domingo, 13 de setembro de 2020

Por que a Índia poderia comprar jatos de combate Dassault de origem francesa e usados de Taiwan?

Por Smriti Chaudhary, Eurasian Times, 12 de setembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de setembro de 2020.

Embora tenha havido relatos do plano de Taiwan para desativar seus jatos Dassault Aviation Mirage 2000 e da Índia fazendo aquisições de emergência no cenário de tensões crescentes com a China, há a possibilidade de Nova Délhi adquirir caças Mirage 2000 comprovados em batalha e se preparar para uma possível guerra em duas frentes?

Tem sido amplamente especulado, inclusive pela Military Watch Magazine, que o governo indiano poderia adquirir jatos Mirage 2000 de Taiwan, além de centenas de MICA e outros mísseis franceses que vieram com os jatos.

Os Mirage 2000 de Taiwan

As relações de Taiwan através do Estreito com a China continental têm se deteriorado com Pequim reivindicando soberania sobre a ilha e tentando fundi-la com o continente, mesmo pela força, se necessário. Tapei está cada vez mais armando suas forças com armas modernas com a ajuda de seus aliados ocidentais; especialmente os EUA, que apóia veementemente a autonomia de Taiwan.

Conforme relatado anteriormente pelo Eurasian Times, as forças armadas de Taiwan estão em sua maioria equipadas com hardware americano, incluindo caças. No entanto, a presidente taiwanês Tsai Ing-Wen contratou a Aerospace Industrial Development Corporation estatal para projetar e construir 66 novos jatos de treinamento, T-5 Brave Eagle, que também podem ser usados como um caça de ataque.

Taiwan também possui um caça de combate multifuncional fabricado pela Dassault Aviation, o Mirage 2000, adquirido há duas décadas. No entanto, desde a compra, a frota de Mirage tem sofrido de baixa prontidão operacional, altos custos de manutenção e desgaste maior do que o esperado, provavelmente devido ao clima tropical da ilha. Conseqüentemente, houve pedidos para desativar os jatos.

Os antigos Mirages de Taiwan também sofreram vários acidentes, incluindo um em 2017, que foi o sexto acidente de acordo com relatórios.

De acordo com o relatório, analistas militares disseram que a falta de manutenção da aeronave pode ser uma das principais causas dos acidentes, dado que mais do já encolhido orçamento de defesa da ilha foi destinado às armas americanas.

“[Taiwan] está sacrificando o custo mais alto de atualização e manutenção dos caças Mirage por causa de seu orçamento militar limitado”, disse Zhou Chengming, um analista militar baseado em Pequim citado no relatório.

Os caças de origem francesa de 20 anos de idade estão se tornando mais difíceis de manter e sofrem com a escassez de peças de reposição. “Taiwan pediu à França para atualizar seus Mirages em 2012, mas a França, sob pressão da China, forçou Taiwan a retirar seu pedido exigindo um preço altíssimo”, escreveu o Taipei Times em 2018.

Oportunidade para a Índia?

Com a crescente agressão chinesa na Linha de Controle Real (Line of Actual Control, LAC), a Índia aumentou sua aquisição de munições e artilharia para estar preparada caso a situação se deteriore.

A Força Aérea Indiana (IAF) possui uma variedade impressionante de caças, incluindo Sukhois, MiGs, Rafales HAL Tejas e outros caças multifuncionais, mas ainda fica aquém do número de esquadrões sancionados de 42. Atualmente, a IAF opera com apenas 28 esquadrões. O sucessor do Mirage, de fabricação francesa, já faz parte da IAF, mas a quantidade encomendada é de apenas 36 caças.

Em comparação com Taiwan, a Índia não teria que se preocupar em manter o Mirage 2000, pois tem capacidade financeira e relações militares e diplomáticas amigáveis com a França.

Tom Cooper, um autor e especialista em aviação, ficou surpreso ao ouvir relatos da mídia de Nova Délhi procurando adquirir Su-30s e MiG-29s. “Sua força aérea tem de 200 a 250 Su-30s”, apontou Cooper no Facebook. “Ainda assim, quando você quer bombardear uma gangue terrorista no país vizinho, você precisa mesmo é de um Mirage 2000 de quase 40 anos.”

Cooper se referiu aos "ataques cirúrgicos" que a Índia lançou em Balakot no ano passado, quando os caças Mirage indianos cruzaram a fronteira e lançaram bombas alegando ter destruído a infraestrutura terrorista em Balakot, uma afirmação rejeitada veementemente pelo Paquistão.

A operação foi realizada na sequência do ataque a Pulwama, no qual 40 membros da Força Policial da Reserva Central (CRPF) foram mortos. As fontes disseram então que a aeronave multifuncional Mirage 2000 foi escolhida para o ataque por sua capacidade de acertar alvos com uma precisão exata ("pin-point").

Mesmo antes do ataque em Balakot, o Mirage 2000 provou sua força nas montanhas geladas de Kargil. “O Mirage 2000 provou ser uma virada de jogo na Guerra Kargil, pois seu desdobramento pela IAF distorceu a assimetria dos meios militares a nosso favor”, disse um alto oficial da IAF ao jornal PTI.

“O uso do Mirage 2000, carregando LGB (bombas guiadas a laser) tirou nossa operação do envelope de um Stinger, e o adversário teve que mudar de tática e isso provou ser uma virada de jogo”, disse o oficial.

O Mirage 2000 é um caça monomotor capaz de lançar bombas e mísseis, incluindo bombas guiadas a laser. A IAF também está procurando aumentar as capacidades integrando os três esquadrões existentes do Mirage 2000 com o míssil Meteor.

“O Meteor no Mirage é algo que estamos analisando profundamente. Quando o acordo de atualização foi assinado com a Dassault Aviation para os Mirages, o Meteor ainda estava em fase de desenvolvimento. E, portanto, este seria um novo negócio. Estamos analisando a relação custo-benefício e outras questões”, disse uma importante fonte da IAF no ano passado.

“Não há nenhuma classe de mísseis no Paquistão e na China que possa se igualar ao Meteor neste momento. No entanto, a China está investindo pesadamente em mísseis de cruzeiro indígenas e mísseis de longo alcance. Qualquer míssil que a China fabrique acabará caindo nas mãos do Paquistão”, disse outra fonte da IAF.

Se Taiwan e a Índia decidirem comprar os Mirages taiwaneses, isso certamente fortalecerá sua já abrangente frota de caças. Poderiam ser levantadas questões sobre a compra de caças de "segunda-mão", mas esta não será a primeira vez que Nova Délhi considerará uma proposta como esta.

Em 2006, a Índia queria comprar jatos de combate usados da França e do Catar. O então Air Chief Marshal SP Tyagi disse que a Índia queria comprar cerca de 40 jatos, incluindo uma dúzia do Catar e o restante da França, e que Nova Délhi já estava em negociações com autoridades francesas. A decisão veio depois que os EUA concordaram em fornecer ao Paquistão novos caças F-16.

Analistas observaram que adquirir a frota taiwanesa de caças Mirage 2000 proporcionaria à IAF um meio de baixo custo de aumentar sua frota para atender às atuais metas de expansão para conter a agressão chinesa na fronteira.

Embora os jatos indígenas da Índia tenham sido aprovados para produção em massa, a produção lenta pela estatal Hindustan Aeronautics Limited (HAL) abre a oportunidade para pelo menos uma solução temporária para as ameaças atuais contra a China e o Paquistão.

Bibliografia recomendada:


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