quarta-feira, 31 de março de 2021

Portugal enviará tropas a Moçambique após ataque descarado em Palma por insurgentes islâmicos

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog,  31 de março de 2021.

Portugal vai enviar soldados na primeira quinzena de abril para Moçambique onde vão treinar tropas locais na sequência de um ataque de rebeldes islâmicos à cidade de Palma, afirmou a agência noticiosa Lusa nesta terça-feira, citando fonte do Ministério da Defesa.

A mídia portuguesa afirmou que está a ser finalizado um acordo bilateral que prevê um total de 60 militares das forças especiais portuguesas em missão para Moçambique. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, disse ainda na segunda-feira à estação de televisão estatal RTP que uma equipe de "cerca de 60" militares "se prepara" para ser enviada para a ex-colónia de Portugal "nas próximas semanas". A equipe vai "apoiar o exército moçambicano na formação de forças especiais", disse.

Em uma escalada dramática de uma insurgência lançada em 2017, os jihadistas atacaram na última quarta-feira a cidade de Palma, no norte, localizada a apenas 10 quilômetros do local de um projeto de gás multibilionário. Na segunda-feira, o Estado Islâmico afirmou que conduziu a operação de três dias contra alvos militares e do governo e disse que havia assumido o controle da cidade. O governo moçambicano disse que dezenas de pessoas morreram na operação, mas o número exato de vítimas na remota cidade do norte não é conhecido.

Portugal é um país ativo na África, com tropas à serviço da ONU na República Centro-Africana e no Mali. Apesar de ter garantido a independência das suas colônias de Angola, Moçambique e Guiné Bissau (ex-Guiné Portuguesa), Portugal permanece envolvido na solução de problemas nos três países. Em janeiro do ano passado, Portugal interveio no Moçambique depois que uma enchente matou cerca de 30 pessoas e deixou mais 58 mil desabrigadas.

Portugal, mantendo sua tradição centenária de presença na região, continuará apoiando o país "irmão" lusófono, cuja segurança atualmente está nas mãos de mercenários russos e sul-africanos servindo a um governo com pouca força real à frente de um Estado não-consolidado.

Comandos portugueses na República Centro-Africana.

Palma estava quase totalmente deserta na segunda-feira após o massacre, que obrigou seus moradores a fugir por estrada, barco ou a pé. Foi o maior e mais próximo ataque a um projeto multibilionário de gás, que está sendo construído em uma península a apenas 10 quilômetros de distância, pela francesa Total e outros gigantes da energia. Muitos sobreviventes disseram que caminharam por dias pela floresta para buscar refúgio em Mueda, 180 quilômetros ao sul, onde chegaram mancando com os pés inchados.

Milhares de fugitivos chegaram em barcos a Pemba, capital da província a cerca de 250 quilômetros ao sul, segundo fontes locais. Até 10.000 outros aguardavam evacuação, de acordo com agências humanitárias. Pemba já está lotada com centenas de milhares de refugiados deslocados pela insurgência islâmica, que expulsou quase 700.000 de suas casas em toda a vasta província. O ataque forçou trabalhadores expatriados e moradores locais a buscarem refúgio temporariamente em uma usina de gás fortemente protegida localizada na península de Afungi.

“Um número significativo de civis resgatados de Palma também estão sendo transportados para o local de Afungi, onde recebem apoio humanitário e logístico”, revelou a Total em um comunicado divulgado segunda-feira.

Os insurgentes são conhecidos localmente como al-Shabab (sem relação com a organização jihadista somaliana de mesmo nome), liderados por Abu Yasir Hassan e declarando apoio ao Estado Islâmico. Em novembro do ano passado, o al-Shabab decapitou 50 moçambicanos em um campo de futebol. Ainda essa semana, diferentes grupos radicais islâmicos ameaçaram os franceses e americanos no Djibouti e explodiram uma catedral católica na Indonésia em uma clara mensagem contra os cristãos e contra o Ocidente.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

terça-feira, 30 de março de 2021

MCDONNELL DOUGLAS / NORTHROP GRUMMAN YF-23 BLACK WIDOW II - Mais rápido e mais furtivo que o F-22.

McDonnell Douglas/ Northrop Grumman YF-23 Black Widow II

FICHA TECNICA
Velocidade de cruzeiro: Mach 1,6 (1975 Km/h).
Velocidade máxima: Mach 2,2 (2716 km/h).
Razão de subida: * 15240m/min.
Potência: 1.37.
Carga de asa: 57 lb/ft².
Fator de carga: 9 Gs
Taxa de giro instantânea: 25º/s *
Razão de rolamento: 240º/s.
Teto de Serviço: 20000 m.
Alcance: 4489 km.
Alcance do radar: Nothrop Grumman AN/APG-77 com 270 Km de alcance.
Empuxo: Dois motores Pratt & Whitney F-119 PW-100 com 15600 kgf de potência máxima cada.
DIMENSÕES
Comprimento: 20,60 m.
Envergadura: 13,30 m.
Altura: 4,30 m.
Peso vazio: 13100 kg.
Combustível Interno: 19000 lb.*
ARMAMENTO
Ar Ar: Míssil AIM-120C Amraam, AIM-9M Sidewinder.
Interno: 1 Canhão General Electric M-61 A2 de 20 mm.

Obs: * significa que o dado é estimado

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
O programa  de desenvolvimento do caça tático avançado ATF, que visava substituir o caça F-15, foi iniciado no final dos anos 70 e depois de muitas propostas de muitos fabricantes, apenas dois fabricantes foram contratados para construir dois protótipos cada que deveria concorrer entre eles para demonstrar para a Força Aérea dos Estados Unidos qual seria o melhor caça a substituir o consagrado McDonnell Douglas F-15 Eagle. Os concorrentes foram a própria McDonnell Douglas em associação a Northrop Grumman, que construíram o YF-23, um caça com o desenho mais avançado, e “futurista” já construído. Simplesmente, o avião tinha um aspecto de ficção cientifica. Eu ainda me lembro do dia em que vi a foto deste belo caça a primeira vez uma revista Tecnologia e Defesa, no fim dos anos 80 e fiquei muito surpreso com a total quebra dos padrões que se tinha em desenhos de caças naquela época.
O YF-23 no dia de sua apresentação em 22 de junho de 1990.
O concorrente dele foi construído pela extinta General Dynamics (projetista do fabuloso F-16), em associação com a Lockheed Martin, e Boeing, sob o nome de YF-22 Ligthning II. Este ultimo, tinha um desenho mais convencional, mas com um padrão facetado e com o conceito de paralelismo dos ângulos de entrada e saída das superfícies de controle incorporado. Nesse conceito, os ângulos das asas são repetidos nos profundores para aumentar o nível de furtividade da aeronave. 
O YF-23, demonstrou nos testes, ser mais rápido em regime de supercruzeiro, ter um alcance pouco maior e ter maior nível de furtividade em comparação ao seu rival, o YF-22. Sua manobrabilidade era elevada, particularmente nas velocidades mais altas, mas a ausência de um sistema de vetoração de empuxo fez falta para garantir boa manobrabilidade em baixas velocidades, característica positiva do YF-22. O projeto do YF-23 era extremamente inovador e por isso havia um risco elevado no projeto. Muitas coisas eram novas e não tinham sido testadas antes. O sistema de controle de voo, por exemplo, tinha características totalmente novas para permitir que o YF-23, com sua aerodinâmica incomum, pudesse voar e manobrar. 
Nessa foto podemos ver o YF-22 a esquerda e o YF-23 a direita. As empresas concorrentes trabalharam com propostas bastante diferentes para atender os requisitos da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF).
A Lockheed e seu grupo, preferiram, não apostar num projeto tão ousado, e partiram para um desenho mais convencional, lembrando um pouco o layout do F-15 ou mesmo do F-18.
Já, a McDonnell Douglas e a Northrop, como de costume, enfiaram a cabeça em um projeto de alta sofisticação ao projetar o YF-23. O desenho dos bocais de escape dos motores, muito similar ao usado no outro projeto da Northrop, o B-2, permitia uma importante diminuição na assinatura infravermelha do YF-23. Os profundores, tem movimento total e são usados como tailerons, apoiando o caça nos giros além do pitch, e sua montagem em ângulo, também o fazia como um substituto do leme vertical. Essa configuração, permitiu um melhor desempenho de furtividade também em todos os ângulos da aeronave.
Os dois protótipos do YF-23 eram pintados em esquemas de cores diferentes e o mais escuro, conhecido como PAV-1, era equipado com dois motores turbofan Pratt & WhitneyYF-119, enquanto que o mais claro, chamado PAV-2, era equipado com dois motores General Electric YF-120. Havia uma concorrência entre qual motorização seria usada no modelo vencedor.
O YF-23 possuía apenas um só compartimentos de armas abaixo da fuselagem que comportava 4 mísseis AIM-120 Amarram, diferentemente do F-22 que possui 3 compartimentos de armas. Se o YF-23 tivesse vencido a competição, o seu desenvolvimento incorporaria mais um compartimento de armas, possivelmente a frente do primeiro, para instalação de mísseis de curto alcance AIM-9 Sidewinders.
Após a derrota no programa ATF, os protótipos do YF-23 foram transferidos para testes de calibração na NASA e o outro foi estocado na base Edwards. A derrota do YF-23 se deu por motivos de custo, já que ele era 20% a 30% mais caro por unidade que o YF-22 que já era caro demais, e pelo risco do projeto que agregava muitas novas tecnologias pouco testadas.
O YF-23 foi empregado em testes pela NASA depois do fim da concorrência do ATF e posteriormente teve seu final sido concluído com sua alocação em museus como o National Museum of the United States Air Force.
Mais recentemente, houveram estudos iniciais para o desenvolvimento de um avião de bombardeiro global, em que se se analisou a viabilidade de se ter um avião que pudesse substituir o F-15E Strike Eagle por um jato stealth de alto desempenho. Uma versão de ataque do F-22, que ficou conhecida como FB-22 foi mostrada, enquanto que a Northrop Grumman  ofereceu um avião baseado no YF-23, que é chamado, por enquanto de FB-23, e que teve seu desenho ligeiramente modificado, e suas dimensões aumentadas para cumprir a missão de ataque a longa distancia. Um dos protótipos do YF-23 poderia ter ser remotorizado para testes de viabilidade deste novo projeto, porém esse programa foi cancelado em favor de um novo bombardeiro de longo alcance B-21 Raider que deve voar entre o final de 2021 e inicio de 2022
O design do YF-23 já tem 30 anos de idade e muito provavelmente, o futuri caça de 6º geração norte americano terá mais semelhanças com ele do quer com o F-22 Raptor, o vencedor do programa ATF em 23 de abril de 1991.

 

YF-23 PAV2 e PAV1 (o mais escuro)
 
É interessante observar que os desenhos dos caças de 6º geração lembram as formas do protótipo do YF-23, com 30 anos deidade.

Visão em 5 vistas do YF-23.





segunda-feira, 29 de março de 2021

GALERIA: Caçadores da África reequipados

Guarda-bandeira do 5º esquadrão do 1er REC em um meia-lagarta M3 americano, outubro de 1943.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 29 de março de 2021.

Parada militar e manobra do reequipado 1er REC fotografado pelo ECPAD na floresta de La Mamora, no Marrocos, em outubro de 1943. O Tenente-Coronel Miquel, comandante do 1er REC, inspeciona o 5º esquadrão da unidade, que recentemente foi totalmente equipado com equipamentos americanos.

Em 15 de setembro de 1943 que o esquadrão de reconhecimento do 1er RCA (Régiment de Chasseurs d'Afrique) foi atribuído ao 1º Regimento Estrangeiro de Cavalaria (1er Régiment Étranger de Cavalerie, 1er REC) e assumiu o número 5, enquanto o regimento recebia seu novo equipamento americano.

O 5º esquadrão do 1er REC equipado com os novos canhões M1 de 57mm e tanques leves M3 Stuart, durante a revista da unidade recém-equipada.

Legionários do 5º esquadrão do 1er REC engancham seu canhão antitanque M1 de 57mm em um carro de patrulha M3 durante a manobra de demonstração.

A bandeira regimental é apresentada à unidade e depois ao esquadrão, recém equipado com canhões M1 57mm, tanques leves M3 Stuart, autometralhadoras M8 e obuseiros autopropulsados ​​M8 75mm, desfila, enquanto toca a música do regimento. O 1er REC agora forma o regimento de reconhecimento da 5ª Divisão Blindada (5e Division Blindée, 5e DB), cujo lema "France d'aborde" ("França primeiro") é visível nos vários materiais recém-coletados. O Tenente-Coronel Miquel explica uma manobra em um mapa espalhado no para-brisa de um jipe, na frente de oficiais reunidos ao seu redor.

A vitória na campanha da Tunísia em 13 de maio de 1943 permitiu a reorganização e reequipagem das forças francesas no Norte da África com material americano. Esse influxo de armas e veículos americanos transformou a Legião Estrangeira Francesa  pela primeira vez em uma força de combate moderna. A sua unidade principal foi o Regimento de Marcha da Legião Estrangeira (Régiment de Marche de la Legion Étrangère, RMLE), revivendo o título de 1915-18 na Primeira Guerra Mundial. O RMLE era formado por três batalhões de infantaria provenientes dos 2º, 3º, 4º e 6º regimentos estrangeiros de infantaria (Régiment Étranger d'Infanterie, REI) em Sidi-bel-Abbès, em julho de 1943. Essa unidade fora destinada a fornecer a infantaria blindada da nova 5e DB - organizada, equipada e treinada segundo o modelo americano de Comandos de Combate (Combat Commands): com grupos móveis de infantaria em meias-lagartas, tanques e artilharia. O 1er REC, com um esquadrão de comando e serviço, um esquadrão de tanques leves e quatro esquadrões de carros blindados, serviu como a unidade de reconhecimento da 5e DB, que desembarcou na Provença, no sul da França, em agosto de 1944. O 1er REC lutaria da França à Alemanha, participando da tomada de Stuttgart; terminando a guerra no Tirol austríaco. 

A veterana 13ª Meia-Brigada da Legião Estrangeira (13e Demi-Brigade de Légion Étrangère13e DBLE), que havia lutado de Narvik a Bir Hakeim e Túnis, também aproveitou o período para descanso, reequipagem e re-treinamento segundo o sistema americano. Houve, porém, suspeita e ressentimento mútuos entre os veteranos da "Treze" e as ex-unidades vichystas. A 13e DBLE seria incorporada à 1ª Divisão Francesa Livre (1re Division Française Libre, 1re DFL) e lutaria na Itália, Provença, Vosgues, Strasbourgo e terminaria a guerra em Turim, no norte da Itália (com o 1º Exército francês em contato com as tropas brasileiras).

O desfile dos carros blindados M8 americanos (chamados "automitrailleuses" pelos franceses) e obuseiros autopropulsados M8 do 1er REC.

Carros de combate leves M3 Stuart durante a manobra.

O Tenente-Coronel Miquel, comandante do 1er REC, explica a manobra diante de oficiais da unidade. Ao fundo, um obus autopropulsado M8 de 75mm.

O Tenente-Coronel Miquel, comandante do 1er REC, ao lado de um obus autopropulsado M8 75mm no qual podemos ler o lema "França primeiro" da 5ª Divisão Blindada, da qual o 1er REC forma o esquadrão de reconhecimento.

Banda de música do 1er REC.

Retrato de um "caporal-chef" da banda de música do 1er REC. O brevê "Tunisie" indica serviço na Campanha da Tunísia (1942-1943).

Suboficiais legionários posam com um jipe anfíbio.

Bibliografia recomendada:

French Foreign Legion 1914-45,
Martin Windrow e Mike Chappell.

Leitura recomendada:

Indonésia: dois homens-bomba se explodiram na frente da Catedral de Makassar após a missa de Palm


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 29 de março de 2021.

A explosão ocorreu no final da festa, ferindo várias pessoas. Um dos dois homens-bomba era apoiador declarado do Estado Islâmico. A Indonésia é o país com o maior número de muçulmanos do mundo, contando mais de 86% da população em oposição à apenas 10% de cristãos (além de hindus e outras religiões).

Pelo menos 20 pessoas ficaram feridas neste domingo (28/03) em um ataque suicida à Catedral de Makassar, no leste da Indonésia, após o Domingo de Ramos, uma celebração que marca o início da Semana Santa para os cristãos. O exterior do edifício no sul da ilha de Celebes estava repleto de pedaços de corpos humanos como resultado desta poderosa explosão que ocorreu por volta das 10:30h.

Tratou-se de um atentado suicida. Os dois agressores que realizaram o ataque foram mortos, disse o Ministro Coordenador da Segurança, Mahfud MD. “Duas pessoas estavam andando de motocicleta quando a explosão ocorreu no portão principal da igreja, os agressores estavam tentando entrar no perímetro da igreja”, disse o porta-voz da polícia nacional, Argo Yuwono. “Há muitos pedaços de corpos humanos perto da igreja e também na rua”, disse Mohammad Ramdhan, prefeito desta cidade portuária de 1,5 milhão de habitantes.

A ilha Celebes (também conhecida como Sulawesi) é uma das quatro Grandes Ilhas Sunda. É governado pela Indonésia. A décima primeira maior ilha do mundo, está situada a leste de Bornéu, a oeste das Ilhas Maluku e ao sul de Mindanao e do arquipélago de Sulu. Na Indonésia, apenas Sumatra, Bornéu e Papua são maiores em território, e apenas Java e Sumatra têm populações maiores.

O presidente indonésio, Joko Widodo “condenou veementemente este ato terrorista” “O terrorismo é um crime contra a humanidade”, declarou o chefe de Estado. “Peço a todos que lutem contra o terrorismo e o radicalismo, que são contrários aos valores religiosos”.

Uma testemunha, por sua vez, falou de uma explosão "muito forte". “Havia vários feridos na rua. Ajudei uma mulher ferida e coberta de sangue”, disse outra testemunha. “O neto dela também ficou ferido.” A polícia afirma que um segurança tentou impedir que a motocicleta entrasse no perímetro da Catedral do Sagrado Coração de Jesus, sede da Arquidiocese de Makassar, pouco antes da explosão, que ocorreu após o fim da missa.

O Domingo de Ramos marca a entrada de Jesus Cristo em Jerusalém, segundo a tradição cristã, no início da Semana Santa que antecede a Páscoa. “Tínhamos terminado a missa e as pessoas estavam indo para casa quando ela aconteceu”, disse o padre Wilhelmus Tulak aos repórteres. O Papa Francisco disse que rezou por todas as vítimas da violência, "em particular as do ataque desta manhã na Indonésia em frente à catedral de Makassar".


No passado, as igrejas foram alvo de extremistas na Indonésia, que é o país de maioria muçulmana mais populosa do mundo. Em maio de 2018, uma família de seis pessoas, incluindo duas meninas de 9 e 12 anos e dois filhos de 16 e 18 anos, lançou bombas contra três igrejas em Surabaya, a segunda cidade do país, matando mais de uma dúzia de fiéis. No mesmo dia, uma segunda família detonou, por acidente, uma bomba em um apartamento e no dia seguinte uma terceira família cometeu um atentado suicida contra uma delegacia de polícia.

Esses ataques, que deixaram um total de 15 vítimas e 13 mortes entre os agressores, incluindo cinco crianças, foram os mais mortíferos em mais de uma década no arquipélago. As três famílias radicalizadas estavam ligadas ao movimento radical Jamaah Ansharut Daulah (JAD), que apoia o grupo do Estado Islâmico (EI/ISIS); este reivindicou os ataques na catedral logo em seguida.

O atentado ocorreu no mesmo dia que jihadistas somalianos shebabs declararam estado de hostilidade contra os "cruzados" franceses e americanos no Djibouti, e a cidade de Palma, no Moçambique, foi tomada pela Ahlu Sunnah wal Jamaa.

A tradição de tolerância da Indonésia foi posta à prova nos últimos anos por um desenvolvimento de correntes conservadoras, até extremistas, islâmicas, o que leva cristãos e budistas (além das outras minorias religiosas que correspondem a cerca de 1%) a se preocuparem com relação à coexistência religiosa. Mais de 200 pessoas foram mortas em 2002 em ataques na ilha de Bali, perpetrados pelo grupo terrorista islâmico indonésio Congregação Islâmica (Jemaah Islamiyah, JI).

Bibliografia recomendada:



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domingo, 28 de março de 2021

FOTO: Fuzis FAMAS capturados no Senegal

Os fuzis capturados estavam em estado lastimável de manutenção.
(Twitter)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 28 de março de 2021.

Encerrando duas semanas de combates do Exército Senegalês contra os rebeldes do Movimento de Forças Democráticas de Casamance (Mouvement des forces démocratiques de Casamance, MFDC) em Casamance, na fronteira senegalesa com a Guiné-Bissau (ex-Guiné Portuguesa), as imagens de um sarilho de fuzis FAMAS capturados foi postado no Twitter pelas forças governamentais em 9 de fevereiro de 2021.

Segundo o Exército os objetivos da operação foram cumpridos. Os acampamentos foram tomados e deixados desertos, campos de maconha foram queimados e armamento e munições foram capturados em grandes quantidades. O Exército também mencionou a captura de 15 bicicletas.

O acampamento abandonado e completamente revirado, 9 de fevereiro de 2021.
(Twitter)

O Movimento das Forças Democráticas de Casamance (MFDC) é o principal movimento separatista na região de Casamance do Senegal, fundado em 1982. Foi apoiado pelo Presidente da Guiné-Bissau João Bernardo Vieira até este ser deposto em 1999. Depende principalmente do povo jola. Seu braço armado foi formado em 1985 e é chamado de Atika (diola para "Combatente").

Seu líder era o padre Augustin Diamacoune Senghor, que morreu em 13 de janeiro de 2007. Senghor assinou um acordo de paz com o governo do presidente senegalês Abdoulaye Wade em 2004. No entanto, várias facções do MFDC se recusaram a participar do acordo de paz e continuaram na luta armada. Esta divisão dividiu profundamente o movimento de independência de Casamance e continuou as escaramuças esporádicas na região.

Tropas de choque senegalesas em ação de controle de distúrbios civis (CDC) na capital Dacar, 5 de março de 2021.
(Twitter)

Isso ocorre em meio a distúrbios civis envolvendo a prisão do popular opositor político, Ousmane Sonko, em antecipação à eleição de 2024. A aparição do FAMAS e outros armamentos franceses em sua ex-colônia não são, por si só, uma surpresa, mas a aparição desse armamento na mão dos rebeldes de Casamance é. A procedência destes fuzis bullpup não foi discutida ou mencionada pelo anúncio governamental.

Tropa de choque senegalesa disparando granadas de efeito moral de um fuzil MAS 49/56 francês, Dacar, 4 de março de 2021.
(Seyllou / AFP)

Bibliografia recomendada:

Chassepot to FAMAS:
French Military Rifles 1866-2016.
Ian McCollum.

Leitura recomendada:

Moçambique: Localizada perto de um importante local de gás, a cidade de Palma caiu sob o jugo do Estado Islâmico

Por Laurent LagneauZone Militaire OPEX360, 28 de março de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 28 de março de 2021.

Em outubro de 2017, o grupo jihadista Ahlu Sunnah wal Jamaa (os "seguidores da tradição do profeta"), também chamado de "al-Shabab" (não relacionado à organização somaliana de mesmo nome) lançou uma insurreição armada na região da província de Cabo Delgado, onde a descoberta de imensas reservas de gás natural permitiria a Moçambique tornar-se um dos maiores produtores mundiais.

Apesar das apostas que esta região representava, as autoridades moçambicanas demoraram a reagir, quando não se refugiaram na negação. Depois, acabaram solicitando a ajuda de companhias militares privadas (PMC), principalmente russas e sul-africanas. Ao mesmo tempo, o grupo al-Shabab prometeu lealdade ao Estado Islâmico e adotou o nome de "Estado Islâmico da África Central" (ISCAP).

A cidade de Palma, no extremo norte do Moçambique. (AFP)

No entanto, a situação continuou a piorar. Em agosto de 2020, os jihadistas tomaram o porto de Mocímboa da Praia, estratégico para a logística das instalações do gasoduto Afungi, no qual o grupo francês Total é um dos principais investidores. Então, um mês depois, desembarcaram nas ilhas de Metundo e Vamizi, dando-se assim a possibilidade de ameaçarem o tráfego marítimo ao largo de Cabo Delgado.

Nos meses seguintes, diversos ataques perpetrados nas proximidades de Afungi levaram a Total a suspender suas atividades na região. Depois houve uma calmaria, atribuída à ação das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. No entanto, em fevereiro, a situação continuou preocupante, como Bernard Émié, chefe da Direção-Geral de Segurança Externa (DGSE, serviço secreto francês), apontou em fevereiro durante um Comitê Executivo de Contraterrorismo.

Na verdade, a calmaria terá durado pouco. Depois da Total ter acabado de anunciar o reinício das suas atividades no sítio de Afungi, Palma, uma cidade de 75.000 habitantes situada a apenas dez quilómetros de distância, foi atacada pelo ISCAP em três locais diferentes.

O destino de Palma pode ser uma reminiscência do destino de Kolwezi, submergido por rebeldes katangeses em 1978.* De fato, muitos expatriados - pelo menos 180 - ficaram presos. Operações de evacuação - por mar e terra - foram tentadas em 26 de março. Mas, de acordo com a imprensa local, pelo menos um comboio foi emboscado e fazendo pelo menos sete mortos.

Bandeira do Zaire presenteada à Legião em exposição no Museu da Legião Estrangeira em Aubagne, no sul da França. (Foto do tradutor)

Nota do Tradutor: Famosa Operação Bonite/Léopard onde os paraquedistas da Legião Estrangeira (2e REP) saltaram em ação de emergência e derrotaram os rebeldes katangueses e seus conselheiros cubanos no Zaire (atual República Democrática do Congo). A ação rápida e decisiva da Legião salvou a vida de 2.200 europeus e 3.000 africanos. A Frente de Libertação Nacional Congolesa (FNLC) já havia massacrado 60 europeus e 100 africanos e, sob orientação de seus conselheiros cubanos, pretendia massacrar os demais e se recuar para a Angola comunista. A Legião perdeu 5 legionários mortos e teve 25 feridos na operação. A FLNC perdeu em torno de 400 mortos e 160 prisioneiros, além de 1.500 armas leves e pesadas capturadas; notadamente 10 metralhadoras pesadas, 38 fuzis-metralhadores, 4 peças de artilharia, 15 morteiros e 21 lança-rojões. A FLNC jamais se recuperou da derrota.

É difícil obter informações sobre a situação na cidade, pois os retransmissores telefônicos foram cortados (confirmado pela operadora Vodacom). Portanto, só temos testemunhos de pessoas que conseguiram fugir do conflito. De acordo com a Pinnacle News, “dezenas de civis foram decapitados ou baleados e pelo menos 21 soldados foram mortos."

De qualquer forma, em 27 de março, Palma acabou caindo sob o controle dos jihadistas. “As forças do governo retiraram-se de Palma, por isso a cidade está efetivamente tomada”, disse uma fonte de segurança citada pela AFP. “Palma está nas mãos dos atacantes”, confirmou outro.

O fato deste ataque ter sido lançado quando a Total tinha acabado de anunciar o recomeço das suas atividades é presumivelmente uma coincidência... E a calmaria que se tinha referido anteriormente deveu-se provavelmente a dificuldades relacionadas com a época das chuvas do que à ação das forças moçambicanas na região.

Nesse ínterim, a Total voltou a anunciar a suspensão das atividades na Anfugi. E resta saber o que Maputo pretende fazer para retomar o controle da cidade... Preocupada com a situação devido à presença de expatriados sul-africanos na região, a África do Sul pode tentar uma intervenção...

Isso é o que o "Daily Maverik" publicado em Joanesburgo entende. "A África do Sul estava planejando no sábado enviar forças especiais para a cidade costeira de Palma, a fim de evacuar vários sul-africanos que ainda estariam presos ou mantidos como reféns pelos insurgentes islâmicos", disse ele. De fato, escrito em 27 de março.

Recorde-se que as forças especiais americanas lançaram recentemente uma missão para formar e treinar os seus homólogos moçambicanos. Quanto à França, preocupada com o envolvimento da Total em Cabo Delgado e presente na região (com Mayotte), pretende fazer o mesmo. Foi o que disse Florence Parly, a Ministra das Forças Armadas, durante uma audiência parlamentar em janeiro. “Estamos agora a ver como podemos apoiar, através da formação e educação, as forças armadas” de Moçambique, disse ela.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

Por que Moçambique está terceirizando a contra-insurgência para a Rússia25 de março de 2020.

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Islâmicos ligados ao Estado Islâmico decapitaram mais de 50 pessoas em campo de futebol em Moçambique11 de novembro de 2020.

Jihadistas somalianos ameaçam atacar interesses franceses e americanos no Djibouti

Por Laurent Lagneau, Zone Militaire OPEX360, 28 de março de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 28 de março de 2021.

Em fevereiro, o Presidente Macron e seu homólogo do Djibuti, Ismaël Omar Guelleh, concordaram com a "necessidade de consolidar sua parceria" no campo militar, por meio de uma declaração de intenções "sobre os princípios que enquadram a próxima renegociação do Tratado de Cooperação de defesa entre França e Djibouti, que já tinha sido revista em 2011.

Além disso, foram assinados diversos acordos de cooperação na área econômica. Eles "concretizam o aumento dos investimentos franceses no Djibuti, como o apoio ao projeto de um segundo aeroporto no país e os investimentos de grupos privados franceses nas áreas de energia e turismo", indicou então a presidência francesa.

No entanto, esses projetos estão sob a ameaça dos jihadistas somalianos "shebab", ligados à al-Qaeda. De fato, em 27 de março, seu líder, Abou Obaida Ahmad Omar, publicou um vídeo no qual ataca diretamente o presidente Guelleh, que buscará um novo mandato em 9 de abril, acusando-o de ter “transformado Djibouti em base militar de onde todas as guerras contra os muçulmanos na África Oriental são planejadas e executadas".

E apelando a seus apoiadores para "fazer dos interesses americanos e franceses no Djibouti a principal prioridade de [seus] alvos".

Desde 2002, os Estados Unidos têm uma grande base no Djibouti (o campo Lemonnier). Base que serve de ponto central para suas operações no Chifre da África e também no Iêmen. Além disso, em 2013, foi decidido transferir as atividades dos drones americanos para o aeródromo de Chabelley, localizado a cerca de dez quilômetros de distância.

Quanto à França, ela mantém uma presença militar no Djibouti desde a independência, concedida em 1977. Atualmente, e mesmo que tenha sido reduzido nos últimos anos, o contingente aí alocado é a maior de forças de presença francesas na África, com o 5º Regimento Interarmas do Ultramar (5e Régiment Interarmes d'Outre-Mer, RIAOM), um destacamento da Aviação Leve do Exército (Aviation légère de l’armée de Terre, DETALAT) com 4 helicópteros Puma e 3 Gazelle, a base aérea 188 (com 4 Mirage 2000-5, 3 Puma e uma aeronave de transporte CN-235), uma base naval e o Centro de treinamento de combate e endurecimento no deserto do Djibouti (Centre d’entraînement au combat et d’aguerrissement au désert de Djibouti, CECAD).

Recorde-se que, dada a posição estratégica ocupada pelo Djibouti (perto, em particular, do Estreito de Bab el Mandeb), o país acolhe outros contingentes estrangeiros. Assim, a China inaugurou uma base militar e um porto lá em 2017.

No entanto, os interesses franceses no Djibouti já foram alvejados em 2014, com um atentado suicida contra o restaurante "La Chaumière"; o saldo foi de um morto (cidadão turco) e cerca de vinte feridos (incluindo 7 franceses, 4 alemães, 6 holandeses e 3 espanhóis). O ataque foi posteriormente reivindicado pelos shebabs somalianos, que alegaram ter visado os franceses por "seu papel ativo no treinamento e equipamento das tropas djibutianas na Somália, bem como sua crescente intervenção nos assuntos [de] terras muçulmanas".

Bibliografia recomendada:

Estado Islâmico:
Desvendando o exército do terror.
Michael Weiss e Hassan Hassan.

Legião Estrangeira:
Um brasileiro em suas fileiras.
Luís Bouchardet.

Leitura recomendada:

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