Jipe com metralhadora do batalhão belga-luxemburguês na Coréia. (Coleção do padre Vander Goten) |
quinta-feira, 22 de abril de 2021
70 anos atrás, o batismo de fogo na Coréia para o Corpo de Voluntários Belga-Luxemburguês
sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
FOTO: Soldado francês em Scapoli
Em vila na linha de frente, um soldado francês guarda uma via de transporte em Scapoli, na Itália, em 14 de dezembro de 1943. |
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 1º de janeiro de 2021.
Ao lado do soldado há uma placa com a inscrição "Attention - Observatoires Boches" (Atenção - Observatórios Chucrutes) com uma caveira com ossos cruzados. Boche era o apelido pejorativo francês para os alemães, de alboche, uma contração de allemand (alemão) e caboche (cabeça de repolho), em alusão à comida chucrute e para "cabeça dura", teimoso como um alemão. Popularizou-se na Primeira Guerra Mundial e continuou na Segunda.
O soldado tem um misto de equipamentos franceses e americanos. O capacete M26 Adrian francês foi camuflado com tinta, e ele porta o fuzil Springfield M1903, o mesmo usado pela Força Expedicionária Brasileira. O outro fuzil comumente usado pelos franceses nessa época era o Enfield M1917, uma versão americana do fuzil britânico P14 (Pattern 1914 Enfield). Esse fuzil era designado no serviço francês como "Fusil à répétition 7 mm 62 (C. 30) M. 17".
Bibliografia recomendada:
The French Army 1939-45 (1). Ian Sumner e François Vauvillier. |
The French Army 1939-45 (2). Ian Sumner e François Vauvillier. |
FOTO: Prisioneiros alemães na Itália, 26 de março de 2020.
FOTO: Partisans italianas em Castelluccio, 31 de março de 2020.
FOTO: Partisans italianos na Emilia-Romanha, 16 de dezembro de 2020.
FOTO: Cemitério alemão na Itália, 8 de abril de 2020.
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
GALERIA: Uma missão da Marinha Francesa na Indochina
No setor de Can Tho, as vedetes (ou Cutter) da Dinassaut 8 durante uma patrulha no rio Bassac. Cada barco está armado com um canhão Oerlikon de 20mm. |
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 9 de outubro de 2020.
Missão de controle fluvial no setor de Can Tho, Cochinchina, em agosto de 1952. Fotos de Defives Guy para o ECPAD.
O Dinassau 8 (Division Navale d’Assaut/ Divisão Naval de Assalto) patrulha o rio Bassac com embarcações pesadas LCMs (Landing-Craft-Material) e embarcações de assalto armadas com canhões de tiro rápido Oerlikon de 20mm. Esses navios fortemente armados realizam missões de escolta a comboios de juncos trazendo suprimentos, contato com postos de ligação e vigilância costeira, interceptando embarcações de contrabando inimigas.
Distintivo do Dinassaut 2. |
Os Dinassaut (às vezes grafados Dinassau) foram criados pelo General Leclerc em 1947 para substituir as flottilles fluviales criados por Jaubert em 1945-1946. Dez grupos foram criados, com os Dinassaut 2, 4, 6, 8 e 10 na Cochinchina (sul), e os Dinassaut 1, 3, 5, 12 e Haiphong no Tonquim (norte).
Cada Dinassaut consistia em aproximadamente 12 embarcações, frequentemente embarcações de desembarque americanas modificadas com blindagem e usando torres de tanque como armas. Outras embarcações carregavam morteiros de 81mm para serem usadas como artilharia fluvial (ribeirinha). Cada um tinha uma companhia de Commandos Marine, dos Fusiliers-Marins.
Distintivo do Dinassaut 4. |
Segundo Bernard Fall:
"[O Dinassaut] pode muito bem ter sido uma das poucas contribuições valiosas da Guerra da Indochina para o conhecimento militar".
Esse tipo de interdição, em uma país coberto por selvas quase intransponíveis e altamente dependente dos rios e áreas costeiras mostrou-se essencial para o esforço de guerra da União Francesa; mesmo que o comando naval em Paris ainda insistisse em uma marinha de água azul, os esforços de água marrom permaneceram os mais eficazes.
Os Dinassaut 6 e 8 foram transferidos para a Marinha da República do Vietnã (VNN) em 1953. Os conselheiros americanos dissolveram os dois quando os franceses deixaram a região, mas a força da necessidade levou-os a recriarem unidades fluviais. Isso levou à criação da Força Móvel Flutuante do Delta do Mekong (Mekong Delta Mobile Afloat Force), mais tarde denominada Força Móvel (Riverine Mobile Riverine Force, MRF), após maio de 1967.
Um LCM (Landing Craft Material/ Embarcação de Desembarque de Material) do Dinassaut 8 durante a operação. |
O mesmo LCM durante a missão de escolta e patrulha. |
Um marinheiro do Dinassaut 8 está postado no telhado de um LCM enquanto acompanha um comboio de juncos no rio Bassac. O marinheiro está equipado com um fuzil-metralhador Bren de origem britânica. |
A bordo de um LCM do Dinassaut 8, um marinheiro está postado atrás de uma metralhadora pesada de 12,7mm (.50) durante a escolta de juncos no rio Bassac, no setor de Can Tho. |
Bibliografia recomendada:
Dinassaut. Comandante de Brossard. |
GALERIA: Comandos Navais na Baía de Ha Long, 8 de outubro de 2020.
GALERIA: Operação Mercure na Indochina, 7 de outubro de 2020.
GALERIA: Operação Brochet no Tonquim, 3 de outubro de 2020.
GALERIA: Blindados Anfíbios do 1er REC na Indochina, 2 de outubro de 2020.
GALERIA: Largagem paraquedista em Quang-Tri durante a Operação Camargue, 2 de outubro de 2020.
GALERIA: Bawouans em combate no Laos, 28 de março de 2020.
GALERIA: Operação Chaumière em Tay Ninh com o 1er BPVN, 16 de junho de 2020.
GALERIA: Operação de limpeza com blindados em Tu Vu, 25 de abril de 2020.
O que um romance de 1963 nos diz sobre o Exército Francês, Comando da Missão, e o romance da Guerra da Indochina, 12 de janeiro de 2020.
sábado, 26 de setembro de 2020
GALERIA: O Corpo Expedicionário Britânico na França
Um oficial britânico da 51st Highland Infantry Division (Escocesa), no setor do 3º Exército Francês no Moselle. (Arquivo do 3e Armée) |
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de setembro de 2020.
Em 3 de setembro de 1939, a Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha nazista, que acabava de atacar a Polônia. Desde os primeiros dias de setembro, uma força expedicionária britânica desembarcou na França e se posicionou a leste de Lille. Então começaram para esses homens os longos meses de espera da Drôle de Guerre (Guerra Estranha, em francês), ou Phoney War (Guerra de Mentira, para os ingleses).
A Força Expedicionária Britânica (British Expeditionary Force, BEF) era o nome do Exército Britânico na Europa Ocidental durante a Segunda Guerra Mundial de 2 de setembro de 1939, quando o Quartel-General Geral (General Headquarters, GHQ) do BEF foi formado, até 31 de maio de 1940, quando o GHQ foi encerrado. A BEF era comandanda pelo General Lord Gort.
Retrato de grupo de soldados britânicos da BEF em Villers-Outréaux, na região Norte. |
Reunião de homens e cavalos da Força Expedicionária Britânica no cais de um porto francês. (Arquivo do 6e Armée) |
Da esquerda para a direita: General Ironside, Winston Churchill, General Gamelin, General Gort, General Georges. |
Soldados da BEF na França marchando em coluna durante a manobra Dyle, 1940. (Arquivo do 1er Armée) |
Um motociclista da BEF pede instruções a um suboficial francês. (Arquivo do 2e Armée) |
Soldado britânico da 51st Highland Infantry Division, no setor do 3º Exército Francês em Mosela. (Arquivo do 3e Armée) |
Soldado dos Royal Welsh Fusiliers com um fuzil-metralhador Bren em um reparo anti-aéreo, Nord-Pas-de-Calais. (ECPAD) |
Soldados britânicos da BEF durante uma pausa para refeição no Moselle. (Arquivo do 3e Armée) |
Capitães de times de futebol antes de uma partida entre soldados franceses e britânicos na França. (Arquivo do 2e Armée) |
Dois soldados da Força Expedicionária Britânica na França posam juntos. (Arquivo do 7e Armée) |
Soldados escoceses do regimento Seaforth Highlanders da BEF e um soldado francês do 1º Exército. (Arquivo do 1er Armée) |
Dois músicos britânicos da BEF posam ao lado dos seus instrumentos. (Arquivo do 7e Armée) |
Soldados franceses e repórteres britânicos da Unidade de Cinema e Fotográfica do Exército (Army Film and Photographic Unit, AFPU) no Norte. |
Partida do Rei George VI da Inglaterra, após visita à França, na presença do General Giraud em Boulogne-sur-Mer, 1939. (Arquivo da Marinha Francesa) |
O duque de Windsor, irmão do rei da Inglaterra George VI, visitando o setor do 4º Exército Francês. (Arquivo do 4e Armée) |
Na estrada para Winnezeele, um veículo blindado Panzer II da 6ª Divisão Blindada Alemã (6. Panzer-Division) entre as carcaças de veículos britânicos. (Arquivo alemão) |
Em La Bassée (Norte), os prisioneiros dos Queen's Own Cameron Highlanders da BEF, limpam os escombros. (Arquivo alemão) |
Carros de combate britânicos Matilda do 7º Regimento de Tanques Real (7th Royal Tank Regiment, 7th RTT) destruídos durante a contra-ofensiva em Arras, no Pas-de-Calais. |
Tanquista britânico do 7th RTT sendo interrogado por um oficial alemão após a contra-ofensiva fracassada em Arras, no Pas-de-Calais. (Arquivo alemão) |
Comboios da BEF destruídos na estrada que leva ao porto de Dunquerque, no Norte. (Arquivo alemão) |
Em uma estrada ao norte, entre Hondschoote e Ghyvelde, um tanque britânico Mark VI B destruído. (Arquivo alemão) |
Prisioneiros britânicos da Força Expedicionária Britânica no setor de Arras, no Pas-de-Calais. (Arquivo alemão) |
"Os remanescentes do outrora formidável Primeiro Exército, ... agora sob o comando do General Molinié, resistiram ao redor de Lille até o final de 31 de maio, enfrentando sete divisões alemãs, três delas panzer, evitando assim que se juntassem ao ataque inimigo em Dunquerque. Esta valente resistência ajudou as forças anglo-francesas sitiadas em torno do porto a resistirem por mais dois a três dias e, assim, salvar pelo menos mais 100.000 soldados."
"O soldado inglês estava em excelentes condições físicas. Ele suportou suas próprias feridas com calma estóica. As perdas de suas próprias tropas, ele discutiu com total equanimidade. Ele não reclamava de sofrimentos. Na batalha ele era duro e obstinado. Sua convicção de que a Inglaterra venceria no final era inabalável... O soldado inglês sempre se mostrou um combatente de alto valor. Certamente as divisões territoriais são inferiores às tropas regulares em treinamento, mas no que diz respeito ao moral, elas são iguais... Na defesa, o inglês aguentava qualquer punição que surgisse em seu caminho."
domingo, 13 de setembro de 2020
ENTREVISTA: O 1° Grupo de Aviação de Caça nos céus da Itália
"O Brasil Brilhou!"
Eis o que afirma o major John W. Buyers, piloto que esteve com o primeiro grupo de caças brasileiros na Itália em 1944-45.
Major John William Buyers, 08 de janeiro de 1920 – 23 de abril de 2016. (Foto de Lucas Pires) |
John Buyers tem nome de norte-americano, mas nasceu em Juiz de Fora (MG) e morou até os 19 anos no Brasil. No entanto, teve formação militar nos EUA. Nacionalidade? Dupla: brasileira e americana. O Major Buyers, como é chamado hoje, foi um dos muitos pilotos de caça que estiveram na Segunda Guerra Mundial. Foi enviado para a Itália com os pilotos brasileiros. Na verdade, quando na Aeronáutica americana, em 1942, veio ao Brasil trazer aviões e acabou incorporado às forças armadas nacionais. Em contato com o pessoal brasileiro, fez amizades e, por falar português, seguiu junto para Aguadulce, Panamá, onde os pilotos tupiniquins foram treinados e, posteriormente, enviados à Itália. Como ele mesmo se definiu, era um "quebra-galho", mas, mesmo assim, fez missões aéreas e ajudou nas operações do esquadrão "Senta a Púa!", sobre o qual escreveu o livro "A História do 1º Grupo de Caça 1943/1945", lançado [em 2004]. Na entrevista [à revista] Conhecer Fantástico, o major fala sobre a experiência junto aos brasileiros e conta histórias vividas na Itália pelos pilotos da FAB.
Conhecer Fantástico: Como começou sua atuação junto ao Brasil na guerra?
John Buyers: Quando terminei o treinamento em aviação nos EUA, pediram sete voluntários que falassem espanhol. Meu nome já estava na lista, pois eles não sabiam a diferença do português para o espanhol. Pensávamos que iríamos para as Filipinas, mas acabamos no Rio de Janeiro.
O Senta Púa na Itália. |
CF: Com qual intuito?
JB: A missão era transportar aviões para o Brasil A FAB tinha pouco mais de um ano, uns 200 pilotos e 200 oficiais administrativos e o país não tinha dinheiro para comprá-los. Mas os EUA precisavam enviar aeronaves para a Europa e a África e o caminho era pelo Nordeste brasileiro. Pelo Norte, não dava: com seis a sete meses por ano de mau tempo, perdiam-se muitos aviões. Então, fizeram um acordo com o Brasil, que permitiu que fossem construídas bases na região para os norte-americanos poderem operar. Essas bases foram estabelecidas no Amapá, em Belém, São Paulo Luiz, Fortaleza, Natal, no Recife, em Maceió e na Bahia, 25 no total. Era um movimento colossal nas bases. Em Natal, por exemplo, passavam até 300 aviões por dia indo para a África.
CF: Vieram e ficaram?
JB: Viemos num total de 10 aviões, com um piloto e um mecânico ou especialista em rádio. Ficamos no Recife, eu e mais dois pilotos, além dos mecânicos, porque os aviões mais avançados estavam todos lá. Foi quando resolveram organizar o primeiro grupo de caça, sob orientação dos norte-americanos, que substituíram os franceses quando estes voltaram para a Europa com o início da guerra.
CF: Como surgiu a idéia ou a necessidade de pilotos brasileiros irem à guerra?
JB: Os EUA queriam, naturalmente, que o Brasil se envolvesse na guerra porque buscavam implantar o sistema militar que lhes correspondesse, o que facilitaria numa futura guerra. Era essa a atitude norte-americana, mas Vargas não queria entrar no conflito. Foi forçado porque os alemães e italianos começaram a afundar navios brasileiros. O alemão considerou uma afronta o fato de o Brasil ter feito um contrato com o norte-americano de deixar os aviões passarem pelo país.
Militar brasileiro posando ao lado do famoso emblema "Senta a púa!". |
CF: E dentro da sua convivência ali no Nordeste, o que o senhor via se a população brasileira estava esperando pela guerra?
JB: O Brasil não queria entrar na guerra. O Getúlio tinha uma opinião, ele dizia assim: "Em briga de cachorro grande, cachorro pequeno não entra". E considerava o país não-apto a entrar numa guerra. O que queria era tirar vantagem, ou seja, vender o que os países em conflito precisavam, como cristal de rocha que o Brasil exportou, e era muito necessário para a fabricação dos rádios.
CF: Qual foi o caminho dos pilotos brasileiros até a Europa em condições de combate? O senhor esteve com eles?
JB: Em primeiro lugar, fomos para o Panamá, para a base aérea de Aguadulce, onde havia uma escola de treinamento de pilotos de caça, que formava de 40 a 50 pilotos por mês. Lá, fizemos m treinamento em conjunto e foi aí que os pilotos brasileiros aprenderam o sistema norte-americano de vôo, treinamento intensivo de vôo rasante, bombardeio, carga, tiro ao alvo etc. O grupo avançado, composto por 10 ou 15 pessoas, acabou indo para Orlando fazer um treinamento para pilotos de caça, aprendendo as táticas utilizadas na Europa, na África e na Ásia.
O então Capitão John W. Buyers, da USAAF, era o oficial de ligação entre o 1° Grupo de Caça da FAB e os americanos. |
CF: Chegando à Itália, os brasileiros estavam de fato preparados para a guerra?
JB: Foi uma surpresa para os norte-americanos que os pilotos brasileiros estavam não somente muito bem treinados, como também tinham tido treinamento e experiência aqui no Brasil sem a estrutura de aviação com que o norte-americano contava. Não se tinha mapas, rádios, nada. Costumo dizer que aprendi a pilotar na América do Norte, mas aprendi a voar no Brasil. O norte-americano que estava em combate pilotava, mas não sabia voar, e o brasileiro chegou sabendo pilotar e voar.
CF: Então, é verdade que os pilotos brasileiros eram muito bons tecnicamente?
JB: Vou dar um bom exemplo. Os brasileiros tiveram de se virar sozinhos, mas, como estavam bem-treinados e eram bons mesmo, organizaram-se e começaram a fazer missões, e os norte-americanos: "pô, chegaram aqui hoje e já estão fazendo isso, destruindo aquilo, atirando naquilo...". Eles achavam que estávamos mentindo e, então, mandaram instalar uma máquina fotográfica especial nos nossos aviões. Quando o piloto brasileiro jogasse as bombas, ele tinha de passar por cima e fotografar o alvo para comprovar o que estava dizendo. Depois de uma semana, mandaram retirar as máquinas. Eles viram que era verdade.
CF: O senhor foi para a Europa basicamente, digamos, liderando o esquadrão brasileiro nessa ligação com as demais tropas aliadas?
JB: Minha função era quebrar galho. Se houvesse algo que estava atrapalhando, eu tinha que providenciar que aquilo fosse eliminado. Minha instrução era intermediar, pois ninguém queria norte-americano se metendo e criando caso com brasileiro. Quando chegamos, fui me apresentar ao comandante para informá-lo de que eu também era um oficial. Ele me olhou e disse: "Olha, eu só tenho tido problemas aqui e não pedi esse pessoal. Não quero mais problema por aqui". Level um choque e respondi: "O senhor não conhece os brasileiros, mas vou dizer uma coisa: um dia o senhor vai ter orgulho de os ter tido sob seu comando". Ele disse apenas "I hope so" (Espero que sim).
CF: Quando chegaram à Itália? Como foi o contato com o terreno de guerra?
JB: Chegamos em outubro de 1944 e o exército brasileiro já estava lá. Foi um choque para nós. Éramos jovens, cheios de idéias e não tínhamos a mínima noção do que era uma guerra. Quando chegamos num porto todo arrebentado, o navio não podia passar porque os alemães tinham afundado outras embarcações na passagem e colocado minas dentro. Tiveram de explodir as bombas para o navio passar, com apenas um metro de cada lado livre.
Limpeza de armamento em um P-47 Thunderbolt na Itália. |
CF: E a guerra em si, o que se pode fizer da atuação dos pilotos brasileiros?
JB: Não há dúvidas de que o Brasil brilhou. Os norte-americanos desconheciam os brasileiros, mas não houve nenhum atropelo. No começo, naturalmente, estranharam, mas, quando perceberam que os brasileiros eram eficazes, empurraram para eles o que puderam. Uma vez, o grupo de caça brasileiro descobriu que uma tropa norte-americana já havia rompido as linhas do domínio alemão e estava a mais de 60 milhas dali. Os norte-americanos do exército não sabiam e estavam lá com os tanques atacando os próprios companheiros porque, por uma questão de posição, as montanhas interferiram nas comunicações de rádio e não foi possível avisar. O quartel general norte-americano não sabia que eles já tinham avançado e estavam mandando fogo. Foram os brasileiros que descobriram e avisaram.
CF: Os brasileiros salvaram os norte-americanos de um erro crasso, então?
JB: Foi um acontecimento fantástico. O coronel norte-americano que, logo de início, disse que não queria ter problemas com os brasileiros, me telefonou pedindo pra ir falar com ele e me disse: "Olha, jovem, estou satisfeitíssimo com os pilotos de caça brasileiros. É o melhor grupo que eu tenho, tanto que recomendei a Presidential Unit Citation para eles". Eu caí pra trás, não tem condecoração na força aérea norte-americana mais elevada do que essa, pois representa o presidente da república falando. Na época, foi negado porque era somente para a tropa americana, mas, 40 anos depois, em 1986, um comandante em Cabo Canaveral, amigo de meu irmão, a pedido meu, voltou a fazer a recomendação. O ex-presidente Ronald Regan assinou e o Brasil recebeu. Só duas unidades estrangeiras ganharam: uma inglesa* e a brasileira.
A PUC é representada simplesmente por uma barreta, sem medalha. |
*Nota do Warfare: Os Esquadrões Nº 2 e 13, da Força Aérea Real Australiana foram condecorados com a Distinguished Unit Citation pelo seu serviço na área do Timor, de maio a outubro e de agosto a setembro de 1942, respectivamente. Apesar de ter sido concedida em outubro de 1942, a citação não foi oficialmente apresentada aos Esquadrões até maio de 1990. A Menção de Unidade Distinta (Distinguished Unit Citation) foi redesignada após a Segunda Guerra Mundial como Menção de Unidade Presidencial (United States Presidential Unit Citation, PUC).
CF: E como eram as missões realizadas pelos pilotos? E os alvos?
JB: Os norte-americanos decidiam e comandavam as missões, que eram distribuídas para o comandante do nosso regimento, o 350, que redistribuía entre os quatro grupos de caça que comandava - três norte-americanos e um brasileiro. Eram alvos estratégicos. Atuávamos para estrangular, mas não tínhamos nenhuma noção naquele tempo. Os inimigos só tinham um meio de trazer munição e suprimentos: por comboios. Então, íamos todos os dias atacar para impedir a chegada deles. Em determinado ponto, os alemães, em de vez de terem 200 ou 300 comboios chegando com munição, só tinham sete ou oito. Acabaram se rendendo.
CF: E combate aéreo, chegou a acontecer?
JB: Nós não tivemos, mas estou descobrindo agora com a história do 350 que o comandante norte-americano sabia que os alemães estavam atacando somente os aviões P-25, que bombardeavam as fábricas. Os P-25 eram muito mais perigosos para os alemães do que os caças. Então, eles estavam concentrando a defesa a esse tipo de ataque. Deram a nós a oportunidade de entrar em combate aéreo dando escoltas, mas os alemães nunca atacaram os brasileiros.
CF: Os brasileiros tinham algum jeito de lidar com a guerra, eram mais bem-humorados, tinham mais medo?
JB: Eles eram realmente bons. Jogavam bomba como todo mundo, mas usavam táticas diferentes às vezes. Em alvos de oportunidade, por exemplo, voavam um pouco mais baixo, a 100 pés. Quando se está mais baixo, é possível ver coisas camufladas que, de cima, não se enxerga. Esse era um dos nossos segredos.
CF: Depois da guerra, o senhor voltou ao Brasil?
JB: O comando norte-americano me ofereceu um grupo de caça no Pacífico, mas eu não quis. Já tinha tido minha experiência e queria vir para o Brasil. Pedi, então, pra ver se conseguia vir para o comando do Rio de Janeiro e voltei com os brasileiros de navio.
- Revista Conhecer Fantástico, pg. 42-43, 2004.
O emblema "Senta a púa!" exposto no National Museum of the U.S. Air Force (Museu Nacional da Força Aérea dos EUA) localizado na Base da Força Aérea de Wright-Patterson, em Dayton, Ohio. |
Post-Script: Recomendação da Presidential Unit Citation (PUC) brasileira
A recomendação do Coronel Ariel Nielsen, comandante do 350th Fighter Group (350º Grupo de Caça), unidade a qual os brasileiros estavam subordinados durante a campanha na Itália. Ele escreveu em sua recomendação:
“Nas perdas que sofreram nessa ocasião, como também em muitos ataques anteriores, tiveram seu número de pilotos reduzidos à metade em relação às unidades da Força Aérea dos Estados Unidos. Porém, um número igual de surtidas, operando incansavelmente e além do normal no cumprimento do dever. A manutenção dos seus aviões foi altamente eficiente, a despeito das avarias sofridas pela antiaérea e o desgaste despendido na recuperação dos aviões. Este grupo entrou em combate na época em que a oposição antiaérea aos caças-bombardeiros estava em seu auge. Suas perdas têm sido constantes e pesadas e não têm recebido o mínimo de pilotos de recompletamento estabelecido. Como o número de pilotos cada vez diminuía mais, cada um deles teve que voar mais de uma missão diária, expondo-se com maior frequência. Em muitas ocasiões, como Comandante do 350th Fighter Group, eu fui obrigado a mantê-los no chão quando insistiam em continuar voando, porque eu acreditava que eles já haviam ultrapassado os limites de sua resistência física.”
Vídeos recomendados:
Bibliografia recomendada:
Leitura recomendada:
Experiências de Combate da Infantaria Brasileira na Itália, 24 de abril de 2020.
A Companhia de Fuzileiros na campanha da Itália, 27 de março de 2020.
VÍDEO: Batalha de Fornovo: a Rendição 148ª Divisão Alemã para a Força Expedicionária Brasileira, 12 de maio de 2020.
A FEB e os jipes, 12 de março de 2020.
O primeiro salto da América do Sul, 13 de janeiro de 2020.
Os Processos Políticos nos Partidos Militares do Brasil, 21 de janeiro de 2020.
Os Fuzileiros Navais na Revolução de 1924, 31 de janeiro de 2020.
O jovem Góes Monteiro em Catanduvas, 31 de janeiro de 2020.
GALERIA: Manobras com o Sherman no Brasil, 1957, 30 de janeiro de 2020.
GALERIA: Paraquedistas brasileiros em 1957, 29 de janeiro de 2020.
GALERIA: O legado militar do Rio de Janeiro - O Forte de Copacabana, 3 de maio de 2020.