Mostrando postagens com marcador Jihad. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jihad. Mostrar todas as postagens

domingo, 19 de setembro de 2021

A história futura da Jihad, com Wassim Nasr


Por David Coffey, Paris Perspective, 19 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de setembro de 2021.

No mês passado - a queda de Cabul, o 20º aniversário das atrocidades do 11 de setembro e o histórico julgamento dos ataques em Paris - foi um período de profunda turbulência emocional. A Paris Perspective (Perspectiva de Paris) faz um balanço desses eventos analisando a evolução da jihad internacional.

Não foi "nada pessoal". Isso é o que Salah Abdeslam, o principal suspeito dos massacres de 2015 que mataram 130 pessoas em Paris, disse a um tribunal francês esta semana.

Abdeslam fazia parte de uma célula do Estado Islâmico que executou os ataques com armas e bombas contra bares, restaurantes, a sala de concertos Bataclan e o estádio Stade de France em 13 de novembro, seis anos atrás.

Acredita-se que ele seja o único perpetrador sobrevivente.

O julgamento é um momento de ajuste de contas para as famílias das vítimas e milhares de outras vítimas dos horrores daquela noite. Velhas feridas estão sendo reabertas, assim como durante a recente retomada dos julgamentos militares de 11 de setembro na Baía de Guantánamo.

Agora, após a queda espetacular do Afeganistão para militantes talibãs, potências mundiais - rivais e aliadas - estão temendo um aumento na atividade terrorista, enquanto jihadistas de todo o mundo celebram a retirada caótica das forças ocidentais de Cabul.

Bom para a al-Qaeda, ruim para o Estado Islâmico


A al-Qaeda, uma insurgência sunita multinacional, vê o renascimento do Talibã como "um sinal de Deus", disse o especialista em terrorismo da France 24, Wassim Nasr, que monitora estratégias islâmicas radicais.

"Movimentos que pertencem à al-Qaeda ou simpatizantes da al-Qaeda foram encorajados porque vêem isso como uma prova de que com uma jihad paciente e armada - seguida de negociações - eles podem alcançar o que desejam."

O retorno do Emirado Islâmico do Talibã rejuvenesceu o comando central da al-Qaeda e seus afiliados. As coisas eram diferentes, no entanto, para o grupo do Estado Islâmico, que perdeu seu "califado" no Levante e viu seus líderes serem mortos por forças internacionais.

"Desde o primeiro dia da criação deste califado [do Estado Islâmico] em 2014, [a al-Qaeda] considerou-o ilegítimo", explica Nasr.

"Tive que fazer algumas perguntas a um importante líder da al-Qaeda na Península Arábica, e ele foi o primeiro a me dizer que, desde 2014, [o Estado Islâmico] era ilegítimo e [Abu Bakr] al-Baghdadi era um impostor.

"Portanto, a al-Qaeda está feliz, e o Estado Islâmico não."

Juventude desprivilegiada


Como jornalista e locutor, Nasr mantém seus ouvidos atentos, analisando problemas sociais e alcançando jovens vulneráveis nos bairros desfavorecidos da França, ou subúrbios. Pessoas desprivilegiadas nessas áreas são os principais alvos da radicalização por extremistas religiosos que são mestres na manipulação no recrutamento de jovens muitas vezes miseráveis que procuram dar sentido às suas vidas.

Abdeslam tentou usar o julgamento dos ataques em Paris como uma espécie de púlpito, e seu microfone acabou sendo silenciado por um juiz. Então, como suas palavras foram recebidas nos subúrbios, ou nos chamados "quartiers difficiles"?

Nasr diz que eles não estão prestando muita atenção. "Eles não estão seguindo essas provações. Eles não se sentem preocupados. É isso que eu sinto", diz ele. "Por outro lado, desde o primeiro dia, a mídia procurou saber o que Abdeslam iria dizer."

Como a maratona está programada para durar nove meses, as coisas podem mudar, dependendo do que Abdeslam diga ou não, acrescenta Nasr.

O mito do voto muçulmano


Desde os ataques de 2015, a França foi forçada a se olhar no espelho para reconhecer as realidades enfrentadas por sua população muçulmana e a guetização das comunidades muçulmanas. Quando se trata de representação política, no entanto, não mudou muito nos últimos seis anos. Qualquer conversa sobre um voto muçulmano enquanto a França se prepara para as eleições presidenciais de abril de 2022 é um absurdo, diz Nasr. A França não é como os outros países, porque os muçulmanos votam na direita ou na esquerda.

“Se você fala sobre os banlieus, por exemplo - o que pode ser considerado 'o voto muçulmano'? A maioria vota em Jean-Luc Melanchon, que está muito, muito à esquerda”, diz ele. “Mas se você fala sobre a participação [dos eleitores] ou de ir às urnas, ela é muito baixa. Muitas pessoas nem se dão ao trabalho de votar”.

Islamismo francês


Da turbulência dos massacres de 2015 em Paris - e dos subsequentes ataques de "lobo solitário" em todo o país - nasceu o conceito de Islam de France.

A ideia é simples: uma interpretação inclusiva e aprovada pelo Estado da fé islâmica de acordo com as normas da democracia secular da França para prevenir a radicalização e promover a integração. Mas esse roteiro para o futuro do Islã e dos muçulmanos na França alcançou muito no terreno?

Não, diz Nasr - porque o objetivo do Islam de France nunca foi político. Desde o início, foi estabelecido para monitorar opiniões extremistas provenientes de mesquitas ou imãs individuais.

"O Islã francês não deu certo. Ainda é um projeto, mas não sei se vai funcionar. Sempre que um estado se envolve em tais questões, as pessoas geralmente não o seguem", diz Nasr. Ao tentar trazer a fé islâmica para a corrente secular, se algum muçulmano em qualquer lugar do mundo vir "islam.gov", não funcionará.

No entanto, desde que Paris e outras cidades da Europa foram atingidas por ataques terroristas, o jihadismo internacional evoluiu - especialmente em resposta ao investimento global maciço em segurança, vigilância e cooperação internacional.

Todos os acusados no tribunal de Paris foram rastreados por meio da tecnologia. Então, o que mudou da perspectiva dos jihadistas? “À medida que as medidas legais evoluíram, os jihadistas adaptaram sua maneira de fazer as coisas”, explica Nasr.

As greves de 2001 e 2015 nos Estados Unidos e em Paris foram exceções. Eles envolveram reunir equipes, treiná-las, enviá-las aos países-alvo, adquirir armas e fabricar explosivos. Nos anos que se seguiram, acrescenta Nasr, tem sido muito difícil formar esse tipo de equipe e encontrar lutadores experientes dispostos a retornar a seus países de origem e atacar. No entanto, a tendência evoluiu para outra coisa.

“O Estado Islâmico alcançou o que a Al-Qaeda só poderia sonhar: conseguir incitar tantas pessoas a entrarem em ação. Ações terroristas em seus próprios países - seja como cidadãos, residentes ou refugiados”, disse Nasr.

"E esta é a tendência hoje... é menos letal do que grandes ataques como o 11 de setembro, mas o impacto político ainda é o mesmo."

O modelo de negócios da Jihad de baixo custo


Em termos monetários, os caros "espetáculos terroristas" dos últimos 20 anos estão se transformando em operações mais baratas com um "dividendo terrorista" proporcional, à medida que canais de financiamento ilícitos são fechados por meio da vigilância forense internacional das contas.

Na década de 2020, o terrorismo é mais econômico. “Não custa muito. É realmente fácil montar algo como o ataque a Cabul [aeroporto]. É um atacante suicida com um cinto explosivo”, diz Nasr.

"Isso não causa muitos danos em relação ao número de vítimas. Mas vimos o pânico que causou - os disparos do Talibã e das forças americanas - então há o impacto psicológico." Os movimentos jihadistas vivem em uma microeconomia, acumulando pequenas quantias de dinheiro ao longo do tempo para criar um gatinho maior que lhes permite conduzir suas operações de baixo custo e alto ganho, acrescenta Nasr.

O futuro é biológico?


Outro ramo evolutivo potencial para o terrorismo é a composição, vetor e entrega de armas. O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair alertou recentemente que a próxima onda de ataques provavelmente será de natureza biológica, em vez de ataques físicos tradicionais.

É assim que os jihadistas irão subverter as medidas de segurança no futuro?

Nasr acha que Blair tem razão, mas o desenvolvimento de armas químicas ou biológicas dos jihadistas é limitado. Tanto a al-Qaeda no Afeganistão quanto o Estado Islâmico no Iraque tentaram desenvolver armas químicas separadamente.

“Mas eram armas químicas de muito baixa tecnologia. E mesmo quando são usadas, as baixas foram muito baixas”, diz ele. "Mas [Blair] estava falando sobre o impacto psicológico. Eles estão tentando... você pode desenvolver a arma, mas então precisa desenvolver a habilidade de entregá-la".

Para os jihadistas, uma coisa é desenvolver armas bioquímicas em um laboratório provisório, mas outra bem diferente é "colocá-las em um avião e fazê-las funcionar".

Responsabilidade democrática


Assim, uma vez que o tribunal de Paris sobre os ataques de 13 de novembro entregue suas conclusões em nove meses, que resultado podemos esperar e como as decisões afetarão o futuro da radicalização doméstica na França?

Para Nasr, a justiça terá seguido seu curso pelo menos, ao contrário dos Estados Unidos. "Resumindo, a França e os países europeus estão fazendo o que os Estados Unidos não queriam - julgando terroristas em tribunais regulares e não em tribunais militares". Isso torna o processo judicial um processo público, o que é essencial em uma democracia.

A mensagem mais importante dos Estados Unidos - com os julgamentos do xeque Mohammed em Guantánamo - é que se trata de um julgamento militar. "Não são as regras normais. Não é um tribunal normal. Por outro lado [nos últimos 20 anos], as potências ocidentais estão usando drones para matar pessoas. E isso é extrajudicial", disse Nasr.

É aí que reside o paradoxo. "Quando você tem a oportunidade de julgar as pessoas no tribunal - como uma democracia - você deve."


Wassim Nasr é jornalista da France24 e especialista em jihadismo. Nasr é o autor do livro "État islamique, le fait accompli" (Editora Plon, 2016). Ele também é consultor do documentário Terror Studios (2016) indicado ao International Emmy Awards (2017). Siga-o em @SimNasr.

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico:
Desvendando o exército do terror.
Michael Weiss e Hassan Hassan.

Submissão.
Michel Houellebcq.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Em três meses, a força Barkhane neutralizou todos os líderes do Daesh não-malinenses no Sahel


Por Laurent LagneauZone Militaire Opex360, 16 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 16 de setembro de 2021.

Foi, portanto, no centro da noite passada que o presidente Macron anunciou a neutralização de Adnan Abou Walid al-Sahraoui, chefe do Estado Islâmico no Grande Saara (État islamique au grand Sahara, EIGS), confirmando assim um boato que circulava desde o final de agosto.

Durante uma entrevista coletiva concedida em 16 de setembro, a Ministra das Forças Armadas, Florence Parly, especificou que esta figura do jihadismo saheliano, responsável pela morte de 2.000 a 3.000 civis desde 2015, havia sucumbido aos ferimentos, após ter sido alvo de um ataque francês, levada a cabo no Liptako malinense, isto é, na zona das três fronteiras, mais precisamente nas proximidades de Indelimane.

Se aconteceu que líderes jihadistas foram eliminados durante operações ditas "de oportunidade", foi diferente para o "emir" do EIGS, o ataque realizado em agosto foi a culminação de vários meses de perseguição.

"Graças a uma manobra de inteligência de longo prazo e graças a várias operações para capturar combatentes perto de al-Saharoui, a força Barkhane conseguiu identificar vários locais de interesse onde o último provavelmente estaria escondido", acrescentou Parly. “Em meados de agosto, decidimos lançar uma operação voltada para esses locais. Ataques aéreos foram realizados e um deles atingiu o alvo”, acrescentou.


De fato, durante a operação "Solstice", liderada pelas forças francesas e nigerianas na região das três fronteiras, vários quadros importantes do EIGS foram capturados (como Dadi Ould Chouaïb, também conhecido como "Abou Dardar" e Sidi Ahmed Ould Mohammed, codinome Katab al-Mauritani) ou eliminado. Foi o caso de Almahmoud Al Baye codinome Ikaray), Issa Al Sahraoui, o "coordenador logístico e financeiro" do grupo jihadista e Abu Abderahmane Al Sahraoui, seu líder religioso (cadi) e número três.

A operação para neutralizar Adnan Abou Walid al-Sahraoui foi, portanto, lançada no dia 17 de agosto, em parceria com as forças armadas malinenses, na floresta Dangarous que, localizada ao sul de Indelimane, é de difícil acesso. É por esta razão que, sublinha o EMA, era então conhecido por "acampamentos de quadros e membros do EIGS, bem como nódulos logísticos".

Durante a fase inicial de inteligência (17 a 20 de agosto), um ataque aéreo já havia neutralizado dois integrantes do EIGS que viajavam em uma motocicleta. Em seguida, um grupo comando foi engajado para explorar e vasculhar a área, apoiado por drones MQ-9 Reaper e caças Mirage 2000D. Estes últimos foram chamados em várias ocasiões para visar “objetivos claramente identificados como sendo ocupados” por jihadistas.

“Os ataques foram lançados após seguir um robusto processo de seleção de alvos e com a confirmação de que os alvos pretendidos correspondiam a elementos do EIGS”, sublinhou o EMA. E assim foi no curso de um deles que Adnan Abu Walid al-Sahraoui foi mortalmente ferido.

Cadeia de comando do Daesh no Sahel.

Para a Parly, a morte de Adnan Abou Walid al-Sahraoui é um "golpe decisivo para o comando" do EIGS, bem como para sua "coesão". O Diretor-Geral da Segurança Externa (Directeur général de la sécurité extérieure, DGSE - serviço secreto), Bernard Émié, lembrou ainda que as forças francesas "neutralizaram recentemente, com base em informações consolidadas, mais de dez quadros do EIGS não-malinenses". Ele insistiu: "São seus líderes militares, seus ideólogos, seus logísticos e agora seu líder histórico que foram postos fora de ação."

Observe que o número dois do EIGS, Abdelhakim al-Sahraoui (codinome Salama Mohamed Fadhil), teria morrido em maio passado, em circunstâncias desconhecidas. Isso é de fato o que a Parly disse em julho... O que um relatório das Nações Unidas sobre o movimento jihadista, publicado logo depois, no entanto, não confirmou.

Independentemente disso, Émié advertiu que o EIGS "permaneceria ameaçador". E que, consequentemente, não foi necessário "não baixar a guarda". Segundo ele, o grupo "agora deve se estruturar em torno de seus líderes fulani", o que pode gerar tensões interétnicas na região.

As forças francesas eliminaram Adnan Abou Walid al-Sahraoui, o chefe do Estado Islâmico no Sahel


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 16 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 16 de setembro de 2021.

No final de agosto, um boato circulando nas redes sociais indicava que o chefe do Estado Islâmico no Grande Saara (État islamique au grand Sahara, EIGS), Adnan Abou Walid al-Sahraoui, havia sido morto durante uma operação realizada pela força francesa Barkhane. O que não foi confirmado na época.

No entanto, o EIGS encontrava-se então sob pressão, vários dos seus quadros importantes tendo sido "neutralizados" durante a Operação Solstice (Solstício), liderada por forças francesas e nigerianas na região conhecida como as três fronteiras, por estar localizada na fronteira do Mali, a partir do Níger e do Burkina Faso. Em julho, a Ministra das Forças Armadas, Florence Parly, anunciou a captura de Sidi Ahmed Ould Mohammed (codinome Katab al-Mauritani), bem como a eliminação de Almahmoud Al Baye (codinome Ikaray), dois tenentes próximos de Adnan Abou Walid al -Sahraoui.

Além disso, o nó em torno da cabeça do EIGS estava se apertando gradualmente. Daí, sem dúvida, os rumores a seu respeito... De qualquer forma, na noite de 15 para 16 de setembro, o presidente Macron anunciou, via Twitter, que Adnan Abu Walid al-Sahraoui havia sido "neutralisé" (neutralizado) pelas forças francesas. "Este é outro grande sucesso em nossa luta contra grupos terroristas no Sahel", disse ele.

“A Nação está pensando esta noite em todos os seus heróis que morreram pela França no Sahel nas operações Serval e Barkhane, nas famílias enlutadas, em todos os seus feridos. Seu sacrifício não é em vão. Com os nossos parceiros africanos, europeus e americanos, vamos continuar esta luta”, concluiu o Chefe de Estado.

Por sua vez, Parly disse que o chefe do EIGS "morreu como resultado de um ataque da força Barkhane", sem dar mais detalhes. Ele acrescentou: "Felicito os militares e agentes de inteligência que contribuíram para esta caçada de longo prazo. É um golpe decisivo contra este grupo terrorista”.

A eliminação do chefe do EIGS ocorre pouco mais de um ano depois da de Abdelmalek Droukdel, o "emir" da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (al-Qaïda au Maghreb islamique, AQIM), durante uma operação francesa no Magrebe Islâmico, norte do Mali.

Busca de informação: Abou Walid.

Como um lembrete, Adnan Abou Walid al-Sahraoui jurou lealdade a Abu Bakr al-Baghdadi, o chefe do Estado Islâmico (EI ou Daesh) em 2015, enquanto ele era membro do grupo jihadista "al-Mourabitoune", nascido de uma fusão entre o Movimento pela Singularidade e a Jihad na África Ocidental (Mouvement pour l’unicité et le jihad en Afrique de l’Ouest, MUJAO), da qual ele era o porta-voz, e os "Signatários por sangue" de Mokthar Belmokthar [que desapareceu de circulação desde então, provavelmente tendo sido morto por um ataque francês na Líbia, nota do editor].

O EI demorou a reconhecer a lealdade de al-Sahrawi, considerando assim seu grupo muito fraco. Mas ele mudou de ideia em setembro de 2016, depois que o EIGS assumiu a responsabilidade por suas primeiras ações em Burkina Faso.

Então, um ano depois, a organização jihadista estava por trás de uma emboscada que tirou a vida de quatro comandos das forças especiais americanas em Tongo Tongo (Níger). Em 2018, al-Sahraoui não foi neutralizado pela força Barkhane, durante uma operação lançada na região de Gao, em torno de Menaka e Ansongo. Nos meses seguintes, o EIGS multiplicou os ataques particularmente mortais na região das três fronteiras, infligindo pesadas perdas aos exércitos locais, bem como abusos contra a população civil.


Assim, desde o início do ano de 2021, ainda atenuado pela ação da força Barkhane, então concentrada na região das três fronteiras, o EIGS lançou uma série de ataques que mataram várias centenas de civis, tendo como pano de fundo a rivalidade com o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, ligado à al-Qaeda).

“A estratégia do EIGS difere da do GSIM, limitando sua influência política. No início de 2021, o EIGS realizou grandes ataques em Burkina Faso, Mali e Níger, que mataram várias centenas de civis. Em maio, uma longa mensagem de propaganda sobre o EIGS no Níger foi publicada no Al-Naba pela estrutura central do EI para justificar os assassinatos, alegando que as vítimas haviam apoiado as autoridades locais”, explicou um recentemente um relatório das Nações Unidas.

Portanto, resta saber se a eliminação de al-Sahraoui, que, como um lembrete, ordenou pessoalmente o assassinato de seis trabalhadores humanitários franceses no Níger, resultará em uma mudança de estratégia, enquanto a França anunciou uma evolução do seu dispositivo militar no Sahel, a fim de se concentrar em rastrear chefes jihadistas e apoiar as forças armadas locais.

A polícia alemã prendeu quatro no Yom Kippur por causa de um plano de ataque à sinagoga

Um homem é detido pela polícia em conexão com um ataque frustrado à sinagoga Hagen, oeste da Alemanha, em 16 de setembro de 2021. (Alex Talash / AFP)

Da France 24, 16 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 16 de setembro de 2021.

Um menino de 16 anos e três outras pessoas foram detidos nesta quinta-feira (16/09) em conexão com um plano suspeito de um ataque extremista islâmico a uma sinagoga na cidade alemã de Hagen, disseram as autoridades.

As detenções ocorreram no Yom Kippur, o dia mais sagrado do judaísmo, e dois anos após um ataque mortal em outra cidade alemã no feriado do Yom Kippur. A polícia isolou a sinagoga na quarta-feira e um culto de adoração planejado para a noite foi cancelado.

As autoridades receberam “informações muito sérias e concretas” de que poderia haver um ataque à sinagoga durante o Yom Kippur, disse Herbert Reul, ministro do Interior do estado da Renânia do Norte-Vestfália, onde Hagen está localizada. A denúncia apontou para “uma situação de ameaça motivada por islâmicos” e citou o momento e o suspeito possíveis, acrescentou.

A polícia, usando cães farejadores, não encontrou objetos perigosos dentro ou ao redor da sinagoga, disse Reul. Na manhã de quinta-feira, o jovem de 16 anos, cidadão sírio que vive em Hagen, foi detido. Três outras pessoas foram detidas em uma batida em um apartamento, e as autoridades estão investigando se elas estariam envolvidas no plano suspeito, disse o ministro.

Ele disse que a sinagoga cancelou a sua celebração do Yom Kippur, quando judeus praticantes fizeram vigílias durante a noite. A denúncia incluiu detalhes sobre o momento do ataque, ele acrescentou. O primeiro-ministro estadual da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, disse que o ataque frustrado provavelmente teve um motivo islamista. "Parece que anteontem, no Yom Kippur, um ataque motivado por islamismo foi evitado", disse ele. “Faremos tudo o que pudermos para esclarecer quais redes podem estar por trás” da trama, acrescentou.

A denúncia veio de agência de inteligência estrangeira, diz a mídia alemã.

A revista Der Spiegel informou, sem identificar as fontes, que a denúncia veio de um serviço de inteligência estrangeiro. Ela disse que o adolescente disse a alguém em um bate-papo online que estava planejando um ataque com explosivos a uma sinagoga, e que a investigação levou os investigadores até o jovem de 16 anos, que vivia com seu pai em Hagen.

Dois anos atrás, no Yom Kippur, um extremista de direita alemão atacou uma sinagoga na cidade de Halle, no leste da Alemanha. O ataque é considerado um dos piores ataques anti-semitas da história do pós-guerra do país. O agressor tentou várias vezes, mas não conseguiu, forçar seu caminho dentro da sinagoga com 52 fiéis dentro. Ele então atirou e matou uma mulher de 40 anos na rua em frente e um homem de 20 em uma loja de kebab próxima como um “alvo apropriado” com raízes imigrantes.

Ele postou um discurso anti-semita antes de realizar o ataque de 9 de outubro de 2019 e transmitiu o tiroteio ao vivo em um site de jogos popular. A ministra da Justiça alemã, Christine Lambrecht, condenou veementemente o frustrado ataque de Hagen.

“É intolerável que os judeus sejam novamente expostos a uma ameaça tão horrível e que eles não possam comemorar o início de seu feriado mais importante, o Yom Kippur, juntos”, disse o ministro.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

NOHED: As Forças Especiais do Irã


Por Eren Ersozoglu, Grey Dynamics3 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de setembro de 2021.


Principais descobertas sobre a NOHED:

Brigada de “Forças Especiais Aerotransportadas” NOHED, estabelecida em 1959 como parte das Forças Especiais Imperiais do Irã. As Forças Especiais dos EUA durante a década de 1960, antes da Revolução Iraniana de 1979, treinaram o grupo. O Irã utilizou principalmente o NOHED na Guerra Irã-Iraque (1980-88).

O Coronel Holako Ahmadian liderou o grupo. A brigada é a elite das unidades de forças especiais do Irã. Em 4 de abril de 2016, as autoridades anunciaram oficialmente que a NOHED estava presente na Síria para apoiar o governo Assad na Guerra Civil Síria. A narrativa oficial era de desdobramento "consultivo".

Fontes não-oficiais de altas fatalidades sofridas pela unidade aumentam a improbabilidade dessa narrativa. O general iraniano Ali Arasteh apoiou esta avaliação. Ele afirmou que comandos e atiradores de elite (snipers) de suas forças armadas podem ser usados como "conselheiros militares".

É altamente provável que a NOHED permaneça na Síria em uma capacidade consultiva e operacional.

A NOHED, em uníssono com o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) e a secreta Força Quds, tem estado muito ativa na Síria. Este artigo de inteligência da Grey Dynamics analisa a unidade de forças especiais do Irã, fornecendo informações básicas, capacidades e presença na Síria.

Operadores da NOHED no Curdistão durante a Guerra Irã-Iraque.

Os Boinas Verdes do Irã

As raízes da NOHED remontam a 1953, quando oficiais do Exército Imperial Iraniano participaram de treinamento de paraquedismo na França. O Batalhão de Paraquedistas foi estabelecido em 1959, uma reforma da Unidade de Paraquedistas criada pelos oficiais treinados na França. Esta unidade tornou-se a 23ª Brigada de Forças Especiais Aerotransportadas em 1970, adotando as boinas verdes de estilo americano. O emblema da unidade até espelhava de forma quase idêntica (antes da Revolução Iraniana) a insígnia De oppresso liber das Forças Especiais do Exército dos EUA. Isso foi o resultado do envio de quatro destacamentos operacionais de operadores de forças especiais pelos EUA para treinar o pessoal militar do Irã na década de 1960. Parte desse treinamento incluiu a 65ª Brigada de Força Especial Aerotransportada do Irã, que agora é chamada de 65ª Brigada NOHED, um componente-chave das forças especiais iranianas. A brigada é dividida em quatro unidades principais: resgate de reféns, operações psicológicas, apoio e guerra irregular.

Comandos boinas verdes iranianos.

Treinamento

Passar no treinamento para a unidade de forças especiais do Irã, apelidada de "fantasmas poderosos" dentro do exército iraniano, é extremamente difícil. Aqueles que passam no treinamento inicial de paraquedismo passam períodos de treinamento em desertos, florestas, neve, mar e montanhas. Este estágio visa cultivar a capacidade de engajar efetivamente os adversários em qualquer ambiente. Obtidos os pontos necessários nesta etapa, dá-se início à etapa de especialização. Por exemplo, a Unidade de Resgate de Reféns (Unidade-110) provavelmente envolveria ênfase no arrombamento e eliminação de bombas. Outra seção do treinamento envolve espionagem, reconhecimento e telecomunicações, bem como guerra irregular. Isso fornece a capacidade para a guerra de guerrilha. Essas características permitem a utilização da NOHED em guerras híbridas/irregulares (Iraque, Síria) para atender aos objetivos do Estado iraniano. Com aproximadamente 5.000 militares, um relatório do Poder Militar do Irã da Agência de Inteligência de Defesa de 2019 afirmou que a Brigada NOHED é a elite das forças especiais iranianas.

A Unidade de Resgate de Reféns (Unidade-110) da NOHED durante um exercício de missão de resgate de reféns, o homem da frente armado de submetralhadora Uzi.

Lista de Ataques

Ao longo da história da unidade de forças especiais iranianas, a Brigada NOHED estabeleceu sua reputação dentro dos círculos militares iranianos com ações realizadas em teatros de guerra:
  • Primeira experiência de combate na Guerra Civil de Omã 1963-76.
  • Supressão da revolta do Khuzistão de 1979.
  • Rompimento do cerco de Abadan (1980-81) durante a Guerra Irã-Iraque, as forças iraquianas que lançaram um ataque surpresa em território iraniano foram retidas com sucesso pela 23ª Brigada de Forças Especiais Aerotransportadas.
  • Durante a Guerra Irã-Iraque, a unidade conseguiu manter posições estratégicas em Dopaza e Laklak, apesar dos ataques químicos do Iraque.
  • Em uma operação simulada, a 65ª tomou e capturou centros estratégicos importantes pela capital Teerã, alcançando o sucesso da missão em 2 horas.
Existem vários relatos não-confirmados de operações clandestinas no Afeganistão e no Paquistão. No entanto, não está claro até que ponto as capacidades de guerra irregular desta unidade ocorreram ao longo da história recente.

 A pegada na Síria

A Guerra Civil Síria de 2011 levou ao governo de Assad, grupos de oposição, forças estrangeiras proxy (terceirizadas), Forças Democráticas Sírias Curdas (SDF) e forças do Estado Islâmico a ficarem engalfinhados em um conflito em curso. Um dos muitos países envolvidos foi o Irã, fornecendo ao governo Assad apoio monetário, logístico, militar e diplomático. Em abril de 2016, o brigadeiro-general iraniano Ali Aratesh informou à Agência de Notícias Tasnim que assessores da 65ª Brigada NOHED estavam estacionados na Síria. O que significa que é provável que a unidade das forças especiais do Irã estivesse presente já em 2011-12, quando oficiais de inteligência ocidentais afirmaram que 150 membros do Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) estavam presentes na Síria para apoiar Assad.

Em 10 de abril de 2016, reportagens afirmavam que beligerantes assassinaram um sargento da NOHED na Síria. Desde então, a atividade iraniana aumentou significativamente na Síria. Relatórios não-confirmados mostram pelo menos 30 membros da NOHED mortos apenas em 2016. O Irã utiliza combatentes xiitas do Afeganistão, Iraque, Paquistão, bem como o notório proxy Hezbollah. As forças militares apoiadas pelo Irã controlam os arredores de Damasco, com várias bases na Síria. A Síria está sofrendo com uma guerra contínua em um ambiente altamente volátil e com numerosos interesses. É nesse ambiente irregular que a Brigada NOHED foi treinada para operar e, sem dúvida, será utilizada.


Eren Ersozoglu é analista da Grey Dynamics. Ex-graduado em história pela Coventry University com foco em ligações entre terrorismo e crime organizado e estudos de inteligência e segurança, graduou-se na Brunel University.

Bibliografia recomendada:

World Special Forces Insignia.
Gordon L. Rottman e Simon McCouaig.

Leitura recomendada:

É por isso que as Forças Especiais do Irã ainda usam boinas verdes, 4 de janeiro de 2020.

COMENTÁRIO: O treinamento militar do Irã de acordo com um iraniano, 5 de fevereiro de 2021.

GALERIA: A Uzi iraniana3 de março de 2020.

A influência iraniana na América Latina, 15 de setembro de 2020.

O papel da América Latina em armar o Irã16 de setembro de 2020.

A Venezuela está comprando petróleo iraniano com aviões cheios de ouro, 8 de novembro de 2020.

Irã envia a maior frota de petroleiros de todos os tempos para a Venezuela15 de dezembro de 2020.

O desafio estratégico do Irã e da Venezuela com as sanções13 de setembro de 2020.

As Forças de Defesa de Israel fazem uma abordagem ampla ao lidar com a ameaça iraniana16 de dezembro de 2020.

Com a série de espiões "Teerã", os israelenses alcançam um inimigo1º de outubro de 2020.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Grupo Wagner: mercenários russos ainda chafurdando na África


Por Steve Balestrieri, SOFREP, 19 de abril de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de setembro 2021.

O Grupo Wagner da Rússia está passando por momentos cada vez mais difíceis na África. Cerca de um ano atrás, Moscou estava se gabando de chegar primeiro que o Ocidente e a China na obtenção de contratos militares privados, subestimando as ofertas de vários países ocidentais ao divulgar seu "Modelo Sírio" de sucesso. Como resultado, eles acabaram conseguindo mais de 20 contratos militares privados na África. Mas toda essa euforia está secando.

Entraram no Moçambique cheios de confiança: Em agosto de 2019, o presidente moçambicano Filipe Nyusi encontrou-se com o presidente Putin e chegou a um acordo para que os russos apoiassem os militares moçambicanos. Este acordo deu à Rússia numerosas concessões do rico gás no país.

Insígnia não-oficial de caveira do Grupo Wagner.

O Grupo Wagner foi desdobrado logo depois, em outubro de 2019, com 200 contratados. Aterrou no Aeroporto de Nacala, em Moçambique, para ajudar na luta em curso do governo contra o Estado Islâmico na região norte da região rica em gás natural de Cabo Delgado.

O Grupo Wagner é uma companhia militar privada de propriedade de Yevgeny Prigozhin, um oligarca russo com laços muito próximos ao presidente Vladimir Putin. Ele é conhecido como o "chef de Putin", pois também possui uma vasta empresa de restaurantes. Com o objetivo de Putin de expandir a influência da Rússia na África, as forças proxy (de procuração) do Grupo Wagner estão operando no Sudão, na República Centro-Africana e em Moçambique. Eles também têm uma grande presença na Líbia e na Síria.

O Grupo Wagner é essencialmente um braço da política estatal russa: eles nunca foram empregados em nenhum lugar sem a aprovação do Kremlin. E embora não sejam oficialmente reconhecidos como tal, eles são, na verdade, forças terceirizadas do governo de Putin. “Não faço distinção entre os soldados russos e o Grupo Wagner - a maneira como eles cooperam”, disse Jasmine Opperman, especialista sul-africana em terrorismo, ao Voice of America em uma entrevista.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chega a Durban, na África do Sul, em uma viagem oficial em 2013.

Como escrevemos no outono passado na SOFREP, embora existam várias empresas de proteção africanas - com uma vasta experiência nesta área do continente - disponíveis para aluguel, o governo moçambicano optou, no entanto, pelo Grupo Wagner, devido à sua óbvia influência política e à seu preço muito mais barato do que o de outras empresas. Enquanto uma empresa da África com 50-60 soldados qualificados com vasta experiência na área custaria ao governo entre US$ 15.000 e US$ 25.000 por mês para cada mercenário, o Grupo Wagner enviou 200 mercenários por entre US$ 1.800 e US$ 4.700 por mês cada.

Mas a velha advertência: “Você recebe o que paga” é uma descrição adequada do que aconteceu até agora na região.

Os superconfiantes contractors russos, apoiados por helicópteros Hind e transportados por helicópteros Mi-17 Hip, avançaram para o interior ao longo da fronteira entre Moçambique e Tanzânia. As forças aéreas e terrestres deveriam operar em estreita cooperação com o exército moçambicano (Forças Armadas de Defesa de Moçambique, FADM). No entanto, o ISIS não hesitou. Conforme relatado pelo Southern Times após a chegada dos russos, o ISIS rapidamente reforçou suas unidades em Moçambique, trazendo “voluntários” de outros países da África Oriental, especialmente da Somália. Isso logo levou a uma série intensificada de ataques da guerrilha.

Opperman chamou a situação de “tempestade perfeita” e disse sobre os esforços do Grupo Wagner na região: “Os russos não entendem a cultura local, não confiam nos soldados e têm que lutar em condições horríveis contra um inimigo que está ganhando mais e mais impulso. Eles estão totalmente fora do seu elemento.” Eles não estão acostumados a operarem em um ambiente de selva e sabem (ou se importam) pouco sobre os costumes e tradições locais.

Assim, os russos estão caindo no mesmo problema que tiveram durante a era soviética: tensões entre eles e as forças das nações anfitriãs. Os mercenários russos acusaram os soldados moçambicanos de não terem disciplina, enquanto as tropas da nação anfitriã sentem que estão sendo intimidadas pelos russos. E não existe um "Robin Sage" [personagem fictício americano] para os russos aprenderem como ganhar a confiança da força de uma nação anfitriã.

E agora, depois de sofrerem uma série de derrotas e mais de uma dúzia de mortes, o Grupo Wagner recuou suas tropas de volta para sua base principal em Nacala, cerca de 250 milhas ao sul.

Mercenários Wagner na República Centro-Africana, janeiro de 2021.

Eles enfrentam o mesmo problema na República Centro-Africana (RCA). Existem centenas de mercenários do Grupo Wagner operando na RCA, incorporados a uma infinidade de forças diferentes, mas eles estão perdendo todo o relacionamento com os locais devido ao tratamento brutal que dispensam a eles.

O Norte da África também não é mais gentil com eles.

Os russos têm cerca de 1.000 mercenários Wagner na Líbia. Eles sofreram 35 mortos em setembro, quando os turcos os atingiram com um drone, pois não tinham como se defender de ataques aéreos - a exemplo do que aconteceu com as tropas Wagner na Síria quando atacaram uma base dos EUA. Em janeiro, Putin e o presidente turco Erdogan chegaram a um acordo e, em seguida, surgiram relatórios de que as tropas russas Wagner foram retiradas da linha de frente em Trípoli.

A Líbia está em constante guerra civil desde a remoção do ditador Muammar al-Gadhafi, liderada pelos EUA, em 2011. Os Estados Unidos, a ONU e a maior parte da comunidade internacional reconhecem o Governo de Acordo Nacional (GNA), com sede na capital líbia Trípoli, como o governo legítimo. Mas a metade oriental do país é liderada por Khalifa Hafter, que é apoiado pela Rússia, Egito e Emirados Árabes Unidos (EAU). Hafter e suas tropas estão tentando capturar Trípoli.

As coisas não estão indo bem para os russos ou o Grupo Wagner na África. E quando você está mostrando uma fraqueza percebida, especialmente neste mundo de contratos militares privados, outros tentarão usar isso a seu favor.

Entra Erik Prince.

Prince, o fundador da empresa de segurança privada Blackwater, tem procurado nos últimos meses fornecer serviços militares o Grupo Wagner em pelo menos dois pontos de acesso africanos, de acordo com relatórios do The Intercept.

Prince supostamente se encontrou no início deste ano com um funcionário do Grupo Wagner e se ofereceu para apoiar as operações do Grupo Wagner na Líbia e em Moçambique. O advogado de Prince negou que ele tenha se encontrado com alguém do Grupo Wagner.

Erik Prince, fundador da Blackwater.

De acordo com o mesmo relatório, Prince também procura fornecer uma força para aumentar as operações do Grupo Wagner no Moçambique. Prince enviou uma proposta à empresa russa oferecendo-se para fornecer forças terrestres e vigilância baseada na aviação, algo que lhes falta no momento. No entanto, o Grupo Wagner/Rússia rejeitou sua proposta.

Os russos não querem admitir que precisam de ajuda, nem aceitá-la de um americano com laços tão estreitos com a Casa Branca de Trump - Prince é irmão da secretária de Educação Betsy DeVos.

Diga o que quiser sobre Prince, mas ele nunca se esquivou de fazer propostas não-solicitadas para suas ideias. Foi assim que ele acabou conhecendo o presidente Trump. Enquanto, neste caso, os russos/Wagner rapidamente rejeitaram sua proposta, isso não muda o fato de que outros podem ver que a "parada da vitória" russa, para obter contratos mercenários na África, foi um pouco prematura.

Eles estão tendo uma vida difícil no continente e, embora continuem a jogar dinheiro e mercenários na briga, estão nadando em águas desconhecidas e isso é visível.

Steve Balestrieri atuou como graduado, sargento e Warrant Officer (sem equivalente no Brasil) das forças especiais antes que ferimentos forçassem sua reforma precoce.

Bibliografia recomendada:

The "Wagner Group":
Africa's Chaos in an Economic Boom.
Intel Africa.

Bush Wars:
Africa 1960-2010.

Leitura recomendada:








sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Takuba: "O Sahel merece os nossos esforços para servir de laboratório para uma força européia eficaz"

Soldados da Força-Tarefa Européia "Takuba" desfilam durante o desfile militar anual do Dia da Bastilha na Avenue des Champs-Elysées, em Paris, em 14 de julho de 2021.
(Michel Euler / POOL / AFP)

Por Dominique Trinquand, Marianne, 2 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de setembro de 2021.

Ex-chefe da missão militar junto à ONU, o General Dominique Trinquand defende que a força militar antiterrorista Takuba, formada por unidades de forças especiais de vários países da União Européia, sirva de base para a construção de uma força européia de 5.000 homens no Sahel.

Muito tem sido escrito e dito sobre as lições que os europeus deveriam aprender com o cavaleiro solitário que os americanos acabaram de tirar ao se retirar do Afeganistão nas condições catastróficas que acabamos de vivenciar. A necessária autonomia da Europa é um assunto que está voltando à ordem do dia. Porém, para além dos intercâmbios teóricos sobre o assunto, a prática no Sahel deve nos oferecer um campo prático a ser melhor aproveitado.

Josep Borrell, o Alto Representante da União Européia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, apoiado por Thierry Breton, Comissário Europeu para o Mercado Interno, relembra os objetivos de construção de uma capacidade européia de reação rápida. Depois da formação dos grupos de combate que estão em estado de alerta desde 2007 sem nunca terem sido contratados, trata-se agora de constituir uma força de 5.000 homens. O não-emprego de grupos de batalha não se deve à falta de prontidão militar ou capacidade operacional, mas à falta de vontade política e a procedimentos inadequados de tomada de decisão.

O trabalho deve continuar para convencer os nossos parceiros da necessidade de dispor dessa capacidade, mas sobretudo de implementar procedimentos de emprego flexíveis e eficientes. Neste domínio, a França não pode servir de referência, uma vez que a sua cadeia de comando direta (Chefe de Estado/Forças Armadas) está longe dos procedimentos da maioria dos nossos parceiros (consentimento prévio do Parlamento).

O exemplo Takuba


No entanto, um caso mais pragmático poderia servir de exemplo. A força Takuba no Sahel, tão condenada por muitos comentaristas, está implementando uma abordagem de baixo para cima que pode tanto reforçar nossos parceiros europeus no compromisso necessário em face de uma ameaça próxima, mas também servir para alimentar a “bússola estratégica” européia. Esta força, cuja fraqueza muitos criticam, constitui uma novidade onde tchecos, suecos, dinamarqueses, italianos, gregos, portugueses e, claro, franceses estão trabalhando com os países do Sahel para conter a ameaça jihadista.

“No Sahel, ao contrário do Afeganistão, não se trata de criar um Estado e um exército, mas de apoiar os Estados para que reconquistem territórios perdidos e se oponham à aplicação da Sharia estrangeira aos costumes da região."

São as forças especiais, a ponta de diamante desses exércitos que, no terreno, forjam tanto procedimentos comuns, mas também uma apreciação da ameaça compartilhada em suas capitais. Enquanto todos estes países, muito apegados à OTAN, medem os limites da sua ação após a retirada do Afeganistão, descobrem outras ameaças, outros parceiros, outros lugares e uma estratégia cuja realidade os aproxima da segurança do continente europeu.

No Sahel, ao contrário do Afeganistão, não se trata de criar um Estado e um exército, mas de apoiar os Estados para que reconquistem territórios perdidos e se oponham à aplicação da Sharia estrangeira aos costumes da região. Assim, o Sahel, porta de entrada de África para a Europa, merece este esforço europeu que, ao mesmo tempo, serve de laboratório para uma força européia flexível e eficiente. É no terreno que os europeus irão conhecer-se e apreciar-se melhor.

É na África que eles vão entender a importância de investirem militarmente, mas também financeiramente para permitir o desenvolvimento harmonioso dos países da região. A presença americana necessária (drones, satélites, logística) pesa menos lá do que na OTAN e permite aos europeus encontrarem o seu caminho e construir a autonomia de que necessitam para gerir esta crise, tão longe das preocupações asiáticas dos Estados Unidos. Unidos, mas sim perto de nosso continente.

Bibliografia recomendada:

A História Secreta das Forças Especiais.
Éric Denécé.

Leitura recomendada: