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sexta-feira, 18 de junho de 2021

FOTO: Legionários alpinistas

Legionários da companhia de montanha com fuzis FAMAS nos Alpes franceses, anos 1980.
A 2ª companhia do 2e REP, especializada em combate de montanha e alpinismo.

Após a guerra da Argélia, o 2e REP permaneceu como o único regimento paraquedista da Legião. O 2e REP então se reformou como um regimento pára-comando com as companhias possuindo uma especialização cada uma, seguindo o estilo do SAS britânico. A 2e Cie, companhia de lenço vermelho, é especializada em guerra de montanha.

Deslocar-se, morar e lutar a 3.000 metros de altitude, ou em frio extremo é uma das especializações dos legionários da 2ª Companhia, "Compagnie de Montagne".

Treinamento de alpinismo em Calvi, na Córsega, anos 80.
O legionário tem um fuzil sniper FR F1.

Bibliografia recomendada:

French Foreign Legion Paratroops,
Martin Windrow & Wayne Braby, Kevin Lyles.



GALERIA: Mulas ou Blindados?12 de abril de 2021.


FOTO: Comandos camuflados no inverno21 de setembro de 2020.


quinta-feira, 13 de maio de 2021

LIVRO: Edelweiss, o 4º Regimento de Caçadores, dos Alpes ao Saara


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 13 de maio de 2021.

O livro Edelweiss, le 4e Régiment de chasseurs, des Alpes au Sahara (“Edelweiss, o 4º Regimento de Caçadores, dos Alpes ao Saara”) foi apresentado no sábado, 8 de maio de 2021, no centro cultural de Gap, no departamento dos Altos Alpes (Hautes-Alpes). Um público de leitores veio conhecer o Coronel Nicolas de Chilly, comandante do regimento, e o Capitão Éloi Panel, coautor do livro, para um sessão de autógrafos.

O 4º regimento de caçadores (4e Régiment de Chasseurs, 4e RCh) é uma unidade de cavalaria blindada do exército francês. O antigo regimento de cavalaria traça linhagem desde o Ancien Régime, e é hoje o único regimento de cavalaria blindada da 27ª Brigada de Infantaria de Montanha (27e Brigade d'Infanterie de Montagne, 27e BIM). Está estabelecido em Gap, nos Hautes-Alpes, desde 1983 no quartel General Guillaume.

O Coronel Nicolas de Chilly, comandante do 4e RCh (à esquerda) e o Capitão Éloi Panel, o autor, em contato com o público durante o lançamento nas livrarias, 8 de maio de 2021.

Um livro para descobrir o 4º Regimento de Caçadores: Quando chegou à testa do 4º RCh há quase dois anos, o Coronel Nicolas de Chilly percebeu que havia um vazio e que faltava um objeto para contar o que era o 4º Regimento de Caçadores de Gap. Esta convicção só foi reforçada quando o comandante do corpo recebeu com grande emoção as muitas homenagens dos cidadãos haut-alpins, quando quatro soldados do regimento perderam a vida no Mali em 2019.

A aposta valeu e vindicou os autores porque o público correu para a sessão de autógrafos do livro para a maior satisfação do patrono dos caçadores blindados. "Recebemos muitos testemunhos calorosos e amigáveis", comentou o Coronel de Chilly após três horas e meia de assinaturas. Ele acrescentou, feliz que se tratou de "um grande sucesso com um público muito eclético", com franceses e estrangeiros vindo muito além do departamento halt-alpin, "tínhamos leitores de Lyon na ocasião”.



Parece que a escolha de uma retrospectiva contemporânea dos últimos 15 anos de envolvimento do 4º RCh, contada em imagens e pontuada por testemunhos autênticos, tem conquistado o público.

“Acho que há uma curiosidade real em conhecer melhor os soldados do Regimento no dia-a-dia e em suas muitas missões”, explicou o comandante do regimento. “Temos muitos rostos que às vezes sofrem ou sorriem neste livro, mas isso atesta o que vivemos no dia-a-dia.”

Mais de cinquenta exemplares do livro foram vendidos em uma tarde. Um sucesso que sugere uma provável reimpressão do livro.

O edelvais: a flor que resiste a todas as tempestades

Com o nome de uma flor que se tornou um símbolo de força e característico das tropas alpinas europeias e também um pedacinho dos Hautes Alpes levados por soldados quando se alistam e servem no exterior, este livro já faz grande sucesso antes mesmo de chegar às livrarias. Com 1.500 exemplares editados, 2/3 já foram pré-encomendados na internet, o que muito provavelmente implica uma reedição. Uma reedição, cujos benefícios financeiros reverterão diretamente para a associação "Entraide Montagne" (Ajuda Mútua de Montanha) que presta assistência moral, material e jurídica em caso de sinistro relacionado com o exercício da profissão.

O livro é em capa-dura com fotografias de altíssima qualidade, contando 192 páginas.

“Temos muitos rostos que às vezes sofrem ou sorriem neste livro, mas isso atesta o que vivemos no dia-a-dia.”
- Coronel Nicolas de Chilly.

Dos Alpes ao Saara

A história moderna do 4e RCh vai das duas guerras mundiais à Indochina e Argélia. Tornou-se o 27º Regimento de Reconhecimento da Brigada Alpina em 1963, ao regressar do Norte de África, quando se juntou à guarnição de La Valbonne (Quartier Maréchal des Logis de Langlade). Em 1983, o 4º Regimento de Caçadores mudou-se para Gap em um novo quartel que recebeu o nome de “Quartier Général Guillaume”. Na época, era equipado com cinquenta carros blindados AML-60 (morteiro) e AML-90 (canhão).

Entrega da fourragère da Croix de Guerre 1914-1918 a um jovem caçador do 4e RCh.

O regimento participa das seguintes operações em várias operações recentes do exército francês. Foi destacado no Kosovo com a Operação Trident, no BIMECA de 8 de outubro de 2001 a fevereiro de 2002, depois na BATFRA de 10 de outubro de 2005 a fevereiro de 2006. Também participou na Operação Épervier (Chade), desdobrada de fevereiro de 1999 a junho de 1999, então de junho de 2000 a outubro de 2000, de fevereiro de 2003 a junho de 2003, de outubro de 2005 a fevereiro de 2006, de junho de 2008 a outubro de 2008 e finalmente de junho de 2012 a outubro de 2012. Ele também participa da Operação Pamir, no Afeganistão, com os seguintes desdobramentos:
  • BATFRA - N2 de maio de 2002 a agosto de 2002;
  • BATFRA - N8 de maio de 2004 a agosto de 2004;
  • BATFRA - N17 de outubro de 2007 a janeiro de 2008.
Grupo Tático Interarmas de Kapisa (Groupement tactique interarmes de Kapisa):
  • TF-Black Rock de dezembro de 2009 a junho de 2010
De 14 a 23 de março de 2009, o regimento participou da Batalha do Alasai, na região de Kapisa.
  • TF-Allobroges de junho de 2010 a dezembro de 2010
  • BG-TIGER de novembro de 2011 a maio de 2012.
Soldados do 4º RCh no Vale do Alasai, no Afeganistão, em 20 de abril de 2009. Em primeiro plano há um AMX-10 RC, em segundo viaturas VAB e um VBL.

O regimento foi enviado duas vezes para a Operação Licorne (Costa do Marfim), com o contingente Licorne de 8 de março de 2005 a junho de 2005 e depois Licorne de 27 de outubro de 2011 a abril de 2012. O 4e fez parte do 15º mandato das forças francesas desdobradas na Croácia e Bósnia (IFOR/SFOR), de outubro de 2001 a fevereiro de 2002.

Os caçadores também lutaram na República Centro-Africana (Operação Sangaris) de 2014 e 2015. De 4 a 6 de agosto de 2014, o 4e RCh participou da Batalha de Batangafo onde se destacou durante três dias de confronto com uma incursão de 700km. O regimento foi envolvido com a Operação Barkhane (Mali e Níger) em 2014, 2016, 2017 e 2019. De 7 a 19 de junho de 2019, ele participou da operação de grande escala Aconite no Mali.

Em 25 de novembro de 2019, ao sul de In Delimane (nordeste do Mali), durante uma operação noturna antiterrorismo, dois helicópteros colidiram durante uma operação do Grupamento de Comandos de Montanha (Groupement de commandos de montagne). Todas as tripulações morreram durante o acidente. Seis membros dos GCM são identificados entre as vítimas, incluindo quatro do 4º RCh.

Carros AMX-10 RC em manobras em Gap.

O único regimento de cavalaria blindado da 27ª Brigada de Infantaria de Montanha, o 4º Regimento de Chasseurs é a única unidade de cavalaria de montanha do Exército francês. Essa dupla especificidade o predispõe a lutar com seus equipamentos principais em condições climáticas adversas e em terrenos íngremes.

Atua fornecendo informações com movimentos rápidos e combatendo com fogos poderosos.

Tiro de AMX-10 RC em montanhas de inverno.

Capaz de usar canhões de 105mm e 20mm, bem como mísseis de médio alcance (missiles moyenne portée, MMP), o regimento é capaz de neutralizar todos os tipos de ameaças encontradas em operações externas.

O 4e RCh fornece o grupo de transporte e de apoio blindado de montanha ao Grupamento de Comandos de Montanha. O lema do regimento é "Toujours prêt, toujours volontaire" ("Sempre pronto, sempre voluntario").

Toujours prêt, toujours volontaire.

Bibliografia recomendada:

TANKS:
100 years of evolution.
Richard Ogorkiewiez.

Leitura recomendada:


GALERIA: Mulas ou Blindados?12 de abril de 2021.


O Estilo de Guerra Francês, 12 de janeiro de 2020.


FOTO: Comandos camuflados no inverno21 de setembro de 2020.


terça-feira, 4 de maio de 2021

FOTO: M4 Sherman no terreno acidentado italiano

M4 Sherman americano encalhado no matagal próximo a Miturno, na Itália, maio de 1944. (Revista LIFE)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 4 de maio de 2021.

O M4 Sherman americano, em seus vários modelos, entrou em combate em todos os tipos de terreno e em todos os continentes habitados - durante e depois da Segunda Guerra Mundial - e o terreno acidentado da Itália se provou um obstáculo formidável, mas que foi superado pela engenharia automobilística americana. Apesar das limitações do solo italiano, o Sherman continuou apoiando a infantaria aliada multinacional de 1943 a 1945 até a vitória final na Ofensiva de Primavera.

No caso específico da Itália, o Sherman era querido pelas suas tripulações e elogiado por sua resistência e autonomia, além do seu perfil alto facilitando a visão no terreno montanhoso da Itália.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:




sábado, 7 de novembro de 2020

Chefe do estado-maior indiano não descarta "conflito maior" com a China sobre Ladakh

Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex 360, 7 de novembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 7 de novembro de 2020.

Na região montanhosa de Ladakh, considerada estratégica e atravessada pela Linha de Controle Real (Line of Actual ControlLAC), cuja rota é objeto de uma disputa entre Nova Délhi e Pequim, forças indianas e chinesas se enfrentam desde o mês de maio, ainda mais num ambiente que não é dos mais hospitaleiros. Nos últimos meses, os dois países intensificaram a construção de infraestrutura ali, contribuindo para a situação atual, cada um acusando o outro de buscar melhorar o fluxo de tropas na fronteira.

Assim, tudo começou com uma incursão de 250 soldados chineses na área do lago Pangong Tso, parte do Ladakh indiano reivindicado por Pequim.

Este face-a-face degenerou de fato em junho, no vale de Galwan, com confrontos violentos que resultaram em cerca de quarenta mortes entre soldados indianos (e, sem dúvida, cerca de trinta no lado chinês, sem Pequim ter feito uma avaliação oficial).

Desde então, enquanto cada campo fortalece suas posições, o Exército de Libertação do Povo (PLA) tem estado particularmente ativo. Na verdade, foi relatado que desdobrou equipamento militar recente lá, como o tanque leve Tipo 15 que entrou em serviço em 2018, estabeleceu novas bases aéreas e enviou para Kashgar bombardeiros estratégicos H6 com mísseis de cruzeiro KD-63, suscetíveis de ameaçar os principais centros de decisão indianos.

Ao mesmo tempo, as negociações diplomáticas com o objetivo de acabar com essas tensões estão falhando uma após a outra, com Nova Délhi pedindo um retorno às posições pré-crise. Uma nova reunião - a oitava - ocorreu no dia 6 de novembro de 2020, em Chushul, localidade do distrito de Leh, capital de Ladakh.

No entanto, no mesmo dia, o General Bipin Rawat, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Indianas, descreveu a situação em Ladakh como ainda tensa e que o Exército de Libertação do Povo enfrenta "as consequências imprevistas" da sua "desventura" em Ladakh, que lhe valeu a "resposta firme das forças de defesa indianas". Ele insistiu: "Nossa postura é ambígua: não aceitaremos nenhuma alteração na LAC".

Mas o General Rawat foi ainda mais longe. Embora, disse ele, a "perspectiva de um conflito em grande escala seja improvável", em contraste, confrontos de fronteira, violações da LAC e ações militares táticas "não provocadas" (entenda-se: manobras e movimentos de tropas) provavelmente "se transformarão em um conflito maior". Em todo caso, esse risco não pode ser descartado, insistiu ele durante um evento online organizado pelo National Defense College (Escola Superior de Defesa Nacional).

Tal desenvolvimento poderia resultar em combates em outros pontos da fronteira sino-indiana, como no planalto de Doklam, também objeto de uma disputa entre os dois países, e onde suas respectivas forças se encararam face-a-face tenso em 2017. Isso também pode significar ações em outras áreas de conflito, como o ciberespaço ou espaço, ou mesmo no campo econômico.

Como um lembrete, Índia e China são duas potências nucleares com uma doutrina "sem empregar primeiro". Além disso, Pequim é um aliado próximo de Islamabad, o que pode ter consequências caso a situação em Ladakh piore ainda mais.

Enquanto isso, o general Rawat também enfatizou a necessidade da Índia se tornar auto-suficiente em suprimentos militares (atmanirbhar). “Conforme a Índia se afirma, os desafios de segurança aumentarão proporcionalmente. Devemos nos afastar da constante ameaça de sanções ou da dependência de outras nações para nossas necessidades militares e investir nas capacidades nacionais [...] para ter independência estratégica e poder militar decisivo para responder aos desafios atuais e emergentes”, disse ele.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:





O T-14 Armata para a Índia?, 13 de setembro de 2020.

Exército indiano comprará mais 72.000 fuzis de assalto SIG 716 dos EUA, 6 de novembro de 2020.


sábado, 31 de outubro de 2020

FOTO: Tropas de montanha testando o HK G11

Gebirgsjäger (Caçadores de Montanha) alemães testando o HK G11.
O Heckler & Koch G11 foi testado nas década de 1970 e 1980, mas acabou abandonado. 

Vídeo recomendado:


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terça-feira, 27 de outubro de 2020

Entre Tradição e Evolução: Caçadores Alpinos usando mulas no combate de montanha no século XXI


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 4 de setembro de 2020.

Em retorno aos valores tradicionais e ao estilo rústico para ganhar em liberdade de ação. Libertando-se da restrição do terreno íngreme e sem usar meios pesados, tais como caminhões ou helicópteros, os caçadores do 7e BCA (7e bataillon de chasseurs alpins, 7º Batalhão de Caçadores Alpinos) se mantêm nas alturas com mulas de carga, em 4 de setembro de 2020.

Em 1975, as mulas desapareceram definitivamente dos efetivos do exército francês. Esses animais, famosos por sua robustez, prestaram serviços inestimáveis às tropas francesas por mais de um século. Eles participaram nas campanhas de colonização, nas duas guerras mundiais e depois na descolonização e conheceram seu último uso operacional durante a Guerra da Argélia. 

Em terrenos difíceis, forneciam parte importante do transporte logístico, permitiam a evacuação de inúmeros feridos e serviam de montaria para a infantaria. As unidades com esses animais deram a eles um lugar de destaque em suas insígnias tradicionais ou por meio de seu lema, ou por meio do humor que sempre esteve presente.


Insígnias: parte do imaginário coletivo

Quando as tropas alpinas foram criadas na Europa entre 1870 e 1890, a mula foi naturalmente necessária para armar o trem regimental dos recém-formados batalhões de caçadores alpinos. Os caçadores tiveram a oportunidade de se familiarizar com o animal durante a conquista do Norte da África. Cada companhia, portanto, tinha uma dotação de 7 mulas. Surpreendentemente, no entanto, o animal deixou algumas marcas nas insígnias dos caçadores alpinos. De fato, o 86º Batalhão é o único a usar a mula como figura simbólica de sua insígnia, que existe em duas versões: esmaltada e não-esmaltada. Observe que a mula está aqui equipada com seu pacote de carga.


No âmbito do desenvolvimento das tropas de montanha, as peças de artilharia são especialmente desenvolvidas e concebidas para serem transportadas no dorso de mulas em cargas diversas ou, para as mais pesadas, rebocadas por mulas. O canhão 65 é frequentemente apresentado com o tubo na posição de transporte nas costas de uma mula. As unidades de artilharia de montanha ou do Exército da África dotados dum grupo de montanha são mais "gratos" ao animal por dar-lhes uma parte importante no seu simbolismo regimental.

Essas insígnias de artilharia também costumam ser muito bem-sucedidas tanto visualmente quanto do ponto de vista de realização, por exemplo aquelas dos 56º, 93º, II/96º, 385º regimentos de artilharia e do 2º Grupo do Regimento de Artilharia Colonial do Levante que combinava a mula, o canhão e uma paisagem montanhosa. Hoje, a 3ª Bateria do 93º Regimento de Artilharia perpetua hoje a memória das mulas através da sua insígnia fortemente inspirada na antiga insígnia regimental.


Já na Primeira Guerra Mundial, o trem montou companhias independentes de mulas responsáveis pelo abastecimento nos Vosges e na Frente Oriental. O trem também trará pequenos burros do Norte da África para a França continental, para que possam se mover pelas trincheiras a salvo de tiros. Encontramos a insígnia de uma dessas companhias de carregadores de burros através de um artigo do boletim dos exércitos da República. 

As companhias de mulas criadas posteriormente, por sua vez, adquirem emblemas que, dada a sua especialidade, utilizam a mula no trabalho equipada com a sua mochila. Estas companhias também optam por divisas alinhadas com a sua ocupação central, tais como: "bien faire laisser braire" ("deixe que zurrem"), "o 157º passa por tudo", "menos que um cavalo, mais que um burro", ou ainda usando o lema de Nicolas Fouquet "Quo non ascendam".

142e Compagnie de Muletières Alpines, "Quo non ascendam". 

Algumas unidades do serviço de saúde destinadas a divisões alpinas ou companhias de mulas de coleta sanitária também foram abastecidas com esses animais. Estes são então usados para o transporte de equipamentos sanitários ou para a evacuação de feridos usando macas dobráveis ou cacolets (assentos de metal) fixados à estrutura da cangalha do animal. 

Com fama de difícil por natureza (leva vários meses para educar uma mula contra algumas semanas para um cavalo), o simbolismo militar não deixou de sublinhar essa característica da mula e as expressões da língua francesa que dela decorrem. Assim, o emblema do Grupo Sanitário Divisionário 86 (1940) ou da 30ª Divisão de Infantaria (1956) ilustra o coice da mula. Enquanto a 15ª Companhia de Mulas obviamente escolheu ilustrar a expressão "tourner en bourrique" ("sair correndo por aí como um burrico") com a insígnia mostrando o muleteiro envergonhado e a sua mula dando risada.


O grupo veterinário 541 de Tarbes será a última unidade não só a ser equipada com mulas operacionais, mas também a tê-las figurando em sua insígnia. Esta lembra as campanhas de libertação e o sofrimento compartilhado dos homens e seus fiéis animais de carga. No entanto, até 2014, o exército francês contava apenas com uma única mula em suas fileiras. Na verdade, "Bistouille", uma mula aposentada das tropas de montanha alemãs, era o mascote do 110º Regimento de Infantaria - agora dissolvido.

Uso operacional: do deserto à montanha

Atiradores argelinos (tirailleurs algériens) do Corpo Expedicionário Francês conduzindo duas mulas no terreno montanhoso da Itália, em 1944.

As primeiras unidades montadas em mulas do exército francês foram provavelmente os dois batalhões de infantaria de tirailleurs algériens do Coronel Yusuf em julho de 1843, quando a smala (bando armado vivendo em tendas) do famoso rebelde muçulmano Abd El-Kader foi capturada, encerrando a primeira fase de resistência anti-colonial indígena contra os franceses no que se tornaria a Argélia. Mas isso não teve consequências e as unidades foram vistas apenas como uma improvisação temporária, sendo dissolvidas.

Durante a fase final da Intervenção no México, o Regimento Estrangeiro organizou-se em uma força de armas combinadas para apoiar a retirada progressiva em direção ao porto de Veracruz. Uma companhia montada de infantaria com mulas foi formada no início de 1866 e serviu como unidade móvel contra-guerrilha até ser dissolvida quando da evacuação final em 27 de fevereiro de 1867.

La Montée

A utilização moderna e consistente de mulas pelos franceses se inicia quando o Coronel Oscar de Négrier assume o comando da Legião Estrangeira em julho 1881. Este duro e energético oficial comandou por apenas dois anos mas revigorou a Legião de diversas formas, sendo responsável por muito do mito e tradições que permanecem até hoje. Em outubro e novembro de 1881, de Négrier liderou os 1º e 2º batalhões estrangeiros contra os Ahmours - uma tribo marroquina que cruzou a fronteira na Argélia - e os Ouled Selim. Combates violentos foram travados nas montanhas de Beni-Smir e Mir-Djébel. Em dezembro outra coluna foi formada com zuavos, tirailleurs e os 3º e 4º batalhões da Legião. Esta coluna incorporou pela primeira vez um novo tipo de unidade que não apenas tornar-se-ia intimamente ligada com a identidade da Legião, mas que também daria maior poder de fogo e mobilidade às expedições francesas na África. Em cada um dos três regimentos da coluna foi colocada uma companhia suprida de mulas, chamada de "compagnie montée" (companhia montada).

O General de Négrier, pioneiro do uso moderno de mulas no campo militar.

De Négrier revisara a ordem de marcha das suas tropas visando a problemática de forçar os ágeis cavaleiros árabes a combaterem os franceses. O sistema de guerra árabe na região consistia em incursões rápidas contra alvos isolados ou frágeis, como postos de fronteira ou tribos aliadas aos franceses, causar destruição, saquear os espólios e retroceder antes que o adversário pudesse reagir. A infantaria e artilharia francesas eram modernas e possuíam poder de fogo considerável, mas eram muito lentas para alcançar os cavaleiros levemente equipados. A cavalaria francesa colonial era rápida o suficiente mas carecia da resistência e poder de fogo para lutar isolada do apoio dos fuzis emassados da infantaria. As companhias montadas forneciam uma força de ação rápida capaz de navegar longas distâncias com material pesado o suficiente para fazer frente aos guerrilheiros árabes e fixá-los no lugar até a chegada da infantaria. Já em 14 de dezembro de 1881, 50 legionários montados em mulas cobriram quase 160km em 48 horas e atacando de surpresa o campo do chefe rebelde Si Sliman, um dos principais aliados do líder Abu Amama, capturaram todo o seu rebanho.

Apesar da vitória, foi uma péssima ideia dar a cada homem uma mula. Durante uma ação de retaguarda contra cavaleiros árabes, uma unidade de legionários tentou enfrentá-los montados em suas mulas como se fossem cavalos - foi um desastre. Os 50 homens foram mortos e mutilados pelos incursores árabes. Isto levou de Négrier a seguir o exemplo do Major Marmet, comandante do 2e RTA (2e Régiment de Tirailleurs Algériens), e reduziu o número de mulas pela metade, com os soldados se alternando na sela à cada hora. Isso martelava incessantemente na cabeça dos soldados que eles eram infantaria e deveriam lutar como tal. Além disso, uma vantagem acidental foi que apenas 1 homem em 8 era imobilizado como segurador de mula durante o combate.

Binômio da companhia montada. Os dois soldados iam trocando de lugar a cada uma hora. (Museu da Legião Estrangeira)

As tropas coloniais usavam mulas, cavalos e camelos de forma complementar, mas as companhias montadas acabaram se tornando companhias de elite, sendo a unidade de intervenção por excelência. A mula viaja a uma velocidade próxima àquela de um homem, ou seja, a uma velocidade média entre 5-6km/h. A mula também é forte o bastante para carregar a bagagem de dois homens e bem adequada para a “terra de sede” do bléd saariano. Além disso, a mula se alimenta de 3kg de cevada por dia, contra os 5kg necessários para o cavalo. O camelo também é muito forte e adequado para regiões quentes e arenosas, mas em comparação com a mula, não é utilizável nas cordilheiros dos djébels norte-africanos. A companhia montada geralmente podia marchar de 10 a 15 horas por dia, cobrindo 40-50km. Em caso de emergência, os homens com suas mulas podiam manter uma marcha diária de 70 a 80km por vários dias.

Em 1884, as companhias montadas tornaram-se uma especialidade da Legião, com as companhias de zuavos e tirailleurs sendo dissolvidas. As companhias montadas eram buscadas por legionários mais audazes, em busca de aventura e glória, da mesma forma que soldados modernos se voluntariam para unidades paraquedistas. O ritmo de operações nas muitas "La Montée" era tão intenso que os homens só podiam servir até 2 anos em uma companhia montada, tamanho o peso sobre a sua saúde.

Companhia montada em marcha e em combate. Os seguradores de mulas eram escolhidos entre os mais veteranos, se encarregando de 4 bestas cada um. Segurar mulas agitadas com o movimento, barulho e apreensão de perigo era uma tarefa que exigia auto-controle e força física.

De Négrier chamava sua infantaria muleteira de "groupe légère" (grupo ligeiro) embora fosse o dobro do tamanho de um grupo. A definição do exército francês no período para as subunidades de infantaria era:
  • Compagnie (companhia), cerca de 200 homens liderados por um capitão e dois subalternos.
  • Peloton (meia-companhia), cerca de 100 homens comandados por um subalterno.
  • Section (pelotão), cerca de 50 homens comandados por um ajudante.
  • Groupe (grupo), cerca de 25 comandados por um sargento.
  • Demi-groupe (meio-grupo), cerca de 12 homens comandados por um cabo.
Os legionários eram escolhidos entre os voluntários mais robustos, com a força sendo aumentada para 215 homens, 120 mulas e 3 cavalos. Os oficiais iam a cavalo; os ajudantes (subtenentes) tinham uma mula individual enquanto o resto da companhia dobrava ao comando de "Changez, montez!". O mais veterano do binômio era responsável pelo cuidado com a mula.

Até hoje, o 2e REI (2e Régiment Étranger d'Infanterie/ 2º Regimento Estrangeiro de Infantaria) tem uma ferradura no seu distintivo em homenagem às companhias montadas.

Enquanto isso, na metrópole...

Antigo cartão postal mostrando dois Chasseurs Alpins, "Équipage Muletier".

Na Europa, os italianos decidiram criar unidades alpinas em 1872 para o controle de fronteiras com a França e a Áustria-Hungria. Em 1888, os Alpini italianos equiparam cada companhia com 8 mulas, fuzis modernos de repetição Vetterli-Vitali mod. 70/87 e canhões leves de artilharia de montanha. Temendo uma invasão italiana pelos Alpes, os franceses criaram 12 batalhões de chasseurs alpins (caçadores alpinos) e 12 baterias alpinas formando setores de defesa ao longo da fronteira italiana, pela lei de 24 de dezembro de 1888. Os artilheiros operavam os canhões de Bange 80mm modèle 1877.

Em 1º de abril de 1910, as baterias alpinas de Grenoble e Nice formaram respectivamente os 1º e 2º regimentos de artilharia de montanha (Régiment d'Artillerie de Montange, RAM), equipados com os canhões de 65mm Schneider modèle 1906 de dorso. Este canhão de tiro rápido era transportável em quatro fardos, pesando 400kg e com alcance de 5.000m. Os artilheiros de montanhas serviram-se do Schneider 1906 por 40 anos, equipando vários RAM que lutaram nas Primeira Guerra Mundial nos Vosgues, Champanha, Verdun, na Itália (inclusive em função anti-aérea); mas seu valor foi realmente comprovado na frente oriental de Salônica.

Canhão Scheinder-Ducrest 65mm modèle 1906 em bateria.

O Armée d'Orient francês usou o Mle 1906 contra as forças das Potências Centrais nas montanhas da Macedônia, com 72 canhões Mle 1906 durante o rompimento aliado da cabeça-de-ponte de Salônica em 15-29 de setembro de 1918. O sucesso inicial desta ofensiva aliada levou a Bulgária a capitular em 9 de outubro de 1918, mais tarde em outubro de 1918 a Sérvia foi libertada e, finalmente, a Áustria-Hungria capitulou em novembro de 1918, quando confrontada simultaneamente com a invasão das forças italianas vindas do Isonzo.

Isto não terminou a carreira do Schneider 65mm, canhão símbolo das tropas de montanha na Grande Guerra, tendo sido usado ainda nas colônias, como na Guerra do Rif (guerra esta retratada no filme "Legionário" de 1998, estrelando Jean-Claude Van Damme) com o 93e RAM e na Batalha da França em 1940. Seus últimos tiros com o exército francês foram feitos durante a libertação da França em 1945. Eles ainda seriam usados por Israel na sua guerra de independência em 1948-49, com o apelido de Napoleonchik.

Muares ao lado de blindados

Em um campo de tiro ao redor de Tananarive (hoje Antananarivo), tirailleurs do 1e RTM (1er Régiment de Tirailleurs Malgaches/ 1º Regimento de Tirailleurs Malgaxes) descarregam as mulas carregando os canhões e munições da 3ª bateria do 7e RAC (7e Régiment d’Artillerie Coloniale), Madagascar, 1907-09.

As operações do Entre-Guerras são majoritariamente operações coloniais no Levante (Síria e Líbano), Marrocos, Argélia e Soud-Oranais. O fraco calibre dos obuses de 65mm leva à adoção do Schneider modèle 1919, fabricado em dois calibres: 75mm desmontável em sete fardos, e em 105mm desmontável em oito fardos. A adição de um escudo em frente ao canhão permite proteger os artilheiros dos tiros diretos da infantaria e dos projéteis do campo de batalha.

O fogo de obuses de alto explosivo, combinado com a possibilidade de adaptação das cargas contidas nos invólucros e cartuchos, responde ao desafio de fogo de barragem com precisão em terrenos íngremes, fortemente escarpados. Por outro lado, o peso da arma (660 a 750kg) e da munição a ser transportada, limitam a produção e o uso dessas armas, especialmente o 105. Essas duas armas, modernizadas em 1928, tiveram uma curta carreira operacional. Elas são notavelmente empregadas na frente dos Alpes, enfrentando a Itália em junho de 1940 e enfrentando os alemães durante a Batalha de Voreppe, onde dois canhões de 75 da section do Tenente Régnier do Centro de Organização da Artilharia de Montanha e de Posição (Centre d'Organisation de l'Artillerie de Montagne et de Position, COAMP) de Grenoble, contribuíram para repelir as tentativas alemãs de penetrar na vila.

Embarque de uma mula do CEFS (Corps expéditionnaire français en Scandinavie/ Corpo Expedicionário Francês na Escandinávia) no porto de Brest, com destino à Noruega, 28 de abril de 1940.

Em 1923, o Exército Brasileiro encomendou vários canhões Schneider mle 1919 75mm de montanha, que foram entregues em 1925. Pelo menos 3 deles estão agora em exibição no Museu do Forte de Copacabana no Rio de Janeiro, Brasil.

No período confuso pós-armistício, a França se viu com duas forças combatentes: as de Vichy, do governo colaboracionista reconhecido internacionalmente, e as Forças Francesas Livres do general rebelde Charles de Gaulle, que não tinham reconhecimento internacional e basicamente tiveram que se erguer do zero. Tragicamente, estas duas forças cruzariam espadas em uma luta fratricida no mandato do Levante (Síria e Líbano) em 1941, enfrentando o terreno montanhoso e desértico durante a invasão britânica partindo do Mandato da Palestina e do reino do Iraque. O famoso "Canhão de Kufra", o único canhão disponível para tomar a formidável fortaleza italiana de Kufra, na Líbia, foi um 75mm de montanha.

Os canhões de montanha foram importantes no terreno escarpado da Tunísia, com a precisão da artilharia francesa sendo notada por aliados e inimigos, apesar da idade das peças. O Exército Francês Livre conseguiu acesso a material militar americano, o que incluiu uma motorização impressionante com jipes, caminhões e blindados - incluindo obuseiros auto-propulsados. Mas mesmo assim, a necessidade de transpor terrenos acidentados ditou a manutenção de ativos arcaicos: os muares.

Artilheiros do 67e RA (regimento de artilharia) lidando com uma mula brava carregando um canhão de dorso 65mm modelo 1906. O 67e estava combatendo na batalha do maciço de Ousseltia, na Tunísia, em abril de 1943.

Um grupo de tirailleurs conduz um grupo de mulas para a linha de frente no setor de Maktar, na Tunísia, em março de 1943.

O primeiro passo na libertação da Europa Ocidental foi a invasão da Itália, com terreno de montanha abundante, onde os muares, canhões e tropas de montanha mostraram o seu verdadeiro potência: a habilidade das tropas de montanha francesas foi essencial para romper o dispositivo inimigo e abrir o caminho para Roma. 

O terreno italiano era freqüentemente escarpado.

Coluna automotiva francesa "Made in USA" negociando uma estrada italiana.

Tirailleurs argelinos passam por uma coluna mecanizada alemã capturada. O blindado à frente é uma peça de assalto italiana Semovente da 75/18, designada StuG M42 mit 7,5 KwK L 18(850)(i) em serviço alemão.

Muares sendo usados como trem logístico foi algo essencial para o abastecimento de ambos os lados na campanha da Itália.

Sobre a manobra de montanha francesa desbordando o bastião do Eixo no Monte Cassino, escreveu o General Mark Clark, comandante do 5º Exército Americano:

"Entrementes, as forças francesas, transpondo o [rio] Garigliano, haviam-se deslocado para norte, penetrando o terreno montanhoso que jazia ao sul do rio Liri. Não foi fácil. Como sempre, os veteranos alemães reagiram fortemente e houve luta encarniçada. Os franceses surpreenderam o inimigo e capturaram sem demora áreas-chave como os Montes Faito e Cerasola e as alturas vizinhas de Castelforte. A 1ª Divisão Motorizada [Francesa Livre] ajudou a 2ª Divisão Marroquina a tomar o ponto capital de Monte Girofano e, a seguir, avançou rapidamente para o norte até S. Apollinare e S. Ambrogio. A despeito da renitente resistência inimiga, a 2ª Divisão Marroquina penetrou na Linha Gustav em menos de dois dias de combate.

As próximas quarenta e oito horas na frente francesa foram decisivas. Os Goumiers [tropas de montanha marroquinos], manejando destramente a arma branca, esparramaram-se nas montanhas, particularmente à noite, e toda a tropa do General Juin mostrou uma agressividade hora após hora que os alemães não puderam agüentar. Cerasola, San Giorgino, Mt. D'Oro, Ausonia e Esperia foram conquistados num dos mais brilhantes e audaciosos avanços da guerra na Itália, e no dia 16 de maio [de 1944] o Corpo Expedicionário Francês havia jogado seu flanco esquerdo a umas dez milhas para a frente, até Monte Revole, enquanto se verificava um reentrante no resto da linha de contato, para de algum modo ser mantida a ligação com o Oitavo Exército Britânico.

Somente o mais cuidadoso preparo e uma extrema resolução tornaram possível o ataque, mas Juin era desse tipo de combatente. Transporte logístico à base de mulas, peritos em guerra de montanha e homens com energia bastante para realizar marchas noturnas demoradas em terreno traiçoeiro, eis o que foi necessário ao sucesso naquelas escarpas praticamente inexpugnáveis. Os franceses patentearam tudo isso no seu sensacional avanço, que o General-de-Exército Siegfried Westphal, chefe do estado-maior do Kesselring, descreveria depois como uma surpresa completa, tanto em termos de rapidez, quanto em agressividade. Por essa realização, que haveria de constituir a chave do sucesso para a arremetida inteira sobre Roma, serei sempre um admirador agradecido do General Juin e de seu magnífico CEF."

- General Mark Clark, Risco Calculado, 1950 (1970 em português), pg. 360 e 362.

Sherman da 3e DIA (3e Division d'Infanterie Algérienne/ 3ª Divisão de Infantaria Argelina) fazendo fogo contra posições inimigas no setor de Acquafondata, Itália, janeiro de 1944.

Os Corpo Expedicionário Francês foi retirado da Itália para desembarcar no sul da França, avançando pela Provença até a fronteira norte italiana, inclusive realizando junção com a Força Expedicionária Brasileira vindo do Vale do Pó.

A fase final da guerra na Europa viu combates na segunda maior elevação da Europa, ocorridos de fevereiro a maio de 1945 à 3.600 metros de altitude, viram os artilheiros do 93e RAM, sob as ordens do Capitão Lapra, destruírem posições alemãs no setor da cota do Midi, no maciço do Mont Blanc, com os canhões 75mm de montanha Schneider.

Um soldado da 1er DFL (Division Française Libre/ Divisão Livre Francesa) entra na Itália através da passagem da Lombardia, março-maio de 1945.

O novo e o velho: um comboio automotivo da 1er DFL cruza com uma coluna de mulas do Royal Brel Corps britânico na estrada Isola-Vinadio, na Lombardia, em direção à Itália, março-maio de 1945.

Epílogo

Tropas de muares ainda seriam usadas na Indochina, Madagascar e Argélia, atuando em paralelo com as novas forças mecanizadas, paraquedistas e de helitransportadas, mas seriam dissolvidas após a paz de Évian. O exército francês estava se modernizando para uma nova ameaça e seria reformado na década de 1960 para enfrentar a União Soviética, que era um leviatã nuclear mecanizado que, em teoria, irromperia com uma quantidade aterrorizante de blindados pelo Passo de Fulda, fazendo uma corrida relâmpago até Paris e o Canal da Mancha.

A defesa "anti-char" (anti-carro) tornou-se uma obsessão e o novo "exército do futuro" seria uma força sofisticada equipada com blindados e tropas voltados para o combate mecanizado de alta intensidade, apoiados por artilharia e helicópteros armados de mísseis para destruíram os tanques soviéticos, com forças capazes de combaterem em um ambiente QBN (Químico, Biológico e Nuclear); e uma Force de Frappe nuclear francesa própria. Tudo se voltou para o iminente combate nas planícies européias.

Montanheses do 27e BCA (27e Bataillons de Chasseurs Alpins/ 27º Batalhão de Caçadores Alpinos) marchando pesadamente carregados por elevações escarpadas em Kapisa, no Afeganistão.

Esse novo exército participou vitoriosamente da Guerra do Golfo, contra o exército iraquiano de Saddam Hussein, mas o mundo é um lugar imprevisível e novos desafios surgem diariamente, mostrando sempre que os exércitos devem manter-se adaptáveis diante de uma seleção darwiniana. Em 2001, os modernos exércitos da OTAN foram levados a combater no inóspito e... montanhoso Afeganistão. Ninguém na época imaginaria que tropas ocidentais lutariam no Afeganistão e, tal qual aconteceu com os soviéticos, velhas lições tiveram que ser reaprendidas; como a importância do uso de morteiros portáteis pela infantaria ao invés de contar com demorados pedidos de apoio aéreo aproximado (que, inclusive, falhavam em atingir o alvo com freqüência).

Os franceses permaneceram no Afeganistão até 2012, e logo em seguida tiveram que combater nas cadeias montanhosas malinenses, no Adrar des Ifoghas de 18 de fevereiro a 31 de março de 2013; novamente mostrando que os militares jamais devem abandonar velhas fórmulas em prol de soluções tecnológicas.

Legionários do 2e REG (2e Régiment Étranger de Génie/ 2º Regimento Estrangeiro de Engenharia), parte da brigada de montanha francesa, se divertindo com uma mula no Afeganistão. Essa mula não é parte da unidade, é de um cidadão afegão.

Bibliografia recomendada:

The Bear Went Over the Mountain: Soviet Combat Tactics in Afghanistan.

The Soviet-Afghan War: How a superpower fought and lost.

The Soviet-Afghan War 1979-89.

Leitura recomendada: