sexta-feira, 20 de março de 2020

FOTO: Grupo Alfa no Afeganistão

Comandos do Grupo Alfa da KGB no Afeganistão com capacetes de titânio suíços PSH-77, anos 80.

Bibliografia recomendada:

Spetsnaz:
The inside story of the Soviet special forces.
Viktor Suvorov.

Leitura recomendada:




FOTO: Spetsnaz no Afeganistão, 1986, 26 de janeiro de 2020.

FOTO: Flâmula no Afeganistão30 de abril de 2020.

FOTO: Hinds afegãos26 de abril de 2020.

FOTO: T-62M no Passo de Salang, 28 de janeiro de 2020.

terça-feira, 17 de março de 2020

O exército tailandês ainda ama o sucessor do Kübelwagen


Por Robert BeckhusenWar is Boring, 24 de janeiro de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 18 de novembro de 2019.

O Tipo 181 da Volkswagen era um transporte da Guerra Fria.

Em 18 de janeiro de 2018, o Exército Real Tailandês desfilou em Bangcoc como parte do Dia anual do exército real. O evento contou com muitos exemplos do equipamento militar da Tailândia, incluindo tanques, artilharia, lançadores de mísseis antiaéreos e veículos blindados de combate.

Dirigindo no desfile havia jipes discretos de aparência estranha transportando oficiais superiores. Um olhar mais atento pode notar uma semelhança com o Kübelwagen, ou "carro banheira", um veículo utilitário leve e de aparência pateta produzido pela Volkswagen, dirigido pelas forças armadas alemãs na Segunda Guerra Mundial, e que continua a ser um item de colecionador e adereço de filme até hoje.

Perto, mas não exatamente. Os oficiais tailandeses estão dirigindo o Volkswagen Tipo 181 - um sucessor do Kübelwagen no pós-guerra usado tanto no mundo militar quanto no civil. Nos Estados Unidos, a Volkswagen comercializou a máquina de aparência bizarra como "The Thing" (“A Coisa”). Mas a Coisa tem uma história interessante por si só, que deve muito tanto à Guerra Fria quanto à Segunda Guerra Mundial.


Quando o Terceiro Reich se armou nos anos 30, os soldados alemães precisavam de rodas motorizadas, então Adolf Hitler se aproximou do famoso engenheiro Ferdinand Porsche para fornecer um projeto. Daí veio o Kübelwagen com tração nas duas rodas, do qual a Volkswagen fabricaria mais de 50.000.

Para colocar esse número em perspectiva, os Estados Unidos produziram mais de 600.000 jipes Willys com tração nas quatro rodas - uma indicação do nível relativamente baixo de mecanização dos militares alemães durante a guerra. Mesmo no final do conflito, muito mais soldados alemães moviam-se literalmente por cavalos de potência do que potência mecânica.


No entanto, o Kübelwagen era um veículo único e capaz, e seu fundo plano - como um trenó - ajudava a mantê-lo em movimento se os pneus afundassem em condições lamacentas. O Terceiro Reich também desenvolveu o Schwimmwagen, ou "carro de natação", uma modificação com tração nas quatro rodas do Kübelwagen capaz de flutuar. O carro de natação continha uma hélice ajustável para avançar quando estava na água.

Schwimmwagen.

Então veio o Type 181, também conhecido como "The Thing", conhecido no México como Safari e na Grã-Bretanha como Trekker. Este veículo surgiu como resultado de um projeto separado, chamado Europa Jeep, um projeto fracassado da OTAN visando desenvolver um veículo de transporte anfíbio.

O Europa Jeep nunca foi colocado em produção e, com os atrasos ocorridos na década de 1960, o governo da Alemanha Ocidental abordou a Volkswagen para produzir um veículo temporário até que o Europa Jeep estivesse pronto. A Volkswagen voltou ao design do Kübelwagen, modificou-o e desenvolveu o Tipo 181, que a montadora também comercializou como um carro inovador voltado para surfistas e off-roaders americanos - embora caro.

Tipo 181.
Foto de Sven Storbeck via Wikimedia.

O Tipo 181 veio com várias diferenças importantes do Kübelwagen - os novos e mais amplos pisos vieram do Karmann Ghia, em vez do Fusca como no Kübelwagen original. O veículo da Guerra Fria tinha uma nova suspensão e um motor maior, embora tivesse pouca potência. Eles eram aproximadamente do mesmo tamanho, embora o Tipo 181 pesasse mais de 500 libras (226,7kg).


Tim Brooks, escrevendo no The National, observou que padrões mais rígidos de segurança - liderados pelo advogado do consumidor Ralph Nader em 1975 - retiraram o carro do mercado americano devido à sua quase total falta de recursos de segurança, "o que é um pouco irônico, pois foi projetado para proteger tropas na guerra.” The Thing foi vendido por apenas dois anos nos Estados Unidos em 1973 e 1974.

Outro bom recurso para todas as coisas relacionadas ao The Thing, é este vídeo do historiador de automóveis Doug DeMuro. Preste muita atenção ao interior espartano e ao telhado e janelas destacáveis.


A guerra para a qual o Tipo 181 foi projetado nunca chegou, embora os exércitos da OTAN continuassem a colocar 50.000 Tipos 181 em serviço militar. Pode até haver um futuro para o modelo além da estranheza de um colecionador, pois o gerente de marca da Volkswagen, Herbert Diess, em 2017 apresentou a ideia de trazer de volta o design como um carro elétrico, usando os termos "Tipo 181" e "Kübelwagen" de forma intercambiável.

"Não sei se você se lembra do Kübelwagen", disse Diess. "Essa Coisa é um bom carro."

No entanto, não há planos de trazer de volta o Schwimmwagen, pois uma versão totalmente elétrica desse veículo anfíbio em particular talvez seja imprudente. Mas Kübelwagens futuristas, redesenhados, mas ainda quadrados, com janelas e telhados rolando no futuro próximo seria uma peculiaridade interessante da história automotiva - como o fato de que o Tipo 181 ainda tem um lugar de honra na Tailândia.

segunda-feira, 16 de março de 2020

FOTO Sentinela romeno em clima invernal

Sentinela romeno armado com um fuzil Berthier francês, 1940.

Fotos tiradas por Margaret Bourke-White para a Revista LIFE, 1940:

"Guarda do exército romeno, vestido em ordem de clima frio, durante serviço de sentinela sobre a ponte do congelado Rio Prut, em clima de 35 graus abaixo de zero que torna impossível que ele fique no posto mais do que uma hora de cada vez."

domingo, 15 de março de 2020

FOTO: Munição viva


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 15 de março de 2020.

No dia 1º de outubro de 1966, o Dr. Harry Dinsmore era o chefe de cirurgia da Marinha em Da Nang, no Vietnã do Sul, quando soube que uma granada viva de morteiro 60mm estava alojada no peito do um soldado sul-vietnamita de 22 anos, ainda consciente.

Embora não estivesse de serviço naquele dia, Dinsmore realizou a operação, ciente de que a munição poderia explodir ao menor movimento. Ele cortou a granada e tentou levantá-la, mas as barbatanas da base da granada ainda estavam presas no uniforme do soldado. Enquanto segurava a munição coberta de carne em uma mão, ele meticulosamente cortou o uniforme de brim com a outra, em um espaço de tempo de 10 minutos que pareciam uma eternidade. Uma vez livre, um especialista em explosivos levou a granada do lado de fora e a desarmou. Todo o procedimento levou cerca de 30 minutos.

O soldado de primeira classe Nguyen Van Luong estava na escotilha aberta de um veículo blindado quando a granada que atingiu a tampa da escotilha, ricocheteando então com força no seu capacete, nocauteando-o. A munição entrou em seu corpo logo acima da clavícula e deslizou entre sua pele e caixa torácica. Van Luong voltou ao serviço ativo em dois meses.

O Dr. Harry Dinsmore recebeu a Cruz da Marinha por seu heroísmo. Aposentou-se da Marinha em 1967, e praticou medicina em Punxsutawney até se aposentar em 1990.

sábado, 14 de março de 2020

A China está preenchendo a lacuna do tamanho da África na estratégia dos EUA


Por Marcel Plichta, Defense One, 28 de março de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 03 de dezembro de 2019.

Enquanto as tropas dos EUA combatem grupos terroristas, Pequim está bloqueando o fornecimento de matérias-primas essenciais para o futuro da defesa.

O governo Trump não é o primeiro a dar pouca atenção à África em suas considerações de segurança nacional. O continente recebeu apenas três parágrafos na Estratégia de Segurança Nacional de 2015 (National Security Strategy, NSS), principalmente concernente a doenças epidêmicas e conflitos intra-estatais, com menções simples de engajamento econômico e político. Mas as apostas são mais altas agora. A China está espalhando sua influência econômica por todo o continente e assegurando a produção de minerais essenciais para eletrônicos modernos. A lacuna do tamanho da África no pensamento estratégico dos EUA deve ser preenchida com uma política abrangente antes de ameaçar os interesses de americanos e africanos.


Infelizmente, a política externa dos EUA em relação à África parou. Nenhum funcionário nomeado ocupa o cargo de Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Africanos desde março de 2017. (O funcionário interino, Donald Yamamoto, foi evasivo quando questionado sobre políticas substantivas em uma entrevista em janeiro com a NPR e tinha pouco a dizer em termos de novas iniciativas ou liderança dos EUA no continente.) No plano político, o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, Tom Shannon, sinalizou uma grande mudança em direção à África em setembro e depois partiu no início de fevereiro.

Nota do Tradutor: O atual Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Africanos é Tibor Peter Nagy Jr., nomeado em 23 de julho de 2018. Antes dele foi Donald Yamamoto, nomeado apenas em 5 de setembro de 2017, permanecendo até 22 de julho de 2018.

A nova NSS de Trump menciona a crescente influência da China na África, mas não oferece uma política específica para combatê-la. Em vez disso, apresenta uma direção vaga para "expandir o comércio e os laços comerciais" - mas os programas da era Obama destinados a esse fim podem ser totalmente financiados ou cortados por cortes propostos ao Departamento de Estado e à USAID. De fato, os eventos mais dignos de destaque relacionados às relações diplomáticas entre EUA e África são o Presidente Trump se referindo à Namíbia como "Nâmbia" em setembro e ridicularizando os países africanos como "shitholes" (fossas) em janeiro.


A única área em que os formuladores de políticas demonstraram consistentemente interesse estratégico na África é o contraterrorismo. A qualquer momento, o Comando Africano dos EUA (U.S. Africa Command, USAFRICOM) está realizando 100 missões na África contra grupos jihadistas como o Boko Haram na Nigéria, Al-Qaeda no Magrebe Islâmico e Al-Shabaab na África Oriental. Os militares intensificaram o engajamento africano como parte de uma guerra mais ampla contra o terrorismo, mas essa abordagem por si só é insuficiente.

A falta de iniciativa fora do contraterrorismo deixa os EUA despreparados para lidar com a crescente influência da China na África. O envolvimento econômico sino-africano cresceu rapidamente desde o primeiro Fórum de Cooperação China-África em 2000, e a China agora é o maior parceiro econômico da África. As empresas chinesas lidam com metade dos projetos de construção contratados internacionalmente do continente e representam dez por cento de sua produção industrial. Os empréstimos chineses sustentam muitos dos maiores projetos de infraestrutura da África, incluindo novas redes ferroviárias no Quênia. Mais perigosa para os interesses americanos, a China está ganhando controle quase monopolista de recursos extrativos, tais como petróleo e minerais.

A crescente influência da China também não se limita à esfera econômica. Na tentativa de aumentar sua presença militar, Pequim agora possui mais de 2.000 soldados pacificadores em toda a África e, no ano passado, abriu sua primeira base no exterior, em Djibuti. A China também está acelerando seu apoio militar aos governos africanos. Ela financiou o novo centro de treinamento militar da Tanzânia, que foi inaugurado no início de fevereiro e está entre os maiores exportadores de armas para a África. Outro cliente importante é o Sudão, que continua sendo um pária internacional por sua cumplicidade nos brutais conflitos no Darfur e no Kordofan do Sul.

Permitir que a China exerça poder incontrolável na África e obtenha controle sobre a produção de recursos naturais é uma séria ameaça aos interesses estratégicos dos EUA por dois motivos. Em primeiro lugar, sua preferência pela estabilidade política e econômica sobre a democratização significa que pode encontrar aliados entre as ditaduras remanescentes no continente. Os EUA e seus aliados podem perder a capacidade de pressionar autoritários como Omar Al-Bashir, do Sudão, e Joseph Kabila, da República Democrática do Congo, em direção a uma reforma política, se a China quiser apoiá-los no cenário mundial.


Em segundo lugar, a China está trabalhando para garantir recursos vitais para as economias e forças armadas do futuro. A África é famosa por recursos naturais, como petróleo e diamantes, mas também possui grandes reservas de minerais essenciais usados na produção de eletrônicos. Embora grande parte do foco estratégico americano esteja voltado para garantir o fornecimento contínuo de petróleo e gás natural, o aumento no número de eletrônicos, como telefones, computadores e painéis solares, aumentará a demanda por esses minerais e tornará seu suprimento contínuo uma prioridade para manutenção de economias saudáveis. Pensa-se que apenas a República Democrática do Congo tenha um dos maiores depósitos de cobalto do mundo, um componente-chave das baterias de íon-lítio que alimentam a maioria dos carros elétricos, laptops e telefones. A região da África Central em geral produz uma grande quantidade de estanho, cobre, ouro e grande parte do coltan do mundo, que é um componente essencial nas placas de circuito eletrônico.

As forças armadas dos EUA não são menos dependentes desses materiais. Se os EUA e seus aliados falharem em diversificar seus suprimentos, a China poderá minar as economias de defesa de seus rivais e privilegiar as de seus amigos.

Não é tarde demais para reverter essas tendências. A duplicação de programas como a Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (African Growth and Opportunity Act, AGOA) e o Comércio na África (Trade Africa) incentivará relações mutuamente benéficas entre os EUA e os países africanos. A promoção de iniciativas de livre comércio ajudará a garantir o fornecimento de minerais vitais e dará aos africanos um mercado competitivo para vender seus recursos naturais. Esses esforços, combinados com a ajuda ao desenvolvimento por meio da USAID, promoveriam uma classe média africana saudável, capaz e disposta a comprar produtos americanos. Dado o potencial econômico de desenvolver esse relacionamento e o risco estratégico de abdicar do continente para a China, os EUA precisam formular uma estratégia abrangente para a África - e logo.

Marcel Plichta é um estudante de pós-graduação em Segurança Global na Escola de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Glasgow.

Bibliografia recomendada:

Bully of Asia: Why China's dream is the new threat to World Order.
Steven W. Mosher.

A Military History of China.
David A. Graff e Robin Higham.

Cães de Guerra.
Frederick Forsyth.

Leitura recomendada:







Manutenção da paz da ONU feita pela China no Mali: estratégias e riscos


Por Marc Lanteigne, Oxford Research Group, 15 de maio de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 14 de março de 2020.

A manutenção da paz da China no Mali representa outro exemplo da crescente disposição do país de enviar pessoal para uma zona de conflito ativa e uma mudança no pensamento estratégico chinês.

Uma das mudanças menos proeminentes no pensamento de segurança da China nas duas últimas décadas foi a maior disposição do país para se envolver e participar das Operações de Manutenção da Paz das Nações Unidas (United Nations Peacekeeping OperationsUNPKO) em partes do mundo muito além da região Ásia-Pacífico. Em março deste ano, a China havia enviado 2.513 soldados pacificadores para missões da ONU no exterior, incluindo a República Democrática do Congo (RDC), Líbano, Sudão do Sul e Sudão. Nas duas décadas, Pequim esteve mais disposta a enviar pessoal de manutenção da paz para regiões onde o combate continua em andamento, com um exemplo importante sendo a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS). A contribuição de manutenção da paz da China para as operações da ONU no Mali representa não apenas outro exemplo da crescente disposição da China de enviar pessoal para uma zona de conflito ativa, mas também um afastamento do pensamento chinês anterior sobre a escolha de missões para se envolver. Também reflete o crescente reconhecimento da China de que os conflitos civis podem ter efeitos regionais e internacionais, especialmente quando a África se torna uma parte crítica dos interesses comerciais inter-regionais expandidos de Pequim.

UNIMISS.

A China começou a expandir seus interesses no envolvimento em UNPKO no final dos anos 90. Mas a participação do país na Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA) desde 2013 marcou a primeira vez que forças de combate chinesas foram destacadas como parte integrante de uma missão da ONU. Em 2012, um pequeno pelotão de tropas chinesas foi enviado ao Sudão do Sul, mas seu papel era especificamente proteger outros funcionários chineses no país. Por outro lado, o destacamento militar enviado ao Mali, originalmente com 170 soldados, representou as primeiras verdadeiras forças de combate a serem integradas em uma missão da ONU, dado seu papel consideravelmente mais amplo na proteção de funcionários chineses e não-chineses.

Até a missão no Mali, a China havia demonstrado preferência pelo fornecimento de pessoal não-militar - incluindo policiais civis, engenheiros e equipes médicas - para missões das Nações Unidas. Além disso, ao contrário de outras partes da África onde a China tem interesses significativos em diplomacia de recursos, incluindo RDC e Sudão/ Sudão do Sul, os vínculos econômicos bilaterais entre China e Mali permanecem relativamente modestos na melhor das hipóteses, relatados como totalizando US$ 405 milhões em 2017. No entanto, o compromisso contínuo de Pequim com a MINUSMA procurou demonstrar que o envolvimento da China com a África foi além do campo econômico.

Antecedentes: os desafios contínuos de segurança do Mali

O Mali, juntamente com muitos outros estados vizinhos na região do Sahel, no norte da África, ficou enredado nos tremores secundários da guerra civil da Líbia em 2011. Isso resultou na derrubada do antigo líder Muammar Kadafi, no fraturamento do país e na rápida re-ignição das hostilidades que continuam até hoje. As frágeis estruturas de segurança do Mali afundaram sob o influxo de armas e extremismo político emanado do conflito na Líbia, resultando primeiramente em uma tentativa abortada por separatistas do norte de criar um estado separado de Azawad em 2012, e depois em ataques regulares de organizações fundamentalistas armadas, incluindo facções apoiadas pela Al-Qaeda e mais tarde pelo Estado Islâmico (EI/ISIS).

Combate de rua na Líbia.

Em março de 2012, um golpe militar resultou na remoção do presidente do Mali, Amadou Toumani, e governos subseqüentes, incluindo o atual governo de Ibrahim Boubacar Keïta, continuam lutando para impedir que o país se torne um estado em colapso. A França, antiga potência colonial no Mali entre o século XIX e a independência em 1960, assumiu a liderança no lançamento da Opération Serval em janeiro de 2013 para expulsar as forças extremistas islâmicas do norte do Mali, seguida pela Opération Barkhane em agosto de 2014 que incorporou campanhas de contra-insurgência francesas em toda a região do Sahel, ligando a missão do Mali às do Burkina Faso, Chade, Mauritânia e Níger, ao quinteto de estados também conhecidos como 'G5 Sahel'.

Soldados malinense e francês na Operação Serval, 2013.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas concordou em criar a MINUSMA em abril de 2013, de acordo com as disposições do capítulo VI da Carta da ONU e com a bênção do governo do Mali. Desde então, a operação foi referida como a "missão da ONU mais perigosa do mundo". O mandato da ONU no país tem sido ajudar a proteger e estabilizar o país à luz da situação de segurança erodida, bem como promover um sistema democrático durável no país e defender as bases de um acordo de paz instável de 2015. Em março de 2019, havia pouco mais de 16.400 funcionários da ONU no total ligados à missão MINUSMA.


A China decidiu, em meados de 2013, fornecer pessoal de manutenção da paz para a missão. O primeiro destacamento, que chegou em dezembro daquele ano, era uma força avançada de 135 pessoas, incluindo forças de combate do então Comando Militar Regional de Shenyang do Exército de Libertação do Povo Chinês (PLA). A sexta força de manutenção da paz chinesa foi criada no Mali em maio de 2018, com todos os seus 395 membros sendo premiados com as Medalhas de Honra da Paz da ONU em março deste ano. Um sétimo destacamento está previsto para chegar ao Mali em meados deste ano. Além da própria MINUSMA, Pequim também tem sido um forte defensor do apoio financeiro internacional à iniciativa pós-2017 das forças conjuntas do G5 Sahel, criada pelas cinco nações do Sahel para compartilhar informações e apoio ao combate ao terrorismo e promover a estabilidade regional.

Por que as forças de paz chinesas foram ao Mali?


Havia várias razões por trás da decisão de Pequim de concordar em enviar forças de paz ao Mali, apesar dos muitos perigos envolvidos. A primeira razão diz respeito ao desejo da China de mostrar aos governos africanos que o envolvimento de Pequim no continente é, agora, verdadeiramente sobre preocupações mais amplas do que os interesses econômicos da China nas matérias-primas da África. Por exemplo, a abertura de uma base logística chinesa em Djibouti, em 2017, foi um forte sinal de que a África estava considerando mais proeminentemente as políticas de segurança inter-regionais chinesas. Como um livro recente sobre estudos sino-africanos explicou, a expansão do envolvimento da segurança chinesa na África agora está sendo afetada pelas ambições de Pequim de ser visto globalmente como uma 'grande potência responsável', bem como pela constatação pelo governo chinês de que seus tradicionais pontos de vista sobre a não-interferência em conflitos civis estavam se tornando incompatíveis com os conflitos civis modernos, tal como o caso do Mali.

Iniciativa do Cinturão e Rota.

Em segundo lugar, e de forma relacionada, os interesses comerciais expandidos da China na África, incluindo a Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road InitiativeBRI), resultaram em apelos a uma maior proteção dos ativos e cidadãos chineses no exterior. Na última década, a China intensificou suas atividades de mediação de disputas, incluindo trabalhos em muitos países que agora fazem parte do BRI. Também buscou garantir aos chineses no estrangeiro, incluindo aqueles que trabalham em partes da África propensas a conflitos, que Pequim está procurando protegê-los melhor. O perigo para os cidadãos chineses baseados em zonas de combate foi bem ilustrado no Mali nos últimos anos. Três empresários chineses foram vítimas de um ataque em um hotel por insurgentes na capital do Mali, Bamako, em novembro de 2015, com outro cidadão chinês morto em um resort próximo em junho de 2017. Como os conflitos no Mali são sintomáticos de um conjunto maior de ameaças à segurança emanando de toda a região do Sahel, o envolvimento da China na MINUSMA, bem como em outras missões africanas de manutenção da paz, ajuda a destacar os compromissos de segurança regional do país na região.

Nota do Tradutor: O cinema chinês já inclui o ambiente africano em seus filmes de ação, como Peacekeeping Force (Força Pacificadora, 2018). O filme chinês de maior bilheteria até hoje, Wolf Warrior II (Lobo Guerreiro 2, 2017), é a estória de um herói chinês na África enfrentando guerrilheiros africanos e mercenários europeus, com a mensagem de que o governo chinês protegerá seus cidadãos onde quer que seja (essa afirmação aparece escrita sobre um passaporte chinês no final do filme, antes dos créditos).


As operações no Mali também proporcionaram uma oportunidade para mais educação e treinamento em operações fora-de-área, tanto para setores civis quanto militares do aparato de segurança da China, especialmente dentro da rubrica de 'operações militares além da guerra' (Military Operations Other Than War, MOOTW) e cooperação expandida com outras forças de manutenção da paz. No entanto, os perigos de operar em um país onde frequentemente há pouca paz para manter, foram levados para casa pela morte, em junho de 2016, de um sargento do PLA causado por um explosivo plantado perto da base da MINUSMA em Gao, no centro do Mali. Quatro outros soldados pacificadores chineses ficaram feridos nesse incidente.

Os lados econômicos do engajamento no Mali

Finalmente, embora seja improvável que o comércio bilateral entre a China e o Mali seja igual ao dos principais parceiros comerciais de Pequim, como Angola, Nigéria e África do Sul; o Mali, no entanto, entrou na consideração de Pequim sobre a expansão geral do comércio no continente. Em 2017, o governo do Mali manifestou sua disposição de se alinhar com o BRI, com planos anunciados em 2015 para a renovação de uma ligação ferroviária entre o Mali e o vizinho Senegal, bem como planos para a construção de uma ferrovia entre Bamako e a capital guineense de Conakry apresentada no ano anterior.


A diplomacia econômica continua sendo a pedra angular da diplomacia chinesa na África, com o comércio sino-africano atingindo mais de US$ 204 bilhões em 2018. No mais recente Fórum de Cooperação China-África (Forum on China–Africa Cooperation, FOCAC), em setembro do ano passado, o presidente chinês Xi Jinping anunciou novas iniciativas econômicas para o continente, incluindo cooperação mais estreita nas áreas de conectividade, projetos “verdes”, saúde, indústria, infraestrutura e paz e segurança. A África também foi sujeita a um renascimento da competição diplomática entre China e Taiwan nos últimos três anos. Com o Burkina Faso reconhecendo oficialmente a República Popular em maio de 2018, todos os governos africanos agora reconhecem Pequim. A exceção solitária é Eswatini (Suazilândia). Assim, a participação contínua na manutenção da paz no Mali continua sendo um componente importante da diplomacia africana da China em nível regional, demonstrando que a China deseja ser um "parceiro geral" para o continente, à medida que os compromissos econômicos de Pequim continuam a se aprofundar.


No início deste ano, a MINUSMA estava sob uma pressão muito maior, já que o Canadá e a Holanda estavam se preparando para retirar seu pessoal do Mali, enquanto o apoio dos EUA à operação se tornou cada vez mais hesitante devido à escalada da violência e ameaças à região do Sahel em geral. Existe, portanto, a forte possibilidade da China desempenhar um papel ainda mais ampliado nas operações de manutenção da paz da ONU, e talvez até na construção da paz no Mali, pois a situação de segurança continua sendo tênue, na melhor das hipóteses.

Marc Lanteigne é professor associado de ciência política na UiT: Universidade do Ártico da Noruega, Tromsø.

Bibliografia recomendada:





Leitura recomendada:



Capacetes Azuis Marroquinos: valores e compromissos1º de julho de 2020.

Como a China viu a intervenção da França no Mali: Uma análise


Por Yun Sun, Brookings Institution, 23 de janeiro de 2013.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 03 de dezembro de 2019.

A resposta da China à decisão da França de enviar tropas para lutar contra extremistas islâmicos no Mali é no máximo morna e reservada. Na declaração oficial do Ministério das Relações Exteriores da China, o governo apenas "observou" o envio de tropas por "países e organizações regionais" sem qualquer compromisso explícito de apoiar a missão no estágio atual. Isso levantou uma ampla especulação no Ocidente de que a China está “pegando carona” de novo em uma missão liderada pelo Ocidente para estabilizar um país infestado de ameaças terroristas. Entre o debate, é importante que a comunidade internacional esclareça e compreenda as perspectivas da China.

A China se opõe fortemente a ser descrita como um "caroneira". Antes de tudo, na experiência da China, a intervenção estrangeira nem sempre leva a mais estabilidade ou melhor proteção dos interesses chineses no terreno. No caso da Líbia, a China viu o Reino Unido e a França “abusarem” da Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas (UNSCR) de 1973 para lançar intervenções militares além do escopo original do seu mandato. A intervenção levou a mais caos, que combinado com a mudança de regime custou à China US$ 20 bilhões de seus investimentos na Líbia. Desde então, a China tem sido particularmente cautelosa ao concordar com qualquer resolução do Conselho de Segurança da ONU que autorize uma intervenção militar. Isso é parte da razão fundamental pela qual a China lançou três vetos de projetos de resolução do Conselho de Segurança para autorizar a intervenção militar na Síria.

O exemplo da China "pegando carona" mais citado é a guerra no Afeganistão. Muitos vêem a China, como uma grande superpotência, não carregando seu peso e desfrutando injustamente dos benefícios da segurança contra o terrorismo, enquanto os EUA e outros países continuam lutando contra o Talibã no Afeganistão. No entanto, a visão da China é que a guerra no Afeganistão dificilmente foi motivada pela intenção dos EUA de protegerem a China e outros países da região. Em vez disso, Pequim vê a guerra dos EUA no Afeganistão como um avanço da influência geoestratégica americana - uma que criou grande instabilidade no Afeganistão e na região do sul da Ásia. Além disso, Pequim argumenta que os pontos fortes da China no Afeganistão estão na reconstrução pós-conflito em áreas como desenvolvimento de infraestrutura e investimento econômico. E esse papel da China foi reconhecido e bem-vindo pelos Estados Unidos.

Soldado malinense fala com legionários do 2e REP em Ménaka, no Mali, em 2019.

A resposta morna da China à intervenção francesa no Mali também se origina de sua preocupação com um possível abuso do mandato da ONU, como o que aconteceu na Líbia. Na visão de Pequim, qualquer intervenção internacional legítima deve ser baseada em um mandato da ONU. No caso do Mali, embora a França tenha obtido o apoio dos membros do Conselho de Segurança da ONU para a intervenção, sua missão é invariavelmente diferente da Missão de Suporte Internacional liderada por africanos no Mali (International Support Mission in Mali, AFISMA), estipulada pela UNSCR 2085 com a qual a China concordou. De fato, a China espera que a França se retire em breve e entregue a responsabilidade militar à missão liderada pelos africanos.

Outros analistas chineses atribuíram ainda a intervenção da França ao desejo de Hollande de impulsionar sua imagem e popularidade em casa, devido ao fracasso de suas políticas econômicas domésticas.

A China vê a motivação da França para intervir no Mali como dificilmente altruísta. Li Zhibiao, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, destaca uma suspeita de que a França esteja explorando o papel cada vez menor de Washington na África para expandir sua própria influência. Outros analistas chineses atribuíram ainda a intervenção da França ao desejo de Hollande de aumentar sua imagem e popularidade em casa, devido ao fracasso de suas políticas econômicas domésticas. Além disso, a China também vê dois pesos e duas medidas na decisão da França de enviar tropas, uma vez que desconsiderou um pedido semelhante de assistência militar da República Centro-Africana. Como argumenta um famoso analista da África, "a ação da França na África é motivada por seus próprios interesses e preferências" e, portanto, não é tão gloriosa quanto parece.


A China não está particularmente otimista com o resultado da intervenção francesa no Mali. Muitos legisladores e analistas chineses acreditam que o Mali se tornará o "Afeganistão" da França, arrastando a França para um conflito prolongado. Igualmente preocupante é a possível retaliação dos jihadistas contra a França e outros países vizinhos, manifestada na crise dos reféns na Argélia, onde militantes ligados à Al Qaeda sequestraram quase 200 reféns para exigir a suspensão dos ataques franceses e a libertação de militantes. Embora a crise dos reféns tenha sido resolvida, o medo de futuros ataques cresce drasticamente.

O que mais preocupa a China com a intervenção francesa no Mali é que ela pode "fornecer um precedente para a legitimação do 'neo-intervencionismo' na África". He Wenping, um dos principais especialistas chineses em África, ressalta que, embora a França apóie a bandeira de “combater o terrorismo” na sua decisão de intervir no Mali, nem todos os grupos locais de oposição no Mali são realmente terroristas. A China vê isso como particularmente alarmante porque legitima o “combate ao terrorismo” como justificativa para a intervenção estrangeira em uma guerra civil de um país soberano. Para Pequim, o precedente é um desafio perigoso ao seu princípio de não interferência, a base da política externa da China.

Nota do Tradutor: O título original é "Como a China vê a intervenção da França no Mali: Uma análise". 

Yun Sun é um membro sênior e codiretora do Programa do Leste Asiático e diretora do Programa da China no Stimson Center. Sua experiência é em política externa chinesa, relações EUA-China e relações da China com países vizinhos e regimes autoritários.

Post script: As missões de paz da ONU dos chineses


Como fica evidente no texto, a China errou de forma grosseira em sua análise da intervenção francesa. Não apenas isso, a França conseguiu iniciar uma missão da ONU no Mali, afastando a idéia de "invasão neo-colonialista".

Para não perder influência, a China integrou a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (Mission multidimensionnelle intégrée des Nations unies pour la stabilisation au Mali, MINUSMA); a primeira vez que forças de combate chinesas foram destacadas como parte integrante de uma missão da ONU.

FOTO: Filipinos na Coréia


Soldados filipinos do Corpo Expedicionário Filipino na Coréia (PEFTOK/PEPK/FEFC). Essa unidade foi composta por 5 batalhões (Equipes de Combate de Batalhão) combinando infantaria, artilharia e reconhecimento:

- 2nd Battalion Combat Team (BCT),
- 10th Battalion Combat Team (BCT),
- 14th Battalion Combat Team (BCT),
- 19th Battalion Combat Team (BCT),
- 20th Battalion Combat Team (BCT).

Cerca de 7.500 filipinos serviram na Coréia de 1950 a 1955, com a unidade recebendo o apelido de "Fighting Filipinos" (Filipinos Combatentes), sendo condecorados com várias citações presidenciais americanas e a citação presidencial filipina. Suas honras de batalha foram:

- Operação Tomahawk 1951,
- Batalha do Rio Imjin 1951,
- Batalha de Yultong 1951,
- Batalha de Heartbreak Ridge 1951,
- Batalha de Eerie Hill 1952.

O Corpo Expedicionário Filipino foi imortalizado pelo autor Robert Heinlein no clássico da ficção científica "Tropas Estelares" (1959), com o personagem principal Johnny "Juan" Rico sendo filipino.

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