segunda-feira, 13 de abril de 2020

Jornal saudita chama a Irmandade Muçulmana de "nazistas"

Haj Amin al-Husseini, o Grande Mufti de Jerusalém, encontrando-se com Adolf Hitler em 1941. (Arquivo do Jerusalem Post)

Por Khaled Abu Toameh, Jerusalem Post, 19 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 12 de abril de 2020.

O artigo publicado na sexta-feira refere-se às estreitas conexões entre os líderes da Irmandade Muçulmana, incluindo Haj Amin Husseini, e os nazistas.

Soldado da Legião Árabe Livre de sentinela, Grécia, 1943.

Haj Amin Husseini, que foi nomeado pelo Alto Comissário Britânico como Mufti de Jerusalém durante o mandato britânico para a Palestina, foi o elo para gerenciar o recrutamento de combatentes árabes para o exército nazista, informou o jornal saudita Okaz em artigo publicado na sexta-feira.

Intitulado "Os Ikhawn (irmãos) nazistas", o artigo se refere às conexões estreitas entre os líderes da Irmandade Muçulmana e os nazistas.


A Arábia Saudita formalmente designou a Irmandade Muçulmana como organização terrorista em 2014 e a proibiu no reino.

As relações entre a Arábia Saudita e o Hamas, um ramo da Irmandade Muçulmana, foram tensas nos últimos anos. No ano passado, o Hamas acusou as autoridades sauditas de prenderem várias de suas figuras e membros proeminentes no reino.

Legionários árabes distribuindo granadas, Grécia, 1943.

Husseini, que era o representante da Irmandade Muçulmana na Palestina, contribuiu com seu amigo e líder Hassan al-Banna, fundador da Irmandade Muçulmana, para recrutar um exército da Irmandade Muçulmana de egípcios e árabes, reunidos em orfanatos e áreas rurais pobres, para servir sob o exército nazista liderado por Adolf Hitler”, disse o jornal em um artigo escrito por seu editor-chefe assistente, Khalid Tashkandi.

Segundo Tashkandi, o número de árabes recrutados por Husseini e pela Irmandade Muçulmana foi estimado em 55.000, incluindo 15.000 egípcios.

Haj Amin al-Husseini, ao lado do SS-Brigadeführer und Generalmajor der Waffen- SS Karl-Gustav Sauberzweig, cumprimentando voluntários bósnios da 13ª Divisão SS durante seu treinamento, novembro de 1943.

O editor saudita disse que havia várias razões pelas quais os nazistas estavam interessados no islã. "Por um lado, os nazistas estavam cientes de que a opressão dos muçulmanos em várias áreas islâmicas sob ocupação e poderes coloniais facilitaria o recrutamento", disse ele. "Por outro lado, os nazistas viam os muçulmanos como combatentes rígidos, prontos para sacrificar suas vidas pelo bem de sua fé."

Membros da 13ª Divisão de Montanha da Waffen-SS "Handschar" (1ª Croata) com o exótico fez vermelho e a insígnia faca local handschar na gola.

Segundo o editor, os nazistas lançaram uma campanha de propaganda em 1941 que promoveu o nazismo como protetor do islamismo," e os líderes do exército nazista distribuíram panfletos educacionais sobre o islamismo aos soldados alemães".

Tashkandi disse que concluiu que as declarações e pontos de vista de Hitler mostram que ele estava interessado em se aproximar do mundo islâmico, a fim de cumprir seus objetivos políticos e militares, entre os quais o principal foi colocar os muçulmanos contra seus inimigos.

Haj Amin al-Husseini, o Grande Mufti de Jerusalém, com um recruta bósnio da 13ª em setembro de 1943.

Michael Milshtein, chefe do fórum de Estudos Palestinos do centro Dayan, com sede na Universidade de Tel Aviv, disse que "o duro artigo no jornal saudita reflete as profundas tensões políticas e ideológicas entre a Arábia Saudita e o Hamas".

Soldados bósnios da 13ª Divisão de Montanha da Waffen-SS "Handschar" com uma brochura sobre "Islã e Judaísmo", junho de 1943.

Milshtein disse ao Jerusalem Post que as relações estreitas do Hamas com o Catar, "consideradas pelos sauditas como um arqui-inimigo", eram outra razão por trás das tensões entre a Arábia Saudita e o Hamas.

Ele ressaltou que os sauditas também estavam "muito zangados" com o Hamas por causa de seus fortes laços com o Irã.

Voluntários da 13ª Divisão em operações contra partisans iugoslavos em maio de 1944.

"O Hamas, por sua vez, está zangado com o [príncipe herdeiro] Mohammed bin Salman por causa de sua suposta normalização [com Israel] e com medo de apoiar o plano recentemente revelado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de paz no Oriente Médio", disse Milshtein.

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domingo, 12 de abril de 2020

A Doutrina estaria afetando a liderança militar?

Royal Marines em manobras.

Por um Capitão dos Reais Fuzileiros Navais (RM/ OF2), Puzzle Palace, 24 de janeiro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 12 de abril de 2020.

Este artigo destacará como a Doutrina de Liderança do Exército é contraproducente no desenvolvimento de líderes eficazes. Argumentará que a educação e o processo militares incentivam a liderança narcisista, que é prejudicial para a eficácia de uma organização, a longo prazo. A doutrina militar do Reino Unido define liderança como:

"Uma combinação de caráter, conhecimento e ação que inspira outras pessoas a terem sucesso" [1].

As doutrinas militar norte-americana [2] e britânica usam verbos prescritivos para definir liderança, com uma insistência abrangente com relação ao sucesso. Mensagens inadvertidas dessa natureza influenciam os líderes menos graduados e cultivam tendências narcisistas, as quais são carregadas durante toda a carreira de oficiais (e praças). A implantação de uma necessidade de sucesso cria um líder bajulador que protege e promove seus resultados para fins pessoais egoístas, o que cria uma liderança disfuncional. [3] Por outro lado, o Marechal-de-Campo Slim definiu liderança como:

“A liderança é aquela mistura de exemplo, persuasão e compulsão que faz os homens fazerem o que você quer que eles façam. Eu diria que é uma projeção de personalidade. É a coisa mais pessoal do mundo, porque é simplesmente você.” [4]

Essa definição destaca que líderes reverenciados percebem que o sucesso não determina um líder eficaz. Além disso, destaca que ter compaixão e empatia é crítico, as quais a definição doutrinária negligencia. Finalmente, a academia define similarmente liderança como:

“Líderes são modelos que influenciam os valores, sistema, cultura e ação das pessoas que trabalham em uma organização.” [5]


Observando que ambas as referências carecem de uma medida para o sucesso da liderança, há um argumento de que as definições não-doutrinárias são mais amplas e eficazes. Além disso, devemos considerar que líderes eficazes nem sempre podem ser bem-sucedidos em seus empreendimentos: Shackleton nunca liderou uma expedição bem-sucedida, mas é amplamente considerado um líder bem-sucedido. [6] Isso, portanto, destaca que a liderança eficaz nem sempre depende do sucesso, e que o nível de liderança é importante: organizacional/ estratégico ou individual/ tático. Tanto Shackleton quanto Slim são usados como modelos de liderança na educação militar, mas isso não se traduz na doutrina, ou cultura. Pode-se argumentar que o sucesso como medida de liderança pode se tornar contraproducente.

Podemos ver que um sistema militar tradicional - para o qual se baseia a doutrina - impede o desenvolvimento de líderes eficazes, mas promove líderes e seguidores bajuladores em uma organização moralmente decadente. As citações acima sustentam que a doutrina militar influencia o ambiente e a cultura militares, o que incentiva a busca impiedosa do sucesso e, portanto, tendências narcisistas. No entanto, os curtos mandatos do comando militar restringem os efeitos destrutivos de emergirem totalmente. Isso não quer dizer que os líderes egoístas não possam ser eficazes, desde que a organização esteja ciente e possa garantir que o líder não se torne destrutivo. Com o mundo e a guerra moderna se tornando mais interconectados, com uma proliferação de habilidades, os relacionamentos serão fundamentais. Um líder que pode galvanizar uma equipe, para criar a soma de peças, será fundamental para uma liderança bem-sucedida. Esta lição já foi desbravada por McChrystal, em seu livro Team of Teams, e enfatiza que o futuro será a liderança baseada em rede em todos os domínios, e pan-governamental: Liderança em Rede. Com isso em mente, é hora dos militares revisarem sua definição doutrinária de liderança, para serem mais compassivos e empáticos. Isso garantirá que os valores certos sejam instilados cedo em nossos líderes menos graduados e, assim, desenvolverá líderes eficazes para o ambiente de amanhã.


Como isso se relaciona com os Reais Fuzileiros Navais?

O treinamento dos Reais Fuzileiros Navais tenta melhorar a compreensão mútua e, portanto, a empatia em todas as fileiras, integrando o treinamento no Centro de Treinamento Comando e reforçando o Ethos Comando. Isso, portanto, limita os efeitos do narcisismo nos líderes comandos. No entanto, a doutrina é o fundamento de tudo o que fazemos como profissionais militares. Consequentemente, essas lições se infiltram em nossas ações - mais ainda na coorte de oficiais - ao realizar treinamento de equipe ou trabalhar no ambiente Conjunto. Como os Reais Fuzileiros Navais realizam muitas de suas tarefas operacionais no ambiente Conjunto, é crucial que a compaixão e a empatia sejam a pedra angular da liderança comando.

Isso deve apoiar e encorajar outros fatores críticos, como conhecimento, credibilidade e integridade. Os fuzileiros navais reais devem garantir que continuem se isolando da definição de liderança doutrinária definida acima e, em vez disso, se concentrem nas últimas definições. A busca pelo sucesso que o narcisismo oferece pode ser vista como uma característica atraente para o sucesso imediato, no entanto, devemos ter cuidado para proteger os indivíduos que isso pode afetar, caso não seja tratado. É responsabilidade dos líderes superiores atribuir e monitorar o desempenho de seus líderes subordinados. Os relatórios 360 oferecem uma maneira de monitorar isso.

Notas:

[1] Royal Military Academy Sandhurst. Army Leadership Doctrine (ALD). (MoD.2016).9.

[2] ADP 6-22. Army Leadership. Department of the Army. 2016,1.

[3] Bryman. Leadership. The SAGE Handbook of Leadership.(SAGE Publications:2011),402.

[4] ALD. 2016.9.

[5] Gyanchandani. The effect of transformational leadership on team performance in IT sector. IUP Journal of Soft Skills, Vol XI, (2017).

[6] Morrell and Capparell. Shackleton’s Way. (Brealey: 2001),1.

Leitura recomendada:


Escolhendo Líderes: Selecionando Liderança


Pela Dra. Kaaren Welsby, Leaders Consultancy, 18 de julho de 2017.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 12 de abril de 2020.

Aplicação de lições do exército aos líderes de Guernsey.

O que é liderança - e o que é um líder?

Colin Powell, um líder militar e diplomata americano, observou que “a liderança é a arte de alcançar mais do que a ciência da administração diz ser possível.” 

Segundo a definição do Exército Britânico, a liderança é “uma combinação de caráter, conhecimento e ação que inspira outros para terem sucesso."

O Código de Liderança do Exército (Army Leadership Code2016, britânico) usa o mnemônico LEADERS. Isso significa:


Lead by example (Lidere pelo exemplo)
Encourage thinking (Incentive o pensamento)
Apply discipline and reward (Aplique disciplina e recompensa)
Demand high performance (Exija alto desempenho)
Encourage confidence in the team (Incentive a confiança na equipe)
Recognise individual strengths and weaknesses (Reconheça pontos fortes e fracos individuais)
Strive for team goals (Esforce-se pelos objetivos da equipe)

O valor da liderança

Muitos líderes empresariais acreditam que: "a verdadeira riqueza e força de uma organização está em seu cérebro, caráter e liderança". 

Esta declaração está focada no pessoal de uma organização, em seus líderes atuais e futuros. Isso significa os responsáveis agora, bem como os selecionados (ou identificados em um plano de sucessão) para futuras funções de liderança.

Identificando o potencial de liderança

Mas os líderes podem realmente ser selecionados? E se eles podem ser identificados com alguma confiança, como e por qual processo isso pode ser feito? 

Há uma idéia de que toda mulher e homem tem potencial para ser um líder. Ou, como Henry Harris diz: "todos são chamados e todos podem ser escolhidos" em algum momento ou outro. Dessa forma, "a seleção deve abrir (e continuar abrindo) os portões da oportunidade".

Um processo de seleção pode escolher apenas aqueles que devem se tornar líderes; não é possível prever quem se tornará um líder. 

Liderança e inteligência - como outras funções humanas - são herdadas apenas como potencialidades. Referindo-se à Abordagem de Grupo para Testes de Liderança (Group Approach to Leadership Testing), de Henry Harris, o ônus de descobrir esta potencialidade repousa sobre:

- Seleção;
- Treiná-la habilmente;
- Proporcionar as oportunidades que a estenderão totalmente.

Essas oportunidades devem repousar  na comunidade. Isso ocorre porque a experiência nos muda como pessoas; altera nossas visões e modifica nossos comportamentos. 

Outras questões pertinentes também podem ser: quem (que tipo de pessoa) pensa que é um líder; ou quem pensa que eles podem ter potencial de liderança - e por quê? 

Usarei o exército britânico como um estudo de caso. Aqui estão duas campanhas publicitárias muito diferentes - e, no entanto, complementares - criadas para atrair soldados em potencial e também oficiais/ líderes em potencial:



Motivadores da Liderança da Geração do Milênio

O "quem" pode ser identificado aqui como o público-alvo (de 18 a 24 anos) tanto para candidatos oficiais quanto para soldados. Refletindo sobre a campanha de 2017, a agência de publicidade Karmarama disse: "Decidimos destacar contextos e momentos reais e autênticos do Exército que mostram claramente a importância de fazer parte de uma família forte e altruísta que o aceite como você é e lhe dê a chance de trabalhar juntos para um propósito significativo."

Curiosamente, o "porquê" pode ser parcialmente respondido por Simon Sinek em sua discussão de 2016 intitulada "Geração do Milênio no local de trabalho" (a "Geração do Milênio", também "Geração Y", significa os nascidos após 1984). Ele observa que esses indivíduos estão procurando um veículo, um foco, algo que atraia sua imaginação: "um lugar para pertencer - criando um senso de comunidade quando [todas as outras] relações sociais são fraturadas e complexas".

De maneira reveladora, as campanhas de recrutamento do Exército britânico vêm avançando em direção a esse "valor agregado" (ou valores agregados?) de pertencimento e de fazer a diferença - de "Faça mais, seja mais" (2013), "Mais do que aparenta" (2015) e "Um eu melhor" (2016), a "Isto é pertencimento" (2017). A atual campanha específica para oficiais é intitulada "Com o coração. Com a mente".

Lições de Liderança do Exército

A missão do Conselho de Seleção de Oficiais do Exército (Army Officer Selection Board) é selecionar oficiais em potencial para treinamento e educação para comandar soldados em tempo de paz e em operações e para funções especializadas no Exército. O processo de seleção tem a reputação de ser escrupulosamente justo com todos. "A liderança é uma função dinâmica e adaptativa, variando de acordo com o grupo e a tarefa, aumentando e diminuindo com as demandas da situação total, flutuando no tempo".

Em 2017, há muito poucas coisas nas quais qualquer pessoa pode "falhar" - um exame de condução de veículo e de seleção de oficiais do Exército são duas.

Então, o que o Exército procura em seus líderes - e como o potencial de liderança pode ser identificado? Em termos gerais, o Exército procura personalidade, um nível de condicionamento físico, habilidade prática, capacidade de lidar com a pressão e capacidade de planejar. Mas, mais do que tudo, é provável que o Exército esteja à procura de um indivíduo que possa realmente "Servir para Liderar" - o lema da Academia Real Militar de Sandhurst. No passado, "servir para liderar" significava "cavalos primeiro, soldados depois, oficiais por último". Isso sempre significa alguém que coloca os outros em primeiro lugar - sempre.

A idéia de "servir para liderar" é sobre e intrinsecamente ligada a nossos valores - natureza e educação - como fomos criados, nossos valores familiares, nossa educação, nossas diversas experiências à medida que avançamos pela vida. De maneira reveladora, as avaliações psicométricas que realizamos com os clientes da Leaders Consultancy (leaderconsultancy.co.uk) podem capturar essas informações perfeitamente. Utilizamos avaliações combinadas para aprimorar a autoconsciência e permitir que os clientes alcancem seu melhor pessoal e profissional.

Assim como o slogan da campanha de recrutamento do Exército, somos todos "mais do que aparentamos" e todos podemos ser grandes líderes em nossas diferentes organizações - especialmente quando podemos alinhar nossos valores e descobrir onde realmente pertencemos.


A Dra. Kaaren Welsby é uma comunicadora carismática e empreendedora acadêmica, com 20 anos de experiência militar, educacional e de treinamento. Kaaren é major nas Reservas do Exército Britânico; ela realizou dois tours operacionais e é uma oficial de mídia treinada. Ela trabalhou extensivamente na área de recrutamento, educação e entrega de programas do exército, antes de se tornar conselheira educacional do Conselho de Seleção de Oficiais do Exército, parte do grupo da Academia Real Militar de Sandhurst. Ela agora é especializada na avaliação educacional e psicológica de possíveis candidatos a oficiais do exército. Kaaren possui uma vasta experiência em trabalhar com pessoas de diversas origens, incluindo um intenso apoio individual para jovens em educação e assistência. Ela é uma treinadora experiente, ajudando outras pessoas a atingir seu potencial pessoal e profissional.

Leitura recomendada: 


sábado, 11 de abril de 2020

A Arábia Saudita tem o melhor equipamento militar que o dinheiro pode comprar - mas ainda não é uma ameaça para o Irã

Soldados das forças especiais sauditas com fuzis de assalto G36C.
(Agência de Imprensa Saudita)

Por Ben Brimelow, Business Insider US, 16 de dezembro de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 11 de abril de 2020.
  • A Arábia Saudita tem alguns dos melhores equipamentos militares que o dinheiro pode comprar, mas suas forças armadas ainda não são vistas como uma ameaça ao seu rival de longa data, o Irã.
  • As forças armadas da Arábia Saudita não se mostraram capazes de combater efetivamente os rebeldes houthis apoiados pelo Irã no Iêmen.
  • Seu arsenal é projetado para uma grande guerra convencional - não para a guerra terceirizada.
Nos últimos anos, a Arábia Saudita liderou uma intervenção na guerra civil do Iêmen, foi a força motriz por trás de uma crise diplomática entre o Catar e seus vizinhos e se envolveu na política do Líbano.

Todas essas coisas parecem ter um objetivo comum: empurrar a influência do Irã.

Mas especialistas dizem que as ambições da Arábia Saudita são limitadas por suas forças armadas, as quais são consideradas uma força ineficaz, embora o reino seja um dos maiores gastadores do mundo em defesa.

"O fato é que o Irã é melhor nesse processo", disse Michael Knights, pesquisador da Lafer no Instituto Washington, especializado em assuntos militares e de segurança no Iraque, Irã e Golfo Pérsico.

"Não há no Estado-Maior iraniano ninguém que tenha medo da Arábia Saudita", disse Knights.

O esforço da Arábia Saudita no Iêmen - onde seu conflito de anos com os rebeldes houthis não tem fim - revela suas deficiências contra um adversário como o Irã.

"O que realmente estamos falando é como eles se comparam em uma guerra terceirizada", disse Knights. "É o que eles estão fazendo na região hoje em dia."

Soldados iranianos marchando em um desfile de 2011 em Teerã para comemorar o aniversário da guerra Irã-Iraque. (Reuters)

Um dos maiores gastadores em defesa

As forças armadas da Arábia Saudita enfrentam dois problemas principais. Elas são muito grandes, tornando-as mais suscetíveis a problemas organizacionais e de qualidade, e seu arsenal é projetado para uma grande guerra convencional e não para as guerras terceirizadas do século XXI.

Por toda a ineficácia militar da Arábia Saudita, é difícil culpar os equipamentos do reino. No ano passado, a Arábia Saudita foi o quarto maior gastador em produtos de defesa do mundo, logo atrás da Rússia.

De acordo com a IHS Jane's, uma editora britânica especializada em tópicos militares, aeroespaciais e de transporte, a Arábia Saudita foi o maior importador mundial de armas em 2014.

Dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo mostram que a Arábia Saudita foi o segundo maior importador de armas em 2015 e 2016. As importações de armas para o reino aumentaram mais de 200% desde 2012, segundo o instituto.

O armamento que está sendo comprado também não é de baixa qualidade. A maioria do hardware militar da Arábia Saudita é comprada de empresas americanas. De fato, 13% de todas as exportações de armas dos EUA em 2016 foram destinadas ao reino. As empresas do Reino Unido e da Espanha foram os segundo e terceiro maiores vendedores.

Um Eurofighter Typhoon da Força Aérea Real Saudita.
(Wikimedia Commons)

O arsenal da Força Aérea Real Saudita inclui os Eurofighter Typhoon, talvez o jato de caça mais avançado em serviço pelas forças armadas europeias, e os americanos F-15 Eagle, o indiscutível rei dos céus por três décadas e ainda formidável. Os sauditas ainda têm seu próprio modelo do Eagle - o F-15SA (Saudi Advanced), que começou a ser entregue este ano.

As Forças Terrestres Reais da Arábia Saudita, o exército saudita, têm tudo, desde tanques M1A2 Abrams e veículos de combate M2 Bradley até helicópteros AH-64D Apache Longbow e UH-60 Black Hawk.

Praticamente todos os navios da Marinha Real Saudita foram construídos em estaleiros americanos, especificamente para a Arábia Saudita. Suas fragatas mais recentes, a classe Al Riyadh, são versões modificadas da fragata francesa da classe La Fayette.

A Arábia Saudita é uma das nações mais bem equipadas do mundo. No entanto, as forças armadas sauditas não colocam medo no coração de seus adversários, ou potenciais inimigos.

Tropas das forças especiais sauditas durante uma operação de reféns.
(Vice / YouTube)

A guerra terceirizada no Iêmen

Evidências das deficiências das forças armadas sauditas podem ser vistas ao sul da fronteira saudita no Iêmen.

Quase três anos depois que a Arábia Saudita, apoiada por outros países árabes e do Golfo, lançou uma intervenção militar para apoiar o presidente deposto do Iêmen, Abdrabbuh Mansur Hadi, rebeldes houthis apoiados pelo Irã ainda estão ativos e continuam a deter a maior cidade e capital do Iêmen, Sana'a .

Além disso, os houthis se mostraram capazes de lançar ataques de alto perfil contra os sauditas. Isso inclui várias incursões transfronteiriças à Arábia Saudita, ataques bem-sucedidos a navios das marinhas emirati e saudita, e o lançamento de mísseis balísticos no coração do reino.

Em uma vergonha mais recente, um relatório do The New York Times sugeriu que um míssil balístico disparado pelos houthis que explodiu em um aeroporto na capital saudita de Riad não foi realmente abatido como anteriormente reivindicado pelas forças armadas sauditas.

O estado da Guerra no Iêmen no início deste mês. O vermelho representa o território do governo iemenita, apoiado pela coalizão liderada pela Arábia Saudita, o branco para os afiliados da Al-Qaeda, o preto para o ISIS e o verde para os rebeldes houthis apoiados pelo Irã.
(Wikimedia Commons)

Por que não houve vitória no Iêmen

Os sauditas tiveram uma tarefa difícil no Iêmen. Eles têm que operar no coração do território houthi contra uma força de combate bem treinada, bem financiada e bem suprida.

A Arábia Saudita, no entanto, não enviou forças terrestres significativas para o Iêmen que seriam necessárias para vencer no campo de batalha.

"Não sabemos se as forças armadas sauditas podem ter um impacto significativo na guerra iemenita, porque só vimos o desdobramento do poder aéreo saudita", disse Knights ao Business Insider.

"Geralmente, uma campanha apenas de poder aéreo não terá um grande impacto - particularmente nesse tipo de terreno complexo com um inimigo que é muito hábil em se esconder do poder aéreo e geralmente se parece com civis", disse ele.

Tropas sauditas em sua base na cidade portuária de Aden, no sul do Iêmen, em 2015.
(Reuters)

Knights estima que 10.000 a 20.000 soldados seriam necessários para ter o efeito desejado. No entanto, as forças armadas sauditas não mobilizaram suas forças terrestres* - provavelmente porque a liderança saudita sabe que, como diz Knights, eles "sofrem de fraquezas significativas".

*Nota do Tradutor: Os sauditas eventualmente comprometeram 150 mil homens no Iêmen mas sem, no entanto, conseguirem alterar o impasse.

Essas fraquezas incluem a falta de equipamento logístico e a experiência necessária para realizar uma tal campanha.

"Eles não têm experiência em uma operação expedicionária", disse ele, observando que a campanha da Tempestade no Deserto contra o Iraque - para a qual a Arábia Saudita contribuiu - foi em grande parte um esforço americano.

Além disso, as forças terrestres da Arábia Saudita como um todo não são treinadas o suficiente para poderem ter sucesso em operações de larga escala. Como tal, uma força terrestre saudita no Iêmen pode causar mais mal do que bem.

Bilal Saab, membro sênior e diretor do Programa de Defesa e Segurança do Instituto do Oriente Médio, disse ao Business Insider que a Arábia Saudita entendeu o dano potencial para suas forças terrestres. Em um e-mail, a Saab disse que a Arábia Saudita não enviaria grandes contingentes de forças terrestres "porque suas baixas seriam graves e provavelmente causariam tremendos danos colaterais no Iêmen".

Artilharia saudita atirando em direção a posições houthis à partir da fronteira saudita com o Iêmen em 2015.
(Reuters)

O que pode ser feito

Na visão de Knights, a Arábia Saudita precisa reduzir o tamanho de suas forças armadas, focar em recrutamento e treinamento de qualidade e criar unidades capazes de lutar ao lado e de treinar aliados locais.

Hoje, milícias locais e grupos tribais formam a maioria da força terrestre que luta contra os houthis, e poucos ou nenhum soldado saudita os ajuda - exceto por algumas unidades das forças especiais.

"Como resultado", diz Knights, "não há pressão militar credível sobre os houthis."

A batalha terceirizada no Iêmen é apenas um exemplo da crescente influência do Irã no Oriente Médio. O Hezbollah, por exemplo, está melhor armado e organizado do que as forças armadas oficiais do Líbano. O Hamas, envolvido em um conflito contínuo com Israel, também é apoiado publicamente pelo Irã e várias milícias nas Unidades de Mobilização Popular do Iraque recebem treinamento, financiamento e equipamento deste seu país vizinho.

O arsenal da Arábia Saudita, apesar de impressionante, também precisa ser construído com as aplicações desejadas em mente. Por enquanto, essas parecem ser guerras terceirizadas contra um inimigo que raramente está de uniforme, em oposição a uma travada contra um exército convencional da era da Guerra Fria.

Leitura recomendada:




GALERIA: Exercício "Shamrakh 1"12 de março de 2020.

GALERIA: Forças Especiais da PAP chinesa em exercício em floresta montanhosa

"A equipe de operações especiais estuda a situação e formula um plano de combate."

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog11 de abril de 2020.

Em 10 de abril de 2020, as forças especiais do Destacamento Móvel da Força Policial Popular Armada chinesa (Polícia Armada Popular, PAP) de Guangxi para realizaram exercícios antiterroristas em uma floresta montanhosa. 

Recentemente, a China tenta mostrar uma fachada militar mais ocidentalizada, com tropas de elite bem treinadas e operando em pequenas unidades; algo completamente oposto à tradição militar chinesa.

Fotos de Liu Ming e Yu Haiyang do canal 81 chinês para o canal China Military Online.

"Os combatentes especiais procuravam alvos na selva."

"O sniper dá cobertura aos comandos buscando profundamente na selva."

"Depois de encontrar o alvo, a equipe especial rapidamente o perseguiu."

"Combatentes especiais usaram drones para detectar rotas de fuga 'terroristas'."

"Um membro da equipe especial cobre seus companheiros que buscam o alvo."

"O atirador observa a "situação inimiga" secretamente, esperando a oportunidade de executar um tiro de precisão."

"Um grupo de combatentes especiais executou supressão de fogo sobre os "terroristas"."

"Combatentes especiais realizaram ataques de precisão contra "terroristas"."

Bibliografia recomendada:

VÍDEO: Fuzis Anti-Material curdos Zagros 12,7mm e Şer 14,5mm


GALERIA: Manobra blindada nas Montanhas Celestiais


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 11 de abril de 2020,

Um regimento blindado do Comando Militar de Xinjiang realizando um exercício de manobra de longa distância nas Montanhas Tian Shan, conhecidas como "Montanhas Celestiais", na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, na China, em 6 de dezembro de 2017. Fotos de Tao Jiale para o canal China Military Online

O regimento está equipado com os carros de combate Tipo 59, transportes blindados Tipo 63 e a sua infantaria de acompanhamento está armada com os fuzis bullpup chineses da família QBZ-95.





Leitura relacionada:

O exército chinês ainda está treinando com tanques muito antigos

Coluna de tanques chineses Tipo 59 durante o exercício nas Montanhas Tian Shan, 6 de dezembro de 2017.
(China Military Online)

Do blog 21st Century Asian Arms Race, 23 de dezembro de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 11 de abril de 2020.

À medida que a tecnologia letal se estende a munições planadoras e mísseis de cruzeiro hipersônicos, alguns sistemas modernos de armas muito datados ainda estão em serviço com o maior exército do mundo. No início deste mês, o portal de notícias do PLA divulgou fotos de um "exercício de manobra de longa distância" realizado em 6 de dezembro envolvendo o Comando Militar de Xinjiang.

Tropas de uma unidade mecanizada não-especificada levaram seus tanques Tipo 59 e transportes Tipo 63 com meio século de idade para praticar nas encostas nevadas das Montanhas Tian Shan. O exercício é a prova mais recente de que o exército chinês mantém muito do seu hardware obsoleto em condições de funcionamento.

O tanque Tipo 59 é um clone do T-55 soviético, cujo número total de produção é estimado entre 53.000 a 80.000 construído em um período de 40 anos, e foi montado pela primeira vez em Baotou, na Mongólia Interior, a partir de 1958. Não há números exatos de produção para o Tipo 59, embora especule-se que mais de vários milhares foram construídos e depois adotados pelo PLA e por clientes estrangeiros.


Nos 26 anos seguintes, o Tipo 59 foi transformado em um tanque leve reduzido, um tanque anfíbio com um casco especialmente projetado para travessias de água e, em seguida, uma variante atualizada para exportação - o Tipo 69 e o Tipo 69-II. O Tipo 59 está armado com cópias chinesas do canhão raiado de 100mm D-10T2S, a metralhadora pesada de 12,7mm DShK e uma metralhadora coaxial de 7,62mm PKT. Como medida defensiva, o Tipo 59 pode lançar uma cortina de fumaça através do escapamento do motor para ocultar seu movimento.

Os exercícios de 6 de dezembro nas Montanhas Tian Shan mostraram o transporte blindado Tipo 63, também conhecido como YW 531, que costumava ser o principal transporte sobre lagartas do PLA. Seu desenho rudimentar e seu fraco armamento - sendo uma única metralhadora de 12,7mm - o coloca em inferioridade em comparação com os táxis de batalha mais novos e sobre rodas. Para ser justo, o Tipo 63 é um tanto versátil e foi usado como base para um obus autopropulsado. A Coréia do Norte até modificou seus próprios Tipo 63 para transportar lançadores múltiplos de foguetes de curto alcance.

Se o desdobramento desses veículos antigos em Xinjiang prova alguma coisa, é a luta do PLA para concluir sua "modernização". Até o presidente Xi Jinping disse a seus generais que um cronograma generoso que se estende até 2035 continua sendo o caminho mais seguro para tornar as forças armadas uma instituição de classe mundial.


Mas outra razão pela qual os tanques e transportes da era Mao ainda são mantidos operacionais pode ser a sua utilidade em terrenos difíceis. Assim como o PLA quer tanques mais leves, mas fortemente armados, para as províncias do sul, qualquer guarnição encarregada de defender as montanhas e vales de Xinjiang é melhor servida por um tanque médio confiável que não pesa mais de 40 toneladas. O canhão do Tipo 59 é formidável o suficiente contra tanques de primeira e segunda geração, mas não se sairia bem contra os gigantes digitalizados de hoje. Além disso, não há ameaças convencionais do vizinho Quirguistão, Cazaquistão e Rússia, de modo que o PLA pode se dar ao luxo de não atualizar seus blindados na região.

Devido à sua idade e características, o Tipo 59 tem mais do que algumas falhas gritantes. Assim como seu colega soviético, seu registro de combate é misto e geralmente pouco impressionante. Em meados da década de 1960, os tanques Tipo 59 foram entregues ao Paquistão e cruzaram o norte da Índia na guerra de 1971 sobre o Bangladesh. Uma brigada inteira foi quase aniquilada pelos jatos Hunter da Índia, fabricados na Inglaterra, fora da cidade de Longewala.

20 anos depois, centenas de carros Tipo 69 II atualizados iraquianos não conseguiram parar a contra-ofensiva liderada pelos EUA para expulsar o Exército Iraquiano do Kuwait na Operação Tempestade no Deserto. O transporte blindado Tipo 63 no Iraque também não demonstrou seu valor. Tanto o T-55 quanto o Tipo 59 têm o benefício de uma armadura e mobilidade decentes. Suas desvantagens, no entanto, são muitas para ignorar. O interior é apertado e o armazenamento de munição é aleatório. Um sistema obsoleto de controle de incêndios e sistemas ópticos ruins para o comandante e o artilheiro tornam seu desempenho em combate questionável.

Soldados americanos inspecionam um Tipo 69-II abandonado no deserto do Kuwait.

Se o PLA finalmente aposentar seus 4.000 (de mais de 7.000 tanques) do Tipo 59, estes poderão ser sucateados ou atribuídos a diferentes funções. Em 2017, a Norinco apresentou um Tipo 59 configurado como um transporte de tropas que tinha uma torre armada com um canhão de 30mm. Outra opção para estender a utilidade do tanque é uma revisão radical.

Métodos modernos de montagem de veículos podem ser usados para reconstruir um Tipo 59 com melhor blindagem, armas maiores e eletrônicos atuais; Irã, Paquistão, Rússia e Ucrânia têm programas para ressuscitar seus tanques antigos. O mesmo acontece com a China e, em 2011, a Norinco entregou o Tipo 59 para a Tanzânia reconstruído com o mesmo padrão que o Tipo 96A. Ao considerar essas opções, o futuro do Tipo 59 parece promissor.

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