segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Por que Cingapura está armada até os dentes?

Do blog 21st Century Asian Arms Race, 17 de abril de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 12 de outubro de 2020.

Ao alcançar a independência em 1965, a cidade-estado de Cingapura ficou presa. Ao norte, assomava uma Federação da Malásia nada agradável. Ao sul, a Indonésia de Sukarno estava travando sua Konfrontasi.

Cingapura precisava deter essas ameaças existenciais.

A proteção garantida pelos britânicos, a qual falhou espetacularmente na Segunda Guerra Mundial, não podia mais ser invocada desde que as forças de Sua Majestade se retiravam em 1971. A narrativa convencional que se segue é que o Partido de Ação do Povo sob o teimoso primeiro-ministro Lee Kwan Yew lançou as bases para as forças armadas nacionais.

Com a ajuda de conselheiros de Israel, as Forças Armadas de Cingapura (Singapore Armed ForcesSAF) usaram o recrutamento obrigatório chamado Serviço Nacional para manter um exército permanente de tamanho considerável com o melhor equipamento que o dinheiro pudesse comprar. Essa mentalidade ainda é aparente hoje e, como resultado, a República de Cingapura possui o exército mais avançado da região.

A cada ano, mais de 3% do PIB vai para um robusto orçamento de defesa. Em 2013, atingiu US$ 9,9 bilhões, passando para mais de US$ 10 bilhões no ano seguinte. Em 2020, Cingapura poderá gastar até US$ 15 bilhões com suas forças armadas, colocando-se entre os 20 maiores gastos globais com defesa.

No estilo típico de Cingapura, previsão, eficiência e uma ampla consciência dos riscos potenciais tornaram as SAF uma instituição de classe mundial. Vale a pena imitar o modelo de Cingapura para o desenvolvimento de forças armadas nacionais e uma indústria doméstica de armas.

Veja como.

A Força Aérea de Cingapura mantém 20 aeronaves AH-64D Apache Longbow. Cingapura foi o terceiro cliente internacional do Longbow durante o final da década de 1990 e o primeiro no sudeste da Ásia. Encomendou 12 Longbows em 1999 e deu seguimento a outro lote de oito em 2001. As entregas começaram em 2002.

Poder de fogo

Considerando seu tamanho geográfico, as forças terrestres de Cingapura são enormes. Dependendo de qual fonte é consultada, a mão-de-obra total das SAF está entre 60.000 e 72.000, com uma força de reservistas de 500.000. Esses números garantem que a cidade-estado jamais será conquistada por uma invasão terrestre.

A SAF também acredita na paz por meio de um poder de fogo superior.

Infantaria blindada cingaporeana em treinamento com o MAX-13, 18 de agosto de 1989.

Uma das primeiras compras de armas de Cingapura foram 72 tanques leves AMX-13. Os tanques leves de fabricação francesa foram uma escolha popular para os países em desenvolvimento na década de 1960 e Cingapura comprou seus primeiros tanques do excedente de Israel. Em seguida, reforçou seus recursos de blindagem com centenas de carros blindados Cadillac Gage V-200. Obuses rebocados e transportes blindados M113 os seguiram.

Entre 2006 e 2009, Cingapura adquiriu 94 tanques de batalha principais Leopard 2A4 da Alemanha. Os Leopards, desde então, foram atualizados com extensa blindagem adicional em suas torres e chassis. Os MBTs foram redesignados como Leopard 2SG e são operados pelo 48º Batalhão, Regimento Blindado de Cingapura.

Em 2013, a Indonésia recebeu seus próprios Leopard 2.

Há um foco intenso dentro das SAF para socar acima do seu peso. Isso explica por que o lançador múltiplo de foguetes HIMARS, os lançadores de mísseis anti-carro Milan e Spike e centenas de obuseiros de 155mm são todos partes essenciais do seu estoque atual.

Buscando no mercado local

Começando na década de 1980, a empreiteira estatal de defesa ST Engineering, anteriormente Chartered Industries Singapore (CIS), liderou o processo de indigenização. Esta é uma etapa crucial para qualquer país, com a produção local tornando as cadeias de suprimentos e logística imunes às restrições do tempo de guerra.

O VCBI Bionix.

No intervalo de 30 anos, a ST Engineering desenvolveu o obus auto-propulsado Primus, o VCBI sobre lagartas Bionix e o VBTT 8x8 Terrex. A ST Engineering e suas subsidiárias também se expandiram para produtos eletrônicos, proteção balística e aeroespacial.

Com 23.000 funcionários em todo o mundo e um enorme catálogo de produtos, a ST Engineering é um exemplo notável de integração vertical de sucesso.

O papel da ST Engineering na promoção de uma indústria local de armas começa com fuzis de assalto. As SAF foram originalmente equipados com o Colt M16A1. Em 1980, foi lançado o primeiro fuzil de assalto fabricado localmente, uma cópia licenciada do AR-18, chamada SAR 80.

O fuzil bullpup SAR 21, de produção indígena.

Vários anos depois, o SAR 88 entrou em produção e em 2005 o bullpup SAR 21 de 5,56 mm substituiu o M16A1 como o fuzil de batalha padrão do exército.

A chegada da metralhadora leve Ultimax 100 cingaporeana em meados da década de 1980 foi o primeiro pequeno avanço de Cingapura como fabricante de armas. Com uma indústria de defesa madura, Cingapura deve deixar de ser um importador de armas e se tornar um exportador completo nos próximos anos.

Camuflagem digital, pintura facial, capacetes de Kevlar, uma arma leve anti-carro e fuzis bullpup. O equipamento moderno das SAF é impressionante.

A prateleira de cima

As SAF na década de 1980.

As SAF deram um grande salto na década de 1980, quando a cidade-estado viveu um boom econômico graças ao seu papel de porto marítimo.

Com os fundamentos da defesa territorial estabelecidos, a Marinha de Cingapura e a Força Aérea de Cingapura começaram a assumir suas formas atuais.

Começando com uma pequena frota de navios de contra-medidas de minas em 1983, a Marinha começou a aprimorar seu poder de fogo e, na década de 1990, corvetas de mísseis da classe Victory e navios de patrulha rápidos deram a ela uma capacidade real de combate.

Na década de 2000, a Marinha de Cingapura mirou em seis fragatas da classe Formidable do estaleiro francês DCNS. Ter esses navios de guerra armados com mísseis permite que as SAF enfrentem estados inimigos além das fronteiras marítimas de Cingapura.

O mais mortal no Sudeste Asiático? Fragatas de classe formidável da Cingapura.

A Marinha de Cingapura está em processo de aumentar sua força de dois submarinos suecos da classe Archer com modelos de longo alcance da Alemanha, embora o tipo exato não tenha sido especificado.

A construção naval local também está avançada. A introdução da plataforma de desembarque doca da classe Endurance (landing platform dockLPD) permite que as SAF conduzam operações anfíbias e de ajuda humanitária. Em 2012, a Tailândia recebeu seu próprio navio LPD da classe Endurance de $ 135 milhões, que comissionou como HTMS Ang Thong.

A vanguarda de Cingapura são seus esquadrões F-15SG. De 2005 a 2012, a Força Aérea recebeu 32 caças F-15SG da Boeing. Estimativas alternativas aumentam o número para 40. Junto com os 60 Lockheed Martin F-16 que a força aérea começou a voar em 1990 e os antigos F-5 Tigers, Cingapura tem mais de 100 aeronaves de combate.

Até hoje os laços bilaterais entre Israel e Cingapura permanecem fortes e Cingapura foi um dos primeiros clientes do VANT Hermes 450. Para as SAF, a mudança é constante. Sua próxima referência é a introdução generalizada de sistemas não-tripulados e guerra de informação em seus diferentes serviços.

Leitura recomendada:


Os tanques Leopard 2 de Cingapura são equipados para a guerra urbana, 12 de outubro de 2020.


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