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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Fotos colorizadas das galerias do Warfare

Um paraquedista ferido do 3e BPVN é confortado por um camarada. No fundo, outro paraquedista vietnamita ferido, com um fuzil MAS 36 CR 39 em bandoleira.

Usuários da internet gostaram de algumas fotos publicadas em galerias no Warfare e as colorizaram. As galerias em questão são:





Os tirailleurs do 22e BTA são assaltados frontalmente e abrem fogo para interromper o ataque dos "Du Kich" (guerrilheiros do Viet-Minh). Uma granada de fuzil francesa explode pouco antes do início do combate corpo-a-corpo.

Os feridos do 2e BEP foram evacuados por um helicóptero Hiller 360 durante a Operação Brochet, em setembro de 1952.

Paras do 1er RCP avançando na areia da praia de Quang-Tri durante a Operação Camargue. Um rádio-operador está em evidência.

Atraídos por estampidos de tiros, os paras do 1er RCP se posicionam próximos a uma vila durante a Operação Camargue.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

GALERIA: Um batalhão de Tirailleurs Senegaleses no Camboja

Grupo de tirailleurs do 2/6e RIC sentados na traseira de um caminhão cujas laterais foram removidas da carroceria para facilitar um rápido desembarque em caso de emboscada, setembro de 1952.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 16 de outubro de 2020.

O 2º batalhão de Tirailleurs Senegaleses do 6e RIC (6e Régiment d'Infanterie Coloniale/ 6º Regimento de Infantaria Colonial) na região de Trapéang Phlong, durante a campanha no Camboja. A reportagem de Bouvet Robert para o ECPAD apresenta uma missão de reconhecimento sob o comando do Major Marlic e a vida cotidiana no acantonamento ao retornar da missão.

Grupo de sargentos do 2/6e RIC reunidos para a refeição.

O "bep" (faz-tudo) preparando as refeições dos oficiais do batalhão supervisiona a preparação de um prato.

Tirailleur Sénégalais é o nome genérico dado a todos os soldados africanos continentais (os malgaxes de Madagascar são Tirailleurs Malgaches), contendo senegaleses, camaroneses, malinenses etc sob um mesmo título de "senegaleses". Na Indochina serviu o 24e Regiment de Marche de Tirailleurs Sénégalais (24º Regimento de Marcha de Atiradores Senegaleses), além de vários batalhões independentes que foram anexados a regimentos de infantaria colonial. A última unidade de Tirailleurs Sénégalais foi dissolvida em 1964. O 6e RIC, a unidade parental do 2º Batalhão Tirailleurs Sénégalais, seria dissolvido em 1955, sendo reativado em 1958 para lutar na Argélia. O tirailleur mais famoso foi Jean-Bédel Bokassa, o futuro auto-proclamado imperador da República Centro-Africana.

Seguindo o conselho do seu pai e do seu avô, Bokassa ingressou nos tirailleurs em 19 de maio de 1939. Servindo no 2º Batalhão de Marcha, ele foi promovido a cabo em julho de 1940. Ele participou da tomada de Brazzaville pelas Forças Francesas Livres em 24 de outubro de 1940. Em setembro de 1941, Bokassa foi promovido a Sargento-Chefe. O futuro imperador tomou parte no desembarque anfíbio na Provença em 15 de agosto de 1944, durante a Operação Dragoon; combatendo no sul da França e na Alemanha até o fim da guerra na Europa em 1945. Ele permaneceu no exército, onde estudou rádio transmissão em Fréjus. Ele foi enviado para a escola de oficiais Prytanée militaire de Saint-Louis. Em 7 de setembro de 1950, Bokassa foi enviado para a Indochina como o oficial especialista de comunicações do batalhão Saigon-Cholon. Bokassa casou com uma vietnamita de 17 anos chamada Nguyễn Thị Huệ, com quem teve uma filha, a qual Bokassa registrou com cidadania francesa. Em 1953, o jovem capitão foi transferido da Indochina para a França afim de ensinar na escola de rádio transmissão de Fréjus. Ele deixou a mulher e a filha na Indochina pois acreditava que voltaria.

Bokassa ainda serviria na Argélia antes de ser transferido para o novo exército centro-africano em 1960, com o posto de chef de bataillon (major), tornando-se o primeiro coronel do país em 1º de dezembro de 1964. Ele se tornaria o presidente do país e depois se auto-proclamaria Imperador Bokassa I; destacando-se pelas excentricidades e brutalidade até ser derrubado pelos franceses na Operação Barracuda, em 21 de setembro de 1979. Jean-Bédel Bokassa foi condecorado durante o seu serviço militar com a Légion d'Honneur e a Croix de Guerre.

Retorno da operação ao pôr do sol de uma companhia de tirailleurs do 2/6e RIC.

Tirailleurs do 2/6e RIC cozinham um porco no espeto.

Bibliografia recomendada:

Leitura recomendada:

GALERIA: Construção de um posto no Camboja16 de outubro de 2020.

GALERIA: Legionários reparadores no Camboja, 8 de outubro de 2020.

GALERIA: Retomado do rochedo de Ninh-Binh pelos Tirailleurs Argelinos16 de outubro de 2020.

GALERIA: Operação de limpeza com blindados em Tu Vu25 de abril de 2020.

GALERIA: Retomado do rochedo de Ninh-Binh pelos Tirailleurs Argelinos16 de outubro de 2020.

Como construir melhores forças armadas na África: as lições do Níger8 de outubro de 2020.

GALERIA: Construção de um posto no Camboja

No posto, as posições localizadas no centro das faces são usadas para tiros de flanqueamento.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 16 de outubro de 2020.

Construção de um posto no Camboja, entre fevereiro e maio de 1952, sob a direção do Capitão Veillot, com a participação da 3ª companhia do 6º BCC (6e Bataillon de Chasseurs Cambodgiens/ 6º Batalhão de Caçadores Cambojanos).

O primeiro trabalho de construção de um posto: montagem da rede de arame farpado.

A mureta do posto eleva-se sob a proteção do morteiro de 81mm.

A instrução de morteiro 60mm na periferia do posto pela 3ª companhia do 6e BCC.

Caçadores da 3ª Companhia do 6e BCC atrás da sua metralhadora Browning .50 (12,7mm) protegendo o posto.

Bibliografia recomendada:

Leitura recomendada:

GALERIA: Legionários reparadores no Camboja, 8 de outubro de 2020.

GALERIA: Retomado do rochedo de Ninh-Binh pelos Tirailleurs Argelinos16 de outubro de 2020.

GALERIA: Blindados Anfíbios do 1er REC na Indochina2 de outubro de 2020.

GALERIA: Largagem paraquedista em Quang-Tri durante a Operação Camargue2 de outubro de 2020.

GALERIA: Bawouans em combate no Laos28 de março de 2020.

GALERIA: Operação Chaumière em Tay Ninh com o 1er BPVN16 de junho de 2020.

GALERIA: Operação de limpeza com blindados em Tu Vu25 de abril de 2020.

O que um romance de 1963 nos diz sobre o Exército Francês, Comando da Missão, e o romance da Guerra da Indochina12 de janeiro de 2020.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

GALERIA: Legionários reparadores no Camboja

Dois legionários e uma "auto-metralhadora" M8 Greyhound da 1er CMRLE, agosto de 1953.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de outubro de 2020.

No Camboja, nas regiões de Prey Veng e Néak Luong, a contribuição da 1er CMRLE (1ère Compagnie Moyenne de Réparation de la Légion Étrangère 1ª Companhia Média de Reparação da Legião Estrangeira) para as atividades do 2° Batalhão do RMC (Régiment Mixte du Cambodge / Regimento Misto do Camboja), 

Fotos de Surel para o ECPAD, com a participação do Capitão Bretegnier, comandante desta ação conjunta, do Capitão Roehrich, comandante do 2º Batalhão do RMC e do Capitão Noël da 1er CMRLE, em agosto de 1953.

Aparte os regimentos e batalhões que formaram as unidades principais da Legião Estrangeira na Indochina, havia cerca de 30 companhias destacadas de vários tipos formadas durante a guerra e compostas por legionários possuidores de habilidades úteis; sendo elas unidades de transporte, reparo, engenharia e logística.

O comboio da 1er CMRLE na estrada para Prey Veng.

Um caminhão GMC (General Motors Corporation) da 1er CMRLE passando por um desvio inundado pelas chuvas que já começaram, provavelmente na estrada Prey Veng.

Legionário da 1er CMRLE trabalhando em caminhão oficina.

Dois legionários da 1ª CMRLE no caminhão servindo como loja de acessórios, provavelmente na estrada de Prey Veng.

Bibliografia recomendada:

Leitura recomendada:

GALERIA: Operação Mercure na Indochina7 de outubro de 2020.

GALERIA: Operação Brochet no Tonquim3 de outubro de 2020.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Os amantes cruéis da humanidade

Uma viúva em luto chorando sobre um saco plástico contendo os restos mortais do marido, em fevereiro de 1968. Ele foi morto durante o massacre de Hue, quando as forças viet congs ocuparam a cidade durante a Ofensiva do Tet; ele encontrado em uma vala comum nos arredores da cidade. (Larry Burrows/ LIFE Magazine)

Por Paul Johnson, Wall Street Journal, 5 de janeiro de 1987.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 28 de setembro de 2018.

[Nota: Datas entre colchetes não estão no original.]

Nos últimos 200 anos, a influência dos intelectuais cresceu de forma constante. Ele sempre esteve lá, é claro, pois em suas encarnações anteriores, como sacerdotes, escribas e adivinhos, os intelectuais reivindicaram guiar a sociedade desde o começo. Desde o tempo de Voltaire [1694–1778] e Rousseau [1712–78], o intelectual secular preencheu a posição deixada pelo declínio do clérigo, e está se mostrando mais arrogante, permanente e acima de tudo mais perigoso que sua versão clerical.

Foi Percy Bysshe Shelley quem, em seu tratado de 1821 “Em Defesa da Poesia”, articulou pela primeira vez o que eu poderia chamar de Direito Divino dos Intelectuais. “Poetas”, escreveu ele, “são os legisladores não reconhecidos do mundo”. Essa alegação é agora tomada como garantida pelo grande corpo amorfo que se vê como “os intelectuais” ou “a intelligentsia”. A influência prática dos intelectuais se expandiu enormemente desde então. Como Lionel Trilling [1905–75] coloca, “o intelecto se associou ao poder como talvez nunca antes na história, e agora é reconhecido como um tipo de poder”.

Socialismo: por que matar e essencial?


Eu acredito que a porção reflexiva da humanidade é dividida em dois grupos: aqueles que estão interessados nas pessoas e se preocupam com elas; e aqueles que estão interessados em ideias. O primeiro grupo forma os pragmatistas e tende a fazer os melhores estadistas. O segundo são os intelectuais; e se o seu apego às ideias é apaixonado, e não apenas apaixonado, mas programático, é quase certo que abusem de qualquer poder que adquiram. Pois, em vez de permitir que suas ideias de governo emerjam das pessoas, moldadas pela observação de como as pessoas realmente se comportam e o que realmente desejam, os intelectuais invertem o processo, deduzindo suas ideias primeiro do princípio e tentando impô-las a homens e mulheres vivos.

Quase todos os intelectuais professam amar a humanidade e trabalhar por sua melhoria e felicidade. Mas é a ideia de humanidade que eles amam, em vez dos indivíduos que a compõem. Eles amam a humanidade-em-geral, ao invés de homens e mulheres em particular. Amando a humanidade como uma ideia, eles podem então produzir soluções como ideias. Aí reside o perigo, pois quando as pessoas entram em conflito com a solução-como-ideia, elas são primeiro ignoradas ou descartadas como não-representativas; e então, quando as pessoas continuam a obstruir a ideia, elas são tratadas com crescente hostilidade e categorizadas como inimigas da humanidade-em-geral. Assim, o caminho é aberto para o que W.H. Auden [1907–1973], um típico intelectual cabeça-dura de seus dias, chamou com aprovação de “o assassinato necessário”. “A liquidação de inimigos de classe”, para usar a expressão leninista, e “a solução final”, como dizem os nazistas, são o ponto terminal do processo intelectual.

José "Pepe Caliente" Rodriguez, ex-cabo do exército de Fulgêncio Batista, recebe os últimos ritos do padre Domingo Lorenzo no castelo de San Severino, em Matanzas, 17 de janeiro de 1959.

A insensibilidade às necessidades e opiniões de outras pessoas é, de fato, uma característica daqueles apaixonadamente preocupados com ideias. Pois seu principal foco de atenção é, naturalmente, a evolução dessas ideias em suas próprias cabeças; eles se tornam, no sentido pleno, egocêntricos. A indiferença ou hostilidade do intelectual não se dirige apenas àqueles que não se encaixam em seus esquemas para a humanidade-em-geral, mas também àqueles em seu próprio círculo que, por uma razão ou outra, se recusam a desempenhar seus papéis atribuídos na sua vida.

O Explorador Hábil

Quanto mais estudo as vidas dos principais intelectuais, mais percebo a devastação de um flagelo comum e debilitante, que chamo de crueldade das ideias. A ascensão do novo intelectual secular produziu alguns espécimes notáveis.

Shelley (1792–1822) foi o protótipo, no que diz respeito aos países anglo-saxões, do moderno intelectual progressista ocidental. Ele cunhou a noção do direito dos intelectuais de influenciar eventos públicos. O poeta, e por extensão a classe intelectual como um todo, era o verdadeiro legislador, porque tinha uma pureza em sua devoção a idéias, não aberta aos homens do mundo, o barro comum: Ele era desinteressado. Mas Shelley exibiu, em sua própria vida, o que pode ser visto como uma falha característica dos intelectuais progressistas: a incapacidade de igualar sua benevolência geral a seu comportamento particular. Seu tratamento em relação a praticamente todo ser humano sobre o qual ele era capaz de exercer algum poder emocional ou físico era, pelos padrões do barro comum que ele desprezava, atroz. Qualquer mariposa que chegasse perto de sua feroz chama era chamuscada. Sua primeira esposa, Harriet, e sua amante, Fay Godwin, cometeram suicídio quando ele as abandonou. Em suas cartas, ele denunciou suas ações por lhe causar aflição e inconveniência. Parece que ele estava prestes a abandonar sua segunda esposa, Mary (a autora de “Frankenstein”), quando sua morte por afogamento acabou com seu poder de machucar. Seus filhos com Harriet foram feitos guardas da corte. Ele os apagou completamente de sua mente, e eles nunca receberam uma única palavra de seu pai. Outra filha, uma bastarda, morreu em um hospital em Nápoles, onde ele a abandonou.

Shelley foi particularmente hábil em explorar mulheres e criados. Ele arruinou a vida de uma professora, Elizabeth Hitchener, seduzindo-a tanto para a sua cama quanto para seus esquemas políticos, meteu-a em problemas com a polícia, pegou emprestado 100 libras de suas economias (que nunca foram pagas) e depois a abandonou, denunciando a sua visão estreita e egoísmo. Ele deixou um rastro de outras vítimas, a maioria proprietárias humildes e comerciantes. Ele sempre teve criados, mas poucos foram pagos.

As depredações de Shelley nunca abalaram sua soberba confiança no que ele chamou de “minha integridade testada e inalterável”. Críticas, não obstante bem documentadas, tornavam-no frio: “Eu rapidamente recuperei a indiferença”, escreveu ele, “que a opinião de qualquer coisa ou de qualquer pessoa que não seja a nossa consciência merece.” Explicando a um amigo por que ele estava abandonando sua esposa e fugindo com outra mulher, ele escreveu: “Estou profundamente convencido de que, assim habilitado, [eu] me tornarei um amigo mais constante, um amante mais útil da humanidade, um defensor mais ardente da verdade e da virtude.”

Karl Marx.

Karl Marx (1818–1883) foi outro exemplo de um homem que se convenceu de que era seu dever colocar ideias na frente das pessoas. Daí a sua implacável e muitas vezes irrefletida crueldade para com aqueles que o rodeavam tornou-se uma espécie de longínquo presságio da crueldade em massa que as suas ideias promoveriam quando finalmente se tornassem o modelo da política estatal soviética. Seu pai, que tinha medo dele, detectou a falha fatal: “Em seu coração”, ele escreveu a seu filho, “o egoísmo é predominante". Marx era particularmente odioso com sua mãe, que o repreendeu por sua imprevidência financeira e tentativas incessantes de cobrar dinheiro. Que pena, ela observou, que ele não tentou adquirir capital em vez de escrever sobre ele.

Havia uma enorme lacuna entre as ideias igualitárias de Marx e o modo como ele realmente se comportava. De uma forma ou de outra ele herdou somas consideráveis de dinheiro. Ele nunca teve menos de dois criados. Ele tinha horror ao que chamou de “uma configuração puramente proletária”. Ele fez sua esposa mandar cartões de visitas em que ela foi descrita como “née Baronesse Westphalen”. Ele não deixou suas três filhas se formarem em nenhuma profissão ou aprenderem qualquer coisa, exceto tocar piano. Ele manteve as aparências, empenhando a prata e até mesmo os vestidos de sua esposa. Ele seduziu a criada de sua esposa, com quem teve um filho, e então obrigou Friedrich Engels a assumir a paternidade. A filha de Marx, Eleanor, uma vez soltou um cri de coeur [grito do coração] em uma carta: “Não é maravilhoso, quando você chega a olhar as coisas diretamente no rosto, quão raramente parecemos praticar todas as coisas boas que pregamos — para os outros?” Mais tarde ela cometeu suicídio.

Marx, Engels e as filhas de Marx.

Toda a vida de Marx foi um exercício de exploração emocional ou financeira — de sua esposa, de suas filhas, de seus amigos. Estudar a vida de Marx nos leva a pensar que as raízes da infelicidade humana, e especialmente a miséria causada pela exploração, não estão na exploração por categorias ou classes — mas na exploração de um-para-um por indivíduos egoístas. Tampouco essa indiferença para com os outros é uma mera falha humana em um grande homem público. É central para o trabalho de Marx. Ele não estava realmente interessado em seres humanos reais, como eles se sentiam ou o que eles queriam. Ele nunca conheceu um membro do proletariado, exceto do outro lado da tribuna do orador em uma reunião pública. Ele nunca fez uma visita a uma fábrica de verdade, rejeitando as ofertas de Engels para organizar uma. Ele nunca procurou encontrar ou interrogar um capitalista, com a exceção solitária de um tio na Holanda. Da primeira à última, sua fonte de informações eram livros, especialmente os livros de relatórios governamentais.

Um bom homem, mas…

Vladimir Ilyich Ulianov "Lênin".

Não é por acaso, penso eu, que Lenin [1870–1924] nunca pôs os pés em uma fábrica até se tornar o ditador soviético, e nunca, até onde sabemos, teve qualquer contato real com os trabalhadores cujas vidas ele reivindicou o direito de transformar. Ele, também, era um socialista de biblioteca. Stalin tampouco procurou o operário ou o camponês para descobrir o que ele realmente queria; ele também era um grande devorador de colunas estatísticas. Que massa de fatos esses monstros ingeriram antes de irem devorar carne humana! Pode-se dizer que o caminho para o Gulag é pavimentado com teses de doutorado não-escritas.

Muitos, é claro, lamentaram a maneira como o marxismo reflete a indiferença de seu fundador em relação às pessoas como seres humanos vivos e emocionais. Se apenas, diz-se, Marx fosse capaz de ler Sigmund Freud! Mas se examinarmos a vida de Freud, encontramos a mesma dicotomia: uma lacuna intransponível entre teoria e prática, entre ideias e pessoas. Agora Freud (1856–1939), ao contrário de Shelley e Marx, era em muitos aspectos um homem bom — até mesmo um homem heróico.

Minorias étnicas sendo executadas pela NKVD em um Gulag na Sibéria.
(Desenho de Danzig Baldaev/ Drawings from the Gulag)

Mas este, também, foi outro caso de um homem que nunca permitiu que suas ideias penetrassem em seus relacionamentos pessoais ou melhorassem suas relações com as pessoas. Ao contrário de Marx, ele não olhou para os livros de relatórios; ele olhou em sua própria mente, e lá encontrou infinitas razões para a justiça. Freud foi o macho patriarcal dominante durante toda a sua vida. Sua esposa era pouco mais que sua criada, até mesmo espalhava a pasta de dente em sua escova de dentes, como um valete à moda antiga. Ele nunca discutiu seu trabalho ou teorias com ela, e nunca a encorajou a aplicar seu trabalho na criação de seus filhos. Nem ele mesmo o fez. Ele enviou seus filhos ao médico da família para aprender os fatos da vida. Sua grande família girava inteiramente em torno de suas próprias necessidades e hábitos. Quando um visitante levantou uma questão freudiana, a esposa de Freud respondeu enfaticamente: “Não discutimos nada disso aqui”.

Houve uma distensão de exploração, tanto em sua vida familiar e ainda mais em seu tratamento dado aos seus seguidores . Homens como Adler [1870–1937] e Jung [1875–1961] foram acusados de “traição” e repudiados como “hereges”. Pior, ele escreveu sobre sua “insanidade moral”. Ele não podia acreditar que alguém que uma vez esteve sob sua influência e depois se afastou poderia ser totalmente são. Ele achava que heresiarcas como Jung precisavam, na realidade, de tratamento psiquiátrico.

Fotografia mostrando prisioneiros de um campo de trabalho forçado soviético - Gulag - construindo o Canal do Mar Báltico, em 1933.
Milhares morreram no processo, de fome e problemas de saúde.

Intelectuais progressistas modernos são igualmente frustrados por aqueles que não compartilham suas ideias. Eu tenho lido um livro de Robert L. Heilbroner chamado “A Natureza e a Lógica do Capitalismo”. Não há evidência de que o autor, mais do que Marx, realmente saiba alguma coisa sobre os capitalistas ou o que os motiva. Heilbroner simplesmente assume que o capitalismo é principalmente sobre o exercício do poder sobre as pessoas. Isso parece-me um completo absurdo. Inclino-me para a crença contrária do Dr. Samuel Johnson [1709–84] quando ele observou: “Senhor, um homem raramente é tão inocentemente empregado como quando está recebendo dinheiro”. A opinião de Johnson foi compartilhada por John Maynard Keynes [1883–1946]. “É melhor”, escreveu ele, “que um homem deva tiranizar sobre sua conta bancária do que sobre outros seres humanos”.

Johnson e Keynes estavam entre os muitos intelectuais que não sucumbiram ao desejo de intimidar os outros, um desejo que também pode afetar os intelectuais sobre o que a maioria chamaria de direita. Por exemplo, Ayn Rand [1905–82], a romancista-filósofa que defendeu a dignidade do homem e o direito do indivíduo de ser livre do controle por outros, humilhou e dominou muitos que vieram a conhecê-la em particular.

Mas há boas razões pelas quais a maioria dos intelectuais compartilha um terreno comum com os socialistas. Keynes chega ao cerne da questão, pois a avareza é muito menos perigosa do que a vontade do poder, especialmente o poder sobre as pessoas. Não é a formulação de ideias, por mais mal orientada que seja, mas o desejo de impô-las aos outros que é o pecado mortal do intelectual. É por isso que eles se inclinam pelo temperamento de tal forma para a esquerda. Pois o capitalismo simplesmente ocorre, se ninguém fizer nada para detê-lo. É o socialismo que deve ser construído e, como regra, imposto à força, proporcionando assim um papel muito maior para os intelectuais em sua gênese.

Sepulturas em massa no ossuário de Choeung Ek, no Camboja.

O intelectual progressista hospeda habitualmente as visões de Walter Mitty de exercer poder. Freud, por exemplo, costumava descrever-se como um pretenso conquistador (era a palavra que usava), empunhando a caneta em vez da espada e mudando a história através de exércitos de seguidores em vez de soldados. Precisamente, talvez, porque levam vidas sedentárias, os intelectuais têm uma curiosa paixão pela violência, pelo menos no abstrato.

Aplausos das poltronas

Cemitério do Gulag de Vorkuta.

No século XX, baseando-se nas fundações do século XIX, o apetite pela violência na busca e realização de ideias tornou-se o pecado original do intelectual. Considere, por exemplo, a repetida expressão de admiração dos intelectuais por homens de ação implacáveis e sua longa sucessão de heróis violentos: Stalin, Mao Tsé-tung, Castro, Ho Chi Minh. Intelectuais ocasionalmente questionam a quantidade de abates, o grande número de “assassinatos necessários”; eles quase sempre aceitaram o princípio de que as utopias socialistas devem, se necessário, ser erguidas em bases violentas. Lembro-me bem de meu antigo editor, Kingsley Martin, escrever no New Statesman, por meio de uma gentil reprimenda a Mao Tsé-tung, que acabara de massacrar três milhões de pessoas: “Era realmente necessário que o presidente matasse tantos?” Isso provocou uma carta de seu velho amigo liberal Leonard Woolf. O Sr. Martin poderia gentilmente informar os leitores, ele questionou, “o número máximo de mortes que ele consideraria apropriado?

Enquanto os homens de violência da poltrona no Ocidente aplaudiam e toleravam, intelectuais de outros lugares participavam e muitas vezes dirigiam os grandes massacres dos tempos modernos. Muitos ajudaram a criar a Cheka, a progenitora da atual KGB. Os intelectuais eram proeminentes em todos os estágios dos eventos que levaram ao holocausto nazista. Os acontecimentos no Camboja na década de 1970, em que entre um quinto e um terço da nação morreram de fome ou foram assassinados, foram inteiramente obra de um grupo de intelectuais, que na maior parte eram alunos e admiradores de Jean- Paul Sartre [1905–1980] — “Filhos de Sartre”, como eu os chamo.

Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre (auto-proclamado "humanista") assistem à cerimônia do 6º aniversário da Fundação da China Comunista em Pequim, em 1º de outubro de 1955, na praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial).

Onde quer que os homens e os regimes busquem impor ideias às pessoas, onde quer que o processo desumano da engenharia social seja colocado em ação — cavando carne e sangue ao redor como se fosse solo ou concreto — lá você encontrará intelectuais em abundância. Intimidar as pessoas é a atividade característica de todas as formas de socialismo, seja o socialismo soviético, ou o nacional-socialismo alemão, ou, por exemplo, a forma peculiar do socialismo étnico, conhecido como apartheid, que encontramos na África do Sul; esse conjunto sinistro de ideias, vale notar, era totalmente invenção de intelectuais reunidos no departamento de psicologia social da Universidade de Stellenbosch. Outras ideologias totalitárias africanas são igualmente trabalho de intelectuais locais, geralmente sociólogos.

Então, uma das lições do nosso século é: cuidado com os intelectuais. Não apenas devem ser mantidos longe das alavancas do poder, mas também devem ser objetos de suspeita peculiar quando procuram oferecer conselhos coletivos. Cuidado com comissões, conferências, ligas de intelectuais! Pois os intelectuais, longe de serem pessoas altamente individualistas e não-conformistas, são de fato ultra-conformistas dentro dos círculos formados por aqueles cuja aprovação eles buscam e valorizam. É isso que os torna, em massa, tão perigosos, porque lhes permite criar climas culturais, que muitas vezes geram cursos de ação irracionais, violentos e trágicos.

Lembre-se sempre que as pessoas devem sempre vir antes das ideias e não o contrário.

Fuzilamento de prisioneiro em Cuba


O Sr. Johnson é autor do livro “Uma História dos Judeus” (Harper & Row). Este texto é baseado em uma palestra realizada no Instituto de Estudos Contemporâneos.

Bibliografia recomendada:

O Livro Negro do Comunismo:
Crimes, terror e repressão.

Leitura recomendada:







sábado, 8 de fevereiro de 2020

FOTO: Forças Especiais da Real Gendarmaria do Camboja


Forças Especiais da Real Gendarmaria do Camboja (Royal Gendarmerie du Cambodge). A Gendarmeria cambojana, forte de 30 mil homens, é armada majoritariamente com material russo e chinês, além de alguns poucos equipamentos de outras origens; como o fuzil SS1-V1 Pindad indonésio e o clássico FN FAL belga.