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terça-feira, 29 de março de 2022

FOTO: Mulheres cubanas em Angola

Tenente Milagros Katrina Soto (centro) e outras integrantes do Regimento Feminino de Artilharia Anti-Aérea do exército cubano em Angola.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 29 de março de 2022.

As Forças Armadas Revolucionárias cubanas (Fuerzas Armadas Revolucionarias, FAR) foram moldadas seguindo o sistema soviético, com a criação de formações em estilo soviético. Uma das bases ideológicas do socialismo era o engajamento das mulheres na revolução. As publicações socialistas sempre pavonearam a participação feminina como uma bandeira, a própria Revolução Russa iniciou com uma greve de operárias. Os vietnamitas sempre enfatizaram o serviço das mulheres no esforço de guerra, gerando uma disputa com os franceses no campo da propaganda; o General Giap dedica um capítulo inteiro para o engajamento feminino em seu livro sobre a guerra subversiva, e faz o mesmo o francês Bernard Fall no seu relato da Guerra da Indochina. O mesmo ocorreu na Argélia, apesar das liberdades e narrativas pró-feministas recuarem após a guerra de volta aos padrões muçulmanos. Nada mais natural que as mulheres cubanas tomassem parte na cruzada internacionalista em Angola.

Durante a Guerra Fria, Havana se dedicou a "exportador a revolução", atuando da América do Sul ao Vietnã. Esta função expedicionária era chamada de "internacionalização", ou seja, a internacionalização da revolução socialista global. Nos anos 1980, o desdobramento cubano em Angola atingiu um pico de 50 mil militares e 8 mil civis auxiliando o governo comunista angolano do MPLA (ao lado dos conselheiros soviéticos); intervenção chamada Operação Carlota.

Na década de 80, os cubanos mantiveram missões militares na Argélia, Gana, Guiné-Bissau (ex-Guiné Portuguesa), Somália, Líbia, Tanzânia, Zâmbia, Síria e Afeganistão; além de contingentes militares consideráveis em Angola, conforme já citado, Congo (500 soldados), Etiópia (4 mil soldados, 1978-1984), Moçambique (600 soldados), Iêmen do Sul (500 soldados) e Nicarágua (500 soldados e 3 mil funcionários civis). Os cubanos também enviaram militares para a Síria em 1973, durante a Guerra do Yom Kippur, e uma equipe de 30 oficiais e engenheiros, munidos de 10 escavadeiras para fortificar a linha Ho Chi Minh no Vietnã e Camboja nos anos 1970. Conselheiros cubanos também ordenaram a tomada de Kolwezi pelos guerrilheiros Tigres em 1978. 

Organização das FAR

As FAR eram consideráveis, sendo a maior força latino-americana depois do Brasil. Isso se deveu à doutrina soviética de forças militares em massa divididas em funções de defesa, expedicionária e de controle interno; essa militarização maciça era alienígena à cultura cubana pré-revolução, e específica do novo sistema. Em 1990, o Exército cubano era assim composto:
  • 3 divisões blindadas,
  • 3 divisões mecanizadas,
  • 13 divisões de infantaria.
Exército Ocidental formava um corpo nas províncias de Pinar del Rio e Havana, o Exército Central formava um outro corpo em Matanzas e Las Villas e o Exército Oriental formava dois corpos em Camagüey e Oriente; a Isla de la Juventud (ex-Isla de Pinos) contava com uma divisão de infantaria.

Cada corpo continha 3 divisões, cada uma com três regimentos (2x batalhões), regimento de artilharia, batalhão de reconhecimento e unidades de serviço. Cada quartel-general do exército possuía uma divisão blindada e uma divisão mecanizada.

Divisão Blindada
  • 3 regimentos de tanques,
  • 1 regimento mecanizado,
  • 1 regimento de artilharia.
Divisão Mecanizada
  • 3 regimentos mecanizados (2x batalhões),
  • 1 regimento de tanques (3x batalhões),
  • 1 regimento de artilharia,
  • 1 regimento de reconhecimento mecanizado.
O exército ainda possuía robusta defesa anti-aérea com 26 regimentos AAe e brigadas de mísseis terra-ar, 8 regimentos de infantaria independentes, uma Brigada de Forças Especiais (2x batalhões) e uma Brigada Paraquedista. A Marinha tinha 12 mil homens, com um batalhão de fuzileiros navais com uniformes pretos copiados dos soviéticos; uma Força Aérea de 18.500 homens; tropas de segurança interna (estilo KGB) com 17 mil homens; 3.500 guardas de fronteira; e, em reserva, 1.200.000 homens e mulheres na Milícia Revolucionária, 100 mil na Juventude Trabalhista e 50 mil na Defesa Civil.

"O longo período de serviço militar (3 anos); forças armadas bem treinadas e eficientes; extensa experiência de combate na África e na Ásia; e uma força de reserva vigorosa, fazem de Cuba a maior potência militar do Caribe depois dos Estados Unidos."
- Caballero Jurado & Nigel Thomas, Central American Wars 1959-89, 1990, pg. 7.

Bibliografia recomendada:

Bush Wars: Africa 1960-2010.

Batalha Histórica de Quifangondo.

Operación Carlota: Pasajes de una epopeya.

Leitura recomendada:

FOTO: Vespa cubana, 13 de janeiro de 2022.

FOTO: Guardando o Campo de Batalha, 8 de setembro de 2021.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

O futuro que a Rússia nos promete, de Olavo de Carvalho


Por Olavo de Carvalho, Brasil Sem Medo, 24 de Fevereiro de 2022.

Em artigo de 2011, o professor Olavo de Carvalho explica os planos da Rússia e as estratégias que serão usadas por Putin.

Um mês após a morte do grande filósofo e professor Olavo de Carvalho, o jornal Brasil Sem Medo (BSM) publica texto de sua autoria que mostra que ele sempre tinha razão. Dessa vez, sobre a situação da Rússia. Leia a íntegra abaixo:

O futuro que a Rússia nos promete

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 23 de maio de 2011

O prof. Alexandre Duguin, à testa da elite intelectual russa que hoje molda a política internacional do governo Putin, diz que o grande plano da sua nação é restaurar o sentido hierárquico dos valores espirituais que a modernidade soterrou. Para pessoas de mentalidade religiosa, chocadas com a vulgaridade brutal da vida moderna, a proposta pode soar bem atraente. Só que a realização da idéia passa por duas etapas. Primeiro é preciso destruir o Ocidente, pai de todos os males, mediante uma guerra mundial, fatalmente mais devastadora que as duas anteriores. Depois será instaurado o Império Mundial Eurasiano sob a liderança da Santa Mãe Rússia.

Carrasco mostra para a multidão a cabeça do executado na guilhotina.

Quanto ao primeiro tópico: a “salvação pela destruição” é um dos chavões mais constantes do discurso revolucionário. A Revolução Francesa prometeu salvar a França pela destruição do Antigo Regime: trouxe-a de queda em queda até à condição de potência de segunda classe. A Revolução Mexicana prometeu salvar o México pela destruição da Igreja Católica: transformou-o num fornecedor de drogas para o mundo e de miseráveis para a assistência social americana. A Revolução Russa prometeu salvar a Rússia pela destruição do capitalismo: transformou-a num cemitério. A Revolução Chinesa prometeu salvar a China pela destruição da cultura burguesa: transformou-a num matadouro. A Revolução Cubana prometeu salvar Cuba pela destruição dos usurpadores imperialistas: transformou-a numa prisão de mendigos. Os positivistas brasileiros prometeram salvar o Brasil mediante a destruição da monarquia: acabaram com a única democracia que havia no continente e jogaram o país numa sucessão de golpes e ditaduras que só acabou em 1988 para dar lugar a uma ditadura modernizada com outro nome.

"Proclamação da República", 1893,
óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853 - 1927).
Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo.

Agora o prof. Duguin promete salvar o mundo pela destruição do Ocidente. Sinceramente, prefiro não saber o que vem depois. A mentalidade revolucionária, com suas promessas auto-adiáveis, tão prontas a se transformar nas suas contrárias com a cara mais inocente do mundo, é o maior flagelo que já se abateu sobre a humanidade. Suas vítimas, de 1789 até hoje, não estão abaixo de trezentos milhões de pessoas – mais que todas as epidemias, catástrofes naturais e guerras entre nações mataram desde o início dos tempos. A essência do seu discurso, como creio já ter demonstrado, é a inversão do sentido do tempo: inventar um futuro e reinterpretar à luz dele, como se fosse premissa certa e arquiprovada, o presente e o passado. Inverter o processo normal do conhecimento, passando a entender o conhecido pelo desconhecido, o certo pelo duvidoso, o categórico pelo hipotético. É a falsificação estrutural, sistemática, obsediante, hipnótica. O prof. Duguin propõe o Império Eurasiano e reconstrói toda a história do mundo como se fosse a longa preparação para o advento dessa coisa linda. É um revolucionário como outro qualquer. Apenas, imensamente mais pretensioso.

Quanto ao Império Mundial Eurasiano, com um pólo oriental sustentado nos países islâmicos, no Japão e na China, e um pólo ocidental no eixo Paris-Berlim-Moscou, não é de maneira alguma uma idéia nova. Stalin acalentou esse projeto e fez tudo o que podia para realizá-lo, só fracassando porque não conseguiu, em tempo, criar uma frota marítima com as dimensões requeridas para realizá-lo. Ele errou no timing: dizia que os EUA não passariam dos anos 80. Quem não passou foi a URSS.

Como o prof. Duguin adorna o projeto com o apelo aos valores espirituais e religiosos, em lugar do internacionalismo proletário que legitimava as ambições de Stálin, parece lógico admitir que a nova versão do projeto imperial russo é algo como um stalinismo de direita.

O então primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, aperta a mão de operadores spetsnaz do Grupo Alpha da FSB durante uma visita a Gudermes, na Chechênia, em 2011.

Mas a coisa mais óbvia no governo russo é que seus ocupantes são os mesmos que dominavam o país no tempo do comunismo. Substancialmente, é o pessoal da KGB (ou FSB, que a mudança periódica de nomes jamais mudou a natureza dessa instituição). Pior ainda, é a KGB com poder brutalmente ampliado: de um lado, se no regime comunista havia um agente da polícia secreta para cada 400 cidadãos, hoje há um para cada 200, caracterizando a Rússia, inconfundivelmente, como Estado policial; de outro, o rateio das propriedades estatais entre agentes e colaboradores da polícia política, que se transformaram da noite para o dia em “oligarcas” sem perder seus vínculos de submissão à KGB, concede a esta entidade o privilégio de atuar no Ocidente, sob camadas e camadas de disfarces, com uma liberdade de movimentos que seria impensável no tempo de Stalin ou de Kruschev.

Ideologicamente, o eurasismo é diferente do comunismo. Mas ideologia, como definia o próprio Karl Marx, é apenas um “vestido de idéias” a encobrir um esquema de poder. O esquema de poder na Rússia trocou de vestido, mas continua o mesmo – com as mesmas pessoas nos mesmos lugares, exercendo as mesmas funções, com as mesmas ambições totalitárias de sempre.

O Império Eurasiano promete-nos uma guerra mundial e, como resultado dela, uma ditadura global. Alguns de seus adeptos chegam a chamá-lo “o Império do Fim”, uma evocação claramente apocalíptica. Só esquecem de observar que o último império antes do Juízo Final não será outra coisa senão o Império do Anticristo.


Compre na livraria do BSM: Os EUA e a Nova Ordem Mundial, um debate entre o cientista político russo Alexandre Dugin e o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Socialismo árabe e prisioneiros egípcios na Guerra dos Seis Dias

Prisioneiros egípcios sendo levados de caminhão para um campo de PG, passando por um comboio de soldados israelenses em direção ao front, 1967.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 12 de fevereiro de 2022.

Um caminhão cheio de soldados egípcios capturados cruza um comboio de tropas israelenses perto de El Arish, Egito, durante a Guerra dos Seis Dias, em 8 de junho de 1967.

Os israelenses tomaram El Arish e estão indo em direção ao deserto do Sinai. Eles estão armados com fuzis FAL do modelo Romat, um deles com uma granada de fuzil BT/AT 52 visível, e submetralhadoras Uzi; armamentos típicos do exército israelense do período. Os árabes eram armados com fuzis AK-47 e outros materiais soviéticos, além de outros armamentos portáteis de procedência variada.

O AK e o FAL.
Adversários na Guerra dos Seis Dias, 1967.

O presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, ameaçou repetidamente a existência do Estado de Israel durante anos e costurou uma aliança opondo o mundo árabe ao país hebreu. Os egípcios e seus aliados árabes se mobilizaram ao redor de Israel, seguindo uma ideologia de pan-arabismo e socialismo árabe, além de uma aproximação com a União Soviética que armou pesadamente a coligação árabe. Nasser chegou mesmo a fechar o Estreito de Tirã, uma via marítima essencial a Israel - um causus belli em si mesmo. O Egito sozinho contava 240 mil soldados opondo os 50 mil regulares e 214 mil reservistas israelenses que teriam de lutar em três frentes diferentes, enquanto os egípcios lutariam apenas no Sinai. A Síria, Jordânia e Iraque somavam mais 304 mil homens a esse número, com 20 mil sauditas também à disposição. Os árabes possuíam 2.504 tanques contra os 800 tanques israelenses. Os israelenses tinham entre 250-300 aviões de combate contra os 957 aviões árabes. Dos 264.000 homens da Força de Defesa de Israel mobilizados, 100.000 foram desdobrados em ação. Os árabes dispunham de 567.000 dos quais 240.000 desdobrados. Ainda assim, Nasser e seus seguidores foram surpreendidos pelo ataque surpresa israelense que os colocou de joelhos.

As baixas árabes foram enormes. Do lado do Egito, até cerca de 15.000 soldados egípcios foram listados como mortos ou desaparecidos, com um adicional de 4.338 soldados egípcios capturados.

Yael Dayan, a filha do General Moshe Dayan e oficial do exército acompanhando o estado-maior divisional de Ariel Sharon no Sinai, do ponto de partida da ofensiva em Shivta e pelo caminho através península desértica. Os israelenses acharam depósitos e bases abarrotadas de víveres e equipamentos, com escritórios luxuosos para oficiais, lotados de comidas caras e champagne. Do lado desse luxo havia os pobres soldados egípcios, mal-alimentados e mal-vestidos. Yael descreveu o triste cenário em Nakhl como o "Vale da Morte do Exército egípcio", contando 150 tanques destruídos entre Temed e Nakhl, além de vasto material avariado ou abandonado (canhões, tratores, caminhões etc) e grande quantidade de corpos com fedor nauseabundo cozinhando sob o sol do deserto.  Yael menciona como a cena era depressiva, e como seu colega Dov, outro oficial israelense, contou-lhe que quase chorara pelo destino daqueles soldados egípcios, sob um comando tão incompetente.

"Que destino desgraçado o dêles, tendo de depender de líderes e oficiais miseráveis como aquêles. Em 1948, tiveram os paxás e seus filhos incompetentes por oficiais; em 1956, no Sinai, a gente tinha de desculpá-los até certo ponto - ainda não estavam educados e preparados, a revolução socialista não tivera tempo de acabar com a distância entre oficial e soldado. Mas agora, dezesseis anos depois da revolução, com oficiais treinados na Rússia, com técnicos russos no Egito, onde se encontrava seu espírito de socialismo? Como se explica que tivéssemos só um ou dois oficiais entre os nossos prisioneiros, e tão grande número de soldados? Como se explica que não capturamos nem vemos pelo menos um carro de comando? Onde estavam todos aqueles oficiais sorridentes nas suas reluzentes fardas, com cabelos crespos emplastrados de brilhantina, parecendo tão confiantes quando apareciam no Cairo ou nas páginas dos jornais? Os pobres camponeses foram abandonados à sua sorte, ficaram à mercê das nossas tropas, o inimigo. Como pôde êle, Nasser, que julgávamos um líder honesto de sua nação brincar com a vida do seu povo, blefar, à custa de milhares e milhares de obedientes filhos do Egito? Como teve coragem de brincar de alta política, utilizando-os cinicamente em penhor do seu jôgo? Êle não tinha condições de bancar Napoleão, de fechar o Estreito de Tirã, de nos ameaçar com uma centena de tanques no Sinai. Para quê? Que foi que conseguiu? tinha problemas urgentes que resolver. Não dispunha de meios para matar a fome da população, e gastou milhões em armamentos. Seu povo era analfabeto. Por que cargas d'água foi começar tudo isto, se êle próprio teve de admitir que ainda não se achava preparado?"

- Yael Dayan, Diário de um soldadopg. 135-136, 1967 (trad. 1970).






Prisioneiros egípcios capturados nas cercanias de El-Arish.

Bibliografia recomendada:

Arabs at War:
Military Effectiveness, 1948-1991.
Kenneth M. Pollack.

Leitura recomendada:

domingo, 2 de janeiro de 2022

GALERIA: O primeiro McDonald's na União Soviética


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 2 de janeiro de 2022.

O início do fim...

O primeiro McDonald's - símbolo da capitalismo - aberto na União Soviética em Moscou, em 31 de janeiro de 1990. Em uma época onde faltava comida em todo o território do gigante vermelho, o McDonald's atraiu multidões de moscovitas e teve de ficar aberto além do horário para atender todo mundo. Operando por mais de 6 horas, o restaurante atendeu mais de 30 mil pessoas - o recorde de atendimentos em um dia de abertura.

Foram 14 anos de negociação mas no fim o McDonald's conseguiu atravessar a Cortina de Ferro. George Cohon, o presidente do McDonald's do Canadá, e responsável pela empreitada, cortou a faixa vermelha do restaurante.



O restaurante garantiu um suprimento de 15 mil refeições por dia, com um enorme depósito nos subúrbios de Moscou que incluía toda uma fábrica processamento, fruto do investimento de 50 milhões de dólares. A colheita de maçãs fora tão ruim na União Soviética naquele ano, que foi necessário importá-las da Bulgária; e as sementes das batatas tiveram que ser importadas dos Estados Unidos, pois as da produção soviética eram minúsculas e não podiam ser transformadas em batatas fritas. Um Big Mac com refrigerante e batatas fritas custava metade do salário diário de um moscovita. Os atendentes eram pagos dois rublos por hora, mais do que um médico na União Soviética.

Entre as grandes surpresas, começando pela abundância de comida, foi a educação e cortesia dos atendentes. Em um sistema onde o sorriso é símbolo de malícia, muitos clientes ficaram aterrorizados com a qualidade McDonald's de atendimento; um dos clientes entrevistados pela CBC disse que ficou preocupado, olhando se havia algo de errado com ele - seja na sua roupa, no seu cabelo ou se ele disse algo errado.

O fracasso do socialismo em imagens:














Um recorte de Mikhail Gorbachev em tamanho natural em frente ao McDonald's para a Moscow Illustration.

Vladimir Malyshkov (à esquerda), diretor do restaurante conjunto soviético-canadense McDonald's, presidente do conselho, e George A. Cohon, vice-diretor do restaurante McDonald's.

Boris Yeltsin, Presidente da República Socialista Federativa Soviética da Rússia.

Leitura recomendada:

sábado, 30 de outubro de 2021

VÍDEO: Os Fracassos do Socialismo na América Latina

"Failures of Socialism in Latin America".

Apresentação "Os Fracassos do Socialismo na América Latina" com a professora Mary Anastasia O'Grady, The Wall Street Journal.

Vídeo:


Os livros que ela menciona são:
  • Redeemers: Ideas and Power in Latin America (Redentores: Idéias e Poder na América Latina), de Enrique Krauze;
  • The Virtues of Capitalism: A Moral Case for Free Markets (As Virtudes do Capitalismo: Um Caso Moral para Mercados Livres), de Scott Rae e Austin Hill;
  • La Revolución Capitalista en el Perú (A Revolução Capitalista no Peru), de Jaime de Althaus Guarderas.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Soldados Colombianos na Coréia


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 12 de outubro de 2021.

No dia 16 de julho deste ano foi celebrado o 70º aniversário do desembarque do Batalhão Colômbia (Batallón Colombia, apelidado El Colombia) em Busan, na Coréia do Sul, com o efetivo de 1.080 homens. A Colômbia foi o único país latino-americano a lutar na Guerra da Coréia. Ao todo, os colombianos enviaram cerca de 5.100 homens para lutar na Coréia sob a ONU de 1951 a 1953, com o batalhão se destacando na Batalha de Old Baldy em 1953.

Na época da Batalha de Old Baldy, o Batalhão Colombiano estava na 7ª Divisão sob o comando do General Wayne C. Smith. A unidade sul-americana era o quarto batalhão do 31º Regimento comandado pelo Coronel William Kern, que havia ordenado ao Tenente-Coronel Alberto Ruiz Novoa, comandante colombiano, substituir o 1º Batalhão do regimento em Old Baldy.

O monumento consta de uma estátua de um soldado colombiano com o uniforme da época: capacete americano M1 com rede, fuzil M1 Garand, granadas, uniforme verde oliva, botas americanas e mochila.

O batalhão recentemente havia atacado e capturado a Cota 180, parte da Batalha da Colina de Yeoncheon (Bárbula), tendo perdido 11 mortos, 43 feridos e 10 desaparecidos em combate corpo-a-corpo com os chineses. A Companhia C foi considerada "combat ineffective" e retirada da posição recém conquistada; dois dias depois os colombianos foram ordenados para Old Baldy.

Os colombianos suportariam contínuas barragens de artilharia em preparação para a ofensiva chinesa. Em 20 de março, toda a linha do 31º Regimento foi bombardeada continuamente. Em 21 de março, os chineses expuseram os corpos de 5 soldados da ONU (4 colombianos e 1 americano) em uma tentativa de atrair soldados para o resgate. A missão foi concluída com a entrada nas linhas inimigas por uma patrulha de homens voluntários da Companhia C. O Soldado Alejandro Martínez Roa alcançou a crista, desativou uma mina sob um dos corpos, desceu com um dos cadáveres, escapou do fogo inimigo e quando encontrou outras tropas colombianas, voltou à crista com o Cabo Pedro Limas Medina e a patrulha e resgatou os outros. A ação heróica foi recompensada com quatro Estrelas de Prata no campo de batalha.

Old Baldy em 22 de março de 1953.

No dia 22 de março, o bombardeio de amolecimento da posição colombiana em Old Baldy aumentou, com mais de 2.000 obuses e morteiros caindo sobre a área.

No dia 23 de março de 1953, o ataque chinês iniciou avançando sob pesado bombardeio das posições colombianas. O 1º Batalhão do 423º Regimento Chinês, 141ª Divisão, comandado por Hou Yung-chun, foi selecionado para atacar o Old Baldy. O oficial político da unidade escolheu a 3ª Companhia para liderar o ataque e plantar a "Bandeira da Vitória" no morro. Os chineses estavam enfrentando diretamente a maltratada Companhia B colombiana. Às 20h30, a Companhia A do 2º Tenente Alvaro Perdomo em Dale foi atacada brutalmente. Depois de uma resistência tenaz e forte apoio das companhias B e C, os colombianos foram desalojados de sua posição. Ao mesmo tempo, os chineses lançaram um ataque diversionário a Pork Chop Hill; percebido pelo Coronel Kent, o comandante regimental, como o ataque principal.

O Tenente Alfredo Forero Parra, comandando a Companhia B, assim descreveu o ataque em Old Baldy:

"Quarenta minutos após o ataque a Dale e Pork Chop Hill, artilharia tremendamente pesada e morteiros caíram sobre Old Baldy. A terra tremeu como se em um terremoto acompanhado de explosões ensurdecedoras e relampejantes em toda a posição da Companhia B. As silhuetas fugazes dos homens, armas e fortificações enfraquecidas pareciam fantasmas dentro das rajadas do inimigo. Gritos de angústia e agonia se misturavam com o barulho da nossa própria metralhadora e do inimigo. A batalha era travada a cada momento. Podíamos ouvir a uma curta distância os tiros dos morteiros 60 e 82mm inimigos. As comunicações foram perdidas, ninguém respondeu, nem mesmo os comandantes de esquadra. De repente, foi relatado a morte do meu sargento de pelotão substituto, Azael Salazar Osorio, então o comandante da terceira esquadra, Cabo José Narvaez Moncayo, que perto de morrer ele gritou para ser levantado para aliviar seu sofrimento porque ele havia sido cortado na cintura e nada poderia ser feito por ele. Em meu posto de batalha, a morte do Cabo Ernesto Gonzalez Varela, comandante da segunda esquadra, foi atroz. Estávamos quase tocando os cotovelos. Ele disparou sua metralhadora contra um ataque de chineses que vieram sobre nós quando um projétil de bazuca o atingiu no rosto, deixando sua cabeça pendurada nas costas. Achei que estava vivendo um pesadelo ou um filme de terror até que novas explosões no meu bunker me trouxeram de volta à realidade. Eu encorajei meus homens e continuei a me comunicar com metralhadoras e dei instruções para um cabo tirar o lança-chamas e se preparar para atirar no inimigo quando eles aparecessem.

Em poucos minutos, dois soldados chegaram à casamata gritando: 'Os chineses, os chineses!' Com certeza, os chineses se lançaram sobre nossa posição com uivos estridentes, disparando rajadas de metralhadoras e lançando granadas."

O ataque não teve sucesso. Os chineses foram detidos na cerca de arame farpado, deixando-a cheia de cadáveres inimigos.

Parada de soldados colombianos na Coréia.

Uma nova onda de chineses atacou novamente, rompendo a linha de defesa e alcançando as trincheiras colombianas. O uso das reservas para acudir Pork Chop Hill manteve a posição colombiana enfraquecida, e a Companhia C, golpeada duramente em Bárbula, ainda não estava em condições operacionais.

Um regimento chinês perfeitamente sincronizado havia lançado o ataque a Dale. Como o comando do regimento foi distraído pelo ataque anterior ao batalhão americano adjacente à companhia colombiana, outro regimento chinês avançou na escuridão em direção a Old Baldy e assumiu posições de assalto enquanto uma terrível chuva de artilharia inimiga caía. O bombardeio incessante daquele e dos dias anteriores tinha mais do que alcançado seus objetivos de amolecimento, destruindo boa parte do arame farpado e das minas, deixando as trincheiras sem defesas contra o ataque direto. À noite toda lutaram ferozmente em meio à confusão causada pela escuridão e pela presença de elementos de duas companhias colombianas em Old Baldy, já que o reforço ao final incorporou apenas metade do efetivo das companhias C e B. A situação da defesa não poderia ser mais fraca. Um batalhão completo atacando e duas companhias adicionais reforçando era uma força muito grande contra as três companhias diminuídas do El Colombia.

O Tenente-Coronel Ruiz Novoa anunciou sua intenção de usar a companhia de reserva americana que lhe fora designada para contra-atacar e proteger as tropas em combate. O oficial de ligação americano empalideceu com o pedido. Com voz trêmula, declarou que a reserva já havia sido utilizada para conter a penetração chinesa em Pork Chop Hill em defesa do 3º batalhão americano. Com ela recuperou-se a colina, ajudando os americanos. Não houve nenhum aviso ou advertência prévia ao coronel Ruiz dessa decisão.

Com o El Colombia reduzido a seus próprios meios, a unidade não tinha reserva para contra-atacar. A Companhia A, que teve que recuar ante a ferocidade do ataque inicial que precedeu aquele ao Old Baldy, estava decidida a recuperar a parte penetrada pelos chineses com suas próprias forças. As companhias B e C, no meio do revezamento, estavam em tal confusão que nada podiam fazer.

Apesar da adversidade, a força do assalto estava prestes a quebrar, como prova uma angustiada comunicação interceptada pela inteligência divisional (7ª Divisão), na qual o comandante do batalhão de assalto chinês afirmava ser impossível tomar a cota 266 (Old Baldy). A resposta do comando chinês foi implacável: tome a elevação ou sofra as consequências! Momentos depois foi anunciado o envio de reforços.

Manequim de um soldado colombiano no Memorial da Guerra da Coréia, um museu localizado no distrito de Yongsan-dong, na capital Seul, Coréia do Sul.

Os esforços na defesa da posição se esgotavam enquanto aumentava drasticamente o número de atacantes e diminuía o número de defensores devido às baixas. O cheiro de pólvora e sangue impregnou o ar. Aquilo se transformou em um inferno. No entanto, os colombianos lutaram com sua reconhecida intrepidez. Os atacantes, prevalidos por sua enorme superioridade numérica, deviam conquistar a posição trincheira-a-trincheira, reduto-a-reduto, em violento combate corpo-a-corpo.

Por volta da meia-noite, os dois lados, convencidos de que o oposto havia tomado a colina, começaram a golpear com a dureza de suas artilharias. Ambos os exércitos, apesar de terem suas tropas no meio, descarregaram chuvas de projéteis sobre os homens que, presos no combate corpo-a-corpo, tentavam manter suas posições. As baixas de fogo amigo e inimigo se deram por igual.

Desde a meia-noite, apenas um pelotão conseguiu chegar a West View e ajudou a conter parte do ataque. Lá, os colombianos esperaram por reforços para recuperar sua posição perdida. Estes, porém nunca chegaram. Alfredo Forero:

"Às 4h30 da manhã restavam apenas seis homens, com as munições esgotadas e assediados pelo inimigo, do segundo pelotão de fuzileiros da Companhia B. Mediante fogo e movimento avançamos em direção ao caminho dos tanques, perdendo mais três homens pela artilharia que não descansava.

Antes da meia-noite, os tanques que estavam no vale se retiraram, deixando essa entrada livre para o inimigo. Um caminhão com nossa munição parou na entrada da posição na estrada do vale. Nele vinham o oficial sapador, Tenente Leônidas Parra, e o oficial de transmissão, Tenente Miguel Ospina. Uma intensa neblina cobria a madrugada e esporadicamente ouviam-se tiros e gritos."

Ospina chegou com a ordem de tentar restabelecer as comunicações com o Comando do Batalhão, mas na dura realidade em Old Baldy não havia mais o que fazer.

Por volta das 8:00h, chegou um pelotão americano ao qual os colombianos pediram apoio de fogo para retomar a colina perdida, mas sem responder ao pedido, retiraram-se após fazerem o reconhecimento da situação. Se não fosse a heróica resistência das tropas colombianas em Old Baldy, a força chinesa poderia ter rompido a Linha Principal de Resistência da 7ª Divisão e entrado nas profundezas do território aliado com consequências muito graves, pois a estrada poderia conduzir as tropas e blindados inimigos diretamente a Seul.

Jornais da época.

Nesse momento, o comando da Divisão ordenou que a colina se transformasse em terra de ninguém. E o bombardeio mais temível começa sobre Old Baldy. O Batalhão Colômbia não conseguiu resgatar seus homens deixados para trás, feridos ou mortos. Todos ficaram à mercê da aviação norte-americana, implacável em suas ações.

As baixas colombianas foram 95 mortos, 97 feridos e 30 desaparecidos, perfazendo mais de 20% do efetivo do Batalhão. A 7ª Divisão estimou em 750 mortos as perdas dos chineses em Old Baldy.

As pesadas baixas em Old Baldy e a atitude do comandante do regimento deterioraram as relações com o comando do batalhão. Kern afirmou que poderia dispor e mover a companhia de reserva americana atribuída ao El Colombia quando necessário. Ruiz Novoa lembrou-lhe que o comando americano tinha aceitado que o ataque principal tinha sido contra a cota 266, ou Old Baldy, e não contra Pork Chop, e que Kern tinha cometido um erro ao fazer rodízio das companhias no início do ataque e depois ter abandonado o batalhão por conta própria sem a companhia de reserva e não tendo consultado, coordenado ou mesmo notificado o comandante colombiano.

Escudo do Batalhão Colômbia,
usado no braço esquerdo.

Um artigo da revista TIME de 6 de abril de 1953, assim mencionou as batalhas simultâneas de Old Baldy (envolvendo a 7ª Divisão) e Bunker Hill, envolvendo a "carregada de glória" 1ª Divisão de Fuzileiros Navais americana:

"Movimentos lentos. Além de suas perdas, ninguém estava preocupado com os fuzileiros navais; eles poderiam cuidar de si mesmos. Ninguém temia um avanço comunista em lugar nenhum. Em Tóquio, Mark Clark disse que também não estava preocupado com a perda de Old Baldy. Mas havia uma angústia bastante visível na 7ª Divisão, resultante de confusão tática e declarações confusas sobre o que as tropas estavam fazendo. O comandante da divisão, Major-General Arthur Trudeau, foi repreendido publicamente pelo comandante do I Corpo de Exército Paul Kendall.

Em vez de recuar de forma inteligente para o MLR, para economizar baixas até que estivessem em forma para um contra-ataque bem-sucedido, muitas das unidades da 7ª tentaram se manter firmes, lançando cozinheiros e rancheiros em combate e gritando por reforços. A longa espera havia tornado o Oitavo Exército lento. Os comandantes de batalhão e companhia não estavam preparados para a movimentação rápida de emergência de seus equipamentos e postos de comando. Nenhum posto de comando de corpo ou divisão foi movido por razões táticas em quase dois anos. A lentidão pode ser observada na movimentação das peças de campanha para a frente e no manuseio do transporte nas estradas lamacentas.

Os comunistas perderam muitas centenas, talvez milhares, de homens, por um ganho de quase nada. As perdas da ONU, embora não tão altas quanto os correspondentes temiam no início, foram substanciais."

Como resultado das enormes baixas sofridas pelo El Colômbia, o Tenente-General Régulo Gaitán Patiño, da cúpula militar colombiana, partiu para a Coréia. No Comando Supremo das Nações Unidas, o Coronel Ruiz Novoa expressou francamente sua objeção às ações do Coronel Kern. Assim, o General Arthur Trudeau, comandante da 7ª Divisão, transferiu o El Colômbia para o 17º Regimento e a unidade continuou com os "Búfalos" até o final da guerra.

As forças comunistas retomaram Old Baldy em março de 1953, mas não há muitas informações em termos de baixas para ambos os lados, bem como relatos detalhados da batalha de 1953, em contraste com a batalha de 1952, bem divulgada e excessivamente sensacionalizada. No final, ambos os lados perderam muitos homens com as linhas de batalha terminando exatamente como em maio de 1952, antes da primeira batalha - emblemático da Guerra da Coréia como um todo.

Cerimônia em homenagem aos colombianos na Coréia.
O militar colombiano de bigode tem a insígnia divisional da 7º no braço e no capacete.

O Batalhão Colômbia também lutara na Batalha de Triangle Hill e na recaptura de Geumseong e na defesa do rio Han.

O total de baixas do El Colombia foi de:
  • 163 mortos em combate,
  • 448 feridos,
  • 60 desaparecidos,
  • 30 capturados.
Em 26 de junho de 2020, quando a Coréia do Sul comemorou os 70 anos do início da Guerra da Coréia, uma exibição online chamou a atenção do país. Organizado pela Embaixada da Colômbia em Seul, "A Guerra da Coréia pelos olhos de um veterano colombiano" pôde ser vista no site do Memorial da Guerra da Coréia.

Contendo 152 fotos tiradas pelo Sargento-Major Gilberto Diaz durante sua passagem de 14 meses na Coréia, ela foi aumentada por outras cinquenta fotos fornecidas por veteranos da Colômbia.

Gilberto Diaz Velasco, um veterano da Guerra da Coréia de 86 anos, mostra a câmera que usou para tirar cerca de 400 fotos durante sua estada de 14 meses na Coréia, em uma entrevista em vídeo de sua casa em Bogotá.

"A câmera era meu melhor amigo na Coreia", disse Diaz, 86, a um grupo de jornalistas no início desta semana, em uma vídeo-chamada de sua casa em Bogotá. "Sempre estivemos juntos e mesmo agora faz parte da minha vida. Ainda funciona perfeitamente."

Diaz comprou sua câmera Kodak por 5 dólares em Tóquio e tirou cerca de 400 fotos, a maioria em cores, antes e depois de sua chegada a Incheon como um soldado de 18 anos em junho de 1952.

"Essas fotos nos lembram do valor precioso da liberdade", disse o ministro da Defesa sul-coreano, Jeong Kyeong-doo. "O nobre sacrifício e a dedicação dos veteranos colombianos permitiram que a Coréia do Sul mantivesse a paz. A República da Coréia se lembrará para sempre do sacrifício que seu país fez."

O General James Fleet, comandante do 8º Exército, condecora a bandeira do Batalhão Colombiano.

sábado, 2 de outubro de 2021

A crise sem fim da Venezuela


Por Moisés Naím, Foreign Affairs, 28 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 2 de outubro de 2021.

Para um vislumbre do futuro da Venezuela, olhe para Arauquita, uma cidade remota na fronteira da Colômbia com cerca de 5.000 habitantes. Em maio, milhares de enlameados refugiados venezuelanos do vizinho estado de Apure começaram a chegar a Arauquita com histórias terríveis de bombardeios aéreos e buscas de casa em casa feitas por soldados venezuelanos. Uma pequena guerra estourou na região, colocando o exército leal ao presidente venezuelano Nicolás Maduro contra a Décima Frente - uma facção dissidente das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupo rebelde marxista da Colômbia que virou cartel do narcotráfico, que anos antes cruzou a fronteira e efetivamente conquistou uma seção do estado de Apure.

Os motivos da luta permanecem envoltos em incertezas - pode ter se originado de uma disputa sobre os lucros das rotas de contrabando de drogas da Décima Frente. Mas o desfecho dos confrontos foi mais revelador, até chocante: a capacidade do Estado venezuelano é tão limitada que não consegue desalojar os combatentes das FARC. A Décima Frente continua sendo a autoridade de fato na área, apesar da exibição de poder de fogo do governo Maduro.

Líderes da Décima Frente durante uma transmissão televisiva lançada em 4 de setembro de 2019.

As batalhas no estado de Apure podem ser um sinal do que está por vir. O regime venezuelano não é apenas uma ditadura militar, mas também um empreendimento criminoso. Em vez de um Estado burocrático-racional weberiano, o que Maduro lidera é uma confederação frouxa de chefias criminosas, onde ele desempenha o papel de capo di tutti capi - o chefe dos chefes. Normalmente, Maduro é capaz de arbitrar disputas entre seus capitães. Mas às vezes, como em Apure, o sistema quebra e a violência explode.

Os generais do exército dirigem a maioria das rede de extorsão hoje. Os generais controlam tudo, desde os bem abastecidos bodegones de Caracas - varejistas sofisticados onde todo tipo de mercadoria importada está prontamente disponível por dólares americanos - até setores muito mais sombrios, como o comércio encharcado de sangue de coltan, um elemento de terra rara, das selvas do sul. Os sindicatos criminosos colombianos, como a Décima Frente das FARC e o grupo guerrilheiro rival ELN, conhecido por sua brutalidade, atuam em conluio com funcionários venezuelanos e, em outras ocasiões, desafiam as autoridades. Outros negócios lucrativos acabaram nas mãos de civis próximos ao regime - tais números presidiram sobre o boom da construção de alto padrão em áreas afluentes de Caracas - ou com gangues, as quais, por exemplo, administram o dia-a-dia da operação de prisões e extraem lucros gordos por meio da extorsão impiedosa de presidiários.

Um estado mafioso como a Venezuela pode parecer estável dia após dia, mas é inerentemente volátil - como os refugiados de Apure sabem muito bem. Think tanks e diplomatas em Washington continuam a se perguntar como o regime pode ser empurrado para a democracia, mas a verdadeira questão que a Venezuela enfrenta agora é muito mais sombria: a confederação de criminosos liderada por Maduro permanecerá coesa o suficiente para evitar conflitos internos, ou o futuro da Venezuela se parece muito com o presente de Apure, com gangues armadas travando guerras territoriais que mergulham o país em uma violência anárquica?

O ministro da Defesa da Venezuela, General Vladimir Padrino Lopez, fala durante uma transmissão no Palácio de Miraflores em Caracas, Venezuela, em 8 de março de 2019.

A Miragem de Caracas


Os relatos da situação difícil da Venezuela normalmente começam não no estado de Apure, mas entre os arranha-céus de Caracas, onde uma ilusão de normalidade agora é oferecida. Os protestos de rua massivos (e reprimidos de forma assassina) dos últimos anos acabaram. Assim também são os dias de confronto político de alto risco entre o regime Maduro e a oposição política venezuelana.

Os venezuelanos estão exaustos e sem esperança. Anos de protestos de rua, que ocorreram de 2002 a 2017, não produziram mudanças políticas tangíveis. Com as esperanças frustradas, muitos venezuelanos olham para a liderança da oposição com profundo ceticismo e raiva. Seu desespero impulsionou um êxodo para fora do país. O ACNUR, a Agência da ONU para os Refugiados, estimou que cerca de 5,4 milhões de venezuelanos deixaram o país nos últimos anos - quase um quinto da população. Um estudo recente descobriu que a idade média dos migrantes venezuelanos é 32: pessoas no auge de sua vida profissional, incluindo muitos jovens que já estiveram no centro do movimento de protesto.

Juan Guaidó, chefe da Assembleia Nacional da Venezuela, na cerimônia de posse de seu mandato como presidente interino em janeiro de 2019.

A oposição lançou outra tentativa de tomar o poder em janeiro de 2019, quando Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional, reivindicou a presidência para si mesmo depois que o governo de Maduro realizou uma votação presidencial grosseiramente fraudada. O desafio de Guaidó eletrizou os venezuelanos - e o mundo. Os Estados Unidos lideraram a acusação, com o Departamento de Estado rapidamente estendendo o reconhecimento oficial a Guaidó como presidente interino. Ao todo, 60 países acabaram por reconhecer a reivindicação de Guaidó, incluindo a maioria das democracias ricas e quase toda a América Latina.

Quase um quinto da população da Venezuela deixou o país.

O rápido abraço de Guaidó pelos EUA se encaixa em um padrão mais amplo de fanfarronice contra o regime Maduro. Por mais de um ano, o presidente Donald Trump, o vice-presidente Mike Pence, o secretário de Estado Mike Pompeo e o Conselheiro de Segurança Nacional John Bolton assumiram uma postura diplomática dura que enfatizou que "todas as opções estão sobre a mesa" em relação à Venezuela, mesmo intervenção militar. Sob a rubrica de "pressão máxima", os Estados Unidos lançaram sanções não apenas contra figuras do regime, mas também contra setores-chave da economia venezuelana, limitando a capacidade de Caracas de vender petróleo no exterior em uma tentativa de restringir o acesso do regime ao câmbio de que precisava desesperadamente. As sanções não destruíram a economia venezuelana - as próprias políticas econômicas do regime fizeram isso, com impressionante eficiência, nas duas décadas anteriores à introdução das sanções - mas aprofundaram a crise econômica do país e impossibilitaram uma recuperação econômica significativa.

Notavelmente, a principal prioridade das autoridades venezuelanas quando se sentam para conversar com representantes da comunidade internacional sempre foi o alívio das sanções individuais contra eles. Os chefes do regime parecem se preocupar mais com sua liberdade de viajar e possuir propriedades ao redor do mundo do que com as dificuldades dos venezuelanos comuns. Eles ficaram abalados com o anúncio dos Estados Unidos no ano passado de uma recompensa de US$ 15 milhões pela ajuda na apreensão de Maduro, junto com outras recompensas multimilionárias anexadas a outras figuras do regime e seus comparsas.

A retórica belicosa de Trump contra Maduro e as principais figuras do regime foi, no entanto, inútil na Venezuela. Alimentou a propensão da oposição venezuelana para o pensamento mágico. Algumas figuras da oposição radical optaram por agitar ruidosamente pela ação militar dos EUA. Esses demagogos reconheceram, em particular, que as chances de uma intervenção dos EUA realmente ocorrer eram muito pequenas, mas isso não os impediu de se alimentar do desespero de seus seguidores.

Refugiados venezuelanos assistem a um funeral em Arauquita, Colômbia, em março de 2021.
(Luisa Gonzalez / Reuters)

O regime de Maduro, por sua vez, estimou corretamente que a fanfarronice americana equivalia a ameaças vazias. O foco era transformar a postura dos EUA em propaganda valiosa. A TV estatal venezuelana veiculou avidamente a agitação de sabre de Washington contra o regime. Isso permitiu que o governo de Maduro se esquivasse da responsabilidade pelos problemas econômicos do país, culpando-os pela suposta sabotagem dos EUA.

A pressão de Trump fez pouco para mudar os fatos na prática. A esperada cascata de deserções militares do regime nunca se materializou. Em vez disso, o regime esperou Guaidó sair de cena e continuou a reprimir e prender seus apoiadores. O vapor do seu desafio foi gradualmente drenado.

Com o tempo, as táticas de repressão de inspiração cubana usadas contra Guaidó e seus aliados mostraram-se brutalmente eficazes. Gradualmente, a confiança e o apoio do povo ao governo provisório de Guaidó diminuíram. O índice de aprovação de Guaidó caiu de 70% no início de seu desafio em 2019 para apenas 11% em janeiro. O regime, por sua vez, não trata mais a oposição como uma ameaça existencial. Em vez disso, vê a oposição, na pior das hipóteses, como uma doença crônica a ser contida e, mais frequentemente, como um adversário que pode ser facilmente manipulado.

A maior contração econômica em tempo de paz de todos os tempos em qualquer lugar

A refinaria Amuay-Cardón.

Para os venezuelanos comuns, a perseverança do regime é nada menos que uma catástrofe. Uma classe média outrora grande e crescente virtualmente desapareceu, deixando até 96% dos venezuelanos abaixo da linha da pobreza. A economia entrou em colapso dramático, com o PIB per capita caindo para cerca de um quarto do que era antes do início da crise em 2013. Segundo algumas estimativas, a economia venezuelana se contraiu mais desde 2012 do que qualquer outra economia em tempos de paz.

A implosão econômica da Venezuela remonta à destruição de sua indústria de petróleo, que por mais de um século esteve no centro da estratégia econômica do país. A produção de petróleo caiu de um pico de 3,7 milhões de barris por dia em 1998 para 2,2 milhões de barris por dia em 2017. Mas a combinação de sub-investimento crônico em exploração e manutenção, a perda de acesso aos mercados de crédito internacionais após a moratória em 2017 , e a imposição de sanções dos EUA à indústria do petróleo naquele mesmo ano levou à queda do setor. A Venezuela agora produz meros 700.000 barris por dia - nada perto do nível necessário para financiar as importações de que o país precisa para sobreviver.

Por um tempo, em 2017 e 2018, o regime imaginou que poderia enfrentar as sanções do petróleo apoiando-se em potências estrangeiras amigáveis. As autoridades venezuelanas esperavam que as petrolíferas chinesas e russas fossem convidadas para apoiarem a indústria em colapso. Mas depois de um longo e tortuoso conjunto de negociações, as empresas chinesas e russas rejeitaram as ofertas para adquirir a gigantesca refinaria Amuay-Cardón (que possui capacidade para produzir um milhão de barris por dia). Hoje, Amuay-Cardón está ociosa. A escassez de gasolina se tornou um fato cotidiano para milhões de venezuelanos, que devem passar até quatro dias na fila esperando que suprimentos raros de combustível encham seus tanques. O governo concedeu a empresas estrangeiras licenças lucrativas para explorar campos de petróleo abandonados e mal administrados. Por fim, uma a uma, essas petroleiras deixaram o país, pois a tarefa de restaurar a produção se mostrou impossível. A Venezuela continua, tragicamente, o país com as maiores reservas de petróleo do planeta.

Para os venezuelanos, a perseverança do regime é nada menos que uma catástrofe.

A escala do colapso econômico é mais clara em termos de degradação monetária. Após o segundo maior surto de hiperinflação já registrado (com 45 meses em condições hiperinflacionárias entre 2017 e 2021), o governo está se preparando para rebaixar ainda mais o bolívar, a moeda debilitada do país. É a terceira "redenominação" desde 2008. Ao todo, 14 casas decimais terão sido cortadas do bolívar, o que significa que uma nota de um bolívar em 2022 valerá 100 trilhões de bolívares da safra de 2008.

Um soldado em Caracas, Venezuela, maio de 2013.
(Jorge Silva / Reuters)

À medida que o bolívar se torna cada vez menos útil, os venezuelanos o abandonam aos montes, optando cada vez mais por fazerem transações em dólares americanos ou em pesos colombianos ou reais brasileiros nas regiões fronteiriças adjacentes a esses países. Cerca de dois terços das transações são agora realizadas em moeda estrangeira. A mudança para o dólar americano ajudou a criar uma ilusão de normalidade em áreas anteriormente ricas de Caracas. Mas é uma miragem: uma pesquisa recente mostrou que apenas 40% das famílias recebem remessas em moeda forte de parentes no exterior. Os outros 60% têm que se contentar com bolívares. Eles enfrentam uma crise alimentar contínua, com taxas de desnutrição infantil chegando a 36% de acordo com a Organização Mundial de Saúde e pouca perspectiva de alívio em breve.

Essa estrutura econômica particular - um país dividido em dois entre aqueles com e sem acesso a moedas estrangeiras - é uma reminiscência de Cuba, que há muito mantém duas moedas paralelas: uma conversível em moeda estrangeira e uma segunda quase inútil. Dinâmica semelhante surgiu na Venezuela, com aqueles que têm acesso a dólares vivendo algo que lembra vagamente a vida em outros países e aqueles sem acesso condenados a privações insondáveis. Mas a estrutura do regime da Venezuela também se assemelha ao governo de Cuba, onde uma elite predatória militarizada pilha implacavelmente qualquer fonte de moeda estrangeira disponível e reprime violentamente aqueles que ousam se opor a ela.

Pessoas fazendo fila para comida e gás em San Cristóbal, Venezuela, novembro de 2018.
(Carlos Eduardo Ramirez / Reuters)

Cuba continua sendo o aliado mais forte e essencial de Maduro. A recusa da China e da Rússia em ajudar Maduro deve ter sido um rude despertar para ele. Ambos os países vêem uma Venezuela hostil aos Estados Unidos como uma ficha geopolítica útil e, no passado, forneceram cobertura diplomática e assistência de segurança ao regime. Mas nenhum dos dois está interessado em despejar recursos escassos no que eles (com razão) consideram um saco quebrado no Caribe. Outros aliados venezuelanos, como Irã e Turquia, provaram ser mais úteis, despachando carregamentos de gasolina e alguns produtos acabados ou "reciclando e lavando" o ouro da Venezuela. Mas qualquer aliança mais ampla com esses dois governos distantes é invariavelmente limitada. Teerã e Ancara não têm capacidade e vontade para salvar Caracas de sua catástrofe econômica.

Isso deixa Maduro um último, verdadeiro e inabalável aliado: Cuba. A ditadura esquerdista latina original teve uma relação tão próxima com o regime venezuelano que a palavra "aliança" não lhe faz justiça. Na verdade, a Venezuela está sob uma espécie de ocupação cubana furtiva. Maduro parece confiar mais nas autoridades cubanas do que nas suas: espiões cubanos - não venezuelanos - trabalham em sua própria pasta de inteligência dentro do palácio presidencial, o que significa que Havana sabe mais sobre o que acontece na Venezuela do que a maioria das autoridades venezuelanas. E Maduro parece priorizar as necessidades de Cuba acima daquelas da Venezuela, como demonstrado pelo fato de que a Venezuela continuou a fornecer energia a Cuba durante esta crise, mesmo que seus próprios motoristas tenham visto os postos de gasolina secarem.

A Venezuela como um problema insolúvel


O que o mundo - e os Estados Unidos, em particular - deve fazer diante desse estado deplorável de coisas? Como se resolve um problema como o da Venezuela?

O primeiro passo é compreender totalmente que a lógica política normal tem pouca relevância quando se trata de um estado mafioso. A insistência da comunidade internacional em negociar em direção a eleições livres e justas, em particular, parece bem intencionada, mas equivocada. A alternativa a permanecer no poder para muitos partidários do regime - incluindo Maduro, que está sob indiciamento nos Estados Unidos por tráfico de drogas - é uma cela de prisão. O regime não pode e não vai oferecer à oposição a chance de lhe depor nas urnas.

Mas isso não significa que esteja imune a pressões externas. Washington deve, em primeiro lugar, aceitar a fraqueza da oposição, que não é, nesta fase, capaz de lançar um desafio realista ao controle do poder pelo regime. Em vez disso, os Estados Unidos deveriam insistir na libertação de presos políticos e no restabelecimento das liberdades básicas de imprensa e associação, oferecendo em troca o alívio de sanções individuais. Para aumentar sua influência nessa estratégia, Washington deve fazer um trabalho muito melhor de mobilizar democracias como a Itália e a Espanha para impor sanções contra figuras do regime; as pessoas associadas ao regime encontraram um porto seguro não apenas nas agradáveis vilas e palácios italianos e espanhóis que agora possuem, mas também em bancos e instituições financeiras italianas e espanholas.

Desfile militar cubano de comemoração aos 58 anos da Revolução,
na Praça da Revolução em Havana, 2017.

A posição única de Cuba na Venezuela o torna um jogador essencial em qualquer resolução futura. Nenhum negócio de qualquer tipo é imaginável sem a adesão do regime cubano. A chave que abre a fechadura para a crise venezuelana é muito mais provável de ser encontrada em Havana do que em Caracas. Enquanto Cuba permanecer uma ditadura, a Venezuela provavelmente também permanecerá.

A lógica política normal tem pouca relevância quando se trata de um estado mafioso.

Em última análise, as democracias em todo o mundo - mas especialmente na América Latina - têm interesse em manter a Venezuela inteira, pacífica e pelo menos estável o suficiente para não exportar seus problemas. A guerra de fronteira no estado de Apure nesta primavera deve servir como outro aviso de que nada pode ser dado como certo. O esvaziamento do Estado venezuelano e sua substituição por uma estrutura de estilo mafioso alimenta uma instabilidade crônica que pode levar a uma violência generalizada.

Um possível futuro para o país seria ver os chefes um degrau abaixo de Maduro cada vez mais na garganta uns dos outros, com guerras territoriais se transformando em derramamento de sangue real. Maduro e seus conselheiros cubanos farão, é claro, o que puderem para conter o caos, mas está longe de ser certo que eles terão sucesso. Este futuro se parece muito com o conflito do século XIX na Venezuela, quando um presidente nominal em Caracas controlava pouco além da capital e das alfândegas do país, enquanto uma proliferação selvagem de caudilhos regionais governava praticamente incontestável sobre as outras cidades e vilas. Esse arranjo nunca foi estável: ao longo do século XIX, os caudilhos rotineiramente tentaram invadir a capital e tomar o poder para si próprios. Às vezes eles tinham sucesso, outras vezes não, mas os resultados eram sempre sangrentos.

Um segundo cenário veria Maduro manter sua autoridade sobre seus subordinados pelo menos o suficiente para evitar uma luta aberta entre eles. Sem democracia, sem liberdade política, sem acesso ao capital global e sem capacidade de gerar divisas, este é o caminho para a verdadeira cubanização da Venezuela: um regime petrificado no poder, construído sobre um substrato do sofrimento de seu próprio povo. É uma perspectiva miserável.

Esses são cenários sombrios e desagradáveis, mas, infelizmente, há alguns motivos para esperar coisa melhor. A esperança desejosa de que os criminosos responsáveis pelo regime venezuelano possam de alguma forma serem persuadidos a cederem à sua própria ruína é apenas isso - uma esperança - e certamente não uma base adequada para uma ação diplomática. Essas esperanças distorceram a formulação de políticas nos Estados Unidos e em outros lugares por muito tempo. A realidade que a Venezuela enfrenta é sombria, mas deve ser tratada como realidade.

Bibliografia recomendada:

Latin America's Wars:
The Age of the Caudillo, 1791-1899.
Robert L. Scheina.

Latin America's Wars:
The Age of the Professional Soldier, 1900-2001.
Robert L. Scheina.

Leitura recomendada: