sexta-feira, 5 de junho de 2020

Estupro, esterilização forçada e abortos fracassados: as escravas sexuais dos guerrilheiros das FARC na Colômbia

O tribunal de crimes de guerra da Colômbia deve ouvir testemunhos sobre o recrutamento ilegal de jovens pelas FARC. (AFP)

Por Mathew Charles, The Telegraph, 4 de janeiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 5 de junho de 2020.

Na Colômbia, eles a chamam de guerra invisível. Mas para as crianças e adolescentes para quem o playground se tornou um campo de batalha, a violência era inconfundível.

Em um conflito civil sangrento que durou mais de 50 anos, quase 17.000 crianças soldados foram roubadas de sua juventude, inocência e, em muitos casos, de suas vidas. E eles não eram apenas bucha de canhão.

Meninas jovens, e às vezes meninos, foram recrutadas para se tornarem escravas sexuais*. "Era como se eu fosse um brinquedo novo", diz Yamile Noscué, que foi sequestrada de sua casa por guerrilheiros de esquerda quando tinha apenas 15 anos em 2005. "Eu basicamente me tornei a prostituta de camuflado deles", diz ela.

*Nota do Tradutor: Essa prática também era comum nas guerrilhas esquerdistas brasileiras. A halterofilista Marília Coutinho foi estuprada pelos colegas militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) aos 15 anos por "solidariedade revolucionária"; um trauma que a levou ao halterofilismo. 

Poucas horas depois de chegar a um campo pertencente às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (as FARC) em Tolima, no centro da Colômbia, Yamile foi submetida a estupro e agressão sexual. Seria uma provação que duraria dois anos.

“Depois que o comandante toca uma garota, qualquer outra pessoa também pode, e quando quiser. Os estupros são constantes.

Yamile Noscue, ex-combatente das FARC e sobrevivente de aborto forçado.

O caso de Yamile agora está sendo investigado pelo tribunal de crimes de guerra da Colômbia. O tribunal, criado como parte do acordo de paz de 2016 entre o governo colombiano e os rebeldes das FARC, começará a ouvir testemunhos sobre o recrutamento ilegal de jovens em janeiro, e ex-comandantes superiores da guerrilha enfrentarão perguntas sobre o suposto abuso sexual que ocorreu dentro das fileiras da insurgência.

Yamile, que agora tem 29 anos, tentou relatar seu pesadelo às superiores, mas foi ignorada por elas. Ser usada para o sexo seria sua contribuição para a revolução, ela foi informada.

“Por causa do estupro, acabei grávida. Eu nem sabia quem era o pai. Poderia ter sido qualquer um de dezenas de homens”, diz Yamile. Aos 16 anos, e com seis meses de gravidez, ela foi forçada a abortar. Seus olhos expõem a dor que sua voz tenta esconder.

“Eles me seguraram e me deram pílulas. Eu estava enjoada e estava sangrando. Foi tão doloroso”, ela diz. Yamile pertence a uma crescente facção vocal de mulheres ex-combatentes testemunhando uma litania de abuso sexual, e falar tem um custo.

Um relatório de 2016 disse que havia pelo menos 214 casos de meninas 'sujeitas a estupro, esterilização forçada, aborto forçado e outras formas de violência sexual' nas mãos dos guerrilheiros das FARC. (AFP)

Ela foi seguida e ameaçada várias vezes por homens mascarados, que dizem para ela calar a boca e virar a página.

Em 2016, um relatório do promotor público colombiano disse que havia pelo menos 214 casos de meninas “sujeitas a estupro, esterilização forçada, aborto forçado e outras formas de violência sexual” nas mãos dos guerrilheiros das FARC.

O mesmo relatório estimou que poderia haver até mil abortos por ano realizados pelos insurgentes.

“Camila” - que estava com muito medo de dar seu nome verdadeiro - foi tirada de casa pelos guerrilheiros quando tinha apenas 14 anos. Quando engravidou um ano depois, recebeu uma injeção antes de ser operada contra sua vontade. “Eu lembro de acordar e estava sangrando muito”, lembra Camila.

Ela agora tem insuficiência renal crônica como resultado do aborto que sofreu. A organização, Women's Link Worldwide, enviou um relatório sobre a violência reprodutiva das FARC ao tribunal de crimes de guerra em outubro [de 2019].

Victoria Sandino, ex-comandante da guerrilha e agora senadora das FARC.

“Os abortos foram conduzidos em condições insalubres e não-higiênicas. Às vezes eles usavam drogas ou métodos não-ortodoxos para interromper a gravidez, outras vezes usavam cirurgia ”, diz Mariana Ardila, uma das advogadas da ONG.

As vítimas de violência sexual dentro das FARC dizem que o aborto forçado era uma política da guerrilha para garantir a rebelião e impedir que seus campos fossem soterrados por crianças.

Isso foi negado por Victoria Sandino, que já foi comandante guerrilheira e agora senadora das FARC, o qual se tornou um partido político*.

*NT: Por recomendação do ex-presidente do Brasil, Luís Inácio "Lula" da Silva, em 28 de abril de 2009.

"Se era uma política ou regra, eu não sabia disso e certamente não a inventei", disse ela ao Telegraph. “É claro que isso é algo que precisa ser investigado, mas é absurdo que as mulheres tenham sido recrutadas apenas para sexo. Além disso, no contexto da guerra, entendeu-se que a gravidez era simplesmente impossível. O que era obrigatório era contracepção."

O líder das FARC, Rodrigo Londoño - ou 'Timochenko' - pediu desculpas recentemente pelo sofrimento sofrido pelos jovens - mas não reconheceu o abuso que ocorreu nas fileiras da guerrilha.

A Sra. Sandino reconheceu que os abortos aconteceram dentro da insurgência. "Foi uma escolha que tivemos como mulheres", disse ela. "Assim como a escolha que tivemos para deixar a insurgência e criar uma família, se é isso que queríamos fazer, e muitas mulheres fizeram".

Não é assim, de acordo com Yamile. “Tive amigas que foram executadas, mortas a tiros por um pelotão de fuzilamento porque queriam ficar com o bebê. Não havia escolha - ela disse. "Você abortava a gravidez ou era fuzilada."

A história de Héctor Albeidis Arboleda, conhecido como "O Enfermeiro" ou "O Médico", também põe em dúvida a liberdade que as mulheres poderiam ter para deixar os rebeldes.

Em março de 2017, ele foi extraditado da Espanha para a Colômbia. Ele é acusado de realizar mais de 500 abortos forçados em mulheres militantes e atualmente está detido em uma instalação de alta segurança enquanto aguarda julgamento.

"Se algo fosse forçado, teria sido a decisão de comandantes individuais", disse Sandino.

Aquelas que sofreram aborto forçado não foram reconhecidas como vítimas pelo Estado colombiano, porque são consideradas ex-insurgentes e não sobreviventes de agressão sexual e violência reprodutiva.

Quase 17.000 crianças soldados foram roubadas de sua juventude no sangrento conflito civil que durou mais de 50 anos. (AFP)

Mas em uma decisão na semana passada, o Tribunal Constitucional do país anulou essa política, garantindo reparações para mulheres como Yamile e Camila.

"O Estado deve garantir atenção especializada a mulheres, meninas, adolescentes e adultos mais velhos que sobrevivam à violência sexual perpetrada por atores armados, o que implica a obrigação de atender essas vítimas de maneira imediata, abrangente e especializada", afirmou a decisão.

Em um evento recente em Medellín, realizado para comemorar os 2,3 milhões de jovens vítimas do conflito na Colômbia, o líder das FARC, Rodrigo Londoño ou "Timochenko", não reconheceu o abuso ocorrido nas fileiras dos guerrilheiros, mas reconheceu desculpar-se pelo sofrimento sofrido por gerações de crianças e adolescentes no país.

"Causamos dor e sofrimento, e muitas crianças morreram, mas essa nunca foi a nossa intenção", disse ele. "E por isso lamentamos."

Mas para Yamile, o pedido de desculpas não foi suficiente. "Eles devem pagar pelo que fizeram", diz ela. "Só espero que eles recebam o castigo que merecem."

Post Scriptum: Abortos forçados e estupros na Guerrilha do Araguaia

A guerrilha FOGUERA, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), de linha chinesa-maoísta e instalada no Araguaia, também cometeu os mesmos crimes com decisões do comando da guerrilha, ordenaram o estupro coletivo de guerrilheiras para "aliviar a tensão" dos colegas, assim como ordenaram o aborto forçado de guerrilheiras que engravidaram.


Em 1971, Pedro Albuquerque Neto desertou com sua namorada grávida, Tereza Cristina, porque o comando militar da guerrilha decretou o aborto forçado da criança. Eles dois foram presos pelos militares. Isto foi decretado pela esquerda como a "traição" que entregou a guerrilha aos militares. 

Essa versão foi revista em prol de outra, onde a verdadeira "culpada" foi a guerrilheira Lúcia Regina, que desertou da guerrilha por conta de uma curetagem mal-feita durante o aborto forçado. A curetagem uterina é um procedimento médico executado para retirar material placentário ou endometrial da cavidade uterina por um instrumento denominado cureta. Este método é necessário quando existem complicações pós-aborto e tem como função principal limpar os restos do mesmo.

Uma Equipe Zebra com dois guerrilheiros capturados no Araguaia.
Os "zebras" eram militares e mateiros atuando descaracterizados em missões de contra-guerrilha.

Conforme narra o historiador Hugo Studart no livro "A Lei da Selva" (2006), páginas 91 a 94:

'Nessas mais de três décadas, as suspeitas recaem principalmente sobre dois ex-guerrilheiros, Pedro Albuquerque Neto e Lúcia Regina de Souza Martins. Eles desertaram em 1971, antes da chegada dos militares. Em seu relatório, o comandante Ângelo Arroyo aponta na direção de Pedro sua "verdade":

"O Exército soube da nossa posição através de denúncia do traidor Pedro Albuquerque que, meses atrás, havia fugido, com sua mulher [Tereza Cristina, grávida], do Destacamento C. O casal tinha concordado plenamente com as tarefas que iam realizar e com as condições difíceis que iam enfrentar. No entanto, logo depois de sua chegada ao Destacamento C, a mulher de Pedro Albuquerque começou a dizer que não tinha condições para permanecer na tarefa e acabou convencendo o marido a fugir. (...) Em março de 72, sabe-se que Pedro Albuquerque havia sido preso no Ceará e, em seguida, começou a pesquisa policial na zona."

De saída, vemos, o PC do B condenou Pedro como traidor. Ele desertou com a mulher em agosto de 1971. A partir do início dos anos 1980, o partido mudaria de posição; inocentou Pedro e passou a apontar outra guerrilheira, Lúcia Regina, como a "verdadeira" traidora. A principal suspeita a recair sobre Regina era o fato de ter desertado a fim de retornar para a casa dos pais em São Paulo, em dezembro de 1971, pouco antes da chegada dos militares à região.A suspeita se acentuou ao circular dentro do partido a informação de que o pai de Lúcia seria oficial aposentado do Exército. Principal acusadora: Elza Monerat, dirigente da guerrilha.

Em 2002, depois de 30 anos de silêncio, Lúcia Regina concedeu entrevista a quatro estudantes de Jornalismo. Sua "verdade" era outra. Negou que tenha entregado a guerrilha aos militares ao desertar. Na "verdade", conta ela, seu interrogatório só teria acontecido em 1975, depois de exterminada a guerrilha; aí, sim, contou o que sabia. E por que Regina desertou? Porque, conforme explicou aos estudantes, os comandantes a obrigaram a praticar aborto, já que, naquela situação, as regras da guerrilha não permitiam gravidez. Ela contraiu forte infecção. Corria perigo de vida e a dirigente Elza Monerat levou-a até um hospital em Anápolis (GO). Assim que Elza se retirou, Regina fugiu para a casa dos pais em São Paulo. Recusou-se a voltar para a guerrilha e nunca mais falou com membro algum da direção do PC do B.'

O caso foi reconfirmado por Studart durante uma entrevista sobre o livro seguinte, Borboletas e Lobisomens (2018), onde é registrado que o livro "[r]evela ainda o caso de uma outra guerrilheira: em plena selva e no meio das ações, ela engravidou e foi obrigada pela guerrilha a abortar. Para completar, há relatos que mostram guerrilheiras sendo obrigadas a fazer sexo com até cinco “companheiros”, para aliviar a tensão da turma."

Discuro do Coronel Lício Maciel


Vale lembrar que, conforme relatado pelo Coronel Lício Maciel aos 11:14 do vídeo:

"Pedro Albuquerque, ele fugiu porque os bandidos exigiram que ele fizesse um aborto em sua mulher, que estava grávida. Eles não se conformaram com a ordem, principalmente porque outra guerrilheira grávida tinha sido mandada para São Paulo para ter o filho nas mordomias daquela cidade. Ela era casada com o filho do chefe militar da guerrilha, Maurício Grabois."

O perigo de abandonar nossos parceiros

Um soldado dos EUA supervisiona membros das Forças Democráticas Sírias enquanto eles erguem uma bandeira do Conselho Militar de Tal Abyad. (Reuters)

Por Joseph Votel e Elizabeth Dent, The Atlantic, 8 de outubro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 5 de junho de 2020.

A reversão da política na Síria ameaça desfazer cinco anos de luta contra o ISIS e prejudicará gravemente a credibilidade e a confiabilidade americanas.

A decisão política abrupta de aparentemente abandonar nossos parceiros curdos não poderia ser pior. A decisão foi tomada sem consultar os aliados dos EUA ou a liderança militar sênior dos EUA e ameaça afetar futuras parcerias exatamente no momento em que mais precisamos delas, dada a fadiga de guerra do público americano juntamente com inimigos cada vez mais sofisticados determinados a nos perseguirem.


No nordeste da Síria, tivemos uma das parcerias mais bem-sucedidas. O Estado Islâmico estava usando a Síria como um santuário para apoiar suas operações no Iraque e em todo o mundo, inclusive hospedando e treinando combatentes estrangeiros. Tivemos que ir atrás do ISIS com rapidez e eficácia. A resposta veio na forma de um pequeno grupo de forças curdas preso na fronteira com a Turquia e lutando pela vida contra militantes do ISIS na cidade síria de Kobane em 2014.

Tentamos muitas outras opções primeiro. Os EUA trabalharam inicialmente para formar parcerias com grupos rebeldes sírios moderados, investindo US$ 500 milhões em um programa de treinamento e equipagem para desenvolver suas capacidades de luta contra o ISIS na Síria. Esse esforço fracassou, exceto por uma pequena força no sudeste da Síria, perto da base americana al-Tanf, que começou como um posto avançado dos EUA para combater o ISIS e permanece hoje como um impedimento contra o Irã. Então, nos voltamos para a Turquia para identificar grupos alternativos, mas o Pentágono descobriu que a força que a Turquia havia treinado era simplesmente inadequada e exigiria dezenas de milhares de tropas dos EUA para reforçá-la em batalha. Sem o apetite público por uma invasão terrestre americana em larga escala, fomos obrigados a procurar outro lugar.


Eu (Joseph Votel) conheci o General Mazloum Abdi pela primeira vez em uma base no norte da Síria em maio de 2016. Desde o início, era óbvio que ele não era apenas um homem impressionante e atencioso, mas um combatente que pensava claramente sobre os aspectos estratégicos da campanha contra o ISIS e ciente dos desafios de combater um inimigo formidável. Ele pôde ver os perigos de longo prazo da guerra civil, mas reconheceu que a ameaça mais imediata ao seu povo era o ISIS. Após um começo conturbado na Síria, concluí que finalmente havíamos encontrado o parceiro certo que poderia nos ajudar a derrotar o ISIS sem nos envolvermos no conflito mais sombrio contra o regime de Bashar al-Assad.

As Forças Democráticas da Síria (SDF), inicialmente compostas pelas Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), foram então concebidas: uma força de combate que eventualmente cresceu para 60.000 soldados determinados e endurecidos pela batalha. A decisão de formar uma parceria com as YPG, começando com a luta em Kobane, foi tomada em duas administrações e exigiu anos de deliberação e planejamento, especialmente considerando as preocupações de nosso aliado da OTAN na Turquia, que considera as SDF como uma ramificação do grupo designado terrorista do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Eventualmente, as YPG se tornou a espinha dorsal da força de combate contra o ISIS na Síria. Sem elas, o presidente Donald Trump não poderia ter declarado a derrota completa do ISIS.

Combatente curdo com OVN.

Com o apoio do que se tornou a Coalizão para Derrotar o ISIS, de 80 membros, que incluía poder aéreo, conselheiros em terra e equipamentos, as SDF tornaram-se uma força a ser considerada e liderou uma série de vitórias. Em agosto de 2016, elas libertaram a cidade síria de Manbij, que antes funcionava como um centro para os combatentes do ISIS cruzarem para dentro da Turquia e acredita-se que seja o local onde os atacantes que realizaram os ataques de Paris em novembro de 2015 transitaram. Atento à necessidade de credibilidade, ao pressionar para libertar áreas dominadas pelos árabes, as YPG conseguiram incorporar unidades árabes em sua estrutura como uma força de combate unida de curdos e árabes. Essa força, as SDF, libertou a chamada capital do califado, Raqqa, e cidades no vale do rio Eufrates Médio, culminando na derrota territorial do ISIS em Baghouz em março passado.

Durante quatro anos, as SDF libertaram dezenas de milhares de quilômetros quadrados e milhões de pessoas das garras do ISIS. Durante a luta, elas sofreram quase 11.000 baixas. Em comparação, seis militares americanos, bem como dois civis americanos, foram mortos na campanha anti-ISIS. A chave para esse relacionamento eficaz foi a confiança mútua, a comunicação constante e as expectativas claras. A parceria não ficou isenta de dificuldades. Isso incluiu trabalhar pelo anúncio de dezembro de 2018 de nossa partida repentina e nosso acordo subsequente com a Turquia para buscar um mecanismo de segurança para as áreas de fronteira. Mas a cada vez, a forte confiança mútua construída no terreno entre nossos militares e as SDF preservava nosso ímpeto. A mudança repentina de política nesta semana rompe essa confiança no momento mais crucial e deixa nossos parceiros com opções muito limitadas.

Soldados americanos e russos se encarando na Síria.

Não precisava ser assim. Os EUA trabalharam incansavelmente para aplacar nossos aliados turcos.

Nós nos envolvemos em inúmeras rodadas de negociações, comprometendo-nos a estabelecer um mecanismo de segurança que incluísse patrulhas conjuntas em áreas de interesse para os turcos e mobilizando 150 tropas americanas adicionais para ajudar a monitorar e reforçar a “zona segura”. No entanto, Ancara renegou repetidamente seus acordos com os EUA, considerando-os inadequados e ameaçando invadir áreas mantidas pelas SDF, apesar da presença de soldados americanos.

Patrulha americana passando por um blindado turco na Síria.

Uma possível invasão da Turquia contra os elementos curdos das SDF, juntamente com uma saída americana precipitada, agora ameaça desestabilizar rapidamente uma situação de segurança já frágil no nordeste da Síria, onde o califado físico do ISIS foi derrotado apenas recentemente. Quase 2.000 combatentes estrangeiros, cerca de 9.000 combatentes iraquianos e sírios, e dezenas de milhares de membros da família ISIS estão detidos em centros de detenção e campos de deslocados em áreas sob controle das SDF. O que acontece se sairmos? As SDF já declararam que terão que fortalecer os mecanismos de defesa ao longo da fronteira entre a Síria e a Turquia, deixando as instalações de detenção e os acampamentos do ISIS com pouca ou nenhuma segurança. Isso é particularmente preocupante, já que Abu Bakr al-Baghdadi, o autoproclamado califa do ISIS, recentemente pediu aos apoiadores que retirem os combatentes dessas instalações. Também ocorreram ataques violentos no campo de refugiados de al-Hol, onde dezenas de milhares de mulheres e crianças estão alojadas e onde a simpatia pelo ISIS corre solta.

Soldados turcos na Síria.

O Pentágono e a Casa Branca depois esclareceram que os EUA não estavam abandonando os curdos e não apoiaram uma incursão turca na Síria. Mas o dano já pode ter sido causado, porque parece que os turcos adotaram a mudança como sinalizando uma luz verde para um ataque no nordeste. Esse abandono da política ameaça desfazer cinco anos de luta contra o ISIS e prejudicará severamente a credibilidade e a confiabilidade americanas em qualquer luta futura em que necessitemos de fortes aliados.

O General Joseph Votel serviu como comandante do Comando Central dos EUA (CENTCOM) de março de 2016 a março de 2019. Como comandante do CENTCOM, Votel supervisionou as operações militares em toda a região, incluindo a campanha contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Antes do CENTCOM, ele era o comandante do Comando de Operações Especiais dos EUA (SOCOM) e do Comando de Operações Especiais Conjuntas (JSOC). O General Votel é um Distinto Bolsista Sênior não-residente em Segurança Nacional no Instituto do Oriente Médio (MEI).

Elizabeth Dent é bolsista não-residente da MEI em contraterrorismo e trabalhou em várias capacidades no Departamento de Estado da Coalizão Global dos EUA para Derrotar o ISIS de 2014 a 2019.

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico: Desvendando o exército do terro.
Michael Weiss e Hassan Hassan.

Leitura recomendada:


FOTO: A última patrulha24 de abril de 2020.








quinta-feira, 4 de junho de 2020

PERFIL: Ivica Jerak, o croata que morreu como um herói americano

Master Sergeant Ivica Jerak.

Por Eric SOF, SpecOps Magazine, 4 de abril de 2016.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 4 de junho de 2020.

Ivica Jerak era membro do 1º SFOD-D ou publicamente conhecido como Delta Force, a unidade especializada em guerra urbana, que foi morto em serviço no norte do Iraque em 2005, ao lado de dois outros soldados quando uma bomba explodiu perto da sua posição.

Para aqueles que não estão familiarizados com a história em seu país natal, podem achar estranho ver a inscrição na escola local. A placa escrita em ambos os idiomas, croata e inglês, contém a inscrição: “Esse playground e obras são dedicados à memória do Master-Sergeant Ivica Jerak, filho de Debeljak, cidadão dos Estados Unidos que foi morto em cumprimento do dever”.

Representantes militares dos EUA visitando a mãe de Ivica Jerak em 2012. (Foto: Sargento Kyle Wagoner)

Os objetos mencionados na inscrição são destinados aos moradores mais jovens da vila Debeljak, onde vivem 950 habitantes. Eles foram financiados pelo Comando de Operações Especiais Europa do Exército dos EUA, que doou US$ 130.000 para preservar a memória do MSG Jerak.

Vida pregressa

Ivica Jerak, filho de Mirko e Dusko, nasceu em 12 de outubro de 1962. Frequentou a escola primária na pequena aldeia Debeljak e Sukošan, enquanto em Zadar ganhou o título de marinheiro da marinha mercante. Depois de navegar pelos mares do mundo, ele desembarcou nos Estados Unidos em 1985 e apenas três anos depois se tornou soldado quando se alistou como médico de combate. Após o treinamento, ele foi designado para Fort Benning, na Geórgia, onde fazia parte da 690ª Companhia Médica. Ele também serviu no 3º Batalhão, 10º Grupo de Forças Especiais e no 1º Batalhão, 10º Grupo de Forças Especiais.


Ivica Jerak participou de muitas operações e missões militares em todo o mundo, incluindo operações internacionais de apoio à paz na Croácia, Bósnia e Herzegovina, e Kosovo. 

Ele deixou sua esposa Hye, uma cidadã americana da Coréia do Sul. Ele morava em Houston.

Como membro do 1º SFOD-D, ele foi morto em 25 de agosto de 2005, perto da cidade de Husaybah, no norte do Iraque. Ele foi enterrado no cemitério militar de Arlington.

Lápide de Ivica Jerak no Cemitério de Arlington. (Foto: XY)

Medalhas e cursos de Ivica Jerak


Entre seus companheiros soldados, ele era conhecido como Sensação Croata. Durante seus 17 anos de carreira militar, Jerak concluiu vários cursos, incluindo:

Curso de Precursor Paraquedista (Pathfinder Course), 
- Curso Ranger (Ranger Course), 
Curso Básico Paraquedista (Basic Airborne Course), 
Curso de Mestre-de-Salto em Linha Estática (Static Line Jumpmaster Course), 
Curso de Avaliação e Seleção das Forças Especiais (Special Forces Assessment and Selection Course), 
- Curso Médico de Operações Especiais (Special Operations Medical Course), 
Curso Técnico de Paramédico-Médico de Emergência (Emergency Medical Technician-Paramedic Course), 
Curso de Salto Livre Militar (Military Freefall Course), 
Curso de Mestre-de-Salto (Jumpmaster Course),
Curso Avançado de Oficial Não-Comissionado (Advanced Non-Commissioned Officer Course).

Medalha da Estrela de Bronze, concedida por "realização ou serviço heróico ou meritório".

Durante seu serviço, ele recebeu 47 decorações, incluindo quatro Medalhas da Estrela de Bronze (Bronze Star Medal), duas Medalhas do Coração Púrpura (Purple Heart Medal).

Medalha de Serviço Meritório de Defesa.

O MSG Ivica Jerak recebeu postumamente a Medalha da Estrela de Bronze com o dispositivo de Valor (V de Valour, coragem), a Medalha de Serviço Meritório de Defesa (Defense Meritorious Service Medal, DMSM) e outra Medalha do Coração Púrpura.

Reverso e anverso da Medalha do Coração Púrpura, concedida por "ser ferido ou morto em qualquer ação contra um inimigo dos Estados Unidos ou como resultado de um ato de qualquer inimigo ou forças armadas opostas".

Bibliografia recomendada:



Leitura recomendada:

PERFIL: Akihiko Saito, o samurai contractor2 de fevereiro de 2020.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

O Exército Francês está contratando escritores de ficção científica para imaginar ameaças futuras


Por Andrew Liptak, The Verge, 24 de julho de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de junho de 2020.

A "Equipe Vermelha" terá idéias que os planejadores militares podem não imaginar.

As forças armadas francesas querem descobrir o que suas forças armadas podem enfrentar no futuro. Para ajudar, estão atraindo um grupo de pessoas versadas em imaginar o futuro: escritores de ficção científica. O Telegraph do Reino Unido relata que a Agência de Inovação em Defesa da França está contratando entre quatro e cinco escritores para formar uma "Equipe Vermelha" que apresentará "cenários de ruptura", que são palavras de ordem militar para pensar-fora-da-caixa.

A França criou a Agência de Inovação em Defesa em setembro de 2018 como uma espécie de centro de incubação para encontrar tecnologias e equipamentos existentes que as forças armadas possam usar. A idéia é que as forças armadas possam encontrar e adotar tecnologias mais rapidamente do que os canais de aquisição típicos, o qual é um processo que pode levar anos.

"Conquêtes", trilogia de ficção científica francesa.

Mas saber quais tecnologias ou dispositivos usar apenas será útil se você tiver uma idéia dos problemas que poderá enfrentar no campo de batalha. Aparentemente, é aí que entram os escritores de ficção científica. Mas eles não aparecerão com histórias sobre como podemos combater civilizações alienígenas de outros planetas. O Telegraph diz que eles "tentarão antecipar como grupos terroristas ou estados hostis podem usar tecnologia avançada contra a França".

A idéia aqui não é que o grupo de autores preveja de alguma forma o futuro. Em vez disso, ao usar a ficção científica como ferramenta, eles terão idéias que estrategistas militares comuns não poderiam imaginar.


Usar ficção científica e escritores dessa maneira é uma prática que já está sendo usada em vários outros países em um campo chamado Strategic Foresight (Prospecção Estratégica). Os militares canadenses contrataram o escritor de ficção científica Karl Schroeder para escrever um romance curto chamado Crisis in Zefra (Crise em Zefra), em 2005. Esse pequeno livro expôs um cenário no qual as forças de paz canadenses podem enfrentar em um conflito próximo, incorporando como o uso de drones, celulares e acesso à Internet pode desempenhar um papel em uma zona de guerra urbana.


Os Estados Unidos também utilizaram a ajuda de escritores de ficção científica: os autores Larry Niven e Jerry Pournelle estabeleceram o Conselho Consultivo para Cidadãos em Política Espacial Nacional durante o governo Reagan, enquanto o Pentágono trouxe alguns escritores de ficção científica e diretores de cinema para pensar ameaças em potencial logo após os ataques de 11 de setembro. Mais recentemente, os autores August Cole e Peter W. Singer criaram um livro influente chamado Ghost Fleet: A Novel of the Next World War (Frota Fantasma: Um Romance sobre a Próxima Guerra Mundial), o qual se valeu do seu trabalho em think tanks para imaginar como uma terceira guerra mundial entre China, Rússia e Estados Unidos pode parecer.


As forças armadas francesas têm trabalhado recentemente para modernizar suas forças. O presidente francês Emmanuel Macron anunciou a criação de um novo comando espacial, enquanto o Comando Cibernético do país marchou nas comemorações do Dia da Bastilha do ano passado. Este ano, Franky Zapata, o inventor francês por trás do Flyboard Air, sobrevoou multidões durante o desfile militar do Dia da Bastilha deste ano carregando uma arma - algo que poderia facilmente ter surgido nas páginas de um romance de ficção científica.

Bibliografia recomendada:

Starship Troopers.
Robert A. Heinlein.

Leitura recentemente:







FOTO: Filipinos na Coréia14 de março de 2020.

Como evitar uma guerra no Estreito de Taiwan

Militares da marinha de Taiwan participam de uma cerimônia para comissionar duas fragatas de mísseis guiados da classe Perry dos Estados Unidos em Kaohsiung, Taiwan, em novembro de 2018. As duas fragatas serão desdobradas para patrulhar o Estreito de Taiwan. (AFP)

Por Grant Newsham, Asia Times, 17 de janeiro de 2020.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de junho de 2020.

Com considerável esforço, obstinação, coragem e boa sorte, os EUA, Taiwan e parceiros podem impedir o conflito.

A partir dos fatos expostos nas partes 1 e 2, conclui-se, com certa relutância, embora com relutância, que uma guerra no Estreito de Taiwan pode escalar e se espalhar, com efeitos prejudiciais sobre sociedades, atividades comerciais, economias e toda a estrutura global existente desde 1945. Como isso aconteceu?

Como chegar lá

O Ocidente e outras nações desperdiçaram décadas esperando que, se acomodassem Pequim, a RPC liberalizasse e ajustasse seu comportamento ao sistema mundial liderado pelos EUA. No entanto, ficou claro há pelo menos 20 anos que isso não iria acontecer - que a China era uma ameaça militar, política e econômica. De fato, os EUA criaram e financiaram seu principal inimigo.


É tão enlouquecedor quanto evitável. Por todo o lado, Taiwan recebeu o mínimo apoio possível, na esperança de que a República Popular da China apreciasse o favor. Pequim não apreciou. Sorriu presunçosamente, embolsou as concessões - e gritou por mais enquanto aumentava a pressão sobre Taiwan.

Assim é a vida. Mas estudar o que aconteceu é útil. Além disso, mostra o que funciona e o que não funciona ao lidar com a RPC. Certamente, qualquer estudo da história que remonta a 2.500 anos diz muito sobre como lidar com nações poderosas, agressivas e cobiçosas.

Evitando uma luta

Uma opção é dar à RPC o que ela deseja. Teoricamente, isso evitaria o massacre de uma guerra de tiros. O mesmo foi dito em 1938-1939, quando as potências ocidentais permitiram a Hitler apreender a Checoslováquia pedaço por pedaço. Adotar a “solução da Checoslováquia” também é chamado de apaziguamento. O resultado é bem conhecido.


Além disso, entregar Taiwan a uma Pequim expansionista totalitária e o Japão será o próximo. Além disso, a China será incentivada a afirmar  sua dominância ainda mais longe depois que  - ou mesmo quando - o Japão for colocado de joelhos.

Além disso, sem Taiwan, a posição dos EUA na Ásia entrará em colapso em virtude da perda da localização estratégica de Formosa. E ninguém em qualquer lugar valorizará as promessas de proteção dos EUA - reais ou implícitas. Em vez disso, eles decidirão fazer o melhor acordo possível com Pequim.

No entanto, existem ações a serem tomadas agora que podem reduzir as perspectivas de uma luta futura. Paradoxalmente, elas dependem da vontade demonstrada de defender Taiwan.


Primeiro, admitir que uma guerra no Estreito de Taiwan é possível - e até provável - na trajetória atual, mesmo que um ataque da RPC a Taiwan seja irracional da nossa perspectiva.

Infelizmente, os regimes autoritários nem sempre se comportam racionalmente. É tudo sobre poder e mantê-lo. Jogar com ressentimentos históricos e atacar exteriores unifica e distrai os problemas domésticos. É fácil acreditar que uma guerra curta e aguda atordoará outros países e apresentará a eles um fato consumado com o qual eles terão que conviver.

Segundo, não se preocupar tanto em provocar Pequim. Pequim toma suas próprias decisões. Para ajudar Xi a acertar os cálculos, a estratégia deve ser: Sem apaziguamento. Ajude Taiwan a se defender. Deixar claro que as liberdades que Taiwan representa são os principais interesses dos EUA e do mundo livre - e valem a pena serem defendidas lutando - exatamente como Pequim declara ter "linhas vermelhas" e "interesses principais".


Com esse objetivo: fornecer apoio político e econômico claro a Taiwan democrática, além do hesitante e simbólico apoio prestado até o momento. Terminar imediatamente 40 anos de isolamento militar e realizar exercícios de treinamento conjunto com as forças armadas de Taiwan. Tratar Taiwan como amigo e aliado.

Terceiro, acelere urgentemente o esforço atrasado de reorientar as forças armadas dos EUA para combater um adversário sério como o PLA - e atrair o maior número possível de aliados e parceiros, mesmo que seja apenas um apoio político a Taiwan. E é melhor Washington pensar em sua resposta quando Pequim fizer ameaças nucleares - como fará.

Além do big stick*, deixar claro para Pequim que o primeiro tiro será o fim das relações EUA-RPC: desencadeará o fim de todo o comércio e o suprimento abundante de moeda conversível que as empresas e banqueiros dos EUA vêm fornecendo à China nas últimas quatro décadas. Pequim pode então descobrir como empregar e alimentar 1,4 bilhões de pessoas.


*Nota do Tradutor: Grande porrete, o jargão vem da diplomacia americana do Big Stick - "Fale macio, mas carregue um grande porrete - criada por Theodore Roosevelt em 1900, e que se tornaria seu lema na presidência.

E ameaçar com credibilidade a riqueza das elites do PCC. Durante anos, essas elites têm movido freneticamente sua riqueza (e, idealmente, um ou dois membros da família) para a nação (os EUA) contra a qual a guerra é contemplada - e/ou seus aliados.

Tudo isso é suficiente para dissuadir Pequim? Talvez não. Mas vale a pena tentar, dadas as alternativas.

Passar a próxima década (ou enquanto Pequim ainda tiver domínio regional ou mesmo global como objetivo) será difícil. Mas, com um esforço considerável, obstinação, coragem e boa sorte, nós (EUA, Taiwan e parceiros) talvez consigamos deter o conflito sobre Taiwan. E se não, podemos garantir que somos o lado que perderá um pouco menos.


O tempo vai dizer. Os Estados Unidos nunca enfrentaram um inimigo como a República Popular da China.

De fato, os Estados Unidos permitiram que a RPC e as forças armadas chinesas se tornassem um adversário que, se os EUA e seus amigos “vencerem” uma guerra sobre Taiwan, será um enfrentamento tão acirrado que merecerá repetir as palavras do Duque de Wellington depois de Waterloo: “A corrida mais apertada que você já viu em sua vida.”

Grant Newsham é um oficial fuzileiro naval americano reformado. Ele foi o primeiro oficial de ligação do USMC junto à Força de Autodefesa do Japão e passou muitos anos na Ásia. Ele conduziu pesquisas em Taipei em 2019 como bolsista do Ministério de Relações Exteriores de Taiwan. Seu tópico de pesquisa abrangeu a melhoria da defesa de Taiwan, ajudando as Forças Armadas de Taiwan a romperem 40 anos de isolamento. Ele escreveu originalmente este artigo para o Journal of Political Risk, onde foi publicado em 1º de novembro de 2019.

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