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sábado, 4 de setembro de 2021

Militares da Venezuela: principais questões a saber


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de setembro de 2021.

Com informações da Agence France Presse (AFP).

A poderosa força armada da Venezuela, devastada por tumultos, juraram "lealdade incondicional" ao governo socialista de esquerda do presidente Nicolas Maduro. Ela é uma jogador-chave na crise política em curso.

Maduro, por sua vez, concedeu-lhe vastos poderes, não apenas em assuntos militares, mas sobre ministérios importantes do governo - oficiais ativos ou aposentados chefiando 12 de 32 cargos ministeriais - e em setores econômicos vitais, incluindo o petróleo.

As capacidades militares - e sua lealdade sob coação - são preocupações centrais em um momento em que seus líderes afirmam que uma força "paramilitar" liderada por um desertor e apoiada por "governos estrangeiros" atacou uma base militar no que pode ser visto como uma tentativa de golpe incipiente.

Apesar de sua promessa de apoio "absoluto" a Maduro, os militares estão sob forte pressão, acusados pela oposição de reprimirem violentamente os protestos e instados por ela a mudarem de lado. A perda de seu apoio significaria o fim de Maduro.

Aqui estão alguns fatos importantes sobre a força militar venezuelana, formalmente as Forças Armadas Bolivarianas Nacionais, ou FANB.

Poder armado


A FANB tem cerca de 365.000 soldados (exército, marinha, força aérea, guarda nacional e reserva), apenas 1.000 a menos que o Brasil, de acordo com a Latin American Security and Defense Network (Rede Latino-Americana de Segurança e Defesa), um centro de políticas e análises.

Mas a Venezuela tem 30 milhões de habitantes; o Brasil tem 210 milhões.

Em 2006, os Estados Unidos proibiram a venda ou transferência de armas ou tecnologia militar para a Venezuela, cujo então presidente, Hugo Chávez, tinha uma aliança estreita com a Rússia e a China.

A Rússia forneceu à Venezuela fuzis, lança-foguetes antitanque, tanques e outros veículos de combate, artilharia, sistemas de defesa antiaérea e aviões de combate, helicópteros e mísseis, segundo a ONG Control Ciudadano (Controle Cidadão), que monitora a atividade militar.

A China forneceu equipamentos de comunicação, uniformes, radares, veículos blindados, aviões e helicópteros.

Poder político


Dos 32 cargos ministeriais no governo de Maduro, 12 são ocupados por militares, 10 deles na ativa e dois aposentados.

As forças armadas são comandadas pelo General Vladimir Padrino, ministro da Defesa, e pelo General Remigio Ceballos, comandante da estratégia operacional. Padrino é uma espécie de "superministro" a quem os outros membros do gabinete devem se reportar, disse Maduro no ano passado.

Entre os principais cargos de gabinete em mãos militares estão os ministérios do Interior e da Justiça; o ministério da alimentação; agricultura e terras; e energia. A oposição culpa o ministro da Alimentação, Rodolfo Marco Torres, um coronel aposentado, pela severa escassez que assola o país.

Os líderes da oposição criticaram duramente o que chamam de "politização" dos militares sob Maduro e seu antecessor. "O pior erro cometido por Chávez foi tirar os militares dos quartéis" e colocá-los nas ruas, disse Henry Ramos Allup, ex-presidente da Assembleia Nacional. "Quem vai colocá-los de volta?"

Poder econômico

Um canal de televisão, um banco, uma montadora de automóveis e um grupo de construção - esses são alguns dos negócios controlados pelos militares venezuelanos, integrando-se à Companhia Militar de Mineração, Gás e Petróleo Camimpeg.

Este último desempenha funções semelhantes à Petroleos de Venezuela, ou PDVSA, a empresa petrolífera estatal. Repara e mantém poços de petróleo, e vende e distribui os produtos das indústrias de petróleo, gás, mineração e petroquímica.

Camimpeg está no coração do "motor militar-industrial", uma ideia de Maduro para enfrentar o que ele vê como a "guerra econômica" travada pela oposição e empresas simpáticas para desestabilizar seu governo.

Bibliografia recomendada:

Latin America's Wars:
The Age of the Caudillo, 1791-1899.
Robert L. Scheina.

Latin America's Wars:
The Age of the Professional Soldier, 1900-2001.
Robert L. Scheina.

Leitura recomendada:


sexta-feira, 25 de junho de 2021

Sem a presença de Maduro, a FAN comemorou 200 anos da Batalha de Carabobo


Do site TalCual, 24 de junho de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 25 de junho de 2021.

O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, garantiu que houve uma batalha militar e uma batalha política no Campo de Carabobo, razão pela qual 200 anos depois a FAN ratifica seu apoio à nação.

"A Batalha de Carabobo",
óleo sobre tela de Martín Tovar y Tovar em 1887.

Sem Nicolás Maduro em pessoa; a Força Armada Nacional (Fuerza Armada Nacional, FAN) homenageou os homens e mulheres que fizeram parte da luta independentista da Batalha de Carabobo, no âmbito do seu Bicentenário. O governante venezuelano preferiu ficar no Palácio Miraflores, a assistir ao desfile militar organizado para esta quinta-feira (24/06), ao qual deu permissão para começar através de passe direto.

Em seu discurso, Maduro declarou que a Venezuela está de pé, livre, soberana e independente. “Este é o nosso caminho, o caminho da emancipação. A união e emancipação estão unidas de maneira intimamente ligada (...) Ano 2021 e estamos de pé, mais revolucionários, independentes e livres do que nunca”.

Por sua vez, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, garantiu que a Força Armada Nacional (FAN) têm um caminho claro a seguir. “Presente na savana imortal de Carabobo, respiramos o espírito de Simón Bolívar”, disse ele.

General brasileiro José Inácio de Abreu e Lima,
que lutou pelos republicanos na Batalha de Carabobo, 1821.

Afirmou que no Campo de Carabobo ocorreu uma batalha militar e uma batalha política, razão pela qual 200 anos depois a FAN ratifica o seu apoio à nação. “Aquela batalha militar e política deu-nos a liberdade (...) é o verdadeiro caminho da integração para que nunca mais baixemos a cabeça e neste mesmo campo de batalha a ratificamos”, declarou.

Na mesma linha, o Comandante Geral do Exército, M/G Domingo Antonio Hernández Lárez, destacou que “neste dia 24 de junho, 200 anos depois deste histórico ato de armas, chegamos orgulhosamente com os peitos cheios de emoção a este encontro espiritual com todos esses heróis e heroínas libertadores”.

“Prestamos uma homenagem sincera a esses homens e mulheres, que se despojaram de toda diferença para lutar com ardor no campo para expulsar o invasor estrangeiro”, disse o Comandante Geral do Exército Bolivariano.

No seu discurso desde o Campo de Carabobo, sublinhou que “vemos reunidos juntos novamente povo, Força Armada Nacional e governo, como ordenou o Libertador na ordem geral daquele dia memorável”.

Retrato póstumo de Simón Bolívar de Ricardo Acevedo Bernal.

Agradeceu também aos instrutores que “fizeram o invencível para gerar em nossas gerações paixões pela história e pela tática militar, enaltecendo com seus ensinamentos nossas batalhas como parte do patrimônio histórico e moral que nos daria a identidade nacional”.

“Somos herdeiros do exército do Libertador Simón Bolívar, para garantir a independência e soberania da nação, garantir a integridade do espaço geográfico por meio da defesa militar, da cooperação com a ordem interna e da participação ativa no desenvolvimento nacional”, disse Hernández Lárez.

A festa contou com a participação de cerca de 200 artistas que protagonizaram uma peça teatral da Batalha de Carabobo na Avenida Bolívar.

Desfile completo no Campo Monumental de Carabobo

Bibliografia recomendada:

Latin America's Wars:
The Age of the Caudillo, 1791-1899,
Robert L. Scheina.

Leitura recomendada:

Selva de Aço: A História do AK-103 Venezuelano13 de fevereiro de 2021.

GALERIA: Ativação do Comando de Operações Especiais venezuelano30 de agosto de 2020.

GALERIA: Armas do golpe militar na Venezuela em 195811 de fevereiro de 2021.

O regime da Venezuela enche seus bolsos com dinheiro do narcotráfico24 de fevereiro de 2021.

Poderia haver uma reinicialização da Guerra Fria na América Latina?, 4 de janeiro de 2020.

FOTO: O jovem cadete Hugo Chavez, 27 de março de 2020.

FOTO: Paraquedistas venezuelanos marchando com a sub Hotchkiss14 de fevereiro de 2021.

FOTO: Rara submetralhadora tcheca na Venezuela, 28 de março de 2021.

FOTO: Sniper com baioneta calada9 de dezembro de 2020.

A China acabou de soar a sentença de morte para a indústria petrolífera da Venezuela?, 19 de junho de 2021.

Os Mercenários e o Ditador: Ex-Boinas Verdes americanos são condenados por golpe fracassado quixotesco na Venezuela, 9 de agosto de 2020.

sábado, 19 de junho de 2021

A China acabou de soar a sentença de morte para a indústria petrolífera da Venezuela?


Por Felicity Brastock, Oil Price.com, 23 de maio de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de junho de 2021.

A China anunciou que vai impor impostos sobre o petróleo bruto pesado, uma medida que pode atingir a Venezuela duramente, já que ela continua a lutar com as sanções dos EUA e uma indústria de petróleo dilapidada. Reportagens da mídia sugerem que até 400.000 bpd (barrels per day, barris por dia) de petróleo venezuelano podem ficar órfãos, já que as novas leis tributárias chinesas tornam impossível para o país exportar seu petróleo para a Ásia. As novas regulamentações previstas para entrar em vigor em 12 de junho tornariam as margens de lucro do petróleo venezuelano muito baixas para garantir sua rota de exportação atual.

A Venezuela não exporta petróleo diretamente para a China desde 2019, em grande parte devido às sanções dos EUA que continuam a restringir a exportação de petróleo do país. No entanto, a China tem importado petróleo venezuelano por meio de refinarias da Malásia, onde é misturado com óleo combustível ou betume antes de seguir para a China. As novas regras da China podem adicionar cerca de US$ 30 por barril a esse "betume diluído", tornando-o economicamente inviável. Óleo de ciclo leve (Light cycle oilLCO) e aromáticos mistos também serão tributados sob o novo regime.


Os dados da alfândega chinesa sugerem que cerca de 380.000 bpd de betume diluído entraram no país via Malásia entre janeiro e março, grande parte do qual se originou na Venezuela.

Embora as empresas não americanas não sejam explicitamente impedidas pelas sanções de comprarem petróleo venezuelano, elas foram altamente desencorajadas. No entanto, devido à crescente demanda de petróleo da China, muitas dessas rotas alternativas de acesso foram amplamente negligenciadas pelos EUA.

O Ministério das Finanças chinês declarou sobre os antecedentes para a introdução do novo imposto: "Um pequeno número de empresas importou quantidades recordes desses combustíveis e os processou em combustíveis de baixa qualidade que foram canalizados para canais de distribuição ilícitos, ameaçando o jogo justo de mercado e também causando poluição".

Novos impostos devem abrir caminho para oportunidades para os refinadores domésticos da China aumentarem a oferta, bem como impulsionar os preços, uma vez que a demanda de combustível do país continua a aumentar. Isso ocorreu no momento em que as refinarias de petróleo chinesas atingiram níveis de produção mais elevados em abril, sinalizando uma recuperação sustentada no processamento de petróleo.

Embora a Venezuela esteja enfrentando grandes mudanças em suas perspectivas de exportação devido aos impostos chineses, parece que os EUA continuarão a renunciar às sanções para várias empresas internacionais sediadas na Venezuela, permitindo que várias empresas continuem existindo no país dentro de limites.


Espera-se que as isenções permitidas anteriormente continuem para as principais empresas de petróleo Chevron e empresas de serviços Schlumberger, Halliburton, Baker Hughes e Weatherford. Isso permitirá que as empresas preservem seus ativos, desde que não realizem atividades de manutenção ou paguem funcionários locais.

Espera-se que as isenções sejam renovadas por pelo menos seis meses em junho, após o que será possível para a Chevron retirar o petróleo venezuelano, conforme declarado em uma isenção antecipada. No entanto, por enquanto, a Venezuela não parece ser um foco chave da política externa para Biden, tornando isso possível, mas improvável.

Parece que a Venezuela está presa em um impasse, incapaz de progredir com os aliados dos EUA devido a pesadas sanções ao seu setor de petróleo e incapaz de exportar ao maior importador China devido a pesados impostos. Embora haja potencial para espaço de manobra no próximo ano, à medida que Biden cria uma estratégia de política externa mais clara, o futuro ainda é desconhecido para o potencial inexplorado do gigante do petróleo latino-americano.


Bibliografia recomendada:

Introdução à Logística: Fundamentos, práticas e integração,
Marco Aurélio Dias.

Leitura recomendada:





FOTO: Sniper com baioneta calada, 9 de dezembro de 2020.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

FOTO: Mísseis palestinos contra Israel


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 13 de maio de 2021.

Equipe de mísseis palestina posando durante o novo round de confrontações entre palestinos e israelenses. A foto foi postada hoje nas redes sociais, nova modalidade de guerra psicológica.

O texto diz:

As Brigadas do Mártir Ezz Al-Din Al-Qassam agora demonstram a entrada em serviço dos mísseis (Ayyash-250) na força de mísseis, e eles atingiram o aeroporto de Ramon na cidade de Umm Al-Rashrash, ao sul da Palestina ocupada.
Convidamos os filhos do grande Jordão, especialmente nosso povo em Aqaba e Wadi Araba, para fotografarem e cobrirem a queda dos foguetes no aeroporto!
A resistência impõe uma zona de exclusão aérea.

As Brigadas do Mártir Ezz Al-Din Al-Qassam são a ala militar do Hamas, e contam entre 15 e 20 mil homens. Apoiados pelo Irã, são inimigos declarados do Estado de Israel e dos grupos muçulmanos salafistas da Faixa de Gaza. Seus objetivos declarados são:

"Contribuir no esforço de libertar a Palestina e restaurar os direitos do povo palestino sob os sagrados ensinamentos islâmicos do Alcorão Sagrado, a Sura (tradições) do Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) e as tradições dos governantes muçulmanos e estudiosos notáveis por sua piedade e dedicação."

A insígnia das Brigadas e o seu patrono, o mártir Ezz Al-Din Al-Qassam.

As brigadas são apoiadas pelo irã, dentro da realidade geopolítica atual do Oriente Médio, sendo apoiadas pela Guarda Revolucionária Islâmica (o Pasdaran), a Força Quds e o Hezbollah. As brigadas também recebem apoio de simpatizantes no Reino do Qatar e na Turquia, além de países de esquerda como a Coréia do Norte e a Venezuela do presidente-ditador Nicolás Maduro.

Bibliografia recomendada:



Leitura recomendada:






domingo, 28 de março de 2021

FOTO: Rara submetralhadora tcheca na Venezuela

Tenente-Coronel Carlos Delgado Chalbaud, do Exército Nacional Venezuelano, praticando tiro com a submetralhadora ZK-383, anos 1940.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 28 de março de 2021.

A Venezuela é conhecida por suas armas exóticas, em muito devido aos diferentes picos do preço do petróleo, e a posse da ZK-383 é mais um exemplo.

A submetralhora ZK-383 foi desenvolvida pelos irmãos Koucký em 1938 na fábrica de armas então chamada Československá zbrojovka, akc.spol. (depois Československá zbrojovka-Brno) na cidade de Brno, na então Tchecoslováquia. O ZK-383 foi exportado para muitos países europeus menores após sua data de início de produção em 1938. A produção do ZK-383 continuou na fábrica de armas de Brno, mesmo durante a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial. A maioria das armas produzidas foi fornecida à Waffen-SS. Ele continuou a ser produzido em pequenos números no período pós-guerra e a produção terminou em 1948. O ZK-383 foi lentamente substituído por metralhadoras menores e mais leves, como a Sa vz. 23. A Bulgária, o mais pobre dos exércitos do Pacto de Varsóvia, continuou a usá-la até a década de 1970. A produção total girou em torno de 35 mil unidades.

A ZK-383 também chegou à América do Sul, sendo exportada para o Brasil, Venezuela e Bolívia (sendo usada por estes na Guerra do Chaco).

Teste da ZK-383 pelo Forgotten Weapons


Bibliografia recomendada:

The Chaco War 1932-35:
South America's greatest modern conflict.
Alejandro de Quesada e Phillip Jowett.
Ilustração de Ramiro Bujeiro.

Leitura recomendada:

GALERIA: Armas do golpe militar na Venezuela em 195811 de fevereiro de 2021.

GALERIA: Ativação do Comando de Operações Especiais venezuelano30 de agosto de 2020.

Selva de Aço: A História do AK-103 Venezuelano13 de fevereiro de 2021.

O regime da Venezuela enche seus bolsos com dinheiro do narcotráfico24 de fevereiro de 2021.

FOTO: Paraquedistas venezuelanos marchando com a sub Hotchkiss14 de fevereiro de 2021.

FOTO: Sniper com baioneta calada9 de dezembro de 2020.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O regime da Venezuela enche seus bolsos com dinheiro do narcotráfico

Por Julieta Pelcastre, Diálogo, 20 de abril de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 24 de fevereiro de 2021.

[Nota do Warfare: As opiniões expressas nessa artigo são de responsabilidade da autora, e não refletem necessariamente àquelas do Warfare Blog.]

Há anos, a Venezuela vem fortalecendo o narcotráfico. O líder da ilegítima Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello Rondón, desempenha um papel decisivo no processo, não só porque é o segundo homem mais poderoso do regime, mas também porque dá proteção política e militar aos crimes do narcoterrorismo, alegou o Departamento de Justiça dos EUA.

Em 26 de março, o procurador-geral dos EUA, William P. Barr, anunciou a acusação de Nicolás Maduro e Cabello (bem como de 13 outros altos funcionários venezuelanos). Os Estados Unidos ofereceram US$ 10 milhões pela captura de Cabello.

“As acusações levarão o regime a se entrincheirar e os que foram formalmente acusados a verem seu destino permanentemente vinculado ao de Maduro”, disse à BBC Mundo Geoff Ramsey, pesquisador da organização não-governamental de direitos humanos Gabinete de Washington para a América Latina (Washington Office for Latin America). “Cabello, como Maduro, não saiu da Venezuela desde que os Estados Unidos começaram a sancioná-los, o que dificulta sua captura”.

Além de denunciar que o regime está inundado de corrupção e crime, o promotor americano disse que os acusados traíram o povo venezuelano e corromperam as instituições do país quando eles encheram seus bolsos com dinheiro de drogas.

Uma reportagem do jornal espanhol ABC indica que Cabello lidera uma rede de contrabando de drogas, minerais e combustível, da qual é o principal beneficiário. Por meio dessa estrutura, “Cabello recebe cerca de meio milhão de dólares por mês, que cada um dos comandantes dos 24 estados venezuelanos lhe entrega em mãos, em um envelope”, diz a ABC.

“Este número deve ser multiplicado por pelo menos três”, disse Daniel Pou, pesquisador associado da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais da República Dominicana, à Diálogo. “Cabello não é apenas o czar do narcotráfico, mas do tráfico de pessoas e de armas e da lavagem de dinheiro.”

Pou disse que Cabello é o homem que lida com todos os aparatos de inteligência, militares e civis. “Embora ele não tenha comando direto sobre as Forças Armadas da Venezuela, ele colocou todos os seus interesses nelas.”

Em seu relatório de 2019, a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), que trabalha em estreita colaboração com as Nações Unidas, revelou que grupos criminosos se infiltraram nas forças de segurança venezuelanas e criaram uma rede conhecida como Cartel dos Sóis, que facilita a entrada e saída de drogas ilegais. “As Forças Armadas Bolivarianas controlam a economia do país”, afirma o JIFE.

Membros do 311º Batalhão de Infantaria Mecanizada "Libertador Simón Bolívar" apontam seus fuzis AK-103 durante os exercícios militares da Operação Escudo Bolivariano de 2020 em Caracas, 15 de fevereiro de 2020. (Yuri Cortez / AFP)

O Departamento de Justiça dos EUA acredita na existência de evidências de conluio que remontam a 20 anos entre o Cartel dos Sóis, liderado por Maduro, e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) para enviar toneladas de cocaína aos Estados Unidos. Cabello, afirma o Departamento de Justiça, participou pessoalmente da entrega de metralhadoras, munições e lança-foguetes às FARC em uma base militar venezuelana.

“A Venezuela se tornou uma grande organização criminosa governamental”, disse à Diálogo Jorge Serrano, acadêmico do Centro de Altos Estudos Nacionais do Peru. “Além do Cartel dos Sóis, dirigido por Cabello nos últimos cinco anos, há mais três organizações que fazem parte do regime e que estão envolvidas em negócios obscuros conduzidos por militares venezuelanos.”

“Em primeiro lugar, a chamada direção, coordenada dentro de uma divisão de trabalho perfeita e macabra, dirigida por Maduro com assessoria cubana; segundo, a corporação síria comandada por Tareck El Aissami, um dos políticos mais próximos de Maduro e um dos dez chefões do tráfico mais procurados dos Estados Unidos; e terceiro, a empresa da família Diosdado Cabello, os cúmplices mais leais da estrutura criminosa, que sabem como funciona esse sistema porque o controlam desde o início”, acrescentou Serrano.

Cabello é o mais perigoso de toda a organização. Ele mantém a fortuna de outros líderes importantes e depois os extradita ou assassina, segundo o jornal independente Venezuela Libre.

“Quando esta ditadura for desmantelada e os acusados começarem a confessar, saberemos das grandes fortunas que eles conseguiram acumular em 20 anos de 'revolução'. Enquanto isso, Cabello e Maduro continuarão arraigados em suas próprias casas, controlando a economia do país com a ajuda das forças militares”, concluiu Pou.

Bibliografia recomendada:

Os Erros Fatais do Socialismo: Por que a teoria não funciona na prática,
economista F. A. Hayek.

Leitura recomendada:

Poderia haver uma reinicialização da Guerra Fria na América Latina?, 4 de janeiro de 2020.

Selva de Aço: A História do AK-103 Venezuelano13 de fevereiro de 2021.

FOTO: O fuzil sniper PSL na Nicarágua2 de janeiro de 2021.

GALERIA: Snipers no Forças Comando na República Dominicana3 de novembro de 2020.

FOTO: Sniper com baioneta calada9 de dezembro de 2020.

GALERIA: Armas do golpe militar na Venezuela em 195811 de fevereiro de 2021.

FOTO: Paraquedistas venezuelanos marchando com a sub Hotchkiss14 de fevereiro de 2021.

GALERIA: Operação anti-mineração das forças especiais colombianas11 de setembro de 2020.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

FOTO: Paraquedistas venezuelanos marchando com a sub Hotchkiss

Paraquedistas venezuelanos marchando no desfile do Dia da Independência em Caracas, capital da Venezuela, em 5 de julho de 1955. (FAV-Club)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 14 de fevereiro de 2021.

Os soldados do destacamento escola dos paraquedistas da Força Aérea Venezuelana marcham em ceelbração ao Dia da Independência, em 5 de julho de 1955. A data celebra quando a Junta de Caracas estabeleceu um congresso de províncias, e este Congresso declarou a independência da Venezuela em 5 de julho de 1811, estabelecendo a República da Venezuela.

O paraquedista da centro-direita claramente porta uma raríssima submetralhadora dobrável Hotchkiss Tipo Universal, de fabricação francesa pela Societé des Armes à Feu Portatives Hotchkiss et CieA dobragem dessa arma não era meramente da coronha, mas de todo o armamento como um cubo, inclusive com a retração do cano. A Venezuela foi um dos raros países a comprar a Hotchkiss Universal. Imagens do golpe militar de 1958 mostram a Hotchkiss Universal em ação.

Especificações técnicas

  • País de origem: França.
  • Operação: ação de recuo dos gases.
  • Princípio: ferrolho aberto.
  • Munição: 9x19mm Luger/Parabellum.
  • Peso descarregada: 3,43kg (7,56lbs)
  • Comprimento com a coronha aberta: 776mm.
  • Comprimento com a coronha dobrada: 540mm.
  • Comprimento com a coronha totalmente dobrada: 440mm.
  • Comprimento do cano: 273mm (10,74in).
  • Capacidade do carregador: 32 tiros.
  • Alimentação: carregador metálico tipo cofre.
  • Cadência de tiro: 650rpm.
  • Alcance efetivo: 150-200m.
  • Alça de mira: dobrável de 50 e 150 metros.
  • Massa de mira: coberta.
  • Variantes: semi-automática e automática.

Desdobrada e dobrada.

Vídeo recomendado:


Bibliografia recomendada:

Chassepot to FAMAS:
French Military Rifles 1866-2016.
Ian McCollum.

Leitura recomendada:

GALERIA: Armas do golpe militar na Venezuela em 195811 de fevereiro de 2021.

GALERIA: Ativação do Comando de Operações Especiais venezuelano30 de agosto de 2020.

Selva de Aço: A História do AK-103 Venezuelano13 de fevereiro de 2021.

Armas vietnamitas para a Argélia14 de dezembro de 2020.

FOTO: O jovem cadete Hugo Chavez27 de março de 2020.

FOTO: Sniper com baioneta calada9 de dezembro de 2020.

FOTO: Fuzis SKS capturados1º de janeiro de 2021.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Selva de Aço: A História do AK-103 Venezuelano

Por Lluís Pérez Expósito, Conflict Freelancers, 14 de junho de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de fevereiro de 2021.

O interesse da Venezuela em adquirir um novo fuzil de serviço surgiu após o aumento das tensões entre o governo Hugo Chávez e os EUA. Antes da chegada de Chávez ao poder, a Venezuela estava firmemente estabelecida como parceira dos Estados Unidos na região, e isso se estendia às questões de defesa. O exército da Venezuela foi configurado para ser compatível com a OTAN e, embora o fuzil de serviço padrão ainda fosse o FN FAL 7,62x51mm produzido localmente, foram feitas tentativas de transição para o FN FNC. Embora uma licença aparentemente nunca tenha sido adquirida, um número significativo foi adquirido da FN, e ainda é usado até hoje.

Depois que Hugo Chávez assumiu o poder em 1999, as políticas e a diplomacia da Venezuela se aproximaram cada vez mais daquelas de Cuba, China e Rússia. Com o aumento da necessidade de um fuzil de assalto de cartucho intermediário para emissão em massa e também com a mudança de alianças diplomáticas, o governo Chávez finalmente decidiu pelo fuzil AK-103 e assinou um contrato com a Rosoboronexport em maio de 2005. O pedido incluiu a compra de 100.000 fuzis totalmente montados, seus respectivos acessórios, 74 milhões de cartuchos de munição 7,62x39mm, 2.000 conjuntos de peças de reposição, 50 conjuntos de gabaritos, 2.000 manuais de instrução, 5 simuladores de treinamento e a licença completa, pacote de dados e assistência técnica para estabelecer uma unidade de produção dentro da “Gerencia Metalmecánica”, principal centro de produção do conglomerado estatal da indústria de defesa CAVIM, ou Compañía Anónima Venezolana de Industrias Militares em Maracay, estado de Aragua.

Comandos da Guardia Nacional Bolivariana de Venezuela (GNB) armados com o fuzil FN FNC, 2014.

Hugo Chávez inspeciona um dos primeiros AK-103 entregues à Venezuela. Ao lado dele está o então ministro da Defesa, Ramón Orlando Maniglia. Fuerte Tiuna. Caracas, 14 de junho de 2006.

A razão para escolher o 7,62x39mm como cartucho padrão, ao contrário de algumas outras ofertas mais modernas nas esferas de influência russa e chinesa, como o 5,45x39mm, só pode ser especulada. Ostensivamente, a compatibilidade de defesa com Cuba (que nunca fez a transição para 5,45x39 e ainda usa fuzis AKM 7,62x39mm como fuzis padrão) teria sido um grande fator, no entanto, um caso forte pode ser feito, considerando o terreno venezuelano, com selvas densas e extensas áreas metropolitanas, e combates geralmente ocorrendo em curtas distâncias com cobertura abundante, as habilidades de penetração mais altas da bala de 7,62x39mm a tornariam uma escolha mais sensata.

O lote piloto russo, produzido em Izhmash, foi entregue em três etapas com as primeiras 30.000 unidades chegando à Venezuela em junho de 2006, o segundo lote de 32.000 em agosto e os 38.000 restantes em novembro. Esse lote inicial de fuzis aparentemente durou muito tempo, com unidades produzidas na Rússia tendo sido avistadas em abundância até a data de redação deste artigo (18/05/2020). A produção na Venezuela demorou a aumentar, com as primeiras 3.000 unidades montadas na Venezuela (embora com algumas ou todas as peças russas) sendo entregues apenas em junho de 2013.

Fuzil AK-103 venezuelano desmontado em primeiro escalão.

A produção total é um tópico altamente contestado. O governo afirmou pela última vez que a fábrica estaria totalmente operacional no final de 2019, acrescentando que seria capaz de cumprir uma cota de 25.000 unidades produzidas por ano. Esses comentários não foram confirmados nem retirados em maio de 2020. Vale a pena mencionar que esses comentários não foram os primeiros do tipo, todos se provando falsos no passado. No entanto, um vídeo divulgado pela mídia oficial em abril de 2020 mostra caixotes de AK-103, marcados em espanhol, como fuzis produzidos pela CAVIM, sendo entregues a academias militares, o que indicaria plena produção venezuelana. Tem havido ceticismo quanto à validade potencial dessas marcações nas caixas, e as marcações do dos fuzis não foram observáveis neste caso.

O que exatamente é o AK-103?

O AK-103 é um fuzil de assalto operado a gás com um pistão de longo curso e um ferrolho giratório de 2 reténs. Ele tem uma configuração externa idêntica ao fuzil de serviço russo atual, o AK-74M, mas calibrado em 7,62x39. Isso significa que o fuzil tem uma coronha de polímero preto dobrável, porém de perfil completo, com um compartimento de kit de limpeza padrão e um botão de liberação de coronha projetado propositalmente na placa de controle sob o compartimento do kit de limpeza, que colide com o gancho retentor de posição da coronha dobrável. Ele também vem com um trilho óptico em cauda de andorinha no lado esquerdo do receptor. O cano é padrão de 16,3 pol. (415mm) de comprimento e integra um freio de boca de estilo AK-74 e alça de baioneta.

Uma modificação que não está presente em todos os fuzis AK-103, mas parece estar presente em todos os AK-103 venezuelanos, é a adição de um pequeno êmbolo com mola colocado perpendicularmente no retém da tampa da culatra. Esse recurso tem o objetivo de evitar a auto-ejeção da tampa e/ou da mola recuperadora sob o recuo aumentado das granadas de fuzil e calibragens de grande porte, como calibre 12 (no caso da família Saiga 12 de escopetas automáticas). Esta modificação está mal documentada, mas parece que se destina a ser um novo padrão da indústria para a família AK de exportação.

Exemplar do retém de duas etapas da tampa.

Acessórios

O AK-103 de fabricação russa foi enviado com baionetas de dois gumes padrão AK-74 (6x5), porta-carregadores de lona de 4 bolsos, uma bandoleira de lona padrão, kit de limpeza armazenado na soleira da coronha, frasco de graxa de polímero e carregadores de polímero preto 7,62x39mm. Ainda não está claro se os porta-carregadores permaneceram em produção na Venezuela. Os porta-carregadores de lona têm sido usados cerimonialmente e esporadicamente também no campo, principalmente como uma expansão do equipamento de tralha, sem dúvida, com baixa capacidade de carregadores.

O vídeo de abril de 2020 mostra os fuzis sendo entregues em caixotes de 6, cada um com sua própria baioneta e 5 carregadores, embora infelizmente não seja possível verificar se esse sempre foi o caso a essa altura.

Cenas do vídeo de abril de 2020 mostrando os AK-103 da CAVIM sendo entregues a uma academia militar.

O lote original de fuzis veio da Rússia com as clássicas bandoleiras de lona de algodão tipo AKM de duas pontas, que foram amplamente utilizadas pelas forças venezuelanas. Bandoleiras adicionais de desenho idêntico feitas em nylon preto e verde OD foram produzidas localmente e também distribuídas. Há também uma miríade de soluções comerciais, artesanais e improvisadas observadas em uso pelos militares.

Bandoleiras AK russas padrão em uso por conscritos venezuelanos.

Esquerda: Bandoleira feita localmente, observe as estrias na tira e os rebites característicos. À direita: Observe a mola retentora do gancho, muito mais fina do que normalmente se espera de bandoleiras russas.

Bandoleira feita localmente, nylon preto.

Carregadores

Um dos principais atrativos da plataforma AK-103 no mercado internacional é a capacidade de usar as mesmas munições e cartuchos de 7,62x39mm que muitos países usam há décadas, dos quais muitos clientes em potencial já podem ter estoques significativos. Isso não foi, no entanto, um fator no caso da Venezuela, que nunca havia usado variantes AK antes da compra do 103. Para esse efeito, os fuzis de serviço venezuelanos foram identificados em uso quase que exclusivamente com carregadores de polímero preto, segunda geração (sem costela) de 30 tiros, também licenciados pela CAVIM, estes sendo marcados “7,62x39” no lado esquerdo.

Carregadores do AK-103 de primeira geração (esquerda) e segunda geração (direita), apenas a segunda geração é usada e produzida pela Venezuela.
(TheFirearmBlog)

Há, no entanto, uma exceção notável a isso. A partir de 2020, os militares e a polícia venezuelanos têm recebido remessas de fuzis AK de padrões mais antigos em 7,62x39mm, acompanhados por carregadores de aço estampadas de 30 tiros e carregadores de fibra de vidro vermelha (“baquelite”) de Cuba. Estes começaram a se infiltrar no sistema, e alguns desses carregadores podem ser usados alternadamente com o AK-103, especialmente com as F.A.ES (Fuerzas de Acciones Especiales) da PNB (Policía Nacional Bolivariana), as Forças Especiais da Polícia, que foram os principais destinatários desses fuzis cubanos, junto com a Milícia Bolivariana. Além disso, as unidades de elite têm usado carregadores comerciais de reposição, tais como o PMAGS.

Unidad de Operaciones Tácticas Especiales (UOTE) da PNB.
Observe o segundo operador da esquerda, usando um carregador de “baquelite” de fibra de vidro vermelha cubana.

FAES da PNB com carregadores de aço estampados.

UOTE da PNB usando um carregador Magpul PMAG.

Capacidades com granadas

Lançadores de granadas encurtados do estilo do M203 sob o cano foram observados afixados sob os fuzis com armações próprias. Existem dois tipos de tais montagens. Um, que substitui o guarda-mão inferior, envolve um invólucro feito de folha de metal, semelhante em conceito ao usado no M16A1 e A2. Uma versão mais recente envolve um sistema de suporte de liberação rápida que se conecta diretamente ao cano em dois pontos diferentes, mantendo o conjunto do guarda-mão original intacto.

O lança-granadas de estilo M203 com a fixação inicial; substituição do guarda-mão inferior.

Tipo de montagem moderna do estilo do M203; suportes no cano.

A GRLA-40 “PB” (“Pasabalas” ou passante de balas) é um projeto de granada totalmente em polímero que pode deslizar sobre o freio de boca padrão do AK-103 e ser detonada por uma bala comum 7,62x39. Ele tem um alcance máximo alegado de 250 metros e um raio de explosão de 10 metros em sua variante HE, com munições de manejo, inertes sem disparo (“Práctica”) e inertes com disparo (“Ejercicio”) também disponíveis.

GRLA-40 PB em uso.

No entanto, granadas de fuzil de qualquer tipo não são frequentemente observadas em uso com tropas venezuelanas, com a FANB (Fuerza Armada Nacional Bolivariana) optando pelo lança-granadas giratório Milkor MGL 40mm nos últimos anos para funções de granadeiro.

Também é interessante notar que a literatura oficial da CAVIM faz questão de descrever e mostrar como o AK-103 pode ser equipado com um lança-granadas GP-25, apesar de nunca terem sido adquiridos pela Venezuela, até onde nós sabemos. Pode ser o caso de uma compra potencial ter sido discutida e, eventualmente, falhar.

Miras ópticas

PK-A venezuelana.

As FANB emitem dois tipos diferentes de mira óptica para o AK-103; o PK-AV sem ampliação, feito sob encomenda pela BelOMO (Belorusskoe Optiko-Mechanichesckoye Obyedinenie) da Bielo-Rússia, e a PO 3,5x21P de magnificação de 3,5x, desta vez uma oferta padrão, também da BelOMO.

PK-A V.

PO 3,5x21P.

Embora essas sejam as ofertas padrão contempladas para o AK-103 pelas FANB, muitas outras ofertas comerciais foram vistas em uso, especialmente com as F.A.ES. da PNB.

Ópticas alternativas são conectadas por meio de uma cauda de andorinha a uma montagem picatinny em forma de L projetada e produzida localmente pela CAVIM, e designada “Adaptador Caribe”.

Adaptador Caribe.

Uma das alternativas de soluções ópticas que merece especial atenção é o VILMA (Visor Lumínico para Matar Agresores) de desenho e produção cubanas. Estes foram observados em pequeno número e usados quase exclusivamente por unidades de fuzileiros navais, o que indicaria que foram emitidos pelo governo, dado o fato de que os fuzileiros navais quase nunca usam acessórios para armas de fogo não emitidos e que essas miras ópticas não estão disponíveis comercialmente.

VILMA em uso cubano, observe o acessório substituindo a massa de mira de ferro.

O VILMA é uma mira de ponto vermelho (red dot) sem magnificação, que no serviço cubano geralmente é instalada com uma montagem substituta da mira frontal (massa de mira), mas as FANB optaram por usar uma montagem mais recuada através da montagem Caribe. É lógico que, por esta razão, os modelos VILMA venezuelanos foram especificamente adaptados, embora isso não pudesse ser verificado de forma independente.

Fuzileiro naval venezuelano com a VILMA.

Fuzileiros com a VILMA.

Fuzileiros com a VILMA durante uma demonstração.

Fuzileiros com a VILMA em serviço de rua.

Marcações

Infelizmente, há muito pouca informação explícita ou evidência fotográfica disponível para comparar e contrastar. No entanto, graças às fotos dos manuais de instrução oficiais e fotos incidentais que incluem fotos em close-up de fuzis, pudemos determinar como são as marcações originais dos fuzis do contrato russo.

No lado esquerdo do receptor, as marcações dizem "AK-103" e "7,62x39mm". Mais atrás, sobre o trilho da mira óptica, lê-se “Fuerza Armada Venezolana”. No munhão, a marca de prova da Izhevsk pode ser vista, seguida por “F.A.N.” (presumivelmente, Fuerza Armada Nacional) e o número de série.

No lado direito do receptor, no canto frontal inferior ao lado do guarda-mão, está o brasão da Venezuela. O seletor de tiro está marcado com S para “Seguro” (Seguro, travada), R para “Repetición” (Automático) e T para “Tiro a tiro” (Semi-automático).

O registro de segurança com S, R e T.


Além disso, as marcações das miras foram alteradas em relação ao que esperávamos dos AK russos; em vez de um “П” para o cenário de batalha, eles exibem um “A”.

Vale ressaltar que algumas dessas marcações são notavelmente obsoletas, especialmente o brasão, que exibe um cavalo voltado para a direita. Isso teria sido correto no momento da assinatura do contrato, porém, já estaria incorreto com a entrega dos primeiros fuzis pois, em 7 de março de 2006, foi aprovada uma lei para alterar o brasão para ter o cavalo indo para a esquerda, para refletir a nova direção socialista do país. É lógico supor que isso foi abordado em fuzis montados na Venezuela, entretanto, não existe nenhuma evidência fotográfica desse efeito e todas as marcas que pudemos examinar mostram o brasão obsoleto.

Brasão venezuelano.


Além disso, “FAN” seria uma nomenclatura incorreta, já que em 2009 o nome foi alterado para FANB. Imagens recentes mostram que, no mínimo, as unidades produzidas com a marcação FAN não foram atualizadas, resta confirmar se novos modelos de produção foram ajustados.

Como nota adicional, vale a pena mencionar que houve relatos confirmados de armas de fogo padrão AK comerciais da Izhevsk (ou seja, fuzis semi-automáticos padrão AK-74M e escopetas padrão Saiga calibre 12) exportadas para mercados civis com todas as marcações do receptor venezuelano, bem como adicionais de exportação. O receptor AK sendo potencialmente uma peça universal que pode ser montada em vários calibres, eles presumivelmente seriam substituições de contratos venezuelanos reaproveitados. É interessante notar que nessas armas a marcação "AK-103" foi riscada, mas nenhuma tentativa parece ter sido feita para desfigurar a crista venezuelana ou etiquetas de propriedade ou para traduzir as configurações de segurança.

Legado


O AK-103 se tornou o carro-chefe de todas as agências de segurança venezuelanas, com exceção da Milícia Bolivariana. Exército, Marinha, Força Aérea, Guarda Nacional e Polícia usam-no em esmagadora maioria para todos os tipos de operações, com alguns outros sistemas de armas da mesma classe sendo encontrados apenas em formações de elite de cada força.

O AK-103 foi geralmente bem recebido pelas tropas. Provou ser uma ferramenta confiável, segura e durável que lida bem com o ambiente agressivo do clima tropical venezuelano.

A única exceção notável a isso parece ser a qualidade desbotada do acabamento pintado, o qual tende a descascar dramaticamente, deixando muitas das unidades mais usadas em um estado de acabamento quase “branco”.

Operador das forças especiais com seu AK-103. Observe o nível extremo de desgaste dos componentes de metal. Observe também os carregadores presos com zíper, esses tipos de modificações não são toleradas nas forças armadas, mas são frequentemente observados em unidades de elite da PNB e GNB.

Ao mesmo tempo, a condição bem usada de muitos AK dá crédito ao mito de sua confiabilidade, com as armas do lote original, neste momento com mais de 13 anos, continuando a serem usadas de forma muito ativa e severa. A CAVIM relatou uma vida útil mínima garantida de 20.000 tiros por fuzil.

O AK permeou a cultura popular venezuelana e agora se tornou sinônimo de militarismo, profissionalismo e poder de fogo. É uma arma muito desejada por criminosos e rebeldes, que procuram capturá-las especificamente, muitas vezes por meio de emboscadas contra patrulhas pequenas, matando soldados e tomando seus AK.

Fuzil deixado para trás depois que o soldado que o carregava foi assassinado.
Observe a marca de prova da Izhevsk no munhão.

A lentidão e e o ritmo desajeitado do governo venezuelano para iniciar a produção indígena total do fuzil, no entanto, foram devidamente observadas e muitas vezes mencionadas e ridicularizadas mesmo dentro de círculos militares leais. Embora nem o governo venezuelano nem a CAVIM tenham feito comentários sobre a situação, há muito tempo havia rumores não-oficiais afirmando que a paralisação e atrasos na ponta russa atrapalharam o estabelecimento da produção total na CAVIM.

Em 2015, a Rosoboronexport apresentou acusações contra Sergey Popelnyukhov, senador russo e presidente da Stroyinvestengineering Su-848, empresa para a qual a Rosoboronexport teria terceirizado o contrato do AK-103 venezuelano. Popelnyukhov, foi condenado a 7 anos de prisão após ter se declarado culpado, em 27 de fevereiro de 2017, de desvio de mais de 1100 milhões de rublos do contrato do AK-103, o dinheiro teria sido retirado por Popelnyukov da Rosoboronexport e redirecionado para outros empreendimentos e contas de Popelnyukhov, em vez de serem entregues à Izhmash, o fabricante original das armas (Original Equipment ManufacturerOEM).

Sergey Popelnyukhov.

Esta história parece correlacionar-se com os rumores na Venezuela e justificar os atrasos na produção, bem como talvez ajude a explicar por que a Izhmash liberaria tão prontamente e de bom grado fuzis AK marcados de propriedades venezuelanas para o mercado comercial.

Seja como for, a produção local deste e de outros sistemas de armas tem sido um grande ponto de discussão de um governo ansioso para provar aos seus inimigos, tanto estrangeiros quanto domésticos, que é capaz e está disposto a atender às suas próprias necessidades de defesa de uma forma que não poderia anteriormente. A realidade, no entanto, é que o erro da produção lenta do AK dificilmente é o único exemplo de capacidade de produção limitada em exibição na Venezuela, com muitos outros itens básicos como uniformes, equipamento de carga e armadura corporal, sendo produzidos em pequeno número na Venezuela e então complementados em grande parte pela produção chinesa ou russa.

O AK-103 foi o primeiro de muitos passos dados para reorganizar as forças militares venezuelanas de uma configuração da OTAN para padrões mais amigáveis aos russos e chineses, embora com características muito peculiares. Pouco depois da assinatura do contrato dos AK, em maio de 2006, o governo Bush instituiu um embargo de armas à Venezuela, o primeiro de muitos passos para isolar e punir a República Bolivariana, doravante considerada um inimigo. Pode ser um exagero vincular o contrato dos AK como causa direta do embargo de armas, mas não pode ser desconsiderado como um catalisador significativo; nesse sentido, esse contrato pode ter ajudado a selar o destino da Venezuela como uma ameaça geopolítica aos EUA nos próximos anos, para melhor ou para pior.

No geral, é justo dizer que o AK-103 cimentou seu lugar como uma instituição latino-americana e é improvável que seja substituído no futuro próximo, especialmente se as reivindicações de produção venezuelana totalmente autônoma puderem ser verificadas no futuro. Estamos ansiosos para ver os números de produção, relatórios de qualidade e marcações dessas novas unidades.


Bibliografia recomendada:

Rajadas da História:
O fuzil AK-47 da Rússia de Stálin até hoje.
Mikhail Kalachnikov e Elena Joly.

The AK-47:
Kalashnikov-series assault rifles.
Gordon L. Rottman.

Leitura recomendada:



GALERIA: Os fuzis AK-74M da Síria, 29 de agosto de 2020.


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