terça-feira, 3 de março de 2020

Soldados testam tecnologia israelense para impedir fogo-amigo

Um soldado mira usando a versão atual, montada em um fuzil, do dispositivo Safe Shoot, que avisa o usuário quando ele está mirando em um soldado amigo.

Por Sydney J. Freedberg Jr. e Arie Egozi, Network and Cyber, 2 de março de 2020.

Tradução Filipe A. Monteiro, 3 de março de 2020.

Soldados dos EUA e do Reino Unido experimentaram o Safe Shoot feito em Israel em exercício de campo em Fort Benning. Os resultados foram... mistos.

FORT BENNING: Luz vermelha no seu fuzil? Não atire. Luz verde? Fogo à vontade. O dispositivo Safe Shoot (Tiro Seguro) feito em Israel é simples assim - em teoria. Nos exercícios de campo aqui em Fort Benning, foi um pouco mais complicado.

"Funcionou muito bem até cair do fuzil", um soldado americano, de pé no bosque da Geórgia, com seus companheiros de grupo de combate, enquanto passavam por seu último ataque simulado.

Veja, a versão do Safe Shoot que os soldados testaram é anexado ao cano do seu fuzil. Lá, ele calcula não apenas sua posição precisa, mas a direção em que você está mirando.


Todos os dispositivos em uma área formam uma rede sem fio, compartilhando suas posições e orientações. Então, se o software da sua arma calcular que você está mirando perigosamente perto de outro usuário - mesmo que não possa vê-los através de (por exemplo) folhagem ou paredes - ele exibirá uma luz vermelha de aviso.

Há também uma campainha de aviso opcional, que você pode abaixar o volume ou desativar completamente se estiver tentando ser furtivo.

Os representantes da empresa aqui enfatizaram que o dispositivo não impede que o soldado dispare sua arma. O ser humano sempre tem controle total sobre atirar ou não. Eles também enfatizaram que esta é uma versão inicial, que eles trouxeram para o Experimento do Guerreiro Expedicionário do Exército (Army Expeditionary Warrior ExperimentAEWE) aqui, bem como para um evento anterior do Corpo de Fuzileiros Navais em Quântico, para obter feedback de atiradores de verdade.

O feedback sobre o dispositivo foi vívido, sem filtros - e misto.

Um GC britânico revisa seu último ataque simulado durante o Exercício do Guerreiro Expedicionário do Exército em Fort Benning.

"Quando estou em contato, é a última coisa que penso", zombou um comandante de seção britânico visitante. A luz de advertência é quase impossível de ver à luz do dia, mesmo na floresta sombria, disse ele aos graduados do Exército dos EUA e a civis reunindo feedback. De qualquer forma, ele acrescentou que, em uma equipe pequena, todos vocês devem conhecer a localização um do outro e nunca devem atirar sem identificar positivamente que o alvo em sua mira é realmente hostil.

Talvez os tanques possam usá-lo, acrescentou. (De fato, os israelenses oferecem uma versão de longo alcance que se aplica a veículos blindados). Não a infantaria.

É muito volumoso, disse outro soldado do Reino Unido. Isso atrapalha.

E se, um dos americanos perguntou, em vez de um dispositivo separado que você montou no seu fuzil, a função Safe Shoot fosse incorporada à sua mira?

Os soldados britânicos disseram que seria muito melhor.

E se drones amigos fossem adicionados à rede, para que o dispositivo Safe Shoot pudesse dizer em quais não devemos atirar?

Sim, disse o comandante de seção. Isso seria útil.

Agora, o Reino Unido participa do exercício AEWE - e os EUA enviam soldados para o equivalente no Reino Unido - precisamente para dar a cada exército um ponto de vista alternativo. Vale a pena notar que o Exército britânico se orgulha de uma tradição de pontaria com mais de um século, décadas de experiência em contra-insurgência do Iraque à Irlanda e, em muitos lugares, um desprezo pela dependência americana em dispositivo eletrônicos.

Tropas praticam assaltar um prédio coberto de fumaça enquanto um observador observa.

As reações dos soldados americanos foram mais entusiasmadas. Eles também disseram aos observadores do exercício que preferiam ter o Safe Shoot como um recurso incorporado à mira já existente, e não como um dispositivo separado: conectá-lo a fuzis já enfeitados com miras e telêmetros, e mantê-lo conectado, foram problemas crônicos. (Nem todo mundo recebeu a mensagem, um representante da empresa me disse que você deve montá-la no lado esquerdo do seu trilho Picatinny). E não havia o suficiente para fornecer um para cada soldado no exercício. Mas mesmo assim, um comandante de GC americano me disse depois, que ele e seus homens definitivamente acharam útil ter essa camada extra de proteção contra incidentes de fogo amigo.

Esse é um tópico que as forças armadas dos EUA levam muito a sério. Depois que um GC americano invadiu um prédio ocupado por jogadores "inimigos", o ar se encheu de nuvens verdes de granadas de fumaça e o zumbido agudo dos equipamentos MILES dos soldados - uma espécie de laser tag militarizado - dizendo que eles foram baleados. Um sargento-observador dissecou o desempenho do GC depois. Você estava com o seu atirador de GC na posição errada, disparando por cima do seu elemento de ataque, disse o sargento, e ele não tinha o Safe Shoot. É perfeitamente possível que ele tenha atirado em alguns de vocês, não no inimigo.

Esse problema só vai piorar se lutarmos contra os russos, um especialista em Fort Benning me disse sobre as reclamações dos alarmes do MILES: eles começaram a usar um padrão de camuflagem quase indistinguível do nosso.

Um representante da empresa segura o dispositivo Safe Shoot enquanto os soldados se preparam para um treinamento de assalto urbano em segundo plano.

Mais de 25% dos soldados mortos ou feridos em guerras recentes foram atingidos por “fogo amigo” do seu próprio lado, o ex-General de Brigada Amir Nadan das das FDI (Forças de Defesa de Israel) disse ao nosso correspondente israelense, Arie Egozi. Nadan, que comandava paraquedistas e unidades de elite na volátil fronteira norte com o Líbano e a Síria, agora é o CEO da Safe Shoots.

A empresa oferece versões da tecnologia subjacente, chamada Green Shield (Escudo Verde), para veículos terrestres, helicópteros e drones, além de soldados de infantaria a pé, disse Nadan. (Existe até uma versão sendo comercializada para caçadores nos EUA). Isso permite que toda a força forme uma rede que os avise quando eles estiverem mirando acidentalmente um no outro. "Depois que a infantaria, que é praticamente o elemento mais venerável, for identificada", ele disse a Arie, "todas as outras unidades, armas e forças terão que considerar e se referir à sua posição".

O objetivo não é desacelerar as operações, mas acelerá-las sem aumentar o risco de fogo amigo. "Ao eliminar a necessidade de hesitar ao tomar decisões de atirar/não atirar, o Safe Shoot [dispositivo] oferece maior liberdade de operação", disse Nadan. "Em geral, saber onde estão suas tropas melhora significativamente a consciência situacional geral, a flexibilidade e a eficácia de comanda".

A empresa já está trabalhando para miniaturizar ainda mais o sistema, disseram-me seus representantes em Fort Benning, mostrando-me uma amostra do sistema de última geração. Essa versão divide o atual dispositivo montado no fuzil em dois dispositivos menores: um transponder de sete onças (198g) usado no colete do soldado, que transmite sua localização; e um pequeno dispositivo no cano do fuzil, pesando menos de duas onças (50 gramas), que determina exatamente para onde sua arma está apontando.

A empresa israelense Safe Shoot oferece dispositivos de prevenção de fogo amigo para a infantaria, veículos terrestres e aeronaves. (Gráfico Safe Shoot Ltd.)

Por enquanto, os representantes do Safe Shoot reconheceram que o dispositivo deles depende do GPS - ou seu equivalente russo, GLONASS. Essa é uma grande limitação, porque o sinal do Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning System, GPS) pode ser bloqueado por interferência de radio-frequência inimiga ou por obstáculos físicos. Aqui em Benning, por exemplo, não funcionava dentro dos edifícios de concreto armado da vila simulada, apenas no bosque.

Mas a empresa está trabalhando para reunir dados de uma "ampla gama de sensores", disse Nadan, para que versões futuras não dependam do GPS. Para a versão americana especificamente, o objetivo é integrá-la à atual rede Nett Warrior, a nova mira digital FWS-I, aos futuros óculos de proteção do Sistema Integrado de Aumento Visual (Integrated Visual Augmentation SystemIVAS) e a uma abrangente Arquitetura do Grupo de Combate Adaptativo (Adaptative Squad Architecture) agora em desenvolvimento. Isso eliminará a necessidade de um dispositivo separado no fuzil do soldado, dizem eles, e permitirá que o dispositivo use todas as novas tecnologias de Posição, Navegação e Tempo Assegurados (Assured Position, Navigation, & TimingAPNT) que o Exército está desenvolvendo vigorosamente como alternativas ao GPS.

Por fim, um representante da empresa me disse que o Safe Shoot não será nada físico. Será um software, apenas mais um aplicativo na eletrônica de fornecimento padrão do soldado.

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