quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Síria: forças americanas bloqueiam comboios russos que se dirigem para os campos de petróleo na zona curda


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire OPEX360, 5 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 6 de fevereiro de 2020.

Em outubro passado, depois de anunciar a retirada das forças americanas do nordeste da Síria, deixando a Turquia livre para lançar uma ofensiva contra a milícia curda síria [YPG] a fim de estabelecer uma zona de segurança, o presidente Trump havia explicado que pretendia impedir o acesso aos locais de petróleo e gás localizados na zona curda ao Estado Islâmico [EI ou Daesh], mas também às tropas sírias e russas.

As forças americanas manterão o "controle dos campos de petróleo" porque "fornecem uma fonte essencial de financiamento às Forças Democráticas da Síria [FDS, cujo YPG constitui o principal corpo de tropas, nota], o que lhes permite proteger os campos de prisioneiros do EI e de conduzir operações, explicou Mark Esper, o chefe do Pentágono, na época.

Além disso, os Estados Unidos transferiram cerca de 500 soldados nas regiões de Deir ez-Zor e Hassaké, enquanto, ao mesmo tempo, e após um acordo concluído em Sochi por Moscou e Ancara, a fim de pôr um fim à operação turca, as tropas russas tomaram posse das bases abandonadas pela coalizão anti-jihadista [e, portanto, pelas forças americanas] no nordeste da Síria. E isso, a fim de realizar patrulhas conjuntas com seus homólogos turcos nas proximidades da zona de segurança que este acabara de estabelecer com seus auxiliares sírios.

Só que o que tinha que acontecer acabou acontecendo. Assim, foi relatado por jornalistas presentes no local, bem como pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos [OSDH], que as patrulhas russas tentaram, em várias ocasiões, entrar na zona curda, o que forçou as forças americanas a intervirem para impedi-los. Isso às vezes deu origem a tensões.

Em 31 de janeiro, soldados americanos bloquearam uma patrulha russa em direção à fronteira iraquiana. O incidente ocorreu entre as cidades de Tall Tamer e al-Malikiyah [ou Dayrik] na província de Hassaké na rodovia M4, que se tornou uma "linha divisória" entre os dois campos.

Vários incidentes desse tipo, nos quais soldados americanos forçaram as patrulhas russas a voltarem, foram relatados como ocorrendo nos dias anteriores.

O OSDH, que possui uma vasta rede de informantes em campo, a priori documentou um deles. Em 29 de janeiro, as forças americanas teriam bloqueado um comboio russo perto da vila de al-Kharita, no caminho para Hassaké, capital regional. Isso teria dado origem a "altercações verbais".

Três dias antes, o avanço de veículos militares russos no campo de petróleo de Rumeylan [no nordeste de Hassaké] foi supostamente interrompido por uma patrulha americana.

"Soldados americanos interceptam patrulha russa tentando chegar ao campo petrolífero de Rumilan. Parece que o veículo russo bateu no veículo blindado americano."

"Essas ações fazem parte das tentativas norte-americanas de minar o papel da Rússia no nordeste da Síria e de impedir que os russos usem a rodovia M4 na região, exceto quando se dirigem às áreas fronteiriças com a Turquia", afirmou o OSDH.

O último incidente ocorreu em 4 de fevereiro. O mesmo cenário ocorreu nas proximidades da vila de Karki Laki, a leste de Qamichli. Lá, uma patrulha americana interceptou um comboio russo, que tentava alcançar al-Malikiyah novamente.

Paralelamente a esses incidentes, a tensão entre Ancara e Damasco aumentou, enquanto as forças turcas e sírias trocaram tiros mortíferos em 3 de fevereiro na região de Idleb, apesar de seu status de "zona de desescalada".

Parcialmente fora de Damasco, a província abriga várias organizações jihadistas, incluindo Hayat Tahrir Al-Cham [HTS], bem como grupos rebeldes sírios apoiados por Ancara, que instalou 12 "postos de observação" lá.

Há vários meses, as forças do governo sírio, com o apoio da força aérea russa, assumiram várias localidades que até então estavam além de seu controle. Isso criou na Turquia um influxo de refugiados em seu território.

"A Turquia não permitirá que as forças sírias avancem na região de Idleb", alertou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em 4 de fevereiro, antes de afirmar que Ancara levantaria a questão com Moscou "sem raiva".

"Eu disse ao meu homólogo [russo] Sergei Lavrov que o regime está realizando ataques provocativos contra nossos postos de observação em torno de Idleb, que iremos revidar se continuarem e que eles [os russos] devem igualmente parar o regime o mais rápido possível ", disse Mevlüt Cavusoglu, ministro das Relações Exteriores da Turquia, no mesmo dia. "Também não aceitamos a desculpa de que 'não podemos controlar totalmente o regime '", acrescentou.

Neste impasse com Damasco [e Moscou], Ancara pode contar com o apoio de... Washington. “Os Estados Unidos condenam mais uma vez a agressão contínua, injustificável e cruel do povo de Idleb […] Apoiamos nosso aliado da Otan, a Turquia, depois do ataque, que causou a morte de vários funcionários turcos designados para um posto de observação usado para coordenação e remoção da desescalada e apóiam totalmente as reações justificadas de autodefesa da Turquia”, disse Mike Pompeo, chefe da diplomacia americana, via comunicado.

Filmes e seriados que você precisa assistir para entender as forças armadas dos EUA, por um oficial do exército britânico


Pelo Major Thomas Mcilwaine, Task&Purpose, 12 de outubro de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 6 de fevereiro de 2020.

Não tenho certeza de que os livros sejam necessariamente o melhor meio para entender as forças armadas dos EUA. Estou inclinado a pensar que uma combinação de televisão e filmes (a expressão máxima da cultura americana como são) provavelmente é mais útil para entender as forças armadas americanas.

No mínimo, eles mostram a nós (estrangeiros) como os americanos querem se ver.

Portanto, aqui, em nenhuma ordem específica, estão minhas cinco sugestões que todos os Aliados devem assistir antes de trabalhar com os americanos e por quê.

  1. Três Reis (Three Kings, 1998) - Mostra a idéia de que muitos dos americanos mais patrióticos às vezes têm profundas preocupações sobre o que estão fazendo pelo país e por quê, mas também mostram que farão a coisa certa no final, mesmo que seja contra suas ordens e seus próprios interesses.
  2. Band of Brothers (2001, qualquer episódio) - Uma representação incomparável de heroísmo básico e envernizado. Todos os oficiais americanos se vêem como Dick Winters, além do pequeno número de "bola 7" que se vêem com Lewis Nixon.
  3. Máquina de Guerra (War Machine, 2017) - Vale a pena ver mesmo que apenas no momento em que a guarda do general está baixa e ele expressa seus verdadeiros sentimentos de desprezo pelo tenente-coronel britânico. Suspeito que isso esteja mais próximo do ponto de vista de muitos oficiais superiores do que eles gostariam de admitir.
  4. Restrepo (2010) - O melhor filme da Guerra do Afeganistão, o que significa que você realmente precisa vê-lo se quiser entender uma força armada que foi em um grau moldada por e ainda lutando nessa guerra.
  5. Generation Kill - Prova de que, por baixo de tudo, soldados / fuzileiros são praticamente os mesmos, não importa de onde você vem. A maioria deles é gente boa, alguns oficiais são melhores que outros, e sempre há pelo menos uma pessoa que você realmente não gostaria que sua irmã namorasse.
Menções honrosas vão para as Guerras do Pentágono (The Pentagon Wars, 1998, traduzido como Máquina de Guerra no Brasil), que preparam os Aliados para as dificuldades que enfrentarão com a burocracia americana, enquanto O Cavaleiro das Trevas (Batman: The Dark Knight, 2008) explica como a Cidade Brilhante na Colina* acabou se comportando como o Império Britânico e U-571 (U-571: A Batalha do Atlântico, 2000), que além de ser o pior o filme em toda a história da humanidade (sim - é pior que o Weekend at Bernies [Um Morto Muito Louco, 1989**]) também destaca o fato de que os americanos, sem dúvida, apagarão seus Aliados da história quando forem registrá-la.

*Nota do Tradutor: A Cidade Brilhante na Colina, "The Shining City on a Hill", é uma frase usada nos EUA, vinda de uma tradição puritana, caracterizando os Estados Unidos como um Farol de Esperança.

**Nota do Tradutor: O Warfare não concorda com o autor sobre Um Morto Muito Louco ser um filme ruim.

Sobre o autor:

Tom Mcilwaine é um oficial de cavalaria britânico formado em 2012 no CGSC (United States Army Command and General Staff College, Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos) e em 2013 no SAMS (School of Advanced Military Studies, Escola de Estudos Militares Avançados, também nos EUA) e serviu em operações em funções de comando e estado-maior no Afeganistão e no Iraque, ao lado das forças americanas. Atualmente, ele é chefe de gabinete da 51ª Brigada de Infantaria, parte da 1ª Divisão do Reino Unido.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Operadores do SAS britânico "Proibidos" de usarem o emblema do "Punisher" nos uniformes

Famoso emblema do Punisher (Justiceiro, no Brasil) utilizado por forças militares e policiais no mundo todo.

Por Eric SOF, Spec Ops Magazine, 5 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 5 de fevereiro de 2020.

Os operadores do Serviço Aéreo Especial (Special Air Service, SAS) britânico foram supostamente proibidos de usar um "distintivo de caveira" não-oficial depois de serem comparados aos nazistas, foi declarado.

O distintivo é feito especificamente para o regimento SAS e é usado no capacete ou no colete balístico - mas agora os chefes do Exército alegadamente o proibiram. De acordo com o relatório, os operadores do SAS recebem as insígnias arrepiantes do "Punisher" depois de fazerem o seu primeiro combate.

O personagem Justiceiro da Marvel Comics é um ex-fuzileiro naval que se torna vigilante depois que sua esposa e filhos são assassinados. O SAS britânico teria adotado o distintivo do "Justiceiro" depois de servirem ao lado dos Navy SEALs no Iraque durante a última década.

Mas agora, de acordo com o Daily Star, os altos escalões afirmam que o símbolo é muito semelhante à Caveira usada pelas divisões da SS de Hitler e eles querem que ele seja banido. Um distintivo universal da SS, a caveira também foi usada como insígnia da notória divisão Totenkopf (literalmente caveira), que estava envolvida na administração dos campos de concentração da Alemanha nazista.

“Eles são matadores profissionais… e daí que eles usam uma caveira no uniforme.” - Disse uma fonte do SAS.

Alega-se que o pedido foi feito depois que uma queixa foi feita após uma visita de chefes do exército britânico à base de Herefordshire do regimento SAS.

Uma fonte disse à Star: “[Os SAS] são matadores profissionais - esse é o trabalho. E daí que eles usam uma caveira em seu uniforme. Fomos informados de que isso poderia ser perturbador para outras unidades, desrespeitoso com as forças inimigas e incentivar crimes de guerra por algumas das tropas estrangeiras com as quais o SAS trabalha, tais como afegãos e iraquianos. ”

A fonte acrescentou que "a ordem para removê-lo caiu muito mal", como embora nem todos usassem o distintivo, é "muito popular entre os membros do G Squadron". Ele também acrescentou que o regimento SAS esteve envolvido em inúmeras operações no Iraque e no Afeganistão e matou dúzias de soldados inimigos.

"Toda vez que um novo operador entra e mata um, ele recebe o distintivo... É um reconhecimento pelo trabalho que ele fez", revelou a fonte.

Eles acrescentaram que o distintivo de "Justiceiro" não é "uma celebração de tirar uma vida", mas por se colocar "em uma posição em que sua própria vida foi colocada em risco".

Trevor Coult, um ex-sargento que recebeu a Cruz Militar no Iraque e é o chefe do For Our Veterans, disse ao Star que a ordem era "politicamente correta, absurda e ridícula". O Ministério da Defesa britânico recusou-se a comentar os relatórios quando contatado pelo The Sun Online.

Os EUA precisam de uma estratégia melhor para competir com a China - caso contrário o conflito militar será inevitável


Por Sharon BurkeTask & Purpose, 11 de outubro de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 5 de fevereiro de 2020.

Uma questão que define o século XXI é se uma terceira guerra mundial entre a China e os Estados Unidos é inevitável ou se esses possíveis adversários podem encontrar uma maneira de coexistir. Neste momento, os dois países parecem estar no caminho que leva ao conflito cinético*, mesmo quando as novas tecnologias estão mudando o caráter da guerra e o cenário de segurança global está mudando.

Esta cena é o resultado de um ataque de gás mostarda na Frente Ocidental em agosto de 1918, como testemunhado pelos artista americano John Singer Sargent.

*Nota do Tradutor: Ação militar cinética é um eufemismo para ação militar de guerra ativa, incluindo força letal. A frase é usada para contrastar entre força militar convencional e força "branda", como diplomacia, sanções e guerra cibernética. A palavra "Kinetic" foi um neologismo usado como um eufemismo retronômico para ação militar na obra Bush at War, um livro de 2002 de Bob Woodward. O Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, usou as palavras "cinético" e "não-cinético" com frequência.

Os Estados Unidos estão se aproximando desta nova era com um credo de "grande competição de poder", dando um lugar de destaque à letalidade militar. Na verdade, o Pentágono anseia por um inimigo real há algum tempo, do tipo que traz ordem à grande estratégia e a um mundo confuso. Mesmo assim, a transição cultural da GWOT para a Grande Potência* foi rápida. Acontece que um porta-aviões pode realmente pode proporcionar maior amplitude de movimento, mesmo que metaforicamente.

*NT: GWOT, Global War on Terror (Guerra Global ao Terror), que foi uma ameaça difusa e invisível, travada em pequenas unidades de formas onde o poder de fogo não é fator preponderante e as operações se arrastam por longos períodos; a própria antítese da cosmovisão americana, que sempre se voltou para a doutrina do combate a uma Grande Potência - convencional e claramente definida - em ações altamente tecnológicas, intensas e de curta duração.

Fuzileiros navais americanos lutando de casa-em-casa em Fallujah, 2004.

Uma mudança lenta, no entanto, é o conceito de “espaço competitivo”. Mesmo quando o Secretário Mattis aponta para a importância do espaço competitivo nos assuntos globais e a primazia do poder não-militar e das parcerias internacionais na formação desse espaço, os Estados Unidos estão concentrando seus investimentos em armas legadas e diplomacia de confronto.

Apesar das palavras inebriantes, na realidade este é um momento de distração estratégica para os Estados Unidos da América, atolado em divisões políticas em casa e batalhas regionais no exterior.


Um esforço de assinatura, a Iniciativa do Cinturão e Rota*, supostamente significa trilhões de dólares em melhorias de infraestrutura “ganha-ganha”** para cerca de 65 países, desde o Porto de Gwadar até o Canal do Panamá. Ao mesmo tempo, a China está investindo dinheiro em suas forças armadas e fazendo movimentos cada vez mais agressivos no Mar do Sul da China e em outros lugares. Tudo é construído sobre a base instável de um culto à personalidade agressiva e autocrática, mas ninguém diria que os chineses não têm foco estratégico.

*NT: A Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative) é uma estratégia de desenvolvimento global adotada pelo governo chinês em 2013, envolvendo desenvolvimento de infraestrutura e investimentos em quase 70 países e organizações internacionais na Ásia, Europa e África.

**NT: Expressão americana "win-win", quando os dois lados se beneficiam de um acordo. As tentativas de "ganha-ganha" com a China têm se mostrado elusivas, com a falta de comprometimento chinesa em honrar os acordos. O "ganha-ganha" foi classificado como o primeiro "ganha" é o fechamento do acordo pelos chineses, e o segundo "ganha" é quando os chineses passam a perna no outro lado.


Tropas russas na Criméia, 2014.

Neste momento não-auspicioso para uma associação de grandes potências, pode haver uma oportunidade para outros países desempenharem um papel construtivo e catalítico (a Rússia, ao contrário, parece determinada a desempenhar um papel destrutivo e impune). Se a opinião pública* é um indicador, existem três países com amplo apoio global: Alemanha, Canadá e Japão.

*NT: Segundo a fonte, a ordem é Canadá (61), Alemanha (59), Japão (56), França (52), Reino Unido (51), União Européia (48), China (41), Brasil (38). O artigo nota que dentre os maiores saltos estão o México (42 para 69%) e o Brasil (50 para 71%).

É claro que há ironia lá, dado que dois desses países estão a apenas uma geração de distância de serem os vilões da última guerra mundial. Talvez a Alemanha e o Japão tenham aprendido lições na derrota que hoje os posicionam melhor para um tipo diferente de liderança geopolítica, baseada mais em força econômica, diplomacia e ajuda externa do que em poder militar ofensivo. Jogar com suas forças como construtores de segurança, em vez de guerreiros, também posicionaria esses países para lidar com os desafios de segurança da última parte deste século, os quais não serão todos de natureza militar.

Talvez este seja um arco de civilidade que ajude a salvar uma ordem mundial liberal.

A Revanche dos Vencidos: Alemanha e Japão.
Max Clos e Yves Cuau.

Nesse sentido, os Estados Unidos precisam de uma estratégia mais ampla. Embora um exército forte e modernizado seja um importante impedimento e contrarie uma agressão discreta, os Estados Unidos devem ter um plano para alcançar um estado final diferente da Terceira Guerra Mundial.

Se a Terceira Guerra Mundial for realmente inevitável, os Estados Unidos também precisarão de mais do que soluções e meios militares para prevalecer. Investimentos em uma economia e política fortes são cruciais. A base industrial, dos recursos naturais à pesquisa e desenvolvimento, aos bons empregos em um futuro automatizado, é um núcleo estratégico essencial, o qual a China reconhece claramente.

Finalmente, em guerra ou na paz, e em todos os tons de cinza intermediários, os Estados Unidos devem procurar cooperar novamente com parceiros globais, queria construindo interesses mútuos ou enfrentando inimigos e desafios comuns. Essa cooperação requer um envolvimento positivo com o mundo por meio do desenvolvimento, comércio, cultura, investimento e alianças e parcerias políticas e militares.

Isso significa uma estratégia abrangente, não apenas para vencer uma guerra, mas também para ganhar a paz - melhor ainda, para vencer sem lutar.

Sharon E. Burke é consultora sênior da New America, onde dirige o projeto Phase Zero. Ela atuou no Gabinete do Secretário de Defesa em 1994-2000, na equipe de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado em 2002-2005 e como Secretária Adjunta de Defesa para Energia Operacional em 2010-2014.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

PINTURA: Desembarque anfíbio em Caiena, 1809

Desembarque em Caiena.
Óleo sobre tela de Álvaro Martins.

O desembarque em Caiena, capital da Guiana Francesa, em 1809 durante as Guerras Napoleônicas, marca o batismo de fogo dos Fuzileiros Navais do Brasil. 

As forças luso-brasileiras na operação contaram 550 fuzileiros navais (fuzileiros-marinheiros da Brigada Real da Marinha) e 2.700 regulares do exército colonial, e parte da guarnição de marinheiros e fuzileiros navais britânicos do HMS Confiance, enfrentando a pequena guarnição francesa de 450 regulares e 800 milicianos.

A força de desembarque foi apoiada por uma poderosa frota portuguesa composta pelos 2 brigues Voador e Infante Dom Pedro, a escuna General Magalhães, as 2 chalupas Vingança e Leão. Do lado francês, a poderosa fragata Topaze com 40 canhões, que era maior e mais poderoso que todos os navios portugueses e o único navio britânico (o HMS Confiance tinha apenas 20 canhões), com o adendo que o grande brigue Infante Dom Pedro havia retornado ao Brasil. Felizmente, o Topaze apenas chegou ao teatro de operações em 13 de janeiro de 1809.

A campanha foi de ações de assalto anfíbio contra fortificações costeiras e ribeirinhas, tomando baterias francesas. O Governador da Guiana, Victor Hughes, foi obrigado a capitular mediante o bloqueio das comunicações da capital, e assinou a rendição em Bourda no dia 12 de janeiro de 1809. Dois dias depois, as tropas portuguesas capturaram a capital Caiena. A colônia francesa foi ocupada pela Coroa Portuguesa até 1817.

Em comemoração à conquista, Dom João VI mandou cunhar uma medalha de prata, em cujo anverso estava a sua figura coroada de louros e, no reverso, a data de 14 de janeiro de 1809, com a inscrição "Caiena tomada aos franceses".

Essa operação é considerada o batismo de fogo dos Fuzileiros Navais do Brasil.

GALERIA: Fuzileiros navais russos emboscados na Chechênia

Fuzileiros navais russos da 810ª Brigada de Infantaria Naval emboscado próximo à vila de Tsentaroy, na Chechênia, em dezembro de 1999.






Bibliografia recomendada:

Fangs of the Lone Wolf:
Chechen tactics in the Russian-Chechen Wars 1994-2009.
Dodge Billigsley.

One Soldier's War in Chechnya.
Arkady Babchenko.

Russia's Wars in Chechnya 1994-2009.
Mark Galeotti.

Leitura recomendada:

FOTO: Demonstração de blindados da SS Das Reich

Carros T-34, Panzer III e Panzer VI Tiger em demonstração da Divisão SS Das Reich para Himmler na região de Kursk, em abril de 1943.

FOTO: Fernspäher do Exército Alemão

Batedores de reconhecimento de longa distância do Exército Alemão.

Fernspäher é um termo antigo para soldados de elite de reconhecimento, relacionado à palavra Fern (longo alcance, distância) e à palavra Späher (batedor). Assim, os Fernspäher são soldados de reconhecimento especialmente treinados e equipados, que cobrem grandes distâncias para reunir informações e cumprir tarefas militares de alta importância.

A força de reconhecimento de longa distância Fernspäher foi desativada em 2008. A maior parte do estado-maior foi usada para montar a Força de Reconhecimento do Exército. As formações menores foram transferidas para as forças especiais. Com as forças especiais e as tropas de reconhecimento do exército, subunidades ainda são criadas, que operam de forma semelhante à tropa Fernspäher dissolvida. 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Quatro operadores especiais russos mortos na Síria


Por Eric SOF, Spec Ops Magazine, 3 de fevereiro de 2020.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de fevereiro de 2020.

Talvez a guerra principal na Síria tenha terminado, mas ainda é um lugar perigoso para os militares estrangeiros. Pelo menos quatro operadores de elite das forças especiais da Rússia foram mortos na Síria no sábado. As mortes dos soldados russos são relatadas pelo site de investigação Conflict Intelligence Team (Equipe de Inteligência de Conflitos, CIT), que monitora a atividade militar russa. A declaração oficial não está disponível.

Obituários improvisados disseram que os quatro operadores do Centro de Operações Especiais do FSB foram mortos no mesmo dia "enquanto realizavam tarefas especiais na República Árabe da Síria", mostravam fotos dos memoriais divulgados pelo CIT no domingo.

O Centro de Operações Especiais do Serviço de Segurança Federal (FSB) foi estabelecido pelo então chefe do FSB, Vladimir Putin, como uma organização nacional e internacional de contraterrorismo em 1998. O CIT, que afirmou estar investigando o papel da unidade FSB na Síria, observou que não podia verificar independentemente os relatórios online das mortes dos operadores. A história toda também foi publicada pelo Moscow Times.

O canal Baza Telegram informou que os quatro operadores "caíram nas mãos de militantes" depois que seu veículo atingiu uma mina terrestre perto do norte da cidade de Alepo.

"Eles foram encontrados mais tarde mortos a tiros", informou o Baza na segunda-feira, que tem ligações nos serviços de segurança da Rússia.

De acordo com as postagens de mídia social citadas pelo CIT, os operadores do Centro de Operações Especiais foram mortos por tiros de morteiro. Nem o FSB nem o Ministério da Defesa confirmaram ou negaram oficialmente as denúncias das supostas mortes dos quatro operadores.

Foi relatado que a Rússia confirmou oficialmente 116 mortes de seu pessoal na Síria a partir da primavera passada. Moscou não reconhece a morte de contratados militares particulares, cujas atividades são ilegais sob a lei russa. O número não-oficial de mortes é maior, mas também incluem mortes relacionadas à companhia militar privada Wagner, que supostamente opera como a força militar fantasma da Rússia.

Original: https://special-ops.org/53460/four-russian-sof-operators-killed-in-syria/?fbclid=IwAR2Ln6OfAo1c_RfbstAV2tkSrKLMb_iShuiXiCjZ_9O_Gus7tECkM-AoI8I

PERFIL: Sua Majestade Rei Abdullah II da Jordânia, "O Rei Guerreiro"

"Sua Majestade Rei Abdullah II da Jordânia despacha paraquedistas de um C-130 Hércules durante seu comando das Forças Especiais da Jordânia."
(Pintura de Stuart Brown)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de janeiro de 2020.

O atual rei Abdullah II entrou na Academia Militar Real de Sandhurst, no Reino Unido, em 1980 e foi comissionado como segundo tenente na primavera de 1981. Ele serviu como Comandante de Esquadrão de Reconhecimento no 13/18 Royal Hussars Regiment do Exército Britânico no Reino Unido e na Alemanha Ocidental.

De 1985 a 1993, serviu principalmente no Corpo Blindado (3ª Divisão) em todas as nomeações de comando no pelotão, companhia e como segundo em comando do batalhão, até finalmente comandar o Segundo Batalhão Blindado, 40ª Brigada Blindada, com o posto de tenente-coronel de janeiro de 1992 a janeiro de 1993. Durante esse período, ele participou de vários cursos militares nos EUA e no Reino Unido, incluindo a Escola de Estado-Maior de Camberley (Staff College Camberley, no Reino Unido em 1990-1991; além de outros cursos civis e militares.


O rei cumprimenta soldados durante uma visita.

Ele também tem vários vínculos com as Forças Especiais e um ano como instrutor de táticas no Esquadrão Anti-Carro de Helicópteros Cobra do Exército Jordaniano. O início de 1993 o viu como vice-comandante das Forças Especiais da Jordânia até assumir o comando completo em novembro de 1993. 

Em 1994, Abdullah assumiu o comando das Forças Especiais da Jordânia e outras unidades de elite como General-de-Brigada. Ele comandou essas forças até outubro de 1996, quando recebeu instruções para reorganizar essa e outras unidades de elite seguindo o Comando de Operações Especiais (Special Operations CommandSOCOM) americano; nascendo assim o Comando Conjunto de Operações Especiais jordaniano.

Princesa Salma bint Abdullah recebendo de seu pai as asas de piloto, janeiro de 2020.
Ela é a primeira mulher piloto da Jordânia.

Ainda em 1996, o General Abdullah participou de um curso de administração de recursos de defesa na Escola Naval de Pós-Graduação (Naval Postgraduate School, NPS) americana e comandou uma caçada das forças especiais de elite na busca de terroristas que haviam matado 8 pessoas em 1998. A operação terminou em sucesso, com seu nome cantado nas ruas de Amã, a capital da Jordânia.

Em 1998, como Comandante dessa força, Abdullah foi promovido ao posto de Major-General e continuou nesse comando até a morte de seu pai, Sua Majestade o Rei Hussein, em fevereiro de 1999.

Demonstração de retomada pelas forças especiais jordanianas, "boinas vermelhas".

As forças especiais jordanianas, consideradas as melhores no mundo árabe, levam seu nome: Grupo de Operações Especiais Rei Abdullah II

Em 2018, as forças especiais jordanianas foram reorganizadas pela terceira vez (eram o Grupo de Forças Especiais em 2017-2018).
  • Diretório de Forças Especiais e Intervenção Rápida, comando e controle.
  • Grupo de Operações Especiais Rei Abdullah II, unidades especiais e contra-terrorismo.
  • Brigada de Intervenção Rápida e Alta Prontidão*, unidades de intervenção e aviação.
  • Escola de Operações Especiais Príncipe Hashim, coordena o treinamento da força.

Forças Especiais jordanianas.

*Nota: O seu nome completo é Brigada de Intervenção Rápida e Alta Prontidão Mohammed bin Zayed al-Nahyan.

Devido à sua formação militar, Abdullah acredita em um exército poderoso e seguiu uma política de "qualidade sobre quantidade". Durante o primeiro ano de seu reinado, ele estabeleceu o Departamento de Projeto e Desenvolvimento Rei Abdullah (King Abdullah II Design and Development BureauKADDB), cujo objetivo é "fornecer uma capacidade local para o fornecimento de serviços científicos e técnicos às Forças Armadas da Jordânia". A empresa fabrica uma grande variedade de produtos militares, apresentados na Bienal Internacional das Forças de Operações Especiais (Special Operations Forces Exhibition and ConferenceSOFEX), sendo o patrocinador da SOFEX. Abdullah modernizou o exército, levando a Jordânia a adquirir armamento avançado e aumentar e aprimorar sua frota de caças F-16. 

Ocasionalmente, o rei treina com o exército jordaniano em exercícios militares de munição real:


Fogo e movimento em dupla do Rei Abdullah segundo com seu filho, o príncipe herdeiro Hussein bin Abdullah:


KASOTC e a Annual Warrior Competition

Outro dos grandes feitos do Rei Abdullah II foi a criação do Centro de Treinamento de Operações Especiais Redi Abdullah II (King Abdullah II Special Operations Training Center, KASOTC), operacional em 19 de maio de 2009.

"Onde o treinamento avançado encontra a tecnologia avançada", lema do KASOTC.

KASOTC sedia uma competição internacional anual de forças especiais: a Competição Anual de Guerreiros (Annual Warrior Competition). A Warrior é uma competição anual orientada para o combate, baseada na capacidade física, trabalho em equipe, comunicação e precisão individual. Na sua última edição, em 2019, a Warrior contou com 46 equipes de 26 países, com a vitória da equipe 1 de Brunei, seguida pelos jordanianos, e a equipe 2 de Brunei em terceiro lugar.

Comandos do Rejimen Pasukan Khas de Brunei indicando ao fotógrafo Bob Morrison a sua bandeira, 2018.
(Joint Forces.com)

Operação Mártir Muath

Em abril de 2014, o Estado Islâmico do Iraque e o Levante (EI), um afiliado da Al-Qaeda que surgiu no início de 2014 quando expulsou as forças do governo iraquiano das principais cidades, publicou um vídeo online que ameaçava invadir o reino da Jordânia e matar Abdullah (a quem eles viam como inimigo do Islã). "Eu tenho uma mensagem para o tirano da Jordânia: estamos chegando a você com cintos de morte e explosivos", disse um combatente do EI ao destruir um passaporte jordaniano. Em agosto de 2014, milhares de cristãos iraquianos fugiram do EI e buscaram abrigo em igrejas jordanianas.

O Rei Abdullah II chamou a atenção da mídia ocidental por conta de uma tragédia ocorrida em 2015. No final de dezembro de 2014, um avião de caça F-16 da Jordânia caiu perto de Raqqa, na Síria, durante uma missão. Em troca do piloto, o EI exigiu a libertação de Sajida Al-Rishawi, um homem-bomba cujo cinto não detonou nos atentados de 2005 em Amã, que mataram 60 pessoas e feriram 115 em três hotéis na capital jordaniana.

Um vídeo foi publicado online em 3 de fevereiro de 2015, mostrando o piloto jordaniano Muath Al-Kasasbeh, vestindo um macacão laranja, sendo queimado até a morte em uma jaula. 

O assassinato de Al-Kasasbeh provocou indignação no país, enquanto o rei estava ausente em uma visita de estado aos Estados Unidos. Antes de retornar à Jordânia, Abdullah rapidamente ratificou as sentenças de morte proferidas anteriormente a dois jihadistas iraquianos presos, Sajida Al-Rishawi e Ziad Al-Karbouly, que foram executados antes do amanhecer do dia seguinte. Na mesma noite, Abdullah foi recebido em Amã, por multidões o aplaudindo que se alinhavam ao longo da estrada do aeroporto para expressar seu apoio.

Foto divulgada pela Jordânia do Rei Abdullah como mestre-de-salto quando da Operação Mártir Muath, fevereiro de 2015.

Como comandante-em-chefe, Abdullah lançou a Operação Mártir Muath, uma série de ataques aéreos contra alvos do EI durante a semana seguinte visando esconderijos de armas, campos de treinamento e instalações de extração de petróleo. Participando ativamente das operações, a sua retaliação foi elogiada na Internet, onde ele foi apelidado de "O Rei Guerreiro".

Post-Scriptum: Um amante da ficção científica

Em uma nota mais leve, o Rei Abdullah II é um grande fã da série Jornada nas Estrelas, e pediu a chance de aparecer como um extra em um dos episódios da série Voyager (com uniforme verde e preto). Uma aparição relâmpago, mas que mostra como "é bom ser o rei".

Operação Dragão III dos Fuzileiros Navais do Brasil


Operação Dragão III

Dezembro de 1967, São Sebastião/SP.
Comandante da Força de Desembarque:
Contra-Almirante (FN) ROBERVAL Pizarro Marques

"Ainda no ano de 1966, foi realizada pelo 3º Distrito Naval, em Recife, uma operação anfíbia com a participação de unidades da FFE [Força de Fuzileiros da Esquadra]. Nesta operação, denominada Graviola, ocorreu um grave acidente, quando a rampa de uma das embarcações abriu durante o movimento navio-para-terra, no qual vieram a falecer nove fuzileiros navais do Batalhão de Pioneiros [Engenharia]. Como resultado das investigações realizadas, foram tomadas diversas medidas adicionais para aumentar a segurança da tropa nas operações de desembarque.

No ano seguinte, já com os novos procedimentos em vigor, foi realizada a Operação Dragão III, no litoral de São Paulo, com o comandante da Força de Desembarque sendo o comandante da Divisão [Anfíbia]. Foram efetuados dois movimentos navio-para-terra, simultaneamente, em diferentes linhas de desembarque, precedidos no D-2 por uma incursão anfíbia na Ilha de São Sebastião, que ocorreu sem incidentes, demonstrando toda a flexibilidade do conjugado anfíbio navio-tropa da Marinha.

Esta operação é considerada como um marco na evolução do adestramento anfíbio do país, pelo empenho da administração naval no sentido de engajar o maior número possível de meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais, dando ênfase a este tipo de exercício, conferindo importância a algo diferente dos problemas de tática anti-submarina tão em voga até então.

Tomaram parte na Dragão III os quatro navios-transporte, o NAeL Minas Gerais, os CL Barroso e Tamandaré, três contratorpedeiros, três avisos oceânicos, dois esquadrões de helicópteros e 2.037 fuzileiros navais. Pela primeira vez foi realizado o MNT helitransportado, com a reserva constituída por instrutores e alunos dos cursos do Centro de Instrução e Adestramento do CFN (CIAdestCFN). Participaram da operação os Batalhões Riachuelo e Humaitá, este em sua primeira Operação Dragão, o Grupo de Artilharia, O Batalhão de Pioneiros, o Batalhão de Transporte Motorizado, a CiaReconAnf e o CICFN [Centro de Instrução do Corpo de Fuzileiros Navais], tendo sido organizado um Grupo de Apoio Logístico especialmente para apoiar o exercício. Foram desembarcadas 112 toneladas de carga e 126 viaturas, com as viaturas pesadas desembarcando no cais, após a conquista do Porto de São Sebastião, em virtude do número insuficiente de embarcações de desembarque e das dimensões de algumas viaturas.

A partir da Operação Dragão III, foi empregado um figurativo inimigo, controlado pelos avaliadores do exercício, para, opondo-se às ações da Força de Desembarque, gerar reações nos diversos níveis de comando que pudessem servir de indicadores para aferição do nível de adestramento da FFE."

- Fuzileiros navais: Das praias de Caiena às ruas do Haiti, pg. 33-34.