Degtyarev.

RP-46, modernização alimentada por cinta do DP-27.

Como resultado, nenhuma nova metralhadora leve calibrada em cartucho de fuzil foi adotada. A DP foi modernizado como DPM, com uma empunhadura de pistola mais confortável, novos bipés e uma mola de recuo movida para um local mais fresco na parte de trás do cano. Ela até recebeu um mecanismo de alimentação por cinta, que poderia ser instalado em vez de um tambor padrão, e foi renomeada como metralhadora RP-46. No entanto, à medida que o país entrava na era dos cartuchos intermediários, as metralhadoras leves calibradas em cartuchos de fuzil tornaram-se uma coisa do passado e Degtyarev passou a projetar a RPD-44, uma das metralhadoras leves mais conhecidos da Rússia em todo o mundo.

Paraquedista sul-vietnamita com uma RPD-44 capturada durante uma varredura perto do antigo cemitério francês de Saigon, parte da Ofensiva de Maio (Fase II do Tet), 7 de maio de 1968.

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Bibliografia recomendada:

MG 34 and MG 42 Machine Guns.
Chris McNab.

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