sábado, 9 de maio de 2020

LIVRO: Lawrence da Arábia em Guerra


Por Dr. Rob Johnson, The American, 2 de abril de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 9 de abril de 2020.

Lawrence da Arábia: Lenda ou Gênio?

A maioria já ouviu falar de "Lawrence da Arábia" como um filme vencedor do Oscar ou, talvez, mais recentemente, como o personagem durão que luta contra os turcos otomanos no jogo do Xbox, Battlefield One. Um oficial militar americano em uma conferência há alguns anos em Kentucky me disse: "Eu não fazia ideia de que esse cara era real; Quero dizer, é apenas uma lenda, certo?"


Não é por acaso que vemos Thomas Edward Lawrence dessa maneira. Ele era um jovem e exótico tenente britânico que aconselhou insurgentes árabes sobre como combater o exército regular otomano nos desertos da Arábia. Ele era um dos dezenas de oficiais encarregados dessa missão, lutando bem atrás das linhas inimigas. Foi o precursor das Forças de Operações Especiais. Mas os raides de dinamite de Lawrence às ferrovias turcas chamaram a atenção de Lowell Thomas, um empresário americano da indústria do entretenimento.

Lowell Thomas foi para o Oriente Médio durante a guerra, tirando fotos e imagens em movimento do Exército Imperial Britânico do General Sir Edmund Allenby em 1918. Apesar das péssimas condições para as filmagens, ele poderia pelo menos fazer uso da luz constante e do drama da guerra. Cenário bíblico de sua história. Ele passou alguns dias entre o contingente árabe que trabalhou no flanco direito de Allenby, nas profundezas do deserto e descobriu Lawrence em Aqaba (Jordânia). Após a guerra, Lowell Thomas fez um show visual espetacular de son et lumière, suas dramáticas palestras ilustradas com fotos e clipes de filmes. Logo ficou claro para ele que a primeira parte, no exército de Allenby, era uma história dramática, mas familiar. No entanto, a segunda parte, Lawrence e seus árabes, teve um apelo de estrela.

Lawrence da Arábia em Guerra: A campanha no deserto 1916-18, Rob Johnson.

Viajando pelo mundo ocidental, os shows de Lowell Thomas atraíram milhares. A representação de Lawrence em suas vestes brancas esvoaçantes, travando sua guerra pessoal, atraiu uma audiência que queria escapismo e heroísmo em tempos sombrios. A noção de que um indivíduo poderia mudar o destino era um tema poderoso. Foi a mesma idéia que capturou a imaginação de David Lean, o cineasta britânico que produziu o sucesso de público Lawrence da Arábia em 1962.

O verdadeiro Lawrence era um indivíduo tímido, desajeitado, dotado intelectualmente e "motivado" pessoalmente. Existem muitas biografias ótimas desse homem enigmático, e uma "Sociedade de T.E. Lawrence" dedicada, que examina todos os aspectos de sua vida e obra. Mas sua experiência militar teve um apelo maior aos soldados e fuzileiros navais modernos. Simplificando, Lawrence é considerado o avô da guerra de guerrilhas que forneceu um modelo bem-sucedido de como derrotar um exército regular.


O problema é que, na Primeira Guerra Mundial, ele dependia da intervenção de forças aéreas e terrestres muito maiores, lideradas pelo General Allenby. Lowell Thomas tinha razão em apresentar as realizações dos regulares britânicos e das forças árabes juntas: era uma guerra híbrida, não uma guerra de guerrilha. O modelo era análogo ao esmagamento liderado pelos EUA do Taliban em 2001 ou à derrota do regime de Saddam no Iraque em 2003, em vez das insurgências que se seguiram.

Portanto, Lawrence é útil para quem deseja estudar conflitos armados e operações híbridas, e são suas idéias que merecem maior reconhecimento, mas há um aviso: elas também precisam de contexto.

Lawrence aceitando a rendição de tropas turcas na tomada do Porto de Aqaba em 6 de julho de 1917; uma das grandes vitórias da guerra no deserto. Ilustração de Peter Dennis para o livro Campaign 202: The Arab Revolt 1916-18 de David Murphy.

Lawrence acreditava que a guerra não era uma atividade inteiramente aleatória e caótica, pois havia sistemas ou princípios que poderiam ser aplicados. Ele admitiu a importância de fundamentar a teoria militar quando era tão inexperiente e não tinha a "intuição" de oficiais veteranos. Apesar de fazer uso de uma grande variedade de textos clássicos, medievais e modernos sobre a guerra, Lawrence acreditava que havia "passos" lineares comuns e uma abordagem sequencial necessária para estratégia e operações.

A ênfase militar tradicional era concentrar a força máxima contra o elemento mais forte do inimigo, provocar uma batalha decisiva e concluir as operações no menor tempo possível, a fim de evitar o esgotamento de recursos limitados. Lawrence colocou essa idéia de cabeça para baixo. Ele minimizou os aspectos "algébricos" da força física, números e equipamentos, em favor da pressão sobre as necessidades "bionômicas" (comida, água, descanso) do inimigo e maior estresse sobre os elementos "diatéticos" ou "hecásticos"*, que é o cognitivo e o psicológico. Lawrence tentou usar o espaço e o tempo a seu favor, tornar seus parceiros árabes evasivos usando a profundidade do deserto e, finalmente, deixar o soldado otomano com medo do seu ambiente.

*Nota do Tradutor: hecástico (geografia, clima, ferrovias etc), bionômico (gasto e usura, vida e morte, humanidade), diatético (psicologia, predisposição ou tendência mental).


Lawrence usou a ameaça de ataques irregulares árabes nas linhas de logística para criar um flanco cada vez maior contra os otomanos. Se os comandantes otomanos sentissem que suas linhas de comunicação poderiam ser cortadas, seriam compelidos a enviar um número cada vez maior de homens para protegê-las. Se os árabes pudessem permanecer ocultos e atacar em pontos nessa linha elástica, Lawrence acreditava que poderia fixar os otomanos e absorver sua maior massa em defesa inerte.

As observações de Lawrence sobre o efeito psicológico das operações de guerrilha então se desenvolveram. Ele escreveu: "em cada [tática e estratégia] encontrei os mesmos elementos, um algébrico, um biológico e um terceiro psicológico. O primeiro parecia uma ciência pura, sujeita às leis da matemática, sem humanidade". Esse elemento tratava do tempo, espaço, condições fixas, topografia, ferrovias e munições. Lawrence calculou que os otomanos não poderiam defender os 140.000 quilômetros quadrados da Arábia se as forças árabes fossem: algo invulnerável, intangível, sem frente ou retaguarda, flutuando como um gás". Ele supôs que: "nós [as forças árabes] poderíamos ser um vapor, soprando onde listamos. Nossos reinos estavam na mente de cada homem, e como não queríamos que nada material vivesse, talvez não oferecêssemos nada material à matança". Ele observou que, na guerra de guerrilha: "nossa guerra [era] uma guerra de destacamentos: devemos conter o inimigo pelas silenciosas ameaças de um vasto deserto desconhecido, não nos revelando sobre o momento do ataque."

A base medieval de Lawrence no deserto, onde ele planejou a "guerra de destacamento". (Foto cedida pela Biblioteca do Congresso)

A guerra de destacamento, a mobilização dos povos e a ênfase em dar o exemplo como meio de educar uma população, tudo isso foi aproveitado pelos praticantes das guerras revolucionárias subseqüentes. Os fundamentos de Lawrence da guerra de guerrilha foram copiados, emulados e adaptados desde então, com graus variados de sucesso.

A maior freqüência de insurgências e conflitos de guerrilha no século XX deu longevidade às idéias de Lawrence. As opiniões de Lawrence sobre insurgência e parceria com forças locais foram especialmente influentes nas campanhas dos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão após 2001. No Exército dos Estados Unidos, não se podia escapar das referências aos "27 Artigos" de Lawrence: seu conselho para trabalhar com forças indígenas. Houve ênfase no 15º Artigo, que dizia: "Não tente fazer muito com as próprias mãos. Melhor que os árabes façam de maneira tolerável do que você fazê-lo perfeitamente. É a guerra deles, e você deve ajudá-los, não vencê-la por eles". A conseqüência infeliz desse mantra é que ele pode ter criado uma relutância em agir decisivamente, liderar ou dirigir quando apropriado. O problema com todos os códigos doutrinários é que eles podem ser aplicados dogmaticamente, e não como orientação. As idéias de Lawrence são invocadas em momentos que parecem muito distantes de seu contexto. Ele estava ciente de que as forças locais podem não ser confiáveis ou seguirem suas próprias agendas. Como axiomas na guerra derivados de outros pensadores do passado, eles não podem ser aplicados sem pensar.


Mas aqui está a maior contribuição de Lawrence para o pensamento e a prática militares. Ele defendeu a compreensão da guerra através de intenso estudo e condenou a adesão servil às regras. Ele foi obrigado a adaptar sua própria teoria quando confrontado com a dura realidade da guerra. Ele acreditava em suposições desafiadoras e fez uso de uma ampla variedade de casos históricos para procurar a solução ideal. Ele alertou contra afirmações simplificadas e confiantes com base em alguns casos selecionados, alegando que suas próprias idéias eram o resultado de um "trabalho intelectual duro", fermentado por experiências igualmente duras. Lawrence era mais do que uma lenda celulóide: ele defendia o pensamento, o aprendizado e a adaptação. Este é um bom conselho em qualquer crise.

O Dr. Rob Johnson é o autor de Lawrence of Arabia on War (Lawrence da Arábia em Guerra, Oxford: Osprey, 2020) e o Diretor do Centro da Mudança de Caráter da Guerra (Changing Character of War Centre, CCW) da Universidade de Oxford.

Lawrence of Arabia on War oferece uma avaliação em ritmo acelerado de T. E. Lawrence e das operações militares britânicas no Oriente Próximo, revisando narrativas convencionais para contar a história completa dessa figura influente. É também um estudo da guerra e a maneira pela qual Lawrence avaliou o que estava mudando, o que era distinto, e o que era único na guerra de guerrilha no deserto. Colocando Lawrence em seu contexto histórico, o Dr. Rob Johnson examina o acordo de paz em que participou e descreve as maneiras pelas quais seu legado informou e inspirou àqueles que fazem parcerias e orientam forças locais hoje.

Bibliografia recomendada:

Lawrence da Arábia, da coleção Guerreiros.

Guerra Irregular, do operador de forças especiais Alessandro Visacro.

Lawrence of Arabia, da Osprey Publishing.

Os Sete Pilares da Sabedoria, do próprio T.E. Lawrence. Leitura obrigatória nas forças especiais.

Leitura recomendada:



sexta-feira, 8 de maio de 2020

Dissuasão à sombra do dragão: a modernização militar do Vietnã

Oficiais militares vietnamitas a bordo do USS Carl Vinson, 2018. (Getty Images)

Por Wu Shang-Su, The Interpreter, 30 de março de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de maio de 2020.

O Vietnã há muito tempo procura calibrar sua postura de defesa nas sombras da competição de grandes potências.

Em 5 de março, o USS Carl Vinson telefonou para Danang, no centro do Vietnã. Foi a primeira vez desde a Guerra (a Guerra do Vietnã para os americanos e a Guerra dos EUA para os vietnamitas) que um porta-aviões dos EUA ancorou em águas vietnamitas - por convite desta vez - para uma visita oficial.

A visita ao Carl Vinson nos lembra que, comparado aos esforços seculares do Vietnã para equilibrar-se contra o poder chinês, seu antagonismo com os Estados Unidos teve duração relativamente curta. E o desejo de Hanói de poder dissuasor para gerenciar sua incerteza estratégica envolve novos amigos e velhos inimigos.

Dois desafios

A definição da postura militar do Vietnã há muito tempo é conduzida nas sombras das superpotências. Nos últimos 30 anos, enfrentou dois grandes desafios: o colapso da União Soviética e o crescente poder militar da China. Embora esses dois desenvolvimentos tenham ocorrido durante diferentes gerações de liderança vietnamita, ambos se destacam no planejamento de defesa de Hanói.

Demonstração de engenheiros de assalto (đặc công) vietnamitas.
Reminiscente da Guerra Fria.

Como a maioria dos países comunistas durante a Guerra Fria, o Vietnã recebeu grandes transferências de ajuda militar soviética. Devido ao ambiente geoestratégico do Vietnã, pontuado pela Guerra Sino-Vietnamita de 1979, Moscou optou por se concentrar no fortalecimento da força terrestre do Vietnã. Apesar dos pedidos vietnamitas, a marinha estava relativamente marginalizada - nenhum submarino foi transferido para Hanói da União Soviética.

Após o término da ajuda soviética em 1992, a economia do Vietnã sofreu uma dolorosa transformação sob a política de Doi Moi, e a manutenção dos ativos existentes se tornou um fardo pesado. Graças à conquista da reforma econômica, os recursos para a modernização tornaram-se disponíveis em meados dos anos 90. A distribuição de recursos viria a ser determinada por outro fator externo - a China.

Nos anos 90, as relações bilaterais anteriormente hostis entre Hanói e Pequim melhoraram após o estabelecimento de suas fronteiras terrestres e marítimas no Golfo do Tonquim. Mas enquanto as relações políticas esquentavam, o Exército Popular de Libertação da China estava se modernizando rapidamente, deixando seu colega vietnamita inferior e desatualizado.


As reivindicações territoriais marítimas contestadas são a causa mais provável de conflito sino-vietnamita. Atualmente, Hanói concentra seus recursos na modernização das capacidades navais e aéreas. Este é o caso há uma década. Entre 2008 e 2012, o Vietnã concluiu importantes acordos de armas de submarinos, fragatas e caças, entre outros ativos, da Rússia, Canadá, Holanda, Estados Unidos e Japão. Mas o aventureirismo de Pequim no Mar da China Meridional (Mar do Leste para o Vietnã) no final dos anos 2000 foi claramente um fator no renovado foco de Hanói na estratégia marítima e no aumento do investimento em sua marinha e força aérea.

Um dilema

Após a aquisição desses sofisticados ativos marítimos e aéreos, a posição do Vietnã no Mar da China Meridional em relação à China fica menos vulnerável do que antes. Mas a abordagem desigual da modernização pode, no entanto, representar um dilema em Hanói: o Vietnã deve continuar concentrando investimentos em sua marinha e força aérea, ou investindo em seu exército?

Os ativos do exército vietnamita são uma cápsula do tempo da Guerra Fria, tendo sido negligenciados devido à baixa possibilidade de guerra terrestre. Uma invasão terrestre chinesa não pode ser totalmente descartada, mas é difícil imaginar a China quebrando tratados de fronteira assinados e arriscando uma resposta de outras potências na Ásia.

Hanói ainda mantém um sistema de defesa territorial em camadas composto por tropas regulares, guardas de fronteira e milícias. No entanto, sem uma renovação substancial, a crescente inferioridade do exército vietnamita em comparação com sua contraparte chinesa seria um grande risco estratégico para o Vietnã assumir. Pequim pode expor as vulnerabilidades vietnamitas e a falta de preparação por meio de desdobramentos e exercícios próximos à fronteira, sem precisar iniciar conflitos abertos. A modernização do Exército Popular do Vietnã traria algum efeito dissuasor.


O poder naval e aéreo do Vietnã pode não ser suficiente para as contingências do Mar do Leste / Mar da China Meridional. Hanói carece de recursos para competir diretamente com o Comando Chinês do Teatro do Sul. E o destacamento militar de Pequim em suas ilhas artificiais recém-construídas aumenta a pressão sobre a posição estratégica de Hanói.

Mas as ambições geoestratégicas de Pequim não permitem uma concentração de forças, então Hanói trabalhou para fortalecer as relações com Nova Délhi, Tóquio e Washington. O exemplo mais divulgado disso foi o levantamento do embargo americano pelo presidente Barack Obama à venda de armas letais ao Vietnã em 2016. E em novembro de 2017, o Vietnã assinou uma Parceria Estratégica com a Austrália. Se essas relações de não-aliança terão o efeito dissuasivo desejado é incerto, e os interesses do Vietnã no Mar da China Meridional são complicados pela relutância do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, em combater o aventureirismo chinês.

[Nota do Tradutor: Recentemente, o Vietnã desafiou a China exigindo uma investigação internacional sobre o coronavírus e sobre a agressão chinesa nas águas territoriais do Mar da China Meridional. Hanói foi seguido pela Indonésia e Taiwan. Os pequenos Davis estão enfrentando o Golias valentão.] 


Apesar do impressionante crescimento econômico nas últimas três décadas, os tomadores de decisão vietnamitas carecem de recursos para satisfazer a modernização militar terrestre e marítima, e os projetos de infraestrutura doméstica extremamente necessários também competem por financiamento.

Melhorar as relações Vietnã-EUA apresentaria mais alternativas para substituir o legado soviético das forças armadas do Vietnã, particularmente na vigilância marítima, mas não ajudará a diminuir os encargos financeiros do Vietnã.

A postura de defesa do Vietnã enfrenta um futuro difícil, com a história pesando muito sobre os tomadores de decisão. Com evidências crescentes da intensificação da concorrência EUA-China, a política de defesa do Vietnã será novamente feita sob o escrutínio das superpotências concorrentes.

Leitura recomendada:





terça-feira, 5 de maio de 2020

FOTO: Raul Langlois, conselheiro militar no Paraguai

Oficiais paraguaios da arma de Artilharia junto ao Tenente-Coronel Raul Langlois, o conselheiro da artilharia da Missão Militar Francesa no Paraguai, Segunda Bateria do Grupo de Artilharia de Montanha Nº 1, Exército Paraguaio, Assunção, em 1929.

Langlois foi o mais entusiástico do uso do morteiro Stokes Brandt 81mm, que prestou valioso serviço ao Paraguai na Guerra do Chaco. A Missão Militar Francesa atuou no Paraguai de 1926 a 1930, mas Langlois permaneceu no país por mais tempo.

Espaldão paraguaio de morteiro Stokes Brandt 81mm durante a Guerra do Chaco.

Os Bandeirantes Paulistas

Retrato de Domingos Jorge Velho, óleo sobre tela de Benedito Calixto, 1903. 

Dr. Pedro Puntoni,
Nova História Militar Brasileira.

Segundo um papel anônimo, de 1690, a experiência havia demonstrado, até então, que nem a infantaria "nem ainda as ordenanças" haviam sido "capazes para debelar estes inimigos nas incultas brenhas e inacessíveis rochedos e montes do sertão"; só a gente de São Paulo é capaz de debelar este gentio, por ser o comum exercício penetrarem os sertões"[47]. A razão disto era a forma como os tapuias [índios bravios] faziam guerra nos matos, o que exigia uma tática e uma tecnologia especiais. Gregório Varela de Berredo Pereira, autor de um "breve compêndio" sobre o governo pernambucano de Câmara Coutinho (1689-90), tinha para si "que se este inimigo [os bárbaros] fizera forma de batalha, depressa [seria] desbaratado". Mas, como explicava, tal não era o caso, porque se tratava de nações "fora de todo o uso militar", isto é, da forma européia moderna de guerra, "porque as suas avançadas são de súbito, dando urros que fazem tremer a terra para meterem terror e espanto e logo se espalham e [se] metem detrás das árvores, fazendo momos como bugios, que sucede às vezes meterem-lhes duas e três armas e rara vez se acerta o tiro pelo jeito que fazem com o corpo"[48].

Outro papel anônimo, de 1691, também argüia que as "grandes expedições de infantaria paga, e da ordenança, com grandes despesas da Fazenda real e contribuições dos moradores" vinham resultando sem efeito "não por falta de disposição dos cabos, nem do valor nos soldados, mas, repare-se nesta circunstância, pela eleição do meio só". Isto porque, segundo o autor deste papel, seria "necessário para a conquista destes gentios" adaptar-se ao seu "modo de peleja", que era "fora do da arte militar", pois,

"Eles [vão] nus, descalços, ligeiros como o vento, só com arco e flechas, entre matos, e arvoredos fechados, os nossos soldados embaraçados com espadas, carregados com mosquetes, e espingardas e mochilas com seu sustento, ainda que assistem o inimigo não o podem seguir, nem prosseguir a guerra: eles acometem de noite por assaltos nossas povoações, casas, igrejas, lançando fogo aos ingovernos, matando gente e roubando os bens móveis que podem carregar, e conduzindo os gados, e criações e quando acudimos o dano está feito. E eles [andam] escondidos entre os matos onde os nossos soldados não podem seguir com a mesma segurança, instância e diuturnidade por [estarem] carregados de ferro e mochilas, em que carregam o seu sustento que não pode ser mais que para quatro ou seis dias [enquanto que] os bárbaros [têm seu sustento] nas mesmas frutas agrestes das árvores, como pássaros, nas raízes que conhecem e nas mesmas imundices de cactos, cobras, e caças de quaisquer animais e aves." [49]

Tipos de bandeirantes paulistas.

Ora, segundo ainda este autor, teria sido exatamente por isso que a "Divina Providência" criou na província de São Paulo "os homens com um ânimo intrépido, que se inclinou a dominar este miserável gentio". Semelhantes aos inimigos silvícolas, pois viviam "sempre em seu seguimento", acabaram por "ter por regalo a comida de caças, mel silvestre, frutas, e raízes de ervas, e de algumas árvores salutíferas e gostosas de que toda a América abunda". É nos "ares do sertão" que suas vidas se fazem "gostosas", sendo que "muitos deles nascem, e envelhecem", nos matos: "estes são os que pois servem para a conquista e castigo destes bárbaros, com quem se sustenta, e vivem quase das mesmas coisas, e a quem o gentio só teme e respeita". [50] Era exatamente o que explicava, 10 anos antes, o autor de um outro papel que sugeria o uso dos paulistas para a defesa da colônia do Sacramento: "porque são homens capazes para penetrar todos os sertões por onde andam continuamente, sem mais sustento que coisas do mato, bichos, cobras, lagartos, frutas bravas e raízes de vários paus, e não lhes é molesto andarem pelos sertões anos [a fio] pelo hábito que têm feito àquela vida". [51]

- Dr. Pedro Puntoni, Nova História Militar Brasileira, Capítulo 1 A arte da guerra no Brasil: tecnologia e estratégia militares na expansão da fronteira da América portuguesa (1550-1700), Paulistas e os "ares do sertão", pg. 59-61, 2004.

Nova História Militar Brasileira.

Notas:

[47] Sobre o gentio que se rebelou nas capitanias do Ceará, Rio Grande e Paraíba, c. 1690 (Biblioteca da Ajuda, Lisboa, 54 XII 4 52).

[48] Breve compêndio do que vai obrando neste governo de Pernambuco o sr. governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho... Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 51, n. 267, 1979.

[49] Sobre os tapuias que os paulistas aprisionaram na guerra e mandaram vender aos moradores do Porto do Mar, e sobre as razões que há para se fazer a guerra aos ditos tapuias, 1691 (Biblioteca da Ajuda, Lisboa, 54 XIII 16, fl. 162).

[50] Biblioteca da Ajuda, Lisboa, 54 XIII 16, fl. 162.

[51] Informação anônima do Brasil, década de 1680 (BNP, códice 30, fl. 209). Para um retrato desses "bandeirantes" em ação, ver também Hemming (1978:238-253).

Leitura recomendada:




A FEB e os jipes12 de março de 2020.



O jovem Góes Monteiro em Catanduvas31 de janeiro de 2020.



O primeiro salto da América do Sul13 de janeiro de 2020.

domingo, 3 de maio de 2020

GALERIA: O legado militar do Rio de Janeiro - O Forte de Copacabana

Forte de Copacabana.

Por Júlio A. Montes, Small Arms Defense Journal, 26 de maio de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de maio de 2020.

Há uma linhagem militar considerável nesta bela cidade brasileira - invisível para a maioria e, no entanto, claramente presente em todo o lugar. Por exemplo, vôos internacionais pousam no terminal que compartilha espaço com a Base Aérea do Galeão. Qualquer pessoa que escala o Pão de Açúcar na verdade inicia a subida no Forte São João, sede da Escola de Educação Física do Exército Brasileiro. A Fortaleza de São João da Barra do Rio de Janeiro é um forte do século XVI estabelecido por Portugal para proteger a Baía da Guanabara de invasões francesas. Hoje, o movimentado porto comercial é dominado pelas instalações do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). A base data de dezembro de 1763 e foi designada Arsenal Real da Marinha quando a Família Real Portuguesa chegou em 1808. De fato, uma considerável atividade militar ocorre em toda a metrópole. Quem pode esquecer que, antes da Copa do Mundo de 2014, 2.500 soldados, com equipamento de combate completo e apoiados por veículos blindados da Marinha, se moviam rápida e silenciosamente pelas favelas do Rio?

Torre Duque de Caxias, equipada com dois canhões Krupp de 305mm.
(J. Montes)

O Brasil, como os EUA, é uma nação federada, composta por um governo federal, governos estaduais e governos locais. Copacabana é um bairro do Rio, famoso por suas praias, hotéis, restaurantes e biquínis. A propósito, a nudez supõe ser banida nas praias - essa é a razão do design e da popularidade dessas roupas de banho diminutas como forma de burlar a lei. O bairro de Copacabana é um dos muitos que corre ao longo da frente de águas cristalinas: Flamengo, Botafogo, Leme, Arpoador, Ipanema e Leblon.

O Forte de Copacabana

No extremo sul de Copacabana, e basicamente um ponto de separação para o bairro de Ipanema e a uma curta distância da estação de metrô Cantagalo, encontramos o Museu Histórico do Exército de Copacabana. Essa também é uma base militar ativa, mas o público é permitido entrar na fortaleza e descer nos limites do forte, onde permanecem duas torres enormes e formidáveis. O Exército Brasileiro iniciou a construção do forte em 1908 em um promontório de frente para a bela praia e protegendo a entrada do porto do Rio de Janeiro. A construção terminou em 1914. Na margem da fortaleza, existem duas torres blindadas: uma com dois canhões Krupp de 305mm, chamada Duque de Caxias, e a outra, um par de Krupps de 190mm, chamada André Vidal. As torres eram capazes de girar 360 graus e tinham um campo de fogo que se estendia entre 20m e 18.200 metros.

Canhão Vickers Armstrong Mark XIX 152,4mm em Copacabana.
(J. Montes)

O Museu está aberto ao público entre as 10h e as 18h, de terça a domingo, e a entrada em 2015 foi de R$6 por adulto. O público realmente entra em um portão vigiado que leva ao estacionamento da frente do forte. Esta é uma base militar ativa, portanto as instalações de um lado da fortaleza permanecem fechadas ao público. Um portão velho, com um guarda de uniforme vintage colorido, e um guichê de entrada, sinaliza a entrada pública da base antiga; no entanto, antes de chegar lá, existem vários prédios vigiados. O corredor leva a um prédio militar de três andares, onde encontramos várias exposições focadas em diferentes períodos e eventos da história do Exército Brasileiro. Os dois temas principais cobrem o Salão Colônia-Império e o Salão da República. O Salão Colônia-Império, inaugurado em 1996, apresenta a história do Exército Brasileiro relacionada ao período colonial, incluindo a ocupação e expansão brasileira e a gênese da força terrestre nacional além do período imperial, cobrindo a independência e a participação do Exército Brasileiro na Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai). O Salão da República, inaugurado em 1998, apresenta o Exército Brasileiro no regime republicano até 1945; abrange também a Rebelião Armada, a modernização do Exército Brasileiro, a contribuição do Marechal Rondon para o Brasil e a participação da Força Expedicionária Brasileira [na Segunda Guerra Mundial].

Uma das exposições dedicadas à Força Expedicionária Brasileira no Forte de Copacabana.
(J. Montes)

Atrás do edifício fica a entrada da fortaleza original, e os corredores levam ao quartel e às áreas de munição. As exposições imitam a vida dentro da fortaleza, com manequins encontrados na enfermaria, nos beliches e em outras áreas internas. O corredor leva a um mecanismo maciço e sistema de disparo usado pelas torres e pelos canhões. Siga as indicações para o telhado da fortaleza, onde a bela baía é claramente visível, e as torres blindadas contendo as enormes peças de artilharia dão uma sensação surreal. Além disso, no horizonte, há um número de navios cargueiros entrando nesta cidade costeira.


O forte funcionava como defesa costeira, então seus corredores são completados com várias exposições e peças de artilharia. Há canhões Hotchkiss de 5 canos e outras armas incomuns à vista. Um deles é o obus britânico Vickers Armstrong de 152,4mm. Os modelos exibidos aqui são do tipo XIX 1914/1917, adquiridos pelo Exército Brasileiro em 1940 dos EUA. Existem duas casamatas onde se diz que armas de 75mm já foram instaladas, e também há um pequeno restaurante com vista para a baía, onde uma boa xícara de café ou várias caipirinhas podem complementar a vista. A propósito, caipirinha é um coquetel nacional feito com cachaça, misturado com açúcar e limão.

Os 18 do Forte: Tenentes Eduardo Gomes, Siqueira Campos e Nílton Prado, civil Otávio Correia e soldados desconhecidos.

A guarnição liderou uma revolta em 1922. Na época, a cidade do Rio de Janeiro era a capital do Brasil, e o governo estava nas mãos de um governo central dominado pela classe oligarca dos cafeicultores e as forças armadas. O poder executivo foi desafiado por uma coalizão de comerciantes, banqueiros, trabalhadores de colarinho branco, industriais e outros grupos civis, além de oficiais militares subalternos, a maioria treinados na Europa*, e constituindo o que era conhecido como Tenentismo. Esta explodiu em 5 de julho de 1922, quando tenentes desencadearam um ataque à partir do forte contra o governo. O movimento deveria incluir várias outras instalações militares, mas, no final, apenas o Forte Copacabana, alguns elementos da Vila Militar, o Forte Vigia, a Escola Militar do Realengo, o 1º Batalhão de Engenharia, elementos da Marinha e do Exército realmente se revoltaram. As baterias do forte dispararam contra vários prédios importantes do governo, abrindo os ataques contra a República Velha. O governo respondeu despachando a 1ª Divisão do Exército, dois navios de guerra e um destróier para bombardear a base, com as posições rebeldes recebendo contra-fogo do dreadnaught Minas Geraes, e duas aeronaves da Marinha. A base finalmente se rendeu, com a resistência final feita na praia por 18 oficiais, liderados por Antonio Sequeira Campos e Eduardo Gomes. A artilharia de defesa costeira foi dissolvida em 1987 e a fortaleza foi desativada, assim como um posto de artilharia costeira. Em seguida, transformou-se no atual Museu do Exército Brasileiro e permanece hoje como um dos muitos pontos militares históricos da região. Em comparação com outras instalações, o museu é pequeno. Dada a sua localização e beleza, o Forte foi programado para sediar a maratona de natação e triatlo para os Jogos Olímpicos de Verão de 2016.

*Nota do Tradutor: Treinados por instrutores europeus (franceses) no Brasil.

Bibliografia recomendada:

Soldados da Pátria:
História do Exército Brasileiro 1889-1937.
Frank McCann, 2007
.

Soldados Salvadores.
Henry Hunt Keith, 1967.

A Evolução Militar do Brasil.
J. B. Magalhães, 1957.

Missão Militar Francesa de Instrução junto ao Exército Brasileiro.
General Souto Malan.


As forças armadas canadenses querem atrair recrutas encurtando e apertando suas saias dos uniformes

As Forças Armadas do Canadá estão considerando novas iniciativas de recrutamento, em um esforço para incluir mais mulheres em suas fileiras. (John D. McHugh/Getty)

Por J.D. Simkins, Military Times, 12 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de maio de 2020.

A falta de mulheres nas Forças Armadas Canadenses levou a novas idéias de recrutamento, que incluem a adição de saias mais curtas e justas, sapatos mais elegantes e campanhas de mídia social dignas de nota com slogans como: "Minhas bijuterias são minhas medalhas".

Já está com ânsia de vômito?

Se não, talvez um conceito de vídeo com uma mulher arremessando uma granada, acompanhado pelo slogan "Claro que jogo como uma garota, mas nunca erro", resolva.

Isto. Foi isto que renderam três anos de trabalho. Uma "Equipe dos Sonhos", cuja única missão de três anos era identificar onde as forças armadas poderiam fazer um trabalho melhor para atrair mulheres a se alistarem, apareceu com a idéia de referir-se às medalhas como "bling" (jargão para bijuteria).

Nós os condenamos por um trabalho nunca realizado, Equipe dos Sonhos.

Hoje, as mulheres representam apenas 16% das forças armadas canadenses, um número de oficiais militares canadenses espera elevar esse número para 25% até 2026, de acordo com documentos de estudo obtidos pelo Ottawa Citizen.

A Capitã Stef Pouliot se prepara para co-pilotar um vôo em um helicóptero CH-146 Griffon na Base das Forças Canadenses de Trenton, Ontário, 16 de junho de 2016. (Luke Hendry / The Intelligencer)

"No entanto, existem barreiras sistêmicas", escreveu a Equipe dos Sonhos, "tornando as forças armadas uma opção menos desejável para a maioria das jovens canadenses".

Causas substanciais para a escassez de mulheres nas fileiras - a prevalência de transtorno de estresse pós-traumático e assédio sexual, bem como a falta de funções técnicas disponíveis - foram mencionadas como tais barreiras, mas essas razões legítimas ainda eram um problema secundário para uma produção com pesada ênfase em moda e produção de vídeo.

"Não é um retrato especialmente lisonjeiro dos valores femininos", escreveu a colunista do National Post Marni Soupcoff em resposta ao estudo. Soupcoff comparou a abordagem "à piada da comediante Elayne Boosler sobre sua crença de que as mulheres são capazes de se envolver em combates mortais: tudo o que o general precisa fazer é ir até as mulheres e dizer: 'Você vê o inimigo ali? Eles disseram que vocês parecem gordas nesses uniformes."

Para abordar suas estranhamente prioritárias preocupações de moda, a Equipe dos Sonhos mirou o Comitê de Vestimenta das Forças Armadas do Canadá, um grupo decididamente de estilo livre "composto por homens de meia idade cuja perspectiva não reflete as tendências atuais entre os grupos demográficos", disse o relatório . A equipe concluiu que a instituição de um estado-maior de tomada de decisão sobre uniformes que incorpore a mesma composição de 25% da meta de recrutamento de mulheres do exército deve corrigir a deficiência de tendências modernizadas.


Outras sugestões, entrementes, incluem campanhas de marketing que retratam uma qualidade saudável do equilíbrio entre vida e trabalho, o qual aproximadamente 14 indivíduos na história militar jamais alcançaram.

Para demonstrar, a Equipe dos Sonhos discutiu um conceito de vídeo que começa com uma mulher removendo seu capacete militar. Em uma reviravolta chocante, ela se vê em um evento no qual "colegas de trabalho homens e mulheres se reúnem e concordam em fazer uma fogueira em uma praia", diz o relatório.

Incapaz de resistir àquelas vibrações de praias canadenses aclamadas internacionalmente, o grupo faz a transição para grelhar “marshmallows, rindo e relaxando” - como invariavelmente fazemos quando os marshmallows estão presentes.

"Eles podem estar superestimando o apetite feminino por reuniões pós-trabalho que se assemelham a um acampamento de verão", argumentou Soupcoff. "Mas isso é realmente o que os recrutas encontrariam quando se tornassem membros das forças armadas?"

Estudos sugerem que essa é, de fato, a experiência exata que os membros do serviço têm nas forças armadas - especialmente no Canadá, onde os soldados não podem se virar sem serem surpreendidos por um cenário tropical.

Na conclusão de seu próprio comercial da cerveja Corona, um colega de trabalho leva uma de suas colegas para casa, onde espera do lado de fora até que ela feche a porta com segurança. Isso, sugere a Equipe dos Sonhos, demonstraria "confiança nos colegas de trabalho".

O que a Equipe dos Sonhos não sabe, no entanto, é que esses cenários lembram surpreendentemente alguns dos piores programas comerciais da Rede das Forças Armadas que alguém que já foi mobilizado no exterior teve o desprazer de ver.

De volta à prancheta de desenhos, Equipe dos Sonhos.

Leitura recomendada:

O transporte de carga e o soldado feminino8 de janeiro de 2020.

HUMOR: As 4 Fases da Mulher Policial, 21 de janeiro de 2020.

Primeira oficial de infantaria feminina dos Fuzileiros Navais deixa o Corpo no momento que o Comandante clama por mais mulheres no Curso de Oficial de Infantaria, 27 de fevereiro de 2020.

Forças aéreas asiáticas recrutam mulheres pilotos de caça,19 de fevereiro de 2020.

As mulheres deveriam entrar em combate?8 de março de 2020.

PINTURA: Mulheres na Grande Marcha6 de março de 2020.

Combatentes Femininas Peshmerga: Da Linha de Frente à Linha de Retaguarda*16 de outubro de 2019.

GALERIA: Comandos femininas na Guarda Presidencial Palestina1º de fevereiro de 2020.