sábado, 25 de janeiro de 2020

Os caras não confiam nesse fuzil de assalto

Real Fuzileiro Naval faz pontaria com o SA80 usando uma empunhadura frontal.

Por Paul Huard, War is Boring, 8 de junho de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 1º de setembro de 2019.

O SA80 é medíocre, na melhor das hipóteses.

O SA80 é o principal fuzil de assalto do exército britânico, e tudo nele grita "década de 1980".

O Serviço de Boatos do Exército Britânico - um quadro de mensagens e site de comédia - descreveu-o como a versão armada do funcionário público, “as it doesn’t work, and can’t be fired” ("pois não funciona e não pode ser demitido", trocadilho entre não funcionar e não disparar). O fuzil ainda tem a década incorporada em seu nome. SA80 significa "Arma Portátil para os anos 80".

Como muito na época, o SA80 representava uma modernidade elegante. Generais e burocratas do Ministério da Defesa queriam que fosse o fuzil de assalto mais preciso e confiável do mundo.

Em vez disso, foi um desastre gigantesco.

Introduzido pela primeira vez em 1985, o SA80 vem na configuração bullpup* e dispara a munição da OTAN de 5,56x45 milímetros. Era para ser um substituto compacto e tecnologicamente avançado para o venerável fuzil de batalha L1A1 - mais conhecido como o Fabrique Nationale FAL.

*Nota do Tradutor: Bullpup, intraduzível, significa “tudo à retaguarda”, com as peças móveis atrás do gatilho.

Mas os problemas afetaram o SA80, que ainda está em serviço em uma variedade de configurações. Para ser justo, alguns soldados britânicos dizem que o L85A2 - a mais recente encarnação do fuzil de assalto SA80 - é confiável na maioria das vezes.

Ainda assim, as versões anteriores do SA80 eram notórias por seus incidentes de tiro, principalmente nos ambientes agressivos encontrados em um campo de batalha típico. O fuzil freqüentemente tinha “pedaços” que quebrariam ou cairiam da arma. Há até histórias de baionetas fixas "tornando-se balísticas"* quando soldados abriam fogo.

*Nota do Tradutor: Sendo disparadas com a bala.

"A questão principal do SA80 agora é de confiança", disse Terry Gander, editor da Jane’s Infantry Weapons, ao The Daily Mail. "Os caras não gostam dele e o menor problema tenderá a ser ampliado".

Mas, apesar de alguma conversa sobre a substituição da arma, os militares britânicos planejam manter o SA80 até pelo menos 2020 - quer os rapazes gostem ou não.

Versão L85A1 do SA80 em desmontagem de primeiro escalão.

O desenvolvimento do SA80 remonta à década de 1950. As forças armadas britânicas estavam interessadas em desenvolver uma arma em configuração bullpup mesmo nessa época. Mas foi somente na década de 1970 que o Reino Unido construiu protótipos reais do SA80.

Ao mesmo tempo, o M-16 produzido nos EUA havia se tornado o fuzil mais comum da OTAN, se por nenhuma outra razão, a não ser o grande número de soldados americanos na aliança. Os britânicos ainda estavam apegados ao FAL — uma armada confiável e bruta que havia servido bem os soldados na Malásia, Vietnã e nas Falklands.


No entanto, alguns soldados consideraram o FAL uma arma pesada que não acompanhava os avanços tecnológicos. Por um lado, os fuzis mais recentes costumavam incluir ópticas de maior potência para condições de baixa luminosidade.

Nos escalões superiores das forças armadas britânicas, há muito fizeram-se queixas sobre a munição da OTAN de 7,62 x 51 milímetros do FAL. Muitos achavam que a munição era poderosa demais para disparar de modo totalmente automático.

Portanto, a substituição do FAL - o SA80 - usaria a mesma munição menor que a usada no M-16. Isso tornaria a logística e o fornecimento de munição mais fáceis e permitiria que os soldados controlassem suas armas ao disparar de forma automática. Testes iniciais do SA80 indicaram que ele era altamente preciso e pronto para o campo de batalha.

Pelo menos... em teoria.

Em 1990, o ditador iraquiano Saddam Hussein invadiu o Kuwait e iniciou a Guerra do Golfo Pérsico. Tropas britânicas - armadas com fuzis SA80 - correram para a Arábia Saudita e se juntaram ao contra-ataque. Mas os soldados descobriram rapidamente que seus fuzis tinham grandes problemas.

Por exemplo, o SA80 não tinha uma proteção em torno do retém do carregador, o que frequentemente fazia com que o carregador caísse quando a arma colidisse contra o corpo do usuário. Os projetistas o construíram para atiradores destros - um grande descuido que deixou as tropas canhotas com uma arma desconfortável e desajeitada para atirar.

Mais ameaçadoramente, o SA80 freqüentemente travava com poeira e detritos do Oriente Médio, um mau funcionamento que poderia tornar a arma de um soldado inútil no pior momento possível.

"Acho que o desenho do SA80 é adequado", disse um ex-soldado do Exército Britânico ao War Is Boring. “A iteração original da arma foi muito ruim. Relatos daqueles que a usaram na primeira Guerra do Golfo apontaram para muitos problemas - especialmente em comparação com o SLR, a versão britânica do L1A1, que ainda estava em utilização padrão na época.”


“Os soldados mais antigos comparavam constantemente os dois, conversando sobre munições mais brutas e o fato de que você podia atirar com o SLR de ambos os ombros”, continuou o soldado. "Pra mim, isso era algo que eu realmente não gostei no L85, não era possível atirar com a mão esquerda quando necessário - se você o fizesse, acabaria com um um belo roxo na bochecha esquerda."

Anos de atualizações e ajustes foram feitos para melhorar o SA80. Finalmente, os soldados britânicos receberam o fuzil L85A2 modificado em 2001, a tempo para a missão da OTAN no Afeganistão.

"Era uma arma que eu realmente não precisava me preocupar e fez o trabalho que eu queria", disse ele. "Não ouvi muitas reclamações sobre o assunto desde que as atualizações do A2 foram implementadas. É uma pena que demorou tantos anos para que as coisas fossem resolvidas."

Mas isso não é suficiente para fazer todos os soldados britânicos aceitarem o fuzil de assalto.

O SAS pode selecionar quaisquer armas de fogo que deseje para cumprir suas missões, mas se eles se recusaram a usar o SA80. Os Fuzileiros Navais Reais no Afeganistão também estão trocando o SA80 pelo C8 Diemaco, de fabricação canadense, uma versão do Colt M-16A3.

Além disso, o SA80 é um fracasso como arma de exportação. Somente a Bolívia e a Jamaica compraram-o, o que significa que o governo britânico nunca recuperou os consideráveis custos de desenvolvimento do fuzil.

Então, que tal substituir o SA80 por outra coisa? Bem, um contra-argumento é que os britânicos já gastaram tanto dinheiro em atualizações, que se livrar do fuzil agora seria economicamente e politicamente desastroso.

Portanto, parece que o SA80 chegou pra ficar no exército britânico por pelo menos mais alguns anos - um fuzil cujos piores críticos dizem ter sido "projetado pelo incompetente, emitido pelos indiferentes e carregado pelos infelizes."

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