Cadetes com o FAMAS F1. |
domingo, 20 de fevereiro de 2022
GALERIA: Cadetes da Academia Militar de Saint-Çyr em Coëtquidan
França: Mulas estão de volta ao serviço com caçadores alpinos
Essas bestas robustas podem carregar até 120 quilos de carga útil, sejam suprimentos, munição, artilharia ou feridos. (LP/Thomas Pueyo) |
terça-feira, 8 de fevereiro de 2022
“A França assume a sua vocação de potência de equilíbrio”
Pelo General Thierry Burkhard, Areion 24, 6 de outubro de 2021.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de fevereiro de 2022.
Nos últimos anos, assistimos a uma deterioração do contexto internacional: acirramento da concorrência entre grandes potências e, de fato, questionamento do multilateralismo e da lei, encorajamento e desinibição de certas potências regionais, multiplicação de centros de crise e o seu corolário de aumento dos fluxos migratórios, expansão da ameaça terrorista. Para evitar sofrê-la, devemos considerar essa tendência fundamental em termos das oportunidades que ela nos oferece para defender os interesses estratégicos da França e da Europa.
Neste contexto, a França assume a sua vocação de potência de equilíbrio. Presente em todos os continentes, uma potência nuclear, membro permanente do Conselho de Segurança, membro fundador da Aliança Atlântica e da União Europeia, promove uma ordem internacional baseada no direito e no respeito pela dignidade humana. Forjando alianças e parcerias com países que partilham os seus valores, os seus interesses estratégicos ou a sua visão de mundo, apoia a ambição de autonomia estratégica europeia.
Reafirmar a contribuição das forças armadas
As forças armadas estão no centro do sistema nacional de defesa e segurança dos nossos cidadãos, do nosso território e das nossas instituições, articulados em torno das cinco funções estratégicas. Defendem nossos interesses soberanos em todo o mundo, contando com forças ultramarinas e preposicionadas em países parceiros. A força militar é um dos elementos essenciais da política de poder e influência internacional da França. Perante as evoluções da conflitualidade, é imperativo desenvolver uma apreensão mais estratégica. As recentes intervenções militares mostram-nos que é necessário repensar constantemente o seu papel e a sua natureza. Isto é particularmente verdade na gestão de crises, onde devemos estar extremamente atentos à escala, à duração e aos objetivos escolhidos, para manter a nossa liberdade de ação, numa altura em que os nossos concorrentes assumem cada vez mais um papel perturbador.
Concorrência-contestação-confronto: vencer a guerra antes da guerra
Para o continuum paz/crise/guerra que prevaleceu como grade de leitura do mundo desde o fim da Guerra Fria, devemos agora substituir o tríptico competição/contestação/confronto. É à luz dessas três noções intimamente entrelaçadas que devemos considerar e preparar nossa estratégia militar.
A competição é hoje o modo normal de expressão do poder. Corresponde de fato a uma "guerra antes da guerra" e ocorre em todas as áreas: diplomática, informacional, militar, econômica, jurídica, tecnológica, industrial e cultural. Nos espaços comuns, por natureza pouco regulados e controlados, e de fato propícios à tomada de posições agressivas, esta competição tende a ocorrer de forma exacerbada.
Num contexto de competição, os forças armadas permitem à França mostrar a sua determinação, no quadro de uma estratégia global coerente. O desafio central é vencer a "guerra antes da guerra", agindo conforme necessário em todos os campos e ambientes. Para as forças armadas, assumir este papel implica sobretudo contribuir para o conhecimento das capacidades e intenções dos vários concorrentes e propor constantemente ao decisor político opções militares relevantes. Todas as nossas ações fazem parte do significado de nossa determinação: interações com alguns de nossos concorrentes e com nossos adversários (desdobramentos operacionais, polícia do céu, detecção submarina etc.) como atividades de preparação operacional, nacionalmente ou com nossos aliados e parceiros.
Quando um ator decide transgredir regras comumente aceitas, a competição se transforma em contestação. Estamos então na guerra “pouco antes” da guerra. Nesse modo de equilíbrio de poder, os exércitos devem contribuir para eliminar a incerteza caracterizando as intenções de nossos concorrentes. Devem, acima de tudo, impedir a imposição de um fato consumado e, para isso, contar com um nível muito alto de capacidade de resposta.
Quando um ator, decidindo aproveitar sua vantagem e recorrendo à força para atingir seus objetivos, provoca uma reação de pelo menos um nível equivalente, o confronto – a guerra – intervém. Pode ocorrer em todas ou parte das áreas de conflito, dependendo das capacidades dos protagonistas. O objetivo primordial do confronto é submeter o adversário às suas próprias demandas, em particular minando sua vontade. As forças armadas devem ser capazes de detectar sinais fracos que possam antecipar a mudança para o confronto.
Aprender a dominar estratégias híbridas
A extensão e multiplicação de áreas de enfrentamento nos últimos anos têm se mostrado propícias à implementação de estratégias híbridas e de evasão. Essas estratégias combinam modos de ação militares e não-militares, diretos e indiretos, regulares ou irregulares, muitas vezes difíceis de atribuir, mas sempre projetados para permanecer abaixo do limiar estimado de resposta ou conflito aberto. Podem chegar ao ponto de buscar o enfraquecimento interno do país visado, atacando sua coesão nacional. Nossos concorrentes, nossos adversários e nossos inimigos recorrem voluntariamente a estratégias híbridas, por isso devemos ser capazes de combatê-los. Além disso, devemos aprender a dominar essas estratégias, respeitando os princípios em que se baseiam nossas ações.
Impor-se na competição, ser capaz de se envolver em confrontos
Para vencer a guerra antes da guerra, as forças armadas devem estar permanentemente aptos a atuar em todos os ambientes e campos de conflito. Trata-se de ponderar a partir da competição - em que só se é forte se for credível - e, se necessário, na contestação - em que se coloca em jogo diretamente a credibilidade, estando pronto para o confronto. Nosso modelo deve nos garantir essa capacidade. Isso requer, antes de tudo, a disseminação permanente de uma cultura de audácia e de risco. Trata-se de vencer a batalha de ideias, ser reativo e criativo, definir o ritmo enquanto se esforça para evitar surpresas estratégicas. O entusiasmo e a convicção devem permitir-nos conquistar o apoio dos nossos interlocutores (a nível interministerial e internacional). Alimentados por essa cultura de ousadia e de risco, nossos esforços devem girar em torno de três eixos principais.
- Fortalecer e apoiar a comunidade humana das forças armadas. Esta comunidade é composta por militares e civis, da ativa e da reserva, e inclui também suas famílias, que desempenham um papel fundamental. O objetivo é aumentar a resiliência e cultivar as forças morais desta comunidade, bem como reforçar a sua singularidade, garantia de eficiência operacional. Além disso, esta comunidade se nutre do vínculo entre as forças armadas e a nação, que deve ser mantido e fortalecido, em particular por meio de nossa ação junto aos jovens. Em particular, o apoio da nação de origem das forças armadas é vital.
- Adaptar a organização e as capacidades das forças armadas à nossa leitura de conflito, para adquirir superioridade multiambiente e multicampo. A França deve poder contar com um modelo militar credível, equilibrado e coerente, que garanta a nossa capacidade de nos impormos na competição e de nos envolvermos em situações de alta intensidade. A excelência da cadeia de comando e sua organização, plástica e reativa, baseia-se na capacidade de compreender as situações, de propor opções, de decidir com rapidez e justiça. Trata-se também de sincronizar os efeitos em um espectro muito amplo, contando principalmente com as possibilidades oferecidas pela inteligência cibernética e artificial. Este princípio de agilidade deve também irrigar o nosso trabalho de prospecção, bem como os processos de capacitação, visando em particular a optimização e melhor controle dos programas de armamento.
- Fazer do treinamento uma nova dimensão de uma luta a ser travada com nossos parceiros. A preparação operacional contribui diretamente para a credibilidade das forças armadas francesas, prontos para os combates mais difíceis e complexos. Enquanto as forças armadas francesas mantêm a capacidade de agir sozinhas, a estrutura normal para sua ação é a da ação coletiva. Pretendemos, portanto, desempenhar um papel de liderança entre nossos aliados, bem como no desenvolvimento de parcerias em todo o mundo. É tanto uma questão de fortalecer nossa interoperabilidade e nossa capacidade de assumir o papel de nação-quadro quanto de mostrar nossas capacidades e entregar mensagens estratégicas a nossos concorrentes e adversários. Finalmente, as forças armadas contribuem para a capacidade nacional de avaliação da situação, bem como para a prevenção e resolução de crises, que integram todas as alavancas de ação do Estado.
O General Thierry Burkhard é General de l'Armée (General-de-Exército, 5 estrelas no sistema francês) e Chefe do Estado-Maior da Defesa das Forças Armadas Francesas. |
Entre a autonomia estratégica e o poder limitado: o paradoxo francês, 16 de janeiro de 2022.
ENTREVISTA: "A Legião vai muito bem!", 19 de janeiro de 2022.
O Futuro da Marinha Francesa – Conversa do CSIS com o Almirante Vandier, 5 de fevereiro de 2022.
França no Pacífico: o que ela tem feito e por que isso é bom para a América, 3 de outubro de 2021.
Discurso do Chefe da Defesa francês sobre a parceria da França com a Suécia, 16 de outubro de 2021.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022
FOTO: Tigre Negro Sargento-Chefe Tran Dinh Vy
Sargento-chefe Tran Dinh Vy com a boina preta dos Tigres Negros e medalhas, incluindo a Cruz de Guerra com palma, 1950. |
Insígnia da boina dos tigres negros. |
- a Légion d'honneur (Legião de Honra),
- a Médaille militaire
- 20 citações francesas, americanas e vietnamitas.
O Sargento-chefe Tran Dinh Vy ao lado do Ajudante-chefe Vandenbergh com seus comandos Tigres Negros, vestidos com pijama negro e capacete tropical do Viet Minh, 1950. |
Commandos Nord-Vietnam 1951-1954. Jean-Pierre Pissardy. |
PERFIL: O Filho do General, 27 de julho de 2021.
GALERIA: Retomada do rochedo de Ninh-Binh pelos Tirailleurs Argelinos, 16 de outubro de 2020.
GALERIA: Uma missão da Marinha Francesa na Indochina, 9 de outubro de 2020.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Paraquedistas do 17º Regimento de Engenheiros de Montauban testam o novo exoesqueleto francês
Exercício de travessia para os testadores do 17e RGP, em Montauban. (Foto DDM - Pierre Challier) |
Os testadores do 17º RGP, em Montauban. (DDM - Pierre Challier) |
Gaëtan para os comandos, Alex para os sapadores e Melvyn para os mergulhadores, são três cabos-chefes atacando a primeira semana de testes a fim de testar o equipamento, cada um em sua especialidade. "Já vamos começar por ver se conseguimos ultrapassar os obstáculos enquanto estivermos equipados", especifica Melvyn dirigindo-se à rota da place d'armes.
Os testadores do 17º RGP, em Montauban. (DDM - Pierre Challier) |
Os testadores do 17º RGP, em Montauban. (DDM - Pierre Challier) |
Os testadores do 17º RGP, em Montauban. (DDM - Pierre Challier) |
Os testadores do 17º RGP, em Montauban. (DDM - Pierre Challier) |
"Passiva"? Entenda que ele não funciona com motor e energia, mas “transferindo a carga para o solo” através de suas hastes e juntas esféricas, explica o Major Francis. Equipamento que, visualmente, é mais próteses ortopédicas do que futurismo biônico... Mas não impede o disparo em todas as posições, como os três testadores também experimentaram. "Às vezes é desconfortável, mas não interfere", concordam. Quanto a saltar de pára-quedas com ele? Será outra história.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
ENTREVISTA: "A Legião vai muito bem!"
General de Saint-Chamas já como um 4 estrelas. Na época da entrevista, ele era 2 estrelas. |
Legião Estrangeira: Um brasileiro em suas fileiras. Luís Bouchardet. |
Tempos de Inquietude e de Sonho. Raul Soares da Silveira. |
A Legião Estrangeira. Douglas Boyd. |
domingo, 16 de janeiro de 2022
Entre a autonomia estratégica e o poder limitado: o paradoxo francês
Um soldado caminha entre veículos blindados franceses no Campo Militar de Mourmelon, no nordeste da França. (AFP) |
Foto aérea do Forte Madama, no Níger, em novembro de 2014. (Thomas Goisque/Wikimedia) |
A experiência recente deveria ter ensinado melhor a França: ela tem um alto nível de engajamento militar, com três grandes operações em andamento (Sentinelle em solo francês, Barkhane no Sahel e Chammal no Iraque e na Síria). Em 2016, esse envolvimento intenso e contínuo provou ser problemático, pois a França encerrou sua operação não-prioritária Sangaris na República Centro-Africana, porque a pressão sobre as Forças Armadas francesas era muito desgastante para sustentar.[20] Além disso, especialistas militares franceses apontaram regularmente que o nível de engajamento da França constitui uma enorme pressão sobre a força. Consequentemente, a falta de recursos e pessoal por parte dos franceses resultou em um impacto direto e estratégico em sua postura operacional recente.
Reservistas do 3e RMAT em exercício de combate urbano. |
- Frédéric Mauro, “Strategic Autonomy under the Spotlight: The New Holy Grail of European Defence”, 2018/1, 4, PDF.
- República Francesa, “Defence and National Security Strategic Review”, 2017, §1.2., PDF; “LOI n° 2018-607 du 13 juillet 2018 relative à la programmation militaire pour les années 2019 à 2025 et portant diverses dispositions intéressant la défense (1)", Legifrance, acessado em 10 de junho de 2019, Artigo 65, §1.2.1., https://www.legifrance.gouv.fr/affichTexte.do?cidTexte=JORFTEXT000037192797&dateTexte=20190610.
- Rémy Hémez, “The French Army at a Crossroads”, Parâmetros 47, nº 1 (Primavera de 2017): 103.
- Michael Shurkin, “France’s War in Mali: Lessons for an Expeditionary Army”, RAND Corporation, 2014, 40, PDF.
- Ibid.
- Joseph Henrotin, “La défense française durant le prochain quinquennat: Quels défis?”, DSI, nº 128 (março-abril de 2017), 31.
- General Vincent Desportes, La dernière bataille de France: Lettre aux Français qui croient encore être défendus (Paris: Editions Gallimard, 2015), 1. Les lois de déprogrammation militaire ou le mensonge français – La baisse inexorable des moyens financiers, Kobo.
- “LOI n° 2018-607”, Artigo 2.
- Desportes, La dernière bataille, 1. Les lois de déprogrammation militaire ou le mensonge français – Des paradoxes qui mettent en danger nos soldats.
- Ibid.
- Shurkin, “France’s War”, 42.
- Ibid.
- Desportes, La dernière bataille, 1. Les lois de déprogrammation militaire ou le mensonge français – Des paradoxes qui mettent en danger nos soldats.
- Ibid., 1. Les lois de déprogrammation militaire ou le mensonge français.
- Ministério da Defesa francês, “Números-chave da Defesa de 2018”, 2018, 16, PDF.
- CES Lionel Guy, CDT Alexandre Montagna, “Un nouveau modèle pour l’Armée de Terre”, TIM, nº 276 (julho-agosto de 2016), 3.
- República Francesa, “Strategic Review”, §§166, 167, 168.
- Desportes, La dernière bataille, 1. Les lois de déprogrammation militaire ou le mensonge français – Des paradoxes qui mettent en danger nos soldats.
- Ibid., 9. A un pas du gouffre : plus de guerres, moins de moyens ? – Quelles conséquences stratégiques?
- Hémez, “The French Army”, 110.
- Ibid.
- República Francesa, “Strategic Review”, §5.2.
- Hémez, “The French Army”, 110.
- Centro Africano para Estudos Estratégicos, “A Review of Major Regional Security Efforts in the Sahel”, 4 de março de 2019, https://africacenter.org/spotlight/review-regional-security-efforts-sahel/.
- Hémez, “The French Army", 111.
- Henrotin, “La défense française”, 31.
- Rémy Hémez, Aline Leboeuf, “Retours sur Sangaris: Entre stabilisation et protection des civils”, Focus stratégique, nº 67 (abril de 2016), 30, PDF.
- Henrotin, “La défense française”, 34.
- Benoist Bihan, “Masse critique”, La plume et le sabre, 31 de março de 2013, http://www.laplumelesabre.com/2013/03/31/masse-critique/.
- Michel Goya, “La «descente en masse»”, DSI, nº 131 (setembro-outubro de 2017), 62.
- Hémez, “The French Army", 104.
- General Vincent Desportes, “Un désastre militaire”, Conflits, nº 13 (abril-maio-junho de 2017), 49.