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quinta-feira, 22 de abril de 2021

70 anos atrás, o batismo de fogo na Coréia para o Corpo de Voluntários Belga-Luxemburguês


Por Pierre Brassart, À l'Avant-Garde, 22 de abril de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 22 de abril de 2021.

O batalhão belga-luxemburguês se destacou em três grandes batalhas: Imjin, Haktang-Ni e Chatkol.

A guerra havia estourado quase um ano antes, em 25 de junho de 1950, com a invasão da Coréia do Sul pelos exércitos norte-coreanos. Seul é tomada três dias depois. A ONU reage, o exército americano se desdobra e assume a liderança da coalizão com o apoio da ONU. A Bélgica decide em 25 de agosto de 1950 enviar uma força expedicionária que só pode ser composta por voluntários (a Constituição impede o envio de milicianos). Mais de 2.000 candidatos se apresentaram. Em 18 de setembro de 1950, começaram as primeiras sessões de treinamento para oficiais e suboficiais. No início de outubro, cerca de 700 voluntários se foram para Bourg-Léopold para formar o batalhão que recebeu o nome oficial de Corpo de Voluntários para a Coréia. Um pelotão luxemburguês se juntará ao batalhão logo depois.

Jipe com metralhadora do batalhão belga-luxemburguês na Coréia. (Coleção do padre Vander Goten)

Em 18 de dezembro de 1950, o batalhão deixou a Bélgica a bordo do mítico Kamina e chegou à Coréia em 31 de janeiro de 1951. Em 20 de abril, o batalhão posicionou-se no rio Imjin, a cerca de trinta quilômetros de Seul. Ele foi então vinculado a uma brigada britânica. Apenas dois dias depois, em 22 de abril, no início da noite, uma patrulha belga entrou em combate com o inimigo a dois quilômetros das posições do batalhão. O inimigo parece estar tentando se infiltrar. Às 3h da manhã, um primeiro ataque frontal foi lançado pelos chineses, mas falhou. As várias companhias do batalhão caem sob ataque. Uma seção enviada para reconhecimento é emboscada e 6 homens são capturados (seus corpos serão encontrados em maio, quando as posições chinesas serão reconquistadas). Na manhã do dia 23, um pelotão de tanques americanos foi enviado como reforço para permitir que as tropas belgas recuassem pra novas posições.

O dia 24 de abril foi relativamente calmo para os soldados, principalmente se comparado ao de seus camaradas britânicos que sofreram pesadas perdas, principalmente o 1º Batalhão do Regimento de Gloucestershire (Glosters) que, isolado em uma colina, viu 56 de seus homens serem mortos e mais de 500 foram feitos prisioneiros. Em 25 de abril, o alto comando ordenou que toda a brigada fosse retirada para uma nova posição defensiva. No final da batalha, o batalhão belga deplora doze mortos e trinta feridos.


As tropas aliadas, que somavam mais ou menos 4.000 homens, enfrentaram três divisões chinesas, totalizando quase 24.000 soldados. Estavam, portanto, lutando 1 contra 6. O assalto ao rio Imjin fazia parte da ofensiva de primavera planejada pelo exército chinês que, entre outras coisas, tinha o objetivo de retomar Seul e expulsar as forças da ONU da península. A resistência no rio Imjin impediu um avanço da linha de frente chinesa e permitiu que as forças da ONU se organizassem para estabelecer uma nova linha de defesa e conterem a ofensiva chinesa.

Apenas 3.171 belgas e 78 luxemburgueses lutaram na Coréia até 1953, onde quase cem morreram e 478 ficaram feridos. O interesse neste conflito permanece limitado na Bélgica. Somente em 1996 os veteranos desta guerra obtiveram o reconhecimento nacional do Ministro da Defesa.

Jipes belgas na Coréia.
(Coleção do padre Vander Goten)

Bibliografia recomendada:

Bérets Bruns en Corée 1950-1953.
General A. Crahay.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

FOTO: Soldado francês em Scapoli

Em vila na linha de frente, um soldado francês guarda uma via de transporte em Scapoli, na Itália, em 14 de dezembro de 1943.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 1º de janeiro de 2021.

Ao lado do soldado há uma placa com a inscrição "Attention - Observatoires Boches" (Atenção - Observatórios Chucrutes) com uma caveira com ossos cruzados. Boche era o apelido pejorativo francês para os alemães, de alboche, uma contração de allemand (alemão) e caboche (cabeça de repolho), em alusão à comida chucrute e para "cabeça dura", teimoso como um alemão. Popularizou-se na Primeira Guerra Mundial e continuou na Segunda.

O soldado tem um misto de equipamentos franceses e americanos. O capacete M26 Adrian francês foi camuflado com tinta, e ele porta o fuzil Springfield M1903, o mesmo usado pela Força Expedicionária Brasileira. O outro fuzil comumente usado pelos franceses nessa época era o Enfield M1917, uma versão americana do fuzil britânico P14 (Pattern 1914 Enfield). Esse fuzil era designado no serviço francês como "Fusil à répétition 7 mm 62 (C. 30) M. 17".

Bibliografia recomendada:

The French Army 1939-45 (1).
Ian Sumner e François Vauvillier.

The French Army 1939-45 (2).
Ian Sumner e François Vauvillier.

Leitura recomendada:

FOTO: Prisioneiros alemães na Itália26 de março de 2020.

FOTO: Partisans italianas em Castelluccio31 de março de 2020.

FOTO: Partisans italianos na Emilia-Romanha16 de dezembro de 2020.

FOTO: Cemitério alemão na Itália8 de abril de 2020.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

GALERIA: Uma missão da Marinha Francesa na Indochina

No setor de Can Tho, as vedetes (ou Cutter) da Dinassaut 8 durante uma patrulha no rio Bassac. Cada barco está armado com um canhão Oerlikon de 20mm.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 9 de outubro de 2020.

Missão de controle fluvial no setor de Can Tho, Cochinchina, em agosto de 1952. Fotos de Defives Guy para o ECPAD.

Dinassau 8 (Division Navale d’Assaut/ Divisão Naval de Assalto) patrulha o rio Bassac com embarcações pesadas LCMs ​​(Landing-Craft-Material) e embarcações de assalto armadas com canhões de tiro rápido Oerlikon de 20mm. Esses navios fortemente armados realizam missões de escolta a comboios de juncos trazendo suprimentos, contato com postos de ligação e vigilância costeira, interceptando embarcações de contrabando inimigas.

Distintivo do Dinassaut 2.

Os Dinassaut (às vezes grafados Dinassau) foram criados pelo General Leclerc em 1947 para substituir as flottilles fluviales criados por Jaubert em 1945-1946. Dez grupos foram criados, com os Dinassaut 2, 4, 6, 8 e 10 na Cochinchina (sul), e os Dinassaut 1, 3, 5, 12 e Haiphong no Tonquim (norte).

Cada Dinassaut consistia em aproximadamente 12 embarcações, frequentemente embarcações de desembarque americanas modificadas com blindagem e usando torres de tanque como armas. Outras embarcações carregavam morteiros de 81mm para serem usadas como artilharia fluvial (ribeirinha). Cada um tinha uma companhia de Commandos Marine, dos Fusiliers-Marins.

Distintivo do Dinassaut 4.

Segundo Bernard Fall:

"[O Dinassaut] pode muito bem ter sido uma das poucas contribuições valiosas da Guerra da Indochina para o conhecimento militar".

Esse tipo de interdição, em uma país coberto por selvas quase intransponíveis e altamente dependente dos rios e áreas costeiras mostrou-se essencial para o esforço de guerra da União Francesa; mesmo que o comando naval em Paris ainda insistisse em uma marinha de água azul, os esforços de água marrom permaneceram os mais eficazes.

Os Dinassaut 6 e 8 foram transferidos para a Marinha da República do Vietnã (VNN) em 1953. Os conselheiros americanos dissolveram os dois quando os franceses deixaram a região, mas a força da necessidade levou-os a recriarem unidades fluviais. Isso levou à criação da Força Móvel Flutuante do Delta do Mekong (Mekong Delta Mobile Afloat Force), mais tarde denominada Força Móvel (Riverine Mobile Riverine Force, MRF), após maio de 1967.

Um LCM (Landing Craft Material/ Embarcação de Desembarque de Material) do Dinassaut 8 durante a operação.

O mesmo LCM durante a missão de escolta e patrulha.

Dois veículos de assalto (engins d'assaut, EA) do Dinassaut 8 durante a missão de patrulha e escolta.
Esses veículos de assalto de fabricação francesa equiparam os Dinassaut em adição ou em substituição aos LCVP (Landing Craft Vehicle and Personnal). Tal como acontece com o último, os EA operavam em pares.

Um marinheiro do Dinassaut 8 está postado no telhado de um LCM enquanto acompanha um comboio de juncos no rio Bassac.
O marinheiro está equipado com um fuzil-metralhador Bren de origem britânica.

A bordo de um LCM do Dinassaut 8, um marinheiro está postado atrás de uma metralhadora pesada de 12,7mm (.50) durante a escolta de juncos no rio Bassac, no setor de Can Tho.

Bibliografia recomendada:

Dinassaut.
Comandante de Brossard.

Leitura recomendada:

GALERIA: Comandos Navais na Baía de Ha Long8 de outubro de 2020.

sábado, 26 de setembro de 2020

GALERIA: O Corpo Expedicionário Britânico na França

Um oficial britânico da 51st Highland Infantry Division (Escocesa), no setor do 3º Exército Francês no Moselle. (Arquivo do 3e Armée)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de setembro de 2020.

Em 3 de setembro de 1939, a Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha nazista, que acabava de atacar a Polônia. Desde os primeiros dias de setembro, uma força expedicionária britânica desembarcou na França e se posicionou a leste de Lille. Então começaram para esses homens os longos meses de espera da Drôle de Guerre (Guerra Estranha, em francês), ou Phoney War (Guerra de Mentira, para os ingleses).

A Força Expedicionária Britânica (British Expeditionary Force, BEF) era o nome do Exército Britânico na Europa Ocidental durante a Segunda Guerra Mundial de 2 de setembro de 1939, quando o Quartel-General Geral (General Headquarters, GHQ) do BEF foi formado, até 31 de maio de 1940, quando o GHQ foi encerrado. A BEF era comandanda pelo General Lord Gort.

Retrato de grupo de soldados britânicos da BEF em Villers-Outréaux, na região Norte.

Reunião de homens e cavalos da Força Expedicionária Britânica no cais de um porto francês. (Arquivo do 6e Armée)

Da esquerda para a direita: General Ironside, Winston Churchill, General Gamelin, General Gort, General Georges.

O General Lord Gort foi nomeado para o comando do BEF em 3 de setembro de 1939 e o BEF começou a se mudar para a França em 4 de setembro de 1939. O BEF se reuniu ao longo da fronteira franco-belga. O BEF assumiu seu posto à esquerda do Primeiro Exército francês sob o comando do 1º Grupo de Exército francês (1re Groupe d'Armées) da Frente Nordeste (Front du Nord-est). A maior parte do BEF passou de 3 de setembro de 1939 a 9 de maio de 1940 cavando defesas de campanha na fronteira. Quando a Batalha da França (Fall Gelb) começou em 10 de maio de 1940, a BEF constituía 10% cento das forças aliadas na Frente Ocidental.

O exército britânico tinha menos homens em 1939 do que em 1914, e a sua contribuição foi "o tamanho do Exército deveria ser ajustado ao que os franceses pensavam ser o mínimo de que precisavam e os britânicos, o máximo que podiam fazer". Inicialmente podendo fornecer apenas uma única divisão de infantaria e uma brigada de cavalaria, o War Office elevou esse número para 10 divisões, e finalmente, em 21 de abril de 1939, a decisão foi tomada para 6 divisões regulares e 26 divisões territoriais (milícia), e iniciado o serviço militar obrigatório. A 51st Highland Infantry Division (51ª Divisão de Infantaria das Terras Altas da Escócia) foi destacada para servir na Linha Maginot. 

Soldados da BEF na França marchando em coluna durante a manobra Dyle, 1940.
(Arquivo do 1er Armée)

Um motociclista da BEF pede instruções a um suboficial francês.
(Arquivo do 2e Armée)

Soldado britânico da 51st Highland Infantry Division, no setor do 3º Exército Francês em Mosela.
(Arquivo do 3e Armée)

Soldado dos Royal Welsh Fusiliers com um fuzil-metralhador Bren em um reparo anti-aéreo, Nord-Pas-de-Calais. (ECPAD)

Soldados britânicos da BEF durante uma pausa para refeição no Moselle. (Arquivo do 3e Armée)

Capitães de times de futebol antes de uma partida entre soldados franceses e britânicos na França. (Arquivo do 2e Armée)

Dois soldados da Força Expedicionária Britânica na França posam juntos. (Arquivo do 7e Armée)

Soldados escoceses do regimento Seaforth Highlanders da BEF e um soldado francês do 1º Exército. (Arquivo do 1er Armée)

Dois músicos britânicos da BEF posam ao lado dos seus instrumentos. (Arquivo do 7e Armée)

Soldados franceses e repórteres britânicos da Unidade de Cinema e Fotográfica do Exército (Army Film and Photographic Unit, AFPU) no Norte.

Partida do Rei George VI da Inglaterra, após visita à França, na presença do General Giraud em Boulogne-sur-Mer, 1939. (Arquivo da Marinha Francesa)

O duque de Windsor, irmão do rei da Inglaterra George VI, visitando o setor do 4º Exército Francês. (Arquivo do 4e Armée)

Em 10 de maio de 1940, a inatividade terminou com o exército alemão invadindo a Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Em resposta, unidades francesas e britânicas, por sua vez, entraram na Bélgica. Em 14 de maio de 1940, o avanço dos blindados alemães na região de Sedan e Dinant levou à retirada das tropas aliadas no Escalda e nos canais do norte. A partir de 20 de maio, o adversário os cercou e apesar da forte resistência, as praças francesas caíram uma após a outra. Em 26 de maio de 1940, teve início a Operação Dynamo (Dínamo), que consistia na evacuação das forças aliadas do campo entrincheirado de Dunquerque. Em 4 de junho, mais de 300.000 soldados foram embarcados novamente para a Inglaterra sob a cobertura do exército francês em Lille e no perímetro de Dunquerque; esta operação é um sucesso inesperado que permite à Inglaterra continuar a luta.

Os repórteres de guerra da SCA fotografaram o dia a dia dos soldados britânicos em seus acantonamentos. Imagens de companhias de propaganda alemãs acompanham o avanço do exército alemão, bem como a derrota das unidades aliadas.

Na estrada para Winnezeele, um veículo blindado Panzer II da 6ª Divisão Blindada Alemã (6. Panzer-Division) entre as carcaças de veículos britânicos. (Arquivo alemão)

Em La Bassée (Norte), os prisioneiros dos Queen's Own Cameron Highlanders da BEF, limpam os escombros. (Arquivo alemão)

Carros de combate britânicos Matilda do 7º Regimento de Tanques Real (7th Royal Tank Regiment, 7th RTT) destruídos durante a contra-ofensiva em Arras, no Pas-de-Calais.

Tanquista britânico do 7th RTT sendo interrogado por um oficial alemão após a contra-ofensiva fracassada em Arras, no Pas-de-Calais. (Arquivo alemão)

Comboios da BEF destruídos na estrada que leva ao porto de Dunquerque, no Norte. (Arquivo alemão)

Em uma estrada ao norte, entre Hondschoote e Ghyvelde, um tanque britânico Mark VI B destruído. (Arquivo alemão)

Soldados do 2º Batalhão, Regimento Real de Norfolk, ficaram isolados da sua unidade sob o comando do Major Lisle Ryder. Eles ocuparam e defenderam uma casa de fazenda contra um ataque da 14ª Companhia da SS-Division Totenkopf na vila de Le Paradis. Depois de ficar sem munição, os defensores se renderam às tropas alemãs que então os conduziram pela estrada até uma parede onde foram assassinados por tiros de duas metralhadoras, e depois baionetados. Noventa e sete soldados britânicos foram mortos. Dois sobreviveram apesar de feridos - soldados Albert Pooley e William O'Callaghan - e se esconderam até serem capturados pelas forças alemãs, vários dias depois.

Como o limite entre os dois regimentos britânicos era a estrada, os homens de Ryder se renderam não à companhia contra quem estavam lutando, mas sim à unidade do SS-Hauptsturmführer Fritz Knöchlein, que estava lutando contra os Royal Scots (Escoceses Reais). Túmulos encontrados perto de Le Paradis em 2007 sugerem que cerca de 20 homens dos Royal Scots que se renderam a uma unidade da SS também podem ter sido mortos em um massacre separado. Knöchlein foi condenado por crime de guerra em 1948 e enforcado em 1949.

No setor de Maubeuge, um campo de prisioneiros onde soldados franceses, belgas e britânicos estão reunidos. (Arquivo alemão)

Prisioneiros britânicos da Força Expedicionária Britânica no setor de Arras, no Pas-de-Calais. (Arquivo alemão)

Sobre a resistência do 1º Exército francês (1er Armée), formado pelos 4º e 5º Corpos sob o Général de Corps d'Armée Jean-Baptiste Molinié, opondo 40 mil franceses a 160 mil alemães, escreveu Churchill:

"Os remanescentes do outrora formidável Primeiro Exército, ... agora sob o comando do General Molinié, resistiram ao redor de Lille até o final de 31 de maio, enfrentando sete divisões alemãs, três delas panzer, evitando assim que se juntassem ao ataque inimigo em Dunquerque. Esta valente resistência ajudou as forças anglo-francesas sitiadas em torno do porto a resistirem por mais dois a três dias e, assim, salvar pelo menos mais 100.000 soldados."

Quando o bolsão de Lille se rendeu, a Operação Dynamo já estava atuando há uma semana. Mas ainda assim, para cada sete soldados que escaparam por Dunquerque, um homem foi deixado para trás como prisioneiro-de-guerra. A maioria desses prisioneiros foi enviada em marchas forçadas para dentro da Alemanha, para cidades como Trier, a marcha durando até vinte dias. Outros foram transportados a pé para o rio Escalda e enviados de barcaça para o Ruhr. Os prisioneiros foram então enviados de trem para campos de prisioneiros de guerra na Alemanha. A maioria (aqueles abaixo da graduação de cabo) trabalhou na indústria e agricultura alemãs por cinco anos.

Um relatório de inteligência do IV Corpo de Exército alemão, que havia se engajado contra a BEF da linha Dyle até a costa, foi distribuído às divisões em treinamento para a Operação Leão Marinho (Unternehmen Seelöwe), dizendo sobre os homens da BEF:

"O soldado inglês estava em excelentes condições físicas. Ele suportou suas próprias feridas com calma estóica. As perdas de suas próprias tropas, ele discutiu com total equanimidade. Ele não reclamava de sofrimentos. Na batalha ele era duro e obstinado. Sua convicção de que a Inglaterra venceria no final era inabalável... O soldado inglês sempre se mostrou um combatente de alto valor. Certamente as divisões territoriais são inferiores às tropas regulares em treinamento, mas no que diz respeito ao moral, elas são iguais... Na defesa, o inglês aguentava qualquer punição que surgisse em seu caminho."

A BEF sofreu 66.426 baixas, 11.014 mortos em combate ou que morreram em decorrência de ferimentos, 14.074 feridos e 41.338 homens desaparecidos ou feitos prisioneiros. A força também perdeu a maior parte do seu material pesado.


Nenhuma medalha de campanha foi concedida para a Batalha da França, mas o militar que passou 180 dias na França entre 3 de setembro de 1939 e 9 de maio de 1940, ou "um único dia, ou parte dele" na França ou na Bélgica entre 10 de maio e 19 de junho de 1940, era qualificado para a medalha Star 1939-1945.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

domingo, 13 de setembro de 2020

ENTREVISTA: O 1° Grupo de Aviação de Caça nos céus da Itália

O dia 22 de abril de 1945 foi o dia com o maior número de missões de combate do 1º GAvCa, 44 missões de guerra destruindo mais de 100 alvos em um único dia, sendo celebrado até hoje no Brasil como o Dia da Aviação de Caça. (Arte de Gino Marcomini)

"O Brasil Brilhou!"

Eis o que afirma o major John W. Buyers, piloto que esteve com o primeiro grupo de caças brasileiros na Itália em 1944-45.

Major John William Buyers, 08 de janeiro de 1920 – 23 de abril de 2016.
(Foto de Lucas Pires)

John Buyers tem nome de norte-americano, mas nasceu em Juiz de Fora (MG) e morou até os 19 anos no Brasil. No entanto, teve formação militar nos EUA. Nacionalidade? Dupla: brasileira e americana. O Major Buyers, como é chamado hoje, foi um dos muitos pilotos de caça que estiveram na Segunda Guerra Mundial. Foi enviado para a Itália com os pilotos brasileiros. Na verdade, quando na Aeronáutica americana, em 1942, veio ao Brasil trazer aviões e acabou incorporado às forças armadas nacionais. Em contato com o pessoal brasileiro, fez amizades e, por falar português, seguiu junto para Aguadulce, Panamá, onde os pilotos tupiniquins foram treinados e, posteriormente, enviados à Itália. Como ele mesmo se definiu, era um "quebra-galho", mas, mesmo assim, fez missões aéreas e ajudou nas operações do esquadrão "Senta a Púa!", sobre o qual escreveu o livro "A História do 1º Grupo de Caça 1943/1945", lançado [em 2004]. Na entrevista [à revista] Conhecer Fantástico, o major fala sobre a experiência junto aos brasileiros e conta histórias vividas na Itália pelos pilotos da FAB.

Conhecer Fantástico: Como começou sua atuação junto ao Brasil na guerra?

John Buyers: Quando terminei o treinamento em aviação nos EUA, pediram sete voluntários que falassem espanhol. Meu nome já estava na lista, pois eles não sabiam a diferença do português para o espanhol. Pensávamos que iríamos para as Filipinas, mas acabamos no Rio de Janeiro.

O Senta Púa na Itália.

CF: Com qual intuito?

JB: A missão era transportar aviões para o Brasil A FAB tinha pouco mais de um ano, uns 200 pilotos e 200 oficiais administrativos e o país não tinha dinheiro para comprá-los. Mas os EUA precisavam enviar aeronaves para a Europa e a África e o caminho era pelo Nordeste brasileiro. Pelo Norte, não dava: com seis a sete meses por ano de mau tempo, perdiam-se muitos aviões. Então, fizeram um acordo com o Brasil, que permitiu que fossem construídas bases na região para os norte-americanos poderem operar. Essas bases foram estabelecidas no Amapá, em Belém, São Paulo Luiz, Fortaleza, Natal, no Recife, em Maceió e na Bahia, 25 no total. Era um movimento colossal nas bases. Em Natal, por exemplo, passavam até 300 aviões por dia indo para a África.

CF: Vieram e ficaram?

JB: Viemos num total de 10 aviões, com um piloto e um mecânico ou especialista em rádio. Ficamos no Recife, eu e mais dois pilotos, além dos mecânicos, porque os aviões mais avançados estavam todos lá. Foi quando resolveram organizar o primeiro grupo de caça, sob orientação dos norte-americanos, que substituíram os franceses quando estes voltaram para a Europa com o início da guerra.

CF: Como surgiu a idéia ou a necessidade de pilotos brasileiros irem à guerra?

JB: Os EUA queriam, naturalmente, que o Brasil se envolvesse na guerra porque buscavam implantar o sistema militar que lhes correspondesse, o que facilitaria numa futura guerra. Era essa a atitude norte-americana, mas Vargas não queria entrar no conflito. Foi forçado porque os alemães e italianos começaram a afundar navios brasileiros. O alemão considerou uma afronta o fato de o Brasil ter feito um contrato com o norte-americano de deixar os aviões passarem pelo país.

Militar brasileiro posando ao lado do famoso emblema "Senta a púa!".

CF: E dentro da sua convivência ali no Nordeste, o que o senhor via se a população brasileira estava esperando pela guerra?

JB: O Brasil não queria entrar na guerra. O Getúlio tinha uma opinião, ele dizia assim: "Em briga de cachorro grande, cachorro pequeno não entra". E considerava o país não-apto a entrar numa guerra. O que queria era tirar vantagem, ou seja, vender o que os países em conflito precisavam, como cristal de rocha que o Brasil exportou, e era muito necessário para a fabricação dos rádios.

CF: Qual foi o caminho dos pilotos brasileiros até a Europa em condições de combate? O senhor esteve com eles?

JB: Em primeiro lugar, fomos para o Panamá, para a base aérea de Aguadulce, onde havia uma escola de treinamento de pilotos de caça, que formava de 40 a 50 pilotos por mês. Lá, fizemos m treinamento em conjunto e foi aí que os pilotos brasileiros aprenderam o sistema norte-americano de vôo, treinamento intensivo de vôo rasante, bombardeio, carga, tiro ao alvo etc. O grupo avançado, composto por 10 ou 15 pessoas, acabou indo para Orlando fazer um treinamento para pilotos de caça, aprendendo as táticas utilizadas na Europa, na África e na Ásia.

O então Capitão John W. Buyers, da USAAF, era o oficial de ligação entre o 1° Grupo de Caça da FAB e os americanos.

CF: Chegando à Itália, os brasileiros estavam de fato preparados para a guerra?

JB: Foi uma surpresa para os norte-americanos que os pilotos brasileiros estavam não somente muito bem treinados, como também tinham tido treinamento e experiência aqui no Brasil sem a estrutura de aviação com que o norte-americano contava. Não se tinha mapas, rádios, nada. Costumo dizer que aprendi a pilotar na América do Norte, mas aprendi a voar no Brasil. O norte-americano que estava em combate pilotava, mas não sabia voar, e o brasileiro chegou sabendo pilotar e voar.

CF: Então, é verdade que os pilotos brasileiros eram muito bons tecnicamente?

JB: Vou dar um bom exemplo. Os brasileiros tiveram de se virar sozinhos, mas, como estavam bem-treinados e eram bons mesmo, organizaram-se e começaram a fazer missões, e os norte-americanos: "pô,  chegaram aqui hoje e já estão fazendo isso, destruindo aquilo, atirando naquilo...". Eles achavam que estávamos mentindo e, então, mandaram instalar uma máquina fotográfica especial nos nossos aviões. Quando o piloto brasileiro jogasse as bombas, ele tinha de passar por cima e fotografar o alvo para comprovar o que estava dizendo. Depois de uma semana, mandaram retirar as máquinas. Eles viram que era verdade.

CF: O senhor foi para a Europa basicamente, digamos, liderando o esquadrão brasileiro nessa ligação com as demais tropas aliadas?

JB: Minha função era quebrar galho. Se houvesse algo que estava atrapalhando, eu tinha que providenciar que aquilo fosse eliminado. Minha instrução era intermediar, pois ninguém queria norte-americano se metendo e criando caso com brasileiro. Quando chegamos, fui me apresentar ao comandante para informá-lo de que eu também era um oficial. Ele me olhou e disse: "Olha, eu só tenho tido problemas aqui e não pedi esse pessoal. Não quero mais problema por aqui". Level um choque e respondi: "O senhor não conhece os brasileiros, mas vou dizer uma coisa: um dia o senhor vai ter orgulho de os ter tido sob seu comando". Ele disse apenas "I hope so" (Espero que sim).

CF: Quando chegaram à Itália? Como foi o contato com o terreno de guerra?

JB: Chegamos em outubro de 1944 e o exército brasileiro já estava lá. Foi um choque para nós. Éramos jovens, cheios de idéias e não tínhamos a mínima noção do que era uma guerra. Quando chegamos num porto todo arrebentado, o navio não podia passar porque os alemães tinham afundado outras embarcações na passagem e colocado minas dentro. Tiveram de explodir as bombas para o navio passar, com apenas um metro de cada lado livre.

Limpeza de armamento em um P-47 Thunderbolt na Itália.

CF: E a guerra em si, o que se pode fizer da atuação dos pilotos brasileiros?

JB: Não há dúvidas de que o Brasil brilhou. Os norte-americanos desconheciam os brasileiros, mas não houve nenhum atropelo. No começo, naturalmente, estranharam, mas, quando perceberam que os brasileiros eram eficazes, empurraram para eles o que puderam. Uma vez, o grupo de caça brasileiro descobriu que uma tropa norte-americana já havia rompido as linhas do domínio alemão e estava a mais de 60 milhas dali. Os norte-americanos do exército não sabiam e estavam lá com os tanques atacando os próprios companheiros porque, por uma questão de posição, as montanhas interferiram nas comunicações de rádio e não foi possível avisar. O quartel general norte-americano não sabia que eles já tinham avançado e estavam mandando fogo. Foram os brasileiros que descobriram e avisaram.

CF: Os brasileiros salvaram os norte-americanos de um erro crasso, então?

JB: Foi um acontecimento fantástico. O coronel norte-americano que, logo de início, disse que não queria ter problemas com os brasileiros, me telefonou pedindo pra ir falar com ele e me disse: "Olha, jovem, estou satisfeitíssimo com os pilotos de caça brasileiros. É o melhor grupo que eu tenho, tanto que recomendei a Presidential Unit Citation para eles". Eu caí pra trás, não tem condecoração na força aérea norte-americana mais elevada do que essa, pois representa o presidente da república falando. Na época, foi negado porque era somente para a tropa americana, mas, 40 anos depois, em 1986, um comandante em Cabo Canaveral, amigo de meu irmão, a pedido meu, voltou a fazer a recomendação. O ex-presidente Ronald Regan assinou e o Brasil recebeu. Só duas unidades estrangeiras ganharam: uma inglesa* e a brasileira.

A PUC é representada simplesmente por uma barreta, sem medalha.

*Nota do Warfare: Os Esquadrões Nº 2 e 13, da Força Aérea Real Australiana foram condecorados com a Distinguished Unit Citation pelo seu serviço na área do Timor, de maio a outubro e de agosto a setembro de 1942, respectivamente. Apesar de ter sido concedida em outubro de 1942, a citação não foi oficialmente apresentada aos Esquadrões até maio de 1990. A Menção de Unidade Distinta (Distinguished Unit Citation) foi redesignada após a Segunda Guerra Mundial como Menção de Unidade Presidencial (United States Presidential Unit Citation, PUC).

CF: E como eram as missões realizadas pelos pilotos? E os alvos?

JB: Os norte-americanos decidiam e comandavam as missões, que eram distribuídas para o comandante do nosso regimento, o 350, que redistribuía entre os quatro grupos de caça que comandava - três norte-americanos e um brasileiro. Eram alvos estratégicos. Atuávamos para estrangular, mas não tínhamos nenhuma noção naquele tempo. Os inimigos só tinham um meio de trazer munição e suprimentos: por comboios. Então, íamos todos os dias atacar para impedir a chegada deles. Em determinado ponto, os alemães, em de vez de terem 200 ou 300 comboios chegando com munição, só tinham sete ou oito. Acabaram se rendendo.

CF: E combate aéreo, chegou a acontecer?

JB: Nós não tivemos, mas estou descobrindo agora com a história do 350 que o comandante norte-americano sabia que os alemães estavam atacando somente os aviões P-25, que bombardeavam as fábricas. Os P-25 eram muito mais perigosos para os alemães do que os caças. Então, eles estavam concentrando a defesa a esse tipo de ataque. Deram a nós a oportunidade de entrar em combate aéreo dando escoltas, mas os alemães nunca atacaram os brasileiros.

CF: Os brasileiros tinham algum jeito de lidar com a guerra, eram mais bem-humorados, tinham mais medo?

JB: Eles eram realmente bons. Jogavam bomba como todo mundo, mas usavam táticas diferentes às vezes. Em alvos de oportunidade, por exemplo, voavam um pouco mais baixo, a 100 pés. Quando se está mais baixo, é possível ver coisas camufladas que, de cima, não se enxerga. Esse era um dos nossos segredos.

CF: Depois da guerra, o senhor voltou ao Brasil?

JB: O comando norte-americano me ofereceu um grupo de caça no Pacífico, mas eu não quis. Já tinha tido minha experiência e queria vir para o Brasil. Pedi, então, pra ver se conseguia vir para o comando do Rio de Janeiro e voltei com os brasileiros de navio.

- Revista Conhecer Fantástico, pg. 42-43, 2004.

O emblema "Senta a púa!" exposto no National Museum of the U.S. Air Force (Museu Nacional da Força Aérea dos EUA) localizado na Base da Força Aérea de Wright-Patterson, em Dayton, Ohio.

Post-Script: Recomendação da Presidential Unit Citation (PUC) brasileira

A recomendação do Coronel Ariel Nielsen, comandante do 350th Fighter Group (350º Grupo de Caça), unidade a qual os brasileiros estavam subordinados durante a campanha na Itália. Ele escreveu em sua recomendação:

“Nas perdas que sofreram nessa ocasião, como também em muitos ataques anteriores, tiveram seu número de pilotos reduzidos à metade em relação às unidades da Força Aérea dos Estados Unidos. Porém, um número igual de surtidas, operando incansavelmente e além do normal no cumprimento do dever. A manutenção dos seus aviões foi altamente eficiente, a despeito das avarias sofridas pela antiaérea e o desgaste despendido na recuperação dos aviões. Este grupo entrou em combate na época em que a oposição antiaérea aos caças-bombardeiros estava em seu auge. Suas perdas têm sido constantes e pesadas e não têm recebido o mínimo de pilotos de recompletamento estabelecido. Como o número de pilotos cada vez diminuía mais, cada um deles teve que voar mais de uma missão diária, expondo-se com maior frequência. Em muitas ocasiões, como Comandante do 350th Fighter Group, eu fui obrigado a mantê-los no chão quando insistiam em continuar voando, porque eu acreditava que eles já haviam ultrapassado os limites de sua resistência física.”

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