terça-feira, 30 de novembro de 2021

O Corpo Expedicionário Francês em Monte Cassino


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 30 de novembro de 2021.

O Corpo Expedicionário Francês (Corps Expéditionnaire Français, CEF), foi uma força expedicionária do Exército Francês Livre. Criado em 1943, o corpo lutou na Campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial, sob o comando do General Alphonse Juin - futuro Marechal da França. O CEF foi fotografado por George Silk para a LIFE Magazine.

O Corpo era composto de 112.000 homens divididos em quatro divisões, três das quais unidades coloniais, principalmente compostas de soldados marroquinos e argelinos oriundas do Exército da África (Armée d'Afrique, em maio de 1944 contando 60% de norte-africanos) e liderados por oficiais franceses, e equipado com 12.000 veículos e 2.500 cavalos e mulas.

O Corpo se destacou nas batalhas no setor de Monte Cassino, varrendo cadeias de montanhas com velocidade e eficiência surpreendentes, abrindo o flanco alemão e os forçando a abandonarem as elevações ao redor da abadia beneditina de Monte Cassino; e assim capturando grande número de prisioneiros da 71ª Divisão de Infantaria alemã.

No entanto, esse sucesso foi manchado pelo grande número de saques, estupros e assassinatos cometidos contra a população italiana local, especialmente pelos goumiers marroquinos; gerando a expressão italiana para os episódios como Marocchinate.

Duas Mulheres (La Ciociara, 1960).
Filme italiano sobre o Marocchinate estrelando Sophia Loren.

A campanha da Itália começou com as operações na Sicília em julho de 1943 e o desembarque ao sul de Nápoles em setembro de 1943. O objetivo dos Aliados anglo-americanos, sob o comando aliado do marechal britânico Alexander, era Roma. Em sua rota, a Linha Gustav, defendida pelos 10º e 14º Exércitos alemães sob o comando do Marechal Kesselring, cortou a Itália através do maciço de Abruzzo e bloqueou qualquer avanço aliado.

O CEF desembarca a partir de 43 de novembro e é engajado em duas fases:
  • Inverno 44: Batalha de Monte Cassino (janeiro de 1944), marcada pela captura do Belvedere, pedra angular da Linha Gustav. A linha Gustav é perfurada mas a falta de reservas impede a exploração deste sucesso.
  • Primavera 44: Batalha do Garigliano, durante a qual o confronto mais violento é em Pico. O CEF rompeu a Linha Gustav em maio de 1944 e permitiu aos Aliados retomar o avanço rumo a Roma, alcançada em 4 de junho de 1944.
O Coronel Rudolf Böhmler, dos paraquedistas alemães, assim mencionou o CEF dentre as demais unidades aliadas diante do Monte Cassino:

"Se, entre as numerosas tropas aliadas, naquele exército composto de americanos, britânicos, franceses, de indianos, neozelandeses e poloneses, de canadenses e sul-africanos, devêssemos ressaltar, de maneira particular, algumas unidades, em primeiro lugar mencionaríamos, de direito, o Corpo Expedicionário Francês, seguindo-se as 3.ª, 36.ª e 88.ª divisões americanas e as tropas polonesas do general Anders."

"Mas a grande surprêsa foi o comportamento em combate do Corpo Expedicionário Francês. A campanha de 1940 havia lançado um véu lúgubre sôbre o exército francês. Não se acreditava que êle pudesse refazer-se daquela completa derrota. E, agora, as divisões do general Juin se mostravam extremamente perigosas. A razão disso não era apenas a experiência de montanha dos marroquinos e argelinos. Três fatôres contribuíram para isso. Ao lado da experiência de montanha, havia o ultramoderno equipamento americano do Corpo Expedicionário Francês, que lhe conferia tanta potência de choque. Por último, e sobretudo, essas tropas eram comandadas por oficiais franceses que conheciam maravilhosamente bem sua profissão. Dêsses três elementos básicos, Juin fizera um magnífico amálgama. Daí  diante, seu Corpo Expedicionário sempre se mostrou à altura de tôdas as suas missões. E o marechal Kesselring pessoalmente me afirmou que a presença do Corpo Expedicionário de Juin num setor do fronte sempre lhe trazia sérias preocupações. disse-me êle que se o general Clark, nos combates do fronte de Cassino, tivesse dado mais ouvidos a Juin, provàvelmente não se teriam registrado as sangrentas batalhas do Monte Cassino."

"Foi Juin que, apoderando-se do Monte Maio e irrompendo no vale do Liri, reduziu a migalhas a Porta de Roma."

Monte Cassino,
Rudolf Böhmler, 1966.

O General Mark Clark, comandante do 5º Exército Americano, que no seu livro de memórias referiu ao General Juin dizendo que "Nunca houve melhor soldado", assim qualificou a ação francesa:

"Entrementes, as forças francesas, transpondo o [rio] Garigliano, haviam-se deslocado para norte, penetrando o terreno montanhoso que jazia ao sul do rio Liri. Não foi fácil. Como sempre, os veteranos alemães reagiram fortemente e houve luta encarniçada. Os franceses surpreenderam o inimigo e capturaram sem demora áreas-chave como os Montes Faito e Cerasola e as alturas vizinhas de Castelforte. A 1ª Divisão Motorizada [Francesa Livre] ajudou a 2ª Divisão Marroquina a tomar o ponto capital de Monte Girofano e, a seguir, avançou rapidamente para o norte até S. Apollinare e S. Ambrogio. A despeito da renitente resistência inimiga, a 2ª Divisão Marroquina penetrou na Linha Gustav em menos de dois dias de combate.

As próximas quarenta e oito horas na frente francesa foram decisivas. Os Goumiers, manejando destramente a arma branca, esparramaram-se nas montanhas, particularmente à noite, e toda a tropa do General Juin mostrou uma agressividade hora após hora que os alemães não puderam agüentar. Cerasola, San Giorgino, Mt. D'Oro, Ausonia e Esperia foram conquistados num dos mais brilhantes e audaciosos avanços da guerra na Itália, e no dia 16 de maio [de 1944] o Corpo Expedicionário Francês havia jogado seu flanco esquerdo a umas dez milhas para a frente, até Monte Revole, enquanto se verificava um reentrante no resto da linha de contato, para de algum modo ser mantida a ligação com o Oitavo Exército Britânico.

Somente o mais cuidadoso preparo e uma extrema resolução tornaram possível o ataque, mas Juin era desse tipo de combatente. Transporte logístico à base de mulas, peritos em guerra de montanha e homens com energia bastante para realizar marchas noturnas demoradas em terreno traiçoeiro, eis o que foi necessário ao sucesso naquelas escarpas praticamente inexpugnáveis. Os franceses patentearam tudo isso no seu sensacional avanço, que o General-de-Exército Siegfried Westphal, chefe do estado-maior do Kesselring, descreveria depois como uma surpresa completa, tanto em termos de rapidez, quanto em agressividade. Por essa realização, que haveria de constituir a chave do sucesso para a arremetida inteira sobre Roma, serei sempre um admirador agradecido do General Juin e de seu magnífico CEF."

General Mark ClarkRisco Calculado, 1950 (1970 em português), pg. 360 e 362.

Em agosto de 1944, o corpo foi retirado e absorvido pelo Primeiro Exército francês sob o comando do General de Lattre de Tassigny (também futuro Marechal  da França) para a invasão da Provença (sul da França).

Sua ordem de batalha era:

1ª Divisão Francesa Livre (1re Division Française Libre, 1re DFL), General Diego Brosset
Também chamada de 1ª Divisão Motorizada de Infantaria, chegou na Itália em abril de 1944.
  • 1ª Brigada
    • 13ª Meia-Brigada da Legião Estrangeira e 22º Batalhão de Marcha Norte-Africano
  • 2ª Brigada
    • 4º, 5º e 11º Batalhões de Marcha
  • 4ª Brigada
    • 21º e 24º Batalhões de Marcha, Bataillon d'Infanterie de Marine du Pacifique (BIMP)
  • 1º Regimento de Artilharia Colonial (RAC)
  • 1º Regimento de Fusiliers-Marins (RFM)

2ª Divisão de Infantaria Marroquina, General André Dody
Chegou à Itália no final de novembro de 1943.
  • 4º Regimento de Tirailleurs Marocains (RTM)
  • 5º Regimento de Tirailleurs Marocains (RTM)
  • 8º Regimento de Tirailleurs Marocains (RTM)
  • 3º Regimento de Spahis Marocains (RSM)
  • 63º Regimento de Artillerie d'Afrique (RAA)

3ª Divisão de Infantaria Argelina, General Joseph de Goislard de Monsabert
Chegou à Itália em dezembro de 1943.
  • 3º Regimento de Tirailleurs Algériens (RTA)
  • 4º Regimento de Tirailleurs Tunisiens (RTT)
  • 7º Regimento de Tirailleurs Algériens (RTA)
  • 3º Regimento de Spahis Algériens de Reconnaissance (RSAR)
  • 67º Regimento de Artillerie d'Afrique (RAA)

4ª Divisão Marroquina de Montanha, General François Sevez
Chegou à Itália em fevereiro de 1944.
  • 1º Regimento de Tirailleurs Marocains (RTM)
  • 2º Regimento de Tirailleurs Marocains (RTM)
  • 6º Regimento de Tirailleurs Marocains (RTM)
  • 4º Regimento de Spahis Marocains (RSM)
  • 69º Regimento de Artillerie de Montagne (RAM)

Reservas Gerais
Comando dos Goumiers Marroquinos, General Augustin Guillaume
  • 1º Grupo de Tabors Marocains (GTM)
  • 3º Grupe de Tabors Marocains (GTM)
  • 4º Grupe de Tabors Marocains (GTM)
  • 7º Regimento de Chasseurs d'Afrique (RCA)
  • 8º Regimento de Chasseurs d'Afrique (RCA)
  • 64º Regimento de Artillerie d'Afrique (RAA)

Um regimento de infantaria norte-africano (tirailleurs nord-africains) compreendia pouco mais de 3.000 homens (incluindo quase 500 oficiais e suboficiais) e 200 veículos. A proporção de norte-africanos chegava a 69% para o regimento, 74% para o batalhão, 79% para a companhia de fuzileiros-volteadores (fusiliers-voltigeurs), 52% para a companhia anti-carro e 36% para a companhia de canhões de infantaria.

Um regimento de infantaria do tipo montanha compreendia quase 4.000 homens (incluindo quase 600 oficiais e suboficiais) e 170 veículos. A proporção de norte-africanos chegava a 77% para o regimento, 79% para o batalhão, 82% para a companhia de fusiliers-voltigeurs e 77% para a companhia motorizada.

Um grupo de tabors marroquinos compreendia cerca de 3.000 homens (incluindo cerca de 250 oficiais e suboficiais) e 170 veículos. A proporção de norte-africanos chegava a 77-78%.

Um regimento de reconhecimento tinha cerca de 900 homens (incluindo 150 oficiais e suboficiais) e 220 veículos. A proporção de norte-africanos chegava a 15% para as tropas e 13% para todo o regimento.

Um regimento de caça-tanques (chasseurs de chars) tinha cerca de 900 homens (incluindo 140 oficiais e suboficiais) e 220 veículos. A proporção de norte-africanos chegava a 27% para as tropas e 25% para todo o regimento.

A divisão ainda possuía um elemento de enfermeiras motoristas de ambulância, apelidadas de Rochambelles (exército) e Marinettes (marinha).

Depois da guerra, seis nomes de batalha são atribuídos para lembrar a Campanha Italiana e fazer parte das dobras das bandeiras de unidade: Abruzzo, Le Belvédère, Garigliano, Pontecorvo, Roma e Toscana.

As enfermeiras motoristas de ambulância











Motorista com um mascote.










Mistura de peças francesas e americanas.
O capacete é o modelo Jeanne d'Arc francês para tropas motorizadas.




Colunas de tropas pelo terreno acidentado italiano















Observatório de artilharia argelino.


Ao fundo, o Monte Fammera.

Tirailleur senegalês.


Tirailleurs argelinos passam por uma coluna mecanizada alemã capturada.
O blindado à frente é uma peça de assalto italiana Semovente da 75/18, designada StuG M42 mit 7,5 KwK L 18(850)(i) em serviço alemão.












Bombardeio de artilharia alemão na estrada

Em 17 de maio de 1944, em Esperia, no mesmo local onde uma coluna alemã havia sido aniquilada pela artilharia aliada no dia anterior, uma coluna francesa foi bombardeada pela artilharia alemã e destruída.





Padre Emilien Prosper Badouin, capelão militar da 3ª Divisão de Infantaria Argelina (3e DIA).
Morreria em 23 de Maio de 1944 perto de Monte Leucio, em Pico.


O capelão militar padre Emilien Prosper Badouin na coleta dos feridos.




Soldado francês morto em uma vala em frente a um Sherman.

Soldado magrebino morto enquanto conduzia uma mula, que também morreu.



O capelão militar padre Emilien Prosper Badouin carregando uma padiola com um ferido.


Blindados do CEF

Carros de combate Sherman de modelo mais antigo.























Quepe francês, capacete de aço Brodie M1917 americano e capacete de couro americano para tripulações de blindados.


Visita do General de Gaulle

O General Juin, com boina, e o General de Gaulle.

O General de Monsabert mostrando o mapa para o General de Gaulle.

Generais de Monsabert, Juin e de Gaulle.




General de Monsabert, futuro libertador de Marselha.



Posto médico

Prisioneiros alemães carregando um companheiro ferido.






Condessa de Luart Leïla Hagondokoff, "la Circassienne" (a circassiana).
Madrinha do 1º Regimento Estrangeiro de Cavalaria (1er REC).


A nobre russa, também conhecida como Gali Hagondokoff, acompanhada por duas enfermeiras francesas.



Prisioneiros alemães







Cemitérios francês e alemão





Cemitério alemão na estrada próxima à vila de Esperia.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

HUMOR: Lavagem Tcheca

Tchecas lavando um Hind.
(Jiri Sofilkanic/Czech Air Spotters)

Lavagem tcheca de um Mi-24 Hind tcheco da força aérea em um dia ensolarado.

FOTO: T-54 danificado em An Dien

Soldados sul-vietnamitas posam em cima de um T-54 norte-vietnamita danificado perto da vila de An Dien, 1974.

Hanói recebeu carros de combate principais T-54 da União Soviética, seguindo a doutrina soviética de ofensiva blindada em profundidade. Essa manobra foi usada sem sucesso em 1972 e levou os norte-vietnamitas a Saigon em abril de 1975, depois que os Estados Unidos cessaram o apoio ao regime do Vietnã do Sul.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Tarn-et-Garonne/Lot: 3.000 paraquedistas mobilizados para um exercício militar franco-britânico em grande escala

3.000 paraquedistas foram destacados para o exercício Falcon Amarante 21. Impressionante!
(Caporal-chef Tsivadelle / 11ª Brigada Paraquedista)

Por William Bernecker, La Dépêche, 17 de novembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro17 de novembro de 2021.

A 11ª Brigada Paraquedista de Toulouse e o seu homólogo inglês foram mobilizados durante 10 dias para o exercício Falcon Amarante 21. Reportagem em Quercy, entre Lot e Tarn-et-Garonne.

Os paraquedistas poderão respirar. O exercício Falcon Amarante 21 termina esta quinta-feira, dia 18 de novembro. Os soldados percorrem a região "à la verte" há 10 dias, dizem no jargão, ou seja, na natureza e no frio, em condições reais.

Mais de 3.000 soldados foram mobilizados para a ocasião, quase metade dos quais vieram do outro lado do Canal. Uma colaboração no âmbito da A-CJEF (Airborne Combined Joint Expeditionnary Force/Força Expedicionária Conjunta Combinada Aerotransportada), uma cooperação franco-britânica de brigadas de alerta permanentes. Do lado francês, encontramos a 11ª Brigada Paraquedista de Toulouse e, do lado inglês, a 16ª Brigada de Assalto Aéreo de Colchester.

Desde 8 de novembro, cerca de 600 veículos também foram empregados, desde veículos blindados leves até aviões e helicópteros. “Esta é uma implementação de todos os meios do nosso exército”, disse o Capitão Boris da 11e BP.

O objetivo da operação em condições reais é desenvolver "endurecimento e resiliência", bem como "interoperabilidade" para futuros engajamentos comuns: conhecimento mútuo de equipamentos, procedimentos, operação...

Conflitos em tamanho real

Simulações de combate terrestre também marcaram esses dez dias de exercícios.
(Caporal-chef Tsivadelle / 11ª Brigada Paraquedista)

O exercício começou com uma "primeira entrada" no conflito, um assalto aéreo em direção a Toulouse. 600 paraquedistas então saltaram em Caylus para tomar o campo de Jean-Couzy. Os soldados então perseguiram as milícias inimigas (interpretadas por outros soldados) até as margens do rio Lot. A luta então mudou para alta intensidade, contra um inimigo "endurecido".

Aqui, nos vales de Quercy, os paraquedistas já não combatem contra milícias, mas sim contra forças armadas com meios, por exemplo veículos blindados. Eles então praticaram uma manobra de canalização, "explodindo as pontes" para atrair o inimigo aonde eles queriam. Um exercício pontuado por armadilhas, com incidentes diários: emboscadas, ataques químicos, etc.

A 11e BP certamente poderá contar com o seu 17e RGP de Montauban para pousar uma aeronave no meio da vegetação, embarcar forças e partir, provando assim uma capacidade de reprojeção para centenas de quilômetros.

Leitura recomendada:

O presidente Jair Bolsonaro foi recebido no Qatar

O presidente Jair Bolsonaro sendo recebido por uma guarda de honra em Doha, no Qatar, em 17 de novembro de 2021.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 17 de novembro de 2021.

Hoje, 17 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com o xeique Tamim Bin Hamad, o Emir do Qatar. Vindo de uma turnê primeiro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e depois passando pela cidade de Manama, no Bahrein, o presidente brasileiro foi recebido em Doha por uma guarda de honra da polícia qatari com uniformes brancos em Doha, a capital do emirado.

O encontro foi comentado pelo emir na sua conta oficial no Twitter com os dizeres:

"Hoje, discuti com Sua Excelência o Presidente Jair Bolsonaro aspectos do fortalecimento das relações de cooperação bilateral entre Qatar e Brasil para alcançar as aspirações de nossos dois povos amigos nos campos da defesa, economia, cultura e esportes, e também discutimos os mais importantes temas de interesse comum. Desejo a Sua Excelência e à delegação que o acompanha uma boa estadia em Doha."

De acordo com o governo brasileiro, a ideia da viagem ao Oriente Médio é fortalecer as relações do Brasil com países da região do Golfo Pérsico, grandes produtores de petróleo que possuem fundos soberanos de investimentos.

Roteiro da viagem.
(Fonte: Globo-Política)

No sábado (13), Bolsonaro chegou a Dubai e visitou a Expo 2020, uma exposição mundial realizada periodicamente há mais de um século; cada edição ocorrendo numa cidade diferente. Bolsonaro visitou o pavilhão do Brasil na feira e se encontrou com o emir de Dubai e primeiro-ministro dos Emirados Árabes, Mohammed bin Rashid Al Maktoum. Nesta terça (16), ele inaugurou a embaixada do Brasil no Bahrein.

Encontro do presidente Bolsonaro com o xeique Mohammed bin Rashid em Dubai, 14 de novembro.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

A Geórgia e suas duas guerras no Afeganistão


Por Giorgi Lomsadze, Eurasianet, 9 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 15 de novembro de 2021.

Com o fim da guerra liderada pelos EUA, os georgianos estão relembrando suas décadas de serviço militar na Ásia Central sob duas superpotências.

"O Afeganistão é a razão pela qual toco piano."

"Comecei a aprender em meados da década de 1980 e, de acordo com uma teoria popular na época, uma carreira musical de sucesso poderia isentar alguém do serviço militar - ou pelo menos conseguir que alguém fosse designado para uma banda militar. Então, meus pais matricularam a mim e meu irmão na escola de música em uma idade muito jovem, na esperança de nos poupar do destino dos homens georgianos que estavam lutando e morrendo na guerra da União Soviética no Afeganistão."

O Afeganistão acabaria se tornando para a União Soviética o que o Vietnã foi para os Estados Unidos: uma pilha de corpos, PTSD, vidas de jovens dilaceradas e, uma vez que o império em ruínas não conseguia mais esconder a verdade sobre a guerra, uma inspiração para livros e filmes.

Avtandil Shubikashvili em Bagram na década de 1980.
(Foto de cortesia)

No final, toda uma geração de russos, georgianos, cazaques e outros ex-cidadãos soviéticos seria simplesmente chamada de Afghantsi, ou os afegãos, um eufemismo para alguém envolvido na guerra.

Poucos desses homens sabiam que seriam enviados para uma zona de guerra quando fossem recrutados, geralmente quando tinham 18 anos.

“Fizemos uma grande festa na minha aldeia quando fui chamado para o serviço. Meus pais não tinham ideia de que eu realmente estava indo para a guerra, nem eu”, lembra Pridon Kapanadze, de 60 anos, que em 1981 foi enviado de sua pequena cidade natal, Akhaltsikhe, na Geórgia, até Jalalabad.

“Só percebi isso quando eles me enviaram para treinar no Vale Fergana, no Uzbequistão”, me disse outro veterano, Avtandil Shubikashvili. Após dois meses de treinamento, que ele descreve como “um inferno em vida”, ele foi transportado de avião para o campo de aviação de Bagram, onde pousou sob uma rajada de fogo.

Foi lá, 64 quilômetros ao norte de Cabul, onde ficou baseado por dois anos, servindo no 345º Regimento Aerotransportado, comandado pelo futuro ministro da Defesa da URSS, Pavel Grachev. “Na maior parte do tempo estávamos sujos, sem banho, cheios de piolhos, todo mundo tinha doença amarela [hepatite A] e éramos constantemente alvejados”, disse Shubikashvili.

“Não podíamos nem contar às nossas famílias o que realmente estava acontecendo ali. Só podíamos escrever cartas com saudações. Eles inspecionaram cada carta e cada foto que enviamos para casa”, disse Shubikashvili enquanto me mostrava as fotos que haviam sido aprovadas pelos censores militares. “Quando alguém morria, eles mandavam o corpo para casa em um caixão de zinco lacrado com uma nota dizendo que a morte foi causada por um acidente.”

Shubikashvili (à direita) com amigos.

Quando o amigo mais próximo de Shubikashvili, Yuriy Mogilchenko, foi morto, Grachev pediu-lhe que acompanhasse os restos mortais de Mogilchenko até sua cidade natal, Voronezh, na Rússia.

“A viagem me ofereceria uma pausa na guerra, mas era [já] 21 de dezembro e eu simplesmente não conseguiria entregar o cadáver de Yuriy para seus pais na véspera de Ano Novo”, disse Shubikashvili. “Estremeci quando me imaginei entrando em seu apartamento, onde sua família estava reunida em torno de uma mesa de Ano Novo, e dizendo a eles que trouxe seu filho morto. Então eu recusei. ‘A menos que seja uma ordem, não posso fazê-lo’, disse eu.”

Muitos georgianos, particularmente cidadãos relutantes da União Soviética, sentiram que não tinham cachorro algum naquela luta, na tentativa de Moscou de fazer um ponto geopolítico em um deserto distante. A chegada do primeiro caixão de zinco em Tbilisi e as histórias de um corpo mutilado dentro apenas exacerbaram a percepção de que os georgianos estavam novamente se tornando vítimas do hábito da Rússia de entrar valsando seu exército em um país estrangeiro. Pais aterrorizados começaram a ir longe - trouxeram subornos e certificados de saúde falsos para os centros de recrutamento, mexeram com as conexões familiares, imploraram - para manter seus filhos fora do serviço militar. Ou pelo menos fora do Afeganistão.

Nos meus dias de aula de música, lembro-me de uma conversa entre minha mãe e meu professor de música, falando em uma mistura de georgiano e russo que era a única maneira adequada para a intelectualidade de Tbilisi falar na época: “Quando meu filho foi chamado para o serviço , Fui direto para o comissariado militar”, disse a professora. “Eu disse a eles que me enforcaria bem na porta se mandassem meu filho para aquele matadouro”.

No final das contas 128 georgianos morreram no Afeganistão, de acordo com dados do Ministério da Defesa da Geórgia, e muitos deles vieram de famílias rurais sem pais que poderiam subornar ou usarem conexões para tirarem seus filhos do Afeganistão. Da União Soviética como um todo, oficialmente quase 15.000 morreram e mais de 53.000 ficaram feridos.

Filho de um fazendeiro, Kapanadze nem falava russo quando chegou a Jalalabad. “Quando um oficial perguntou em russo quem concordaria em trabalhar como sapador, eu me ofereci - pensei que sapador significava um cozinheiro”, disse ele. “Fiquei surpreso quando o oficial veio até mim, colocou a mão no meu ombro e disse que eu era um herói. Antes que eu percebesse, estava tateando por minas no deserto”, continuou Kapanadze com um sorriso.

“Uma vez eu até tive que instalar uma bomba no corpo de um insurgente morto. Sabíamos que os dushmani ["fantasma", um termo soviético para os mujahedeen afegãos] sempre voltavam para buscar os corpos de seus mortos, então eles provavelmente explodiram quando tocaram naquele corpo.”

Kapanadze e Shubikashvili hoje.
(Giorgi Lomsadze)

Quando Kapanadze retornou à Geórgia no final de seu serviço, dois anos depois - ele teve que encontrar seu próprio caminho para casa, já que o avião militar o deixou no Uzbequistão e ninguém se deu ao trabalho de lhe dar uma passagem de avião para Tbilisi - ele estava portando tantas medalhas e prêmios que a polícia o prendeu supondo que fosse um ladrão. “Perdi o ônibus para minha aldeia e tive que implorar para que pessoas aleatórias me comprassem uma passagem”, disse ele. “Quando eles finalmente perceberam que eu era um verdadeiro herói de guerra condecorado, o chefe de polícia me levou até minha aldeia em seu próprio carro.”

Diz a lenda urbana que o exército soviético confiava principalmente nos povos do Cáucaso, como georgianos e armênios, já que eles supostamente podiam se passar por habitantes do Oriente Médio. Kapanadze diz que isso era apenas parcialmente verdade. “A maioria das tropas era russa, mas havia de fato muitos georgianos em meu regimento”, disse ele. “Os caucasianos e os centro-asiáticos costumavam ser invocados durante as operações diurnas porque, como sulistas, podíamos lidar melhor com o calor do que os russos, que costumavam desmaiar de insolação e desidratação”.

Adeus à Slavyanka


"A reação por causa do Afeganistão estava começando a abalar a União Soviética em seu núcleo, enquanto eu estava aprendendo a tocar músicas militares russas em preparação para meu futuro papel naquela banda militar. Minha música favorita era Adeus à Slavyanka, uma marcha da época da Primeira Guerra Mundial que se transformou em uma trilha sonora da Segunda Guerra Mundial e tinha um bom potencial como trilha sonora da última guerra. Meu professor batia o ritmo da música em staccatos picantes no piano enquanto eu carregava a melodia no clarinete e a superpotência estava se desintegrando ao nosso redor."

Quando cheguei à idade de recrutamento, eu morava em um país diferente. Quando entrei na universidade no final dos anos 1990, o corpo do império foi desmembrado com segurança, carbonizado com rancores étnicos e coloniais. A Geórgia estava forjando laços com os Estados Unidos rapidamente e se desfazendo da influência russa ainda mais rápido. Eu estava coçando minha cabeça em uma sala de aula dilapidada, tentando localizar a extremidade comercial de um fuzil automático desmontado em uma aula de treinamento militar na minha universidade.

Ministrado por um veterano de guerra nonagenário que passou grande parte de seu tempo como professor retrucando às provocações de meus colegas de classe, a classe, de outra forma inútil, nos ofereceu - um grupo de crianças mimadas de famílias de professores - uma maneira de pular o serviço militar obrigatório no que agora eram as forças armadas independentes da Geórgia. No exame final em um campo de tiro, não consegui acertar uma única bala em um alvo quase comicamente grande, mas isso não me impediu de concluir o curso com a patente de segundo tenente.

O Afeganistão foi amplamente esquecido nessa fase, apagado das memórias dos georgianos por guerras civis e separatistas mais recentes perto de casa. Mas isso estava prestes a mudar.

O semestre do outono tinha apenas começado quando eu voltei da escola um dia e encontrei minha avó chorando na frente de uma TV com a CNN transmitindo imagens de um arranha-céu em chamas em Nova York. “Um avião acidentalmente bateu em um prédio nos Estados Unidos”, ela me disse; ela não conseguia entender direito as transmissões em inglês. “Por que eles estão construindo esses edifícios enormes? Todas essas pessoas, pobrezinhas...”

Os EUA invadiram o Afeganistão naquele ano para iniciar o que ficou conhecido como a "guerra eterna". A Geórgia aderiu em 2004, principalmente para provar o seu valor como potencial membro da OTAN, mas também para aumentar as suas próprias capacidades de defesa. Desta vez, servir no Afeganistão foi uma escolha feita pelo governo da Geórgia, e o serviço militar não era mais obrigatório - portanto, foi uma missão que muitos soldados georgianos receberam bem.

Davit Bendiashvili, um homem da minha idade da cidade costeira de Batumi, foi treinar nos EUA antes de ser enviado para Helmand. Ele fala com entusiasmo sobre aquele treinamento, que não foi nada parecido com a experiência que Shubikashvili descreveu 30 anos antes - correr pelas montanhas por um dia inteiro sem comer ou beber sob o sol escaldante do Vale Fergana.

“Foi difícil no Afeganistão, mas estou feliz por ter participado. Ensinou-me muito a nível profissional e também pessoal”, disse Bendiashvili, que agora vive em Lisboa, onde trabalha como marinheiro mercante.

“Toda vez que saíamos da base, onde vivíamos em tendas cercadas por uma parede de sacos de areia, nós estávamos orgulhosos de dirigir por aí um veículo blindado com bandeiras georgianas,” Bendiashvili lembrou durante uma chamada de vídeo pelo Facebook. “Quando nós encontrávamos anciãos das aldeias locais, alguns nos perguntou se nós éramos cruzados [a bandeira nacional da Geórgia com cinco cruzes vermelhas-e-brancas tem algumas semelhanças com uma bandeira cruzada]. Eles falavam das Cruzadas como se tivessem acontecido ontem.”

Soldados georgianos destacando-se para o Afeganistão em 2013 por meio da base aérea de Manas no Quirguistão.
(David Trilling)

Ele também encontrou anciãos das aldeias em sua área de operações curiosos sobre a geopolítica movediça da Geórgia. “’Vocês não nos invadiram em conjunto com os russos antigamente? Então agora você está lutando contra os russos?’ - nós recebíamos muito essas perguntas“, disse ele.

Outras coisas não mudaram. “Aprendi que, se você for convidado para uma casa afegã, nada poderá acontecer com você enquanto estiver lá. O convidado é sagrado para eles, em grande parte da mesma forma que é para nós, georgianos”, disse Bendiashvili.

Eu tinha ouvido a mesma explicação, quase palavra por palavra, tanto de Kapanadze quanto de Shubikashvili.

Apesar de ter sido pego em tiroteios várias vezes, Bendiashvili disse que não mudaria nada na experiência. “É que quando meu contrato militar expirou em 2012 - eu estava em Cabul então - decidi que estava farto e era hora de seguir em frente. Passei 18 meses no Afeganistão e 13 anos no exército, e acho que servi bem ao meu país.”

A Geórgia retirou suas forças em junho; um total de 32 soldados morreram nesta guerra. As tropas georgianas treinadas pela OTAN e com experiência no Afeganistão e no Iraque são agora consideradas tropas de elite. Muitos deles subiram na hierarquia das forças armadas georgianas ou voltaram ao Afeganistão para trabalhos lucrativos com empresas de segurança privada. Vários ficaram presos até mesmo brevemente em Cabul durante a caótica retirada americana em agosto.

Os veteranos da guerra soviética, entretanto, raramente são lembrados. Em reconhecimento aos serviços prestados a um país há muito desaparecido, o Estado georgiano agora paga a eles uma pensão mensal insignificante de 22 lari (7 dólares) e oferece viagens gratuitas no transporte público. Eles sempre se reúnem em 15 de fevereiro, o dia em que a União Soviética retirou suas forças do Afeganistão em 1989.

Existem agora dois memoriais na Geórgia em homenagem aos soldados que morreram em duas guerras diferentes no Afeganistão.

Recentemente, localizei o antigo memorial de guerra soviético nos arredores de Tbilisi, escondido em um pequeno parque. A laje maciça de bronze em forma de chama com uma figura humana em tamanho natural está um pouco enferrujada devido à longa exposição aos elementos. Olhando para ela, encontrei presa na minha cabeça a melodia agridoce de Slavyanka, aquela canção errante de guerra.

Giorgi Lomsadze é jornalista residente em Tbilisi e autor do Tamada Tales.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

VÍDEO: Rasante de um Sukhoi Su-30 na Venezuela


No dia 7 de novembro deste ano (2021), um avião de caça Sukhoi Su-30 venezuelano foi filmado fazendo um vôo rasante sobre uma rodovia de 4 pistas cheia de tráfego em Maracay, na Venezuela. Hoje, dia 12, uma nova filmagem mostrou um novo ângulo do feito; ambos os vídeos postados pelo canal Conflicts News Worldwide no Twitter.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

COMENTÁRIO: A maldição do indicador verde

Último soldado americano a deixar o Afeganistão.

Pelo Coronel Michel GoyaLa Voie de l'Épée,, 23 de setembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 7 de novembro de 2021.

Como quase todo mundo, fiquei surpreso com o súbito colapso do castelo de cartas montado pacientemente e caro durante anos pela coalizão liderada pelos americanos no Afeganistão. Não deveria, pois a distância entre a pintura que é feita de uma situação estratégica e a realidade é muitas vezes muito grande. Isso não é necessariamente uma mentira deliberada, mas sim um processo coletivo mais ou menos consciente de produzir uma visão tão simplificada e otimista das coisas que acaba se encaixando na realidade apenas por acaso. Porém, o acaso, aqui sinônimo daquilo que realmente não entendemos, sempre acaba se revertendo.

Muitas crises estratégicas modernas realmente se parecem com a crise das hipotecas subprime de 2007. As pessoas vendem produtos financeiros que ninguém entende, incluindo vendedores, mas que são rotulados como confiáveis ​​por instituições que têm interesse em minimizar o risco. Outras pessoas os compram não entendendo nada, mas confiando nas métricas de confiabilidade mais do que ganham dinheiro. A compra em massa dá aos vendedores a confiança de que devem continuar. Todos estão felizes, pois todos são aparentemente vencedores até que o rei se descobre nu. Isso também é chamado de “momento de Minsky”. O otimismo então dá lugar à depressão brutal. Algumas ilustrações nos últimos vinte anos.

Green Lantern

Estamos em março de 2004 no Iraque, o General Swannack comandando a 82ª Divisão Aerotransportada americana torna público seu relatório de fim de missão na província iraquiana de Anbar. Lendo o resumo para o leitor com pressa, entendemos que ele está muito feliz consigo mesmo. Lendo o resto, percebemos que se trata principalmente de um balanço contábil, com inputs (entradas) de um lado: número de patrulhas, soldados e policiais iraquianos treinados, dinheiro gasto em ações com a população, etc., e os outputs (saídas) do outro que atuam como resultados: número de inimigos neutralizados, número de ataques contra tropas americanas e perdas americanas. Para torná-lo mais sexy, há algumas fotos de ataques de helicópteros e cartas de baralho retratando dignitários do regime de Saddam Hussein que foram eliminados.

O que emerge de tudo isso é a ideia de que podemos esperar com confiança o que acontecerá a seguir. Os sucessores deste primeiro contingente americano terão apenas que administrar a transição política da autoridade provisória da Coalizão com um novo governo iraquiano e militares com as novas forças de segurança locais. Isso não vai acontecer de jeito nenhum.

Pequeno passo para trás. Primeiro, por que apresentar relatórios militares com indicadores quantificados? Tudo depende de como se combate.

Na conquista ou nas operações sequenciais, basta olhar para o movimento das bandeiras em um mapa para entender quem está no sentido da história. Este é mais freqüentemente o caso em combates terrestres entre exércitos estatais espalhados ao longo de uma linha de frente. O movimento da linha então dá a tendência. Mas pode ser o caso contra uma organização armada, como durante a operação militar Serval no Mali no início de 2013. Os objetivos são então pontos geográficos, cidades a serem libertadas e bases a serem destruídas, e quando todas forem alcançadas a campanha está acabada.

Em operações de pressão, ou cumulativas, desta vez trata-se de multiplicar pequenas ações para que surja repentinamente um efeito estratégico, geralmente uma submissão. Pode ser o caso em conflitos entre Estados, como o bombardeio da Sérvia em 1999, mas é especialmente o caso em conflitos contra adversários irregulares escondidos no ambiente local e lutando de forma fragmentada, que também chamamos de “guerrilha" e “contra-guerrilha”. Essa é toda a diferença entre Serval e Operação Barkhane. É muito mais difícil, neste contexto, ver quem está no sentido de história. Você pode multiplicar os acertos, ataques, incursões, eliminações, distribuições de dinheiro, sessões de treinamento, etc., e não ver nada de retorno. Colocamos os inputs em uma caixa, geralmente preta porque as coisas são complicadas por dentro, e esperamos.


O problema é que não são apenas os militares que estão esperando. Existem também políticos nacionais que são responsáveis, especialmente quando as eleições se aproximam, mas também Aliados locais ou apenas muitas pessoas assistindo à TV, à Internet ou lendo jornais. Uma das dificuldades das operações militares modernas é, portanto, que é necessário obter efeitos em diversos públicos diferentes e às vezes contraditórios. Diante do público "inimigo", é preciso correr riscos para ter efeitos significativos sobre ele, mas ao mesmo tempo o público "político" não gosta muito de riscos, porque está convencido de que o público "de opinião" é muito sensível a perdas.

Em suma, depois de um tempo, quando nada de decisivo sai da caixa preta, acabamos procurando pistas de que estamos indo na direção certa e pistas que também possamos mostrar para públicos prioritários. Sem uma bandeira para se mover em um mapa, há uma forte tentação de confiar em indicadores numéricos para determinar se você está progredindo para a vitória. Você ainda precisa escolher os corretos. Os indicadores escolhidos em 2003 pelos americanos no Iraque foram as 55 cartas dos dignitários do regime baathista ainda em liberdade e algumas figuras-chave muito centradas nos americanos, como a quantidade de dinheiro americano gasto ou o número de ataques contra americanos e as perdas americanas. Formamos assim um discurso sobre a evolução da guerra dirigido sobretudo aos americanos: a própria instituição militar, a opinião pública e os parlamentares que votam as verbas, ou seja, todos os que julgam, concedem promoções e recursos.

Ponto especial: quando aqueles que apresentam os resultados também são julgados pelos mesmos resultados, é muito raro que este último seja ruim, mesmo que às vezes signifique fazer as estimativas do lado certo e principalmente se forem difíceis de contestar. As intervenções externas ocorrem, na maioria das vezes, na periferia ou na superfície de realidades locais complexas. Para tentar ver com clareza, você tem que trabalhar, documentar-se extensamente, fazer perguntas, se possível ir até lá. Poucas pessoas realmente fazem esse esforço, apenas porque geralmente há algo mais para fazer ao mesmo tempo. Então, lemos alguns arquivos, ouvimos algumas apresentações e isso é o suficiente. A realidade apresentada pelos militares aos políticos, políticos à mídia, a mídia ao público, e pessoas entrando em redes sociais é muitas vezes uma realidade absurdamente simplificada e, portanto, tão falsa quanto o Iraque no filme Sniper Americano (American Sniper, 2014) de Clint Eastwood. Quem na França se esforça para especular sobre as políticas particulares dos 30 e de alguns grupos armados presentes no Mali? Preferimos agrupá-los por rótulos, inclusive os famosos “grupos armados terroristas” onde tudo é dito em três palavras, ou mesmo três letras “GAT”. Palavras são abstrações da realidade, acrônimos são abstrações de abstrações. T = vilão sem dúvida psicopata que deve ser destruído, fim da análise. Voltamos ao assunto: quando as ideias são simples acima de coisas complicadas, sua precisão é mais frequentemente uma questão de acaso.


Claro, se os indicadores em verde são o alfa e o ômega daqueles que estão no terreno, eles às vezes serão privilegiados em detrimento de todo o resto. As perdas tornam-se sensíveis, não importa que não corramos mais riscos, não façamos mais patrulhamento e fiquemos nas bases. Spoiler: Isso é o que em grande parte explica o bom desempenho do General Swannack na primavera de 2004, que se esquece de apontar que os rebeldes rapidamente reocuparam o vazio.

Outro efeito perverso: uma vez estabelecido um padrão que atenda aos indicadores escolhidos, é difícil para quem está no terreno se desviar dele. No início dos anos 2000, o economista David Romer mostrou que as estratégias da maioria dos treinadores de times da Liga Nacional de Futebol eram sub-ótimas. Não que esses treinadores fossem ruins, mas eles tendiam a seguir o padrão de estilo de jogo. Por quê? Porque eles têm carreiras e rapidamente perceberam que serão mais facilmente desculpados se falharem dentro da norma do que por tentarem algo novo. Os generais americanos destacados no Iraque não precisam vencer a guerra contra os rebeldes, a maioria não chegará ao fim, mas ficará apenas por um período. Eles serão julgados durante este período e, portanto, a maioria será tentada a fazer como todos antes e depois, mesmo que sintam que não é necessariamente a melhor coisa a fazer. Para ser justo, no caso iraquiano, o General Petraeus, comandante da 101ª Divisão de Assalto Aéreo designada ao norte do Iraque em 2003-2004, tentou coisas diferentes de seus três colegas, mas é verdade que o período ainda era fluido e que a norma dominante padrão não fora totalmente estabelecida.

Mesmo assim, com todas essas boas notícias voltando do terreno na primavera de 2004, uma decisão político-estratégica foi tomada para reduzir o tamanho da pegada. Em vez de quatro divisões, três serão suficientes, e essas divisões são mais voltadas para a estabilização e a passagem do bastão para as novas forças de segurança locais do que para o combate. Ninguém se lembra visivelmente de que um ano antes, em 1º de maio de 2003, o presidente Bush anunciou o fim dos combates no Iraque tendo como pano de fundo uma faixa "Mission Accomplished" (Missão Cumprida) pendurada na torre do porta-aviões Abraham Lincoln. Nesse ponto, 97% das baixas americanas no Iraque ainda estão por vir e a luta aumenta em forma de guerrilha poucos dias após este discurso.

Operações de Sísifo


O mesmo padrão se repete em abril de 2004. O que sai da caixa preta após a chegada da próxima rendição não é o que se esperava. Mal chegados para substituir a 82ª Aerotransportada, os fuzileiros navais da 1ª Divisão são engajados em Fallujah para vingar as mortes filmadas de quatro contratados da Blackwater em Fallujah. Os fuzileiros navais ficam surpresos ao ver que a cidade abandonada pelas forças americanas está firmemente controlada por gangues armadas e que um cerco terá de ser realizado. Eles também observam ocasionalmente a extrema fraqueza das novas forças de segurança iraquianas criadas sob a égide da coalizão, que quase desapareceram completamente durante o mês. Por fim, surpreendem-se ao ver que seu próprio governo acaba impondo novamente o levantamento do cerco sob a pressão da emoção despertada pelas imagens da batalha na CNN, claramente em descompasso com a realidade dos combates. Nesse ínterim, eles tiveram tempo de ver também em todas as telas de televisão as revelações sobre o que havia acontecido algum tempo antes na prisão de Abu Ghraib. Esses foram os dias em que seus antecessores queriam resultados rápidos para tornar seus indicadores de desempenho verdes e a tortura lhes pareceu uma ideia interessante para isso.

Durante esse tempo, as províncias xiitas do sul do Iraque foram ocupadas por várias dezenas de contingentes militares nacionais com objetivos, percepções, meios e métodos muito diferentes. Essa coleção não pegou realmente no terreno e um movimento como o Exército Mahdi foi capaz de criar raízes sem muita dificuldade nos círculos populares. Quando a Coalizão planeja prender seu líder Moqtada al-Sadr antes da rendição, este último precisa apenas iniciar uma insurgência que surpreenda a todos, paralisa parte de Bagdá e quase todas as cidades do sul. Os outros setores não são melhores. Várias organizações rebeldes, incluindo aquela que logo se tornaria a Al-Qaeda no Iraque e depois o Estado Islâmico no Iraque em 2006 (com a benevolência da Síria de Bashar al-Assad, não esqueçamos) aproveitaram a retirada parcial americana para, como em Fallujah, se deslocar discretamente nas cidades do Tigre e do Eufrates. Se fevereiro foi o mês menos mortal para os americanos desde que entraram no Iraque, com 19 soldados mortos, abril foi de longe o mais violento com 136 mortos.

Tudo tem que ser feito de novo. Ao custo de um ano de esforço e 1000 soldados mortos, a rebelião mahdista é sufocada temporariamente, no lugar da maioria dos contingentes aliados que não querem lutar, e as forças americanas recuperaram o controle aparente das cidades sunitas. Na virada de 2005 para 2006, os indicadores estão verdes novamente ou pelo menos tudo é feito para torná-los verdes antes das eleições de meio de mandato nos Estados Unidos. Não apenas as divisões americanas recuperaram uma posição em cada cidade, mas eleições foram realizadas, um governo democraticamente eleito está sendo estabelecido e um "novo" novo exército de mais de 150.000 homens foi formado.

Então agora é a hora, acredita-se novamente, de cortar um pouco os custos, retirando-se novamente das cidades para se reagrupar em grandes bases externas enquanto se espera a rendição pelas forças locais. E aí, novo desastre. Em fevereiro de 2006, o país entrou em guerra civil. As províncias sunitas e a capital são um grande campo de batalha entre o Estado Islâmico no Iraque, as organizações nacionalistas sunitas e as várias milícias xiitas, algumas delas lideradas pelo governo e especialmente o Exército Mahdi.

Passamos de um choque em choque, seguindo pontos de situação brilhantes, até que os americanos finalmente conseguiram se recuperar em 2007-2008. Note-se de passagem que a mudança de estratégia só ocorreu após uma constatação geral que no final de 2006 só poderia ser negativa. Para o General Petraeus, então comandante-em-chefe, era tudo por causa dele. Isso não está completamente errado, mas, em uma inspeção mais próxima, ignora o papel essencial do retorno da maioria das organizações nacionalistas e tribos sunitas contra o Estado Islâmico no Iraque. Nomeado a partir daí também comandante-em-chefe no Afeganistão, os mesmos inputs não produzirão os mesmos resultados, pois desta vez não há reversão de grande parte do inimigo. Portanto, voltamos a uma política de números batizada "contraterrorismo" para fazer crer no novo e onde os drones e as Forças Especiais são os principais fornecedores de indicadores. Depois de 2014 e da partida da maior parte das forças da coalizão, é o Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos que tem a "liderança" nas operações e aproveita a oportunidade para se sair bem e, principalmente, para torná-la conhecida. Ele fornece bons números de eliminação, algumas cabeças de líderes, belas imagens de "operadores" em ação que irão inspirar muita gente, inclusive a polícia. Tudo isso contribui para a reputação e recompensas, lugares e orçamentos, mas no final do dia mantém uma ilusão de solidez para um conjunto cada vez mais vazio.


Tenho falado muito sobre os americanos, porque eles ocupam o espaço e são tanto mais visíveis porque há uma necessidade em casa e mais do que em qualquer outro lugar de mostrar absolutamente muita coisa no curto prazo, como esses relatórios trimestrais de empresas que deve agradar absolutamente aos acionistas. Mas o fenômeno é geral em todas as nações modernas que praticam a contra-insurgência (ou para fazer parecer que algo diferente está sendo feito). Podemos nos perguntar, por exemplo, se ficamos surpresos com o ataque jihadista de janeiro de 2013, o retorno da guerrilha à partir de 2015, seu estabelecimento no centro do Mali, o surgimento de novos grupos jihadistas, o desenvolvimento de milícias de autodefesa, os golpes de Estado em Bamako, o assassinato de Idris Déby, etc. ao mesmo tempo que nunca deixamos de alinhar bons números, desde o número de soldados locais treinados aos rebeldes eliminados até o dinheiro investido na ajuda à população. O envolvimento francês e europeu no Sahel ainda é muito empolgante por causa de uma grande caixa preta da qual às vezes surgem resultados felizes, mas também muitas vezes surpresas desagradáveis.

A solução? Primeiro, a aceitação da análise crítica. Está tudo nos termos: “aceitação” significa que toleramos, como em qualquer boa democracia, que o que é feito seja “criticado” no interesse do país e com base em verdadeiras “análises”, ou seja, o trabalho em profundidade dos militares, representantes da nação, pesquisadores, cidadãos comuns e trabalho que tem uma chance de ser ouvido. Tantas luzes para estratégias forçosamente míopes. E aí se você quer dominar a caixa preta, você tem que realmente ir lá, viver lá e lutar no terreno. Devemos também deixar que um líder comande com um efeito político a ser obtido a longo prazo e não com números.

Os exemplos do subprime e do SOCOM no Afeganistão foram retirados de Cole Livieratos, The Subprime Strategy Crisis: Failed Strategic Assessment in Afghanistan, no site War on the Rocks.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

CLASSE VANGUARD. Dissuasão estratégica britânica.


HMS VANGUARD S-28

FICHA TÉCNICA
Tipo: Submarino estratégico lançador de mísseis balísticos.
Data de comissionamento: Agosto de 1993
Comprimento: 149,9 m.
Largura: 12,8 m.
Calado: 12 m.
Deslocamento: 16000 toneladas.
Velocidade máxima: 25 nós (46 km/h).
Profundidade: 500 m (Máxima).
Armamento: 4 Tubos para torpedos de 533 mm Spearfish, 16 mísseis SLBM UGM-133 Trident D-5.Tripulação: 111 homens.
Tripulação: 135 marinheiros
Propulsão: Um reator nuclear Rolls-Royce PWR-2 que produz 27500 hp potencia, mais duas turbinas a gás GEC.

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
A capacidade de dissuasão estratégica da Inglaterra está centrada, atualmente em seus 4 submarinos SSBN da classe Vanguard, cujo primeiro navio foi comissionado em agosto de 1993. O Vanguard é o maior submarino construído pela Inglaterra e sua capacidade se aproxima da encontrada nos submarinos norte-americanos da Classe Ohio, já descrita aqui no WARFARE Blog.
O Vanguard tem um deslocamento de 16000 toneladas quando submerso e um comprimento de 149,9 metros. Para mover essa massa toda, é usado um reator nuclear Rolls-Royce PWR-2 cuja capacidade permite  que o Vanguard possa dar 40 voltas em volta da Terra sem precisar reabastecer de combustível atômico. Logicamente que o navio precisará de reabastecimento de alimentos e viveres da tripulação. Esse reator alimenta duas turbinas GEC que desenvolvem 27500 Hp de força movendo um eixo que produz um jato de água, sistema muito mais silencioso de operar quando a discrição é caso de vida ou morte, como no caso de um submarino. Esse sistema propulsor permite ao Vanguard atingir velocidades de até 25 nós (46 km/h) quando submerso.
O sistema de jato de agua usado pelos submarinos da classe Vanguard representam o que há de mais silencioso para propulsão desse tipo de embarcação atualmente.

A suíte eletrônica que equipa este submarino possui diversos tipos de sonares dando uma alta flexibilidade para lidar com ameaças submarinas avançadas. 
Um sistema de sonar multifrequência composto chamado de Type 2054 da Thales Underwater System que foi modernizado pela Lockheed Martin UK, contratada em setembro de 2006 para incorporar uma nova arquitetura do tipo aberta para poder receber peças disponíveis em sistemas comerciais baixando os custos operacionais e facilitando a logística para manutenção, foi implementada. O sonar rebocado é o Type 2046 que faz buscas passivas em frequência ultrabaixas. Há um sonar Type 2043 montado no casco do Vanguard que opera busca de forma ativa e passiva além de um sonar Type 2082 passivo que intercepta os alvos dando sua distancia. Esse sistema permite que o detecte o som de um navio de superfície a pouco mais de 80 km. O Vanguard conta, ainda, com um radar de navegação Type 1007 fornecido pela empresa Kevin Hughes. 
Como se pode ver, a suíte de sensores submarinos incorporados ao Vanguard é bastante completa dando uma capacidade de detecção extremamente eficiente para o comandante do submarino.
Para lidar com as ameaças de ataque de um inimigo, o Vanguard está equipado com contramedidas contra torpedos SSE Mark 10 composto de dois lançadores de iscas além de um sistema de apoio a guerra eletrônica UAP Mark-3, fornecido pela Thales Defense.

Operadores na sala de sonar do Vanguard.

O armamento do Vanguard é composto de 16 mísseis balísticos intercontinentais Lockheed UGM-133 Trident D-5 SLBMs com alcance estimado de 12000 km ( O valor exato é um dado classificado) e podendo carregar até 14 ogivas MIRV porém, esse numero foi reduzido após  a assinatura do acordo START-1, para 8 ogivas Holbrook com rendimento de 100 Kilotons cada. A margem de erro da ogiva está em 90. metros do ponto previsto o que pode ser considera relativamente bem preciso dado a potencia desta ogiva. É interessante notar que a Inglaterra é o único país que conseguiu importar mísseis nucleares dos Estados Unidos oficialmente (Israel usa tecnologia norte americana em seus artefatos atômicos). 
O míssil SLBM Trident II D5 é a razão de ser dos submarinos estratégicos da classe Vanguard.

Ao todo um submarino da classe Vanguard transporta, atualmente, 128 ogivas atômicas divididas em 16 mísseis balísticos Trident D-5. Também há 4 tubos de torpedos de 533 mm armados com o torpedo pesado Spearfish que foi desenvolvido pela BAE System Underwater, para destruir alvos submarinos e de superfície. Este torpedo é guiado por fio e tem um sonar interno que opera na fase final do ataque. Seu alcance é de 54 km a baixa velocidade ou de 26 km em alta velocidade.
A capacidade de defesa anti submarino e antinavio desse submarino dica a cargo do poderoso torpedo pesado Spearfush.

O Vanguard está equipado com diversos sonares. Um sistema de sonar multifrequência composto Type 2054 da Thales Underwater System que foi modernizado pela Lockheed Martin UK, contratada em setembro de 2006 para incorporar uma nova arquitetura do tipo aberta para poder receber peças disponíveis em sistemas comerciais baixando os custos operacionais e facilitando a logística de peças. O sonar rebocado é o Type 2046 que faz buscas passivas e ativas em frequência ultrabaixas. Há um sonar Type 2043 montado no casco do Vanguard que opera busca de forma ativa e passiva além de um sonar Type 2082 passivo que intercepta os alvos dando sua distancia. O Vanguard conta, ainda, com um radar de navegação Type 1007 fornecido pela empresa Kevin Hughes. 
Como se pode ver, a suíte de sensores submarinos incorporados ao Vanguard é bastante completa dando uma capacidade de detecção extremamente eficiente para o comandante do submarino. 
O Vanguard está equipado com contramedidas para despistar torpedos inimigos SSE Mark 10 composto de dois lançadores de iscas além de um sistema de apoio a guerra eletrônica UAP Mark-3, fornecido pela Thales Defense
Embora a classe de submarinos Vanguard já esteja em serviço há quase 30 anos, sua suíte eletrônica foi sendo atualizada, e mesmo   próximo de sua aposentadoria, quando for substituído pela nova classe Dreadnought a partir de 2030.

O Vanguard pode ser considerado um dos mais poderosos sistemas de armas já construídos. Além da Inglaterra, apenas a Rússia, China, França e Estados Unidos dispões de submarinos nucleares armados com mísseis balísticos SLBMs capazes de arrasar um pequeno país a milhares de quilômetros. Os Submarinos SSBN são uma arma formidável até porque torna sua interceptação e destruição, algo quase impossível promovendo a dissuasão estratégica máxima.
Classe Vanguard







                      


FOTO: Soldado americano com a Grease Gun na Alemanha Ocidental

Soldado americano com uma submetralhadora M3 Grease Gun durante o Exercício REFORGER '85, na Alemanha Ocidental, 1985.

Soldado de Primeira Classe Jose Ledoux-Garcia da Companhia C, 5º Batalhão, 77º Regimento Blindado, guarda seu tanque de batalha principal M60A3 durante a Central Guardian (Guardião Central), uma fase do Exercício REFORGER '85, na cidade alemã de Giessen, na Alemanha Ocidental.

Ele está armado com uma submetralhadora M3A1 calibre 45, apelidada Grease Gun (Engraxadeira).

Forgotten Weapon: Disparando a M3A1 Grease Gun

domingo, 7 de novembro de 2021

FOTO: Operadores do Comando Georges na Argélia

O Coronel Marcel Bigeard com homens do famoso Comando Georges na Argélia.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 7 de novembro de 2021.

O mais famoso comandante paraquedistas francês, Marcel Bigeard, posa ao lado dos comandos argelinos do Comando Georges, o mais famoso dos commandos de chasse (comando de caça, uma força contra-guerrilha da Guerra da Argélia).

O Comando Georges foi formado pelo Tenente Georges Grillot em 1959, durante a Guerra da Argélia; sendo composto principalmente por ex-membros da Frente de Libertação Nacional (FLN) e do Exército de Libertação Nacional (ALN) reunidos na França. O mais famoso e um dos mais eficientes comandos de caça, o Comando Georges foi dissolvido em abril de 1962 com o fim da guerra após a assinatura dos Acordos de Évian.

Os comandos de caça tinham por missão detectar e rastrear as katibas da ALN usando táticas de guerrilha análogas às forças irregulares da FLN. Katibas podem ser batalhões ou companhias, e na Guerra da Argélia eram a unidade da ALN (em valor companhia, com cerca de 30 homens) subordinadas a wilayas (comandos regionais) e que operavam em ações de guerrilha contra os militares  e de terrorismo contra a população civil. Cada wilaya era sucessivamente subdividido em mintaqas, depois em nahias, depois em kasmas e depois em douarsO objetivo principal dos comandos de caça era impedir a penetração da FLN nas vilas, e o adversário do Comando Georges, em particular, eram os bandos armados da Mintaka 56 (subdivisão de uma Wilaya).

Fanion (guião) e écusson (distintivo) do Commando Georges.
Seus lemas eram "Chasser la misère" (caçar/afugentar a miséria) e "Croire et oser" (crer e ousar).

O Tenente Georges Grillot era assistido pelos Tenentes Armand Bénésis de Rotrou e Youssef Ben Brahim. O comando é organizado de acordo com as mesmas estruturas do ALN. Quando foi criado em 1959, incluía quatro katibas, cada uma composta por três sticks (esquadrões autônomos) de 10 homens. Em 1961, sua força chegou a 240 homens, organizados em 11 sticks, cada um compreendendo dois grupos de combate de 11 harkis (argelinos leais) com uma metralhadora AA52. Os membros do comando eram todos "franceses de origem norte-africana" (Français de souche nord-africaineFSNA).

Em 10 meses, o Coronel Bigeard, graças à ação do comando, eliminou 80% da OPA (Organização Político-Administrativa) da FLN e obteve resultados excepcionais em combate. No dia 27 de agosto de 1959, a visita do General de Gaulle a Saida confirmou esse sucesso, que declarou a Youssef Ben Brahim:

"Terminada a pacificação, uma nova era se abrirá para a Argélia".

O comando colocou fora de ação cerca de 1.000 rebeldes, cerca de 30 oficiais, incluindo 7 líderes sucessivos da zona VI nos setores de Saida, Ain Sefra, Frenda, Sebdou, Géryville e Inkermann (Ouarsenis). O comando foi premiado com 26 medalhas militares e 398 citações.

Após o cessar-fogo, tendo as autoridades recusado o seu repatriamento na França metropolitana, cerca de 60 a 70 dos membros do comando são assassinados durante as represálias bárbaras da FLN. Outros desapareceram nos campos do ALN e um pequeno número foi repatriado para a França graças à intervenção da Cruz Vermelha. O Tenente Youssef Ben Brahim, nascido em 1927, repatriado para a Dordonha, foi assassinado em 27 de julho de 1968 por um de seus ex-fiéis que o acusou de um caso com sua esposa.