Tradução Filipe do A. Monteiro, 02 de janeiro de 2020.
A Rússia e a milícia islâmica libanesa Hezbollah tornaram-se aliados próximos na guerra civil na Síria, com os dois apoiando o regime do presidente sírio Bashar al-Assad no conflito. O relacionamento deles nem sempre foi tão amigável. Quando membros do Hezbollah seqüestraram quatro diplomatas russos em 1985, matando um deles, a Rússia enviou o Grupo Alfa da KGB para lidar com a situação.
O Grupo Alfa é parte rede de espiões, equipe de contraterrorismo e equipe de comandos de propósito geral - e totalmente aterrorizante.
Primeiro ganhou notoriedade por liderar o ataque ao palácio presidencial de Cabul durante as fases iniciais da invasão russa do Afeganistão em 1979. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, seus membros participaram de várias derrubadas notórias de terroristas, insurgentes e seqüestradores.
Quando a KGB e partes das forças armadas soviéticas tentaram um golpe em 1990, os membros do Grupo Alfa foram encarregados de tomar o parlamento em Moscou e neutralizar o então presidente Boris Yeltsin.
O Grupo Alfa sobreviveu ao colapso da União Soviética e atualmente opera sob os auspícios do FSB, o sucessor do KGB. No entanto, seu confronto com o Hezbollah durante a crise dos reféns no Líbano continua sendo uma das operações mais discutidas e surpreendentemente brutais.
A KGB criou o Grupo Alfa - ou Spetsgruppa A - em 1974, em resposta aos ataques do Setembro Negro nas Olimpíadas de Munique, dois anos antes.
Oito terroristas ligados à Frente de Libertação da Palestina se infiltraram na Vila Olímpica, mataram dois atletas israelenses e fizeram vários outros reféns. A polícia da Alemanha Ocidental fracassou numa tentativa de resgate no aeroporto da OTAN horas depois. Outros nove israelenses morreram lá, junto com cinco dos terroristas e um policial alemão ocidental.
O Grupo Alfa formou-se na seqüência do fiasco. Mas o grupo rapidamente assumiu um papel mais amplo do que o mero contraterrorismo.
Comandos do Grupo Alfa da KGB no Afeganistão com capacetes de titânio suíços PSH-77, anos 80. |
Quando a União Soviética invadiu o Afeganistão em 1979, o Grupo Alfa e o Grupo Zênite da KGB, outra unidade de forças especiais, lideraram um contingente de 700 soldados no ataque ao Palácio Tajbeg em Cabul*, de acordo com David Cox em seu livro Close Protection: The Politics of Guarding Russia's Rulers (Proteção Aproximada: A política de guardar os governantes da Rússia).
*Nota do Tradutor: O Alfa participou da Operação Tempestade-333 (quando os destacamentos Alfa e Zênite apoiaram o 154º Destacamento Independente das Spetsnaz - conhecido como "Batalhão Muçulmano" - do GRU em uma missão para derrubar e matar o presidente afegão Hafizullah Amin, em seu palácio de Tajbeg em Cabul.
Os comandos entraram no país sob os auspícios da proteção da embaixada russa. O ataque ao palácio de Tajbeg em 27 de dezembro de 1979 foi a primeira fase da invasão soviética. O presidente afegão Hafizullah Amin estava dando uma festa no palácio naquela noite. Inúmeros convidados civis e residentes do palácio, incluindo mulheres e crianças, estavam presentes quando o ataque começou.
Um membro das forças especiais que participou do ataque disse à BBC em 2009 que os oficiais encarregados ordenaram que os soldados matassem todos no edifício.
"Eu era um soldado soviético", lembra Rustam Tursunkulov. “Fomos treinados para aceitar ordens sem questionar. Eu estava nas forças especiais - é o pior trabalho.”
Uma afegã chamado Najiba estava dentro do palácio quando os soviéticos chegaram. Ela tinha apenas 11 anos na época. "As coisas que vi", disse Najiba à BBC. “Meu Deus - pessoas no chão. Eu vi uma pessoa... como uma cena de um filme de pesadelo. Cadáveres. Muitos."
"Por favor, tente entender que, quando há uma batalha, é difícil saber que há crianças lá", explicou Tursunkulov. "Em qualquer exército, deve haver alguém que faça as tarefas mais severas e terríveis. Infelizmente, não são soldados, mas políticos que fazem guerras."
O Palácio Tajbeg como quartel-general do 40º Exército Soviético em 1987. |
O filho de 11 anos de Amin foi morto no ataque ao palácio, e o próprio Amin morreu durante a ação ou logo depois - talvez executado. Segundo Tursunkulov, os corpos de todos os mortos no palácio foram embrulhados em tapetes e enterrados nas proximidades sem cerimônia.
O Grupo Alfa continuou a liderar os esforços da KGB em contraterrorismo e contrainteligência doméstica até os anos 80. A unidade mirou agentes e operadores da CIA, e liderou a operação contra os seqüestradores do vôo 6833 da Aeroflot em Tbilisi, na Geórgia, em 1983. Eles mataram três dos seqüestradores e capturaram o restante, mas perderam cinco reféns.
Foi o envolvimento do grupo em uma crise de reféns em 1985 no Líbano que deu ao Grupo Alfa uma reputação internacional como uma unidade contra-terror cruel - mas eficaz.
Em 20 de setembro de 1985, a Organização de Libertação Islâmica, parte do Hezbollah, sequestrou quatro diplomatas russos em Beirute. Uma mensagem dos terroristas "alertou que os quatro prisioneiros soviéticos seriam executados, um a um, a menos que Moscou pressionasse milicianos pró-Síria a cessar o bombardeio de artilharia de posições mantidas pelas milícias fundamentalistas pró-Irã na cidade portuária de Trípoli, no norte do Líbano", de acordo com relatório contemporâneo de Jack McKinney, do Daily News da Filadélfia.
Moscou inicialmente tentou abrir canais de comunicação na esperança de negociar a libertação de reféns. Mas depois que os captores executaram um dos russos, Moscou enviou o Grupo Alfa.
Os reféns restantes foram libertados dentro de algumas semanas, o que surpreendeu os jornalistas, considerando que muitos reféns tomados no Líbano foram mantidos por meses ou até anos.
O General de Brigada Ghazi Kanaan, que era o chefe de inteligência das forças sírias no Líbano na época, foi originalmente creditado por orquestrar a libertação dos russos. Esse relato foi divulgado para jornalistas de outros países.
"Jornalistas ocidentais relataram que os seqüestradores foram forçados a libertar os reféns porque uma busca bloco-a-bloco por milicianos pró-Síria estava chegando perto deles", escreveu McKinney.
No entanto, de acordo com fontes israelenses citadas no Daily News, foi na verdade a KGB que negociou a libertação. E no livro Hezbollah: The Global Footprint of Lebanon's Party of God*, Matthew Levitt esclarece que não eram apenas seus agentes KGB comuns. Era o Grupo Alfa.
*NT: o título em português ficaria Hezbollah: A pegada global do Partido de Deus no Líbano.
"Em uma recontagem", escreve Levitt, "a KGB sequestrou um parente do chefe da organização que tomava reféns, cortou a orelha do parente e o enviou para sua família. Em outro, a unidade Alfa sequestrou um dos irmãos do seqüestrador e enviou dois dedos para sua família, em envelopes separados.
“Ainda outra versão tem os agentes soviéticos sequestrando uma dúzia de xiitas, um dos quais era parente de um líder do Hezbollah. O parente foi castrado e baleado na cabeça, seus testículos enfiados na boca e seu corpo enviado ao Hezbollah com uma carta prometendo um destino semelhante para os outros 11 cativos xiitas, se os três reféns soviéticos não fossem libertados.”
Embora os detalhes das várias "recontagens" sejam diferentes, o efeito é praticamente o mesmo. Dado o fato do Grupo Alfa ter sido despachado para Beirute, e de que os reféns foram libertados tão rapidamente quando outros países, incluindo os Estados Unidos, falharam em facilitar respostas tão prontas dos seqüestradores no Líbano, parece razoável que fosse o Grupo Alfa, em vez de uma busca síria que levou à liberação rápida.
Operadores do Grupo Alfa em treinamento de CQB, o distintivo da unidade é visível. |
A Rússia tem uma política de longa data de atacar membros da família de terroristas. Os relatórios das ações alegadas do Grupo Alfa em Beirute são consistentes com essa tradição.
A saga de Beirute é sem dúvida a mais sensacional das operações do Grupo Alfa. Mas a unidade continuou a desempenhar um papel proeminente nos esforços militares, de inteligência e contraterrorismo soviéticos e russos.
Um destacamento lituano do Grupo Alfa tentou reprimir o movimento de secessão no país em janeiro de 1991, matando 14 civis e ferindo centenas mais quando eles tomaram a torre de televisão de Vilnius.
Mais tarde, no mesmo ano, comandos do Grupo Alfa assaltaram o parlamento russo durante um golpe contra o presidente soviético Mikhail Gorbachov. Eles foram instruídos a capturar o presidente da Federação Russa Boris Yeltsin - ou matá-lo, caso parecesse que ele poderia escapar.
Vinte comandos do Grupo Alfa recusaram a ordem, adiando a missão por tempo suficiente para o golpe entrar em colapso.
Operadores do Grupo Alfa durante o cerco ao parlamento russo, em agosto de 1991. |
Mais recentemente, a unidade de contraterrorismo esteve envolvida no fim da crise dos reféns na escola de Beslan, na Ossétia do Norte, em 2004. Durante a batalha entre o Grupo Alfa e dezenas de terroristas, 330 pessoas morreram, incluindo 186 crianças.
Os comandos do Grupo Alfa foram criticados pelo uso imprudente de força excessiva em Beslan, observa Glenn Peter Hastedt em Spies, Wiretaps and Secret Operations. O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu seus operadores especiais, dizendo que eles não planejavam invadir a escola e o fizeram apenas depois de relatos de que os terroristas começaram a executar as crianças do lado de dentro.
Também houve relatos do Grupo Alfa lutando na guerra civil na Ucrânia.
Texto postado no Special Ops Magazine pelo membro Eric SOF, ele foi inicialmente postado por Darien Cavanaugh no site War is Boring em 2016.
Pelos relatos não se trata de uma unidade especial com grande eficiência em suas operações,mas sim de um bando de assassinos covardes que se igualam aos terroristas que dizem combater.O relato do assalto ao palácio presidencial do Afeganistão acima comprova isso.
ResponderExcluiruma pergunta como vc iria tratar com terroristas?
ExcluirDepois de ler essa reportagem minha única tristeza é nunca poder participar dessa força 😕
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