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quarta-feira, 30 de junho de 2021

FOTO: Combatente xiita iraquiano

Um combatente muçulmano xiita das Saraya al-Salam (Companhias de Paz) na linha de frente de Jurf al-Sakhr ao sul de Bagdá em 18 de agosto de 2014. (AFP)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 30 de junho de 2021.

As Companhias de Paz (árabe: سرايا السلام, Sarāyā as-Salām), frequentemente mal traduzidas como Brigadas de Paz na mídia americana, são um grupo armado iraquiano ligado à comunidade xiita do Iraque. Eles são um renascimento de 2014 do Exército Mahdi (جيش المهدي Jaysh al-Mahdī) que foi criado pelo clérigo xiita iraquiano Muqtada al-Sadr em junho de 2003 e dissolvido em 2008. Apoiadas pelo Irã, as Companhias de Paz foram recriadas em 2014.

O Exército Mahdi alcançou proeminência internacional em 4 de abril de 2004, quando liderou o primeiro grande confronto armado da comunidade xiita contra as forças dos Estados Unidos e seus aliados no Iraque. O confronto tratou-se de um levante que se seguiu à proibição do jornal de al-Sadr e sua subsequente tentativa de prisão, que durou até uma trégua em 6 de junho. A trégua foi seguida por medidas para desmantelar o grupo e transformar o movimento de al-Sadr em um partido político para participar nas eleições de 2005; Muqtada al-Sadr ordenou que os combatentes do Exército Mahdi cessassem as hostilidades, a menos que fossem atacados primeiro. A trégua foi quebrada em agosto de 2004 após ações provocativas do Exército Mahdi, com novas hostilidades surgindo. O grupo foi dissolvido em 2008, após uma repressão das forças de segurança iraquianas.

No auge, a popularidade do Exército Mahdi era forte o suficiente para influenciar o governo local, a polícia e a cooperação com os sunitas iraquianos e seus apoiadores. O grupo era popular entre as forças policiais iraquianas; além de ser acusado de operar esquadrões da morte. Suas batalhas mais notáveis nesse período foram a Batalha de Karbala em 2007 e o Cerco de Basrah em 2008. Um dos seus membros mais célebres é Abu Azrael, "O Anjo da Morte".

Moqtada al-Sadr (centro) ao lado do clérigo Ali Khamenei e do General Qassem Soleimani, Teerã, 2019.

As Companhias de Paz estavam armadas com uma variedade de armas leves, incluindo dispositivos explosivos improvisados (improvised explosive devicesIEDs). Muitos dos IEDs usados durante os ataques às Forças de Segurança e Forças de Coalizão do Iraque usaram sensores infravermelhos como gatilhos, uma técnica amplamente usada pelo IRA na Irlanda do Norte no início a meados da década de 1990.

O grupo foi re-mobilizado em 2014 para lutar contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) e ainda estava ativo em 2016; participando na recaptura de Jurf al-Sakhr (Operação Ashura, 24–26 de outubro de 2014) e na Segunda Batalha de Tikrit (2 de março a 17 de abril de 2015).

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico:
Desvendando o exército do terror.
Michael Weiss e Hassan Hassan.

Leitura recomendada:

PERFIL: Abu Azrael, "O Anjo da Morte", 18 de fevereiro de 2020.




GALERIA: Os fuzis AK-74M da Síria, 29 de agosto de 2020.


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Compreendendo a ascensão meteórica do Estado Islâmico em Moçambique


Por Michael Shurkin, Newlines Institute, 22 de junho de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 23 de junho de 2021.

Um recente ataque à cidade de Palma, no norte de Moçambique, pelo Ahl al-sunnah wa al Jamma'ah, um grupo afiliado ao Estado Islâmico, levantou questões sobre suas origens e rápido sucesso em uma parte do mundo que poucos associariam à violência islâmica.

Em 24 de março, mais de cem combatentes islâmicos filiados ao Estado Islâmico tomaram a cidade de Palma, no norte de Moçambique. Eles a mantiveram por 10 dias, saqueando e aterrorizando seus habitantes. O ataque levou a gigante do petróleo francesa Total, que usa Palma como base, a declarar força maior - o que significa que se declarou livre de suas obrigações contratuais - e suspendeu um projeto de gás natural estimado em bilhões de dólares.

Mulher espera que as autoridades verifiquem seus pertences quando chega à praia do Paquitequete em Pemba em 22 de maio de 2021. A praia do Paquitequete em Pemba é onde a maioria dos deslocados internos (internally displaced people, IDP) chegam de barco do norte de Moçambique e passam seus primeiros dias noites antes de ser transferido para um estádio esportivo coberto. Pemba, a capital de Cabo Delgado, acolheu dezenas de milhares de pessoas que fogem da violência desencadeada pelos rebeldes islâmicos em toda a província do norte há mais de três anos. (John Wessels / AFP via Getty Images).

O grupo em questão, conhecido localmente como Al-Shabaab e mais formalmente como Ahl al-Sunnah wa al Jamma’ah (O povo das línguas e al-Gama'ah, ASWJ), existe há apenas alguns anos. Era praticamente desconhecido fora de Moçambique até agosto de 2020, quando invadiu a cidade de Mocímba da Praia, a qual ainda controla. O ASWJ parece agora agir com impunidade em toda a província de Cabo Delgado, onde foi responsável por milhares de mortes e deslocamentos de mais de 700.000 residentes, muitos deles crianças, provocando uma crise humanitária “épica”.

Tudo isso implora por explicações sobre a natureza do ASWJ, seus laços com o Estado Islâmico e seu rápido sucesso em uma parte do mundo que poucos associariam à violência islâmica. As respostas são importantes, dado o aparente potencial do ASWJ de crescer e se tornar um bastião do Estado Islâmico que ameaça o sudeste da África, especialmente devido à incapacidade do governo de Moçambique de detê-lo. Além disso, a orla ocidental do Oceano Índico é alvo de intensificação da concorrência entre China, Índia, Rússia e França (que possui território offshore no Canal de Moçambique).

O fato da ascensão do ASWJ vir como uma surpresa reflete a falta de atenção dada a Cabo Delgado, uma das províncias mais pobres de Moçambique; a relativa negligência do país lusófono entre acadêmicos e analistas, pelo menos em comparação com seus vizinhos mais proeminentes e anglófonos; e a preferência arraigada do governo moçambicano em insistir que tudo está bem quando claramente não está.

Uma História de Negligência

Estátua do ditador socialista Samora Machel em Maputo, no Moçambique.

A história de Moçambique é de pobreza e falta de desenvolvimento. Os portugueses investiram pouco na ex-colônia e de fato não fizeram nenhum esforço real para governá-la até o século XX. Depois veio a destrutiva guerra de independência (1964-1974) e a ainda mais destrutiva guerra civil entre a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a oposição Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) (1977-1992). A paz não trouxe prosperidade, mas sim estagnação e mais pobreza, com grande parte da culpa recaindo sobre as elites rentistas do partido no poder, a FRELIMO. As revelações de algumas de suas negociações financeiras mais flagrantes em 2016 levaram o Fundo Monetário Internacional a congelar os desembolsos de empréstimos, desencadeando uma reação em cadeia que afundou a economia do país.

Os empréstimos refletem um problema crescente, o qual é que a promessa de uma grande sorte inesperada devido aos grandes depósitos de gás natural do país fortaleceu ainda mais os instintos de busca de renda das elites do país - encorajando-as a serem ainda menos responsivas às necessidades da população - ao mesmo tempo que aumenta as expectativas do público. Em Cabo Delgado, uma das províncias mais pobres de Moçambique, esta tensão provou ser explosiva.

Samora Machel, o líder da FRELIMO de viés marxista-leninista, com o líder socialista cubano Fidel Castro em Moçambique, 1980.

Num relatório divulgado em Janeiro, o Observatório do Meio Rural (OMR), um think tank moçambicano, identificou em Cabo Delgado cinco “eixos internos de contradições” que aí impulsionam o conflito. O primeiro fator é a idade: uma grande população de jovens está privada de qualquer meio de vida real em uma época em que as descobertas de recursos naturais, principalmente rubis e gás natural (o local recentemente descoberto de Montepuez é considerado um dos maiores depósitos de rubi no mundo), alimentaram expectativas e colocaram os jovens em conflito direto com pessoas mais velhas e estabelecidas com seus meios de subsistência. As diferenças de classe também são importantes, o qual em Cabo Delgado tem a ver com quem tem acesso aos recursos do Estado ou recursos naturais. Também há elementos étnicos e geográficos: os Mwanis ou Makuas costeiros, que são muçulmanos, freqüentemente entram em conflito com os Macondes do interior, que são cristãos.

O relatório afirma que essas quatro divisões informam a quinta: política. Os Macondes estão historicamente alinhados com a FRELIMO, enquanto os Mwanis costeiros tendem a ter laços com a RENAMO, o que significa que historicamente a sua relação com o Estado tem sido definida pelo confronto.

Encontro de Machel com Margot Honecker em Berlim, 1983.
Margot Honecker foi uma política da Alemanha Oriental que foi um membro influente do regime comunista daquele país até 1989. De 1963 a 1989, ela foi Ministra da Educação Nacional (Ministerin für Volksbildung) da RDA. Ela foi casada com Erich Honecker, o líder do Partido da Unidade Socialista da Alemanha Oriental de 1971 a 1989 e, simultaneamente, de 1976 a 1989, o chefe de estado do país.

Todas essas coisas vieram à tona quando, por exemplo, o Estado agiu brutalmente para retirar os mineiros artesanais de rubi de Montepuez para o benefício de um consórcio empresarial ligado à FRELIMO ou quando o Estado forçou as comunidades costeiras a deixarem suas terras para abrir caminho para infraestruturas relacionadas à produção de gás natural. A violência recente também deslocou milhares de pessoas, interrompendo o comércio e o fluxo de mercadorias do norte para o sul e do litoral para o interior, dificultando a agricultura e fazendo com que os preços dos alimentos subissem. O Estado, por sua vez, abandonou áreas e as pessoas que moram nelas (como a Mocímba da Praia) ou as predaram.

A Surpreendente Ascensão do ASJW

Os muçulmanos de Moçambique são uma comunidade econômica, étnica, ideológica e politicamente diversa que, como em outras partes da África subsaariana, está sujeita ao que pode ser descrito como correntes tradicionalistas e outras correntes descritas como islâmicas ou mesmo wahhabistas, embora isso não necessariamente implique rejeição ao Estado. Na verdade, o Conselho Islâmico semi-oficial de Moçambique é identificado com as comunidades de orientação wahhabista da nação.

O especialista em Moçambique Eric Morier-Genoud traça as origens do ASJW em 2007, quando um jovem chamado Sheikh Sualehe Rafayel, um local que se radicalizou na Tanzânia, formou sua própria comunidade após separar-se de uma comunidade wahabista. Ele e seus seguidores entraram em confronto violento com outros muçulmanos e com o Conselho Islâmico apoiado pelo Estado. O grupo do xeique Sualehe pode ou não estar diretamente conectado ao grupo que acabou se tornando o ASJW, mas estabeleceu uma tendência de rebelião islâmica contra instituições islâmicas sancionadas pelo Estado, que, com o apoio do Estado, tentou suprimi-la.


O próprio ASJW surgiu em 2014, quando outro clérigo, o xeique Abdul Carimo, estabeleceu uma seita islâmica semelhante que o Conselho Islâmico perseguiu da mesma forma. Entrou em confronto violento com outros muçulmanos em 2016 e sitiou uma delegacia de polícia, o que levou a uma altercação na qual o xeique Carimo foi baleado. Ele teria morrido na prisão em 2018. No entanto, o grupo se espalhou por vários distritos em 2016 e 2017 e continua a crescer. Hoje, além de controlar a Mocímba da Praia, o ASJW parece atuar em toda a província, para onde se desloca impunemente.

Tanto Morier-Genoud como Liazzat Bonate, que estuda os muçulmanos moçambicanos, insistem na natureza local da insurgência islâmica de Cabo Delgado, quaisquer que sejam os contatos que possa ter com organizações externas. Os residentes de Mocímba da Praia teriam identificado a maioria dos envolvidos na violência de 2017 como moradores ou estrangeiros que moravam na cidade há algum tempo. Hoje há, sem dúvida, um elemento estrangeiro entre eles, o que ajudaria a explicar algumas das habilidades técnicas e militares em exibição nos ataques sofisticados e cuidadosamente planejados do ASJW. Em junho de 2019, o ASJW jurou fidelidade ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante, e é comumente considerado parte ou subordinado à Província da África Central do Estado Islâmico, ou ISCAP, que se estabeleceu na República Democrática do Congo. No entanto, a extensão dos laços entre o ASJW e o Estado Islâmico permanece desconhecida. O Estado Islâmico publicou um vídeo do ataque de Palma, por exemplo, mas isso não prova nada. De acordo com um relatório recente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, há indicações de que o ASJW recebe apoio de indivíduos de fora do país e da ISCAP, mas, novamente, os detalhes são desconhecidos.


Talvez o melhor vislumbre que temos dentro da organização venha do estudo recente do sociólogo moçambicano João Feijó baseado em entrevistas com mulheres que escaparam do controle do ASJW. As mulheres deixaram claro que a maioria dos membros do grupo eram locais, embora houvesse muitos tanzanianos, residentes de Moçambique e da Tanzânia que se “internacionalizaram” no exterior, e indivíduos de outros países. De acordo com seus depoimentos, os estrangeiros e locais internacionalizados eram mais doutrinários e motivados pela religião, enquanto muitos dos membros locais mais jovens eram essencialmente movidos por motivos materiais ou ressentimentos gerados pelo comportamento abusivo das forças de segurança. Feijó avaliou que o ASJW conseguiu capitalizar sobre os sentimentos de exclusão da população local que a inclina a se rebelar não apenas contra o Estado, mas também contra suas comunidades de origem.

Atualmente, o ASJW parece ter a vantagem. Há um movimento lento em direção a um possível desdobramento militar patrocinado pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, e os Estados Unidos e Portugal estão fornecendo treinamento em escala relativamente pequena. O governo, que ainda em geral insiste que tem tudo sob controle, tornou difícil para si mesmo reconhecer que este não é, de fato, o caso, o que significa que mesmo se tivesse os meios para resolver a miríade de problemas que impulsionam o conflito, é improvável que isso aconteça.

Soldados indianos e franceses durante um exercício conjunto.

Os atores regionais até agora não influenciaram a crise, embora isso possa mudar devido às próprias vulnerabilidades e necessidades de energia da África do Sul; o interesse da França, no mínimo, na segurança marítima e quaisquer eventos que possam afetar negativamente os territórios franceses próximos; interesse russo na região, demonstrado recentemente pelo destacamento de mercenários em 2019-2020 para Moçambique e interferência nas eleições em Madagascar; e a competição entre China e Índia, cada vez mais alinhada com a França. Não seria surpreendente se algum poder externo interviesse. A questão seria quem, e com que resposta dos outros?

Michael Shurkin é cientista política sênior da RAND Corporation, organização sem fins lucrativos e apartidária. O Dr. Michael Shurkin é Diretor de Programas Globais da 14 North Strategies. O Dr. Shurkin trabalha na segurança africana há cerca de 16 anos, incluindo mais de uma década na RAND Corporation e vários anos como analista político na Agência Central de Inteligência. Shurkin é Ph.D. em história pela Yale University e também estudou em Stanford e na Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris, França. Ele twitta em @MichaelShurkin.

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico: Desvendando o exército do terror,
Hassan Hassan.

Leitura recomendada:


quinta-feira, 20 de maio de 2021

ISIS no Iraque: enfraquecido porém ágil


Por Raed Al-Hamid, Newlines Institute for Strategy and Policy, 18 de maio de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 20 de maio de 2021.

O Estado Islâmico (EI / ISIS) aumentou significativamente suas operações no ano passado, após uma reorganização que o levou a se concentrar na criação de grupos móveis de combatentes para conduzir ataques em menor escala. Compreender como ele está se reconstituindo como força insurgente e nesses estágios iniciais é fundamental para prevenir seu ressurgimento.

O ISIS nas áreas urbanas do Iraque parece ter reorganizado seus combatentes em pequenos subgrupos “móveis”. O grupo reformulou suas estratégias de luta de acordo com as novas realidades no terreno: um declínio em sua capacidade de lutar depois de perder líderes de primeira linha e milhares de combatentes em sua derrota territorial em 2017, sanções dos EUA em muitos de seus recursos financeiros e a diminuição da sua capacidade de recrutar e manter sangue novo. No entanto, o ISIS está intensificando suas atividades em áreas nas quais ainda tem influência, explorando os problemas internos do Iraque e utilizando o território geográfico conhecido.

Estimativas variáveis de combatentes do ISIS

Em agosto de 2020, quase dois anos após a derrota militar do grupo, a ONU estimou que mais de 10.000 combatentes do ISIS ainda operavam no Iraque e na Síria. Isso é semelhante a uma avaliação do final de 2019 das autoridades antiterrorismo na região do Curdistão do Iraque, que estimou 10.000 membros do ISIS no Iraque, 4.000-5.000 dos quais eram combatentes e o resto dos quais eram apoiadores e células adormecidas integradas às comunidades locais nas províncias de maioria sunita do oeste e noroeste do Iraque.

Esses números excedem em muito as estimativas da inteligência iraquiana, que estima o número de combatentes do ISIS no Iraque em 2.000-3.000, incluindo 500 combatentes que se infiltraram no país entre 859 combatentes que escaparam da detenção das Forças Democráticas da Síria em outubro de 2019.

Chamas e fumaça escura sobem após o ISIS ter como alvo dois poços de petróleo nº 183 e 177 no campo petrolífero de Bai Hassan em Kirkuk, Iraque, em 5 de maio de 2021. Vários seguranças foram mortos e feridos no ataque.
(Ali Makram Ghareeb / Agência Anadolu)

Todas essas estimativas podem ser mais do que o número real de combatentes do ISIS que lançam ataques a alvos selecionados, armam emboscadas, plantam dispositivos explosivos, sequestram e assassinam líderes sociais e políticos e realizam outras operações de acordo com as prioridades estratégicas da organização. O ISIS conseguiu reviver essas operações três anos após sua derrota militar em seu último reduto na cidade iraquiana de Rawa, 90 quilômetros a leste da cidade de Al-Qaim, na fronteira com a Síria, em 17 de novembro de 2017.

Um estudo das operações de segurança contra o ISIS no Iraque mostra que a maioria não resulta na prisão ou morte de um grande número de combatentes do ISIS. Unidades militares de vários ramos das forças de segurança e da aliança de milícias xiitas das Forças de Mobilização Popular, incluindo unidades tribais, de várias províncias participam dessas operações, que são apoiadas pelas forças aéreas do Exército iraquiano e da coalizão internacional e cobrem grandes áreas de mais de uma província. Isso inclui, por exemplo, a operação “Leões da al-Jazeera”, lançada em maio de 2020 e abrangendo as províncias de Anbar, Ninewa e Salah al-Din. Essas operações muitas vezes descobrem túneis, que são - além das cavernas - locais essenciais, chamados madafat ou “casas de hóspedes”, para abrigar combatentes do ISIS, e encontrar cinturões explosivos e dispositivos explosivos improvisados (Improvised Explosive Device, IED).

As operações militares para combater as células do ISIS são desproporcionais aos resultados. O resultado oficialmente anunciado da campanha “Leões da al-Jazeera” resultou na prisão de dois suspeitos, a destruição de dois esconderijos, a detonação controlada de quatro artefatos explosivos, a desativação de uma casa com armadilha explosiva, a destruição de um túnel , e a apreensão de duas motocicletas.

Na província de Anbar, de acordo com os resultados oficiais anunciados pela Célula de Mídia de Segurança do Ministério da Defesa, as forças de segurança que participam da “Leões da al-Jazeera” anunciaram em 1º de outubro de 2020 que três combatentes do ISIS foram mortos em um dos túneis em que encontraram projéteis de vários tipos em números modestos.

Na província de Salah al-Din, após uma série de operações para limpar a cordilheira Makhoul, a Célula de Mídia de Segurança anunciou em novembro de 2020 que havia encontrado cinco túneis e alguns equipamentos militares, mas não prendeu ou matou nenhum dos combatentes da organização.


As notas à imprensa sobre essas operações de segurança não indicam que um número significativo de combatentes do ISIS foi morto, nem indicam que ocorreram confrontos entre as forças de segurança e os combatentes do ISIS, exceto em casos raros. Eles revelam a destruição de abrigos, armas e equipamentos de combate que a organização havia armazenado em áreas desérticas e montanhosas, uma vez que o ISIS percebeu que a derrota era inevitável.

As forças de segurança, incluindo unidades das Forças de Mobilização Popular, atribuem grande importância à dissociação do Iraque da Síria, de modo que não sirva como um campo de batalha singular para o ISIS ao restringir o movimento transfronteiriço de combatentes e armas. Dessa forma, buscam evitar a infiltração de combatentes do ISIS da Síria no Iraque, já que esses combatentes se escondem nos desertos de Anbar e Ninewa para se preparar para se deslocarem para áreas importantes para a organização em termos de segurança, como o Makhoul e cadeias de montanhas Hamrin em Salah al-Din. Ao mesmo tempo, as Forças de Mobilização Popular controlam a fronteira síria-iraquiana para facilitar seus próprios interesses, como comércio e fluxo de armas de e para a Síria.

As forças de segurança conseguiram proteger mais de 450 quilômetros dos 610 quilômetros da fronteira entre o Iraque e a Síria, cooperando com a Coalizão Internacional para instalar torres de vigilância, arame farpado e câmeras térmicas, além de drones de reconhecimento.

Distribuição Geográfica do ISIS

O uso crescente do ISIS de "grupos móveis" que realizam operações em diferentes áreas - muitas vezes longe de suas bases ou de abrigos como o madafat, que estão localizados em terrenos acidentados, cavernas rochosas ou túneis subterrâneos - significa que a presença real do grupo não pode ser julgado por suas reivindicações territoriais ou por anúncios das autoridades iraquianas.

Não mais preocupado em manter sua estrutura de wilayat (província), e por ignorar as divisões administrativas do governo federal, o ISIS depende puramente do terreno geográfico para planejar e executar suas atividades. Embora o grupo não esteja mais agindo como um estado como era durante os anos do califado de 2014 a 2018, seus comunicados de ataques ainda se referem ao wilayat como parte de sua estratégia de relações públicas.

Declarações de oficiais de segurança iraquianos indicam que a organização depende de bases remotas no deserto em Anbar, Ninewa, cadeias de montanhas, vales e pomares em Bagdá, Kirkuk, Salah al-Din e Diyala para abrigar seus combatentes e estabelecer monitoramento e pontos de controle para proteger as rotas de abastecimento. Também usa essas bases para estabelecer centros de comando e pequenos campos de treinamento, cavar túneis e explorar cavernas em áreas montanhosas.

A distribuição geográfica dos combatentes do ISIS pode ser inferida examinando as operações que ele lança contra as forças de segurança e as Forças de Mobilização Popular e Tribal. Esses combatentes estão distribuídos principalmente em “setores geográficos” sobrepostos em Anbar, Bagdá, Babil, Kirkuk, Salah al-Din, Ninewa e Diyala.

Áreas de foco do ISIS: O ISIS conseguiu tirar vantagem dos vácuos políticos e de segurança no Iraque e na Síria para se tornar mais ativo nos últimos meses.
O grupo aumentou sua visibilidade em uma grande área do Iraque e em bolsões dentro da Síria.

O primeiro setor é uma extensão do deserto no leste da Síria. Constitui um ponto de encontro entre os combatentes do ISIS na Síria e no Iraque, que se deslocam de lá para Salah al-Din, que representa o principal ponto de comunicação terrestre da organização. Ele liga os grupos do ISIS vindos principalmente da Síria através de Anbar e depois se movendo para as províncias vizinhas: ao sul alcançando o cinturão norte de Bagdá, a leste a Diyala, ao norte em Kirkuk e a noroeste alcançando Ninewa. Este setor inclui as províncias de Anbar e Ninewa dentro de uma ampla área desértica intercalada com vales, cadeias de montanhas e corpos d'água.

Um dos vales mais importantes neste setor que o ISIS usa para abrigar seus combatentes é o Vale do Houran, que desce 350 quilômetros do território saudita e entra no Iraque, terminando no Eufrates perto de Albaghdadi. Outro é o Vale de Wadi Al-Ubayyid, que passa pela fronteira com a Arábia Saudita e o governo-geral de Anbar, na região fronteiriça de Arar, e termina no lago Razzaza, no governo-geral de Karbala, ao sul de Bagdá.

Este setor também inclui o deserto do distrito de Al-Baaj, a sudoeste de Mosul e 50 quilômetros a leste da fronteira com a Síria, e o deserto do distrito de Hatra, ao sul de Mosul. Essas duas áreas se sobrepõem geograficamente ao deserto de Anbar na região de Al-Qaim ao norte do rio Eufrates e incluem a cordilheira Badush, bem como o vale de Al-Tharthar e o lago Al-Tharthar, a nordeste de Anbar, próximo a província  de Salah Al-Din.

O segundo setor geográfico inclui áreas que se sobrepõem ao primeiro setor geográfico no sudeste de Ninewa e no noroeste de Salah al-Din. Inclui as áreas geográficas entre os distritos de Sharqat em Salah al-Din próximo a Kirkuk e Makhmur no sudeste de Ninewa perto de Kirkuk e Erbil, capital da região do Curdistão.

O terceiro setor geográfico é o mais importante para a organização e o centro das principais atividades do ISIS. Inclui as províncias de Salah al-Din, Kirkuk e Diyala, estendendo-se ao setor de Al Kateon e às áreas de Al-Muqdadiya, Khanaqin, Jalawla e Qarataba.

O setor apresenta vales como Zghitoun e Shay em Kirkuk, áreas agrícolas com densos pomares adequados para esconder e transportar combatentes do ISIS, armar emboscadas e plantar artefatos explosivos. Os grupos móveis do ISIS neste setor em Salah al-Din se sobrepõem a grupos em Diyala através das cadeias de montanhas Makhoul e Hamrin.

Além dos três setores geográficos principais, os grupos do ISIS estão presentes nas áreas do cinturão de Bagdá ocidental em Abu Ghraib e Radwaniyah e no cinturão de Bagdá do norte em Rashidiya, Tarmiyah e Al-Mashahidah. Eles também existem nas cidades de Balad e Samarra, no sul de Salah al-Din e ao sul de Bagdá na área de Jurf al-Sakhar, localizada 50 quilômetros a leste de Amiriyat al-Fallujah em Anbar.

Setores definidos do ISIS no Iraque até março de 2020.

As células do ISIS também estão presentes em áreas em disputa entre os governos iraquiano central e regional do Curdistão, onde a falta de coordenação de segurança dá à organização alguma liberdade de movimento. Isso foi especialmente verdadeiro depois que as forças peshmerga curdas evacuaram essas áreas em outubro de 2017 após a decisão do então primeiro-ministro Haydar al-Abadi de mover as forças de segurança iraquianas e as Forças de Mobilização Popular para controlar essas áreas após um referendo de independência de setembro de 2017 organizado pelos curdos.

Outras áreas, no entanto, testemunharam operações conjuntas de forças de segurança de várias províncias para rastrear e caçar combatentes do ISIS e destruir suas bases. A primeira fase da operação “Os Leões da Al-Jazeera II”, que foi lançada em 1º de fevereiro de 2020, contou com a participação de unidades do Comando de Operações da Al-Jazeera, do Comando de Operações Oeste de Ninewa, do Comando de Operações Salah al-Din e as brigadas de Forças de Mobilização Popular (incluindo unidades tribais) são um exemplo chave desse tipo de coordenação.

Operações do ISIS em ascensão

De acordo com informações que obtive por meio do monitoramento de sites oficiais iraquianos e não-iraquianos e outros sites próximos ao ISIS, a organização realizou dezenas de operações no Iraque desde o início de 2021. A propaganda que o ISIS empregou muitas vezes tira proveito de eventos amplamente divulgados globalmente para realizar ataques e mostrar ao mundo que eles ainda estão presentes. A eleição do presidente dos EUA Joe Biden foi um desses eventos, e o ISIS aumentou o ritmo de seus ataques após a posse de Biden.

Segundo veículos próximos ao ISIS, como a Agência Amaq de Notícias, o grupo realizou 1.422 operações em 2020, uma média de quatro por dia. A principal ferramenta da organização foram os dispositivos explosivos, usados 485 vezes, seguidos de 334 operações de franco-atirador, além de 252 confrontos ou trocas de tiros. Outras 94 operações de execução foram realizadas contra indivíduos afiliados aos serviços de segurança, as Forças de Mobilização Popular ou as forças peshmerga curdas e contra pessoas que cooperam com o governo, incluindo prefeitos e líderes tribais. Houve 257 operações adicionais que os meios de comunicação do ISIS mencionam, mas não classificam.

Amaq afirma que a organização matou ou feriu 2.748 pessoas em 2020, incluindo 724 assassinatos em Diyala, 643 em Salah al-Din, 576 em Anbar, 474 em Kirkuk, 210 em Bagdá, 104 em Babil e 26 em Ninewa. Isso indica um aumento de 50% nas operações em comparação com 2019 e 11% mais mortes e ferimentos.

O grupo também afirmou ter destruído ou danificado 559 veículos de vários tipos, 85 casas e fazendas, 60 câmeras térmicas, 34 quartéis e 28 torres de transmissão de energia elétrica, a maioria das quais em Diyala, Babil e Anbar.

Atividade do ISIS no Iraque.
O mapa e a lista mostram onde os ataques e outras atividades militares estavam ocorrendo até março de 2021. O ISIS intensificou seus ataques nas mesmas áreas desde então. A lista indica as várias unidades envolvidas ou localizações mais específicas das atividades.
(Versão maior)

O ISIS foi limitado a operações que não requerem um grande número de combatentes, incluindo o plantio de IEDs, armar emboscadas, operações de snipers, assassinatos e queimar casas e fazendas, nenhum dos quais têm grandes repercussões políticas ou de segurança. Uma exceção são algumas "operações especiais" limitadas, como aquela em que dois homens-bomba detonaram na Praça Tayaran, no centro de Bagdá, em 21 de janeiro, matando mais de 30 pessoas e ferindo dezenas em uma "rara" violação de segurança, quase três anos após a última operação na capital que foi reivindicada pela organização.

Pandemia e aberturas fornecidas por vácuo de segurança

O ISIS aproveitou o vácuo de segurança no início de 2020, após a eclosão da pandemia de coronavírus e as tensões entre os EUA e o Irã. Dois dias após o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani e do subcomandante das Forças de Mobilização Popular, Abu Mahdi al-Muhandis, em 2 de janeiro, as forças da coalizão, cautelosas com a escalada, anunciaram uma breve suspensão do treinamento das forças iraquianas. O treinamento foi retomado, mas foi interrompido novamente em 19 de março devido à disseminação da COVID-19 no Iraque. As forças da coalizão se reposicionaram em campos diferentes e alguns países, como o Reino Unido e a Espanha, retiraram soldados do Iraque.

O assassinato de Soleimani também levou o parlamento iraquiano a votar em janeiro de 2020 pela retirada das forças estrangeiras. Dados oficiais afirmam que antes da pandemia havia cerca de 8.000 soldados estrangeiros no Iraque, incluindo 5.200 dos Estados Unidos, enquanto fontes não oficiais dizem que o número real ultrapassa 16.000. Os Estados Unidos reduziram o número de seus soldados no Iraque em setembro de 2020 para cerca de 2.500 soldados em resposta ao pedido do governo iraquiano.

Este vácuo deu ao ISIS mais liberdade de movimento para seus grupos móveis, facilitando o apoio logístico e a reestruturação e distribuição desses grupos de uma forma que permitiu à organização cobrir com segurança as áreas onde seus combatentes estão posicionados. Esses desdobramentos ocorreram em áreas distantes das forças de segurança iraquianas, que não anunciaram nenhuma operação militar até abril de 2020. A primeira operação incluiu as províncias de Diyala, Anbar e Salah al-Din e foi realizada em resposta à morte de 170 civis e soldados, junto com 135 militantes durante o primeiro trimestre de 2020.

Enfraquecido, mas ainda eficaz

Por meio de seus grupos móveis, o ISIS ainda possui recursos de combate suficientes para ameaçar a segurança e a estabilidade, mas o grupo continua muito fraco. Atualmente, a organização ainda não tem capacidade de executar operações importantes e seus ataques se limitam a alvos abertos que não são de importância estratégica. O que isso significa é que é improvável que tente assumir o controle do território no Iraque ou na Síria devido ao declínio em suas capacidades de combate e recursos financeiros. O grupo também permanece vulnerável à coalizão internacional e às forças de segurança iraquianas se tentar acelerar o ritmo de seu ressurgimento.


O ISIS precisa recrutar novos combatentes e reconstruir seu sistema de liderança para centralizar o controle, seja no direcionamento de ordens ou na coleta de informações de segurança e inteligência para se preparar para as grandes operações. O recrutamento é mais difícil, especialmente depois que seus quatro anos de controle sobre o território levaram à rejeição generalizada da sociedade de sua autoridade. As comunidades locais têm cooperado mais estreitamente com as forças de coalizão e segurança para evitar que o ISIS retorne, especialmente depois de testemunhar o aumento da estabilidade em áreas onde as tribos cooperaram com as autoridades. Dito isso, a organização ainda atrai alguns desempregados, bandidos ou perseguidos por motivos sociais, todos os quais acham que ingressar na organização é uma forma de escapar dos processos sociais e judiciais, além de garantir meios mínimos de subsistência.

Este declínio no apoio local também dá ao ISIS menos flexibilidade para atrair financiamento. Depois de ganhar o controle de Mosul em 2014, o ISIS contou com a diversificação de suas fontes de financiamento, seja controlando centenas de milhões de dólares (por exemplo, mais de $ 420 milhões de bancos estaduais em Mosul) ou produzindo e comercializando petróleo em campos que controlava em Iraque e Síria. Também negocia em moedas fortes por meio de redes de câmbio e transferência, usando terceiros, como a empresa Al-Ard Al-Jadidah, que se mudou de sua sede na cidade de Al-Qaim para a cidade turca de Samsun após a derrota do ISIS no Iraque . A empresa faz parte da Rede Al-Rawi dirigida por Fawaz Muhammad Jubayr al-Rawi na cidade síria de Albu Kamal, antes dele ser morto em um ataque aéreo em junho de 2017.

Em dezembro de 2016, o Departamento do Tesouro dos EUA incluiu Fawaz Muhammad Jubayr al-Rawi e outros membros da Rede Al-Rawi e entidades associadas, como a empresa Al-Ard Al-Jadidah, na lista de sanções por fornecer importante apoio financeiro e logístico ao ISIS.

A maioria das atividades da organização durante janeiro e fevereiro deste ano concentrou-se nas províncias iraquianas de Bagdá, Diyala, Kirkuk, Anbar, Ninewa e Salah al-Din. O ISIS aproveitou algumas lacunas de segurança resultantes do declínio no nível de coordenação entre as forças ativas, sejam as forças de segurança, as Forças de Mobilização Popular ou as forças peshmerga curdas.

Focos do ISIS no Iraque.
As manchas indicam áreas concentradas de distribuição geográfica do ISIS.

Acabar com o ISIS é mais do que combater o terrorismo

Durante mais de quatro anos de guerra contra o ISIS, e além das dezenas de operações de segurança anunciadas pelas forças iraquianas para caçar os combatentes restantes do ISIS, a coalizão internacional liderada pelos EUA realizou mais de 34.000 ataques aéreos e de artilharia que contribuíram em grande medida na tomada de controle de todas as áreas controladas pelo ISIS na Síria e no Iraque até março de 2019. No entanto, de acordo com fontes de inteligência dos EUA, a organização não foi derrotada e continua a ser uma ameaça à segurança e estabilidade do Iraque e da Síria, com atividade evidente em mais de seis províncias no oeste e noroeste do Iraque.

A organização concentra suas operações no direcionamento de figuras influentes, especialmente aquelas que cooperam com o governo e agências de segurança, para remover os obstáculos que ela acredita que a impedem de recrutar mais jovens para suas fileiras e para limitar a cooperação de segurança que leva à exposição dos membros da organização e esconderijos dos combatentes. Também visa garantir um ambiente “amigável” para as atividades de seus membros na comunidade sunita.


Acabar com a ameaça que o ISIS representa não pode ser realizado sem um acordo político que reintegre os árabes sunitas no processo político, uma distribuição justa de poder e riqueza de acordo com as proporções populacionais dos árabes sunitas e reconstruindo as cidades destruídas pela guerra contra o ISIS que durou desde 2014 a 2018. Além disso, os emigrantes e pessoas deslocadas à força devem ser autorizados a regressar às províncias no oeste e no noroeste do Iraque, e o controle das Forças de Mobilização Popular da maioria dessas áreas deve terminar.

Além disso, os esforços do governo e das organizações da sociedade civil são necessários para aceitar o impacto social do retorno das famílias dos membros do ISIS que ainda estão nos campos e que aprendem uma ideologia que adota as ideias e a abordagem da organização. Isso é especialmente evidente no campo de Al Hol em Hasakah, na Síria, que inclui milhares de famílias e membros do ISIS.

Raed Al-Hamid é um pesquisador iraquiano independente e ex-consultor do International Crisis Group.

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico: Desvendando o exército do terro.
Michael Weiss e Hassan Hassan.


Leitura recomendada:





sexta-feira, 30 de abril de 2021

Insurgência na selva: as armas do ISIS no Leste Asiático (parte 1)


Do site Calibre Obscura, 27 de fevereiro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 27 de fevereiro de 2021.

O Estado Islâmico no Leste Asiático (ISEA) é um ramo do ISIS único em muitos aspectos, desde seu armamento e localização de operações até sua filiação. O ISEA atua nas Filipinas e em outros países do sudeste asiático (como a Indonésia), mas neste artigo estarei me concentrando nas armas dos militantes do ISEA nas Filipinas.

Este grupo está envolvido em ataques armados contra autoridades filipinas há quase 3 décadas, como parte de movimentos jihadistas que foram os precursores do ISEA - especificamente movimentos como Abu Sayyaf e o Grupo Maute. Muitos relatórios sobre o ISEA continuam a usar a terminologia antiga ao nomear quem foi o responsável pelos ataques, mas essencialmente esses grupos agora são operacionalmente indistinguíveis. Muitos fizeram "Bay'ah" (um juramento de lealdade) ao ISIS propriamente dito no Oriente Médio - é por isso que as operações do ISEA agora são transmitidas por redes de mídia do ISIS, como a Amaq. No entanto, várias facções permanecem leais à Al-Qaeda.

Embora o Bay'ah do ISEA tenha sido feito para o ISIS e seu líder al-Baghdadi em datas diferentes em 2014 e 2015 por grupos distintos, esta transição para a fidelidade ao Estado Islâmico fez um progresso significativo em outubro de 2015. Nesse ponto, representantes de várias organizações jihadistas nas Filipinas (que têm conexões com a Malásia, Indonésia e outros países), divulgaram um vídeo conjunto anunciando que estavam se unindo sob a liderança do agora "Emir" do sudeste asiático Isnilon Hapilon.

O Grupo Maute pode não ter sido incluído neste encontro, mas em abril de 2016 estava claramente alinhado com o ISIS em sua propaganda divulgada publicamente. Eles também juraram lealdade em abril de 2015, junto com Ansar Al-Khilafah Filipinas - outra organização extremista filipina. (Embora esta facção tenha se dividido mais tarde e não seja anteriormente leal ao ISIS). Não parece que um ISIS Wilayah (traduzível para uma nova província do ISIS) tenha sido proclamado até julho de 2018. As organizações centrais de propaganda do ISIS continuaram a reportar nas Filipinas sob o título de “Leste Asiático” até essa data. No entanto, os próprios militantes parecem ter adotado com freqüência a prática de emitir declarações e meios de comunicação em nome da "Wilayah do Leste Asiático", mesmo antes da declaração oficial.

Enquanto Abu Sayyaf, o Grupo Maute e outras organizações (ou facções de grupos) - como Ansar Khalifa Filipinas e facções dos Combatentes Islâmicos da Liberda Bangsamoro - juraram lealdade ao ISIS e agora estão publicamente identificados com a bandeira negra, parece que as estruturas de comando e abastecimento dos grupos poderiam permanecer um tanto alinhadas com as organizações anteriores, como esperado. Esses grupos que compõem o ISEA certamente estão unidos e colaboram (por exemplo na captura e batalha pela cidade de Marawi), mas continua a haver um certo nível de independência nas operações e ataques. Isso provavelmente se deve à geografia histórica da influência e controle dos grupos na área. As ligações e a competição entre o Estado Islâmico e os grupos ligados à Al-Qaeda permanecem vagas.

Mapa de grupos afiliados do ISIS como parte do ISEA, maio de 2017. (Fonte)
Este mapa não representa a situação atual e a localização dos grupos do ISEA, mas é amplamente representativo.

Independentemente disso, cada grupo pode agora ser considerado um afiliado oficial do próprio ISIS, mesmo que a terminologia exata nem sempre seja usada pelas organizações de mídia ou pelos próprios grupos jihadistas. O ISEA carece de controle territorial significativo. É limitado a ataques de insurgência em grandes cidades nas Filipinas - especialmente aquelas que não estão em áreas de maioria muçulmana do país. O grupo retém armas e liberdade operacional significativas nas áreas remotas da selva e em torno das ilhas tais como Sulu.

A atividade recente de mídia social de combatentes individuais parece mostrar que a ação do governo filipino (apoiada pelas forças americanas e australianas, além de várias outras alianças) é um pouco bem-sucedida em restringir a capacidade operacional do ISEA, especialmente desde a Batalha de Marawi, na qual centenas de combatentes foram mortos junto com várias figuras de liderança de topo.

A capacidade do grupo de manter bases permanentes é limitada, e ele enfrenta ataques freqüentes contra seus acampamentos decrépitos na selva. Isso não impede uma transferência ativa de fundos e pessoal do Oriente Médio para o Leste Asiático, no entanto, como foi visto em particular com a Batalha de Marawi, onde grandes quantidades de dólares americanos foram enviadas do centro do ISIS no Oriente Médio para financiar significativamente a organização no sudeste asiático.

Quem é o atual Wali oficial do ISEA (ou mesmo se houver) é muito difícil de discernir. Isnilon Hapilon foi morto durante a Batalha por Marawi, e parece que as figuras de liderança dos grupos que compõem o ISEA mudam freqüentemente. Esta é uma conseqüência das autoridades filipinas reprimirem eficazmente os jihadistas. A filiação estrangeira ao ISEA é um assunto controverso, já que as autoridades locais freqüentemente procuram negar a presença de combatentes não-locais e a mídia do ISEA, oficial e não-oficial, é extremamente cuidadosa ao revelar a presença de combatentes estrangeiros. Independentemente disso, parece claro que houve pelo menos duas figuras de militantes que fizeram Hijra (hégira) - neste sentido, migrar para fortalecer o Estado Islâmico (como encorajado pelo ISIS em sua propaganda "Dentro do Califado"), ou transferiram-se da central do ISIS para facilitar e melhorar a capacidade do grupo nas Filipinas. Também parece haver vários combatentes que viajaram anteriormente ao Iraque ou à Síria para lutar pelo ISIS e voltaram para as Filipinas. Parece que às vezes a principal indicação de que um combatente estrangeiro estava envolvido em uma ação do ISEA é apenas após sua morte, como foi o caso de um indivíduo marroquino envolvido em um ataque VBIED (Vehicle-Borne Improvised Explosive Device/ Dispositivo Explosivo Improvisado Guiado por Veículo).

Não há razão para duvidar da interação contínua entre o ISEA e o ISIS central. Por enquanto, talvez seja reduzido pela derrota territorial do ISIS na Síria, mas parece que a atividade em outras áreas da Síria e do Iraque está aumentando novamente, e que as operações de mídia parecem substancialmente intactas.

Na verdade, como o ISIS em seu centro tradicional de operações é suprimido ou forçado à clandestinidade, outras províncias do grupo, como no leste da Ásia ou na África Ocidental, estão se tornando mais significativas em termos de liberdade prática de operações e comunicados à mídia (embora o ISEA não lançou recentemente vídeos longos, como os da África Ocidental ou do Iraque, provavelmente porque a organização ainda está recuperando forças e fundos após a batalha de Marawi, que, embora tenha sido um grande sucesso de propaganda, levou à dizimação de várias figuras importantes dentro do grupo).

O ISEA continua ativo nos últimos anos, com um duplo atentado suicida em 27 de janeiro de 2019 na Catedral de Nossa Senhora do Monte Carmelo, em Jolo, no qual 21 fiéis morreram, e um grande tiroteio no sábado, 2 de fevereiro, não muito longe, onde mais de 100 militantes dizem que se reuniram e se envolveram em um confronto feroz com as AFP (Forças Armadas das Filipinas) antes de recuar para a selva das montanhas Patikul. Este encontro deixou 5 soldados mortos e 18 feridos, com apenas 3 militantes declarados mortos. Se os relatos da mídia local sobre os números do ISEA estiverem corretos, uma reunião desse tamanho é rara e indicativa da crescente confiança e habilidade do grupo. O grupo travou batalhas em pequena escala com as forças da milícia em outubro de 2019, e uma tentativa de duplo atentado suicida usando dois combatentes egípcios foi frustrada no início de novembro de 2019, também em Jolo. Imagens de combatentes em Basilan, Mindanao e Jolo também foram publicadas em novembro de 2019, mostrando um grande número de militantes prometendo bayah ao novo "califa" do ISIS, Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, depois que seu sucessor foi morto em um ataque americano em 26 de outubro.

No entanto, o ISEA tem estado relativamente quieto em comparação com outros ramos do ISIS ao longo de 2019 e 2020, indicando uma fraqueza duradoura e necessidade de reconstrução desde a batalha de Marawi. Apesar da queda na ação desde a batalha de Marawi, o ISEA é um ramo do ISIS que continua a atormentar o sudeste asiático e as Filipinas, e tem uma longa e única história, com insurgências locais distintas se unindo sob a bandeira e controle do ISIS. Embora a insurgência esteja sob constante pressão, o grupo mantém a capacidade de causar baixas e capturar armas.

O ISEA não parece estar desaparecendo em breve e é um exemplo relativamente único de onde as imagens divulgadas por meio de contas individuais de mídia social superam em muito os vídeos e as imagens oficiais, como as divulgadas pela Amaq, ou por meio de qualquer número de agências regionais ou centrais do ISIS . (O vídeo de outubro de 2019 da Agência Amaq da ação do ISEA contra milícias alinhadas ao governo apareceu em canais não-oficiais pelo menos uma semana antes do seu lançamento pela Amaq). Isso significa que a percepção sobre as armas é mais representativa do uso real (em oposição a ser filtrada pelos canais sancionados e higienizados), mas também normalmente de qualidade inferior e com menos detalhes visuais disponíveis. No entanto, a natureza não-filtrada nos dá um excelente ponto de vista "real", especialmente combinado com a mídia oficial e aquela das autoridades.

Suas armas são um retrato muito interessante das cadeias de suprimentos e preferências dos insurgentes - vamos dar uma olhada.

Conteúdo da Parte 1:

  • Armas de uso padrão
  • Fuzis exóticos e incomuns
  • Plataformas de precisão e longo alcance
  • Metralhadoras leves, médias e pesadas

Fuzis de uso padrão

O ISEA é possivelmente um dos únicos ramos do ISIS, excetuando talvez elementos das forças do ISIS no Iraque, que padronizaram suas armas portáteis nos calibres padrão da OTAN. Isso provavelmente se deve ao fato dessas munições serem usadas pelas Forças Armadas das Filipinas - em particular 7,62x51mm e 5,56x45mm. Ambos os calibres são usados por vários forças militares em todo o mundo, tanto dentro quanto fora da OTAN.

Como as armas do ISEA são principalmente aquelas usadas pelas Forças Armadas da região, em particular as das Filipinas, isso não é surpresa. De forma semelhante, as próprias armas também são amplamente representativas daquelas em uso pelas AFP, com uma grande quantidade de adições.

O fuzil mais comum, visto na maioria das imagens postadas por membros do grupo, é o M16A1.


Este fuzil é o emblema do poder americano em todo o mundo, em particular da Guerra do Vietnã, onde relatos de que a plataforma era uma arma maravilhosa ou uma armadilha mortal absolutamente não confiável eram ambos imprecisos. Embora o M16A1 tenha sido substituído há muito tempo no serviço militar dos Estados Unidos, este fuzil continua em uso em vários países, tendo sido vendido, dado como ajuda ou produzido localmente.

No caso das Filipinas, existe uma relação militar tradicionalmente estreita com os Estados Unidos, que incluía várias entregas de fuzis, bem como produção licenciada nas Filipinas. Estes fuzis são designadas como 613P (P significa Philippines/Filipinas) e 653P, variantes do fuzil Colt 603 e da carabina Colt 653 M16, respectivamente.


M16A1 com o guarda-mão do M16A2.

Os M16 filipinos foram produzidos de 1974-1986, e os ~150.000 fuzis produzidos (embora os números precisos produzidos para cada tipo não sejam claros) durante este período continuam a servir nas Forças Armadas das Filipinas, e também no serviço da milícia, sejam capturados ou desviados. Havia também grandes quantidades de fuzis M16 e M16A1 fabricados nos EUA entregues durante o final da era do Vietnã; o programa de vendas militares ao exterior do governo dos Estados Unidos distribuiu cerca de 4.000 M16A1 (Colt Modelo 603) antes de 1975, enquanto outro programa, o Programa de Assistência Mútua (Mutual Assistance Program), sob os auspícios da Lei de Assistência de Defesa Mútua (Mutual Defense Assistance Act), entregou 22.991 fuzis em 1975. Isso não foi tudo - cerca de 45.000 fuzis Modelo 613 (versão de exportação do Colt 603) foram adquiridos diretamente da Colt antes de 1976. A última remessa de 30.000 fuzis M16A1 foi entregue durante a Presidência de Gloria Arroyo, entre 2001 e 2010, diretamente dos estoques excedente dos EUA. O grande número de fuzis produzidos ou entregues nas Filipinas explica de alguma forma a proliferação desses fuzis entre o ISEA. No entanto, as pequenas quantidades de M16A2 também entregues pelos EUA naquela época não apareceram com o ISEA.

O Colt 653-653P é idêntico em tudo, exceto nas marcações. (Fonte)

É quase impossível determinar se um fuzil é produzido pelos filipinos ou um fuzil Colt produzido nos Estados Unidos, pois não há diferença alguma entre os fuzis além das marcações de fábrica. Essas são normalmente difíceis de discernir.

Colt 603 ou 613P de comprimento total nas mãos do ISEA.



Fuzil encurtado artesanalmente.

Carabina.

Várias melhorias e atualizações para esses fuzis cansados foram realizadas ou propostas pelo Arsenal do Governo (Government ArsenalGA) do Departamento de Defesa Nacional das Filipinas, mas parece que uma alta porcentagem desses fuzis permaneceu perto do estoque em uso pelas AFP. A extensão da modernização parece ser tipicamente a substituição dos guarda-mão (geralmente no estilo M16A2) e a substituição ocasional da coronha/cano. Isso, é claro, foi filtrado para os fuzil vistos em uso pelo ISEA, com subgrupos que normalmente são mais bem financiados ou experientes, geralmente usando fuzis M16 em condições superiores.




Há evidências de atualizações e mudanças nesses fuzis que são específicas dos grupos militantes, e não realizadas pelas autoridades. Isso inclui reposições feitas por terceiros de coronhas, empunhadura de pistola, miras ópticas e trabalhos de camuflagem, como pode ser visto acima. Muitas vezes não está claro se as melhorias e personalizações das armas foram realizadas pelas autoridades ou pelos militantes, mas entre alguns combatentes, parece que os quadritrilhos feitos por terceiros são populares. Eles parecem ter sido comprados no exterior ou adquiridos no país - as Filipinas têm uma cultura doméstica próspera de armas de fogo. Alguns fuzis parecem ter sido cortados, de forma semelhante às carabinas Menusar da Força de Defesa de Israel.

Notícias sobre insurgências islâmicas nas Filipinas indicam que o M16 tem sido a arma de escolha para esses combatentes por muitos anos. É possível que a seleção de armas seja fortemente influenciada pela disponibilidade também, já que a área está inundada com variantes do M16.

Acessórios comuns incluem o guarda-mão Leapers UTG PRO estilo quadritrilho, empunhaduras de pistola ERGO Tactical, quebra-chamas Novekse Pig, e coronhas padrão Magpul. É improvável que muitos deles sejam genuínos - provavelmente, falsificações baratas ou cópias de airsoft.

Seguindo os fuzis padrão M16, um dos tipos de fuzil mais comuns em uso pelo ISEA é o fuzil de batalha M14. O M14 é uma variante melhorada de seleção de fogo do M1 Garand da Segunda Guerra Mundial, recalibrado para o cartucho de 7,62x51mm e utilizando um carregador de 20 tiros. Este cartucho de fuzil de tamanho grande é consideravelmente maior do que o 5,56x45mm e, portanto, carrega consigo as propriedades associadas de ser mais eficaz à distância, normalmente causando maiores danos à carne/tecido corporal além de 125m, e sendo muito mais eficaz contra estruturas e cobertura. No entanto, é muito mais pesado, tem um recuo muito maior e é geralmente considerado muito mais difícil de controlar quando dispara em modo totalmente automático.

O fuzil M14. (Fonte)

O M14 é o predecessor direto do M16, sendo o fuzil de serviço padrão do Exército dos EUA de 1961 a 1964. Este período foi um tempo de vida excepcionalmente curto para um fuzil de serviço, mas mesmo assim foram produzidos cerca de 1,3 milhão de fuzis M14, e centenas de milhares desses fuzis foram vendidos ou doados aos aliados dos Estados Unidos em todo o mundo, incluindo as Filipinas, que receberam cerca de 104.000 deles. O fuzil ainda está em serviço com as AFP, com os fuzileiros navais filipinos sendo fotografados com fuzis M14 ao longo de 2017 e 2018, incluindo em Marawi e outras operações contra-terrorismo.

Esses fuzis chegaram às mãos de militantes do ISEA em diversas áreas das Filipinas e são empunhados por uma grande maioria de combatentes. Semelhante ao M16, o M14 às vezes é personalizado com trabalhos de pintura e miras ópticas, embora eles geralmente estejam próximos da configuração padrão da coronha. Eles também foram identificados com novos chassis sintéticos, geralmente com uma coronha dobrável. Isso ajudaria muito no tamanho do M14 para o transporte pela selva.



O chassis acima parece ser um modelo sintético, completo com coronha dobrável no estilo Galil. O fabricante não está claro. Parece também que as armas adaptadas artesanais viram uso, com uma coronha dobrável para os lados fortemente semelhante à dos fuzis Galil ou AK búlgaros sendo conectados a uma coronha de madeira.

Embora não totalmente claro, parece que em geral os militantes preferem a plataforma de 5,56mm, além de desfrutar de um maior suprimento de fuzis e munições desse tipo. Para o combatente médio do Estado Islâmico, que normalmente parece ser jovem e de constituição física frágil, a plataforma M16 seria confortável de manejar e eficaz. A plataforma é leve, barata, confiável (com manutenção) e possui excelente intercambialidade de peças civis AR-15 e acessórios, facilitando a cadeia de suprimentos e as dificuldades de manutenção em oposição a plataformas mais raras, como o M14.




Militante do ISEA em Sulu com um carregador estendido improvisado para seu M14. Ele pode conter cerca de 35 tiros.

Embora o M14 seja um sistema de armas mais antigo em comparação com o M16 e certamente apresentará um maior desafio ergonômico e de manutenção para o grupo, o poder contundente da munição 7,62x51 pode ser útil para operações de longo alcance em comparação com as plataformas de 5,56mm do grupo. O grupo parece não ter falta de nenhum dos dois, e como as AFP continuam a usar ativamente o M14 contra militantes, parece que o grupo pode muito bem continuar capturando fuzis bem conservados das tropas do governo, garantindo um novo suprimento de fuzis inteiros ou peças de fuzis.

O fuzil também pode ser usado na função de DMR (atirador de elite designado). Isso requer miras óticas e usuários treinados. O grupo certamente tentou fornecer o primeiro para uso em um papel de contra-sniper contra as AFP, como detalharei mais abaixo em minha seção "Plataformas de precisão e longo alcance".

Outro fuzil comum usado pelo ISEA é o Galil, em suas versões mais antigas e na nova versão ACE. O IMI Galil é baseado no fuzil Valmet Rk 62 finlandês, que por sua vez é baseado no AK-47. Enquanto o Rk 62 é altamente semelhante à série AK fresada, diferindo principalmente em coronha, miras e guarda-mão, o Galil é uma variação desse fuzil finlandês, incluindo outras alterações no guarda-mão, coronha e, o mais importante, uma mudança no calibre para 5,56x45mm OTAN, em oposição ao 7.62x39mm Rk 62. Ambos podem ser considerados variantes de altíssima qualidade da série AK.

O Galil foi produzido em uma série de variantes - o AR (variante do fuzil padrão), ARM (fuzil-metralhador) e SAR (versão curta), mas o ARM foi o mais amplamente produzido. O ARM também é o mais comumente usado pelo ISEA.

Galil ARM.

Esta plataforma baseada no Kalashnikov usa seu próprio padrão de carregador (normalmente com capacidade de 35 tiros), que não é compatível com fuzis baseados no M16 do ISEA. Embora a capacidade ligeiramente maior desses carregadores possa ser uma vantagem para os combatentes do ISEA, a relativa escassez desses carregadores e a incompatibilidade com outras plataformas significa que este fuzil provavelmente terá uma utilidade ligeiramente limitada para o grupo. No entanto, o Galil é altamente confiável e fácil de manter.




Parece que o Galil às vezes é carregado por figuras de liderança de nível médio, como uma marca de prestígio. Não parece que os carregadores sejam escassos o suficiente para que o Galil não possa ser utilizado, apenas que não pode ser amplamente distribuído. Também pode ser avistado com a granada M203 40x46mm montada, o que requer modificações no fuzil (remoção do guarda-mão, bipé etc). Esta modificação do fuzil e lança-granadas para serem compatíveis é aparentemente distinta, com forças militares profissionais em todo o mundo muito raramente fazendo isso.


Uma iteração mais recente do Galil, o Galil ACE 21, também pode ser detectada nas mãos do ISEA. Esta arma é muito semelhante às versões anteriores do Galil, mas inclui recursos muito mais modernos, como trilho de acessórios, coronha dobrável estilo M4, precisão aprimorada e muito mais.



O Galil ACE 21 é amplamente utilizado na área, inclusive pela Polícia Nacional das Filipinas, que o utiliza (entre outras armas) como suprimento padrão. As imagens acima também parecem ter sido capturadas por forças policiais após um ataque, embora a corrupção também seja uma possibilidade. O pequeno tamanho do ACE 21 e sua compatibilidade de munição com o resto das armas do ISEA o tornariam uma arma útil de curto alcance, que também é significativamente mais moderna do que muitas das armas do grupo. No entanto, não tem a capacidade de montar o lança-granadas M203.

Embora o ACE seja um variante do AK bastante moderno, existem evidências de outros AK em uso pelo ISEA, incluindo vários fuzis Tipo 56. Estes não são usados pelas Filipinas e geralmente são considerados contrabandeados de estados vizinhos. Estes são acompanhados por alguns fuzis AKM - enquanto um carregamento de 5000 fuzis AKM foi enviado para as Filipinas pela Rússia no que foi em grande parte um esforço simbólico, estes parecem ter sido pouco usados e as imagens de fuzis AKM, por mais raros que sejam, pré-datam o fornecimento.

2 fuzis AK Tipo 56-1 e um AK padrão AKM com o ISEA, por volta de 2017.

Outro tipo de arma usado pelo ISEA são as carabinas do tipo M4. Isso inclui uma variedade de armas de diferentes fabricantes (por exemplo, pequenas quantidades de variantes da Colt M4 foram oferecidas pelos Estados Unidos em 2017), mas o mais típico é a carabina Remington R4A3. Isso é mais claramente descrito como uma cópia da carabina Colt M4, originalmente planejada para ser fornecida ao Exército dos Estados Unidos. Enquanto isso foi impedido por uma ação legal da Colt em 2012, a Remington passou a comercializar os fuzis para exportação. Eles não têm diferenças práticas no desenho fornecimento padrão M4 original, mas o sistema de trilhos e alguns outros detalhes diferem um pouco.

R4 com o lança-granadas M203, logo após a captura.


Fuzil R4 com lança-granadas M203, capturado em dezembro de 2018.

Outro R4 capturado. Observe a marcação "ganima", referindo-se a "Ghanimah" ou captura do campo de batalha, e Galil ao fundo. É provável que o M203 seja muito mais antigo do que o fuzil, e anexado pelos militantes.

Remington R4 e outros fuzis capturados pelo ISEA por volta de 2016.

Embora seja difícil determinar a origem específica para fuzis R4 individuais usados pelo ISEA, é extremamente provável que eles façam parte de um contrato de novembro de 2013 para o fornecimento de "mais de 40.000" fuzis para o Exército e Corpo de Fuzileiros Navais filipinos, um pedido que foi amplamente concluído no início de 2016, com um total de 56.843 entregues pela Remington. Embora a intenção declarada da compra das carabinas fosse substituir a série M16 em uso pelas AFP, isso também significou que o R4 caiu nas mãos do ISEA, geralmente através da captura das tropas das AFP.

R4A3 com M203 Airtronic.

Esta é uma plataforma moderna, leve e eficaz e, portanto, é dada a figuras de liderança quando capturados - por exemplo, Isnilon Hapilon e Omar Maute, figuras de liderança do grupo Abu Sayyaf e Maute respectivamente, foram mortos carregando fuzis R4 em outubro de 2017 durante as etapas finais das operações para remover o ISEA de Marawi. Isso indica que o grupo possuía fuzis R4 pelo menos antes do cerco de Marawi, quando por um período o ISEA reuniu grandes quantidades de armas modernas e munições para o ataque à cidade. Isso aconteceu apenas 12 a 16 meses após a chegada dos últimos fuzis R4 da Remington, embora as entregas tenham começado em 2014.

Remington R4A3.

O passo do raiamento de 1 em 7 do cano R4A3 também permite que ele use munição M855 perfurante. Embora a munição M193 ainda pareça ser um suprimento padrão para as AFP, o relatório sugere que uma mudança na famosa munição "ponta verde" pode ter começado em 2016. Embora o M855 seja utilizável nos fuzis M16A1 do ISEA, o passo de 1-12 desses fuzis significa que a precisão além de 100m seria muito prejudicada. Conseqüentemente, o uso do R4 é tanto um símbolo de status quanto um requisito prático para que os fuzis do ISEA sejam usados em distâncias mais longas com munição capturada recentemente, embora a munição M193 também seja extremamente comum em estoques de militantes e entre as tropas do governo ou forças policiais.

Um fuzil de padrão M4 (não parece ser um Remington R4) com M203 acoplado. Raramente não são vistos fuzis Remington R4 - as forças de segurança locais usam pequenas quantidades de fuzis Colt e semelhantes.

Um acessório extremamente comum para fuzis em uso pelo ISEA é o lança-granadas M203 40x46mm. O M203 é uma arma amplamente utilizada desde 1969, sendo usada em quase todos os conflitos envolvendo as forças armadas americanas ou seus aliados, do Vietnã à Guerra das Malvinas e até à Síria hoje. Uma arma muito versátil, o M203 e suas variantes ou clones foram anexados a quase todas as plataformas abundantes, da Série M16 ao Tavor israelense.

O M203, completo com guarda-mão M16 e mira.

No uso normal do Exército ou do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, o M203 geralmente não é um item padrão em todos os fuzis usados no grupo de combate típico, muitas vezes aparecendo em apenas um único fuzil por esquadra-de-tiro de 4-5 homens, embora essa prática varie entre as forças. Isso difere do uso pelo ISEA e seus grupos de componentes. Em vez disso, parece ser uma prática padrão anexar o M203, se disponível, a todos os fuzis possíveis.

Parece haver uma abundância de LG M203 e munições 40mm disponíveis, normalmente munição de alto explosivo padrão. Na verdade, dependendo da localização, as imagens de código aberto que eu vi indicam que não é incomum que mais fuzis sejam equipados com o lançador de granadas sob o cano M203 40x46mm do que aqueles sem, exceto os fuzis M14, que nunca são vistos com o M203.




Observe o tubo de proteção e o suporte improvisados do M203.




Curiosamente, na ocasião em que carabinas como a Colt 653P são usadas sem o "recorte M203" - o local de montagem para o M203 no cano - o grupo parece ter resolvido freqüentemente o problema fabricando uma cobertura de cano ventilado para manter o M203 no lugar e conectado, bem como às vezes fabricando soluções de montagem personalizadas para fuzis tais como o Galil e FN CAL. Isso indica que o M203 tem um valor alto o suficiente para que os combatentes dediquem tempo e recursos para adaptá-lo a fuzis para os quais ele não foi projetado. Parece que, se disponível, a cobertura do cano M203 original junto com a mira de folha com a qual é empregado, mas freqüentemente nenhuma mira é usada. Isso restringe o uso preciso do M203, mas combatentes experientes, especialmente em distâncias mais próximas, como em cidades ou na selva, ainda seriam capazes de empregar os lança-granadas. Normalmente, parece que 30-50% dos fuzis em uso têm M203 acoplado, com alguns grupos de combatentes (normalmente 4-10 indivíduos) totalmente equipados com M203, mesmo que nenhuma munição de granada seja carregada com eles.



Este uso do M203 como um multiplicador de força excede o das AFP, e poderia ser extremamente útil para os militantes na luta contra seus oponentes numericamente superiores, capazes de infligir danos em vários intervalos com apenas um número limitado de atacantes.

Não é incomum que os combatentes, como pode ser visto nas imagens acima, carreguem entre 4 e 12 granadas de 40x16mm consigo, sugerindo que o ISEA dá grande ênfase ao uso de grandes quantidades de granadas de 40 mm para ampliar sua capacidade de causar danos e baixas às forças governamentais.

Imagens de combate, como as de Marawi, normalmente mostram quantidades menores de granadas por combatente em comparação com a mídia social - é provável que as últimas imagens possam ser um tanto exageradas por causa das aparências. Apesar disso, em particular nas áreas onde o grupo tem maior financiamento e sucesso, o ISEA não tem escassez de munições novas/em bom estado de 40x46mm. Tanto que as imagens postadas online mostram munições totalmente novas sendo convertidas para uso como granadas improvisadas lançadas à mão. Embora seja viável que esta ação seja devido à falta de plataformas de lançamento, pode haver um excesso de oferta considerável de munição em algumas áreas, seja via Ghanimah (termo islâmico para espólio de guerra capturado) ou corrupção. Também pode ser a falta de usuários competentes ou treinados no M203, mesmo que grandes quantidades de fuzis o mostrem acoplado.

Imagens de captura de campo de batalha mostram um grande número sendo capturado, mas os engajamentos bem-sucedidos com as AFP, embora tenham aumentado nos últimos meses, ainda são baixos.

Combatentes do ISEA localizados em Sulu com M203 conectados ao Colt 653P e 613P.

É difícil determinar a origem dessas munições e lançadores, já que o M203 e sua munição foram fabricados localmente e em outros pontos do mundo, em particular, é claro, nos Estados Unidos. Parece que a maior parte dos M203 é bem utilizada, mas bem mantida, sugerindo uma cadeia de suprimentos de longo prazo de lançadores e munições de arsenais militares na região, bem como profunda familiaridade com a plataforma. A maioria parece ser de modelos M203 mais antigos que são difíceis de rastrear a época e a origem precisa, mas são mais prováveis de serem fornecidos a partir de estoques americanos durante as profundas relações entre os países que continuam até hoje - é muito provável que números de M203 tenham sido fornecidos junto com fuzis M16.

No entanto, alguns lançadores mais recentes, principalmente aqueles que são anexados a carabinas Remington R4, são da Airtronic USA. A Airtronic USA é um dos principais fabricantes de M203 nos Estados Unidos, atendendo ao Exército dos EUA e a clientes estrangeiros.

Sob o programa de Vendas Militares do Governo dos EUA, 2.865 M203 fabricados pela Airtronic USA foram entregues às AFP em 2017-2018 em duas fases: a fase 1 foi para 2.200 unidades de lançadores de granadas M203, enquanto a Fase 2 foi para 684 unidades. Esses lança-granadas teriam sido planejados diretamente para serem instalados na plataforma Remington R4, e muitos puderam ser vistos em uso durante o cerco da cidade de Marawi pelas forças governamentais.

Eles também caíram nas mãos do ISEA, embora em quantidades muito menores do que o M203 da era do Vietnã mais comumente encontrado. No entanto, o M203 é um lançador bastante simples e, se mantido, deve funcionar por longos períodos.

Fuzis exóticos e incomuns

O ISEA usa uma variedade considerável de fuzis "não padronizados", bem como aqueles que são do padrão AR-15. A origem desses fuzis é difícil de verificar, mas eles são uma excelente demonstração de quais tipos de plataformas estão disponíveis localmente.

O ISEA faz uso ocasional de Carabinas M1 e M2 - pelo menos 8.836 fuzis foram documentados como sendo transferidos pelos EUA entre 1945 e 1975, com muitos mais prováveis de serem obtidos antes deste período. Eles são regularmente capturados de grupos criminosos e outros grupos insurgentes.


Há evidências de que muito poucos fuzis Steyr AUG A1 estão sendo usados pelo ISEA - eles são usados por estados vizinhos e também raramente são usados pelos Scout Rangers, particularmente no início dos anos 2000.

Fuzis FN CAL em uso com o ISEA.

Observe a solução de montagem M203 improvisada.

O ISEA e seus predecessores mostraram muito poucos fuzis Vz.58 v (coronha dobrável) em uso. Algumas fontes afirmam que esses fuzis foram importados ilegalmente para o país na década de 2000, mas os detalhes não são claros.


Plataformas de precisão e longo alcance

Parece que pelo menos alguns militantes adotaram uma prática vista em todo o mundo - a do M16 como um fuzil de atirador designado improvisado (Designated Marksman Rifle, DMR). Como o M16A1 com seu cano de 20 polegadas é inerentemente mais preciso do que muitas armas usadas por insurgentes, como a série AK, bem como o desempenho de médio alcance razoável do cartucho 5,56x45mm, vários grupos ao redor do mundo adotaram os fuzis M16 como solução à falta de plataformas DMR dedicadas. Isso é particularmente útil ao operar em ambientes urbanos, como os encontrados pelo ISEA em Marawi, ou mesmo próximos em ambientes, como a selva, onde as deficiências do cartucho menor não são tão aparentes quando se operar em alcance, onde 7,62x51mm e maiores são geralmente considerados superiores. Em ambientes urbanos, no entanto, plataformas de 5,56mm são perfeitamente aceitáveis para alvejar as forças de segurança.

Militante do ISEA durante a Batalha de Marawi, com M16A1 no papel de DMR.

Equipados com uma mira de médio alcance, os M16 (e ocasionalmente seu clone chinês, o CQ) são fuzis competentes no papel de DMR improvisado. Na verdade, esse conceito foi adotado e estendido por produtos como o fuzil de uso especial Mark 12 Mod 0/1, usado pelas Forças Especiais dos Estados Unidos. Outro exemplo, muito mais próximo do ISEA, é o Fuzil de Fuzileiro Naval Sniper Batedor (Marine Scout Sniper Rifle, MSSR) dos Snipers Batedores do Corpo de Fuzileiros Navais filipino, que é um programa em evolução de melhorias no desenho básico do M16A1 (usando armações originais M16A1), para criar o que é dito ser um fuzil de muito bom desempenho até 600m.

Um militante do ISEA durante a Batalha de Marawi com o que parece ser um MSSR Geração 3 ou 4.

Militantes individuais podem ser vistos com miras de médio alcance acopladas aos fuzis M16 originais, às vezes com armações superiores de reposição. Também há evidências limitadas (como pode ser visto acima) de que o ISEA também capturou pelo menos um MSSR original, embora não esteja claro se a munição de precisão de 5,56mm também foi capturada, o que oferece um desempenho muito superior em comparação com a munição comum SS109/M855.

Fuzis GA-MSSR e GA-SDMR capturados em dezembro de 2020.
(Imagem via @war_noir)

O M14 mencionado acima também foi usado como um fuzil de atirador designado, provavelmente devido ao desempenho superior da munição em distâncias mais longas em comparação com o 5,56mm. Novamente, não está claro se o ISEA obteve acesso à munição de atirador para o M14, mas as evidências disponíveis indicam que é improvável.


Acima podem ser observados dois fuzis M14 na função de sniper, embora, como afirmado anteriormente, seu caso de uso provavelmente esteja mais próximo de um fuzil de atirador designado. A montagem da luneta na segunda imagem parece ser idêntica a uma montagem de luneta CYMA/Matrix Airsoft, que é uma cópia alterada de uma montagem de luneta Springfield Armory para o fuzil M1A civil.

Em cima: Base de montagem de luneta totalmente em metal Matrix para fuzis AEG Airsoft da série M14. Em baixo: Montagem de mira estilo Picatinny de 4ª geração do Springfield Armory.

Não está claro o quão eficaz a montagem da luneta airsoft será com o fuzil real, mas pode-se esperar que a menor qualidade e tolerâncias da montagem airsoft afetarão a capacidade da luneta "manter o zero" (não exigindo ajustes frequentes para atingir um alvo em um determinado intervalo com precisão aceitável), e também terá maior probabilidade de quebrar ou desmoronar. No entanto, seria essencialmente funcional.

Os lutadores do ISEA e seus subgrupos também usaram quantidades limitadas de fuzis de ferrolho. Estes variam de fuzis de caça típicos, facilmente disponíveis na área, a fuzis M24 SWS muito incomuns - a bem conhecida adaptação do exército dos EUA da plataforma Remington 700 para uso militar. Este fuzil também está em uso com o Exército e o Corpo de Fuzileiros Navais das Filipinas.

Notar o silenciador conectado ao M24 SWS - este fuzil é muito provavelmente capturado nesta configuração das forças governamentais.

O que parece ser um fuzil de caça usado por um sniper do ISEA em Marawi.

Metralhadoras leves, médias e pesadas

Enquanto o Estado Islâmico nas Filipinas está bem armado com uma variedade de armas leves da Guerra Fria e modernas para o combatente individual, o grupo exibiu uma variedade muito menor de metralhadoras. No entanto, elas existem em quantidades razoáveis, com o grupo de combate médio do ISEA geralmente parecendo carregar pelo menos uma metralhadora, normalmente a metralhadora de uso geral M60 de 7,62x51mm.

Militante do ISEA com metralhadora M60E3, junho de 2016.

O M60 nas mãos do ISEA parece ser proveniente principalmente das Forças Armadas das Filipinas, por corrupção ou captura, assim como os M16 carregados pelo ISEA. A M60E3 é a principal metralhadora de uso geral das AFP, embora possua algumas armas atualizadas para o padrão M60E4. Parece que o M60 foi fornecido em grandes quantidades às AFP pelos Estados Unidos.

Duas metralhadoras M60E3 e uma Daewoo K3 nas mãos de combatentes do ISEA, por volta de 2018.

Embora os M60 usados pelo ISEA sejam provavelmente da safra dos anos 1960-1980 e geralmente exibam altos níveis de desgaste, parece que o grupo tem longa experiência com o M60 e pode operar e manter a plataforma. O M60 toma o lugar da metralhadora "padrão" que geralmente é a série de metralhadoras PK no Oriente Médio.

Combatente do ISEA com uma técnica de tiro "interessante" para o M60 durante a Batalha de Marawi.

A metralhadora média Browning M1919 também faz parte do arsenal do ISEA. O M1919 .30-06 foi regulamentado para uso de segunda linha e estático pelas AFP, e também raramente é visto em uso pelo ISEA, que parece ter acesso limitado à plataforma.

Uma metralhadora M1919A4 capturada do ISEA em Marawi (entre uma tremenda quantidade de outras armas, incluindo espingarda Browning Auto 5, carabina M1, M60E3, fuzis artesanais, lança-granadas M79 etc).

Embora a metralhadora M1919 seja uma plataforma mais antiga (da Segunda Guerra Mundial), com manutenção e um suprimento de munição .30-06 seria perfeitamente útil para os combatentes do ISEA. Dada a idade das plataformas e a aparente falta de munição, parece que raramente é usada. Parece que o AFP GA (Arsenal do Governo) não fabrica a munição necessária, ao contrário do 5.56x45 e 7.62x51, e como resultado, apenas os estoques existentes de munição podem ser usados pelas AFP e, por extensão, o ISEA. No entanto, o M1919 pode ser usado em grandes quantidades por milícias alinhadas com o governo, que frequentemente usam equipamentos mais antigos ou de segunda linha em grandes quantidades (isso também se aplica ao M1 Garand, que também é calibrado em .30-06 e também pode ser encontrado nas Filipinas).

A M1919 em uso por combatentes do ISEA, 2017-19.

Durante a Batalha de Marawi, uma M1919 pôde ser avistada sendo disparada de forma selvagem contra as forças das AFP - é difícil imaginar um cenário mais distante do que a venerável metralhadora foi projetada para fazer quase 100 anos antes.

Uma prima próxima da M1919 é a metralhadora pesada M2HB calibre .50 (comumente conhecida como Browning .50), que foi usada pelo ISEA em quantidades limitadas. No entanto, seu emprego é notável por sua raridade e caso de uso muito claro - a M2HB essencialmente só apareceu em números significativos durante a tomada de Marawi pelo ISEA, em que a metralhadora pesada foi usada como o componente de arma das Técnicas (picapes) do ISIS, e durante os intensos combates urbanos, tanto contra pessoal quanto contra aeronaves.

Técnicas do ISEA com M2HB durante a tomada da cidade de Marawi.

A M2HB é extremamente cara no mercado negro e oferece uma capacidade análoga à metralhadora pesada DShK 12,7x108mm usado com tanta frequência pelo ISIS no Oriente Médio. Como parte da mobilização militar do ISEA para a tomada de Marawi, parece que a M2HB foi adquirida em quantidades até então jamais vistas, junto com uma abundância de munição nova, presumivelmente por longos períodos de tempo. Estas foram então montadas em veículos. Parece que pelo menos uma metralhadora pesada AN/M2 (variante de aeronave de tiro rápido) também foi usada pelo ISEA.

Isso daria aos militantes uma capacidade de ataque de longo alcance e pesada, muito útil no estilo rápido de luta que o ISEA tentou imitar do Oriente Médio - a técnica sendo uma parte fundamental dessa estratégia. É difícil determinar quantas técnicas equipadas com M2HB foram empregadas, mas entre 10-20 parece realista, acompanhadas por quantidades maiores de M2HB desmontadas de qualquer veículo. Quantidades da M2HB foram eventualmente recuperadas pelas forças das AFP quando a cidade foi retomada.

Técnica do ISEA baseado em caminhão pequeno com M2HB.

M2 montada em uma picape.

M2 usada contra aeronaves das AFP.

Após o cerco, os militares das Filipinas fizeram um esforço deliberado para reduzir a ameaça dos armamentos de .50. Iniciada no final de 2017, esta abordagem multifacetada envolve: "preços de prêmio para metralhadoras M2 em programas de recompra, melhor segurança das M2 e da munição 50BMG em bases militares e esforços da marinha e alfândega das Filipinas para impedir a importação do mercado negro".

Parece que a capacidade dos grupos afiliados do ISEA de obterem munição pesada e 12,7x99/.50BMG era claramente motivo de preocupação para uma ação decisiva. A M2HB não parece ter sido usada pelo ISEA desde a Batalha de Marawi, mas o grupo pode manter um número limitado em estoque, ou pode ter conseguido comprar unidades adicionais.

Soldados do exército das Filipinas exibem armas capturadas de Abu Sayyaf em 2017, com uma M2 Browning e incluindo um par de fuzis M1 Garand, um dos quais foi pintado com spray preto brilhante.

O ISEA possui uma mistura variada e muito interessante de armas, como resultado da localização particular do grupo e dos fluxos de armas de longa data nas áreas em que opera. Fique ligado na Parte 2, que incluirá:
  • Lançadores RPG, lançadores de granadas auto-explosivas, canhões sem recuo e dispositivos IED.
  • Armas de porte.
  • Fornecimento de munição.
  • Armas de origem estrangeira.

Este projeto teria sido muito mais difícil sem a ajuda de @ flava13_v7, que agora infelizmente parece estar offline. Muitas imagens não oficiais foram coletadas por meio de seus canais. Meus agradecimentos também a Paweł Wójcik, cujo trabalho tem sido muito útil.

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico:
Desvendando o Exército do Terror.
Michael Weiss e Hassan Hassan.

Leitura recomendada:





FOTO: Filipinos na Coréia, 14 de março de 2020.