sexta-feira, 3 de julho de 2020

CLASSE CAVOUR. O gigante da marinha italiana!

Porta Aviões Cavour C 550

FICHA TÉCNICA
Comprimento: 244 m.
Calado: 8,7 m.
Boca: 39 m.
Deslocamento: 28100 toneladas.
Propulsão:4 turbinas a gás General Electric/ FiatAvio LM-2500 que produzem 88 Mw e geram 120000 Hp de força.
Velocidade máxima: 29 nós (53 km/h).
Autonomia: 12964 km.
Sensores: Radar Finmeccanica RAN-40L tridimensional com 400 km de alcance; Radar de controle de fogo Selex Spy-790 EMPAR com 100 km de alcance; radar de busca RAN-30X/I.
Armamento: 4 lançadores verticais Sylver A-43 para mísseis antiaéreo Áster-15 com 8 células cada (32 mísseis); 2 canhões Oto Melara 76/62 Rapid Gun; 3 canhões leves antiaéreos Oerlikon 25 de 25mm.
Aviação: 8 a 12 aviões de combate AV-8B Harrier plus ou F-35B Lightining II; 8 a 12 Helicópteros multifunção Westland/ Agusta EH-101 Merlin

DESCRIÇÃO
Por John Ironhead
O porta aviões da marinha italiana, conhecido como classe Cavour, é o maior navio de guerra em uso pela aquela marinha atualmente. O porta aviões Cavour irá complementar o outro navio desse tipo, classe Giuseppe Garibaldi, consideravelmente menor que o Cavour. 
A característica mais marcante desse porta aviões é sua flexibilidade de uso. Nele, além da ala aérea composta por aeronaves de asas fixas e rotativas, pode ser transportada uma grande quantidade de veículos  terrestres ou barcos de desembarque para apoio a tropas anfíbias. Para se ter uma ideia da capacidade de transporte desse navio, vou dar alguns dados. O Hangar tem 2500 m² e acomoda 24 tanques Aríete ou ainda, 50 veículos de combate de infantaria (IFV) Dardo, ou até 100 veículos leves Iveco LMV. São transportados, também, 416 fuzileiros navais. Some-se a isso tudo a ala aérea transportada pelo Cavour que é composta por 10 aviões de combate McDonnell Douglas AV-8B Harrier II + que é a versão mais bem equipada do velho jump jet, o primeiro avião de combate  jato a com decolagem e pouso vertical a entrar em serviço. Esta aeronave está em fase de substituição pelo caça de 5º geração F-35B que trará para o Cavour uma capacidade de combate bastante ampliada pois o F-35B é supersônico e projetado para ser difícil de ser detectado por radares inimigos e isso vai garantir que o corpo aéreo do cavou seja mais eficiente em missões de interceptação e superioridade aérea. Além dos seus jatos de combate, o Cavour tem um grupo de 12 de helicópteros Agusta/ Westland AW-101 que são empregados para missões anti-submarino, anti-superfície, na versão de transporte de tropas e salvamento e na versão de alerta aéreo antecipado AEW para detecção de alvos aéreos inimigos a maiores distancias que os sistemas de radar do navio.
O caça F-35B, versão de decolagem curta e pouso vertical do Lighting II.
O Cavour tem 244 metros de comprimento e um deslocamento de 28100 toneladas que são colocadas em movimento pela tradicional turbina a gás norte americana General Electric LM-2500. Essas turbinas foram fabricadas em conjunto com a empresa italiana FiatAvio de Turin em uma programa de transferência de tecnologia e quatro dessas turbinas estão montadas no Cavour, gerando 88000 hp de força que movimentam 2 hélices levando o Cavour a acelerar até uma velocidade máxima de 29 nós (53 km/h). Existem mais 6 geradores auxiliares a diesel Wartsila 12V200 que produzem 2200 kw cada.
A propulsão que empurra este grande navio é de projeto norte americano, mas produzido em conjunto com a industria local italiana. As confiáveis turbinas a gás  LM-2500.
A eletrônica embarcada no Cavour é composta por um sistema de sensores que inclui um potente radar tridimensional RAN-40L da Selex cujo alcance contra alvos aéreos é de 400 km e com capacidade de monitorar 500 alvos simultaneamente, além de elevada capacidade contra interferências eletrônicas (ECM). Para controle de fogo é usado um radar Selex Spy-790 EMPAR cujo alcance é de 100 km operando na banda C e o radar de busca RAN-30X/I, que tem como principal característica a eficiência contra mísseis anti-navio com perfil de voo sea skimming (misseis que voam rente ao mar, em baixíssima altitude)
Para guerra eletrônica existe um dispositivo de contramedidas eletrônicas ECM NETTUNO-4100, da empresa ELT e um sistema de medidas eletrônicas. Um sistema de lançamento de iscas contra mísseis que estejam atacando o navio foi instalado. Trata-se do sistema Oto Melara / Selex SCLAR-H que lança iscas sob a forma de foguetes de 105 e 118 mm. Esses sistema funciona de forma automática assim que uma ameaça é detectada.
O Cavour tem um sonar ativo de busca de minas WASS SNA-2000 montado na proa do casco que permite evitar, não só minas navais, mas também alerta sobre lançamento de torpedos contra a embarcação.


Navegando em um exercício militar, em primeiro plano pode ser visto o porta aviões Cavour e lá atrás, em segundo plano, o porta aviões nuclear Charles de Gaulle, da marinha francesa.
O armamento do Cavour é relativamente mais pesado que o normalmente encontrado nesse tipo de navio, os porta aviões, que costumam depender, de sua aviação como meio de defesa principal. Na verdade, o Cavour é bem equipado para se defender sozinho, particularmente contra ataques aéreos. Existem 4 lançadores verticais Sylver A-43 para 8 mísseis Áster-15 cada. Esse excelente míssil guiado por radar ativo é capaz de destruir aeronaves a 30 km de distancia. Ao todo são transportados 32 mísseis. Como arma de tubo, há dois canhões Oto Melara 76/62 de 76 mm capaz de disparar até 120 tiros por minuto, granadas que podem atingir de 8 a 18 km de distancia dependendo do tipo de granada. E finalizando há  3 canhões antiaéreos Oerlikon de 25 mm.
A marinha italiana opera dois navios aeródromo. O Giuseppe Garibaldi, (o menor navio da foto) e o mais moderno e maior, porta aviões da classe Cavour.
O porta aviões Cavour é um navio moderno que, embora não tenha a capacidade de transportar tantas aeronaves quanto os grandes porta aviões dos Estados Unidos, ou mesmo os novos porta aviões franceses e ingleses, é ainda um elemento muito válido na marinha italiana, dado a qualidade de seus aviões, armamentos e sensores. Sua flexibilidade em transportar veículos blindados e tropas, além de sua ala aérea o coloca em vantagem quando em missões de apoio a desembarque anfíbio sendo um importante recurso de combate dentro da marinha italiana e mesmo, da OTAN.




As grandes ambições da Pequena Esparta: as Forças Armadas Emiráticas atingem a maioridade

Aeronaves pertencentes à força aérea dos Emirados Árabes Unidos.
(PressTV)

Por Christian H. Heller, The Bridge, 17 de setembro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de julho de 2020.

Os Emirados Árabes Unidos fornecem um estudo de caso do século XXI sobre como desenvolver uma capacidade de defesa nacional. Com uma população de pouco menos de 10 milhões, os Emirados colocam em serviço uma força aérea, marinha e exército compostos por mais de 60.000 membros uniformizados com uma taxa de serviço per capita mais alta do aquela dos Estados Unidos. Seus líderes estudam em academias de prestígio em todo o mundo e consultores estrangeiros fornecem sugestões, aconselhamento e conhecimento técnico. Apelidada de "Pequena Esparta" pelo ex-secretário de Defesa Jim Mattis, sua crescente presença militar no Oriente Médio e na África é o resultado de anos de investimentos dedicados e demonstra ambições que superam a breve história da federação.[1] Os Emirados Árabes Unidos, juntamente com outros estados do Golfo, tais como Qatar e Bahrain, mantiveram laços estreitos com o Reino Unido e a Marinha Real por grande parte dos séculos XIX e XX. As pequenas cidades-estado permaneceram amplamente independentes e confiaram em Londres para resolver disputas internas e externas. As origens as forças armadas dos Emirados datam de apenas 70 anos com o estabelecimento dos Trucial Oman Scouts (Batedores Omanis Truciais) em 1951. Modelado na Legião Árabe da Jordânia, os scouts eram uma organização conjunta entre o Reino Unido e Abu Dhabi e se tornaram a Força de Defesa de Abu Dhabi (Abu Dhabi Defence Forceem 1965.[2] Três anos depois, Londres anunciou sua iminente recolocação de forças militares do Golfo Arábico e, em 1972, sete Xarifes diferentes se tornaram os Emirados Árabes Unidos.[3]

Um sargento do exército britânico instrui soldados dos Trucial Oman Scouts, o exército do deserto dos xarifes de Omã, no uso de modernas armas automáticas leves.
(The British Empire)

As forças modernas dos Emirados foram formadas em maio de 1976. Naquele ano, a constituição dos Emirados Árabes Unidos mudou para conceder ao governo federal o direito singular de criar forças e comprar armas, e as várias milícias individuais dos Xarifes se fundiram para formar uma força armada federal.[4] Apesar das mudanças legais e organizacionais, alguns governantes se orgulhavam de suas forças armadas como símbolos da soberania do estado e viam a federalização como Abu Dhabi flexionando sua força. As forças individuais mantiveram sua autonomia como comandos regionais e a força nacional existia apenas em nome.[5] Duas décadas depois, Dubai dissolveu suas forças armadas e os diferentes comandos regionais se fundiram para formar o Quartel-General em Abu Dhabi. O serviço nacional agora não enfrenta rivais competitivos internos de nenhuma cidade-estado individual, mas alguns xarifes ainda mantêm pequenas unidades para fins individuais.[6]

Um esquadrão de Scouts em Jahili, em 1968. No centro, Tim Courtenay, e o segundo da direita é Abdullah Ali Al Kaabi.
(Imagem cortesia do tenente-coronel Courtenay)

Fundações das Forças Armadas Emiráticas Modernas

Em 1991, Mohammed bin Zayed, dos Emirados Árabes Unidos, iniciou um acúmulo de armas depois que o Iraque invadiu o Kuwait. Nas últimas décadas, os acordos de armas emiráticos com os EUA aumentaram ao lado da influência de Zayed em Washington.[7] Bilhões de dólares em aquisições de Washington incluem caças F-16, helicópteros Apache, equipamentos de radar e sistemas de foguetes móveis.[8] Os gastos totais emiráticos em defesa atingiram 13,9 bilhões de dólares em 2018 e atingirão 16,4 bilhões de dólares em 2019.[9] O gasto total de armas emiráticos ficam atrás apenas da Arábia Saudita no Oriente Médio.[10]

Preocupações regionais compartilhadas, tais como grupos terroristas, Irã e o Estado Islâmico, oferecem amplas oportunidades para os EUA e os Emirados trabalharem juntos. A presença robusta de forças americanas no xarifado - cerca de 5.000 militares americanos e aeronaves avançadas como o F-22 operam nos Emirados Árabes Unidos - reforça o relacionamento.[11] A força aérea emirática tem sido fundamental para apoiar a coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico, onde as sortidas emiráticas ficaram atrás apenas daquelas dos EUA.[12] Essas missões, além de anos de cooperação no Afeganistão, fornecem a base para o que Anthony Zinni, ex-líder do Comando Central dos EUA, chama de "o relacionamento mais forte que os Estados Unidos mantêm no mundo árabe hoje".[13]

Um soldado das Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos (EAU) patrulha uma vila no Afeganistão em 7 de abril de 2011.
(DoD/Wikimedia)

Os Emirados Árabes Unidos estão reforçando sua capacidade industrial e de mão-de-obra doméstica para apoiar essas operações. O mostruário de armas da Exposição de Defesa Internacional de 2019 em Abu Dhabi apresentou veículos blindados e aeronaves de ataque leve construídos no país, bem como o anúncio de compras do governo no valor de US$ 5,4 bilhões.[14] Fundos governamentais de desenvolvimento de defesa, prêmios e investimentos em empresas locais e prêmios por avanços acadêmicos relacionados às forças armadas fazem parte do plano de aumentar a capacidade industrial de defesa.

Os Emirados Árabes Unidos iniciaram o recrutamento universal masculino em 2014 para criar coesão nacional e aumentar a mão-de-obra disponível.[15] Alguns comentaristas argumentam que o recrutamento militar obrigatório é uma ferramenta para construir o nacionalismo e reduzir a influência de grupos islâmicos entre os cidadãos dos emirados do norte, que são mais populosos que Abu Dhabi, mas dependem financeiramente da capital.[16]

Nesse sentido, o recrutamento obrigatório é muito usado como ferramenta de construção da nação e de aumento da mão-de-obra. Essa medida se encaixa nas iniciativas lideradas pelo governo em andamento, enfatizando a unidade nacional.[17] O programa faz sentido para um Estado do Golfo rico em recursos naturais e sem uma grande população na qual as forças armadas podem alocar seus equipamentos mais avançados. Embora a terceirização atraia conselheiros como o ex-chefe das forças especiais da Austrália e um número incerto de soldados e especialistas contratados, o "cidadão-soldado" por excelência é um pré-requisito para a liderança da instituição.[18]

Experiência operacional robusta

As tropas emiráticas foram mobilizadas para apoiar missões lideradas pelos EUA desde a Somália em 1992. As operações emiráticas recentes incluem mais de uma década de apoio à missão da OTAN no Afeganistão, a intervenção de 2011 no Bahrein, ao lado da Arábia Saudita, ataques aéreos e operações de contra-insurgência no norte da África e quatro anos de operações de combate e estabilidade no Iêmen.[19] A força emirática amadureceu no Iêmen, demonstrando avançadas capacidades ofensivas e de guerra especial. Em 2015, os Emirados Árabes Unidos capturaram a cidade portuária de Áden com o apoio de tropas sauditas e egípcias. 1.500 tropas iemenitas treinadas pelos sauditas e pelos Emirados apoiaram o ataque e capturaram aeródromos e bases nas proximidades.[20] No ano seguinte, 12.000 soldados iemenitas treinados e apoiados pelos Emirados forçaram a Al-Qaeda a sair de Mukalla, ao longo da costa sul do Iêmen.[21] Em 2018, os Emirados Árabes Unidos ajudaram a capturar Hodeidah como parte de uma coalizão árabe ao lado das tropas iemenitas por eles treinados na África.[22]

Os Emirados Árabes Unidos demonstraram uma forte capacidade de estabelecer parceiros locais e operar por meio de forças substitutas no Iêmen, enquanto aprendiam lições difíceis em operações de estabilidade e contraterrorismo.[23] Seus sucessos operacionais estão longe de serem impecáveis. Autoridades americanas e a Associated Press alegam que as vitórias emiráticas no sul do Iêmen ocorreram devido a suborno e pagamento aos líderes da Al-Qaeda.[24] Grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional, detalharam o uso de prisões secretas dirigidas pelas forças emiráticas e locais para manter a ordem e punir os dissidentes.[25] Ao largo do Iêmen, as forças emiráticas ocuparam a Ilha Socotra no Mar Vermelho, uma localização estratégica no Golfo de Áden.[26] Uma expansão na ilha poderia ter dado a Abu Dhabi controle significativo sobre uma rota marítima fortemente contestada.[27] Em 2018, no entanto, a Arábia Saudita intermediou um acordo para os Emirados Árabes Unidos para remover a maioria de suas forças de combate da ilha, o que parece ter sido honrado.[28]

A milícia do Cinturão de Segurança, apoiada pelos Emirados Árabes Unidos, perto de sua base ao norte de Áden, no Iêmen.
(Ghaith Abdul-Ahad/The Guardian)

Os Emirados Árabes Unidos demonstram uma abordagem multifacetada da política externa na região, combinando pressão militar, financeira e diplomática para obter acesso físico. A Somália, por exemplo, tem sido um campo de batalha entre os emiráticos e seus aliados sauditas contra o Catar e a Turquia como parte da atual crise do Golfo.[29] Catar e Turquia apóiam o governo em Mogadíscio, enquanto os emiráticos apóiam os governos independentes dos estados semi-autônomos. Principalmente, Catar e Turquia tendem a apoiar a Irmandade Muçulmana e os líderes islâmicos, enquanto a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos vêem essas forças como desestabilizadoras e fontes de terrorismo. Na Somalilândia, vista como "uma porta de entrada para as 100 milhões de pessoas de uma das economias de crescimento mais rápido da África, a Etiópia", os Emirados assinaram contratos de arrendamento por 25 anos para bases aéreas e navais.[30] Na Puntlândia, região sul, os Emirados apóiam as Forças Policiais Marítimas e alguns relatórios indicam a presença de uma base militar emirática.[31]

Depois que as relações pioraram entre os Emirados Árabes Unidos e Djibuti em 2015, os líderes do governo assinaram um acordo para usar o porto de Assab da Eritreia para apoiar suas operações no Iêmen.[32] Assab tem sido um local de palco para operações de aviação, patrulha marítima, vigilância e combate.[33] Essa "teia de bases" é uma importante ferramenta de projeção de força em toda a região do Golfo. [34] As forças emiráticas também empregam as bases para treinar tropas africanas ou iemenitas para operações locais e no exterior.

A ação militar emirática não pára na Península Arábica. Os Emirados Árabes Unidos, em conjunto com o Egito, são fortes apoiadores de Khalifa Haftar na Líbia, o líder da oposição que luta contra o governo internacionalmente reconhecido do país.[35] Abu Dhabi anteriormente se ofereceu para fornecer mísseis antiaéreos e artilharia a Haftar.[36] Em julho, mísseis antitanque americanos foram encontrados em um esconderijo na Líbia, mas os Emirados negam que tenham sido a fonte das armas.[37] Além disso, as tropas emiráticas provavelmente estão adquirindo experiência com veículos aéreos não-tripulados armados através do uso de drones fabricados na China.[38] Mais ao norte, no Mediterrâneo, a força aérea emirática realiza exercícios conjuntos com Israel, apesar do não-reconhecimento oficial entre os dois governos.[39]

Eventos atuais

Emirados Árabes Unidos e Sudão realizando exercícios militares conjuntos em 2017.
(Xinhua)

Os Emirados Árabes Unidos tiveram um grande papel na expulsão de Omar al-Bashir do Sudão. Ajudou a estabelecer um governo de transição na pequena nação e treinou 14.000 tropas sudanesas que mais tarde se juntaram à coalizão liderada pela Arábia Saudita no Iêmen.[40] Tanto o Catar quanto os Emirados enviaram bilhões de dólares ao Sudão como ajuda financeira para obter favores do governo. Quando os protestos estavam prestes a derrubar Bashir, Riad e Abu Dhabi ofereceram US$ 3 bilhões ao conselho militar de transição.[41] Parece que, pelo menos por enquanto, a influência dos Emirados Árabes Unidos venceu o páreo com uma necessidade limitada de ação militar.

Anúncios recentes de redesdobramentos em larga escala partindo do Iêmen indicam uma gama de possibilidades em relação à motivação real dos Emirados.[42] Muitos observadores acreditam que as redesdobramentos ajudarão os Emirados a posicionar melhor suas forças no Golfo para combater a agressão do Irã.[43] Se verdadeiro, esse motivo pode indicar uma estratégia coesa entre Riad e Abu Dhabi para equilibrar as atividades entre o Irã e o Iêmen. [44] A decisão de Abu Dhabi também pode indicar uma divisão entre as políticas sauditas e emiráticas, uma exibição impressionante do comedimento emirático, e deixa a Arábia Saudita isolada no Iêmen.[45] Após quatro anos de luta, os líderes militares podem acreditar que seus objetivos estratégicos de segurança portuária e a derrota da Al-Qaeda no Iêmen foram cumpridos. Essa visão de guerra de objetivo limitado se encaixaria confortavelmente na história contemporânea dos Emirados Árabes Unidos de treinar forças locais, atuando por meio de intermediários e controle costeiro de locais selecionados.


Autoridades emiráticas argumentam que treinaram 90.000 soldados locais para apoiar o cessar-fogo apoiado pela ONU conforme se retiram. Alternativamente, a retirada emirática pode ser "um reconhecimento tardio de que uma guerra devastadora que matou milhares de civis e transformou o Iêmen em um desastre humanitário não é mais vencível".[46] A medida também poderia ter o objetivo de reforçar a imagem dos Emirados Árabes Unidos nos EUA e de se distanciar da Arábia Saudita em meio ao crescente escrutínio que os legisladores estão colocando em acordos de armas com Riad.[47] Os números exatos que ficam para trás são desconhecidos, mas os Emirados manterão pelo menos suas instalações em Mukalla para continuar realizando operações de contraterrorismo.[48]

Avaliação futura

A década anterior demonstra a disposição e capacidade dos Emirados Árabes Unidos de usarem a força militar para combater ameaças - reais ou percebidas - longe das costas nacionais. Com parceiros dispostos e forças armadas locais, os Emirados provavelmente vêem suas operações como estabilizadoras para a região do Golfo mais perto de casa e uma demonstração de força nacional no exterior. O governo nacional vê expedições militares e atividades regionais como medidas positivas em casa. O alistamento militar obrigatório e o serviço militar visam construir coesão nacional, enquanto a expansão do porto ao longo do Mar Vermelho e da costa africana pode impulsionar o crescimento militar e econômico, contrariando a construção rival em locais como Duqm.[49]

As ações dos Emirados não são isentas de críticas, e seu envolvimento em guerras como no Iêmen enfrenta as mesmas críticas que a Arábia Saudita e os Estados Unidos.[50] No entanto, os Emirados Árabes Unidos demonstraram adequadamente sua capacidade de usar a diplomacia, ajuda financeira e força militar para promover seus interesses na região. Mais notavelmente, demonstrou essa capacidade como um estado relativamente jovem com uma força armada jovem. Suas capacidades de defesa doméstica mostram promessa de autoconfiança e sustentabilidade. Sua proximidade e disputas com o Irã, juntamente com incidentes marítimos recentes, apenas reforçam a necessidade de forças militares capazes disponíveis e prontas para operarem. O desaparecimento de um navio petroleiro baseado nos Emirados, vários ataques a embarcações perto do Estreito de Ormuz e tensões crescentes com o Irã lembram décadas de disputas territoriais entre o estado e o Irã.[51] O bairro da Pequena Esparta é tão comprimido e tenso quanto aquele da Grécia antiga, e Abu Dhabi está se posicionando para mais conflitos e maiores responsabilidades de segurança.

Christian Heller é oficial do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais com sete anos de liderança na comunidade militar e de inteligência, formado na Academia Naval com honras e na Universidade de Oxford.

Notas:

  1. Bill Law, “The Gulf’s ‘Little Sparta’ has big military ambitions", Middle East Eye, 20 de abril de 2017, acessado em https://www.middleeasteye.net/opinion/gulfs-little-sparta-has-big-military-ambitions.
  2. Trucial Oman Scouts Project”, Centro para Estudos do Golfo, Universidade de Exeter, acessado em https://socialsciences.exeter.ac.uk/iais/research/centres/gulf/research/tos/.
  3. J.E. Peterson e Jill Ann Crystal, "United Arab Emirates", Encyclopaedia Britannica, acessado em https://www.britannica.com/place/United-Arab-Emirates.
  4. Country Profile: United Arab Emirates (UAE), Biblioteca do Congresso - Divisão Federal de Pesquisa, acesso em https://www.marines.mil/Portals/1/Publications/UAE%20Profile.pdf, 24.
  5. Emirati Army”, GlobalSecurity, accessado em https://www.globalsecurity.org/military/world/gulf/uae-army.htm.
  6. Country Profile, 25.
  7. David D. Kirkpatrick, "The Most Powerful Arab Ruler Isn’t M.B.S. It’s M.B.Z.”, The New York Times, 2 de junho de 2019, acessado em https://www.nytimes.com/2019/06/02/world/middleeast/crown-prince-mohammed-bin-zayed.html.
  8. Adam Taylor, "UAE's Military Role in the Region Built with US Weapons", Security Assistance Monitor, 18 de março de 2015, consultado em https://securityassistance.org/blog/uae%E2%80%99s-military-role-region-built-us-weapons.
  9. “UAE raises its defence spending by 41% in 2019 federal budget”, Global Business Outlook, acessado em https://www.globalbusinessoutlook.com/uae-raises-its-defence-spending-by-41-in-2019-federal-budget/.
  10. Anthony Cordesman e Nicholas Harrington, "The Arab Gulf States and Iran: Military Spending, Modernization, and the Shifting Military Balance", Center for Strategic and International Studies, 4, 6, 45, acessado em https://csis-prod.s3.amazonaws.com/s3fs-public/publication/181212_Iran_GCC_Balance.Report.pdf.
  11. The United Arab Emirates (UAE): Issues for U.S. Policy”, Serviço de Pesquisa do Congresso, 3 de maio de 2019, 19, https://fas.org/sgp/crs/mideast/RS21852.pdf.
  12. Rajiv Chandrasekaran, “In the UAE, the United States has a quiet, potent ally nicknamed ‘Little Sparta’", Washington Post, 9 de novembro de 2014, acessado em https://www.washingtonpost.com/world/national-security/in-the-uae-the-united-states-has-a-quiet-potent-ally-nicknamed-little-sparta/2014/11/08/3fc6a50c-643a-11e4-836c-83bc4f26eb67_story.html?noredirect=on&utm_term=.abe21845ff02.
  13. Manuel Langendorf, “What are Arab states doing to counter Islamic State?”, The World Weekly, 12 de fevereiro de 2015, acessado em https://www.theworldweekly.com/reader/view/944/what-are-arab-states-doing-to-counter-islamic-state.
  14. DB Des Roches, “IDEX 2019 Highlights Gulf States’ Move to Develop Domestic Defense Industries,” The Arab Gulf States Institute in Washington, 11 de março de 2019, acessado em https://agsiw.org/idex-2019-highlights-gulf-states-move-to-develop-domestic-defense-industries/.
  15. Jon B. Alterman e Margo Balboni, “Citizens in Training: Conscription and Nation-building in the United Arab Emirates”, Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, 2017, acessado em https://csis-prod.s3.amazonaws.com/s3fs-public/publication/180312_CitizensInTraining_Executive_Summary.pdf?vdDxpslvJnDxL2JfFpTuO_KqadCXcd8O.
  16. Eleonora Ardemagni, “'Martyers’ for a Centralized UAE”, Carnegie Endowment for International Peace, 13 de junho de 2019, acessado em https://carnegieendowment.org/sada/79313.
  17. Eleonora Ardemagni, “Icons of the Nation: The Military Factor in the UAE’s Nation-Building”, Middle East Centre Blog, London School of Economics, 1º de fevereiro de 2019, acessado em https://blogs.lse.ac.uk/mec/2019/02/01/icons-of-the-nation-the-military-factor-in-the-uaes-nation-building/.
  18. Noah Browning e Alexander Cornwell, “UAE extends military reach in Yemen and Somalia”, Reuters, 13 de maio de 2018, acessado em https://www.reuters.com/article/uae-security-yemen-somalia/uae-extends-military-reach-in-yemen-and-somalia-idUSL8N1SI2QI, e Josh Wood, “Outsourcing War: How foreigners and mercenaries power UAE’s military”, Middle East Eye, 10 de julho de 2018, acessado em https://www.middleeasteye.net/news/outsourcing-war-how-foreigners-and-mercenaries-power-uaes-military.
  19. Alex Mello e Michael Knights, “West of Suez for the United Arab Emirates”, War on the Rocks, 2 de setembro de 2016, acessado em https://warontherocks.com/2016/09/west-of-suez-for-the-united-arab-emirates/.
  20. Michael Knights e Alexandre Mellow, “The Saudi-UAE War Effort in Yemen (Part 1): Operation Golden Arrow in Aden”, The Washington Institute, 10 de agosto de 2015, acessado em https://www.washingtoninstitute.org/policy-analysis/view/the-saudi-uae-war-effort-in-yemen-part-1-operation-golden-arrow-in-aden.
  21. Adam Baron, “The Gulf Country That Will Shape the Future of Yemen”, The Atlantic, 22 de setembro de 2018, acessado em https://www.theatlantic.com/international/archive/2018/09/yemen-mukalla-uae-al-qaeda/570943/.
  22. Mohammed Ghobari, “Saudi-led coalition seizes large areas of Yemen’s Hodeidah airport: UAE”, Reuters, 19 de junho de 2018, acessado em https://www.reuters.com/article/us-yemen-security/saudi-led-coalition-captures-large-areas-of-yemens-hodeidah-airport-uae-idUSKBN1JF0FJ, e Peter Salisbury, “The New Front in Yemen: What’s at Stake in Hodeidah”, Foreign Affairs, 27 de junho de 2018, acessado em https://www.foreignaffairs.com/articles/middle-east/2018-06-27/new-front-yemen.
  23. Zachary Laub e Neil Partrick, “How the UAE Wields Power in Yemen”, Council on Foreign Relations, 22 de junho de 2018, acessado em https://www.cfr.org/interview/how-uae-wields-power-yemen.
  24. Maggie Michael, “US official says UAE paid yemen tribes to push al-Qaida out”, Associated Press, 15 de agosto de 2018, acessado em https://www.apnews.com/2c623f4e86894ce991c2996d6043968a.
  25. Timeline: UAE’s role in southern Yemen’s secret prisons”, Anistia Internacional, 12 de julho de 2018, acessado em https://www.amnesty.org/en/latest/news/2018/07/timeline-uaes-role-in-southern-yemens-secret-prisons/.
  26. Aziz El Yaakoubi, “Yemen government accuses UAE of landing separatists on remote island”, Reuters, 9 de maio de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-yemen-security/yemen-government-accuses-uae-of-landing-separatists-on-remote-island-idUSKCN1SF0EM.
  27. Arrival of UAE-backed forces stokes tensions on Yemen’s Socotra", Middle East Eye, 4 de julho de 2019, acessado em https://www.middleeasteye.net/news/arrival-uae-backed-forces-stokes-tensions-yemens-socotra.
  28. UAE military withdraws from Yemen’s Socotra under Saudi deal”, Middle East Eye, 18 May 2018, acessado em https://www.middleeasteye.net/news/uae-military-withdraws-yemens-socotra-under-saudi-deal.
  29. Alexander Cornwell, “UAE ends programme to train Somalia’s military”, Reuters, 15 de abril de 2018, acessado em https://www.reuters.com/article/us-emirates-somalia-military/uae-ends-programme-to-train-somalias-military-idUSKBN1HM0Y5.
  30. The ambitious United Arab Emirates”, The Economist, 6 de abril 2018, acessado em https://www.economist.com/middle-east-and-africa/2017/04/06/the-ambitious-united-arab-emirates.
  31. Somalia: UAE confirms to continue supporting Puntland troops”, Garowe Online, 14 de abril de 2018, acessado em https://www.garoweonline.com/en/news/puntland/somalia-uae-confirms-to-continue-supporting-puntland-troops, e “Puntland – Security”, GlobalSecurity, https://www.globalsecurity.org/military/world/war/puntland-security.htm.
  32. Martin Plaut, “The United Arab Emirates in the Horn of Africa”, Eritrea Hub, 7 de novembro de 2018, acessado em https://eritreahub.org/the-united-arab-emirates-in-the-horn-of-africa.
  33. Neil Melvin, “The Foreign Military Presence in the Horn of Africa Region”, SIPRI, abril de 2019, acessado em https://sipri.org/sites/default/files/2019-04/sipribp1904.pdf.
  34. Yemen: The UAE Trades Its Involvement in the Yemen Conflict for a Stronger Regional Posture”, Stratfor, 3 de julho de 2019, acessado em https://worldview.stratfor.com/article/yemen-united-arab-emirates-uae-trades-involvement-yemen-conflict-stronger-regional-role.
  35. Aziz El Yaakoubi, “Haftar’s ally UAE says ‘extremist militias’ control Libyan capital”, Reuters, 2 de maio de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-libya-security-emirates/haftars-ally-uae-says-extremist-militias-control-libyan-capital-idUSKCN1S80AO.
  36. Egypt, UAE send military support to Libya’s Haftar”, Middle East Monitor, 22 de junho de 2019, acessado em https://www.middleeastmonitor.com/20190622-egypt-uae-send-military-support-to-libyas-haftar/.
  37. Declan Walsh, “United Arab Emirates Denies Sending American Missiles to Libya”, The New York Times, 2 de julho de 2019, acessado em https://www.nytimes.com/2019/07/02/world/united-arab-emirates-denies-sending-american-missiles-to-libya.html.
  38. Tom Kington, “UAE allegedly using Chinese drones for deadly airstrikes in Libya”, DefenseNews, 2 de maio de 2019, https://www.defensenews.com/unmanned/2019/05/02/uae-allegedly-using-chinese-drones-for-deadly-airstrikes-in-libya/.
  39. Gili Cohen, “Israeli Air Force Holds Joint Exercise With United Arab Emirates, U.S. and Italy”, Haaretz, 29 de março de 2017, acessado em https://www.haaretz.com/israel-news/israeli-air-force-holds-joint-exercise-with-united-arab-emirates-1.5454004, e Anna Ahronheim, “Israel Air Force in Greece as Part of Iniohos 2019”, Jerusalem Post, 8 de abril de 2019, acessado em https://www.jpost.com/Israel-News/Israel-Air-Force-in-Greece-as-part-of-Iniohos-2019-585993.
  40. Michael Georgy, Maha El Dahan, e Khalid Abdelaziz, “Special Report: Abandoned by the UAE, Sudan’s Bashir was destined to fall”, Reuters, 3 de julho de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-sudan-bashir-fall-specialreport/special-report-abandoned-by-the-uae-sudans-bashir-was-destined-to-fall-idUSKCN1TY0MV.
  41. Elizabeth Dickinson, “Exporting the Gulf Crisis”, War on the Rocks, 28 de maio de 2019, acessado em https://warontherocks.com/2019/05/exporting-the-gulf-crisis/.
  42. Aziz El Yaakoubi e Lisa Barrington, “Exclusive: UAE scales down military presence in Yemen as Gulf tensions flare”, Reuters, 28 de junho de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-yemen-security-exclusive/exclusive-uae-scales-down-military-presence-in-yemen-as-gulf-tensions-flare-idUSKCN1TT14B.
  43. The UAE begins pulling out of Yemen”, The Economist, 4 de julho de 2019, acessado em https://www.economist.com/middle-east-and-africa/2019/07/04/the-uae-begins-pulling-out-of-yemen.
  44. Aziz El Yaakoubi e Mohamed Ghobari, “Saudi Arabia moves to secure Yemen Red Sea ports after UAE drawdown”, Reuters, 11 de julho de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-yemen-security/saudi-arabia-moves-to-secure-yemen-red-sea-ports-after-uae-drawdown-idUSKCN1U61YJ.
  45. Elana DeLozier, “UAE Drawdown May Isolate Saudi Arabia in Yemen”, The Washington Institute, 2 de julho de 2019, acessado em https://www.washingtoninstitute.org/policy-analysis/view/uae-drawdown-in-yemen-may-isolate-saudi-arabia.
  46. Declan Walsh e David D. Kirkpatrick, “U.A.E. Pulls Most Forces From Yemen in Blow to Saudi War Effort”, The New York Times, 11 de julho de 2019, acessado em https://www.nytimes.com/2019/07/11/world/middleeast/yemen-emirates-saudi-war.html.
  47. Ali Hussein Bakeer e Giorgio Cafiero, “The UAE’s Yemen withdrawal leaves Saudi Arabia exposed”, Middle East Eye, 22 de julho de 2019, acessado em https://www.middleeasteye.net/opinion/how-will-riyadh-cope-uaes-yemen-withdrawal.
  48. James Dorsey, “UAE Withdraws From Yemen”, Lobe Log, 6 de julho de 2019, acessado em https://lobelog.com/uae-withdraws-from-yemen/.
  49. Christian Heller, “U.S. Secures Access to Oman’s Crowded Ports”, The Arab Gulf States Institute in Washington, 6 de maio de 2019, acessado em https://agsiw.org/u-s-secures-access-to-omans-crowded-ports/.
  50. Khalil al-Anani, “The UAE’s empire of sand”, Middle East Eye, 18 de junho de 2019, acessado em https://www.middleeasteye.net/opinion/little-sparta-uaes-empire-sand.
  51. Noura S Al-Mazrouei, “Disputed Islands between UAE and Iran”, ETHzurich Center for Security Studies, outubro de 2015, acessado em https://css.ethz.ch/en/services/digital-library/publications/publication.html/194095.

Bibliografia recomendada:




Leitura recomendada:

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Alemanha dissolve unidade de elite das forças especiais por preocupações com extremistas de direita


Pela Associated Press, Fox News, 1º de julho de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 2 de julho de 2020.

Foi permitido que uma cultura de extremismo de direita se desenvolvesse atrás de um "muro de sigilo", diz a ministra da Defesa.

A ministra da Defesa da Alemanha dissolveu uma companhia de forças especiais na quarta-feira, dizendo que uma cultura de extremismo de direita foi permitida de se desenvolver por trás de um "muro de sigilo".

Distintivo do Kommando Spezialkraefte (KSK).

A ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, disse a repórteres que a "liderança tóxica" na companhia promoveu uma atitude de extrema-direita entre alguns membros da unidade Kommando Spezialkraefte, ou KSK.

Alguns dos 70 soldados da unidade serão distribuídos entre as outras três companhias de combate do KSK, enquanto “aqueles que deixaram claro que são parte do problema e não parte da solução devem deixar o KSK”, afirmou ela.

ARQUIVO - Nesta foto de arquivo de 5 de fevereiro de 2004, soldados do Kommando Spezialkraefte (KSK), as forças especiais da Bundeswehr alemã participam de um exercício de treinamento em Calw, no sul da Alemanha. A ministra da Defesa da Alemanha planeja reestruturar a unidade de forças especiais do país após inúmeras alegações de extremismo de extrema-direita. A ministra da Defesa Annegret Kramp-Karrenbauer convocou uma conferência de imprensa para quarta-feira, 1º de julho de 2020, para falar sobre uma "análise estrutural" da unidade KSK, seguindo uma análise que ela ordenou em maio. (Foto AP/Thomas Kienzle, Arquivo)

Todo o treinamento e emprego da organização estão sendo reduzidos à medida que a investigação sobre o extremismo continua e as reformas são implementadas.

Isto chega num momento de preocupações mais amplas que a Alemanha não fez o suficiente para combater o extremismo de direita dentro de suas forças armadas, a Bundeswehr, em geral.


Kramp-Karrenbauer enfatizou, no entanto, que ela achava que a reforma era o caminho certo e não a dissolução de toda a unidade, dizendo “precisamos do KSK".

"A grande maioria dos homens e mulheres no KSK e na Bundeswehr como um todo são leais à nossa constituição, sem ses ou mas", disse ela.

O KSK foi formado como uma unidade do exército em 1996, com foco em operações antiterroristas e resgate de reféns de áreas hostis. Serviu no Afeganistão e nos Bálcãs, e suas operações são mantidas em segredo.

A ministra da Defesa Annegret Kramp-Karrenbauer (CDU) chega em uma conferência de imprensa sobre a reforma do Comando das Forças Especiais (KSK), usando proteção para boca e nariz, em Berlim na Alemanha, quarta-feira, 1º de julho de 2020. Desde 2017, o KSK vem ganhando manchetes por causa de vários casos de extremismo de direita. Um soldado suspeito até mesmo tinha um arsenal enterrado. A Ministra da Defesa, portanto, desenvolveu um conceito de reforma para combater as tendências extremistas. (Kay Nietfeld/dpa via AP)

Investigadores militares estão investigando a unidade desde que um grupo de emissoras públicas alemãs relatou em 2017 que em uma festa de despedida, os membros exibiram a saudação de Hitler, ouviram música extremista de direita e participaram de um jogo que envolvia arremessar a cabeça de um porco . Em janeiro, as forças armadas informaram que 20 soldados estão sob suspeita de serem extremistas de direita.

Em maio, o chefe da unidade, General-de-Brigada Markus Kreitmayr, disse aos soldados que ele não toleraria o extremismo nas fileiras.

Naquele mês, Kramp-Karrenbauer estabeleceu uma comissão independente para investigar o KSK e propor reformas, depois que um esconderijo de armas, explosivos e munições foi encontrado em uma das casas dos suspeitos extremistas na Saxônia, que ela disse revelar uma "nova dimensão" para o problema.

Exercício de resgate de reféns do KSK em sua base em Calw, no sul da Alemanha, em 2014.

Ela disse que a investigação revelou "graves deficiências" na manutenção de registros da unidade e que havia muitos itens ausentes, incluindo munições e explosivos. Não ficou claro se as munições foram usadas, deixadas para trás após as operações ou furtadas, disse ela.

"Não podemos descartar nada disso e não vamos", disse ela.

Foi solicitado um inventário geral para incluir todos os equipamentos e suprimentos do KSK.

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GALERIA: A revolta anti-comunista na Alemanha Oriental de 195326 de fevereiro de 2020.

FOTO: Forças Especiais do Exército Livre da Síria em Alepo

Forças especiais do Exército Livre da Síria durante um raide a um reduto do PKK em Alepo.

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LIVRO: Um Exército no Alvorecer

An Army at Dawn: The War in North Africa 1942-43.
Rick Atkinson.

Por R. A Forczyk, 26 de dezembro de 2002.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de agosto de 2019.

Resenha do livro “An Army at Dawn: The War in North Africa 1942-43”.

O exército que não conseguia atirar direito (4 de 5 estrelas)

Artilharia americana em ação na Tunísia.

Em An Army at Dawn, o autor premiado com o Pulitzer, Rick Atkinson, cobre a campanha norte-africana desde os desembarques da Operação Torch (Tocha) em novembro de 1942 até o colapso final do Eixo na Tunísia em maio de 1943. Atkinson combina pesquisa meticulosa com um bom estilo de escrita para produzir facilmente o relato mais legível sobre esta campanha muitas vezes negligenciada. A principal conclusão do autor é que essa campanha marcou "... uma mudança sutil no equilíbrio de poder dentro da aliança anglo-americana; os Estados Unidos era dominante agora, em virtude do poder e do peso..." No entanto, esta conclusão não é apoiada pela narrativa do autor. Os aliados sofreram mais de 75.000 baixas na campanha da Tunísia, das quais 50% eram da Commonwealth (Comunidade Britânica), 26% eram franceses e 24% eram americanos. Além disso, o desempenho inicial de combate do Exército dos EUA não foi impressionante, e Truscott, um dos melhores comandantes americanos da guerra, classificou a campanha norte-africana de "um desempenho medíocre".

Prisioneiros-de-guerra americanos capturados pelo Afrikakorps na Tunísia, depois do desastre do Passo de Kasserine, 1943.

Atkinson mostra como a campanha do Norte da África emergiu como uma exigência ad hoc, baseada principalmente em considerações políticas e atirada apressadamente em sete semanas. O plano da TORCH previa uma ocupação conjunta anglo-americana da Argélia e do Marrocos da França de Vichy e, esperançosamente, sem resistência. De imediato, a TORCH demonstrou a falta de preparo deste Exército Americano e de seus líderes para a guerra. Os franceses de Vichy resistiram por três dias e mataram 526 americanos. Tentativas de tomar os portos de Oran e de Argel terminaram como desastres; os franceses abriram fogo e praticamente aniquilaram os dois batalhões americanos nessas operações. Felizmente, a vontade de lutar dos franceses de Vichy desmoronou após três dias e o resto da TORCH se tornou uma ocupação sem oposição. Atkinson escreve: "A verdade é que um Exército inexperiente e desajeitado havia chegado ao Norte da África com pouca noção de como agir como uma potência mundial. O equilíbrio da campanha - na verdade, o equilíbrio da guerra - exigiria aprender não apenas como lutar, mas como governar."

Desembarque aliado no Norte da África sob controle da França de Vichy, Operação Torch, 8 de novembro de 1942.

Antes que o exército americano tivesse muita chance de avaliar seu desempenho na Argélia e no Marrocos, Eisenhower ordenou que as forças aliadas ocupassem a Tunísia. No entanto, a resposta alemã à TORCH foi surpreendente; eles apressaram paraquedistas e tanques rapidamente para a Tunísia. Os aliados demoraram para ser mover para a Tunísia e as forças que eles movimentaram foram prejudicadas pelo fato de que "poucas ações foram tomadas após os desembarques iniciais, e apenas trabalho superficial de estado-maio estava disponível no terreno, logística e apoio aéreo na Tunísia."

O resultado foi um rastejo tépido na Tunísia, em vez de uma investida ousada e - não pela última vez na guerra - a improvisação brilhante permitiu que os alemães frustrassem o plano dos Aliados. Atkinson coloca grande parte da culpa pelo fracasso em Eisenhower:

"Na verdade, ele passou pelo menos três quartos do seu tempo se preocupando com questões políticas, e essa pré-ocupação serviu mal à causa aliada. Se ele tivesse deixado de lado todas as distrações para se concentrar em tomar Túnis com o propósito fixo de um capitão de combate, os próximos meses poderiam ter sido diferentes."

Tropas americanas a bordo de uma embarcação de desembarque em direção às praias de Oran, na Argélia, durante a Operação Torch, novembro de 1942.

Em vez de terminar a campanha cedo, os Aliados tiveram que se contentar com uma batalha de atrito de seis meses. De fato, os alemães foram capazes de ganhar temporariamente a iniciativa e infligiram uma série de surras nas forças anglo-americanas em lugares como Tebourba, Medjez, Longstop Hill, Passo de Faid e Sidi Bou Zid. Os resultados foram chocantes. Os tanques norte-americanos atacaram continuamente em plena luz do dia em campo aberto e foram massacrados por eficientes artilheiros antitanques alemães. Em Sidi Bou Zid, a 2-1 Armor Battalion (2ª Companhia do 1º Batalhão Blindado) atacou com música tocando nos alto-falantes e perdeu todos os 52 tanques. O Exército dos EUA na Tunísia lutou com uma série de desvantagens: sob comando britânico, com unidades engajadas por partes, empregando doutrina defeituosa com armas inadequadas. O Exército dos EUA lutou 13 grandes engajamentos no norte da África e teve apenas uma vitória clara: a Batalha de El Guettar.

O relato de Atkinson não agradará aos leitores que preferem a hagiografia do tipo "Band of Brothers"; havia vilões e heróis na chamada "Greatest Generation" (Mais Grandiosa Geração). Atkinson observa que "atirar em árabes tornou-se um esporte em algumas unidades..." e houve "casos contínuos de estupro nas áreas avançadas contra mulheres árabes". Tropas americanas bêbadas aterrorizaram algumas aldeias e as taxas de DST na Tunísia foram extremamente altas. A liderança americana na Tunísia também estava gravemente em falta, particularmente Fredendall, o primeiro comandante do II Corpo. Embora avaliado por George C. Marshall como "um treinador capaz", Fredendall revelou-se um incompetente e covarde moral. Após o desastre de Kasserine, Patton substituiu Fredendall, que Atkinson vê como uma benção mista. Os fãs de Patton podem ficar desanimados com a avaliação de Atkinson de que "por todo o melodrama de Patton, sua influência no espírito e na disciplina do II Corpo foi marginal". Além disso, o plano tático de Patton no segundo engajamento de El Guettar, no final de abril de 1943, foi "muito falho" e resultou em mais de 3.000 baixas em menos de uma semana.


Houve alguns pontos positivos no estado deplorável do Exército dos EUA na campanha norte-africana. Atkinson observa que a Artilharia de Campanha teve um bom desempenho, assim como os Rangers. Atkinson observa que a incursão dos blindados americanos no aeródromo de Djedeïda, em novembro de 1942, destruiu 37 aviões alemães - provavelmente o único grande sucesso de combate para o diminuto tanque Stuart na Segunda Guerra Mundial. Os americanos também desfrutaram de uma vantagem na inteligência de comunicações.

Atkinson falha em argumentar que a participação dos EUA na campanha tunisiana afetou o equilíbrio relativo de poder na aliança anglo-americana. De fato, sua narrativa demonstra que os americanos eram os parceiros menores na Tunísia, com a maior parte das tropas vindas dos exércitos da Commonwealth e da França. Outros fatores, como o Lend-Lease (Empréstimo e Arrendamento) e a participação americana na Batalha do Atlântico, tiveram muito mais impacto sobre a natureza da aliança do que um desdobramento terrestre simbólico. Será que Atkinson realmente acredita que, se nenhuma tropa americana tivesse lutado na Tunísia, isso teria alterado muito a posição dos EUA no mundo? No entanto, o relato de Atkinson é certamente a narrativa mais completa e interessante disponível sobre a campanha norte-africana de 1942-1943.

Sobre o autor:

O Tenente-Coronel Dr. Robert Forczyk com seu uniforme de tanquista.

O Tenente-Coronel Dr. Robert Forczyk é PhD em Relações Internacionais e Segurança Nacional pela Universidade de Maryland e possui uma sólida experiência na história militar européia e asiática. Ele se aposentou como tenente-coronel das Reservas do Exército dos EUA, tendo servido 18 anos como oficial de blindados nas 2ª e 4ª divisões de infantaria dos EUA e como oficial de inteligência na 29ª Divisão de Infantaria (Leve). O Dr. Forczyk é atualmente consultor em Washington, DC.

Bibliografia recomendada:

Operation Torch 1942:
The invasion of French North Africa.
Brian Lane Herder e Darren Tan.

US Soldier versus Afrikakorps Soldier.
David Campbell.

Leitura recomendada:



LIVRO: Forças Terrestres Chinesas, 29 de março de 2020.